sábado, 2 de julho de 2011

Eclipse - Capítulos 6 ao 10

6. Suíça

Enquanto eu dirigia pra casa, eu não estava prestando muita atenção na estrada que brilhava com a água no sol. Eu estava pensando o jorro de informações que Jacob havia dividido comigo, tentando desvendar tudo, forçar isso a ter sentido. Apesar da sobre-carga, eu me sentia mais leve. Ver Jacob sorrir, ter todos os segredos colocados pra fora... isso não deixava as coisas perfeitas, mas as fazia melhores. Eu estava certa por ter ido. Jacob precisava de mim. E obviamente, eu pensei enquanto piscava com causa da claridade, não havia nenhum perigo.
Ele apareceu do nada. Num minuto não havia nada além da pista clara no meu espelho retrovisor. No minuto seguinte, o sol estava resplandescendo em um Volvo prateado que estava na minha cola.
"Aw, droga", eu choraminguei.
Eu considerei parar. Mas eu era covarde demais pra enfrentá-lo imediatamente. Eu estava contando com algum tempo pra me preparar... e ter Charlie por perto como amortecedor. Pelo menos ele ia se esforçar pra manter a voz baixa.
O Volvo seguia a uns metros atrás de mim. Eu mantive os meus olhos na estrada em frente.
Como a covarde que eu era, eu dirigí direto para a casa de Angela sem encontrar nenhuma vez os olhos que eu sentia me queimando um buraco no espelho retrovisor.
Ele me seguiu até que eu parei na calçada na frente da casa dos Weber. Ele não parou, e eu não olhei pra cima quando ele passou. Eu não queria ver a expressão no rosto dele. Eu corrí pela curta calçada de concreto até a porta de Angela quando ele estava fora de vista.
Ben atendeu a porta antes que eu pudesse terminar de bater, como se ele estivesse de pé atrás dela.
"Hey, Bella!", ele disse, surpreso.
"Oi, Ben. Er, Angela está aqui?" eu me perguntei se Angela teria esquecido os nossos planos, e estremecí com o pensamento de voltar pra casa mais cedo.
"Claro", Ben disse exatamente quando Angela chamou, "Bella!" e apareceu no topo das escadas.
Ben espiou através de mim enquanto nós dois ouvimos o som de um carro na estrada; o som não me assustou - esse motor fez barulho quando parou, acompanhado pelo estouro da descarga. Nada como o ronco do Volvo. Esse devia ser o visitante que Ben estava esperando.
"Austin está aqui", Ben disse quando Angela chegou ao lado dele.
Uma buzina soou na rua.
"Eu te vejo mais tarde", Ben prometeu. "Já sinto sua falta".
Ele jogou o braço ao redor do pescoço de Angela e trouxe o rosto dela pra baixo até a altura dele pra que ele pudesse dar um beijo nela com entusiasmo. Depois de um segundo disso, Austin buzinou de novo.
"Tchau, Ang! Te amo!", Ben gritou enquanto passava correndo por mim.
Angela virou, o rosto dela levemente rosado, depois se recuperou e acenou até que Ben e Austin estivessem fora de vista. Depois ela se virou pra mim e sorriu significantemente.
"Obrigada por fazer isso, Bella", ela disse. "Do fundo do meu coração. Você não está apenas salvando as minhas mãos de danos permanentes, você também me poupou de duas longas horas de um filme chato e com artes-marcias de má qualidade." Ela suspirou aliviada.
"Feliz por servir", Eu estava sentindo um pouco menos de pânico, e era capaz de respirar um pouco mais uniformemente. Eu me sentia tão normal aqui. As dramas fáceis de Angela eram estranhamente tranquilizadores. Era legal saber que eu era normal em algum lugar.
Eu seguí Angela pelas escadas até o quarto dela. Ela chutou brinquedos fora do caminho enquanto passava. A casa estava estranhamente quieta.
"Onde está a sua família?"
"Os meus pais levaram os gêmeos para uma festa de aniversário em Port Angeles. Eu não posso acreditar que você realmente vai me ajudar com isso. Ben está fingindo que tem tendinite". Ela fez uma cara.
"Eu não me importo nem um pouco". Eu disse, e então entrei no quarto de Angela e ví as pilhas de envelopes esperando.
"Oh!" eu ofeguei. Angela virou pra olhar pra mim, pedindo desculpas com os olhos. Eu podia ver porque ela esteve adiando isso, e porque Ben pulou fora.
"Eu pensei que você estivesse exagerando", eu admití.
"Eu queria. Você tem certeza que quer fazer isso?"
"Me faça trabalhar. Eu tenho o dia inteiro"
Angela dividiu uma pilha na metade e colocou o livro de endereços da mãe dela entre nós em cima da mesa. Por um momento nós nos concentramos, e só havia o som das nossas canetas passando quietamente sobre o papel.
"O que Edward vai fazer essa noite?", ela perguntou depois de alguns minutos.
A minha caneta afundou no envelope no qual eu estava escrevendo. "Emmett está em casa para o fim de semana. Eles deviam estar caminhando".
"Você diz isso como se não tivesse certeza".
Eu levantei os ombros.
"Você tem sorte que Edward tem os irmãos pra fazer as caminhadas e os acampamentos. Eu não sei o que eu faria se Ben não tivesse Austin para essa coisa de garotos."
"É, o ar livre não é pra mim. E não tem jeito de eu ser capaz de acompanhar".
Angela riu. "Eu também prefiro ficar em casa".
Ela se concentrou na sua pilha por um minuto. Eu escreví mais quatro endereços. Nunca havia a pressão de encher uma pausa com tagarelice sem sentido com Angela. Como Charlie, ela ficava confortável com o silêncio.
Mas, como Charlie, ela também era muito observadora as vezes.
"Tem algo errado?" ela perguntou com uma voz baixa agora. "Você parece... ansiosa".
Eu sorrí bobamente. "É assim tão óbvio?"
"Na verdade não".
Ela provavelmente estava mentindo pra fazer eu me sentir melhor.
"Você não precisa falar disso a não ser que queira", ela me assegurou. "Eu vou escutar se você achar que eu posso ajudar".
Eu estava prestes a dizer obrigada, mas não, obrigada. Afinal, haviam segredos demais que eu precisava guardar. Eu realmente não podia discutir os meus problemas com alguém humano. Isso era contra as regras.
E mesmo assim, com uma intensidade estranha, repentina, isso era exatamente o que eu queria. Eu queria falar com uma amiga normal e humana. Eu queria gemer um pouco, como qualquer outra garota adolescente.
Eu queria que os meus problemas fossem assim tão simples. Também seria legal ter alguém de fora dessa bagunça de vampiros-lobisomens pra colocar as coisas em perspectiva. Uma pessoa neutra.
"Eu vou cuidar dos meu próprios assuntos", Angela prometeu, sorrindo para o endereço no qual ela estava trabalhando.
"Não", eu disse. "Você está certa. Eu estou ansiosa. É... é Edward".
"O que há de errado?"
É tão fácil conversar com Angela. Quando ela perguntava uma coisa assim, eu podia notar que ela não estava apenas morbidamente curiosa ou procurando uma fofoca, como Jéssica estaria. Ela se importava por eu estar chateada.
"Oh, ele está com raiva de mim".
"Isso é difícil de imaginar", ela disse. "Do que ele está com raiva?"
Eu suspirei. "Você se lembra de Jacob Black?"
"Ah", ela disse
"É".
"Ele está com ciúmes".
"Não, não com ciúmes..." eu devia ter mantido a minha boca fechada. Não tinha jeito de explicar isso direito. Mas eu queria continuar falando do mesmo jeito. Eu não tinha me dado conta de que estava faminta por conversa humana. "Edwad pensa que Jacob é... uma máinfluência, eu acho. Meio... perigoso. Você sabe em quantos problemas eu me metí há uns meses atrás... no entanto, isso é ridículo".
Eu fiquei surpresa por ver Angela balançando a cabeça.
"O que?", eu perguntei.
"Bella, eu ví como Jacob Black olha pra você. Eu apostaria que o problema de verdade é ciúme".
"Não é assim com Jacob".
"Pra você, talvez, mas pra Jacob..."
Eu fiz uma careta. "Jacob sabe como eu me sinto. Eu o disse tudo".
"Edward é apenas um humano, Bella. Ele vai reagir como qualquer outro garoto".
Eu fiz uma careta. Eu não tinha uma resposta pra isso".
Ela deu um tapinha na mão. "Ele vai superar isso".
"Eu espero que sim. Jacob está passando por um período meio difícil. Ele precisa de mim".
"Você e Jacob são muito próximos, não são?"
"Como família", eu concordei.
"E Edward não gosta dele... Isso deve ser difícil. Eu me pergunto como Ben lidaria com isso?" ela meditou.
Eu dei um meio sorriso. "Provavelmente como qualquer outro garoto".
Ela riu. "Provavelmente"
Aí ela mudou de assunto. Angela não era de forçar a barra, e ela pareceu pressentir que eu não ia - que eu não podia - dizer mais nada.
"Eu peguei a minha inscrição para o dormitório hoje. O prédio mais afastado do campus, naturalmente".
"Ben já sabe onde ele vai ficar?"
"No dormitório mais próximo do campus. Ele ficou com toda a sorte. E quanto a você? Você já decidiu pra onde vai?"
Eu olhei pra baixo, me concentrando nos garranchos da minha caligrafia. Por um segundo eu me distraí com o pensamento de Angela e Ben na Universidade de Washington. Será que a ameaça de vampiros mais jovens já teria se mudado pra outro lugar? Haveria outro lugar, alguma outra cidade tremendo com as manchetes de filmes de terror?
Seriam essas manchetes por minha causa?
Eu tentei deixar isso pra lá e respondí a pergunta dela um pouco atrasada. "Alaska, eu acho. A universidade lá de Juneau".
eu podia ouvir a surpresa na voz dela. "Alaska? Oh. Mesmo? Quer dizer, isso é ótimo. Eu só achei que você fosse pra um lugar mais... quente".
Eu rí um pouco, ainda olhando para o envelope. "É. Forks realmente mudou a minha perspectiva de vida".
"E Edward?"
Apesar do nome dele ter feito borboletas flutuarem no meu estômago, eu olhei pra cima e sorrí pra ela. "Alaska também não é frio demais pra Edward."
Ela sorriu de volta. "É claro que não" E depois ela suspirou. "É longe demais. Você não será capaz de voltar pra casa com muita frequência. Eu vou sentir sua falta. Você me manda e-mails?"
Uma onda de tristeza silenciosa passou por mim; talvez fosse um erro me aproximar de Angela agora. Mas não seria ainda mais triste perder essas últimas chances? Eu deixei pra lá os pensamentos tristes, pra poder responder a ela com zombaria.
"Se eu puder digitar de novo depois disso" Eu acenei com a cabeça em direção à pilha de envelopes que eu havia feito.
Nós rimos, e depois foi fácil conversar sobre alegremente sobre as aulas e os formandos enquanto terminávamos o resto - Tudo o que eu tive que fazer foi não pensar nisso. De qualquer forma, haviam coisas mais urgentes com as quais me preocupar hoje.
Eu ajudei ela a colocar os selos também. Eu estava com medo de ir embora.
"Como está a sua mão?" ela perguntou.
Eu flexionei os meus dedos. "Eu acho que recuperarei completamente o uso... algum dia".
A porta bateu lá embaixo, e nós duas olhamos pra cima.
"Ang?", Ben chamou.
Eu tentei sorrir, mas os meus lábios tremeram. "Eu acho que essa é a minha deixa pra ir embora".
"Você não precisa ir. Apesar de que ele provavelmente vai descrever o filme pra mim... em detalhes".
"De qualquer maneira Charlie vai ficar se perguntando onde eu estou."
"Obrigada por me ajudar".
"Na verdade, eu me divertí. Nós devíamos fazer algo assim de novo. É legal ter um tempo de garotas".
"Definitivamente".
Houve uma batida de leve na porta do quarto.
"Entre, Ben", Angela disse.
Eu me levantei e me estiquei.
"Hey, Bella! Você sobreviveu", Ben me saudou rapidamente antes de ir tomar o meu lugar ao lado de Angela. Ele olhou o nosso trabalho. "Belo trabalho. Que pena que não tem mais nada pra fazer, eu teria..." Ele deixou o pensamento parar, e recomeçou excitadamente. "Ang, eu não acredito que você perdeu isso! Foi ótimo. Houve essa sequência de luta no final - a coreografia foi inacreditável! Esse cara - bem, você vai vai ter que ver pra saber o que eu estou falando -"
Angela revirou os olhos pra mim.
"Te vejo na escola", eu disse com uma risada nervosa.
Ela suspirou. "A gente se vê".
Eu estava inquieta na caminho até a caminhonete, mas a rua estava vazia. Eu passei toda a viagem olhando ansiosamente em todos os meus espelhos, mas nunca havia nenhum sinal do carro prateado.
O carro dele também não estava na frente de casa, apesar de que isso significava pouco.
"Bella?" Charlie perguntou quando eu abrí a porta.
"Oi, pai"
Eu o encontrei na sala de estar, na frente da TV.
"Então, como foi o seu dia?"
"Bom", eu disse. Eu podia ter contado tudo a ele - ele ouviria isso de Billy em breve. Além do mais, isso ia deixá-lo feliz. "Eles não precisaram de mim no trabalho, então eu fui até La Push".
Não houve surpresa suficiente no rosto dele. Billy já tinha falado com ele.
"Como está Jacob?" Charlie perguntou, tentando soar indiferente.
"Bem", eu disse, igualmente indiferente.
"Você foi à casa dos Weber?"
"Sim. Nós endereçamos todos os anúncios dela".
"Isso é legal" Charlie deu um sorriso largo. Ele estava estranhamente concentrado, considerando o fato de que estava passando um jogo. "Eu estou feliz que você tenha passado tempo com os seus amigos hoje".
"Eu também".
Eu segui em direção a cozinha, procurando algo em que trabalhar. Infelizmente, Charlie já tinha limpado o seu almoço. Eu fiquei lá, olhando para a trilha brilhante que o sol fez no chão. Eu sabia que não podia adiar isso pra sempre.
"Eu vou estudar", eu anunciei sem entusiasmo enquanto eu ia para a escada.
"Te vejo mais tarde", Charlie chamou.
Se eu sobreviver, eu pensei comigo mesma.
Eu fechei a porta do meu quarto cuidadosamente antes de me virar para enfrentar o meu quarto.
É claro que ele estava lá. Ele estava contra a parede na minha frente, na sombra ao lado da janela aberta. O rosto dele estava duro e a postura dele estava tensa. Ele me encarou sem dizer nada.
Eu aguentei, esperando pela tempestade, mas ela não veio. Ele só continuou a encarar, possivelmente com raiva demais pra falar.
"Oi", eu disse finalmente.
O rosto dele podia ter sido cravado em uma pedra. Eu contei até cem na minha cabeça, mas não houve mudança.
"Er... então, eu ainda estou viva", eu comecei.
Um rugido se fez ouvir baixinho no peito dele, mas a expressão dele não mudou.
"Nenhum dano causado", eu insistí, encolhendo os ombros.
Ele se moveu. Os olhos dele se fecharam, e ele segurou a base do nariz entre os dedos da mão direita dele.
"Bella", ele sussurrou. "Você tem alguma idéia do quanto eu estive perto de cruzar a linha hoje? De quebrar o acordo e ir atrás de você? Você sabe o que isso teria significado?"
Eu ofeguei e ele abriu os olhos. Eles estavam tão frios e duros como a noite.
"Você não pode!" eu disse alto demais. Eu trabalhei em modular o volume da minha voz pra que Charlie não ouvisse, mas eu queria gritar as palavras. "Edward, eles não vão usar nenhuma desculpa para uma briga. Eles adorariam isso. Você não pode quebrar as regras nunca!"
"Talvez eles não sejam os únicos que gostariam de uma luta".
"Não comece" eu soltei. "Vocês fizeram o acordo - obedeça ele".
"Se ele tivesse machucado você -"
"Chega!" eu cortei ele. "Não há nada com o que se preocupar. Jacob não é perigoso".
"Bella" ele revirou os olhos. "Você não é exatamente a melhor juíza do que é ou não perigoso".
"Eu sei que eu não preciso me preocupar com Jake. E nem você".
Ele apertou os dentes. As mãos dele estavam transformadas em bolas nos pulsos dos lados dele. Ele ainda estava contra a parede, e eu odiava o espaço entre nós.
Eu respirei fundo e atravessei o quarto. Ele não se moveu quando eu passei os meus braços ao redor dele. Perto do resto do calor do fim do sol da tarde que passava pela janela, a pele dele estava especialmente gelada. Ele parecia gelo também, congelado do jeito que estava.
"Eu sinto muito por ter te deixado ansioso", eu murmurei.
Ele suspirou e relaxou um pouco. Os braços dele seguraram a minha cintura.
"Ansioso é uma indicação bem incompleta", ele murmurou. "Esse dia foi bem longo".
"Não era pra você saber sobre isso" eu lembrei ele. "Eu pensei que você passaria mais tempo caçando".
Eu olhei para o rosto dele, para os seus olhos defensivos; eu não reparei no estresse do momento, mas eles estava escuros demais. Os círculos embaixo deles eram roxo-escuros. Eu fiz uma careta de desaprovação.
"Quando Alice te viu desaparecer, eu voltei", ele explicou.
"Você não devia ter feito isso. Agora você vai ter que ir de novo". A minha careta se intensificou.
"Eu posso esperar".
"Isso é ridículo. Quer dizer, eu sabia que ela não podia me ver com Jacob, mas você devia saber que -"
"Mas eu não sabia" ele interrompeu. "E você não pode esperar que eu -"
"Oh, sim, eu posso" eu interrompí ele. "Isso é exatamente o que eu espero".
"Isso não vai acontecer de novo".
"Exatamente! Porque você não vai ser exagerado da próxima vez".
"Porque você não vai outra vez".
"Eu entendo quando você precisa ir embora, mesmo que eu não goste -"
"Isso não é o mesmo. Eu não estou arriscando a minha vida".
"E nem eu".
"Lobisomens constituem um risco".
"Eu discordo".
"Eu não estou negociando isso, Bella"
"Nem eu".
As mãos dele estavam nos pulsos de novo. Eu podia sentí-las nas minhas costas.
As palavras saíram sem que eu pensasse. "Isso se trata realmente da minha segurança?"
"O que você quer dizer?" ele quis saber.
"Você não está..." A teoria de Angela parecia mais boba agora do que antes. Foi difícil concluir o pensamento. "Eu quero dizer, você sabe que não precisa sentir ciúme, certo?"
Ele ergueu uma sobrancelha. "Eu sei?"
"Fale sério".
"Facilmente - não há nada remotamente engraçado nisso".
Eu fiz uma careta de suspeita. "Ou... isso é mais alguma coisa? Uma daquelas bobagens sobre vampiros e lobisomens serem inimigos? Ou isso é só cheio de testosterona -"
Os olhos dele brilharam. "Isso é só sobre você. Tudo com o que eu me importo é que você esteja em segurança".
Era impossível duvidar do fogo negro dos olhos dele.
"Tudo bem", eu suspirei. "Eu acredito nisso. Mas eu quero que você saiba de uma coisa - quando se trata dessa bobagem de inimigos, eu estou fora. Eu sou um país neutro. Eu sou a Suíça. Eu me recuso a participar de disputas territoriais entre criaturas místicas. Jacob é da família. Você é... bem, você não é exatamente o amor da minha vida, porque eu espero te amar por muito mais tempo que isso. O amor da minha existência. Eu não me importo com quem é o lobisomem e que é o vampiro. Se Angela virar uma bruxa, ela pode se juntar a festa também".
Ele olhou pra mim silenciosamente por entre olhos apertados.
"Suíça", eu repetí de novo pra dar ênfase.
Ele fez uma careta pra mim, e depois suspirou. "Bella...", ele começou, mas depois parou, e o nariz dele enrugou de desgosto.
"O que foi agora?"
"Bem... não se ofenda, mas você está cheirando como um cachorro", ele me disse.
E depois ele deu um sorriso torto, então eu sabia que a briga tinha acabado. Por enquanto.
Edward teria que ajeitar as coisas por ter perdido a viagem de caça, então ele ia na Sexta à noite com Jasper, Emmett e Carlisle para atacar alguma reserva ao Norte da Califórnia que estivesse com problemas com leões da montanha.
Nós não chegamos ao um acordo no problema com os lobisomens, mas eu não me senti culpada por ligar para Jake - durante a minha pequena janela de oportunidade quando Edward levou o Volvo pra casa antes de entrar de novo pela minha janela - pra deixá-lo saber que eu estaria voltando no Sábado de novo. Eu não ia ficar me escondendo. Edward sabia como eu me sentia. E se ele quebrasse a minha caminhonete de novo, então eu pediria que Jake viesse me buscar. Forks era neutra, assim como a Suíça - assim como eu.
Então, quando eu saí na Quinta e era Alice quem estava me esperando no Volvo no lugar de Edward, eu não suspeitei inicialmente. A porta do passageiro estava aberta, e uma música que eu não reconhecia estava fazendo as estruturas tremerem quando o baixo soava.
"Ei, Alice", eu gritei por cima do som enquanto eu entrava. "Onde está o seu irmão?"
Ela estava acompanhando a música, a voz dela estava um oitavo mais alta do que a melodia, seguindo ela com uma harmonia complicada. Ela acenou pra mim com a cabeça, ignorando a minha pergunta enquanto se preocupava em acompanhar a música.
Eu fechei a porta e coloquei as mãos em cima dos ouvidos. Ela sorriu, e baixou o volume até que a música estava apenas no fundo. Então ela travou as portas e pisou no acelerador no mesmo segundo.
"O que está acontecendo?" Eu perguntei, começando a me sentir inquieta. "Onde está Edward?"
Ela levantou os ombros. "Eles foram mais cedo".
"Oh", eu tentei controlar a minha decepção absurda. Se ele tinha ido embora antes, significava que ele estaria de volta mais cedo, eu lembrei a mim mesma.
"Todos os garotos foram, e nós vamos ter uma festa do pijama!" ela anunciou em uma voz alegre, cantante.
"Uma festa do pijama?" eu repetí, a suspeita finalmente estava entrando.
"Você não está excitada?" ela gritou de alegria.
Eu encontrei o olhar animado dela por um segundo.
"Você está me sequestrando, não está?"
Ela sorriu e balançou a cabeça. "Até Sábado. Esme falou com Charlie; você vai ficar comigo por duas noites, e eu vou te levar e te trazer da escola amanhã".
Eu virei o meu rosto para a janela, os meus dentes se apertando.
"Desculpa", Alice disse sem soar nem um pouco arrependida. "Ele me pagou".
"Como?" eu assobiei por entre os dentes.
"O Porsche. É exatamente como o que eu roubei na Itália". Ela suspirou alegremente.
"Eu não devo dirigí-lo em Forks, mas se você quiser, nós podemos ver quanto tempo leva pra ir daqui até Los Angeles - eu aposto que te traria de volta antes de meia noite".
Eu respirei fundo. "Eu acho que vou passar", eu suspirei, reprimindo um tremor.
Nós continuamos, sempre rápido demais, pelo longo caminho. Alice parou na garagem, e eu rapidamente olhei para os carros.
O jipe grande de Emmett estava lá, com um brilhante Porsche amarelo cor de canário entre ele e o conversível vermelho de Rosalie.
Alice saiu graciosamente e foi passar a mão no suborno dela. "É bonito, não é?"
"Bonito até demais", eu murmurei, incrédula. "Ele te deu isso só pra você me manter prisioneira por dois dias?"
Alice fez uma cara.
Um segundo depois, a compreensão veio e eu sufoquei de horror. "É por todo o tempo que ele esteve longe, não é?"
Ela acenou com a cabeça.
Eu batí a minha porta e marchei em direção à casa. Ela dançou ao meu lado o tempo inteiro, ainda sem se arrepender.
"Alice, você não acha que isso é um pouco controlador demais? Um pouquinho psicótico, talvez?"
"Na verdade não", ela fungou. "Você não parece compreender o quanto um lobisomem jovem pode ser. Especialmente quando eu não consigo vê-los. Edward não tem nenhuma forma de saber se você está segura. Você não devia ser tão irresponsável".
Minha voz se tornou ácida. "Sim, porque uma festa do pijama de vampiro é pináculo de um comportamento conscientemente seguro".
Alice riu. "Eu vou ser sua pedicure e tudo", ela prometeu.
Não foi tão ruim, exceto pelo fato de que eu estava sendo segurada contra a minha vontade. Esme comprou comida Italiana - coisas boas, diretamente de Port Angeles - e Alice estava preparada com os meus filmes favoritos. Até Rosalie está lá, silenciosamente no fundo. Alice insistiu em ser pedicure, e eu me perguntei se ela tinha feito uma lista - talvez uma coisa que ela tenha inventado depois de assitir seriados ruins.
"Quão tarde você quer ficar acordada?" ela perguntou quando as minhas unhas estavam brilhando um vermelho sangue. O entusiasmo dela continuou a não mexer com o meu humor.
"Eu não quero ficar acordada. Nós temos escola amanhã".
Ele fez beicinho.
"Onde é que eu vou dormir, afinal?" eu medí o sofá com os meus olhos. Ele era um pouco curto. "Será que eu não posso dormir sob vigilância em minha casa?"
"Que espécie de festa do pijama seria esta?" Alice balançou a cabeça exasperada.
"Você vai dormir no quarto de Edward".
Eu suspirei. O sofá de couro preto dele era mais longo do que esse. Na verdade, o carpete dourado do quarto dele provavelmente era grosso o suficiente pra que o chão também não fosse uma má idéia.
"Posso ir à minha casa pra pegar as minhas coisas, pelo menos?"
Ela sorriu. "Já cuidei disso".
"Eu tenho permissão de usar o seu telefone?"
"Charlie sabe que você está aqui"
"Eu não ia ligar pra Charlie". Eu fiz uma careta. "Aparentemente, eu tenho planos pra cancelar".
"Oh", ela pensou. "Eu não tenho certeza quanto a isso".
"Alice!" eu choraminguei alto. "Vamos!"
"Tá bom, tá bom", ela disse, saindo do quarto. Ela estava de volta em menos de meio segundo, com o celular na mão.
"Ele não proibiu isso especificamente..." ela murmurou pra sí mesma enquanto passava ele pra mim.
Eu disquei o número de Jacob, esperando que ele não estivesse fora caçando com os amigos esta noite. A sorte estava ao meu lado - foi Jacob que atendeu.
"Alô?"
"Ei, Jake, sou eu" Alice me olhou com olhos inexpressívos por um segundo, antes de e se virar e ir se sentar ao lado de Rosalie e Esme no sofá.
"Oi, Bella", Jacob disse, cuidadoso de repente. "O que foi?"
"Nada de bom. No fim das contas eu não vou poder ir no Sábado".
Ficou silencioso por um segundo. "Sugador de sangue estúpido", ele finalmente murmurou. "Eu pensei que ele ia embora. Será que você não pode ter uma vida quando ele está longe? Ou ele te tranca no caixão dele?"
Eu rí.
"Eu não achei engraçado".
"Eu só estou rindo porque você está perto", eu disse a ele. "Mas ele vai estar aqui no Sábado, então isso não importa".
"Ele vai estar se alimentando em Forks então?" Jacob perguntou curtamente.
"Não" eu não me deixei ficar irritada com ele. Eu não estava tão longe de estar com tanta raiva quanto ele estava. "Ele foi mais cedo".
"Oh. Bem, ei, venha agora, então", ele disse com entusiasmo repentino. "Não está tão tarde. Ou eu vou te buscar na casa de Charlie".
"Eu queria. Eu não estou na casa de Charlie", eu disse amargamente. "Eu estou meio que sendo mantida prisioneira".
Ele ficou em silêncio enquanto isso se encaixava, e então ele rosnou. "Nós vamos buscar você", ele prometeu numa voz vazia, passando rapidamente pelo plural.
Um tremor percorreu a minha espinha, mas eu respondí num voz leve e zombeteira. "Tentador. Eu estou sendo torturada - Alice pintou as unhas dos meus pés".
"Estou falando sério".
"Não fale. Eles só estão tentando me manter segura".
Ele rosnou de novo.
"Eu sei que é bobagem, mas o coração deles está no lugar certo".
"O coração deles!" Jacob zombou.
"Eu lamento por Sábado", eu me desculpei. Eu tenho que ir para a cama" - o sofá, eu corrigí mentalmente - "mas eu te ligo de novo em breve".
"Você tem certeza que eles vão deixar?" ele perguntou num tom severo.
"Não completamente", eu suspirei. "Boa noite, Jake".
"A gente se vê por aí".
Alice estava abruptamente ao meu lado, a mão dela estava erguida para o telefone, mas eu já estava discando. Ela viu o número.
"Eu acho que ele não está com o telefone dele", ela disse.
"Eu vou deixar uma mensagem"
O telefone tocou quatro vezes, seguidas por um bipe. Não havia nenhuma saudação.
"Você está com problemas" eu disse lentamente, enfatizando cada palavra. "Problemas enormes. Ursos pardos raivosos não serão nada perto do que está te esperando em casa".
Eu fechei o telefone e o coloquei na mão dela que estava esperando. "Eu acabei".
Ela sorriu. "Essa coisa de refém é divertida".
"Eu vou dormir agora", eu anunciei, indo para as escadas. Alice veio junto.
"Alice", eu suspirei. "Eu não vou escapulir. Você saberia se eu estivesse planejando isso, e você me pegaria se eu tentasse".
"Eu só vou te mostrar onde as suas coisas estão", ela disse inocentemente.
O quarto de Edward ficava no fim do corredor do terceiro andar, difícil de me enganar mesmo se a casa enorme fosse menos familiar. Mas quando eu acendí a luz, eu parei, confusa. Eu tinha escolhido o quarto errado?

Era o mesmo quarto, eu reparei rapidamente; só que os móveis haviam sido re-arrumados. O sofá tinha sido empurrado para a parede norte e o som estava enfiado contra as vastas prateleiras de CD's - pra dar espaço à cama colossal que agora dominava o espaço no centro.
A parede de vidro ao sul refletia a cena como um espelho, fazendo ela parecer duas vezes pior.
Ela combinava. A colcha era de um dourado fraco, um pouco mais claro que as paredes; a armação era preta, feita com um aço forte e patenteado. Rosas esculpidas de metal se espalhavam em vinhas pelo alto poste e formavam um entrelaçado gracioso em cima. Os meus pijamas estavam cuidadosamente dobrados no pé da cama, e a minha bolsa de coisas de toilete estava ao lado.
"Que diabos é tudo isso?" eu disparei.
"Você não achou realmente que ele fosse te deixar dormir no sofá, pensou?"
Eu murmurei inteligivelmente enquanto marchava para arrancar as minhas coisas da cama.
"Eu vou te dar um pouco de privacidade", Alice riu. "Te vejo de manhã".
Depois que os meus dentes estavam escovados e eu estava vestida, eu peguei um travesseiro de penas fofo da cama e arrastei a coberta dourada até o sofá. Eu sabia que estava sendo boba, mas não me importava. Porsches de suborno e camas King-size em casas onde ninguém dormia - era irritante ao extremo. Eu desliguei as luzes e me curvei no sofá, me perguntando se estava chateada demais para dormir.
No escuro, a parede de vidro não era mais um espelho escuro, duplicando o quarto. A luz da lua brilhava nas nuvens do lado de fora da janela. Enquanto os meus olhos se ajustavam, eu podia ver um brilho difuso destacando o topo das árvores, e fazendo um pequeno pedaço do rio cintilar. Eu olhei a luz prateada, esperando que os meus olhos ficassem pesados.
Houve uma batida de leve na porta.
"O que, Alice?" eu assobiei. Eu estava na defensiva, imaginando a diversão dela quando ela visse a minha cama improvisada.
"Sou eu", Rosalie disse suavemente, abrindo a porta o suficiente pra que eu pudesse ver o brilho prateado tocar o seu rosto perfeito. "Posso entrar?"

7 Final Infeliz

Rosalie hesitou na porta, seu rosto arrebatador estava incerto.
“É claro” eu respondi, minha voz estava um oitavo mais alta com a surpresa. “Entre”.
Eu sentei, escorregando para o fim do sofá pra dar espaço. O meu estômago revirou nervosamente enquanto a única Cullen que não gostava de mim se moveu silenciosamente pra se sentar no espaço aberto. Eu tentei pensar numa razão pela qual ela ia querer me ver, mas a minha mente estava vazia até o momento.
“Você se importa de conversar comigo por alguns minutos?” ela perguntou. “Eu não te acordei nem nada, acordei?” Os olhos dela passaram da cama desforrada e de volta para o meu sofá.
“Não, eu estava acordada. Claro, nós podemos conversar” Eu me perguntei se ela podia ouvir o alarme na minha voz tão claramente quanto eu.
Ela sorriu levemente, e o som pareceu com sinos tocando. “Ele tão raramente te deixa sozinha”, ela disse. “Eu achei que seria melhor que eu tirasse o melhor dessa oportunidade”.
O que ela queria dizer que não podia ser dito na frente de Edward? As minhas mãos torceram e destorceram na porta da colcha.
“Por favor não pense que eu estou interferindo horrivelmente”, Rosalie disse, a voz dela estava gentil e quase implorativa. Ela cruzou as mãos no colo e olhou pra elas enquanto falava. “Eu tenho certeza que já magoei os seus sentimentos o suficiente no passado, e eu não quero fazer isso de novo”.
“Não se preocupe com isso, Rosalie. Os meus sentimentos estão ótimos. O que é?”
Ela riu de novo, parecendo estranhamente envergonhada. “Eu vou tentar te dizer porque eu acho que você devia permanecer humana – porque eu permaneceria humana se eu fosse você”.
“Oh”.
Ela sorriu com o tom chocado da minha voz, e então suspirou.
“Edward te contou o que levou a isso?” ela perguntou, fazendo um gesto para o seu glorioso corpo imortal.
Eu balancei a cabeça lentamente, repentinamente sombria. “Ele disse que foi perto do que aconteceu comigo em Port Angeles, só não havia ninguém lá pra salvar você”.
Eu tremi com a memória.
“Isso é realmente tudo o que ele te contou?” ela perguntou.
“Sim”, eu disse, a minha voz estava pasma de confusão. “Havia mais?”
Ela olhou pra mim e sorriu; era uma expressão dura, ácida – mas ainda estonteante.
“Sim”,ela disse. “Havia mais”.
Eu esperei enquanto ela olhava pela janela. Ela parecia estar tentando se acalmar.
“Você gostaria de ouvir a minha história, Bella? Ela não tem um final feliz – mas qual das nossas tem? Se nós tivéssemos finais felizes, nós estaríamos embaixo de lápides agora”.
Eu balancei a cabeça, apesar de estar assustada com o tom na voz dela.
“Eu vivi em um mundo diferente de você, Bella. O meu mundo humano era um lugar muito mais simples. Era mil novecentos e trinta e três. Eu tinha dezoito, e era linda. A minha vida era perfeita”.
Ela olhou pelas janelas para as nuvens prateadas, a expressão dela estava distante.
“Os meus pais eram inteiramente classe média. O meu pai tinha um emprego estável num banco, algo de que agora eu percebo que ele era presumido – ele viu a sua prosperidade como uma recompensa pelo seu talento e trabalho duro, e não reconhecendo a sorte que envolvia isso. Nessa época eu achava que tudo estava garantido; na minha casa, era como se a Grande Depressão fosse apenas um rumor problemático. É claro que eu via as pessoas pobres, aquelas que não tinham tanta sorte. O meu pai me passou a impressão de que eles haviam trazido os problemas para si mesmos.
“Era trabalho da minha mãe manter a nossa casa – e eu mesma e os meus dois irmãos mais jovens – para mantê-la impecável. Era claro que eu era tanto a sua prioridade como também a sua favorita. Eu não entendia completamente na época, mas eu estava sempre vagamente consciente que os meus pais não estavam satisfeitos com os que eles tinham, mesmo que isso fosse tão mais do que a maioria tinha. Eles queriam mais. Eles tinham aspirações sociais – escalas sociais, eu acho que você chamaria. A minha beleza era como um presente pra eles. Eles viam muito mais potencial nela do que eu.
“Eles não estavam satisfeitos, mas eu estava. Eu estava muito feliz por ser eu, por ser Rosalie Hale. Agradada porque os olhos dos homens me observavam onde quer que eu fosse, desde o ano que eu fiz doze anos. Deliciada porque as minhas amigas suspiravam de inveja quando elas tocavam o meu cabelo. Feliz porque a minha mãe estava orgulhosa de mim e que o meu pai gostava de me comprar vestidos bonitos.
“Eu sabia o que eu queria da vida, não parecia que haveria uma forma de eu não conseguir o que eu queria. Eu queria ser amada, ser adorada. Eu queria ter um casamento enorme, todo florido, onde todos na cidade ia me observar entrar na igreja de braço dado com o meu pai e pensar que eu era a garota mais bonita que eles já tinham visto. Admiração era como ar pra mim, Bella. Eu era boba e superficial, mas eu era feliz.” Ela sorriu, divertida com sua própria avaliação.
“A influência dos meus pais tinha sido tanta que eu também queria coisas materiais da vida. Eu queria uma casa grande com móveis elegantes que outra pessoa limparia e uma cozinha moderna na qual outra pessoa cozinharia. Como eu disse, superficial. Jovem e muito superficial. E eu não via nenhuma razão pela qual eu não conseguiria essas coisas.
“Haviam algumas coisas que eu queria que eram mais significantes. Uma em particular. A minha amiga mais próxima era uma garota chamada Vera. Ela se casou jovem, apenas aos dezessete.
Ela se casou com um homem que os meus pais jamais considerariam pra mim – um carpinteiro. Um ano depois ela teve um filho, um lindo menino com covinhas nas bochechas e cabelos pretos encaracolados. Foi a primeira vez na minha vida inteira que eu senti inveja de outra pessoa.”
Ela olhou pra mim com olhos insondáveis. “Era uma época diferente. Eu estava com a mesma idade que você, mas eu já estava pronta pra tudo isso. Eu desejava ter o meu próprio bebê. Eu queria ter a minha própria casa e um marido que me beijasse quando chegasse do trabalho – como Vera. Só que eu tinha um tipo diferente de casa em mente...”
Era difícil pra mim imaginar o tipo de mundo que Rosalie havia conhecido. A história dela parecia mais como um conto de fadas pra mim. Com um pequeno choque, eu me dei conta de que esse estava muito aproximado do tipo de mundo que Edward havia experimentado quando ele era humano, o mundo no qual ele havia crescido. Eu imaginei – enquanto Rosalie sentou em silêncio por um momento – será que meu mundo parecia tão confuso pra ele como o que Rosalie parecia pra mim?
Rosalie suspirou, e quando ela falou de novo a voz dela estava diferente, a saudade tinha ido embora.
“Em Rochester, havia uma família real – Os King, ironicamente o suficiente. Royce King era dono do banco onde meu pai trabalhava, e de praticamente todos os negócios bem sucedidos da cidade. Foi assim que o filho dele, Royce King Segundo” – aboca dela torceu com o nome, e ele saiu por entre os dentes dela – “me viu pela primeira vez. Ela ia herdar o banco, e então ele começou a vigiar diferentes posições. Dois dias depois, a minha mãe convenientemente esqueceu de mandar o almoço do trabalho pro meu pai. Eu me lembro de ter ficado confusa quando ela insistiu que eu usasse o meu vestido branco de organza e prendesse o meu cabelo só pra ir até o banco” Rosalie sorriu sem humor.
“Eu não reparei em Royce me observando particularmente. Todos me observavam. Mas naquela noite, a primeira das rosas veio. Todas as noites da nossa corte, ele me mandava um buquê de rosas. O meu quarto estava sempre transbordando com elas. Eu cheguei ao ponto de ficar com cheiro de rosas quando saía de casa.
“Royce era bonito também. O cabelo dele era mais claro que o meu, e olhos azuis claros. Ele disse que os meus olhos eram como violetas, e aí elas começaram a aparecer junto às rosas.
“Os meus pais aprovaram – pra dizer o mínimo. Isso era tudo com o que eles haviam sonhado. E Royce era tudo com o que eu havia sonhado. O príncipe dos contos de fada, que veio me transformar em princesa. Tudo o que eu queria, e mesmo assim não era nada além do que eu esperava. Nós estávamos noivos dois meses depois que eu o conheci.
“Nós não passávamos muito tempo juntos. Royce me disse que ele tinha muitas responsabilidades no trabalho, e, que quando estávamos juntos, ele gostava que as pessoas olhassem pra nós, que me vissem nos braços dele. Eu gostava disso também. Haviam muitas festas, danças, e belos vestidos. Quando você eram um King, todas as portas estavam abertas pra você, todos os tapetes vermelhos rolavam pra te saudar.
“Não foi um noivado longo. Os planos foram em frente para o casamento mais pródigo. Ia ser tudo o que eu havia desejado. Eu estava completamente feliz. Quando eu ligava pra Vera, eu não estava mais com inveja. Eu imaginava as minhas próprias crianças cabeludas brincando nos enormes gramados da propriedade dos King, e eu senti pena dela”.
Rosalie parou de repente, apertando os dentes. Isso me tirou da história, e eu me dei conta de que o terror não estava muito longe. Não haveria um final feliz, como ela havia prometido. Eu me perguntei se era por isso que ela era tão mais amarga do que o resto deles – porque ela esteve ao alcance de tudo o que queria quando a vida dela foi interrompida.
“Eu estava na casa de Vera naquela noite”, Rosalie sussurrou. O rosto dela estava suave como mármore, e tão duro quanto. “O pequeno Henry era realmente adorável, todo sorrisos e covinhas – ele já estava se sentando sozinho. Vera me acompanhou até a porta quando eu estava indo embora, seu bebê nos braços e o marido a seu lado, o braço dele estava na cintura dela. Ele beijou ela na bochecha quando pensou que eu não estava vendo. Aquilo me incomodou. Quando Royce me beijava, não era a mesma coisa – de alguma forma, não era tão doce... Eu coloquei esse pensamento de lado. Royce era o meu príncipe. Alguma dia, eu seria rainha”.
Era difícil dizer na luz da lua, mas parecia que o seu rosto branco estava mais pálido.
“As ruas estavam escuras, as lâmpadas já estavam acesas. Eu não tinha me dado conta do quanto era tarde.” Ela continuou a sussurrar quase inaudivelmente. “Estava frio também. Frio demais pra um final de Abril. O casamento seria em apenas uma semana, e eu estava preocupada com o clima enquanto me apressava pra ir pra casa – eu me lembro disso claramente. Eu me lembro de cada detalhe daquela noite. Eu me apeguei a isso com tanta força... no inicio. Eu não pensava em nada mais. E então eu me lembro disso, quando tantas outras memórias agradáveis haviam desaparecido completamente...”
Ela suspirou, e começou a sussurrar de novo. “Sim, eu estava me preocupando com o clima... eu não queria ter que passar o casamento pra um lugar fechado...
“Eu estava a algumas ruas da minha casa quando eu ouvi eles. Uma corja de homens embaixo de uma lâmpada quebrada na rua, rindo alto demais. Bêbados. Eu desejei ter ligado para o meu pai pra que ele me acompanhasse até em casa, mas o caminho era tão curto, e me pareceu bobagem. E então ele chamou o meu nome.
“Rose!’ ele gritou, e os outros riram estupidamente.
“Eu não tinha percebido que os bêbados estavam tão bem vestidos. Eram Royce e alguns outros amigos, filhos de outros homens ricos.
“’ Aqui está a minha Rose!’ Royce gritou, rindo com eles, soando igualmente estúpido. ‘Você está atrasada. Nós estamos com frio, por causa do tempo que você nos fez esperar’”.
“Eu nunca havia visto ele bêbado antes. Um brinde, de vez em quando, nas festas. Ele me disse que não gostava de champagne. Eu não tinha me dado conta de que ele gostava de algo muito mais forte.
“Ele tinha um novo amigo – o amigo de um amigo, vindo de Atlanta.
“O que eu te disse, John” Royce gritou alegremente, agarrando o meu braço e me puxando pra perto. ‘Ela não é mais adorável do que os seus pêssegos de Geórgia?’
“O homem chamado John tinha cabelos escuros e era bronzeado do sol. Ele me olhou como se eu fosse um cavalo que ele estivesse comprando.
‘É difícil dizer’ ele disse lentamente. ‘Ela está toda coberta”.
“Eles riram, Royce riu como o resto.
“De repente, Royce arrancou o casaco dos meus ombros – foi um presente dele – arrancando fora os botões. Eles saíram de espalhando pela rua.
“Mostre a ele como você é, Rose!’ Ele riu de novo, e então ele arrancou o meu chapéu da minha cabeça. Os broches estavam presos nas raízes dos meus cabelos, e eu chorei de dor. Eles pareceram gostar disso – do som da minha dor...”
Rosalie olhou para mim de repente, como se ela tivesse esquecido que eu estava lá. Eu estava certa que o meu rosto estava tão branco quanto o dela. A não ser que ele estivesse verde.
“Eu não vou te fazer ouvir o resto”, ela disse baixinho. “Eles me deixaram na rua, ainda rindo enquanto eles iam embora tropeçando. Eles pensaram que eu estivesse morta. Eles estavam zombando de Royce dizendo que ele teria que arrumar uma nova noiva. Ele riu e disse que antes ele teria que aprender a ter paciência.
“Eu esperei pra morrer na rua. Estava frio, apesar de eu estar sentindo tanta dor que eu me surpreendi por isso estar me incomodando. Começou a nevar, e eu me perguntei porque eu não estava morrendo. Eu estava impaciente para a morte chegar, e acabar com a dor. Estava demorando tanto...
“Aí Carlisle me achou. Ele sentiu o cheiro do sangue, e veio investigar. Eu me lembro de ficar vagamente irritada enquanto ele trabalhava em mim, tentando salvar a minha vida. Eu nunca gostei do Dr. Cullen ou de sua esposa e o irmão dela – como Edward fingia ser na época. Eu ficava aborrecida por eles serem mais bonitos do que eu era, especialmente os homens. Mas eles não se misturavam com a sociedade, então eu só os tinha visto uma ou duas vezes.
“Eu pensei que tinha morrido quando ele me tirou do chão e começou a correr comigo – por causa da velocidade – eu senti como se estivesse voando. Eu me lembro de ter ficado horrorizada quando a dor não parou...
“Então eu estava nunca sala clara, e estava quente. Eu estava ficando inconsciente, e eu fiquei grata pois a dor estava começando a diminuir. Mas de repente alguma coisa afiada estava me cortando, minha garganta, meus pulsos, meus tornozelos. Eu gritei com o choque, pensando que ele havia me trazido pra me machucar mais. Então o fogo começou a me queimar, e eu não me importei com mais nada. Eu implorei que ele me matasse. Quando Esme e Edward voltaram pra casa, eu implorei que eles me matassem também. Carlisle se sentou comigo. Ele segurou a minha mão e disse que sentia muito, prometendo que aquilo acabaria.
Ele me disse tudo, e as vezes eu escutava. Ele me disse o que ele era, e o que eu estava me tornando. Eu não acreditei nele. Ele pedia perdão toda vez que eu gritava.
“Edward não ficou feliz. Eu lembro de ouvi-los discutindo sobre mim. Eu parava de gritar as vezes. Gritar não adiantava de nada.
“No que você estava pensando, Carlisle?’ Edward disse. ‘Rosalie Hale?” Rosalie imitou o tom de Edward com perfeição. “Eu não gostava do jeito como ele dizia o meu nome, como se houvesse alguma coisa errada comigo.
“’ Eu não podia simplesmente deixa-la morrer’ Carlisle disse baixinho. ‘Foi demais – horrível demais, muito desperdício.”
“’ Eu sei’, Edward disse, eu pensei que ele parecia estar desinteressado. Isso me irritou. Nessa época eu não sabia que ele podia ver exatamente o que Carlisle havia visto.
‘Era desperdício demais. Eu não podia abandona-la’ Carlisle repetiu em um sussurro.
“É claro que você não podia’, Esme concordou.
“Pessoas morrem o tempo todo’ Edward lembrou ele com uma voz dura. ‘No entanto, você não acha que ela é um pouco reconhecível demais? Os King vão fazer uma enorme procura – não que alguém suspeite daquele demônio’, ele rugiu.
“Eu fiquei satisfeita por eles parecerem saber que Royce era o culpado.
“Eu não me dei conta de que já estava quase acabado – que estava ficando mais forte e que eu era capaz de me concentrar no que eles estavam dizendo. A dor estava começando a desaparecer das pontas dos meus dedos.
“O que nós vamos fazer com ela?’ Edward disse, enojado – ou pelo menos, foi assim que soou pra mim.
“Carlisle suspirou. ‘Isso depende dela, é claro. Ela pode querer seguir seu próprio caminho’.
“Eu acreditei o suficiente nele para as suas palavras me deixarem aterrorizada. Eu sabia que a minha vida estava acabada, e que não havia volta pra mim. Eu não conseguia suportar a idéia de ficar sozinha...
“A dor finalmente passou e eles me explicaram de novo o que eu era. Dessa vez eu acreditei. Eu senti a sede, a dureza da minha pele; eu vi meus olhos vermelhos brilhantes.
“Superficial como eu era, eu me senti melhor quando vi minha reflexão no espelho pela primeira vez. Apesar dos olhos, eu era a coisa mais bonita que eu já havia visto” Ela riu de si mesma por um momento. “Levou algum tempo até que eu começasse a culpar a beleza pelo que havia me acontecido – pra que eu pudesse ver a maldição por trás dela. Eu desejei ser... bem, não feia, mas normal. Como Vera. Assim eu teria sido capaz de casa com alguém que me amasse, e ter belos bebês. Era isso que eu realmente queria, o tempo inteiro. Isso ainda não parece ser demais pra pedir.”
Ela ficou pensativa por um momento, e eu me perguntei se ela havia esquecido a minha presença de novo. Mas então, ela sorriu pra mim, a expressão dela repentinamente triunfante.
“Sabe, o meu histórico é quase tão limpo quanto o de Carlisle”, ela me disse. “Melhor que Esme. Mil vezes melhor que Edward. Eu nunca experimentei sangue humano”, ela anunciou orgulhosamente.
Ela entendeu a minha expressão confusa enquanto eu me perguntava porque o histórico dela era quase tão limpo.
“Eu matei cinco humanos”, ela me disse com um tom complacente. “Se e´que você pode chama-los de humanos. mas eu tive bastante cuidado pra não derramar o sangue deles – eu sabia que não seria capaz de resistir a isso, e eu não queria nenhuma parte deles em mim, sabe.
“Eu deixei Royce por último. Eu esperei que ele tivesse ouvido as mortes dos seus amigos e compreendesse, soubesse o que estava pra acontecer com ele. Eu esperava que o medo fosse tornar o fim pior pra ele. E eu acho que funcionou. Ele estava se escondendo num quarto sem janelas atrás de uma porta tão grossa quanto a de um cofre de banco, protegida por fora por homens armados, quando eu o peguei. Oops – sete assassinatos”, ela se corrigiu. “Eu esqueci dos guardas dele. Eles só levaram um segundo”.
“Eu fui extremamente teatral. Foi meio infantil, na verdade. Eu estava usando um vestido de noiva que eu havia roubado para a ocasião. Ele gritou quando me viu. Ele gritou bastante aquela noite. Deixar ele por último foi uma boa idéia – isso facilitou o meu auto-controle, me ajudou a faze-lo mais devagar –“
Ela parou de repente, e olhou pra mim. “Me desculpe”, ela disse com uma voz pesarosa. “Eu estou te assustando, não estou?”
“Eu estou bem”, eu menti.
“Eu me deixei levar”.
“Não se preocupe com isso”.
“Eu estou surpresa por Edward não ter te contado mais sobre isso”.
“Ele não gosta muito de contar as histórias dos outros – ele se sente como se estivesse traindo confidências, já que ele ouve tantas coisas sobre você que ele não deveria ter ouvido”.
Ela sorriu e balançou a cabeça. “Eu provavelmente devo dar mais crédito a ele. Ele realmente é muito decente, não é?”
Eu acho que sim”.
“Dá pra notar”. Então ela suspirou. “Eu também não fui justa com você, Bella. Ele te disse porque? Ou isso era confidencial demais?”
“Ele disse que era porque eu era humana. Ele disse que era mais difícil pra você ter alguém de fora que você não conhecia”.
A risada musical de Rosalie me interrompeu. “Agora eu realmente me sinto culpada. Ele foi muito, muito mais bonzinho comigo do que eu merecia”, ela pareceu mais cálida enquanto sorria, como se ela tivesse baixado uma guarda que nunca esteve ausente na minha presença. “Que mentiroso aquele garoto é”. Ela riu de novo.
“Ele estava mentindo?” eu perguntei, repentinamente cautelosa.
“Bom, provavelmente essa palavra seja forte demais. Ele só não te contou a história inteira. O que ele te contou era verdade, ainda mais verdadeira agora do que era antes. No entanto, naquela época...” Ela se deteve, gargalhando nervosamente. “Isso é vergonhoso. Veja, no início, eu estava em grande parte, mais enciumada porque ele queria você e não eu”.
As palavras dela mandaram uma onda de medo por mim. Sentada lá, na luz prateada, ela era mais bonita do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar. Eu não podia competir com Rosalie.
“Mas você ama Emmett...” eu murmurei.
Ela balançou a cabeça pra frente e pra trás, divertida. “Eu não quero Edward desse jeito, Bella. Eu nunca quis – eu amo ele como irmão, mas ele me irritou desde o primeiro momento que eu o ouvi falando. Você tem que entender, porém... eu estava acostumada às pessoas querendo a mim. E Edward não estava nem um pouco interessado. Isso me frustrou, e até me ofendeu no início. Mas ele nunca quis ninguém, então isso não me incomodou por muito tempo. Mesmo quando Edward encontrou o clã de Tânia pela primeira vez em Denali – todas aquelas fêmeas! – Edward nunca demonstrou nem a mínima preferência. E aí ele conheceu você”. Ela me olhou com olhos confusos. Eu só estava prestando atenção pela metade. Eu estava pensando em Edward e Tânia e todas aquelas fêmeas, e os meus lábios se pressionaram em uma linha dura.
“Não que você não seja bonita, Bella”, ela disse, se enganando com a minha expressão. “Mas é só que isso significava que ele tinha te achado mais atraente do que eu. Eu sou vaidosa o suficiente pra me importar”.
“Mas você disse ‘no início’. Isso não te incomoda... ainda, incomoda? Quer dizer, nós duas sabemos que você é a pessoa mais bonita no planeta”.
Eu ri por ter que dizer as palavras – isso era tão óbvio. Que estranho que Rosalie precisasse ter desse tipo de segurança.
Rosalie riu também. “Obrigada, Bella. E não, isso realmente não me incomoda mais. Edward sempre foi um pouco estranho”. Ela riu de novo.
“Mas você ainda não gosta de mim”, eu sussurrei.
O sorriso dela desapareceu. “Eu lamento por isso”.
Nós sentamos em silêncio por algum tempo, e ela não parecia inclinada a continuar.
“Você pode me dizer porque? Eu fiz alguma coisa...?” Será que ela estava zangada por eu ter colocado a família dela – o Emmett dela – em perigo? De novo e de novo. James, e agora Victoria...
“Não, você não fez nada”, ela murmurou. “Ainda não”.
Eu olhei pra ela, perplexa.
“Você não vê, Bella?” A voz dela estava repentinamente mais apaixonada do que antes, mesmo quando ela me contou a sua história infeliz. “Você já tem tudo. você tem uma vida inteira à sua frente – tudo o que você quer. E você simplesmente vai jogar tudo fora. Será que você não vê que eu trocaria tudo o que eu tenho pra ser você? Você tem a escolha que eu não tive, e você está fazendo a escolha errada!”.
Eu enrijeci por causa da expressão penetrante dela. Eu me dei conta de que a minha boca estava aberta e eu a fechei.
Ela me encarou por um longo momento, e lentamente, o fervor nos olhos dela diminuiu. De repente, ela estava envergonhada.
“E eu tinha tanta certeza de que poderia fazer isso com calma”, ela balançou a cabeça, parecendo confusa com a fluência das emoções. “É só que é mais difícil agora do que era antes, quando isso não passava de vaidade”.
Ela encarou a lua silenciosamente. Levaram alguns minutos até que eu fosse corajosa o suficiente pra quebrar o devaneio dela.
“Você ia gostar mais de mim se eu continuasse humana?”
Ela se virou pra mim, os lábios dela estavam tremendo com a sombra de um sorriso. “Talvez”.
“No entanto, você conseguiu o seu final feliz”, eu lembrei ela. “Você tem Emmett”.
“Eu tenho a metade”. Ela riu. “Você sabe que eu salvei Emmett do urso que estava atacando ele, e o carreguei até Carlisle. Mas será que você pode adivinhar porque eu não permiti que o urso comesse ele?”
Eu balancei minha cabeça.
“Com os cachos escuros... as covinhas que apareciam mesmo quando ele estava fazendo caretas de dor... a estranha inocência que parecia tão incomum no rosto de um homem adulto... ele me lembrou do pequeno Henry de Vera. Eu não queria que ele morresse – tanto que, mesmo odiando essa vida, eu fui egoísta o suficiente pra pedir que Carlisle transformasse ele.
“Eu tive mais sorte do que merecia. Emmett é tudo o que eu pediria se eu conhecesse a mim mesma bem o suficiente pra saber o que pedir. Ele é exatamente o tipo de pessoa que alguém como eu precisa. E, estranhamente o suficiente, ele precisa de mim também. Essa parte funcionou melhor do que eu podia ter esperado. Mas nunca haverá mais do que apenas nós dois. Eu nunca vou me sentar em uma varanda em algum lugar, com ele grisalho ao meu lado, cercados pelos nossos netos.”
O sorriso dela era gentil agora. “Isso soa um tanto bizarro pra você, não é? De algumas maneiras, você é muito mais madura do que eu era aos dezoito anos. Você é jovem demais pra saber o que você vai querer daqui a dez anos, quinze anos – e jovem demais pra desistir de tudo sem pensar. Você não vai querer se apressar sobre coisas permanentes, Bella”, ela deu um tapinha na minha mão, mas o gesto não pareceu condescendente.
Eu suspirei.
“Só pense nisso um pouco. Uma vez que isso esteja feito, não pode ser desfeito. Esme nos tem como substitutos... e Alice não lembra nada do que é ser humana, então ela não pode sentir falta disso... você, porém, irá se lembrar. É muita coisa pra abrir mão”.
Mas muito mais coisas pra receber, eu não disse isso em voz alta. “Obrigada, Rosalie. É bom entender... te conhecer melhor”.
“Eu peço perdão por ser uma monstra”. Ela sorriu. “Eu vou tentar me comportar de agora em diante”.
Eu sorri de volta pra ela.
Nós não éramos amigas ainda, mas eu tinha certeza de que ela já não me odiava tanto.
“Eu vou te deixar dormir agora”. Os olhos de Rosalie passaram para a cama, e os lábios dela se torceram. “Eu sei que você está frustrada por ele ter te trancado assim, mas não o castigue muito quando ele voltar. Ele te ama mais do que você imagina. Ele fica aterrorizado por ficar longe de você”. Ela se levantou silenciosamente e deslizou até a porta. “Boa noite, Bella”, ela sussurrou enquanto fechava a porta atrás de si mesma.
“Boa noite, Rosalie”, eu disse um segundo tarde demais.
Eu levei um longo tempo pra dormir depois disso.
Quando eu dormi, eu tive um pesadelo. Eu estava me arrastando no escuro, as pedras frias de uma ruas desconhecida, embaixo da neve que caia levemente, deixando uma trilha de sangue atrás de mim. Um anjo sombrio em um longo vestido branco observou o meu progresso com olhos ressentidos.
Na manhã seguinte, Alice me levou para a escola enquanto eu olhava inexpressivamente pelo pára-brisa. Eu estava sentindo a falta de sono, e isso deixou a minha irritação por ser prisioneira ainda mais forte.
“Hoje à noite nós vamos à Olympia ou alguma coisa assim”, ela prometeu. “Isso seria divertido, não é?”
“Porque você simplesmente não me tranca no porão?”, eu sugeri “e esquece a cota de açúcar?”
Alice fez uma careta. “Ele vai pegar o Porsche de volta. Eu não estou fazendo um trabalho muito bom. Era pra você estar se divertindo”.
“Não é sua culpa”, eu murmurei. Eu não conseguia acreditar que realmente estava me sentindo culpada. “Eu te vejo no almoço”.
Eu fui para a aula de Inglês. Sem Edward, o dia dava garantias de ser insuportável. Eu fiquei amuada durante a minha primeira aula, bem consciente de que a minha atitude não estava ajudando em nada.
Quando o sino tocou, eu me levantei sem muito entusiasmo. Mike estava lá na porta, segurando ela aberta pra mim.
“Edward está caminhando esse fim de semana?” ele perguntou socialmente enquanto caminhávamos para a leve chuva.
“É”.
“Você quer fazer alguma coisa essa noite?”
Como é que ele ainda podia ter tantas esperanças?
“Não posso. Eu vou a uma festa do pijama”, eu rosnei. Ele me deu uma olhada estranha enquanto processava o meu humor.
“Com quem você –“
A pergunta de Mike foi cortada quando um ronco alto de um motor emergiu atrás de nós no estacionamento. Todo mundo na calçada se virou pra olhar, encarando sem acreditar, a moto preta que parou bruscamente na beira do concreto, com o motor ainda roncando.
Jacob acenou pra mim urgentemente.
“Corra, Bella!” ele gritou por cima do ronco do motor.
Eu fiquei congelada por um segundo antes de entender.
Eu olhei pra Mike rapidamente. Eu sabia que só tinha alguns segundos.
Até onde Alice iria pra me restringir em público?
“Eu fique doente e fui pra casa, tudo bem?” eu disse para Mike, a minha voz cheia com excitação repentina.
“Ta bom”, ele murmurou.
Eu dei um beijo rápido na bochecha de Mike. “Obrigada, Mike. Eu te devo uma!”, eu falei enquanto saía correndo.
Jacob acelerou o motor, sorrindo. Eu pulei atrás do seu banco, passando os meus braços com força na cintura dele.
Eu vi Alice, congelada perto do refeitório, os olhos dela brilhando de fúria, os lábios dela curvados em cima dos dentes.
Eu lancei um olhar de piedade pra ela.
Então estávamos correndo na rua com tanta velocidade que o meu estômago se perdeu em algum lugar atrás de mim.
“Se segure”, Jacob gritou.
Eu escondi meu rosto nas costas dele enquanto ele aumentava a velocidade na pista. Eu sabia que ele diminuiria quando atingisse a fronteira dos Quileute. Eu só tinha que me segurar até lá. Eu rezei silenciosamente e ferventemente pra que Alice não nos seguisse, e que Charlie não me visse...
Foi óbvio quando nós chegamos à zona segura. A moto diminuiu de velocidade, e Jacob se endireitou e rosnou de rir. Eu abri os meus olhos.
“Nós conseguimos!” ele gritou. “Nada mal pra uma fuga da prisão, não é?”
“Belo pensamento, Jake”.
“Eu me lembrei do que você disse sobre a sanguessuga vidente não ser capaz de prever o que eu vou fazer. Eu estou feliz que você não tenha pensado nisso – ela não teria deixado você ir para a escola”.
“Foi por isso que eu não levei isso em consideração”.
Ele sorriu triunfantemente. “O que você quer fazer hoje?”
“Qualquer coisa!” eu ri de volta. Era ótimo me sentir livre.
Nós acabamos na praia de novo, andando sem rumo. Jacob ainda estava cheio de si por ter arquitetado a minha fuga.
“Você acha que eles vão vir aqui te procurando?” ele perguntou, soando esperançoso.
“Não”, eu tinha certeza disso. “No entanto, eles vão estar furiosos comigo essa noite”.
Ele pegou uma pedra e a atirou nas ondas. “Então não volte”, ele sugeriu de novo.
“Charlie ia amar isso”, eu disse sarcasticamente.
“Eu aposto que ele não ia se incomodar”.
Eu não respondi. Jacob estava certo, e isso me fez apertar os meus dentes. A preferência clara que Charlie tinha pelos meus amigos Quileute era tão injusta. Eu me perguntei se ele pensaria a mesma coisa se soubesse que a escolha de verdade estava entre vampiros e lobisomens.
“Então qual é o último escândalo do bando?” eu perguntei levemente.
Jacob parou no ato, e olhou pra mim com olhos chocados.
“O que? Isso foi uma piada”.
“Oh”, ele olhou pra longe.
Eu esperei que ele falasse de novo, mas ele pareceu perdido em pensamentos.
um escândalo?” eu imaginei.
Jacob gargalhou uma vez. “Eu tinha esquecido como é, estar perto de uma pessoa que sabe de tudo o tempo inteiro. Ter um lugar quieto, privado, na minha cabeça”.
Nós caminhamos lado a lado na praia cheia de pedras por alguns minutos.
“Então o que é?” eu perguntei finalmente. “Que todo mundo na sua cabeça já sabe?”
Ele hesitou por um momento, como se ele não estivesse muito certo de como me dizer. Aí ele suspirou, e disse “Quil teve uma impressão. Agora são três. O resto de nós está começando a ficar preocupado. Talvez seja mais comum do que nas histórias que elas contam...” Ele fez uma careta, e aí se virou pra me encarar
Ele me olhou nos olhos sem falar, as sobrancelhas dele estavam enrugadas de concentração.
"O que você tá olhando?" eu perguntei, me sentindo intimidada.
Ele suspirou. "Nada".
Jacob começou a caminhar de novo. Sem parecer pensar no que fazia, ele pegou a minha mão. Nós andamos silenciosamente pelas rochas.
Eu pensei no que estávamos parecendo caminhando de mãos dadas pela praia - com um casal, certamente - e me perguntei se eu deveria me opor. Mas as coisas sempre foram desse jeito com Jacob... Não havia razão pra ficar preocupada com isso.
"Porque Quil tendo uma impressão é um escândalo tão grande?" eu perguntei, quando não parecia que ele ia continuar. "É porque ele é o mais novo?"
"Isso não tem nada a ver".
"Então qual é o problema?"
"É outra daquelas coisas de lenda. Eu me pergunto, quando é que vamos parar de nos surpreender por elas serem todas verdadeiras?" ele murmurou pra sí mesmo.
"Você vai me contar? Ou eu vou ter que adivinhar?"
"Você nunca adivinharia. Entenda, Quil não tem saído muito conosco, sabe, até recentemente. Então, ele não tinha estado na casa de Emily com frequência".
"A impressão de Quil foi com Emily também?" eu ofeguei.
"Não! Eu disse que você não ia adivinhar. Emily está recebendo as duas sobrinhas em visita... e Quil conheceu Claire."
Ele não continuou. Eu pensei nisso por um momento.
"Emily não quer a sobreinha dela com um lobisomem? Isso é um pouco de hipocrisia", eu disse.
Mas eu podia entender porque ela, entre todas as pessoas, se sentia dessa forma. Eu pensei de novo nas longas cicatrizes que marcavam o rosto dela e que se estendiam em todo o seu braço direito. Sam só havia perdido o controle uma vez quando estava perto demais dela. Uma vez foi tudo o que precisou... Eu tinha visto a dor nos olhos de Sam quando ele olhou o que ele havia feito com Emily. Eu podia entender porque Emily ia querer proteger a sobrinha dela daquilo.
"Será que você pode parar de tentar adivinhar por favor? Você está errada. Emily não se importa com essa parte, é só que, bem, é um pouco cedo".
"O que você quer dizer com cedo?"
Jacob me olhou com os olhos apertados. "Tente não fazer julgamentos, tudo bem?"
Eu balancei a cabeça cautelosamente.
"Claire tem dois anos", Jacob me disse.
A chuva começou a cair. Eu pisquei furiosamente enquanto as gotas caíam no meu rosto.
Jacob esperou em silêncio. Ele não estava usando casaco, como sempre; a chuva deixou uma trilha de pontos escuros na camisa preta dele, e encharcou o seu cabelo que estava pingando. O rosto dele estava sem expressão enquanto ele observava o meu.
"Quil... teve um impressão... com uma garota de dois anos de idade?" eu finalmente fui capaz de perguntar.
"Isso acontece", Jacob levantou os ombros. Ele abaixou pra pegar outra pedra e a fez sair voando através da baía. "Ou pelo menos isso é o que as histórias dizem".
"Mas ela é um bebê", eu protestei.
Ele olhou pra mim com um divertimento negro. "Quil não vai envelhecer", ele me lembrou, com um pouco de ácido em seu tom. "Ele só vai ter que ser paciente por algumas décadas".
"Eu... não sei o que dizer".
Eu estava fazendo o meu melhor pra não ser crítica, mas, na verdade, eu estava horrorizada. Até agora, nada sobre os lobisomens haviam me incomodado desde o dia que eu descobrí que não eram eles que estavam cometendo os assassinatos como eu havia suspeitado.
"Você está fazendo julgamentos", ele acusou. "Eu posso ver no seu rosto".
"Me desculpe", eu murmurei. "Mas isso soa muito esquisito".
"Não é bem assim, você entendeu tudo errado" Jacob defendeu o amigo, repentinamente veemente. "Eu ví como é, pelos olhos dele. Não ha absolutamente nada romântico nisso, não pra Quil, não por enquanto." Ele respirou fundo, frustrado.
"É difícil descrever. Não é como se fosse amor à primeira vista, na verdade. É mais como... ação da gravidade. Quando você vê ela, de repente não é mais a terra que está te segurando aqui. Ela te segura. E nada importa mais do que ela. E você faria qualquer coisa por ela, seria qualquer coisa por ela... Você se torna qualquer coisa que ela precisa que você seja, seja o protetor dela, ou um amante, ou um amigo, ou um irmão.
"Quil será o melhor irmão mais velho e o mais gentil que alguém já teve. Não existe um bebê que seja mais bem cuidado do que aquela garotinha será. E depois, quando ela for mais velha e precisar de um irmão, ele será mais compreensívo, confiavel e presente do que qualquer pessoa que ela conheça. E depois, quando ela for adulta, eles serão tão felizes quanto Emily e Sam".
"Claire não tem uma escolha aqui?"
"É claro. Mas porque ela não escolheria ele, afinal? Ele será o par perfeito pra ela. Como se ele tivesse sido inventado só pra ela".
Nós caminhamos em silêncio por um momento, até que eu parei pra atirar uma pedra no oceano. Ela caiu na praia ha muitos metros antes da água. Jacob riu.
"Nós não podemos ser todos sinistramente fortes" eu murmurei.
Ele suspirou.
"Quando você acha que isso vai acontecer com você?" eu perguntei rapidamente.
A resposta dele foi vazia e imediata. "Nunca".
"Isso não é uma coisa que você pode controlar, é?"
Ele ficou em silêncio por alguns minutos. Inconscientemente, nós dois caminhamos mais devagar, quase sem nos mover.
"Não deve ser", ele admitiu. "Mas você tem que ver ela - aquela que supostamente foi feita pra você."
"E você acha que só porque você não a viu ainda, que ela não está por aí?" eu pergutei ceticamente. "Jacob, você não viu muito do mundo - menos que eu, até".
"Não, eu não ví", ele disse em uma voz baixa. Ele olhou para os meus olhos com olhos repentinamente penetrantes.
"Mas eu nunca vou ver mais ninguém, Bella. Eu só vejo você. Mesmo quando eu fecho os meus olhos e tento pensar em outra coisa. Pergunte a Quil e Embry. Isso deixa eles loucos".
Eu deixei os meus olhos caírem para as pedras.
Nós não estávamos caminhando mais. O único som vinha das ondas se batendo nas costas de rochas. Eu não conseguí ouvir a chuva acabar com o seu ronco.
"Talvez seja melhor eu ir pra casa", eu sussurrei.
"Não!" ele protestou, surpreso com essa conclusão.
Eu olhei pra ele e os seus olhos estavam ansiosos agora.
"Você tem o dia inteiro de folga, não tem? O sugador de sangue não vai estar em casa ainda".
Eu encarei ele.
"Sem intenção de ofender", ele disse rapidamente.
"Sim, eu tenho o dia todo. Mas, Jake..."
Ele levantou as mãos. "Perdão", ele se desculpou. "Eu não vou ser mais assim. Eu vou só ser Jacob".
Eu suspirei. "Mas isso é o que você está pensando..."
"Não se preocupe comigo" ele insistiu, sorrindo com alegria proposital, brilhante demais. "Eu sei o que eu estou fazendo. É só me dizer se eu estiver aborrecendo você".
"Eu não sei..."
"Vamos, Bella. Vamos voltar pra casa e pegar as nossas motos. Você tem que andar na moto regularmente pra não perder o costume".
"Eu realmente não acho que eu tenho permissão".
"De quem? De Charlie ou do sugador - dele?"
"De ambos".
Jacob sorriu o meusorriso, e de repente ele era o Jacob do qual eu mais tinha saudade, ensolarado e cálido.
Eu não pude deixar de rir de volta.
A chuva diminuiu, se transformou em um chuvisco.
"Eu não vou contar pra ninguém", ele prometeu.
"Exceto a todos os seus amigos".
Ele balançou a cabeça sobriamente e ergueu a mão direita. "Eu prometo que não vou pensar nisso".
Eu sorrí. "Se eu me machucar, foi porque eu tropecei".
"O que você disser".
Nós andamos nas nossas motos nas estradas de La Push até que a chuva as deixou com muita lama e Jacob insistiu que ia desmaiar se não comesse nada rápido.
Billy me saudou facilmente quando nós chegamos na casa, como se a minha aparição repentina não significasse nada mais complicado do que eu querendo passar um dia com o meu amigo. Depois que nós comemos os sanduíches que Jacob fez, nós saímos para a garagem e eu o ajudei a limpar as motos. Eu não tinha estado aqui ha meses - desde que Edward havia retornado - mas não havia nenhuma sensação de importância nisso. Era só uma outra tarde na garagem.
"Isso é legal" eu comentei quando ele tirou os refrigerantes quentes do saco de papel da mercearia. "Eu senti falta desse lugar".
Ele sorriu, olhando para as telhas de plástico juntas acima das nossas cabeça. "É. Eu posso entender isso. Todo o esplendor do Taj Mahal, sem a incoveniência das dispesas de uma viagem à India".
"Ao pequeno Taj Mahal de Washington", eu brindei, levantando a minha lata.
Ele tocou a sua lata na minha.
"Você se lembra do último Dia dos Namorados? Eu acho que aquela foi a última vez que você esteve aqui - a última vez em que as coisas estavam... normais, eu quero dizer."
Eu rí. "É claro que eu me lembro. Eu troquei uma vida de servidão por uma caixinha em formato de coração. Isso não é uma coisa que eu ache provavel esquecer".
Ele riu comigo. "É isso aí. Hmm, servidão. Eu vou ter que pensar em alguma coisa boa". Aí ele surpirou. "Parece que já fazem anos. Uma outra era. Uma era mais feliz".
Eu não podia concordar com ele. Essa era a minha era feliz agora. Mas eu fiquei surpresa por me dar de quantas coisas eu sentia falta das minhas próprias eras negras. Eu olhei para a abertura na floresta cheia de musgos. A chuva estava mais forte de novo, mas estava quente na pequena garagem, sentada perto de Jacob. Ele era tão bom quanto uma lareira.
Os dedos dele alisaram a minha mão. "As coisas realmente mudaram"
"É" Eu disse, e aí eu me inclinei e dei um tapinha no pneu de trás da minha moto. "Charlie costumava gostar de mim. Eu espero que Billy não o conte nada sobre hoje..." eu mordí o meu lábio.
"Ele não vai. Ele não fica esquentado com as coisas do jeito que Charlie fica. Ei, eu nunca me desculpei oficialmente por aquele lance estúpido com as motos. Eu realmente sinto muito por ter te dedurado pro Charlie. Eu queria não ter feito isso".
Eu revirei os meus olhos. "Eu também".
"Eu realmente, realmente sinto muito".
Ele olhou pra mim esperançosamente, seu cabelo preto molhado, emaranhado, estava em todo canto no rosto implorativo dele.
"Oh, tá legal! Você está perdoado".
"Obrigado, Bells!"
Nós rimos um pro outro por um segundo, e então o rosto dele sombreou.
"Sabe aquele dia, quando eu levei as motos... Eu estava esperando te perguntar uma coisa", ele disse lentamente. "Mas também... não queria".
Eu fiquei muito imóvel - uma reação ao estresse. Esse era um hábito que eu havia pego de Edward.
"Você estava só sendo teimosa porque estava com raiva de mim, ou você estava realmente falando sério?" ele sussurrou.
"Sobre o que?" eu sussurrei de volta, apesar de eu ter certeza de que sabia sobre o que ele estava falando.
Ele me encarou. "Você sabe. Quando você disse que não era da minha conta... se - se ele te mordesse". Ele enrijeceu visivelmente no final.
"Jake" a minha garganta parecia inchada. Eu não conseguí terminar.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. "Você estava falando sério?"
Ele estava tremendo bem de leve. Os olhos dele ficaram fechados.
"Sim" eu sussurrei.
Jacob inalou, devagar e profundo. "Eu acho que sabia disso".
Eu olhei para o rosto dele, esperando que seus olhos se abrissem.
"Você sabe o que isso vai significar?" ele perguntou de repente. "Você entende isso, não entende? O que vai acontecer se eles quebrarem o acordo?"
"Nós vamos embora primeiro", eu disse com uma voz pequena.
Os olhos dele se abriram, as profundidades pretas estavam cheias de raiva e de dor.
"Não havia um limite geográfico para o acordo, Bella. Os nossos avôs só concordaram em manter a paz porque os Cullen juraram que eles eram diferentes, que os humanos não estariam em perigo por causa deles. Eles prometeram que nunca iam matar ou transformar alguém de novo. Se eles derem pra trás com a sua palavra, o acordo não tem valor, e eles não serão diferentes dos outros vampiros. Uma vez que isso está estabelecido, quando nós os acharmos -"
"Mas, Jake, você já não quebrou o acordo", eu perguntei, me segurando á palha. "Não era parte do acordo que você não poderiam contar ás pessoas sobre os vampiros? E você me contou. Então o acordo não pode ser debatido, de alguma forma?"
Jake não gostou do lembrete; a dor dos olhos dele endureceu até se transformar em animosidade. "É, eu quebrei o acordo - antes, quando eu não acreditava em nada disso. E eu tenho certeza de que eles estão informados disso", ele olhou amargamente para a minha testa, sem encontrar o meu olhar envergonhado. "Mas não é como se isso os desse uma colher de chá. Não há um castigo para uma falta. Eles só têm uma opção de se opor ao que eu fiz. A mesma opção que nós teremos se eles quebrarem o acordo: atacar. Começar a guerra."
Ele fez com que isso soasse inevitável. Eu tremí.
"Jake, as coisas não têm que ser assim".
Os dentes dele se apertaram. "É assimque é"
O silêncio depois da declaração dele pareceu muito alto.
"Você nunca vai me perdoar, Jacob?", eu sussurrei. Assim que eu disse as palavras, eu desejei não ter dito. Eu não queria ouvir a resposta dele.
"Você não será mais Bella", ele me disse. "A minha amiga não vai existir. Não haverá ninguém pra perdoar".
"Isso soa como um não". Eu sussurrei.
Nós encaramos um ao outro por um momento sem fim.
"Isso é adeus, então, Jake?"
Ele piscou rapidamente, a expressão penetrante dele derretendo com a surpresa. "Porque? Nós ainda temos alguns anos. Nós não podemos ser amigos até que não haja mais tempo?"
"Anos? Não, Jake, não anos". Eu balancei a minha cabeça e rí uma vez sem humor. "Semanas é mais preciso".
Eu não estava esperando a reação dele.
De repente ele estava de pé, e houve um alto pop quando a lata de refrigerante estorou na mão dele. Voou refrigerante pra todo lado, me molhando, como se ele estivesse saindo de uma magueira.
"Jake!" eu comecei a reclamar, mas eu fiquei em silêncio quando eu percebi que o corpo inteiro dele estava tremendo de raiva. Ele me encarou selvagemente, um rosnado nascendo no peito dele.
Eu congelei no lugar, chocada demais pra lembrar de como me mexer.
A tremedeira passava por ele, ficando mais rápida, até que pareceu que ele estava vibrando. O corpo dele parecia um vulto...
E aí Jacob apertou os dentes, e os rosnados pararam. Ele apertou a mão com força de concentrando; a tremedeira parou até que apenas as mãos dele estavam tremendo.
"Semanas", Jacob disse num tom vazio.
Eu não conseguí responder; eu ainda estava congelada.
Ele abriu os olhos. Eles estavam além da fúria agora.
"Ele vai te transformar em uma sugadora de sangue suja em apenas algumas semanas!" Jacob assobiou por entre os dentes.
Pasma demais pra me importar com o insulto nas palavras dele, eu só balancei a cabeça, muda.
O rosto dele ficou verde por baixo da pele ruiva.
"É claro, Jake" eu sussurrei, depois de um longo minuto de silêncio. "Ele tem dezessete, Jacob. E eu estou mais próxima dos dezenove a cada dia. Além do mais, qual é a necessidade de esperar? Ele é tudo o que eu quero. O que mais eu posso fazer?"
Essa pergunta era pra ser retórica.
As palavras dele saíram como se fossem um chicote. "Qualquer coisa. Qualquer outra coisa. Era melhor que você estivesse morta. Eu preferiria se você estivesse".
Eu dei um passo pra trás como se ele tivesse me batido. A dor foi pior do que se ele tivesse batido.
E aí, enquanto a dor passou por mim, a minha própria raiva se fez em chamas.
"Talvez você tenha sorte", eu disse, vazia, ficando de pé. "Talvez eu bata em um caminhão no meu caminho de volta".
Eu peguei a minha moto e a arrastei para a chuva. Ele não se moveu quando eu passei por ele. Assim que eu cheguei no pequeno caminho lamacento, e me inclinei e dei partida na moto. O pneu traseiro espirrou uma fonte de lama em direção à garagem, e eu esperei que sujasse ele.
Eu fiquei absolutamente encharcada enquanto corria pela estrada na direção à casa do Cullen. O vento parecia estar congelando a chuva no meu corpo, e os meus dentes estavam batendo antes que eu estivesse a meio caminho de lá.
Motos eram impráticas demais para Washington. Eu ia vender a coisa estúpida quando tivesse a primeira oportunidade. Eu levei a moto até a garagem cavernosa dos Cullen e não me surpreendí ao encontrar Alice esperando por mim, encostada levemente no capô do seu Porsche. Alice alisou a pintura amarela brilhante.
"Eu nem tive a chance de dirigí-lo". Ela suspirou.
"Desculpa", eu cuspi por entre os dentes.
"Você parece estar precisando de um banho quente", ela disse, improvisando, enquanto se colocava levemente de pé.
"É".
Ela torceu os lábios, olhando cuidadosamente para a minha expressão. "Você quer falar sobre isso?"
"Não".
Ela assentiu com a cabeça, mas os olhos dela ainda estavam inquietos de curiosidade.
"Você quer ir à Olympia essa noite?"
"Na verdade não. Eu não posso ir pra casa?"
Ela fez uma careta.
"Deixa pra lá, Alice", eu disse. "Eu fico, se isso facilita as coisas pra você".
"Obrigada", ela suspirou aliviada.
Eu fui dormir cedo naquela noite, me dobrando no sofá de novo.
Ainda estava escuro quando eu acordei. Eu estava grogue, mas eu sabia que ainda não estava perto de ser manhã. Os meus olhos se fecharam e eu me estiquei, rolando. Eu levei um segundo pra perceber que o movimento devia ter me derrubado no chão. E eu estava muito mais confortável.
Eu rolei de volta, tentando enxergar.
Estava mais escuro que na noite passada - as nuvens estavam grossas demais para a lua brilhar através delas.
"Desculpe" ele murmurou tão suavemente que as palavras dele pareciam parte da escuridão. "Eu não queria te acordar".
Eu fiquei tensa, esperando pela fúria - tanto a dele quanto a minha - mas só estava calmo e quieto na escuridão do quarto dele. Eu quase podia sentir a doçura da reunião no ar, uma fragrância separada do perfume da respiração dele; o vazio de quando estávamos separados deixou um gosto amargo. uma coisa que eu não percebia conscientemente até que ele era removido.
Não havia fricção no espaço entre nós. A imobilidade era apaziguadora - não como a calma depois da tempestade, mas como uma noite clara que não foi nem tocada com o sonho de uma tempestade.
E eu não me importei se eu devia estar com raiva dele. Eu não me importava se eu devia estar com raiva de todo mundo. Eu me inclinei pra ele, encontrei a sua mão na escuridão, e me puxei pra mais perto dele. Os braços dele me circundaram, me segurando contra o peito dele. Os meus lábios procuraram, caçando na garganta dele, no seu queixo, até que eu finalmente encontrei os lábios dele.
Edward me beijou suavemente por um momento, e então ele gargalhou.
"Eu estava todo preocupado por causa da briga que ia envergonhar os ursos pardos, e é isso que eu ganho? Eu devia te deixar furiosa mais vezes".
"Me dê um minuto pra ajeitar isso", eu caçoei, beijando ele de novo.
"Eu espero o quanto você quiser", ele sussurrou nos meus lábios. Os dedos dele se entrelaçaram nos meus cabelos.
A minha respiração estava ficando desigual. "Talvez de manhã".
"O que você preferir".
"Bem vindo ao lar" eu disse enquanto os lábios frios dele se pressionaram na minha mandíbula. "Eu estou feliz por você ter voltado".
"Isso é uma coisa muito boa".
"Mmm", eu concordei, apertando mais os meus dedos no pescoço dele.
A mão dele se curvou no meu cotovelo, descendo lentamente pelo meu braço, através das minhas costelas e pela minha cintura, traçando o meu quadril e descendo pela minha perna, ao redor do meu joelho. Ele parou aí, a mão dele circulando o meu tornozelo. Ele puxou a minha perna pra cima de repente, passando ela pelo quadril dele.
Eu parei de respirar. Esse não era o tipo de coisa que ele permitia. Apesar das mãos frias dele, eu me sentí quente de repente. Os lábios dele se moveram na base da minha garganta.
"Não é pra trazer a ira prematuramente", ele sussurrou. "Mas será que você pode me dizer o que há nessa cama a que você se opõe?"
Antes que eu pudesse responder, antes que eu sequer pudesse me concentrar o suficiente pra entender o significado das palavras dele, ele rolou para o lado, me colocando em cima dele. Ele segurou o meu rosto com as mãos, angulando ele para que a sua boca pudesse alcansar a minha garganta. A minha respiração estava muito alta - era quase embaraçoso, mas eu não conseguia me importar o suficiente pra ficar envergonhada.
"A cama?" ele perguntou de novo. "Eu acho ela legal".
"É desnecessária", eu consegui botar pra fora.
Ele puxou o meu rosto de volta pra o dele, e os meus lábios se encaixaram nos dele. Lentamente dessa vez, ele rolou até estar em cima de mim. Ele se segurou cuidadosamente pra que eu não sentisse nada do peso dele, mas eu podia sentir a frieza de mármore do seu corpo pressionado no meu. O meu coração estava batendo tão alto que foi difícil ouvir o riso baixo dele.
"Isso é debatível", ele discordou. "Isso ia ser difícil no sofá".
Fria como gelo, a língua dele traçou os cortornos dos meus lábios.
A minha cabeça estava girando - o ar estava vindo rápido demais e muito superficialmente.
"Você mudou de idéia?" eu perguntei sem fôlego. Talvez ele tivesse repensado as suas regras cuidadosas. Talvez houvesse mais significância nessa cama do que eu havia pensado originalmente. O meu coração bateu quase dolorosamente enquanto eu esperava pela resposta dele.
Edward suspirou, rolando de novo até que estávamos de novo dos nossos lados.
"Não seja ridícula, Bella", ele disse, a desaprovação estava forte na voz dele - claramente ele entendeu do que eu estava falando. "Eu só estava tentando ilustrar os benefícios de uma cama da qual você não parece gostar. Não se deixe levar".
"Tarde demais", eu murmurei. "E eu gosto da cama", eu acrescentei.
"Bom", eu podia ouvir o sorriso na voz dele enquanto ele beijava a minha testa. "Eu também gosto".
"Mas eu ainda acho que é desnecessário", eu continuei. "Se nós não vamos nos deixar levar, qual é o ponto?"
Ele suspirou de novo. "Pela centésima vez, Bella - é perigoso demais".
"Eu gosto de perigo", eu insistí.
"Eu sei", havia um tom amargo na voz dele, e eu me dei conta de que ele devia ter visto a moto na garagem.
"Eu vou te dizer o que é perigoso", eu disse rapidamente, antes que ele pudesse passar para um novo tópico da discussão. "Eu vou entrar em combustão espontânea um dia desses - e você não vai poder culpar ninguém além de sí mesmo".
Ele começou a me afastar.
"O que você está fazendo?", eu reclamei, me apertando a ele.
"Te protegendo da combustão. Se isso for demais pra você..."
"Eu posso aguentar", eu insistí.
Ele deixou que eu me recolocasse no círculo dos braços dele.
"Eu lamento por ter te dado a impressão errada", ele disse. "Eu não queria te deixar infeliz. Aquilo não foi legal".
"Na verdade, foi muito, muito legal".
Ele respirou fundo. "Você não está cansada? Eu devia te deixar dormir".
"Não, eu não estou. Eu não me importo se você me ser a impressão errada de novo".
"Essa provavelmente é uma má idéia. Você não á a única que se deixa levar".
"Sou sim", eu murmurei.
Ele gargalhou. "Você não tem idéia, Bella. E também não ajuda muito que você esteja tão determinada a quebrar o meu auto-controle".
"Eu não vou me desculpar por isso".
"Posso eupedir desculpa?"
"Pelo quê?"
"Você estava com raiva de mim, lembra?"
"Oh, isso".
"Eu lamento. Eu estava errado. É muito mais fácil pensar nas perspectivas com clareza quando você está segura aqui" Os braços dele se apertaram ao meu redor. "Eu fico um pouco frenético quando eu tento te deixar. Eu não acho que vou tão longe de novo. Não vale a pena".
Eu sorrí. "Você não achou nenhum leão da montanha?"
"Sim, na verdade eu achei. Mas ainda não vale a ansiedade. Eu sinto muito por ter feito Alice te fazer de refém. Isso foi uma má idéia".
"Sim", eu concordei.
"Eu não vou fazer de novo".
"Tá certo", eu disse facilmente. Ele já estava perdoado. "Mas festas do pijama têm suas vantagens..." Eu cheguei mais perto, pressionando os meus lábios na clavícula dele. "Você pode me fazer de refém sempre que quiser".
"Mmm", ele suspirou. "Eu posso me aproveitar disso".
"Então é minha vez agora?"
"Sua vez?" a voz dele estava confusa.
"De pedir desculpas".
"Pelo que você vai pedir desculpas?"
"Você não está com raiva de mim?" eu perguntei sem entender.
"Não".
Ele soou como se estivesse falando sério.
Eu sentí as minhas sobrancelhas se juntando. "Você não viu Alice quando chegou em casa?"
"Sim - Porque?"
"Você vai pegar o Porsche dela de volta?"
"É claro que não. Foi um presente".
Eu desejei poder ver a expressão dele.
"Você não quer saber o que eu fiz?" eu perguntei, começando a ficar confusa com a aparente falta de preocupação dele.
Eu sentí ele erguer os ombros. "Eu sempre estou interessado no que você faz - mas você não tem que me contar a menos que você queira".
"Mas eu estive em La Push".
"Eu sei".
"E eu faltei à escola"
"Eu também".
Eu encarei na direção da voz dele, traçando o rosto dele com os meus dedos, tentando entender o humor dele. "De onde foi que veio toda essa tolerância?", eu quis saber.
Ele suspirou.
"Eu decidí que você estava certa. O meu problema antes era mais com... o meu preconceito com os lobisomens do que por outra coisa. Eu vou tentar ser mais razoável e confiar no seu julgamento. Se você diz que é seguro, então eu acredito em você".
"Uau".
"E... o mais importante... eu não estou a fim de deixar isso construir uma ponte entre nós".
Eu descansei a minha cabeça no peito dele e fechei os meus olhos, totalmente contente.
"Então" ele murmurei em um tom casual. "Você fez planos pra ir à La Push em breve?"
Eu não respondí. A pergunta dele trouxe as palavras de Jacob de volta à minha mente, e de repente a minha garganta estava apertada.
Ele entendeu mal a minha falta de palavras e a rigidez no meu corpo.
"Só pra que eu possa fazer os meus próprio planos", ele explicou rápido. "Eu não quero que você sinta que precisa se apressar só porque eu estou sentado por aqui te esperando".
"Não" eu disse numa voz que pareceu estranha pra mim. "Eu não tenho planos pra voltar".
"Oh. Você não tem que fazer isso por mim".
"Eu não acho que sou mais bem vinda", eu sussurrei.
"Você atropelou o gato de alguém?" ele perguntou levemente. Eu sabia que ele não queria me forçar a contar a história, mas eu podia ouvir a curiosidade queimando por baixo das palavras dele.
"Não", eu respirei fundo, e depois murmurei rapidamente a minha explicação. "Eu pensei que Jacob tivesse se dado conta... Eu não pensei que isso fosse surpreendê-lo".
Edward esperou enquanto eu hesitei.
"Ele não estava esperando... que fosse ser tão cedo".
"Ah", Edward disse baixinho.
"Ele disse que preferiria me ver morta" A minha voz quebrou na última palavra.
Edward ficou parado demais por um momento, controlando qualquer que fosse a reação que ele não queria me deixar ver.
Então ele me apertou gentilmente no peito dele. "Eu lamento muito".
"Eu pensei que você ficaria feliz", eu murmurei.
"Feliz por uma coisa que machucou você?" ele murmurou no meu cabelo. "Eu acho que não, Bella".
Eu suspirei e relaxei, me encaixando no formato de pedra dele. Mas ele estava imóvel de novo, tenso.
"Qual é o problema?" eu perguntei.
"Não é nada".
"Você pode me dizer".
Ele pausou por um momento. "Isso pode te deixar com raiva".
"Eu ainda quero saber".
Ele suspirou. "Eu literalmente bem que podia matar ele por dizer isso pra você. Eu quero matar ele".
Eu rí sem muita vontade. "Eu acho que é uma coisa boa que você tenha tanto auto-controle"
"Eu podia escorregar" O tom dele estava pensativo.
"Se você vai ter um lapso de controle, eu posso pensar em um lugar melhor pra isso". Eu alcancei o rosto dele, tentando me levar pra cima pra dar um beijo nele. Os braços dele me seguraram com mais força, me restringindo.
Ele suspirou. "Será que eu preciso ser sempre o responsável?"
Eu sorri para a escuridão. "Não. Me deixa ficar no controle da responsabilidade por alguns minutos... ou horas"
"Boa noite, Bella."
"Espere - Havia algo mais sobre o que eu queria te perguntar".
"O que é?"
"Eu estava falando com Rosalie na noite passada..."
O corpo dele ficou tenso de novo. "Sim. Ela estava pensando nisso quando eu entrei. Ela te deu muitas coisas pra levar em consideração, não foi?"
A voz dele estava ansiosa, e eu me dei conta de que ele pensou que eu queria falar nas razões que Rosalie havia me dado pra continuar humana. Mas eu estava interessada em outra coisa muito mais grave.
"Ela me contou um pouco... sobre a época que a sua família viveu em Denali".
Houve uma curta pausa; esse começo havia pego ele de surpresa. "Sim?"
"Ela mencionou algumas coisas sobre um monte de fêmeas vampiras... e você".
Ele não respondeu, apesar de eu ter esperado por um longo tempo.
"Não se preocupe" eu disse, depois que o silêncio ficou desconfortável. "Ela me disse que você não... demonstrou nenhum preferência. Mas eu só estava me perguntando, sabe, se alguma delas demonstrou. Demonstrou preferência por você, eu quero dizer".
De novo ele não disse nada.
"Qual delas?" eu perguntei, tentando manter a minha voz casual, e sem conseguir. "Ou havia mais de uma?"
Nenhuma resposta. Eu desejei poder ver o rosto dele, pra que assim eu pudesse tentar adivinhar o que o silêncio significava.
"Alice vai me dizer", eu disse. "Eu vou perguntar a ela agora".
Os braços dele se apertaram; eu fui incapaz de me mover um centímetro.
"Está tarde", ele disse. A voz dele estava com um tom que era algo novo. Meio nervosa, talvez um pouco envergonhada. "Além do mais, eu acho que Alice saiu..."
"É ruim" eu adivinhei. "É realmente ruim, não é?" eu comecei a entrar em pânico, o meu coração acelerando enquanto eu imaginava a linda rival imortal que eu nunca imaginei que tivesse.
"Se acalme, Bella", ele disse, beijando a ponta do meu nariz. "Você está sendo absurda".
"Estou? Então porque você não me diz?"
"Porque não ha nada pra dizer. Você está colocando isso fora de proporção".
"Qual delas"? eu insisti.
Ele suspirou. "Tânia expressou um pouco de interesse. Eu deixei ela saber, de uma maneira muito cortês, cavalheiresca, que eu não retornava o interesse. Fim da história".
Eu mantive a minha voz o mais uniforme possível. "Me diga uma coisa - como Tânia se parece?"
"Exatamente como o resto de nós - pele branca, olhos dourados", ele respondeu rapidamente demais.
"E, é claro, extraordinariamente linda".
Eu sentí ele erguer os ombros.
"Eu acho, para os olhos humanos", ele disse, indiferente. "No entanto, quer saber?"
"O que?" a minha voz estava petulante.
Ele colocou os lábios no meu ouvido direito; a respiração gelada dele fez cócegas. "Eu prefiro as morenas".
"Ela é loira. Não é de estranhar".
"Loira morango - absolutamente não faz o meu tipo".
Eu pensei nisso por um momento, tentando me concentrar enquanto os lábios dele se moviam lentamente pela minha bochecha. Ele fez o circuito três vezes antes que eu falasse.
"Eu acho que está tudo bem, então", eu decidí.
"Hmm", ele sussurrou na minha pele. "Você é adorável quando está com ciúmes. É surpreendentemente agradável".
Eu fiz uma careta no escuro.
"Está tarde", ele disse de novo, murmurando, quase sofejando agora, a voz dele era mais macia que seda. "Durma, minha Bella. Tenha sonhos felizes. Você é a única que já tocou meu coração. Ele será sempre seu. Durma, meu único amor".
Ele começou a cantar a minha canção de ninar, e eu sabia que seria apenas uma questão de tempo até que eu sucumbisse, então eu fechei os meus olhos e me aconcheguei mais no peito dele.

9. Alvo

Alice me deixou em casa de manhã, pra manter a charada da festa do pijama. Não demoraria muito até que Edward aparecesse, oficialmente retornando da sua viagem de “caminhada”. Todas as farsas estavam começando a me cansar. Eu não ia sentir falta dessa parte de ser humana.
Charlie espiou pela janela da frente quando ele me viu bater a porta do carro. Ele acenou pra Alice, e depois foi abrir a porta pra mim.
“Você se divertiu?” Charlie perguntou.
“Claro, foi ótimo. Muito... garotas”.
Eu carreguei as minhas coisas pra dentro, amontoei todas elas no pé da escada, e fui para a cozinha pra procurar um lanche.
“Você tem uma mensagem”, Charlie falou atrás de mim.
No balcão da cozinha, o bloco de mensagens telefônicas estava aberto conspicuosamente contra uma panela de molho.
Jacob ligou, Charlie havia escrito.

Ele disse que não teve a intenção, e que ele sente muito. Ele quer que você ligue pra ele. Seja boazinha e dê uma chance a ele. Ele parecia chateado.

Eu fiz uma careta. Geralmente Charlie não editava as minhas mensagens.
Jacob podia ir em frente e ficar chateado. Eu não queria falar com ele. Da última vez que eu tive notícias, eles não eram bons em aceitar ligações do outro lado. Se Jacob me preferia morta, então talvez ele devesse começar a se acostumar com o silêncio.
O meu apetite evaporou. Eu quase fiz uma careta e fui guardar as minhas coisas.
“Você não vai ligar pra Jacob?” Charlie perguntou. Ele estava se inclinando ao redor da parede da sala de estar, me observando recolher as coisas.
“Não”
Eu comecei a subir as escadas.
“Esse não é um comportamento muito atraente, Bella”, ele disse. “Perdoar é divino”.
“Cuide dos seus assuntos”, eu murmurei por baixo do fôlego, baixo demais pra ele ouvir.
Eu sabia que as roupas sujas estavam se acumulando, então, depois que eu guardei a minha pasta de dentes e joguei as minhas roupas sujas no cesto, eu fui desforrar a cama de Charlie. Eu deixei os lençóis dele em uma pilha no topo das escadas e fui buscar os meus.
Eu parei ao lado da cama, pendendo a minha cabeça de lado.
Onde estava o meu travesseiro? Eu fiz um círculo, vasculhando o quarto. Nada de travesseiro. Eu reparei que o meu quarto estava estranhamente arrumado. A camisa do meu moletom não tinha sido jogada no poste baixo da cama no encosto de pés? E eu podia jurar que havia um par de meias sujas atrás da cadeira de balanço, junto com uma blusa vermelha que eu tinha experimentado a duas manhãs atrás, mas eu decidi que era arrumada demais para a escola, e pendurei ela no braço... eu me virei de novo. O meu cesto não estava vazio, mas não estava transbordando, do jeito que eu pensava que estava.
Charlie estava lavando a roupa? Isso era fora do comum.
“Pai, você começou a lavar as roupas?”, eu gritei pela minha porta.
“Um, não”, ele gritou de volta, soando culpado. “Você queria que eu começasse?”
“Não, eu faço isso. Você estava procurando alguma coisa no meu quarto?”
“Não. Porque?”
“Eu não consigo encontrar... uma camisa...”
“Eu não estive aí”
E aí eu me lembrei que Alice havia estado aqui pra pegar os meus pijamas. Eu não percebi que ela havia levado o meu travesseiro também – provavelmente porque eu tinha evitado a cama. Parecia que ela tinha feito uma limpeza quando passou. Eu corei por causa da minha desorganização.
Mas a blusa vermelha não estava realmente suja, então eu fui salva-la do cesto.
Eu esperava encontra-la perto do topo, mas ela não estava lá. Eu escavei a pilha inteira e mesmo assim não consegui encontra-la. Eu sabia que provavelmente eu estava ficando paranóica, mas parecia que mais alguma coisa estava faltando, ou talvez mais de uma coisa. Ele não estava cheio nem pela metade.
Eu tirei os meus lençóis e fui para o armário da lavanderia, pegando os de Charlie no caminho. A máquina de lavar estava vazia. Eu chequei a secadora também, meio que esperando encontrar roupas lavadas esperando por mim, cortesia de Alice. Nada. Eu fiz uma careta, confusa.
“Você encontrou o que estava procurando?” Charlie gritou.
“Ainda não”.
Eu voltei lá pra cima pra procurar em baixo da minha cama. Nada além de coelhinhos de poeira. Eu comecei a procurar na minha cômoda. Talvez eu tivesse guardado a camisa vermelha e tivesse esquecido.
Eu desisti quando a campainha tocou. Devia ser Edward.
“A porta” Charlie me informou do sofá enquanto eu passei correndo por ele.
“Não fique tenso, pai”.
Eu abri a porta com um grande sorriso no rosto.
Os olhos dourados de Edward estavam arregalados, as narinas estavam infladas, seus lábios estavam puxados pra cima dos dentes.
“Edward?” a minha voz estava afiada com o choque enquanto eu li a expressão dele. “O que -?”
Ele colocou seus dedos nos meus lábios. “Me dê dois segundos”, ele sussurrou. “Não se mova”.
Eu fiquei congelada na porta e ele... desapareceu. Ele se moveu tão rapidamente que Charlie nem viu ele passar.
Antes que eu pudesse me recompor o suficiente pra contar até dois, ele estava de volta.
Ele colocou o braço ao redor da minha cintura e me puxou rapidamente em direção à cozinha. Os olhos dele vasculharam o espaço, e ele me segurou contra o seu corpo como se estivesse me protegendo de alguma coisa.
Eu joguei um olhar na direção de Charlie no sofá, mas ele estava estudiosamente nos ignorando.
“Alguém esteve aqui”, ele murmurou no meu ouvido depois de me puxar para o fundo da cozinha. A voz dele estava tensa; era difícil ouvi-lo com o barulho da máquina de lavar pratos.
“Eu juro que nenhum lobisomem –“ eu comecei a dizer.
“Não um deles” ele me interrompeu rapidamente, balançando a cabeça. “Um de nós”.
O tom na voz dele deixou claro que não estava falando de um membro da família dele.
Eu senti o sangue escapando do meu rosto.
“Victoria?” eu botei pra fora.
“Não é um cheiro que eu reconheço.”
“Um dos Volturi”, eu adivinhei.
“Provavelmente”
“Quando?”
“É por isso que eu acho que foi um deles – não foi a muito tempo, cedo hoje de manhã enquanto Charlie estava dormindo. E quem quer que tenha sido não tocou nele, então deve ter sido por outro propósito”.
“Procurando por mim”.
Ele não respondeu. O corpo dele estava congelado, uma estátua.
“Sobre o que vocês dois estão cochichando?” Charlie perguntou suspeitosamente, virando na esquina com uma tigela de pipoca vazia nas mãos.
Eu fiquei verde. Um vampiro havia estado dentro de casa procurando por mim enquanto Charlie estava dormindo. O pânico me dominou, fechou minha garganta. Eu não consegui responder, eu só encarei ele horrorizada.
A expressão de Charlie mudou. Abruptamente, ele estava sorrindo. “Vocês dois estão brigando... bem, não me deixem interromper.”
Ainda sorrindo, ele colocou a sua tigela na pia e saiu da cozinha.
“Vamos”, Edward disse num voz dura e baixa.
“Mas Charlie!” O medo estava apertando o meu peito, tornando difícil respirar.
Ele pensou por um breve segundo, e então o telefone dele estava em sua mão.
“Emmett”, ele murmurou no receptor. Ele começou a falar tão rápido que eu não conseguia entender as palavras. Ele começou a me puxar em direção à porta.
“Emmett e Jasper estão a caminho”, ele sussurrou quando sentiu a minha resistência. “Eles vão vasculhar a floresta. Charlie está bem”.
Aí eu deixei ele me arrastar junto, em pânico demais pra pensar com clareza. Charlie encontrou os meus olhos amedrontados com um sorriso presumido, que de repente se transformou em confusão. Edward já tinha me levado porta afora antes que Charlie pudesse dizer qualquer coisa.
“O que nós vamos fazer?” eu não pude deixar de sussurrar, mesmo depois que já estávamos dentro do carro.
“Nós vamos falar com Alice” ele me disse, o volume de sua voz estava normal mas ela estava vazia.
“Você acha que talvez ela tenha visto alguma coisa?”
Ele olhou para a pista com os olhos apertados. “Talvez”.
Eles já estavam esperando por nós, alertados pela ligação de Edward. Era como entrar num museu, todos estavam imóveis como estátuas em várias poses de estresse.
“O que aconteceu”, Edward quis saber assim que passamos pela porta. Eu fiquei chocada ao ver que ele estava encarando Alice, as mãos dele nos pulsos com raiva.
Alice continuou com os braços cruzados no peito com força. Só os lábios dela se moveram. “Eu não falo idéia. Eu não vi nada”.
“Como isso é possível?”, ele assobiou.
“Edward” eu disse, uma baixa reprimenda. Eu não gostava dele falando com Alice desse jeito.
Carlisle interrompeu com um voz calmante. “Não é uma ciência exata, Edward”.
“Ele estava no quarto dela, Alice. Ele podia ainda estar lá – esperando por ela”.
“Eu teria visto isso”.
Edward jogou as mãos pra cima em exasperação. “Mesmo? Você tem certeza?”
A voz de Alice estava fria quando ela respondeu. “Você já me tem observando as decisões dos Volturi, observando a volta de Victoria, observando cada passo de Bella. Você quer acrescentar mais alguma coisa? Eu tenho que observar Charlie, ou o quarto de Bella, ou a casa, ou a rua inteira também? Edward, se eu fizer muita coisa, as coisas vão começar a sair do meu controle”.
“Parece que elas já estão”, Edward disparou.
“Ela nunca esteve em perigo. Não havia nada pra ver”.
“Se você estava vigiando a Itália, porque você não os viu mandar –“
“Eu não acho que sejam eles”, Alice insistiu. “Eu teria visto isso”.
“Quem mais teria deixado Charlie vivo?”
Eu estremeci.
“Eu não sei”, Alice disse.
“Ajudou”.
“Pare com isso, Edward”, eu sussurrei.
Ele virou pra mim, seu rosto ainda estava lívido, seus dentes estavam trincados. Ele me encarou por meio segundo, e depois, de repente, ele exalou. Os olhos dele arregalarem e a mandíbula dele relaxou.
“Você está certa, Bella. Me desculpe”, Ele olhou pra Alice. “Me perdoe, Alice. Eu não devia estar descontando em você. Isso foi indesculpável”.
“Eu entendo”, Alice o assegurou. “Eu também não estou feliz com isso”.
Edward respirou fundo. “Tudo bem, vamos ver isso logicamente. Quais são as possibilidades?”
Todo mundo pareceu descongelar ao mesmo tempo. Alice relaxou e se encostou nas costas do sofá. Carlisle caminhou lentamente em direção a ela, com os olhos distantes. Esme estava sentada no sofá em frente a Alice, cruzando as pernas no acento. Apenas Rosalie continuou sem se mover, de costas pra nós, olhando pela parede de vidro.
Edward me puxou para o sofá e eu me sentei perto de Esme, que mudou de posição pra passar o braço por mim. Ele segurou uma das minhas mãos apertada entre as duas dele.
“Victoria?” Carlisle perguntou.
Edward balançou a cabeça. “Não. Eu não conhecia o cheiro. Ele devia ser dos Volturi, alguém que eu nunca conheci..”
Alice balançou a cabeça. “Aro ainda não pediu a ninguém pra procurar por ela. Eu vou ver isso. Eu estou esperando por isso”.
Edward levantou a cabeça. “Você está esperando por uma ordem oficial”.
“Você acha que alguém está agindo por conta própria? Porque?”
“Idéia de Caius.” Edward sugeriu, o rosto dele endurecendo.
“Ou de Jane...”, Alice disse. “Os dois têm recursos para mandar um rosto desconhecido...”
Edward fez uma carranca. “E a motivação”.
“No entanto, isso não faz sentido”, Esme murmurou, alisando meu cabelo.
“Mas então qual é a intenção?” Carlisle meditou.
“Checar pra ver se eu ainda sou humana?”, eu adivinhei.
“Possível”, Carlisle disse.
Rosalie deu um suspiro, alto suficiente pra que eu ouvisse. Ela tinha descongelado, e o rosto dela estava virado expectantemente na direção da cozinha. Edward, por outro lado, parecia desencorajado.
Emmett entrou pela porta da cozinha, Jasper bem atrás dele.
“Foi embora há tempo, horas atrás”, Emmett anunciou, desapontado. “A trilha ia para o Leste, e depois para o Sul, e desaparecia ao lado da estrada. Um carro estava esperando”.
“Que falta de sorte”, Edward murmurou. “Se ele tivesse ido para o oeste... bem, seria bom para aqueles cachorros se fazerem úteis”.
Eu estremeci, e Esme esfregou o meu ombro.
Jasper olhou pra Carlisle. “Nenhum de nós reconheceu ele. Mas aqui”. Ele segurou uma coisa verde e amassada. Carlisle pegou dele e levou até o seu rosto. Eu vi, enquanto ele trocava de mãos, que era uma folha de samambaia partida. “Talvez você conheça o cheiro”.
“Não”. Carlisle disse. “Não é familiar. Não é alguém que eu já tenha conhecido”.
“Talvez nós estejamos olhando para isso da forma errada. Talvez seja uma coincidência...” Esme começou, mas parou quando viu as expressões incrédulas nos rostos dos outros.
“Eu não estou dizendo que é uma coincidência que um estranho tenha escolhida a casa de Bella pra fazer uma visita ao acaso. Eu quis dizer que talvez alguém esteja só curioso. O nosso cheiro está nela inteira. Será que ele estava se perguntando o que havia nos levado lá?”
“Porque ele não viria aqui, então? De ele estava curioso?” Emmett quis saber.
“Você viria”, Esme disse com repentino sorriso de afeição. “O resto de nós não é tão direto. A nossa família é muito grande – ele ou ela pode ter estado assustado. Mas Charlie não foi ferido. Esse não precisa ser um inimigo”.
Só curioso. Como James e Victoria haviam estado curiosos, no começo? O pensamento de Victoria me fez estremecer, apesar de que a única coisa da qual eles tinham certeza era de que não era ela. Não dessa vez. Ela manteria o padrão obsessivo dela. Esse era outra pessoa, um estranho.
Eu estava lentamente me dando conta de que ao vampiros eram muito mais participantes desse mundo do que eu havia pensado. Quantas vezes os humanos normais passavam por eles, completamente inconscientes? Quantas mortes, obviamente reportadas como crimes e acidentes, eram realmente devido à sede deles? Quão lotado seria esse novo mundo quando eu me juntasse a ele?
O futuro sombrio mandou um frio pela minha espinha.
Os Cullen ponderaram as palavras de Esme com várias expressões. Eu podia ver que Edward não havia aceitado a teoria, e que Carlisle queria muito aceitar.
Alice torceu os lábios. “Eu não acho. O senso de horário foi perfeito demais... O visitante foi cuidadoso demais pra não estabelecer contato. Quase como se ele ou ela soubesse que eu podia ver...”
“Ele podia ter outras razões pra não fazer contato”, Esme lembrou ela.
“É realmente importante quem ele é?” eu perguntei. “Só a chance de que alguém estavaprocurando por mim... isso já não é razão suficiente? Nós não devíamos esperar até a formatura.”
“Não, Bella”, Edward disse rapidamente. “Isso não é tão ruim. Se você realmente estiver em perigo, nós vamos saber”.
“Pense em Charlie”, Carlisle me lembrou. “Pense em como iria machuca-lo se você desaparecesse”.
“Eu estou pensando em Charlie! É com ele que eu estou preocupada! E se o meu convidado estivesse com sede ontem? Enquanto eu estiver ao lado de Charlie, ele é um alvo também. Se alguma coisa acontecesse com ele, isso seria minha culpa!”
“Dificilmente, Bella”, Esme disse, alisando o meu cabelo de novo. “E nada vai acontecer com Charlie. Nós só teremos que ser mais cuidadosos”.
Mais cuidadosos?”, eu repeti sem acreditar.
“Tudo vai ficar bem, Bella”, Alice prometeu; Edward apertou minha mão.
Eu podia ver, olhando pra todos os seus lindos rostos um a um, que nada que eu pudesse dizer ia fazê-los mudar de idéia.
A viagem pra casa foi silenciosa. Eu estava frustrada. Contra o meu melhor julgamento, eu ainda era humana.
“Você não estará sozinha por um segundo”, Edward prometeu enquanto me levava pra casa de Charlie. “Sempre haverá alguém lá. Emmett, Alice, Jasper...”
Eu suspirei. “Isso é ridículo. Eles vão ficar tão chateados, que eles mesmos terão que me matar, só pra ter algo pra fazer”.
Edward me deu um olhar amargo. “Hilário, Bella”.
Charlie estava de bom humor quando nós voltamos. Ele podia ver a tensão entre eu e Edward, e ele estava distorcendo as coisas. Ele me observou preparar o jantar dele com um sorriso presumido no rosto. Edward se desculpou por um momento, pra fazer um pouco de vigilância, eu presumi, mas Charlie esperou até que ele estivesse de volta pra me passar as minhas mensagens.
“Jacob ligou de novo”, Charlie disse assim que Edward estava na sala. Eu mantive o meu rosto tão vazio quanto o prato na frente dele.
“Isso é um fato?”
Charlie fez uma careta. “Não seja petulante, Bella. Ele parecia bem pra baixo”.
“Jacob está te pagando pra ser R.P, ou você é voluntário?”
Charlie murmurou incoerentemente pra mim até que a comida cortou o sua reclamação ranzinza.
Apesar dele não ter se dado conta, ele encontrou sua marca.
Minha vida estava parecendo muito com um jogo de dados agora – será que a próxima rodada traria olhos de cobra? E se alguma coisa acontecesse comigo? Parecia pior do que ser petulante, deixar Jacob se sentir culpado pelo que ele disse.
Mas eu não queria falar com ele com Charlie por perto, pra ter que observar cada uma das minhas palavras pra que nada escorregasse. Pensar nisso me fez ter inveja do relacionamento entre Jacob e Billy. Como devia ser fácil quando você não tinha segredos com a pessoa com a qual você vive.
Então eu ia esperar pela manhã. Eu provavelmente não ia dormir essa noite, afinal, e não ia doer deixar que ele se sentisse culpado por mais doze horas. Isso ia ser bom pra ele.
Quando Edward oficialmente foi embora pela noite, eu me perguntei quem estava lá fora de guarda, mantendo um olho em Charlie e eu. Eu me senti horrível por Alice ou quem quer que pudesse ser, mas ainda assim confortada. Eu tinha admitir que era legal, saber que eu não estava sozinha. E Edward voltou em tempo recorde.
Ele cantou pra que eu dormisse de novo e – consciente até mesmo na inconsciência de que ele estava lá – eu dormi livre de pesadelos.
De manhã, Charlie foi pescar com o Deputado Mark antes que eu estivesse acordada. Eu decidi fazer com que essa falta de supervisão fosse divina.
“Eu vou tirar Jacob do gancho”, eu avisei Edward depois que comi o meu café da manhã.
“Eu sabia que você ia perdoa-lo”, ele disse com um sorriso fácil. “Guardar rancores não é um dos seus muitos talentos”.
Eu revirei meus olhos, mas eu estava agradada. Realmente parecia que Edward havia superado aquela coisa de anti-lobisomem.
“Alô?”, uma voz sem graça disse.
“Jacob?”
“Bella!”, ele exclamou. “Oh, Bella, eu sinto muito!”, ele tropeçou nas palavras enquanto se apressava pra faze-las sair. “Eu juro que não quis dizer aquilo. Eu só estava sendo estúpido. Eu estava com raiva – mas isso não é desculpa. Foi a coisa mais estúpida que eu já disse em toda a minha vida e eu sinto muito. Não fique com raiva de mim, por favor? Por favor. Eu ofereço servidão eterna – tudo o que você tem que fazer é me perdoar”.
“Eu não estou com raiva. Você está perdoado”.
“Obrigado”, ele disse ferventemente. “Eu não consigo acreditar que fui tão idiota”.
“Não se preocupe com isso – eu já estou acostumada”.
Ele riu, exuberante de alívio. “Venha aqui me ver”, ele implorou. “Eu quero acertar as coisas com você”.
Eu fiz uma careta. “Como?”
“Qualquer coisa que você quiser. Mergulho do penhasco”, ele sugeriu, rindo de novo.
“Oh, está uma idéia brilhante”.
“Eu te manteria segura”, ele prometeu. “Não importa o que você queira fazer”.
Eu olhei pra Edward. O rosto dele estava calmo, mas eu sabia que essa não era a hora.
“Agora não”.
Ele não está muito feliz comigo, está?”, pelo primeira vez, a voz de Jacob estava mais envergonhada do que amarga.
“Esse não é o problema. Há... bem, há outro problema que é um pouco mais preocupante do que um lobisomem adolescente com mal humor...” eu tentei manter o meu tom de piada, mas isso não o enganou.
“O que há de errado?” ele quis saber.
“Um” eu não estava certa do que eu devia contá-lo.
Edward levantou a mão para o telefone. Eu olhei para o rosto dele cuidadosamente. Ele parecia calmo o suficiente.
“Bella?”, Jacob perguntou.
Edward suspirou, trazendo a mão mais pra perto.
“Você se importa em falar com Edward?” eu perguntei apreensivamente. “Ele quer falar com você”.
Houve uma longa pausa.
“Tudo bem”, Jacob concordou. “Isso vai ser interessante”.
Eu passei o telefone para Edward; eu esperei que ele pudesse ler o aviso nos meus olhos.
“Olá, Jacob”, Edward disse, perfeitamente educado.
Houve um silêncio. Eu mordi o meu lábio, tentando adivinhar o que Jacob iria responder.
“Alguém esteve aqui – não é um cheiro que eu conheço”, Edward explicou. “O seu bando encontrou algo novo?”
Outra pausa enquanto Edward acenava com a cabeça para si mesmo, sem surpresa.
“Aqui está o ponto crucial, Jacob. Eu não vou deixar Bella sair da minha vista até que eu tenha cuidado disso. Não é nada pessoal –“
Jacob interrompeu ele aí, e eu pude ouvir o ruído da voz no receptor. O que quer que fosse que ele estivesse dizendo, ele estava mais interessando do que antes. Eu tentei sem sucesso compreender as palavras.
“Você pode estar certo –“, Edward começou, mas Jacob estava discutindo de novo. Nenhum dos dois parecia estar com raiva, pelo menos.
“Essa é uma sugestão interessante. Nós estamos bastante interessados em renegociar. Se Sam for maleável”.
A voz de Jacob estava mais baixa agora. Eu comecei a morder a unha do meu polegar enquanto eu tentava ler a expressão no rosto de Edward.
“Obrigado”, Edward respondeu.
Aí Jacob disse alguma coisa que fez um expressão de surpresa atravessar o rosto de Edward.
“Eu havia planejado ir sozinho, na verdade”, Edward disse, respondendo a pergunta inesperada. “E deixar ela com os outros”.
A voz de Jacob cresceu como um beliscão, pra mim pareceu que ele estava tentando ser persuasivo.
“Eu vou tentar considerar isso objetivamente”, Edward prometeu. “Tão objetivamente quanto eu for capaz.”
A pausa foi mais curta dessa vez.
“Essa não é uma idéia muito ruim. Quando?... não, isso está bem. Eu gostaria de ter uma chance de seguir a trilha pessoalmente, do mesmo jeito. Dez minutos... Certamente”. Edward disse. Ele segurou o telefone pra mim. “Bella?”
Eu o peguei lentamente, me sentindo confusa.
“O que foi tudo isso?”, eu perguntei a Jacob, minha voz irritada. Eu sabia que era infantil, mas eu me senti excluída.
“Uma trégua, eu acho. Ei, me faça um favor”, Jacob sugeriu. “Tente convencer o seu sugador de sangue que o lugar mais seguro pra você ficar – especialmente quando ele vai embora – é na reserva. Nós seremos capazes de lidar com qualquer coisa”.
“Era isso que você estava tentando dizer pra ele?”
“Sim. Faz sentido. Charlie provavelmente também vai ficar melhor aqui. Tanto quanto for possível”.
“Coloque Billy na história”, eu concordei. Eu odiei estar colocando Charlie ao alcance encruzilhadas que sempre pareciam me ter no centro. “O que mais?”
“Só re-arrumando algumas fronteiras, pra que possamos pegar qualquer um que se aproxime de Forks. Eu não tenho certeza de que Sam vai aceitar isso, mas até que ele apareça, eu vou manter um olho nas coisas”.
“O que você quer dizer com ‘manter um olho nas coisas’?”
“Significa que se você vir um lobo correndo ao redor da sua casa, não atire nele”.
“É claro que não. Você realmente não deva fazer nada... arriscado, porém”.
Ele bufou. “Não seja estúpida. Eu posso tomar conta de mim mesmo”.
Eu suspirei.
“Eu também tentei convencê-lo a te deixar nos visitar. Ele tem preconceitos, então não deixe ele te convencer com aquela bobagem de segurança. Ele sabe tão bem quanto eu que você ficará segura aqui”.
“Eu manterei isso em mente”.
“Te vejo daqui a pouco”, Jacob disse.
“Você vai vir aqui?”
“É. Eu vou sentir o cheiro do seu visitante pra que nós possamos rastreá-lo quando ele voltar”.
“Jake, eu realmente não gosto da idéia de você caçando –“
“Oh, por favor, Bella”, ele interrompeu. Jacob riu, e aí desligou.

10. Cheiro

Tudo foi muito infantil. Porque nesse mundo Edward precisava ir embora pra que Jacob viesse? Nós não havíamos superado esse tipo de imaturidade?
"Não é que eu sinta algum antagonismo pessoal em relação a ele, Bella, é só que é mais fácil pra nós dois", Edward me disse na porta. "Eu não estarei longe. Você estará segura".
"Eu não estou preocupada com isso".
Ele sorriu , e então um olhar astuto apareceu em seus olhos. Ele me puxou mais pra perto, enterrando o rosto no meu cabelo. Eu podia sentir a respiração dele fazer meu cabelo flutuar enquanto ele exalava; isso fez o meu pescoço arrepiar.
"Eu volto logo", ele disse, e depois riu alto como se tivesse acabado de contar uma piada.
"O que é tão engraçado?"
Mas Edward só sorriu e saiu em direção às árvores sem responder.
Murmurando pra mim mesma, eu fui limpar a cozinha. Antes mesmo que a pia estivesse cheia de água, a campainha da porta soou. Era difícil me acostumar com quão mais rápido Jacob era sem o seu carro. Como todo mundo parecia muito mais rápido que eu...
"Entre, Jake!", eu gritei.
Eu estava me concentrando em empilhar os pratos na água com sabão, e eu tinha me esquecido que Jacob se movia como um fantasma nesses dias. Então quando de repente eu ouví a voz dele por trás de mim, isso me fez pular.
"Você devia mesmo deixar a porta destrancada desse jeito? Oh, desculpe".
Eu espirrei a água com sabão em mim mesma quando ele me assustou.
"Eu não estou preocupada com ninguém que seria detido por uma porta", eu disse enquanto enxugava a frente da minha camisa com uma toalha de pratos.
"Bem lembrado", ele concordou.
Eu me virei pra olhar pra ele, olhando-o criticamente. "É realmente impossível usar roupas, Jake?" Eu perguntei. Mais uma vez, Jake estava com o peito nú, usando nada além de um jeans velho rasgado. Secretamente, eu me perguntei se ele estava tão orgulhoso dos seus novos musculos que não conseguia cobrí-los. Eu tinha que admitir, eles eram impressionantes - mas eu nunca pensei nele como vaidoso.
"Eu quero dizer, eu sei que você não fica mais com frio, mas mesmo assim".
Ela passou uma mão pelo seu cabelo molhado; ele estava caindo em seus olhos.
"É mais fácil", ele explicou.
"O que é mais fácil?"
Ele sorriu condescendentemente. "Já é incômodo suficiente carregar um par de shorts comigo, imagina uma roupa completa. O que eu pareço, uma mula de carga?"
Eu fiz uma careta. "Do que você está falando, Jacob?"
A expressão dele era superior, como se eu estivesse deixando passar algo óbvio. "As minhas roupas não desaparecem simplesmente quando eu me transformo - eu tenho que carregá-las comigo enquanto eu corro. Perdoe-me por esconder a luz do meu fardo".
Eu mudei de cor. "Eu não tinha pensado nisso", eu murmurei.
Ele riu e apontou para uma tira de couro preto, fina como uma fita de estame, que estava amarrada três vezes no tornozelo dele, como uma tornozeleira. Eu não havia notado antes que ele estava de pés descalços também. "Isso é mais do que apenas uma tendência de moda - é muito ruim carregar jeans na boca".
Eu não sabia o que dizer.
Ele sorriu. "O meu semi-nú te incomoda?"
"Não".
Jacob riu de novo, e eu me virei de costas pra ele pra me concentrar nos pratos. Eu esperei que ele se desse conta de que eu estava corada porque estava envergonhada com a minha própria estupidez, e que isso não tinha nada a ver com a pergunta dele.
"Bem, eu acho que devia começar a trabalhar" Ele suspirou. "Eu não quero que ele tenha nenhuma desculpa pra dizer que há desleixo do meu lado".
"Jacob, não é seu trabalho -"
Ele levantou as mãos pra me cortar. "Eu estou trabalhando como voluntário aqui. Agora, onde o cheiro do intruso é mais forte?"
"Meu quarto, eu acho".
Os olhos dele estreitaram. Ele não parecia ter gostado disso mais que Edward.
"Eu volto em um minuto".
Eu esfreguei metodicamente o prato que eu estava segurando. O único som era o da escova de plástico arranhando a cerâmica de novo e de novo. Eu tentei escutar alguma coisa lá de cima, um rangido do chão, o clique da porta. Não houve nada.
Eu me dei conta de estava lavando o mesmo prato por mais tempo que o necessário, e tentei prestar atenção no que eu estava fazendo.
"Whew!", Jake disse, centímetros atrás de mim, me assustando de novo.
"Nossa, Jake, pára com isso!"
"Desculpe. Aqui -" Jacob pegou a toalha a removeu o novo meu molhado. "Eu vou me desculpar com você. Você ensaboa, eu lavo e seco".
"Tá bom", eu dei o prato a ele.
"Bem, o cheiro foi suficientemente fácil de sentir. Aliás, o seu quarto está fedendo".
"Eu vou comprar um purificador de ar".
Ele riu.
Eu lavei e ele secou em um silêncio de companheirismo por alguns minutos.
"Posso te perguntar uma coisa?"
Eu dei outro prato a ele. "Isso depende do que você quer saber".
"Eu não vou ser um idiota nem nada assim - eu estou honestamente curioso", Jacob me assegurou.
"Tá bom. Vá em frente".
Ele pausou por meio segundo. "Como é - ter um vampiro como namorado?"
Eu revirei meus olhos. "É o máximo".
"Eu estou falando sério. Essa idéia não te incomoda - isso nunca te assusta?"
"Nunca".
Ele estava em silêncio enquanto pegou a tigela das minhas mãos. Eu dei uma olhada para o rosto dele - ele estava fazendo careta, o lábio inferior dele estava pra fora.
"Mais alguma coisa?", eu perguntei.
Ele enrugou o nariz de novo. "Bem... eu estava me perguntando... você... você sabe, beija ele?"
Eu rí. "Sim".
Ele estremeceu. "Ugh".
"Cada um tem o que merece".
"Você não se preocupa com as presas?"
Eu batí no braço dele, molhando ele com a água dos pratos. "Cala a boca, Jacob! Você sabe que ele não tem presas!"
"Chega bem perto", ele murmurou.
Eu apertei meus dentes e esfreguei uma faca com mais força do que o necessário.
"Posso perguntar mais uma?" ele pergutou suavemente quando eu passei a faca pra ele. "Só curiosidade, de novo"
"Tá", eu disparei.
Ele virou e virou a faca nas mãos embaixo do jato de água. Quando ele falou, era apenas um cochicho. "Você disse algumas semanas... Quando, exatamente...?" Ele não conseguiu terminar.
"Formatura", ei cochichei de volta, observando o rosto dele cautelosamente. Isso ia tirar ele do sério de novo?
"Tão cedo", ele respirou, seus olhos fechando. Isso não parecia ser uma pergunta. Parecia com um lamento. Os musculos dele se apertaram e seus ombros estavam rígidos.
"OW!" Ele gritou; tudo havia ficado tão quieto na cozinha que eu dei um pulo de um metro por causa da explosão dele.
A mão direita dele tinha se encurvado tensamente no pulso na lâmina da faca - ele abriu a mão e a faca resvalou no balcão. Na palma dele, havia um corte longo, profundo. O sangue correu pelos dedos dele e pingou no chão.
"Droga! Ai!", ele reclamou.
Minha cabeça rodou e meu estômago revirou. Eu me agarrei no balcão com uma mão, respirei fundo pela boca, e me forcei a ficar bem pra poder cuidar dele.
"Oh, não, Jake!Oh, droga! Aqui, feche com isso aqui!", Eu joguei a toalha de pratos pra ele, pegando a mão dele. Ele se afastou de mim.
"Não é nada, Bella, não se preocupe com isso".
A cozinha começou a tremer um pouquinho nas beiras.
"Eu respirei fundo de novo. "Não se preocupe?! Você fatiou a sua mão!"
Ele ignorou a toalha que eu havia jogado pra ele. Ele colocou a mão embaixo da torneira e deixou a água correr pela ferida. A água ficou vermelha. A minha cabeça girou.
"Bella", ele disse.
Eu tirei os olhos da ferida, olhando pra rosto dele. Ele estava fazendo uma careta, mas a expressão dele estava calma.
"O quê?"
"Você está com cara de quem vai desmaiar, e você vai arrancar o seu lábio. Pare com isso. Relaxe. Respire. Eu estou bem".
Eu inalei pela minha boca e removí os meus dentes do meu lábio inferior. "Não seja corajoso".
Ele revirou os olhos.
"Vamos lá. Eu vou te levar para o pronto socorro" eu tinha certeza de que estava bem pra dirigir. As paredes estavam paredas agora, pelo menos.
"Não é necessário" Jacob fechou a água e pegou a toalha das minhas mãos. Ele a passou folgadamente pela palma.
"Espere", eu protestei. "Deixe eu dar uma olhada". Eu agarrei o balcão com mais força, pra me manter de pé se a ferida me deixasse tonta de novo.
"Você tem algum diploma de medicina do qual nunca me contou?"
"Só me dê uma chance de decidir se eu vou ou não dar um piti pra te levar pro hospital".
Ele fez uma cara de horror de brincadeira. "Por favor, um piti não!"
"Se você não me deixar ver a sua mão, um piti está garantido".
Ele inalou profundamente, e deixou a respiração sair num suspiro forte. "Tá bom".
Ele retirou a toalha e, quando eu me inclinei pra tirar ela, ele colocou a mão na minha.
Eu levei alguns segundos. Eu até virei a mão dele, apesar de ter certeza de que ele hava cortado a mão. Eu virei a mão dele pra cima de novo, finalmente me dando conta de que a linha inchada, num cor de rosa forte, era tudo o que havia restado da ferida.
"Mas... você estava sangrando... tanto"
Ele puxou a mão de volta, seus olhos diretos e sombrios nos meus.
"Eu saro rápido".
"Eu que o diga", eu murmurei.
Eu tinha visto o longo corte claramente, tinha visto o sangue que fluía na pia. O cheiro de sal e ferrugem dele quase me fez desmaiar. Ele devia precisar de pontos. Aquilo devia ter levado dias pra fechar e depois levado semanas pra se transformar naquela linha rosada que agora marcava a pele dele.
Ele rasgou a boca pra cima num meio sorriso no rosto e bateu com o pulso uma vez no peito. "Lobisomem, lembra?"
Os olhos dele seguraram os meus por um momento imensurável.
"Certo", eu disse finalmente.
Ele riu da minha expressão. "Eu te disse isso. Você viu a cicatriz de Paul".
Eu balancei minha cabeça pra limpá-la. "É uma pouco diferente, ver a ação em sequência em primeira mão".
Eu me ajoelhei e puxei o desinfetante do gabinete embaixo da pia. Então, eu coloquei um pouco no esfregão e comecei a esfregar o chão. O cheiro forte do desinfetante limpou o resto da tontura da minha cabeça.
"Deixe eu limpar", Jacob disse.
"Deixa comigo. Jogue a toalha na máquina, tá?"
Quando eu tive certeza que o chão não cheirava a mais nada além de desinfetante, eu me levantei e limpei o lado direito da pia com desinfetante também. Aí eu fui para o armário da lavanderia ao lado da dispensa, e despejei um copinho dele dentro da máquina antes de ligá-la. Jacob me observou com um olhar de desaprovação no rosto.
"Você tem transtorno obcessivo compulsivo?" ele perguntou quando eu acabei.
Huh. Talvez. Mas pelo menos dessa vez eu tinha uma boa desculpa. "Nós somos um pouco sensíveis a sangue por aqui. Eu tenho certeza que você pode entender isso".
"Oh", ele enrugou o nariz de novo.
"Porque não fazer tão fácil quanto for possível pra ele? O que ele está fazendo já é difícil o suficiente".
"Claro, claro. Porque não?"
Eu puxei o ralo e deixei a água suja descer pela pia.
"Posso te perguntar uma coisa, Bella?"
Eu suspirei.
"Como é - ter um lobisomem como melhor amigo?"
Essa pergunta me pegou fora de guarda. Eu ri alto.
"Isso te assusta?", ele pressionou antes que eu pudesse responder.
"Não. Quando o lobisomem está sendo legal", eu qualifiquei. "é o máximo".
Ele deu um sorriso largo, os dentes dele brilhando contra a pele ruiva. "Obrigado, Bella", ele disse, e depois pegou a minha mão e me puxou pra mais um dos seus abraços de quebrar os ossos.
Antes que eu tivesse tempo de reagir, ele me soltou de seus braços e se afastou.
"Ugh", ele disse, seu nariz enrugando. "O seu cabelo está fedendo mais que o seu quarto".
"Desculpe", eu murmurei. De repente eu entendí do que Edward estava rindo mais cedo, depois de respirar em mim.
"Um dos muitos riscos de se socializar com vampiros", Jacob disse, levantando os ombros. "Faz você cheirar mal. Um risco menor, em comparação".
Eu encarei ele. "Eu só cheiro mal pra você, Jake".
Ele sorriu largamente. "Te vejo por aí, Bells"
"Você vai embora?"
"Ele está esperando que eu vá. Eu posso ouví- lo lá fora".
"Oh".
"Eu vou por trás", ele disse, e então pausou.
"Espere um pouco - ei, você acha que pode ir até La Push hoje à noite? Nós vamos fazer uma festa de fogueira. Emily estará lá, e você podia conhecer Kim... E eu sei que Quil quer ver você. Ele está bem irritado porque você descobriu o que ele fez".
Eu sorrí disso. Eu bem que podia imaginar como isso tinha afetado Quil - o amiguinho humano de Jacob estava andando entre lobisomens sem sequer saber. E aí eu suspirei. "É, Jake, eu não sei. Entenda, as coisas estão um pouco tensas agora..."
"Vamos, você acha que alguém vai conseguir passar por cima - por cima de nós seis?"
Houve uma pausa estranha e ele estremeceu no fim da sua pergunta. Eu me perguntei se ele tinha problemas em dizer a palavra lobisomem em voz alta, do mesmo jeito que eu frequentemente tenho dificuldade com vampiro.
Os grandes olhos dele estavam cheios de rogo desavergonhado.
"Eu vou pedir", eu disse duvidosamente.
Ele fez um barulho no fundo de sua garganta. "Agora ele é seu carcereiro também? Sabe, eu ví essa história no jornal semana passada sobre relacionamentos adolescentes controladores, abusivos e -"
"Tá legal!" Eu cortei ele, e depois batí em seu braço. "Hora do lobisomem dar o fora!"
Ele sorriu. "Tchau, Bells. Tenha certeza de que pediu permissão".
Ele se abaixou pra sair pela porta da cozinha antes que eu pudesse encontrar alguma coisa pra jogar nele. Eu rosnei incoerentemente para a cozinha vazia.
Segundos depois que ele foi embora, Edward entrou lentamente na cozinha, gotas de chuva reluzindo como diamantes no seu cabelo cor de bronze. Os olhos dele estavam cautelosos.
"Vocês dois brigaram?", ele perguntou.
"Edward!" eu cantei, antes de me jogar em cima dele.
"Oi, aí". Ele riu e jogou seus braços ao meu redor. "Você está tentando me distrair? Está funcionando".
"Não, eu não briguei com Jacob. Muito. Porque?"
"Eu só estava me perguntando porque você esfaqueou ele. Não que eu me oponha". Com o queixo, ele fez um gesto para a faca em cima do balcão.
"Droga! Eu pensei que tivesse limpado tudo".
Eu me separei dele e corrí pra colocar a faca na pia antes de lavá-la com o desinfetante.
"Eu não esfaqueei ele", eu expliquei enquanto trabalhava. "Ele esqueceu que estava com a faca na mão".
Edward gargalhou. "Não é nem de perto tão engraçado quanto o jeito que eu imaginei".
"Seja bonzinho".
Ele pegou um grande envelope de dentro do casaco dele e o jogou no balcão. "Você recebeu correspondência".
"Alguma coisa boa?"
"Eu acho que sim".
Os meus olhos se estreitaram suspeitosamente com o tom dele. Eu fui investigar.
Ele havia dobrado o grande envelope no meio. Eu o abrí, surpresa com o peso do papel caro, e lí o endereço do remetente.
"Dartmouth? Isso é uma piada?"
"Eu tenho certeza que é uma aceitação. É exatamente igual ao meu".
"Belo consolo, Edward - o que você fez?"
"Eu mandei a sua inscrição, só isso".
"Eu posso até não ser material pra Dartmouth, mas eu não sou estúpida o suficiente pra acreditar nisso".
"Dartmouth parece pensar que você é material pra Dartmouth".
Eu respirei fundo e contei lentamente até dez. "Isso é muito generoso da parte deles", eu disse finalmente. "No entanto, aceita ou não, esse ainda é o menor problema com a instituição. Eu não posso pagar, e eu não vou deixar você gastar o dinheiro de outro carro esporte só para fingir que eu vou pra Dartmouth ano que vem".
"Eu não preciso de outros carros esporte. E você não precisa fingir nada", ele murmurou. "Só um ano de faculdade não vai te matar. Talvez você até gostasse. Pense nisso, Bella. Imagine o quanto Renée e Charlie ficariam excitados..."
A voz de veludo dele pintou um quadro na minha cabeça antes que eu pudesse bloqueá-lo. É claro que Charlie ia explodir de orgulho - ninguém em Forks seria capaz de escapar da explosão dessa alegria. E Renée ficaria histérica de alegria pelo meu triunfo - apesar de que ela ia jurar que não estava surpresa...
Eu tentei sacudir a imagem da minha cabeça. "Edward. Eu já estou preocupada em sobreviver até a formatura, imagine até o próximo inverno ou verão".
Os olhos dele se fecharam ao meu redor. "Ninguém vai te machucar. Você tem todo o tempo do mundo".
Eu suspirei. "Eu vou enviar o extrato da minha conta para o Alaska amanhã. Esse é o único álibi que eu preciso. Isso é longe o suficiente pra que Charlie não espere que eu venha visitá-lo até o Natal pelo menos. Até lá eu tenho certeza que consigo pensar em uma desculpa. Sabe", eu brinquei sem muita vontade. "esse segredo todo e essa coisa de decepção é um pouco chata".
A expressão de Edward endureceu. "Fica mais fácil. Depois de alguma décadas, todos que você conhece terão morrido. Problema resolvido".
Eu enrigecí.
"Desculpe, isso foi duro".
Eu olhei para o grande envelope branco, sem vê-lo. "Mas ainda é a verdade".
"Se eu resolver isso, o que quer que seja com o que estamos lidando, você por favor consideraria esperar?"
"Não".
"Sempre tão teimosa".
"Sim".
A máquina de lavar fez um barulho e parou de funcionar.
"Pedaço de lixo estúpido", eu murmurei enquanto me afastava dele. Eu retirei a toalha que era a única peça na máquina, e a liguei de novo.
"Isso me lembra", eu disse. "Será que dá pra você perguntar a Alice o que ela fez com as coisas que ela limpou no meu quarto? Eu não conseguí encontrar em lugar nenhum".
Ele me olhou com olhos confusos. "Alice limpou o seu quarto?"
"É, eu acho que era isso que ela estava fazendo. Quando ela veio pegar os meus pijamas e o meu travesseiro e essas coisas pra me fazer de refém. "Eu encarei ele brevemente. "Ela pegou tudo que estava jogado, as minhas camisas, minhas meias, e eu não sei onde ela os colocou".
Edward continou a parecer confuso por um breve momento, e depois, abruptamente, ele ficou rígido.
"Quando você reparou que as suas coisas estavam faltando?"
"Quando eu voltei da falsa festa do pijama. Porque?"
"Eu não acho que Alice pegou nada. Nem as suas roupas, nem o seu travesseiro. Essas coisas são coisas que você havia usado... e tocado... e dormido?"
"Sim. O que é, Edward?"
A expressão dele estava repuxada. "Coisas com o seu cheiro".
"Oh!"
Nos olhamos nos olhos um do outro por um longo momento.
"O meu visitante", eu murmurei.
"Ele estava juntando pistas... provas. Pra provar que ele havia te encontrado?"
"Porque?" eu sussurrei.
"Eu não sei. Mas, Bella, eu juro que eu vou descobrir. Eu vou".
"Eu sei que vai", eu disse, colocando a minha mão no peito dele. Inclinada alí, eu sentí o telefone dele vibrar no bolso dele.
Ele puxou o telefone e olhou para o número. "Exatamente a pessoa com quem eu precisava falar", ele murmurou e abriu o telefone. "Carlisle, eu -" Ele parou e escutou, o rosto dele ficou enrugado de concentração por alguns minutos. "Eu vou checar isso. Ouça..."
Ele explicou sobre as coisas desaparecidas, mas do lado que eue estava ouvindo, parecia que Carlisle não tinha intuições pra nós.
"Talvez eu vá..."Edward disse, parando quando os seus olhos passaram pra mim. "Talvez não. Não deixe Emmett ir sozinho, você sabe como ele fica. Peça a Alice que fique de olho nas coisas. Nós vamos descobrir isso depois".
Ele fechou o telefone. "Onde está o jornal?", ele me perguntou.
"Um, eu não tenho certeza. Porque?"
"Eu preciso ver uma coisa. Charlie já o jogou fora?"
"Talvez..."
Edward desapareceu.
Ele estava de volta em meio segundo, novos diamantes em seus cabelos, um jornal molhado nas mãos. Ele o espalhou na mesa, os olhos dele passando rapidamente pelas manchetes. Ele se inclinou, atento em alguma coisa que ele estava lendo, um dedo passando sobre as passagens que mais o interessavam.
"Carlisle estava certo... sim... muito espirradinho. Jovem e enlouquecido? Ou procurando a morte?" ele murmurou pra sí mesmo.
Eu fui espionar por cima do ombro dele.
A manchete do Seattle Times dizia: "Epidemia de Assassinatos Continua - Polícia Não Tem Novas Pistas".
Era quase a mesma história sobre a qual Charlie estava reclamando semanas atrás - a violência das grandes cidades que estava colocando Seattle no topo da lista nacional de assassinatos.
No entanto, não era exatamente a mesma história. Os números eram muito mais altos.
"Está ficando pior", eu murmurei.
Ele fez uma careta. "Completamente fora de controle. Isso não pode ser trabalho de apenas um vampiro recém nascido. O que esta acontecendo? É como se eles nunca tivessem ouvido falar dos Volturi. O que é impossível, eu acho. Ninguém explicou as regras pra eles... então quem os está criando?"
"Os Volturi?", eu repetí, estremecendo.
"Esse é exatamente o tipo de coisa que eles rotineiramente exterminam - imortais que ameaçam nos expor. Eles limparam uma bagunça exatamente igual a essa ha alguns anos em Atlanta, e aquilo não tinha sido nem de perto tão ruim. Eles vão interferir em breve, muito em breve, a não ser que nós encontremos uma forma de acalmar a situação. Eu realmente preferiria que eles não viessem a Seattle por enquanto. Enquanto eles estiverem tão perto... eles podem decidir dar uma olhada em você".
Eu estremecí de novo. "O que nós podemos fazer?"
"Nós precisamos saber mais antes de decidir isso. Talvez, se nós conseguirmos falar com esses jovens, explicar as regras, isso se resolva pacificamente". Ele fez uma careta, como se não achasse que as chances disso acontecer fossem boas. "Nós vamos esperar até que Alice tenha alguma idéia do que está acontecendo... Nós não queremos nos meter até que seja absolutamente necessário. Afinal, não é nossa responsabilidade. Mas é bom que tenhamos Jasper", ele acrescentou quase pra si mesmo. "Se nós estamos lidando com recém nascidos, ele vai ajudar".
"Jasper? Porque?"
Edward sorriu obscuramente. "Jasper é uma espécie de expert em vampiros recém nascidos".
"O que você quer dizer, um expert?"
"Você vai ter que perguntar a ele - a história dele está envolvida".
"Que confusão", eu murmurei.
"É isso que parece, não é? Como se isso estivesse nos atingindo por todos os lados ultimamente". Ele suspirou. "Você já pensou que a sua vida podia ser mais fácil se você não estivesse apaixonada por mim?"
"Talvez. Porém,não seria exatamente uma vida"
"Pra mim", ele emendou baixinho. "E agora, eu acho" ele continuou com um sorriso torto, "Você tem alguma coisa pra perguntar pra mim?"
Eu olhei pra ele sem entender. "Tenho?"
"Ou talvez não", ele sorriu. "Eu estava com a impressão de que você havia me prometido que pediria permissão pra ir a algum tipo de festa de lobisomens hoje à noite".
"Ouvindo escondido de novo?"
Ele sorriu. "Só um pouquinho, no final".
"Bem, eu não ia te pedir do mesmo jeito. Eu entendí que você já tem bastante coisas pra se estressar".
Ele colocou a mão embaixo do meu queixo, e segurou o meu rosto pra que ele pudesse ver meus olhos. "Você gostaria de ir?"
"Não é nada demais. Não se preocupe".
"Você não tem que me pedir permissão, Bella. Eu não sou o seu pai - graças aos céus por isso. No entanto, talvez você devesse pedir a Charlie".
"Mas você sabe que Charlie vai dizer sim".
"Eu tenho um pouco mais de intuição sobre a resposta dele do que outras pessoas teriam, é verdade".
Eu olhei pra ele, tentando entender o que ele queria, e tentando tirar da minha mente a vontade que eu estava de ir à La Push pra que eu não fosse enganada pelos meus próprios desejos. Era estupidez querer sair com um monte de garotos-lobos estúpidos quando haviam muito mais coisas assustadoras e inexplicadas acontecendo. É claro, isso era exatamente o motivo pelo qual eu queria ir. Eu queria escapar das ameaças de morte, só por algumas horas... ser menos madura, ser mais a Bella irresponsável que podia rir com Jacob, mesmo que brevemente. Mas isso não importava.
"Bella", Edward disse. "Eu disse que ia ser razoável e confiar no seu julgamento. Eu falei sério. Eu confio nos lobisomens, então eu não vou me preocupar com eles".
"Uau", eu disse, como havia dito na noite passada.
"E Jacob está certo - sobre uma coisa, pelo menos - uma bando de lobisomens deve ser o suficiente pra te proteger até você por uma noite".
"Você tem certeza?"
"É claro. Só..."
Eu me segurei.
"Eu espero que você não se importe em tomar algumas precauções? Me deixando te levar até a linha da fronteira, pra começar. E também levando um celular, pra que eu saiba quando ir te buscar".
"Isso soa... muito razoável".
"Excelente".
Ele sorriu pra mim, e eu não pude ver nenhum traço de apreensão em seus olhos que parecia, jóias.
Para a surpresa de ninguém, Charlie não teve problema nenhum em me deixar ir à La Push pra um fogueira. Jacob gritou com uma exultação indisfarçavel quando eu liguei pra ele pra dar as notícias, e ele pareceu suficientemente ansioso pra aceitar as medidas cautelosas de Edward. Ele prometeu nos encontrar na linha que dividia os territórios às seis.
Eu havia decidido, depois de um curto debate interno, que eu não ia vender a moto. Eu ia levá-la de volta à La Push, onde ela pertencia, e quando eu não precisasse mais dela... bem, aí, eu insistiria que Jacob ele cuidasse do seu trabalho de alguma forma. Ele podia vendê-la ou dar a uma amigo. Eu não me importava.
Essa noite parecia ser uma boa pra devolver a moto para a garagem de Jacob. Me sentindo sensível como eu estava nos últimos dias, todo dia parecia ser possivelmente o último. Eu não tinha tempo para adiar nenhuma tarefa, não importava o quão pequena fosse.
Edward apenas balançou a cabeça quando eu expliquei o que eu queria, mas eu pensei ter visto uma faísca de consternação nos olhos dele, e eu sabia que ele não estava mais feliz com a idéia da moto do que Charlie estava.
Eu o seguí de volta para casa dele, para a garagem onde eu havia deixado a moto. Não foi até que eu estacionei a caminhonete e descí que eu percebí que talvez dessa vez a consternação não fosse em relação a minha segurança.
Ao lado da minha moto antiga, obscurecendo-a, havia outro veículo. Chamar esse outro veículo de moto não parecia muito justo, já que ela não parecia pertencer a mesma família que a minha moto, repentinamente rota.
Essa era grande e esguia e prateada - e mesmo totalmente imóvel - ela parecia rápida.
"O que é isso?"
"Nada", Edward murmurou.
"Isso não parece ser nada".
A expressão de Edward estava casual; ele parecia determinado a esquecer isso. "Bem, eu não sabia se você ia perdoar o seu amigo, e nem ele a você, e eu me perguntei se você ia querer andar na sua moto mesmo assim. Parecia ser algo que você gostava de fazer. Eu pensei que eu podia ir com você, se você quisesse". Ele levantou os ombros.
Eu encarei a linda máquina. Ao lado dela, a minha moto parecia ser um tricíclo quebrado. Eu me sentí repentinamente triste quando me dei conta de que essa provavelmente era uma analogia à forma como eu parecia ao lado de Edward.
"Eu não seria capaz de te acompanhar", eu sussurrei.
Edward colocou sua mão embaixo do meu queixo e puxou o meu rosto pra que ele pudesse vê-lo direito. Com um dedo, ele tentou puxar o canto da minha boca pra cima.
"Eu vou acompanhar você, Bella"
"Isso não seria muito divertido pra você".
"É claro que seria, se estivéssemos juntos".
Eu mordí o meu lábio e imaginei isso por um momento. "Edward, se você pensasse que eu estava indo rápido demais ou perdendo o controle da moto ou algo assim, o que você faria?"
Ele hesitou, obviamente tentando encontrar a resposta certa. Eu sabia a verdade: ele ia tentar encontrar uma forma de me salvar antes que eu caísse.
Aí ele sorriu. Pareceu ser sem esforço, exceto pelo pequeno aperto defensivo que havia nos olhos dele.
"Isso é uma coisa que você faz com Jacob. Agora eu entendo".
"É só que, bem, eu não quero ele tão triste, sabe. Eu podia tentar, eu acho..."
Eu olhei para a moto prateada duvidosamente.
"Não se preocupe com isso", Edward disse, e aí ele sorriu levemente. "Eu ví Jasper admirando ela. Talvez seja hora dele descobrir um novo jeito de viajar. Afinal, agora Alice tem o Porsche dela".
"Edward, eu -"
Ele me interrompeu com um beijo rápido. "Eu disse pra não se preocupar. Mas você faria uma ciosa por mim?".
"Qualquer coisa que você precise", eu prometí rapidamente.
Ele soltou o meu rosto e se inclinou ao lado da moto grande, retirando alguma coisa que ele havia colocado lá.
Ele voltou com um um objeto que era preto e sem forma, e com outro que era vermelho e com um formato facilmente indentificavel.
"Por favor?" ele pediu, mostrando o sorriso torto que sempre destruía as minhas defesas.
Eu peguei o capacete vermelho, medindo o peso em minhas mãos. "Eu vou parecer estúpida".
"Não, você vai parecer esperta. Esperta o suficiente pra não se machucar." Ele jogou a coisa preta, o que quer que fosse, por cima do braço e pegou o meu rosto nas mãos. "Existem coisas entre minhas mãos agora sem as quais eu não posso viver. Você podia cuidar delas".
"Tudo bem, tá certo. Qual é a outra coisa?", eu perguntei suspeitosamente.
Ele sorriu e desenrolou uma espécie de jaqueta. "É uma jaqueta de montaria. Eu sei que estradas molhadas são bem desconfortaveis, não que eu mesmo pudesse saber".
Ele a segurou pra mim. Com um profundo suspiro, eu coloquei o meu cabelo pra trás e coloquei o capacete na cabeça. Aí eu passei os meus braços pelas mangas da jaqueta. Ele fechou o zíper, um sorriso brincando nos cantos da boca dele, e deu um passo pra trás.
Eu me sentí boba.
"Seja honesto, quão odiosa eu estou?"
Ele deu outro passo pra trás e torceu os lábios.
"Ruim assim, hein?" eu murmurei.
"Não, não, Bella. Na verdade..." ele pareceu estar lutando pra encontrar a palavra certa. "Você está... sexy".
Eu rí alto. "Certo".
"Muito sexy, na verdade".
"Você só está dizendo isso pra que eu use", eu disse. "Mas está tudo bem. Você está certo, é mais inteligente".
Ele passou os braços ao meu redor e me trouxe para o peito dele. "Você é boba. Eu acho que isso é parte do seu charme. No entanto, eu tenho que admitir, esse capacete tem suas desvantagens".
Então ele retirou o capacete pra poder me beijar.
Enquanto Edward me levava até La Push algum tempo mais tarde, eu me dei conta de que a falta de precedentes dessa situação parecia estranhamente familiar. Eu levei algum tempo pra entender a fonte
Eu levei algum tempo pra entender qual era a fonte do déjà vu.
"Sabe do que isso me lembra?" eu perguntei. "É igual a quando eu era criança e Renée me deixava com Charlie pra passar o verão. Eu me sinto como se tivesse sete anos".
Edward riu.
Eu não mencionei isso em voz alta, mas a única diferença entre as duas situações era que Renée e Charlie se davam bem.
A cerca de meio caminho de La Push, nós fizemos um curva e encontramos Jacob enconstado do lado do seu Volkswagen vermelho que ele havia construído sozinho desde as peças. A expressão cuidadosamente neutra de Jacob se dissolveu em um sorriso quando eu acenei no banco da frente.
Edward estacionou o Volvo a uns trinta metros de distância.
"Me ligue quando você quiser voltar pra casa", ele disse. "E eu estarei aqui".
"Eu não vou demorar", eu prometí.
Edward puxou a minha moto e minhas novas vestimentas do porta-malas do seu carro - eu fiquei bem surpresa por tudo ter entrado. Mas isso não era tão difícil de conseguir quando você é forte o suficiente pra levanta vans, quanto mais pequenas motos.
Jacob observou, sem fazer nenhum movimento pra se aproximar, o sorriso dele tinha obscurecido e os olhos dele eram indecifraveis.
Eu coloquei o capacete embaixo do braço e joguei a jaqueta no acento.
"Você pegou tudo?", Edward perguntou.
"Sem problema", eu o assegurei.
Ele suspirou e se inclinou pra mim. Eu virei meu rosto pra cima pra um beijo de despedida, mas Edward me pegou de surpresa, passando seus braços ao meu redor com força e me beijando com tanto entusiasmo quanto ele havia feito na garagem - em pouco tempo, eu estava sem ar.
Edward riu baixinho de alguma coisa, e depois me soltou.
"Tchau", ele disse. "Eu realmente gostei da jaqueta".
Enquanto eu virei de costas pra ele, eu pensei ter visto um flash de alguma coisa nos olhos dele que não era pra eu ter visto. Eu não podia dizer com certeza o que era. Preocupação, talvez. Por um segundo, eu pensei que fosse pânico. Mas provavelmente eu estava imaginando algo que não existia, como sempre.
"O que é isso tudo?", Jacob perguntou, sua voz cautelosa, observando a moto com uma expressão enigmática.
"Eu achei que eu devia colocar isso de volta onde ela pertence" eu disse a ele.
Ele pensou nisso por um segundo, e aí um sorriso se abriu no rosto dele.
Eu sabia exatamente que estávamos em território de lobisomens porque Jacob se afastou rapidamente do seu carro e veio pra cima de mim, fechando a longo distância com apenas três passos longos. Ele pegou a moto de mim, colocando-a no tripé, e me pegou em outro abraço de urso.
Eu ouví o motor do Volvo roncar, e lutei pra ficar livre.
"Pare com isso, Jake!" eu ofeguei, sem ar.
Ele riu e me colocou no chão. Eu me virei pra acenar um adeus, mas o carro prateado já estava desaparecendo na curva da estrada.
"Legal", eu comentei, deixando que um pouco de ácido escapasse na minha voz.
Os olhos dele se arregalaram com falsa inocência. "O que foi?"
"Ele está sendo muito tolerânte com essa coisa toda; você não precisa testar sua sorte".
Ele riu de novo, mais alto que antes - ele realmente achou o que eu disse muito engraçado. Eu tentei ver qual era a piada enquanto ele arrodeava o Rabbit pra abrir a porta pra mim.
"Bella", ele disse finalmente - ainda gargalhando - enquanto fechava a porta atrás de mim. "Você não pode testar aquilo que você não tem".

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