quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Odisseia - Parte I - Capítulos 1 ao 4

Índice

Introdução
Onde se conta o que aconteceu antes que a "Odisséia " começasse

Parte I
Na qual se contam as aflições da esposa de Ulisses, Penélope,
e de Telêmaco, seu filho, já que Ulisses, dez anos depois do
término da guerra de Tróia, ainda não tinha chegado a Ítaca
CAPÍTULOS 1-8

Parte II
Na qual Ulisses conta suas aventuras nos mares desde que saiu
de Tróia até chegar à terra dos feácios
CAPÍTULOS 9-12

Parte III
Onde se conta a volta de Ulisses para Ítaca, seu reencontro
com Penélope e seu reconhecimento
CAPÍTULOS 13 — 24

Glossário


Introdução
Onde se conta o que aconteceu antes que a "Odisséia " começasse




Há muito, muito tempo, havia um grande e poderoso reino cuja
capital, Tróia, era uma enorme cidade, fortificada, muito rica e muito
poderosa.
Seu rei, Príamo, teve muitos filhos.
Quando nasceu Paris, seu segundo filho, um oráculo previu que
aquele menino iria pôr fogo na cidade.
O rei ficou apavorado, pois naquele tempo os oráculos eram
muito respeitados. Resolveu, por isso, abandonar o menino numa
montanha próxima, o monte Ida, onde ele seria devorado pelos lobos.
A criança ficou chorando sozinha na floresta. Um casal de
pastores encontrou o menino e levou-o para casa, onde o criou como se
fosse seu filho.
Anos mais tarde, na morada dos deuses, o Olimpo, houve uma
grande festa.
Todos os deuses foram convidados.
Todos?
Quase todos.
A deusa Éris, deusa da discórdia, não foi convidada, justamente
para evitar o que acabou acontecendo: que ela levasse a discórdia para
a festa. Mas a deusa ficou muito ofendida por não ter sido convidada e
concebeu um plano dos mais engenhosos para perturbar a festa.
Entrou sorrateiramente e atirou sobre a mesa do banquete uma maçã
de ouro, junto com um bilhete no qual estava escrito: "A mais bela!".
As deusas do Olimpo não eram diferentes das outras mulheres.
Todas queriam ser consideradas a mais bela.
Mas as deusas dos gregos não eram todas igualmente
poderosas. As que tinham menos força foram saindo da briga. Restaram
apenas três deusas, que iriam disputar o troféu com todas as suas
forças e quase todos os seus ardis.
Hera, a esposa de Zeus, poderosa, ciumenta, vingativa, terrível.
Palas Atena, que brotou armada da cabeça de Zeus, a lutadora,
a sábia, a guerreira de verdes olhos.
E Afrodite, que também era filha de Zeus, a deusa do amor e da
beleza, alegre, irresistível, a bela deusa dourada.
As três disputavam o troféu e pediram a Zeus que resolvesse a
quem ele cabia.
Zeus era o maior de todos os deuses, o chefe do Olimpo, o deus
do raio, deus da chuva, senhor do céu e das nuvens. Seu poder era
maior que o de todos os deuses.
Pois bem! Zeus não teve coragem de desempatar essa disputa.
Então ele teve uma idéia:
Convenceu as candidatas a chamarem um mortal para resolver
a questão. E indicou para isso aquele menino, aquele príncipe troiano,
que havia sido abandonado no monte Ida.
A essa altura, Paris já era um rapaz e tomava conta dos
rebanhos de seu pai, Príamo, o poderoso rei de Tróia, que já tinha
descoberto que ele estava bem vivo.
Zeus mandou buscar o rapaz, que deve ter ficado na maior
dúvida, porque, se até Zeus tinha medo das deusas, imagine ele, que
era jovem, sem experiência e ainda por cima, mortal!
Mas, pelo que a gente sabe desse concurso de beleza, ele não se
resolveu na base da honestidade. As três deusas não tiveram a menor
vergonha de tentar subornar o juiz.
Então Hera prometeu a Paris que, se ganhasse o concurso, faria
dele um rei poderoso que mandaria no mundo todo.
Palas Atena prometeu que, se ganhasse, faria de Paris o mais
sábio dos mortais e o maior de todos os guerreiros.
E Afrodite?
Afrodite prometeu a ele o amor da mais bela mulher do mundo,
caso ela fosse a escolhida no concurso.
Paris não teve dúvidas: entregou a maçã a Afrodite.
A mulher mais linda da terra era Helena, rainha de Esparta, e,
para complicar as coisas, completamente casada com o rei de Esparta,
Menelau.
Paris, ajudado por Afrodite, conseguiu ser recebido na corte de
Esparta.
Conquistou Helena e raptou-a, levando-a para Tróia.
Quando Helena foi raptada, Menelau apelou a todos os reis da
Grécia para que o ajudassem a resgatá-la.
Formou-se então um enorme exército, pois cada rei levou seus
soldados. E todos, chefiados por Agamenon, que era irmão de Menelau,
dirigiram-se a Tróia para buscar Helena de volta.
Cercaram a cidade e travaram inúmeros combates, mas a guerra
levou dez anos para se resolver, porque os deuses, ora ajudavam os
gregos, ora ajudavam os troianos.
Entre os reis gregos que sitiaram Tróia estava Ulisses, o mais
astuto de todos eles. Ele inventou uma artimanha espertíssima, para
que finalmente os gregos vencessem os troianos.
Fez que os gregos construíssem um enorme cavalo de madeira e
no interior dele acomodaram os guerreiros mais valentes, inclusive
Ulisses.
Puseram o cavalo em frente aos portões de Tróia, como se fosse
um presente.
Depois, começaram a se retirar, embarcando inclusive nos seus
navios.
Os troianos, vendo aquilo, acreditaram que os gregos tivessem
desistido da guerra e que o presente fosse uma prova disso.
O cavalo era tão grande, que não passava pelos portões da
cidade. Então, embriagados com a idéia de que a guerra tinha
finalmente acabado, alguns troianos resolveram derrubar uma parte da
muralha para poder levar o cavalo para dentro da cidade.
Todos os troianos ficaram muito alegres. Empurraram o cavalo
para dentro das muralhas, fizeram grandes festas, tomaram muito
vinho, dançaram pelas ruas até que escureceu, todos ficaram muito
cansados e foram dormir.
Quando tudo se acalmou, a barriga do cavalo abriu-se e os
gregos foram saindo lá de dentro.
Enquanto isso, os soldados que haviam se retirado vinham
voltando e entraram pela brecha que os próprios troianos tinham feito
na muralha.
Num instante, os gregos já tinham se espalhado pela cidade, já
tinham matado os soldados troianos que encontraram e, até que os
habitantes da cidade se dessem conta do que estava acontecendo, eles
já estavam no palácio real e já tinham aprisionado o rei, a rainha, os
príncipes e as princesas.
Helena foi levada de volta a Esparta e cada um dos combatentes
gregos voltou para sua terra.
A Odisséia é a história da volta de Ulisses, o mais astuto de
todos os gregos, para sua ilha de Ítaca, onde era rei.
Ulisses é o nome romano do nosso herói. Na Grécia ele é
chamado de Odisseu. Por isso esta história se chama Odisséia.

Parte I
Na qual se contam as aflições da esposa de Ulisses, Penélope,
e de Telêmaco, seu filho, já que Ulisses, dez anos depois do
término da guerra de Tróia, ainda não tinha chegado a Ítaca



1
Dez anos se passaram depois que a guerra de Tróia terminou.
Todos os reis, generais e comandantes que tinham tomado parte
nela, já tinham voltado para suas casas.
Mas Ulisses, o mais esperto dos gregos, não conseguia chegar à
ilha de Ítaca, da qual era o rei e onde estavam esperando por ele, sua
mulher Penélope e seu filho, Telêmaco, que já tinha quase vinte anos.
Havia sempre alguma coisa que atrapalhava sua volta. Na
verdade, havia dois deuses que faziam de tudo para complicar a viagem
de Ulisses: Hélio, o Sol, e Poseidon, deus das águas, que tinham ficado
ofendidos com Ulisses, por alguns fatos que serão contados mais
adiante.
Tanto os deuses atrapalharam Ulisses, que Palas Atena, que era
muito amiga dos gregos, resolveu fazer uma reunião no Olimpo, para
discutir o caso. Aproveitou a ocasião em que Poseidon estava longe e
chamou todos os deuses para uma conversa.
E foi falando de Ulisses, que não conseguia voltar para casa,
pois estava retido na ilha da ninfa Calipso, que queria se casar com ele.
E contou que Ulisses só queria morrer, estava desanimado, de tanto
que tentava voltar para casa e não conseguia.
— Por que, ó Zeus, amontoador de nuvens, estás zangado com
ele?
(Os deuses falavam assim uns com os outros.)
Zeus não tinha nada contra Ulisses, então respondeu a Atena
dizendo que concordava que ele era um bom sujeito, mas que Poseidon,
o condutor da Terra, é que tinha raiva dele. E prometeu que ia fazer de
tudo para que Ulisses conseguisse voltar para casa.
— Todos os deuses vão ajudar — ele disse. — E Poseidon vai ter
que aceitar.
Palas Atena, então, mandou Hermes avisar Calipso, a ninfa de
belas trancas, de que a ordem de Zeus era para libertar Ulisses.
Enquanto isso, ela mesma foi para Ítaca, para ajudar Telêmaco,
calçando suas sandálias douradas que a levavam pelos ares, voando
sobre a terra e sobre as águas com a velocidade do vento e levando sua
lança, com a qual era capaz de derrubar toda uma fileira de heróis.
Telêmaco precisava muito de ajuda, porque todo mundo achava
que Ulisses tinha morrido. Os príncipes das ilhas próximas queriam
todos se casar com Penélope, pois pensavam que ela estava viúva.
Queriam casar com ela, por um lado, porque queriam ser reis de
Ítaca. E por outro lado, porque Penélope era muito linda.
Então, iam todos, todos os dias, para o palácio de Ulisses, com a
maior sem-cerimônia e lá ficavam, comendo os melhores bois do
rebanho da ilha e bebendo os melhores vinhos que a ilha produzia. E
ficavam insistindo para que Penélope escolhesse um deles para marido.
Chegando a Ítaca, Palas Atena disfarçou-se como Mentes, o rei
dos táfios, e entrou no palácio logo depois de uma grande comilança dos
pretendentes.
Quando Telêmaco viu aquele viajante, correu para recebê-lo,
pois era hábito dos gregos receber os hóspedes muito bem. Chamou as
escravas, mandou que o servissem, começou a conversar com ele e lhe
contou sobre sua situação.
Telêmaco estava muito aborrecido; afinal, os pretendentes
estavam comendo toda a sua herança! Contou a Mentes que não tinha
mais esperança de que seu pai voltasse. E que aqueles homens iam
acabar dando cabo dele mesmo, Telêmaco.
Palas Atena, disfarçada, disse ao moço que acreditava na volta
de Ulisses e que ele deveria convocar todos os príncipes para irem à
agora, a praça da cidade onde as pessoas se reuniam, e lhes dizer que
fossem embora de sua casa. E em seguida, viajar por vários lugares,
para tentar encontrar seu pai.
Então despediu-se de Telêmaco e ergueu vôo, como se fosse um
pássaro. O rapaz compreendeu que ali tinha estado um deus.
Telêmaco voltou para junto dos pretendentes, que estavam
ouvindo canções sobre a guerra, cantadas por um aedo, nome que se
dava aos cantores.
Penélope, ouvindo as canções, desceu de seus aposentos e pediu
que não cantassem aquelas músicas, que a lembravam de Ulisses.
Mas Telêmaco ordenou que ela subisse, pois ele, que era agora o
chefe da casa, iria resolver todas as questões.
Os pretendentes, quando viram Penélope tão bela, ficaram
revoltados por ela não escolher nenhum deles e começaram a fazer
grande algazarra.
Então Telêmaco, que estava inspirado por Palas Atena, dirigiu-se
aos príncipes:
— Pretendentes de minha mãe, cessem os gritos e ouçam a
música. Depois, todos devem se recolher às suas casas. E, ao romper
da Aurora, vamos nos reunir na agora. Já tomei minha decisão.
Efetivamente, ao anoitecer, todos se retiraram para suas casas
para repousar.


2
Ao raiar da Aurora, de dedos rosados, Telêmaco vestiu-se, calçou
suas sandálias e pendurou sua espada no ombro.
Mandou que os arautos avisassem a população de que todos os
habitantes da ilha deveriam se dirigir à agora. E, levando seus cães,
encaminhou-se à praça, onde a população estava reunida.
Ele vinha tão bonito e tão imponente que lhe deram a cadeira de
Ulisses, que fazia o papel de um verdadeiro trono.
Telêmaco então dirigiu-se à assembléia, dizendo que precisava
da ajuda de todos os habitantes de Ítaca.
— De fato — disse ele — uma dupla desgraça abateu-se sobre
mim. Perdi meu pai, que outrora foi rei desta ilha e vejo minha casa
sendo ameaçada de ruína. Alguns pretendentes à mão de minha mãe,
em lugar de falar com o pai dela, de cobri-la de presentes, como é
hábito, meteram-se na minha casa já faz muito tempo e estão
consumindo nossos rebanhos e nossos vinhos de tal maneira, que
botam em perigo meu próprio futuro. Sou muito jovem para acabar com
isso, peço portanto aos habitantes da ilha que percebam minha aflição e
me ajudem.
Todos se penalizaram com a situação, menos, é claro, os
causadores dos problemas de Telêmaco.
Antínoo, que era um dos mais ousados pretendentes, reagiu
violentamente!
— Como se atreve a falar conosco desta forma? A culpa pelo que
está acontecendo não é nossa. É de sua própria mãe, que não resolve de
uma vez com qual de nós vai se casar e fica dando uma porção de
desculpas. A última que ela inventou foi que ela precisava, antes de
casar, tecer uma mortalha, um pano para envolver seu sogro Laertes,
quando ele morresse. Penélope armou um enorme tear no seu quarto e
durante quatro anos vem tecendo essa teia. Mas o trabalho não anda,
não rende, não acaba. Pois bem, uma das escravas nos revelou que ela
tece de dia, mas desmancha o que fez, durante a noite. O que você tem
que fazer, já que sua mãe está viúva, é devolvê-la ao pai, e ela que
resolva com quem vai casar. Enquanto Penélope não se decidir, nós
vamos continuar na sua casa e vamos consumir todos os seus bens.
Telêmaco respondeu que não podia mandar sua mãe embora. E
que eles é que tinham que sair de sua casa, que fossem banquetear-se
uns na casa dos outros. E não continuassem com essa atitude, que ele
iria pedir a Zeus que os castigasse:
— Quem sabe se vocês ainda vão morrer dentro do meu palácio,
sem ter nem mesmo quem os vingue!
Assim que Telêmaco acabou de falar, apareceram duas águias
voando juntas, de asas estendidas, seguindo a direção do vento. Elas
haviam sido enviadas por Zeus como um aviso. Sobrevoaram a praça
cheia de gente, e então, atracaram-se, dilacerando cada uma com suas
garras a cabeça e o pescoço da outra.
Todos ficaram amedrontados, sem saber muito bem o que aquilo
queria dizer.
Haliterses, um velho herói que costumava fazer profecias, tomou
a palavra:
— Habitantes de Ítaca — ele disse — essas profecias que vou
fazer dirigem-se especialmente aos pretendentes. Ulisses, que ficou
tanto tempo fora, está voltando. Já deve estar tramando vingança
contra os que tentaram tomar-lhe a mulher e arruinar-lhe a casa.
Quando Ulisses partiu, eu previ que ele levaria vinte anos para voltar.
Minhas profecias vão se cumprir agora.
Mas os pretendentes eram muito ousados. Um deles, Eurímaco,
levantou-se e desacatou o velho profeta. Disse-lhe desaforos e insistiu
em que Telêmaco precisava mandar a mãe de volta para a casa do pai,
pois assim seria obrigada a escolher um deles.
Telêmaco, vendo que não ia conseguir nada daquele povo, pediu
que lhe dessem uma embarcação com tripulação, para que pudesse
dirigir-se a algumas cidades próximas, pois ele ainda queria tentar
saber notícias de seu pai.
— Se me disserem que ele está vivo esperarei mais um ano. Mas,
se me disserem que morreu, voltarei a Ítaca, prestarei honras fúnebres
a ele e darei um esposo à minha mãe.
Os pretendentes não quiseram providenciar o barco para
Telêmaco e foram ainda mais insolentes. Um deles chegou a dizer que,
se Ulisses voltasse e resolvesse expulsá-los, podia até ser morto por
eles.
A multidão dispersou-se e os pretendentes voltaram para a casa
de Ulisses.
Mas Telêmaco contava com uma proteção muito poderosa.
Dirigiu-se a um canto deserto da praia, molhou as mãos na
clara espuma do mar e chamou por Atena:
-— O deusa que aqui estiveste comigo e me disseste que eu
enfrentasse o mar para obter notícias de meu pai! Os aqueus não
concordaram com meus projetos, principalmente os cruéis e ousados
pretendentes a casar-se com minha mãe.
Mal acabou de pronunciar essas palavras e surgiu junto a ele
Palas Atena, na figura de Mentor, grande amigo de Ulisses:
— Telêmaco, não serás fraco e nem covarde. Teus projetos serão
levados a cabo, pois eu te ajudarei. Volta para casa. Ajunta
mantimentos sem que te vejam. Prepararei um navio, arranjarei
tripulação e irei contigo.
Telêmaco rapidamente voltou para casa, onde encontrou os
insolentes pretendentes ocupados em preparar novos banquetes.
Alguns caçoavam dele abertamente, mas o rapaz estava disposto
a cumprir seus planos. Então, dirigiu-se a um aposento de teto alto,
muito bem trancado por duas portas com duplo ferrolho, onde estavam
guardados os tesouros de Ulisses: pilhas de ouro e de bronze, arcas
com roupas, óleo perfumado e bojudos potes de barro cheios do melhor
vinho.
Ali ficava de guarda, dia e noite, a escrava Euricléia, que tinha
sido a ama de Telêmaco.
Ele então pediu a ela para preparar as provisões e contou-lhe
sobre seus planos.
Euricléia ficou muito assustada, mas concordou em guardar
segredo até mesmo de Penélope.
Enquanto isso, Atena, a deusa dos olhos glaucos, disfarçada
como se fosse Telêmaco, já tinha arranjado um barco com remadores;
levou o barco para o porto e preparou-o para a longa viagem.
Além disso, dirigiu-se ao palácio e fez que os pretendentes
tivessem muito sono e fossem dormir pela cidade.
Chamou Telêmaco, que fez embarcar suas provisões.
Atena embarcou também e sentou-se atrás. Telêmaco sentou-se
ao lado dela.
Os companheiros desataram as amarras, tomaram seus lugares
e Atena, de verdes olhos, fez soprar um vento favorável, o forte Zéfiro.
Levantaram o mastro e içaram a branca vela, que o vento logo
empurrou, e partiram, deslizando rapidamente em direção a seu
destino.


3
Quando amanheceu, o barco estava chegando a Pilo, onde
Telêmaco e seus companheiros encontraram uma grande festa.
Era muito comum, antigamente, que as pessoas de várias religiões
sacrificassem animais em honra dos deuses. Era uma espécie de
churrasco, só que tinha regras, o jeito de matar os animais, os pedaços
e deviam ser servidos antes, e tudo isso era dedicado aos deuses.
Pois eles encontraram uma festa dessas logo na praia.
O rei do lugar chamava-se Nestor e estava lá, presidindo à festa.
Telêmaco e Atena dirigiram-se a Nestor, apresentaram-se e o
rapaz explicou que estava ali para conseguir notícias de Ulisses.
Nestor contou a Telêmaco que, mesmo depois da guerra de Tróia
terminar, os gregos tiveram problemas para voltar às suas cidades, pois
Agamenon, comandante dos guerreiros, e Menelau, seu irmão, tinham
opiniões diferentes quanto à volta. Isso causou muitos incidentes, de
maneira que ele, Nestor, perdeu Ulisses de vista e não sabia informar se
ele teria já voltado.
De toda forma, Nestor, sem desconfiar que Mentor fosse na
verdade Palas Atena, desejou a Telêmaco que Atena o protegesse como
tinha protegido seu pai. Recomendou-lhe que voltasse para casa, para
que não acontecesse com ele o que tinha acontecido na casa de
Agamenon, assassinado por sua própria esposa e seu cúmplice Egisto.
Em todo caso, deu-lhe ainda um conselho: ir à Lacedemônia, o outro
nome de Esparta, encontrar Menelau, na esperança de que ele tivesse
notícias de Ulisses.
Na manhã seguinte Nestor, que finalmente havia reconhecido
Atena, ofereceu a ela grande sacrifício de uma novilha com os chifres
cobertos de ouro.
Então, forneceu a Telêmaco um carro com os melhores cavalos
atrelados e mantimentos para a viagem. Seu próprio filho acompanhou
Telêmaco, que, sem mais demora, iniciou a viagem à Lacedemônia, em
busca de Menelau.

4
Quando os dois rapazes chegaram ao palácio do rei de Esparta,
havia uma grande festa: era o casamento dos dois filhos de Menelau.
Foram recebidos com muita consideração, como era costume,
sem que ninguém lhes perguntasse nem mesmo seus nomes.
Mas, durante a conversa, Menelau começou a contar fatos da
guerra de Tróia, e citou, com muita amizade, o nome de Ulisses.
Telêmaco ficou comovido e enxugou os olhos no manto.
Helena, a rainha de Esparta, observava os hóspedes e
desconfiou que aquele rapaz fosse o filho de Ulisses.
Pisístrato, o filho de Nestor, confessou que aquele era mesmo
Telêmaco, e contou que o rapaz tinha vindo ver Menelau a fim de se
aconselhar com ele, já que a situação em Ítaca estava muito
complicada. Além disso, eles queriam saber se Menelau tinha notícias
de Ulisses.
Todos se entristeceram por pensar na infelicidade de Ulisses,
que não conseguia voltar para casa, mas então Helena começou a
contar que, durante a guerra, Ulisses'uma vez tinha se vestido de
mendigo e tinha conseguido entrar em Tróia. Ela, Helena, o havia
reconhecido e acolhido em sua casa. E Ulisses tinha lhe contado seu
plano de trazer o cavalo de madeira para dentro das muralhas.
E então Menelau lembrou que, quando os gregos estavam dentro
do cavalo de madeira, puderam ouvir a voz de Helena, que de fora
chamava por eles. Assim, conversando e contando histórias, todos se
acalmaram e foram dormir.
Só no dia seguinte é que Menelau interrogou Telêmaco sobre ó
motivo de sua visita.
O rapaz contou a ele tudo o que estava acontecendo em Ítaca, e
pediu-lhe que dissesse a verdade sobre Ulisses, se o tinha visto morrer
ou se sabia que ele estava vivo.
Menelau indignou-se com a atitude dos pretendentes e jurou
que diria toda a verdade sobre Ulisses.
Contou então que, quando estava voltando para casa, também
tinha tido dificuldades, pois os deuses o haviam retido por diversas
vezes.
Uma dessas vezes tinha sido na ilha de Faros, onde os deuses o
retiveram negando-lhe ventos favoráveis para a partida. Teve ocasião,
então, de falar com um ancião do mar, Proteu, servo de Poseidon.
Proteu lhe revelou que Ulisses estava vivo, retido na ilha da ninfa
Calipso, sem navio e sem companheiros, sem poder voltar ao mar.
Enquanto isso, em Ítaca, os pretendentes continuavam suas
pilhagens, suas brincadeiras e seus jogos. Então Frônio, que havia
emprestado a nau a Telêmaco, apareceu no palácio, sem suspeitar que
os pretendentes não sabiam da viagem de Telêmaco, e lhes perguntou
quando o rapaz voltaria.
Antínoo e Eurímaco, que de certa forma chefiavam o grupo,
ficaram furiosos, porque não tinham consentido na viagem.
Planejaram então preparar um navio e armar uma cilada para
quando Telêmaco voltasse. Entretanto, um arauto fiel a Penélope
escutou toda a conversa e contou à rainha o que estava sendo tramado.
Penélope também não sabia da viagem de Telêmaco e ficou
desesperada. Mas Euricléia, a escrava, fez que ela rezasse a Palas Atena
e pedisse proteção para seu filho. Penélope adormeceu e a deusa
mandou-lhe um sonho para acalmá-la.

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