segunda-feira, 4 de julho de 2011

Eclipse - Capítulos 16 ao 20

16. Época

"Eu não tenho nada pra vestir!", eu gemí pra mim mesma.
Todos os ítens de roupa que eu tinha estavam espalhados em cima da minha cama; as minhas gavetas e armários estavam vazios. Eu encarei os recessos vazios, desejando que alguma coisa que servisse aparecesse.
A minha saia khaki estava estendida nas costas da cadeira de balanço, esperando que eu encontrasse alguma coisa que combinasse perfeitamente bem com ela. Alguma coisa que me fizesse parecer linda e adulta. Alguma coisa que dissesse ocasião especial. Eu estava ficando vazia.
Já estava quase na hora de ir, e eu ainda estava usando o meu moleton velho favorito. A não ser que eu conseguisse encontrar alguma coisa melhor lá - e as chances não eram boas até esse ponto - eu ia me formar usando eles.
Eu fiz uma careta para a pilha de roupas em cima da minha cama.
O problema é que eu sabia exatamente o que eu usaria se ela ainda estivesse disponível - a minha blusa vermelha sequestrada. Eu soquei a parede com a minha mão boa.
"Vampiro estúpido, ladrão, chato!", eu rosnei.
"O que foi que eu fiz?", Alice quis saber.
Ela estava encostada casualmente ao lado da janela aberta como se tivesse estado lá o tempo todo.
"Toc, toc", ela acrescentou com um sorriso.
"Será que realmente é tão difícil esperar que eu abra a porta?"
Ela jogou uma caixa branca, plana, em cima da cama. "Eu estou só de passagem. Eu achei que você podia precisar de alguma coisa pra vestir".
Eu olhei para o pacote grande que estava em cima da minha pilha de roupas insatisfatórias, e fiz uma careta.
"Admita", Alice disse. "Eu sou uma salvadora".
"Você é uma salvadora", eu murmurei. "Obrigada".
"Bem, é legal entender uma coisa certa só pra variar. Você não sabe o quanto é irritante - perder as coisas do jeito que eu tenho perdido. Eu me sinto tão inútil. Tão... normal". Ela estremeceu de horror com a palavra.
"Eu nem posso imaginar o quanto isso seria horrível. Ser normal? Ugh".
Ela riu. "Bem, pelos menos isso ajeita as coisas por eu não ter visto o seu ladrão chato - agora eu só tenho que descobrir o que eu não estou vendo em Seattle".
Quando ela disse as palavras assim - colocando duas situações juntas em uma frase -bem aí eu tive um clique. A coisa elusiva que esteve me incomodando por dias, a conexão importante que eu não conseguia ligar, ficou clara de repente. Eu encarei ela, meu rosto ficou congelado com qualquer que fosse a expressão que já estava lá.
"Você não vai abrir?", ela perguntou. Ela suspirou quando eu não me moví imediatamente, e retirou ela mesma o topo da caixa. Ela puxou alguma coisa lá de dentro e segurou, mas eu não conseguí me concentrar no que era. "Bonito, você não acha? Eu escolhí azul, porque eu sei que é a cor favorita de Edward em você".
Eu não estava ouvindo.
"É o mesmo", eu sussurrei.
"É o que?", ela quis saber. "Você não tem nada parecido com isso. Pra falar a verdade, você só tem uma saia!"
"Não, Alice! Esqueça as roupas, escute!"
"Você não gostou?" o rosto de Alice ficou nublado de desapontamento.
"Alice, escute, você não consegue ver? É o mesmo! O mesmo que invadiu e roubou as minhas coisas, e os vampiros de Seattle. Eles estão juntos!"
As roupas escapuliram dos dedos dela e caíram de volta na caixa.
Alice se concentrou agora, a voz dela estava afiada de repente. "Porque você acha isso?"
"Lembra do que Edward disse? Sobre alguém estar usando os buracos das suas visões pra evitar que você visse os recém-nascidos? E também o que você disse antes, sobre o timing ser perfeito demais - o quanto o meu ladrão havia sido cuidadoso pra não entrar em contato, como se ele soubesse que você ia ver isso. Eu acho que você estava certa, Alice, eu acho que ele sabia. Eu também acho que ele estava usando os buracos. E quais são as chances de duas pessoas não apenas saberem disso, mas também decidirem agir ao mesmo tempo? Sem chance. É uma pessoa só. A mesma pessoa. A pessoa que está criando o exército é a pessoa que roubou o meu cheiro".
Alice não estava acostumada a ser pega de surpresa. Ela congelou, e ficou imóvel por tanto tempo que eu comecei a contar na minha cabeça enquanto esperava. Ela não se moveu por dois minutos inteiros. Aí os olhos dela se refocaram em mim.
"Você está certa", ela disse com um tom superficial. "É claro que você está certa. E quando você coloca as coisas desse jeito..."
"Edward entendeu errado", eu sussurrei. "Isso era um teste... pra ver se daria certo. Se ele podia entrar e sair em segurança contanto que ele não fizesse nada que você estava esperando pra ver. Como tentar me matar... E ele não levou as minhas coisas pra provar que tinha me encontrado. Ele roubou o meu cheiro... pra que outros pudessem me encontrar".
Os olhos dela estavam arregalados com o choque. Eu estava certa, e eu podia ver que ela sabia isso também.
"Oh, não", ela fez com a boca.
Eu já nem esperava mais que as minhas emoções fizessem sentido. Enquanto eu processava o fato de que alguém havia criado um exército de vampiros - o exército que matou horrivelmente dezenas de pessoas em Seattle - com o propósito expresso de me destruir, eu sentí um espasmo de alívio.
Parte disso era dissolver aquele sentimento irritante de que eu estava perdendo algo vital.
Mas a maior parte era uma coisa completamente diferente.
"Bem", eu sussurrei, "Todo mundo pode relaxar. Ninguém está tentando eliminar os Cullen no final das contas".
"Se você pensa que alguma coisa mudou, você está absolutamente enganada", Alice disse por entre os dentes. "Se alguém quer uma de nós, vai ter passar por cima de todos nós pra chegar até ela".
"Obrigada, Alice. Mas pelo menos nós já sabemos de quem eles realmente estão atrás. Isso deve ajudar".
"Talvez", ela murmurou. Ela começou a andar pra frente e pra trás pelo meu quarto.
Thud, thud - um pulso bateu na porta.
Eu pulei. Alice nem pareceu reparar.
"Você não está pronta ainda? Nós vamos nos atrasar!" Charlie reclamou, parecendo nervoso.
Charlie odiava ocasiões quase tanto quanto eu. Nesse caso, muito do problema tinha a ver com me vestir.
"Quase. Me dê um minuto", eu disse roucamente.
Ele ficou quieto por meio segundo. "Você está chorando".
"Não. Eu estou nervosa. Vá embora".
Eu ouví ele descendo as escadas.
"Eu tenho que ir". Alice sussurrou.
"Porque?"
"Edward está vindo. Se ele ouvir isso..."
"Vá, vá!" eu apressei imediatamente. Edward ia pirar quando soubesse. Eu não podia esconder dele por muito tempo, mas talvez a cerimônia de formatura não fosse a melhor hora para a reação dele.
"Vista isso", Alice comandou enquanto saia pela janela.
E eu fiz o que ela dizia, me vestindo em meio a uma névoa.
Eu estive plenanejando fazer alguma coisa mais sofisticada com o meu cabelo, mas eu estava sem tempo, então ele ficou liso e chato como em qualquer outro dia. Isso não importava. Eu não me importei em olhar para o espelho, então eu não fazia idéia de como o suéter e a saia de Alice estavam em mim. Isso também não importava. Eu joguei o robe horrorozo de formatura de poliéster amarelo por cima do braço e corrí escadas à baixo.
"Você está bonita" Charlie disse, já abobalhado com alguma emoção suprimida. "Isso é novo?"
"É", eu murmurei, tentando me concentrar. "Alice me deu. Obrigada".
Edward chegou apenas alguns minutos depois que a irmã dele foi embora. Isso não foi tempo suficiente pra que eu colocasse uma fachada calma. Mas, já que íamos na viatura com Charlie, ele não teve chance de me perguntar o que havia de errado.
Charlie ficou teimoso na semana passada quando ele descobriu que eu pretendia pegar uma carona com Edward para a cerimônia de formatura. E eu entendia o ponto dele - pais deviam ter alguns direitos nos dias de formatura. Eu concedí de boa vontade, e Edward sugeriu alegremente que nós deviamos ir todos juntos. Já que Carlisle e Esme não tinham problema nenhum com isso, Charlie não pôde inventar uma objeção convincente; ele concordou de má vontade.
E agora Edward estava no banco de trás do carro de polícia do meu pai, atrás do vidro de fibra, com uma expressão divertida - provavelmente devida a expressão divertida do meu pai, e do sorriso que se abria no rosto de Charlie toda vez que Charlie olhava pra Edward pelo espelho retrovisor. O que certamente significava que Charlie estava imaginando coisas que iam fazê-lo ter problemas comigo se ele as dissesse em voz alta.
"Você está bem?" Edward sussurrou quando ele me ajudou a sair do banco da frente no estacionamento da escola.
"Nervosa", eu respondí, e isso nem era uma mentira.
"Você está tão linda", ele disse.
Ele parecia estar querendo dizer mais, mas Charlie, em uma manobra óbvia que ele pretendia fazer com que fosse subta, se meteu no meio de nós dois e passou o braço pelos meus ombros.
"Você está excitada?", ele me perguntou.
"Na verdade não", eu admití.
"Bella, esse é um negócio grande. Você está se formando no colegial. Esse agora é o mundo real pra você. Faculdade. Morar sozinha... Você não é mais a minha garotinha".
Charlie engasgou um pouco no final.
"Pai", eu gemí. "Por favor não fique choramingando em cima de mim".
"Quem está choramingando?", ele rosnou. "Agora, porque você não está excitada?"
"Eu não sei, pai. Eu acho que a ficha ainda não caiu ou algo assim".
"É bom que Alice esteja dando uma festa. Você precisa de alguma coisa pra te animar".
"Claro. Uma festa é exatamente o que eu preciso".
Charlie riu com o meu tom e apertou os meus ombros. Edward olhou para as nuvens, o rosto dele estava pensativo.
O meu pai teve que nos deixar na porta de trás do ginásio e arrodear pela entrada principal como os outros pais.
Estava um pandemônio enquanto a Sra. Cope do escritório da frente e o Sr. Varner o professor de Matemática tentavam colocar todo mundo em uma linha na ordem alfabética.
"Para a frente, Sr. Cullen", o Sr. Varner rosnou.
"Ei, Bella!"
Eu olhei pra cima pra ver Jessica Stanley acenando pra mim no final da linha com um sorriso no rosto.
Edward me beijou rapidamente, suspirou, e foi ficar onde os C's estavam. Alice não estava lá. O que ela ia fazer? Perder a formatura? Que timing pobre que eu tinha. Eu devia ter esperado pra solucionar as coisas quando isso tudo já estivesse acabado.
"Aqui, Bella!" Jessica chamou de novo.
Eu caminhei pela fila pra tomar meu lugar atrás de Jessica, um pouco curiosa pra saber porque ela estava tão amigável de repente. Quando eu cheguei mais perto, eu ví Angela cinco pessoas atrás, observando Jessica com a mesma curiosidade.
Jess já estava tagarelando antes que eu estivesse no campo de audição.
"... tão incrível. Quer dizer, perece que acabamos de nos conhecer, e agora estamos nos formando juntas", ela botou pra fora. "Dá pra acreditar que está acabado? Eu estou com vontade de gritar!"
"Eu também", eu murmurei.
"Isso tudo é tão incrível. Você se lembra do seu primeiro dia aqui? Nós ficamos amigas, tipo, imediatamente. Desde a primeira vez que a gente se viu. Incrível. Agora eu vou para a Califórnia e você vai estar no Alaska e eu vou sentir tanto a sua falta! Você tem que prometer que a gente vai se encontrar de vez em quando! Eu estou tão feliz porque vamos ter uma festa. Isso é perfeito. Porque nós realmente não ficamos muito juntas a algum tempo e agora estamos indo embora..."
Ela tagarelou e tagarelou, e eu tinha certeza de que o retorno repentino da amizade era por causa da nostalgia da formatura e por causa do convite para a festa, não que eu tivesse alguma coisa a ver com isso. Eu prestei tanta atenção quanto podia enquanto entrava no meu robe. E eu descobrí que estava feliz que as coisas pudessem acabar em bons termos com Jessica.
Porque as coisas estavam acabando, não importava o que Eric, o discussor, tivesse a dizer sobre começo significar "início" e todo o resto daquelas bobagens tão usadas.
Talvez eu mais do que para o resto, mas todos nós estavam deixando alguma coisa pra trás hoje.
Tudo acabou tão rápido. Eu me sentí como se tivesse apertado o botão de "passar".
Era pra estarmos todos andando tão rápido? E aí Eric estava falando velozmente com o seu nervosismo, as palavras e as frases estavam correndo juntas até que elas já não faziam mais sentido. O Diretor Greene começou a chamar nomes, um depois do outro sem tempo suficiente pra uma pausa entre eles; a linha da frente do ginásio estava se apressando pra acompanhar. A pobre Sra. Cope estava toda atrapalhada enquanto tentava dar os diplomas certos ao diretor que ia ser entregue ao estudante certo.
Eu observei enquanto Alice, aparecendo de repente, dançou até o palco pra pegar o dela, um olhar de profunda concentração em seu rosto. Edward seguiu atrás dela, com a expressão confusa, mas não aborrecida. Somente eles dois podiam andar por aí usando aquele amarelo odioso e ainda assim ficarem daquele jeito. Eles se destacavam do resto da multidão, com sua beleza e graça além desse mundo. Eu me perguntei como eu havia caído na farça dele de serem humanos. Um par de anjos, lá de pé com suas asas intactas, seriam menos suspeitos.
Eu ouví o Sr. Greene chamar o meu nome e me levantei, esperando que a fila na minha frente se movesse. Eu estava consciente dos aplausos no fundo do ginásio, e me virei pra ver Jacob colocando Charlie de pé, eles dois estavam gritando pra me encorajar. Eu só conseguí ver o topo da cabeça de Billy embaixo do cotovelo de Jacob. Eu conseguí jogar pra eles a aproximação de um sorriso.
O Sr. Greene terminou com a lista de nomes, e depois continuou a nos dar os nossos diplomas com um sorriso envergonhado enquanto passávamos.
"Parabéns, Senhorita Stanley", ele murmurou enquanto Jess pegou o dela.
"Parabéns, Senhorita Swan", ele murmurou pra mim, pressionando o diploma na minha mão boa.
"Obrigada", eu murmurei.
E isso foi tudo.
Eu fui ficar ao lado de Jessica junto com os outros estudantes. Jess estava toda vermelha ao redor dos olhos, e ela ficava limpando os olhos com a manga do robe o tempo inteiro. Eu levei um segundo pra entender que ela estava chorando.
O Sr. Greene disse alguma coisa que eu não ouví, e todo mundo ao meu redor começou a gritar. Começaram a chover chapéus amarelos. Eu tirei o meu, tarde demais, e só deixei ele cair no chão.
"Oh, Bella!" Jess falou por cima dos rumores repentinos de conversa. "Eu não acredito que acabamos."
"Eu não acredito que esteja tudo acabado", eu murmurei.
Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço. "Você tem que me prometer que não vamos perder o contato".
Eu abracei ela de volta, me sentindo estranha enquanto despistava o pedido dela. "Eu estou tão feliz, sabe, Jessica. Foram dois bons anos".
"Foram", ela suspirou, e fungou. E aí ela deixou os braços caírem. "Lauren!" ela esguichou, acenando por cima da cabeça e empurrando a massa de roupas amarelas. As famílias estavam começando a se juntar, se apertando com força uns aos outros.
Eu dei uma olhada em Angela e Ben, mas eles estavam cercados por suas famílias. Seria bom dar os parabéns a eles.
Eu virei a minha cabeça, procurando por Alice.
"Parabéns", Edward cochichou no meu ouvido, os braços dele passando pela minha cintura. A voz dele estava subjulgada; ele não estava com pressa de me ver atingir esse marco em particular.
"Um, obrigada".
"Parece que você ainda não superou os nervos", ele reparou.
"Ainda não".
"O que mais te preocupa? A festa? Não vai ser tão horrível".
"Provavelmente você está certo".
"Por quem você está procurando?"
A minha procura não era tão subta quanto eu pensava. "Alice - onde ela está?"
"Ela saiu correndo assim que pegou o diploma dela".
A voz dele tomou um novo tom. Eu olhei pra cima pra ver a expressão confusa dele enquanto ele olhava na direção das portas de trás do ginásio, e eu tomei uma decisão impulsiva - o tipo de coisa na qual eu devia pensar duas vezes antes de fazer, mas reramente pensava.
"Você está preocupado com Alice?", eu perguntei.
"Er..." ele não queria responder a isso.
"O que ela estava pensando afinal? Quer dizer, pra te manter do lado de fora".
Os olhos dele desceram para o meu rosto, e se estreitaram com suspeita. "Ela estava traduzindo o Hino de Batalha da República pra Árabe, na verdade. Quando ela acabou com isso, ela passou para a linguagem dos sinais Coreana".
Eu rí nervosamente. "Eu acho que isso manteria a cabeça dela ocupada o suficiente".
"Você sabe o que ela estava escondendo de mim", ele acusou.
"Claro", eu disse com um sorriso fraco. "Fui eu que inventei isso tudo".
Ele esperou, confuso.
Eu olhei ao redor. Charlie devia estar à caminho no meio da multidão agora.
"Conhecendo Alice", eu disse apressadamente. "provavelmente ela está tentando esconder isso de você até o final da festa. Mas já que eu estou a fim de que a festa seja cancelada - bem, não fique frenético, não importa o que acontecer, tudo bem? É sempre melhor saber o máximo que for possível. Isso tem que ajudar de alguma forma".
"Do que você está falando?"
Eu ví a cabeça de Charlie aparecer por cima das outras enquanto ele procurava por mim. Ele me viu e acenou.
"Só fique calmo, tudo bem?"
Ela balançou a cabeça uma vez, a boca dele era uma linha fina.
Em sussurros apressados, eu expliquei meu raciocínio pra ele. "Eu acho que você está errado que diz que as coisas estão vindo pra nós de todos os lados. Eu acho que a maioria está vindo de um lado... e eu acho que está vindo atrás de mim, na verdade. Tudo está conectado, tem de estar. É apenas uma pessoa que está confundindo as visões de Alice. O estranho no meu quarto era um teste, pra ver se alguém desconfiaria dela. Essa tem que ser a mesma pessoa que continua mudando de idéia, e os recém-nascidos, e roubando as minhas roupas - tudo isso vai junto. O meu cheiro é pra eles".
O rosto dele ficou tão branco que eu tive dificuldade em terminar.
"Mas ninguém está vindo por vocês, você não vê? Isso é bom - Esme e Alice e Carlisle, ninguém quer machucar eles!"
Os olhos dele estavam enormes, arregalados de pânico, ofuscados e horrorizados. Ele podia ver que eu estava certa, assim como Alice tinha visto.
Eu pus a minha mão na bochecha dele. "Calma", eu implorei.
"Bella!", Charlie sorriu de felicidade, empurrando as famílias apertadas pelo caminho.
"Parabéns, bebê!" Ele ainda estava gritando, mesmo estando bem no meu ouvido agora. Ele passou os braços ao meu redor, empurrando Edward levemente de lado quando fez isso.
"Obrigada", eu murmurei, preocupada com a expressão no rosto de Edward. Ele ainda não tinha restabelecido o controle. As mãos dele estavam meio estendidas pra mim, como se ele estivesse prestes a me agarrar e sair correndo. Estando apenas um pouco mais sob controle do que ele estava, sair correndo não parecia ser uma idéia tão terrível pra mim.
"Jacob e Billy tiveram que ir embora - você viu que eles estavam aqui?" Charlie perguntou, dando um passo pra trás, mas deixando suas mãos nos meus ombros. Ele estava de costas pra Edward - provavelmente um esforço pra excluí-lo, mas no momento isso estava bem. A boca de Edward estava aberta, os olhos dele ainda arregalados de medo.
"É", eu assegurei o meu pai, tentando prestar atenção suficiente. "E ouví eles também".
"Foi legal da parte deles aparecer", Charlie disse.
"Mm-hmm"
Tudo bem, então dizer pra Edward não foi uma boa idéia. Alice estava certa por ter mantido seus pensamentos nublados. Eu devia ter esperado até que estivéssemos sozinhos em algum lugar, talvez com o resto da família dele. E perto de nada que fosse quebrável - como janelas... ou carros... prédios escolares. O rosto dele trouxe de volta todo o meu medo e um pouco mais. A expressão dele agora estava além do medo - era fúria pura que estava visível nas feições dele.
"Então, onde você quer jantar?", Charlie perguntou. "O céu é o limite".
"Eu posso cozinhar".
"Não seja boba. Você quer ir ao Lodge?", ele perguntou com um sorriso ansioso.
Eu não gostava particularmente do restaurante favorito de Charlie, mas, nesse ponto, qual era a diferença? Eu não ia conseguir comer do mesmo jeito.
"Claro, o Lodge, legal", eu disse.
Charlie deu um sorriso maior, e depois suspirou.
Ele virou a cabeça meio na direção de Edward, sem realmente olhar pra ele.
"Você vem também, Edward?"
Eu encarei ele, meus olhos estavam pedintes. Edward arrumou a sua expressão bem antes de Charlie se virar pra ver porque não havia recebido uma resposta.
"Não, obrigado", Edward disse ríspidamente, seu rosto duro e frio.
"Você tem planos com seus pais?", Charlie perguntou, com uma careta no rosto. Edward sempre foi mais educado do que Charlie merecia; essa hostilidade repentina o surpreendeu.
"Sim. Se você me der licença...", Edward se virou abruptamente e foi embora por entre a multidão que diminuía.
"O que foi que eu disse?" Charlie perguntou com uma expressão de culpa.
"Não se preocupe com isso, pai", eu o assegurei. "Eu não acho que seja você".
"Vocês dois brigaram de novo?"
"Ninguém está brigando. Cuide dos seus assuntos".
"Você é meu assunto".
Eu revirei meus olhos. "Vamos comer".
O Lodge estava lotado. O lugar era, na minha opinião, caro e de baixa qualidade, mas era a única coisa aproximada de um restaurante formal que havia na cidade, então era popular pra eventos. Eu olhei bobamente pra uma cabeça de alce empalhada e com um olhar deprimido enquanto Charlie comia costelas no prato principal e olhava por trás do seu assento para os pais de Tyler Crowley. Estava barulhento - todo mundo havia ido pra lá depois da formatura, e a maioria deles estava fofocando entre os corredores e por cima das cabines, como Charlie.
Eu estava de costas para as janelas da frente, e resistí a vontade de me virar e olhar para os olhos que eu sentia cravados em mim agora. Eu sabia que não seria capaz de ver nada. Assim como sabia que não tinha chance dele me deixar desprotegida, mesmo que por um segundo. Não depois disso.
O jantar foi uma droga. Charlie, ocupado se socializando, comeu devagar demais. Eu mexí com o meu hamburger, enfiando pedaçoes dele no meu guardanapo quando eu tinha que a atenção dele estava em outro lugar.
Tudo isso pareceu levar um longo tempo, mas quando eu olhei pra o relógio - o que eu fazia mais do que o necessário - os ponteiros não haviam de movido muito.
Finalmente Charlie recebeu seu troco de volta e colocou uma gorjeta na mesa. Eu levantei.
"Com pressa?", ele me perguntou.
"Eu quero ajudar Alice a arrumar as coisas", eu disse.
"Tudo bem", ele se virou de costas pra mim pra dizer boa noite a todo mundo. Eu fui pra fora pra esperar perto da viatura.
Eu me encostei na porta do passageiro, esperando que Charlie se arrastasse pra fora da festa improvisada. Estava quase escuro no estacionamento, as nuvens estavam tão grossas que era impossível dizer se o sol havia se posto ou não. O ar estava pesado, como se estivesse prestes a chover.
Alguma coisa se moveu entre as sombras.
A minha falta de ar se transformou em alívio quando Edward apareceu na escuridão.
Sem uma palavra, ele me apertou com força contra seu peito. Uma mão fria encontrou o meu queixo, e ele puxou o meu rosto pra cima pra poder pressionar seus lábios com força nos meus. Eu podia sentir a tensão na mandíbula dele.
"Como você está?", eu perguntei, assim que ele me deixou respirar.
"Não muito bem", ele murmurou. "Mas eu me controlo. Eu lamento por ter perdido a cabeça lá atrás".
"Foi minha culpa. Eu devia ter esperado pra te contar."
"Não", ele discordou. "Isso é uma coisa que eu precisava saber. Eu não consigo acreditar que não tinha visto isso!"
"Você tem muita coisa na cabeça".
"E você não tem?"
De repente ele me beijou de novo, sem me deixar responder. Ele se afastou depois de apenas um segundo. "Charlie está vindo".
"Eu vou deixar ele em casa"
"Eu te sigo até lá".
"Isso realmente não é necessário", eu tentei dizer, mas ele já tinha ido embora.
"Bella?", Charlie chamou da porta do restaurante, tentando enxergar na escuridão.
"Eu estou aqui".
Charlie entrou no carro, murmurando sobre impaciência.
"Então, como você se sente?", ele perguntou enquanto dirigia para o norte em direção à estrada. "Esse foi um grande dia".
"Eu estou bem", eu mentí.
Ele riu, olhando através de mim com facilidade. "Preocupada com a festa?", ele adivinhou.
"É", eu mentí de novo.
Dessa vez ele não percebeu. "Você nunca gostou de festas".
"Eu me perguntou de onde foi que eu peguei isso", eu murmurei.
Charlie gargalhou. "Bem, você realmente está bonita. Eu queria ter pensado em te comprar alguma coisa. Desculpa".
"Não seja bobo, pai".
"Não é bobagem. Eu sinto que eu não faço sempre por você o que devia fazer".
"Isso é ridículo. Você faz um trabalho fantástico. O melhor pai do mundo. E..." Não era fácil falar sobre sentimentos com Charlie, mas eu continuei depois de limpar minha garganta. "E eu realmente estou feliz por ter vindo morar com você, pai. Foi a melhor idéia que eu já tive. Então, não se preocupe - você só está experimentando o pessimismo pós-formatura."
Ele roncou. "Talvez. Mas eu tenho certeza que escorreguei em alguns lugares. Quer dizer, olha a sua mão!"
Eu olhei pra baixo vaziamente para as minhas mãos. A minha mão estava descansando levemente na tipóia sobre a qual eu raramente pensava. A minha mão quebrada já não doía tanto.
"Eu nunca pensei que precisava te ensinar a dar um soco. Eu acho que estava errado sobre isso".
"Você não estava do lado de Jacob?"
"Não importa de que lado eu estou. Se alguém te beija sem a sua permissão, você devia esclarecer os seus sentimentos sem se machucar. Você não deixou o polegar dentro do seu pulso, deixou?"
"Não, pai. Isso é muito doce de uma maneira esquisita, mas eu não acho que as suas aulas teriam ajudado. A cabeça de Jacob é muito dura".
Charlie riu. "Da próxima vez bata no estômago dele".
"Da próxima vez?", eu perguntei incredulamente.
"Aw, não seja tão dura com o garoto. Ele é jovem".
"Ele é um idiota".
"Ele ainda é seu amigo".
"Eu sei", eu suspirei. "Eu realmente não sei a coisa certa a fazer aqui, pai".
Charlie balançou a cabeça lentamente.
"É. A coisa certa nem sempre é óbvia. As vezes a coisa certa pra uma pessoa é a coisa errada pra outra pessoa. Então... boa sorte tentando descobrir isso".
"Obrigada", eu murmurei secamente.
Charlie riu de novo, e depois fez uma careta. "Se essa festa ficar selvagem demais..." ele começou.
"Não se preocupe com isso, pai. Carlisle e Esme estarão lá. Eu tenho certeza que você pode vir também, se quiser".
Charlie fez uma careta enquanto olhava para a noite através do pára-brisa. Charlie gostava tanto de uma boa festa quanto eu.
"Onde é a curva, de novo?", ele perguntou. "Eles devem ter limpado a entrada deles - é impossível encontrar no escuro".
"Bem ao redor da próxima curva, eu acho", eu torcí os lábios. "Sabe, você está certo - é impossível encontrar. Alice disse que colocou um mapa nos convites, mas mesmo assim, talvez todo mundo se perca". Eu fiquei levemente alegre com a idéia.
"Talvez", Charlie disse quando a estrada virou para o leste. "Talvez não".
A escuridão de veludo negro desaparecia à frente, bem onde a entrada dos Cullen devia ser. Alguém havia prendido milhares de pequenas luzes nas árvores de ambos os lados. Era impossível não ver.
"Alice", eu disse amargamente.
"Uau", Charlie disse enquanto nós viramos na entrada. As suas árvores na entrada eram as únicas que não estavam iluminadas. A cerca de um vinte metros, outra baliza iluminada nos guiava em direção à grande casa branca. Em todo o caminho - todos os três metros do caminho.
"Ela não faz as coisas pela metade, faz?" Charlie murmurou deslumbrado.
"Tem certeza que você não quer entrar?"
"Extremamente certo. Se divirta, guria".
"Muito obrigada, pai"
Ele estava rindo pra sí mesmo enquanto eu saía e fechava a porta. Eu observei ele ir embora, ainda sorrindo. Com um suspiro, eu marchei escadas à cima para suportar a minha festa.

17. Aliança

"Bella?"
A voz suave de Edward veio por trás de mim. Eu me virei pra ver ele saltando levemente os degraus da varanda e o cabelo dele estava assanhado com o vento da corrida. Ele me puxou pros seus braços imediatamente, exatamente como ele havia feito no estacionamento, e me beijou de novo.
Esse beijo me assustou. Havia muita tensão, uma linha muito forte na forma como os seus lábios apertavam os meus - como se ele estivesse com medo de que não tivéssemos mais muito tempo pra nós.
Eu não podia me deixar pensar nisso. Não se eu ia ter que agir como humana pelas próximas horas. Eu me afastei dele.
"Vamos acabar logo com essa festa estúpida", eu murmurei, sem encontrar os olhos dele.
Ele colocou as mãos em ambos os lados do meu rosto, esperando até que eu olhei pra cima.
"Eu não vou deixar nada acontecer com você".
Eu toquei os lábios dele com os dedos da minha mão boa. "Eu não estou tão preocupada comigo mesma".
"Porque eu não estou tão surpreso com isso?", ele murmurou pra si mesmo. Ele respirou fundo, e depois sorriu um pouco.
"Pronta pra celebrar?", ele perguntou.
Eu rosnei.
Ele segurou a porta pra mim, mantendo seu braço seguramente ao redor da minha cintura. Eu fiquei lá congelada por um minuto, depois eu balancei minha cabeça lentamente.
"Inacreditável".
Edward ergueu os ombros. "Alice sempre será Alice".
O interior da casa dos Cullen havia se transformado em uma boate - daquele tipo que não existe na vida real, só na TV.
"Edward!", Alice chamou do lado de um auto-falante gigante. "Eu preciso do seu conselho" Ela fez um gesto para uma torre de CD's empilhados. "Nós devemos dar a eles o familiar e reconfortante? Ou" - ela fez um gesto para pilha uma pilha diferente - "educar o gosto deles pra música?"
"Mantenha reconfortante", Edward recomendou. "Você só pode guiar o cavalo até a água".
Alice balançou a cabeça seriamente, e começou a jogar os CD's educacionais em uma caixa. Eu reparei que ela havia trocado de roupa e estava usando um top e uma calça de couro vermelha.
A pele nua dela reagia estranhamente às luzes pulsantes vermelhas e roxas.
"Eu acho que estou desarrumada"
"Você está perfeita", Edward disse.
"Você consegue", Alice emendou.
"Obrigada", eu suspirei. "Você acha mesmo que as pessoas vão vir?" Qualquer um podia ouvir a esperança na minha voz. Alice fez uma cara pra mim.
"Todo mundo vai vir", Edward respondeu. "Todos estão morrendo pra ver o interior da casa dos mistérios dos reclusos Cullen".
"Fabuloso", eu gemí.
Não havia nada que eu pudesse fazer pra ajudar. Eu duvidava que - mesmo quando eu não precisasse mais dormir e me movesse em uma velocidade muito maior - eu fosse capaz de fazer alguma coisa do jeito que Alice fazia.
Edward se recusou a me soltar por um segundo, me arrastando junto dele enquanto ele caçava Jasper e Carlisle pra contar a eles sobre a minha epifânia. Eu escutei horrorizada em silêncio enquanto ele descutiam o seu ataque ao exército de Seattle. Eu podia notar que Jasper não estava feliz com os números, mas eles não haviam sido capazes de entrar em contato com ninguém além da família desinteressada de Tânia. Jasper não tentou esconder o seu desespero como Edward teria feito. Era fácil reparar que ele não gostava de apostar quando os riscos eram tão grandes.
Eu não podia ficar pra trás, esperando e rezando pra que eles voltassem pra casa. Eu não faria isso. Eu enlouqueceria.
A campainha da porta tocou.
Tudo de uma vez, tudo ficou surrealmente normal. Um sorriso perfeito, genuíno e cálido, tomou o lugar do estresse no rosto de Carlisle. Alice aumentou o volume da música, e dançou pra ir atender a porta.
Era um Suburban lotado com os meus amigos, que estavam nervosos ou intimidados demais pra chegarem sozinhos. Jessica era a primeira na porta, com Mike bem atrás dela. Tyler, Conner, Austin, Lee, Samantha... e até Lauren que chegou por último, com seus olhos críticos iluminados de curiosidade. Todos eles estavam curiosos, e depois ficaram dominados quando viram a enorme sala decorada como uma rave chique.
A sala não estava vazia; todos os Cullen haviam tomado seus lugares, prontos pra colocarem seus disfarces humanos de sempre. Hoje a noite eu estava sentindo que estava atuando tanto quanto eles.
Eu fui falar com Jess e Mike, esperando que o tom na minha voz parecesse o tipo certo de excitação. Antes que eu pudesse falar com mais alguém, a campainha tocou de novo. Eu deixei Angela e Ben entrarem, deixando a porta aberta, porque Eric e Katie estavam quase nos degraus.
Eu não tive outra chance de entrar em pânico. Eu tinha que falar com todo mundo, concentrada em estar animada, uma anfitriã. Apesar da festa ter sido taxada como um evento de comemoração pra Alice, Edward, e eu, não haviam dúvidas de que eu era o alvo mais popular pra as parabenizações e os agradecimentos. Talvez porque os Cullen pareciam um pouco errados embaixo das luzes da festa de Alice. Talvez porque as luzes deixavam a sala obscura e misteriosa. Essa não era uma atmosfera que fazia um humano normal se sentir relaxado ao lado de alguém como Emmett. Eu ví Emmett dar um sorriso malicioso pra Mike por cima da mesa de comidas, as luzes vermelhas cintilando nos dentes dele, e observei quando Mike deu um passo involuntário pra trás.
Talvez Alice tenha feito isso de propósito, pra me forçar a ser o centro das atenções - um lugar do qual ela achava que eu devia gostar mais. Ela estava eternamente tentando me fazer ser humana do jeito como ela achava que humanos deveriam ser.
A festa claramente era um sucesso, apesar do resguardo instintivo por causa da presença dos Cullen - ou talvez isso apenas aderisse mais emoção à atmosfera. A música era contagiante, as luzes eram quase hipnóticas. Pelo jeito que a comida havia desaparecido, ela deve ter estado boa também. Logo, a sala estava lotada, apesar de nunca ficar claustrofóbica. A classe inteira dos último-anistas parecia estar lá, junto com a maioria dos calouros.
Os corpos se mexiam de acordo com a batida que vibrava embaixo das solas dos pés deles, a festa estava constantemente no ponto de virar um baile.
Não foi tão difícil quanto eu pensei que seria. Eu seguí a liderança de Alice, me misturando e conversando por um segundo com todo mundo. Eles pareceram suficientemente fáceis de agradar. Eu tinha certeza de que essa festa era de longe bem mais legal do que qualquer outra coisa que a cidade de Forks já tenha experimentado antes. Alice estava quase ronronando - ninguém por aqui esqueceria essa noite.
Eu circulei a sala uma vez, e voltei pra Jessica. Ela tagarelou excitadamente, e não era necessário prestar muita atenção, porque as chances eram de que eu não precisaria responder a ela muito cedo. Edward estava ao meu lado - se recusando a se separar de mim. Ele manteve uma mão seguramente na minha cintura, me puxando mais pra perto de vez em quando em respostas a pensamentos que eu provavelmente não ia querer ouvir.
Então, eu fiquei imediatamente suspeita quando ele retirou o braço e se afastou de mim.
"Fique aqui", ele murmurou pra mim. "Eu volto já".
Ele passou graciosamente pela multidão sem parecer sequer encostar em nenhum dos corpos apertados, e foi embora rápido demais pra que eu tivesse tempo de perguntar porque ele estava indo embora. Eu olhei pra ele com os olhos apertados enquanto Jessica gritava ansiosamente por cima da música, segurando o meu cotovelo, sem se dar conta da minha distração.
Eu observei ele quando ele se aproximou da sombra grande ao lado da porta da cozinha, onde as luzes só iluminavam fracamente. Ele estava se inclinando na direção de alguém, mas eu não conseguia ver por cima das cabeças entre nós.
Eu me coloquei na ponta dos pés, esticando o pescoço. Bem aí, uma luz passou pelas costas dele e cintilou nos cequins vermelhos da camiseta de Alice. As luzes só tocaram o rosto dela por um segundo, mas isso foi suficiente.
"Me dê licença por um minuto, Jess", eu murmurei, puxando meu braço.
Eu não parei pra ver a reação dela, nem pra ver se eu havia machucado os sentimentos dela com a minha abruptidão.
Eu abri o meu caminho entre os corpos, sendo um pouco empurrada. Algumas pessoas estavam dançando agora. Eu me apressei até a porta da cozinha.
Edward tinha sumido, mas Alice ainda estava na escuridão, seu rosto vazio - o tipo de olhar inexpressivo que você vê no rosto de alguém que acabou de testemunhar um acidente horrível. Uma das mãos dela estavam agarrando o arco da porta, como se ela precisasse de apoio.
"O que, Alice, o que? O que você viu?" As minhas mãos estavam entrelaçadas na minha frente - implorando.
Ela não olhou pra mim, ela estava olhando em outra direção. Eu segui o olhar dela e ví quando ela encontrou o olhar de Edward do outro lado da sala. O rosto dele estava vazio como uma pedra. Ele se virou e desapareceu nas sombras embaixo da escada.
Bem aí a campainha tocou, horas depois da última vez, e Alice olhou pra cima com uma expressão confusa que se transformou rapidamente em uma de desgosto.
"Quem convidou o lobisomem?", ela me apertou.
Eu fiz uma carranca. "Culpada".
Eu pensei ter desfeito esse convite - não que eu tenha imaginado que Jacob viria aqui, de qualquer jeito.
"Bem, você vá tomar conta deles, então. Eu tenho que falar com Carlisle".
"Não, Alice, espere!" eu tentei agarrar o braço dela, mas ela já tinha ido embora e a minha mão só agarrou o ar vazio.
"Maldição!", eu rosnei.
Eu sabia que era isso. Alice tinha visto aquilo pelo que ela esteve esperando, e honestamente eu não aguentei segurar o suspense por tempo suficiente pra atender a porta. A campainha da porta tocou de novo, por tempo demais, alguém estava segurando o botão. Eu me virei de costas para a porta resolutamente, e procurei na escuridão da sala por Alice.
Eu não conseguia ver nada. Eu comecei a me empurrar para a escada.
"Ei, Bella!".
A voz profunda de Jacob pegou uma pausa na música, e eu olhei pra cima mesmo sem querer ao som do meu nome.
Eu fiz uma cara.
Não era apenas um lobisomem, eram três. Jacob se deu permissão pra entrar, acompanhado em cada um dos lados por Quil e Embry. Eles dois pareciam horrivelmente tensos, os olhos deles passavam pela sala como se eles tivessem acabado de entrar em uma cripta assombrada. A mão tremendo de Embry ainda estava segurando a porta, o corpo dele estava meio preparado pra sair correndo.
Jacob estava acenando pra mim, mais calmo que os outros, apesar do nariz dele estar enrugado de desgosto. Eu acenei de volta - dizendo adeus - e me virei pra procurar por Alice. Eu me apertei no espaço entre as costas de Conner e Lauren.
Ele apareceu do nada, a mão dele estava no meu ombro me puxando de volta na direção das sombras da cozinha. Eu me afastei dele, mas ele agarrou o meu pulso bom e me afastou da multidão.
"Recepção amigável", ele notou.
Eu soltei a minha mão e fiz uma carranca pra ele. "O que você está fazendoaqui?"
"Você me convidou, lembra?"
"No meu caso do meu soco de direita ter sido subto demais pra você, me deixe traduzir: aquela era eu desconvidando você".
"Não seja má esportista. Eu te trouxe um presente de formatura e tudo".
Eu cruzei os meus braços no peito. Eu não queria briga com Jacob agora. Eu queria saber o que Alice tinha visto e o que Edward e Carlisle estavam dizendo sobre isso. Eu desviei a minha cabeça ao redor de Jacob, procurando por eles.
"Leve de volta para a loja, Jake. Eu tenho que fazer uma coisa..."
Ele ficou na frente da minha linha de visão, exigindo minha atenção.
"Eu não posso devolver. Eu não peguei numa loja - eu mesmo fiz. E também me levou bastante tempo".
Eu me inclinei ao redor dele de novo, mas eu não podia ver nenhum dos Cullen. Pra onde eles haviam ido? Os meus olhos procuraram pela sala escurecida.
"Oh, vamos, Bell. Não finja que eu não estou aqui!"
"Eu não estou", eu não podia vê-los em lugar nenhum. "Olha, Jake, eu tenho muita coisa na minha cabeça agora".
Ele colocou a mão embaixo do meu queixo e puxou meu rosto pra cima.
"Será que eu posso por favor ter alguns minutos de sua inteira atenção, Senhorita Swan?"
Eu me afastei do toque dele. "Mantenha as suas mãos pra sí mesmo, Jacob", eu assobiei.
"Desculpa!", ele disse imediatamente, levantando as mãos em redenção. "Eu realmente lamento. Também, eu falo do outro dia. Eu não devia ter te beijado daquele jeito. Eu estava errado. Eu acho... bem, eu acho que me iludí pensando que você queria que eu fizesse aquilo".
"Iludido - que descrição perfeita!"
"Seja boazinha. Você podia aceitar as minhas desculpas, sabe".
"Tá. Desculpas aceitas. Agora, se você me der licensa por um momento..."
"Ok", ele murmurou, voz dele estava tão diferente de antes que eu deixei de procurar por Alice pra estudar o rosto dele. Ele estava olhando pra o chão, escondendo os olhos. O lábio inferior dele estava só um pouquinho pra fora.
"Eu acho que você prefere estar com os seus amigos de verdade", ele disse com o mesmo tom abatido. "Eu entendo".
Eu rosnei. "Aw, Jake, você sabe que isso não é justo".
"Sei?"
"Você devia", eu me inclinei para a frente, me esticando, tentando olhar nos olhos dele. Ai ele olhou pra cima, por cima da minha cabeça, evitando o meu olhar.
"Jake?"
Ele se recusou a olhar pra mim.
"Ei, você disse que tinha feito alguma coisa pra mim, certo?", eu perguntei. "Aquilo era só conversa? Onde está o meu presente?"
A minha tentativa de fingir entusiasmo era bem triste, mas deu certo. Ele revirou os olhos e fez uma careta pra mim.
Eu mantive o fingimento barato, segurando a minha mão aberta na minha frente. "Eu estou esperando".
"Certo", ele murmurou sarcasticamente. Mas ele também enfiou a mão no bolso de trás do seu jeans e puxou um saquinho de um material folgado, com um tecido multi-colorido. Ele estava amarrado com uma tira de couro. Ele colocou na minha palma.
"Ei, isso é bonito, Jake. Obrigada!"
Ele suspirou. "O presente está dentro, Bella"
"Oh".
Eu tive alguns problemas com as amarras.
Ele suspirou de novo e o tomou de mim, abrindo as amarras com facilidade apenas deslizando a corda certa. Eu levantei minha mão pra pegá-lo, mas ele virou o saquinho de cabeça pra baixo e balançou alguma coisa de prata nas minhas mãos. Os metais tilitaram baixinho uns contra os outros.
"Eu não fiz a pulseira", ele admitiu. "Só o pingente".
Agarrado a uma das pontas da pulseira de prata estava uma pequena escultura de madeira. Eu a segurei entre os meus dedos pra olhá-lo mais de perto. Havia uma quantidade incrivel de detalhes involvidos na pequena figura - a minuatura de lobo era absolutamente realista. Ela havia sido cravada em alguma madeira marrom avermelhada que combinava com a cor da pele dele.
"É lindo", eu sussurrei. "Você fez isso? Como?"
Ele levantou os ombros. "É uma coisa que Billy me ensinou. Ele é melhor nisso do que eu".
"Isso é difícil de acreditar", eu murmurei, virando o pequeno lobo pra lé e pra cá entre os meus dedos.
"Você gostou mesmo?"
"Sim! É inacreditável, Jake"
Ele sorriu, feliz no início, mas depois a expressão dele ficou azeda. "Bem, eu achei que talvez isso pudesse fazer você lembrar de mim de vez em quando. Você sabe como é, longe da cabeça, longe do coração".
Eu ignorei a atitude. "Aqui, me ajude a colocar"
Eu estendí o meu pulso esquerdo, já que o direito estava enfiado na tipóia. Ele soltou o trinco facilmente, apesar dele parecer delicado demais para o uso dos dedos grandes dele.
"Você vai usar?", ele perguntou.
"É claro que eu vou".
Ele sorriu pra mim - era o sorriso feliz que eu adorava ver ele usar.
Eu só retornei por um momento, mas aí os meus olhos olharam reflexivamente ao redor da sala de novo, procurando ansiosamente pela multidão por um sinal de Edward ou Alice.
"Porque você está tão distraida?", Jacob se perguntou.
"Não é nada", eu mentí, tentando me concentrar. "Obrigada pelo presente, mesmo. Eu amei."
"Bella", as sobrancelhas dele se juntaram, jogando seus olhos profundos em suas sombras. "Alguma coisa está acontecendo, não está?"
"Jake, eu... não, não hà nada".
"Não minta pra mim, você mente muito mal. Você devia me contar o que está acontecendo. Nós queremos saber essas coisas", ele disse, passando pro plural no final.
Provavelmente ele estava certo; os lobos certamente estariam interessados no que estava acontecendo. Só que eu ainda não tinha certeza do que isso era ainda. Eu não saberia com certeza até que eu encontrasse Alice.
"Jacob, eu vou te contar. Só me deixe descobrir o que está acontecendo, ok? Eu preciso falar com Alice".
Compreesão iluminou o rosto dele. "A vidente viu alguma coisa".
"Sim, bem quando você apareceu".
"Isso é sobre o sugador de sangue no seu quarto?", ele murmurou, fazendo seu tom ficar abaixo do som da música.
"É relacionado", eu admití.
Ele processou isso por um minuto, deixando a cabeça inclinar pra o lado enquanto ele lia o meu rosto. "Você sabe de alguma coisa que não está me contando... alguma coisa grande".
Qual era o ponto em mentir de novo? Ele me conhecia bem demais. "Sim".
Jacob me encarou por um breve segundo, e aí se virou pra olhar os olhos dos seus irmãos de bando que ainda estavam na porta, estranhos e desconfortáveis. Quando eles olharam para a expressão dele, eles começaram a se mover, passando agilmente pelos festeiros, quase como se estivessem dançando também. Em meio minuto, eles estavam em cada lado de Jacob, parecendo uma torre sobre mim.
"Agora. Explique", Jacob ordenou.
Embry e Quil olharam pra frente e pra trás entre os nossos rostos, confusos e cautelosos.
"Jacob, eu não sei de tudo", eu continuei procurando na sala, por socorro. Eles tinham me colocando contra a parede, em todos os sentidos.
"O que você sabe, então".
Todos eles cruzaram os braços nos seus peitos ao mesmo tempo. Foi um pouco engraçado, mas era ameaçador.
E aí eu ví Alice descendo as escadas, a sua pele branca brilhando na luz roxa.
"Alice!" eu esguichei, aliviada.
Ela olhou diretamente pra mim quando eu chamei o nome dela, apesar dos baixos altos que deviam ter abafado a minha voz. Eu acenei ansiosamente, e observei o rosto dela quando ela viu os três lobisomens de inclinando na minha direção. Os olhos dela se estreitaram.
Mas, antes dessa reação, o rosto dela estava cheio de estresse e medo. Eu mordí o meu lábio enquanto ela deslizava para o meu lado.
Jacob, Quil e Embry se inclinaram todos pra longe dela com expressões inquietas. Ela colocou uma braço ao redor da minha cintura.
"Eu preciso falar com você", ela murmurou no meu ouvido.
"Er, Jake, eu te vejo depois..." eu murmurei enquanto passavamos por eles.
Jacob jogou seu longo braço pra bloquear o caminho, colocando a mão contra a parede. "Ei, não tão rápido".
Alice encarou ele, os olhos arregalados e incrédulos. "Dá licença?"
"Nos diga o que está acontecendo", ele ordenou com um rugido.
Jasper literalmente apareceu do nada. Em um segundo éramos apenas Alice e eu contra a parede, Jacob bloqueando a nossa saída, e aí Jasper estava de pé ao lado do braço de Jacob, com uma expressão aterrorizadora.
Jacob puxou seu braço de volta lentamente. Esse parecia ser o melhor movimento, levando em consideração que ele queria continuar com aquele braço.
"Nós temos o direito de saber", Jacob murmurou, ainda encarando Alice.
Jasper se meteu entre eles, e os três lobisomens se resguardaram.
"Ei, ei", eu disse, acrescentando uma gargalhada histérica. "Isso é uma festa, lembram?"
Ninguém prestou atenção em mim. Jacob encarava Alice enquanto Jasper encarava Jacob. O rosto de Alice ficou pensativo de repente.
"Está tudo bem, Jasper. Na verdade, ele tem um ponto".
Jasper não relaxou de sua posição.
Eu tinha certeza de que o suspense ia fazer a minha cabeça explodir em cerca de um segundo. "O que você viu, Alice?"
Ela encarou Jacob por um segundo, e se virou pra mim, evidentemente escolhendo deixá-los ouvir.
"A decisão foi tomada".
"Você estão indo pra Seattle?"
"Não".
Eu sentí a cor escapar do meu rosto. Meu estômago girou. "Eles estão vindo pra cá", eu botei pra fora.
Os garotos Quileute observavam em silêncio, observando todas as mudanças inconscientes de emoção nos nossos rostos. Eles estavam enrraizados nos lugar, e mesmo assim não estavam completamente imóveis. Todos os três pares de mãos estavam tremendo.
"Sim".
"Pra Forks", eu sussurrei.
"Sim".
"Para?"
Ela balançou a cabeça, entendendo a minha pergunta. "Um deles estava carregando a sua blusa vermelha".
Eu tentei engolir.
A expressão de Jasper era desaprovadora. Eu podia notar que ela não estava gostando que discutíssemos isso na frente dos lobisomens, mas ele tinha algo mais que ele precisava dizer. "Nós não podemos deixar eles chegarem tão longe. Nós não somos suficientes pra proteger a cidade".
"Eu sei", Alice disse, o rosto dela estava desolado de repente. "Mas não importa onde paremos eles. Nós ainda não somos suficientes, e alguns deles vão vir aqui pra procurar".
"Não!" eu sussurrei.
O som da festa abafou o som da minha negação. Ao redor de nós, os meus amigos e vizinhos e inimigos insignificantes comiam e riam e dançavam com a música, ignorantes para o fato de que eles estavam prestes a encarrar o horror, talvez perigo, talvez morte. Por minha causa.
"Alice", eu fiz seu nome com a boca. "Eu tenho que ir, eu tenho que sair daqui".
"Isso não vai ajudar. Não é como se estivéssemos lidando com um perseguidor. Eles virão aqui pra procurar primeiro".
"Então eu tenho que ir encontrá-los!", se a minha voz não estivesse tão rouca e distorcida, ela poderia ter sido um esgicho. "Se eles acharem o que estão procurando, talvez eles vão embora e não machuquem mais ninguém!"
"Bella!", Alice protestou.
"Espere", Jacob ordenou numa voz baixa, poderosa. "O que está vindo?"
Alice passou seu olhar de gelo pra ele. "Nossa espécie. Muitos deles".
"Porque?"
"Por Bella. Isso é tudo o que sabemos".
"Existem muitos de vocês?", Jacob perguntou.
Jasper bridou.
"Nós temos algumas vantagens, cachorro. Será uma luta justa".
"Não", Jacob disse, um meio sorriso estranho, penetrante se abriu no rosto dele. "Não será justa".
"Excelente!", Alice assobiou.
Eu olhei, congelada de horror, para a nova expressão de Alice. O rosto dela estava vivo com exultação, todo o desespero foi limpo das suas feições perfeitas.
Ela riu maliciosamente pra Jacob, e ele sorriu de volta.
"Tudo desapareceu, é claro", ela disse com uma voz presumida. "Isso é incoveniente, mas, considerando todas as coisas, eu aceito".
"Nós vamos ter que nos coordenar", Jacob disse. "Isso não será fácil pra nós. Mesmo assim, esse é mais o nosso trabalho do que o de vocês".
"Eu não iria tão longe, mas nós precisamos de ajuda. Nós não vamos ficar escolhendo".
"Espere, espere, espere, espere", eu interrompí eles.
Alice estava na ponta dos pés, Jacob estava abaixado se inclinando na direção dela, os rostos dos dois estavam iluminados de excitação, mas os narizes deles estava enrugados por causa do cheiro. Eles olharam pra mim impacientemente.
"Coordenar?", eu repetí por entre meus dentes trincados.
"Você não pensou realmente que poderia nos manter de fora disso?", Jacob perguntou.
"Você vai ficar fora disso."
"A sua vidente diz que não".
"Alice - diga a eles que não!" eu insistí. "Eles vão acabar morrendo!"
Jacob, Quil e Embry todos riram alto.
"Bella", Alice chamou, a voz dela era suave, calmante "separados todos nós vamos acabar morrendo. Juntos -"
"Isso não vai ser problema", Jacob terminou a frase dela. Quil riu de novo.
"Quantos?" Quil perguntou ansiosamente.
"Não!" eu gritei.
Alice nem olhou pra mim. "Isso varia - vinte e um hoje, mas os números estão diminuindo".
"Porque?", Jacob perguntou, curioso.
"Longa história" Alice disse, de repente olhando ao redor da sala. "E esse não é o lugar pra isso".
"Mais tarde essa noite?", Jacob pressionou.
"Sim", Jasper respondeu pra ele. "Nós já estamos planejando um... encontro estratégico. Se vocês vão lutar com a gente, vocês vão precisar de algumas instruções".
Todos os lobos fizeram uma cara de desgosto na última parte.
"Não!", eu gemí.
"Isso vai ser estranho", Jasper disse, pensativo. "Eu nunca considerei trabalhar junto. Essa tem que ser a primeira vez".
"Sem dúvida sobre isso", Jacob concordou. Agora ele estava com pressa. "Nós temos que voltar pra Sam. A que horas?"
"Que horas é tarde demais pra vocês?"
Todos os três reviraram os olhos. "Que horas?", Jacob repetiu.
"Três em ponto?"
"Onde?"
"Cerca de dez milhas ao norte da estação de guarda da Floresta de Hoh. Venham pelo leste e vocês poderão seguir o nosso cheiro até lá".
"Nós estaremos lá".
Eles se viraram pra ir embora.
"Espere, Jake!", eu chamei ele. "Por favor! Não faça isso!"
Ele parou, se virando pra sorrir pra mim, enquanto Quil e Embry seguiam impacientemente para a porta. "Não seja ridícula, Bells. Você está me dando um presente muito melhor do que o que eu te dei".
"Não!", eu gritei de novo. O som de uma guitarra abafou o meu choro.
Ele não respondeu; ele se apressou pra acompanhar os seus amigos, que já tinham ido embora. Eu observei sem poder fazer nada enquanto Jacob desaparecia.

18. Instruções

"Essa tem que ter sido a festa mais longa da história do mundo", eu reclamei no caminho pra casa.
Edward não pareceu discordar. "Está acabado agora", ele disse, esfregando o meu braço de forma calmante.
Porque eu era a única que precisava ser acalmada. Edward estava bem agora - todos os Cullen estavam bem.
Todos eles me reasseguraram; Alice se erguendo pra dar um tapinha na minha cabeça enquanto eu ia embora, olhando Jasper significantemente até que uma onda de paz me rodeou, Esme beijando a minha testa e me prometendo que tudo estava bem, Emmett rindo tumultuosamente e me perguntando porque eu era a única que tinha permissão pra brigar com lobisomens... a solução de Jacob acalmou todos eles, quase eufóricos depois de longas semanas de estresse. A dúvida foi trocada por confiança. A festa havia acabado em um verdadeiro clima de celebração.
Não pra mim.
Já era ruim o suficiente - horrível - que os Cullen teriam que lutar por mim. Já era demais que eu teria que permitir isso. Eu já sentia mais do que eu podia aguentar.
Jacob também não. Não seus irmãos bobos, ansiosos - a maioria deles mais nova do que eu era. Eles só eram muito grandes, crianças muito musculosas, e eles estavam ansiosos com isso como se fosse um piquenique na praia. Eu não podia colocá-los em perigo também. Os meus nervos pareciam estar desfiados e expostos. Eu não sabia por quanto tempo mais eu seria capaz de restringir a vontade de gritar alto.
Eu sussurrava agora, pra manter minha voz sob controle. "Você vai me levar junto essa noite".
"Bella, você está exausta".
"Você acha que eu poderia dormir?"
Ele fez uma careta. "Isso é uma experiência. Eu não estou certo de que será possível pra nós... cooperar. Eu não quero você no meio daquilo".
Como se isso não me fizesse ainda mais ansiosa pra ir. "Se você não me levar, eu vou ligar pra Jacob".
Os olhos dele se estreitaram. Isso era golpe baixo, e eu sabia. Mas não tinha jeito de eu ser deixada pra trás.
Ele não respondeu; estávamos na casa de Charlie agora. A luz da frente estava acesa.
"Te vejo lá em cima", eu murmurei.
Eu fui na porta dos pés até a porta da frente. Charlie estava adormecido na sala de estar, super-populando o sofá pequeno demais, e roncando tão alto que eu podia ter ligado uma serra-elétrica e isso não teria acordado ele.
Eu balancei o ombro dele vigorosamente.
"Pai! Charlie!"
Ele murmurou, ainda com os olhos fechados.
"Eu estou em casa agora - você vai machucar as suas costas dormindo desse jeito. Vamos, hora de se mexer".
Foram precisas mais algumas sacudidas, e os olhos dele nunca se abriram completamente, mas eu conseguí tirar ele do sofá. Eu ajudei ele a ir até a sua cama, onde ele desabou no topo das cebertas, totalmente vestido, e começou a roncar de novo.
Ele não ia procurar por mim tão cedo.
Edward me esperou no meu quarto enquanto eu lavava o meu rosto e colocava um jeans e uma camisa de flanela. Ele me observou infeliz na cadeira de balanço enquanto eu estendia a roupa que Alice havia me dado no armário.
"Venha aqui", eu disse, pegando a mão dele e puxando ele para a minha cama.
Eu puxei ele para a cama e me curvei no peito dele. Talvez ele estivesse certo e eu estivesse cansada suficiente pra dormir. Eu não ia deixar ele escapar sem mim.
Ele colocou a colcha ao meu redor, aí me segurou mais perto.
"Por favor relaxe"
"Claro"
"Isso vai dar certo, Bella. Eu posso sentir".
Os meus dentes travaram.
Ele estava irradiando alívio. Ninguém além de mim se importava se Jacob e seus amigos se machucassem. Nem mesmo Jacob e seus amigos. Especialmente não eles.
Ele podia reparar que eu estava prestes a perder o controle. "Me escute, Bella. Isso vai ser fácil. Os recém-nascidos serão pegos completamente de surpresa. Eles nem sequer terão mais certeza de que os lobisomens podiam existir mais do que você tinha. Eu já ví como eles agem em grupos, pelo jeito que Jasper se lembra. Eu realmente acredito que as técnicas de caça dos lobisomens vão funcionar perfeitamente contra eles".
"E com eles divididos e confusos, eles não serão suficientes pra lidar com o resto de nós. Alguém vai ter que ficar descansando", ele zombou.
"Uma moleza", eu murmurei sem tom contra o peito dele.
"Shhhh", ele alisou a minha bochecha. "Você vai ver. Não se preocupe agora".
Ele começou a sofejar a minha canção de ninar, mas, pela primeira vez, ela não me acalmou.
Pessoas - bem, na verdade, vampiros e lobisomens, na verdade, mas mesmo assim - pessoas que eu amava iam se machucar. Se machucar por minha causa. De novo. Eu queria que a minha falta de sorte focasse um pouco mais cuidadosamente. Eu tinha vontade de gritar para o céu vazio: sou eu que você quer - bem aqui! Só eu!
Eu pensei em uma forma de fazer exatamente isso - forçar a minha falta de sorte a focar apenas em mim. Não ia ser fácil. Eu teria que esperar, contar o meu tempo...
Eu não caí no sono. Os minutos se passaram rapidamente, para a minha surpresa, e eu ainda estava alerta quando Edward puxou nós dois em uma posição sentada.
"Você tem certeza que não quer ficar e dormir?"
Eu dei um olhar amargo pra ele.
Ele suspirou, e me pegou nos braços antes de pular pela minha janela.
Ele correu pela floresta quieta, escura, comigo em suas costas, e mesmo na corrida dele eu sentia a elação. Ele estava correndo como fazia quando éramos só nós, só por diversão, só pra sentir o vento no cabelo dele. Esse era o tipo de coisas que, em tempos de menos ansiosidade, teria me deixado muito feliz.
Quando nós chegamos no grande campo aberto, a família dele estava lá, conversando casualmente, relaxada. A risada estrondosa de Emmett ecoava no espaço largo de vez em quando. Edward me colocou no chão e nós caminhamos de mãos dadas na direção deles.
Me levou um minuto, porque estava escuro demais com as nuvens escondidas atrás das nuvens, mas eu me dei conta de que estávamos na clareira de baseball. Era o mesmo lugar onde, mais de um ano atrás, aquela tarde tranquila com os Cullen havia sido interrompida por James e seu grupo.
Era estranho estar aqui de novo - como se essa cena não estivesse completa até que James e Laurent e Victoria se juntassem a nós. Mas James e Laurent não iam voltar nunca mais. O padrão não ia mais se repetir. Talvez todos os padrões estivessem quebrados.
Sim, alguém havia quebrado os padrões deles. Seria possível que os Volturi fossem os flexíveis nessa equação?
Eu duvidava.
Victoria sempre pareceu ser uma força da natureza pra mim - como um furacão se movendo em direção à costa em linha reta - inevitável, implacável, mas previsível. Talvez fosse errado limitá-la dessa forma. Ela tinha de ser capaz de se adaptar.
"Sabe o que eu penso?", eu perguntei a Edward.
Ele riu. "Não"
Eu quase sorrí.
"O que você pensa?"
"Eu acho que está tudo conectado. Não apenas dois, mas todos os três".
"Eu estou perdido".
"Três coisas ruins aconteceram desde que você voltou", eu as contei nos meus dedos.
"Os recém-nascidos em Seattle. O estranho no meu quarto. E - primeiro de tudo - Victoria voltou pra me procurar".
Os olhos dele se estreitaram quanto ele pensou nisso. "Porque você acha isso?"
"Porque eu concordo com Jasper - os Volturi amam as regras deles. Provavelmente eles fariam um trabalho melhor, de qualquer jeito". E eu já estaria morta se eles me quisessem morta, eu acrescentei mentalmente. "Lembra de quando você estava caçando a Victoria no ano passado?"
"Sim", ele fez uma careta. "Eu não fui muito bom nisso".
"Alice disse que você estava no Texas. Você a seguiu até lá?"
As sobrancelhas dele se juntaram. "Sim. Hmm..."
"Veja - ela pode ter tido a idéia lá. Mas ela não sabe o que está fazendo, então os recém-nascidos estão fora de controle.
Ele começou a balançar a cabeça. "Somente Aro sabe como as visões de Alice funcionam".
"Aro sabia melhor, mas será que Tânia e Irina e o resto dos seus amigos de Denali não sabiam o suficiente?"
"Laurent viveu com eles durante muito tempo. E ele ainda estava amigado o suficiente com Victoria pra fazer favores pra ela, porque ele também não podia ter dito a ela tudo o que sabia?"
Edward fez uma careta. "Não era Victoria no seu quarto".
"Ela não pode fazer amigos novos? Pense nisso, Edward. Se for Victoria fazendo isso em Seattle, ela fez um monte de amigos novos. Ela os criou".
Ele considerou isso, a testa dele enrugada de concentração.
"Hmm", ele disse finalmente. "É possível. Eu ainda acho que é mais provavel que sejam os Volturi... Mas a sua teoria - tem alguma coisa aí. A personalidade de Victória. A sua teoria combina perfeitamente com ela. Ela demonstrou um talento extraordinário por auto-preservação desde o início - talvez seja o dom dela. Em qualquer caso, esse plano não a colocaria me perigo com todos nós, se ela se sentasse seguramente nos fundos e deixasse que os recém-nascidos criassem um caos lá. E talvez pouco risco por parte dos Volturi também. Talvez ela esteja contando com que a gente ganhe, no final, apesar de que certamente isso não seria sem suas casualidades pra nós mesmo. Mas não haveriam sobreviventes em seu pequeno exército pra testemunhar contra ela. De fato", ele continuou, pensando nisso, "se houvessem sobreviventes, eu aposto que ela mesma está planejando destruí-los... Hmm. Ainda assim, ela teria que ter pelo menos um amigo com mais maturidade. Nenhum recém-nascido fresco deixa o seu pai vivo..."
Ele fez uma careta para o espaço por um momento, e depois de repente ele sorriu pra mim, voltando de seu devaneio. "Definitivamente possível. De qualquer maneira, nós temos que estar preparedos pra qualquer coisa até termos certeza. Você está muito perceptiva hoje", ele adicionou. "É impressionante".
Eu suspirei. "Talvez eu só esteja reagindo a esse lugar. Ele me faz sentir como se ela estivesse por perto... como se ela estivesse me vendo agora".
Os músculos da mandíbula dele ficaram tensos com a idéia. "Ela nunca vai tocar você, Bella", ele disse.
Apesar das palavras dele, seus olhos passaram cuidadosamente pelas árvores escuras. Enquanto ele vasculhava suas sombras, a expressão mais estranha passou pelo rosto dele. Ele puxou seus lábios pra cima de seus dentes e os olhos dele brilharam com uma luz estranha - uma esperança selvagem, feroz.
"Mesmo assim, o que eu não daria pra ter ela tão perto", ele murmurou. "Victoria e qualquer outra pessoa que tenha pensado em machucar você. Ter a chance de acabar com isso eu mesmo. Acabar com isso com as minhas próprias mãos dessa vez".
Eu estremecí com a vontade feroz na voz dele, e apertei os dedos dele com mais força entre os meus, desejando ser forte o suficiente pra fechar as nossas mãos juntas permanentemente.
Nós estávamos quase perto da família dele, e eu percebí pela primeira vez que Alice não parecia tão otimista quanto o resto deles. Ela estava um pouco de lado, observando Jasper esticar os braços como se estivesse se aquecendo pra um exercício, os lábios dela estavam fazendo biquinho.
"Hà algo errado com Alice?", eu sussurrei.
Edward gargalhou, era ele mesmo de novo. "Os lobisomens estão a caminho, então ela não pode ver o que vai acontecer agora. Ela fica desconfortável por estar cega".
Alice, apesar de ser a mais distante de nós, ouviu a voz baixa dele. Ela olhou pra cima e mostrou a língua pra ele. Ele riu de novo.
"Ei, Edward", Emmett saudou ele. "Ei, Bella. Ele vai deixar você praticar também?"
Edward rosnou pra o irmão dele. "Por favor, Emmett, não fique dando idéias a ela".
"Quando os nossos convidados vão chegar?" Carlisle perguntou a Edward.
Edward se concentrou por um momento, e depois suspirou. "Um minuto e meio. Mas eu vou ter que traduzir. Eles não confiam em nós o suficiente pra usarem suas formas humanas".
Carlisle balançou a cabeça. "É difícil pra eles. Eu estou grato por eles estarem todos vindo".
Eu encarei Edward, meus olhos se abriram muito. "Eles vão vir como lobos?"
Ele balançou a cabeça, tomando cuidado com a minha reação.
Eu engolí uma vez, me lembrando das duas vezes que eu havia visto Jacob em sua forma de lobo - a primeira vez na clareira com Laurent, a segunda vez na estrada da floresta onde Paul ficou com raiva de mim... as duas eram memórias de terror.
Um brilho estranho apareceu nos olhos de Edward, como se alguma coisa tivesse acabado de ocorrer a ele, alguma coisa que não era nem um pouco agradavel. Ele se virou rapidamente, antes que eu pudesse ver mais, de volta pra Carlisle e os outros.
"Preparem-se - eles estão esperando por nós".
"O que você quer dizer?", Alice quis saber.
"Shh", ele precaviu, e olhou por cima dela para a escuridão.
O círculo informal dos Cullen se abriu de repente, formando uma linha solta, com Jasper e Emmett em cada ponta. Pelo jeito que Edward se inclinava pra frente ao meu lado, eu podia dizer que ele queria estar lá com eles. Eu apertei a minha mão na dele.
Eu olhei na direção da floresta, sem ver nada.
"Droga", Emmett disse por baixo do fôlego. "Vocês já viram uma coisa como essas?"
Esme e Rosalie trocaram um olhar arregalado.
"O que é?", eu sussurrei tão baixo quanto pude. "Eu não consigo ver".
"O bando cresceu", Edward murmurou no meu ouvido.
Eu não havia dito a ele que Quil havia se juntado ao bando? Eu me estiquei pra ver seis lobos na escuridão. Finalmente, alguma coisa brilhou no escuro - os olhos deles, mais altos do que deveriam ser. Eu tinha me esquecido do quanto os lobos eram altos. Como cavalos, só que mais grossos com os músculos e com os pêlos - e os dentes como facas, impossíveis de não ver.
Eu só podia ver os olhos. E enquanto eu procurava, me esforçando pra ver mais, me ocorreu que haviam mais de seis pares de olhos nos encarando. Um, dois, três... Eu contei os pares rapidamente na minha cabeça. O dobro.
Haviam dez deles.
"Fascinante", Edward murmurou quase silenciosamente.
Carlisle seu um passo lento, deliberadamente para a frente. Foi um movimento cuidadoso, designado pra reassegurar.
"Bem vindos", ele saudou os lobisomens invisíveis.
"Obrigado", Edward respondeu num tom estranho, vazio, e eu me dei conta imediatamente que as palavras vinham de Sam. Eu olhei para os olhos brilhando no centro da linha, o mais à frente, o mais alto de todos eles. Era impossível separar o formato do grande lobo negro da escuridão.
Edward falou de novo com a mesma voz destacada, falando as palavras de Sam. "Nós vamos observar e escutar, mas nada mais. Isso é o máximo que vocês podem pedir do nosso auto-controle".
"Isso é mais do que suficiente", Carlisle respondeu. " Meu filho, Jasper" - ele fez um gesto pra onde Jasper estava, tenso e pronto -" tem experiência nessa área. Ele irá nos ensinar como eles lutam, como eles devem ser derrotados. Eu tenho certeza de que vocês podem continuar com o seu próprio estilo de caça".
"Eles são diferentes de vocês?" Edward perguntou pra Sam.
Carlisle balançou a cabeça. "Eles são todos muito novos - têm apenas meses nessa vida. Crianças, de certa forma. Eles não terão habilidades e nem estratégia, apenas força bruta. Essa noite o número deles é de vinte. Dez pra nós, dez pra vocês - não deve ser difícil. Os números podem cair. Os novos brigam entre sí".
Um estrondo passou pela linha sombria dos lobos, uma baixo murmurio de rosnados que de alguma forma parecia entusiasmado.
"Nós estamos dispostos a ter mais na nossa metade, se for necessário", Edward traduziu. O tom dele agora estava indiferente.
Carlisle sorriu. "Nós veremos como as coisas vão".
"Vocês sabem quando e como eles vão chegar?"
"Eles virão pelas montanhas daqui a quatro dias, tarde da manhã. Enquanto eles se aproximam, Alice nos ajudará a interceptar o caminho deles".
"Obrigado pela informação. Nós vamos observar".
Com um som de suspiro, os olhos foram mais pra perto do chão um de cada vez.
Tudo ficou em silêncio por duas batidas de coração, e aí Jasper deu um passo até o espaço vazio entre os vampiros e os lobos.
Não foi difícil pra mim ver ele - a pele dele era tão clara contra a escuridão quanto os olhos dos lobos. Jasper lançou um olhar cauteloso na direção de Edward, que balançou a cabeça, e aí Jasper virou suas costas para os lobisomens. Ele suspirou, claramente desconfortável.
"Carlisle está certo", Jasper falou apenas pra nós; ele pareceu estar tentando ignorar a platéia atrás dele. "Eles irão lutar como crianças. As duas coisas mais importantes que vocês precisam lembrar são, primeiro, não deixem eles passaram os braços ao redor de vocês e, segundo, não tente matar de forma óbvia. É pra isso que eles estão preparados. Contanto que vocês os peguem pelos lados e continuem se movendo, eles ficaram confusos e responderão efetivamente. Emmett?"
Emmett saiu da linha com um enorme sorriso.
Jasper foi para a direção norte da abertura entre as duas linhas inimigas. Ele acenou que Emmett viesse pra frente.
"Ok, Emmett primeiro. Ele é o melhor exemplo de um ataque de recém-nascido".
Os olhos de Emmett se estreitaram. "Eu vou tentar não quebrar nada", ele murmurou.
Jasper riu maliciosamente. "O que eu quis dizer é que Emmett confia em sua força. Ele é muito ansioso em relação ao ataque. Os recém-nascidos também não vão tentar nada subto. Vá com a forma de morte mais fácil, Emmett".
Jasper retrocedeu mais alguns passos, o corpo dele ficando tenso.
"Ok, Emmett - tente me pegar".
Eu não conseguí mais ver Jasper - ele era como um vulto enquanto Emmett partiu pra cima dele como um urso, sorrindo enquanto rosnava. Emmett era impossívelmente rápido também, mas não como Jasper. Não parecia que Jasper tinha mais substância do que um fantasma - toda vez que parecia que as mãos de Emmett tinham agarrado ele com certeza, os dedos de Emmett apertavam nada além de ar. Ao meu lado, Edward se inclinou pra frente atentamente, os olhos dele presos na luta. Aí Emmett congelou.
Jasper agarrou ele por trás, com os dentes a apenas alguns centímetros de seu pescoço.
Emmett xingou.

Houve um rosnado de apreciação entre os lobos que estavam assistindo.
"De novo", Emmett insistiu, o sorriso dele tinha desaparecido.
"É a minha vez", Edward protestou. Os meus dedos ficaram tensos ao redor dos dele.
"Em um minuto", Jasper sorriu, dando um passo pra trás. "Primeiro eu quero mostrar uma coisa pra Bella".
Eu observei com olhos ansiosos enquanto ele fazia um gesto pra Alice se aproximar.
"Eu sei que você se preocupa com ela", ele explicou enquanto ela dançava despreocupadamente na arena. "Eu quero te mostrar porque isso não é necessário".
Apesar de eu saber que Jasper jamais permitiria que alguma coisa machucasse Alice, ainda assim era difícil olhar enquanto ele entrava em posição novamente encarando ela. Alice ficou imóvel, parecendo uma bonequinha depois de Emmett, sorrindo pra sí mesma. Jasper se moveu pra frente, e aí escorregou pela esquerda dela.
Alice fechou os olhos.
O meu coração batia descompassadamente enquanto Jasper investia na direção de Alice.
Jasper saltou, desaparecendo. De repente, ele estava do outro lado de Alice. Ela nem parecia ter se movido.
Jasper se virou e se lançou pra cima dela novamente, só pra cair em um espaço atrás dela como da primeira vez; todo o tempo Alice ficou sorrindo com os olhos fechados.
Eu observei Alice mais cuidadosamente agora.
Ela estava se movendo - só que eu estava perdendo isso, distraída pelos ataques de Jasper. Ela deu um passo pra frente no exato momento em que o corpo de Jasper passava voando pelo lugar onde ela havia acabado de estar. Ela deu outro passo, enquanto as mãos de Jasper agarravam o ar no lugar onde a cintura dela havia estado.
Jasper fechou o espaço, e Alice começou a se mover mais rápido. Ela estava dançando - fazendo espirais e rodopiando e se curvando em sí mesma. Jasper era o seu parceiro, se lançando, alcançando os padrões graciosos dela, sem nunca tocá-la, como se todos os momentos fossem coreografados. Finalmente, Alice riu.
Do nada, ela estava agarrada nas costas de Jasper, com os lábios no pescoço dele.
"Te peguei", ela disse, e beijou a garganta dele.
Jasper gargalhou, balançando a cabeça. "Você realmente é um monstrinho assustador".
Os lobos murmuraram de novo. Dessa vez o som era cauteloso.
"Isso é bom pra eles aprenderem a ter algum respeito", Edward murmurou, divertido. Aí ele falou mais alto, "Minha vez."
Ele apertou minha mão antes de soltá-la.
Alice veio tomar o lugar dele ao meu lado. "Legal, hein?", ela me perguntou presumidamente.
"Muito", eu concordei, sem tirar os olhos de Edward enquanto ele se movia sem nenhum ruído em direção a Jasper, os movimentos dele eram leves e observadores como os de um gato selvagem.
"Eu estou de olho em você, Bella", ela sussurrou de repente, a voz dela estava tão baixa que eu mal conseguí ouvir, apesar dos lábios dela estarem no meu ouvido.
O meu olhar passou pra ela e depois voltou pra Edward. Ele estava atento em Jasper, os dois estavam se encarando enquanto ele fechava a distância.
A expressão de Alice estava cheia de repreensão.
"Eu vou avisar ele se os seus planos ficarem mais definidos", ela ameaçou com o mesmo murmúrio baixo. "Não vai ajudar em nada se você se colocar em perigo. Você acha que algum deles desistiria se você morresse? Eles ainda iriam lutar, todos nós iríamos. Você não pode mudar nada, então, seja boazinha, tudo bem?"
Eu fiz uma careta, tentando ignorar ela.
"Eu estou de olho", ela repetiu.
Edward havia fechado o espaço de Jasper agora, e essa luta era mais justa do que as outras. Jasper tinha um século de experiência pra guiá-lo, e ele tentava se guiar apenas nos instintos sempre que podia, mas os pensamentos dele sempre o traíam uma fração de segundo antes que ele agisse. Edward era um pouco mais rápido, mas os movimentos que Jasper usava eram desconhecidos pra ele. Eles vinham pra cima um do outro de novo e de novo, nenhum dos dois conseguia ganhar vantagem, rosnados instintivos surgiam o tempo inteiro. Era difícil de assistir, mas ainda mais difícil de desviar o olhar.
Eles se moviam rápido demais pra que eu údesse entender o que estava acontecendo. De vez em quando, os olhos afiados dos lobos chamavam a minha atenção. Eu tinha a sensação de que os lobos estavam vendo mais disso do que eu - talvez mais do que eles deviam.
Eventualmente, Carlisle limpou sua garganta.
Jasper riu e deu um passo pra trás. Edward ficou ereto e sorriu pra ele.
"De volta ao trabalho", Jasper consentiu. "Todos nós vão ter uma chance".
Todo mundo teve uma vez, Carlisle, depois Rosalie, Esme, e Emmett de novo. Eu pisquei através dos meus cílios, me encolhendo quando Jasper atacou Esme. Esse foi o mais difícil de observar. Aí ele diminuiu a velocidade, ainda não o suficiente pra que eu visse seus movimentos, e deu mais instruções.
"Vocês vêem o que eu estou fazendo aqui?", ele perguntava. "Sim, exatamente assim", ele encorajava. "Se concentrem nos lados. Não se esqueçam de qual será o alvo deles. Continuem se movendo".
Edward estava sempre concentrado, observando e também ouvindo o que os outros não podiam ver.
Ficou mais difícil de observar quando os meus olhos ficaram mais pesados. De qualquer forma, eu não estive dormindo bem ultimamente, e já estavam se aproximando umas sólidas vinte e quatro horas desde que eu havia dormido pela última vez. Eu me inclinei no lado de Edward, e deixei as minhas pálpebras escorregarem.
"Estamos quase acabando", ele sussurrou.
Jasper confirmou isso, se virando na direção dos lobos pela primeira vez, com uma expressão desconfortável de novo. "Nós estaremos fazendo isso amanhã. Por favor sintam-se a vontade de observar de novo".
"Sim" Edward respondeu com a voz tranquila de Sam. "Nós estaremos aqui".
Aí Edward suspirou, deu um tapinha no meu braço, e se afastou de mim. Ele se virou para a família dele.
"O bando acha que ajudaria se eles fossem familiares com cada um dos nossos cheiros - pra que eles não cometam erroa mais tarde. Se nós pudéssemos ficar bem imóveis, isso facilitaria pra eles".
"Certamente", Carlisle disse pra Sam. "O que vocês precisarem".
Houve um rosnado obscuro, gutural do bando de lobos enquanto eles se colocavam de pé.
Os meus olhos ficaram arregalados de novo, a exaustão estava esquecida.
A escuridão profunda da noite estava começando a desaparecer - o sol estava clareando as nuvens, apesar de que ele ainda não havia clareado o horizonte, longe do outro lado da montanha. Enquanto eles se aproximavam, foi possível de repente diferenciar as formas... as cores.
Sam estava no comando, é claro. Inacreditavelmente enorme, tão escuro quanto a meia-noite, um monstro saído direto dos meus pesadelos - literalmente; depois da primeira vez que eu ví Sam e os outros na clareira, eles foram as estrelas principais dos meus pesadelos mais de uma vez.
Agora que eu podia ver todos eles, combinando o tamanho com cara par de olhos, eles pareciam ser mais de dez. O bando era assustador.
Pelo canto do meu olho, eu ví Edward me observando, avaliando cuidadosamente a minha reação.
Sam se aproximou de Carlisle de onde ele estava na frente, o enorme bando estava bem no rabo dele. Jasper enrijeceu, mas Emmett, no outro lado de Carlisle, estava sorrindo e relaxado.
Sam cheirou Carlisle, parecendo estremecer um pouquinho quando o fazia. Aí ele passou pra Jasper.
Os meus olhos correram pela linha cautelosa dos lobos. Eu tinha certeza que podia identificar suas novas adições. Havia um lobo cinza claro que era muito menor que os outros, os pelos na sua nuca se ergueram de desgosto. Havia outro, com cor de areia do deserto, que parecia desengonçado e descoordenado ao lado dos outros.
Um pequeno choramingo escapou do controle do lobo cor de areia quando o avanço de Sam o deixou isolado entre Carlisle e Jasper.
Eu parei no lobo que estava bem atrás de Sam. O pelo dele era marrom-avermelhado e mais longo que os dos outros, mas desarrumado em comparação. Ele era quase tão alto quanto Sam, o segundo maior no grupo. A postura dele era casual, de alguma forma demonstrando indiferença ao que para os outros parecia ser uma provação.
O enorme lobo com pêlo ruivo pareceu sentir o meu olhar, e olhou pra mim com familiares olhos pretos.
Eu o encarei de volta, tentando acreditar no que eu já sabia. Eu podia sentir a maravilha e a fascinação no meu rosto.
A boca do lobo se abriu, mostrando seus dentes. Teriam sido uma expressão assustadora, exceto por a língua dele ter rolado pra fora num sorriso de lobo.
Eu gargalhei.
O sorriso de Jacob aumentou em cima de seus dentes afiados. Ele abandounou seu lugar na fila, ignorando os olhos do bando enquanto eles o seguiam. Ele passou por Edward e por Alice pra ficar a menos de dois metros de distância de mim. Ela parou lá, o olhar dele passando brevemente pra Edward.
Edward ficou imóvel, uma estátua, os olhos dele observando a minha reação.
Jacob se inclinou nas patas da frente e deixou a cabeça cair até que ela não estava mais alta do que a minha, olhando pra mim, medindo a minha reação tanto quanto Edward.
"Jacob?", eu respirei.
A resposta foi um estrondo no fundo do peito dele que pareceu ser uma gargalhada.
Eu levantei a minha mão, meus dedos tremendo um pouco, e toquei o pêlo marrom-avermelhado no lado do rosto dele.
Os olhos pretos se fecharam, e Jacob inclinou sua enorme cabeça na minha mão. Um zumbido trovejante ressoou na garganta dele.
O pêlo era macio e áspero, e quente na minha mão. Eu passei os meus dedos por ele com curiosidade, sentindo a textura, alisando o seu pescoço, onde a textura se aprofundava. Eu não tinha me dado conta do quanto havíamos nos aproximado; sem aviso, Jacob lambeu o meu rosto de repente desde o queixo até a linha do cabelo.
"Eca! Que nojo, Jake!" eu reclamei, pulando pra trás e batendo nele, exatamente como eu teria feito se ele fosse humano. Ele desviou do caminho, e o latido tossido saiu por entre os dentes dele óbviamente era um riso.
Eu limpei o meu rosto com a manga da minha camisa, incapaz de evitar rir dele.
Nesse ponto eu me dei conta de que estavam todos olhando pra nós, os Cullen e os lobisomens - os Cullen com expressões perplexas eu um pouco enojadas. Era difícil ver as expressões dos lobos. Eu achei que Sam não parecia feliz.
E depois havia Edward, nervoso e claramente desapontado. Eu me dei conta de que ele esperava outra reação da minha parte. Como gritar ou sair correndo aterrorizada.
Jacob fez o som de risada de novo.
Os lobos estavam se afastando agora, sem tirar os olhos dos Cullen enquanto iam embora. Jacob ficou ao meu lado, observando eles irem embora. Em breve, eles desapareceram na floresta escura. Apenas dois exitaram perto das árvores, observando Jacob, suas posturas irradiando ansiedade.
Edward suspirou e - ignorando Jacob - veio ficar ao meu lado, pegando a minha mão.
"Pronta pra ir?", ele me perguntou.
Antes que eu pudesse responder, ele estava olhando por cima de mim pra Jacob.
"Eu ainda não entendí os detalhes", ele disse, respondendo à pergunta nos pensamentos de Jacob.
O Jacob-lobo rosnou solenemente.
"É mais complicado que isso", Edward disse. "Não se preocupe; eu vou ter certeza de que é seguro".
"Do que vocês estão falando?", eu quis saber.
"Nós estamos discutindo a estratégia", Edward disse.
A cabeça de Jacob se mexeu pra frente e pra trás, olhando os nossos rostos. Então, de repente, ele saiu correndo para a floresta. Enquanto ele ia embora, eu reparei pela primeira vez em um quadrado de tecido preto dobrado amarrado na sua perna de trás.
"Espere", eu chamei, levantando uma mão automaticamente pra alcansá-lo. Mas ele desapareceu nas árvores em três segundos, com os outros dois lobos acompanhando.
"Porque ele foi embora?", eu perguntei, magoada.
"Ele vai voltar", Edward respondeu. Ele suspirou. "Ele quer ser capaz de falar ele mesmo com você".
Eu observei a beira da floresta por onde Jacob havia desaparecido, me inclinando no lado de Edward. Eu estava a ponto de ter um colapso, mas eu estava lutando.
Jacob apareceu de novo, dessa vez sobre duas pernas.
O peito largo dele estava nú, seu cabelo estava encaracolado e desalinhado. Ele usava um par de calças de moletom, seus pés estavam descalsos no chão frio. Agora ele estava sozinho, mas eu suspeitava que os amigos dele permaneciam nas árvores, invisíveis.
Ele não levou muito tempo pra cruzar o campo, apesar dele ter dado um longo olhar para os Cullen, que estavam silenciosamente em um círculo frouxo.
"Ok, sugador de sangue", Jacob disse quando estava a alguns metros de nós, evidentemente continuando a conversa que eu havia perdido. "O que há de tão complicado nisso?"
"Eu tenho que considerar todas as possibilidades", Edward disse, sem se deixar abalar. "E se alguém for machucado por você?"
Jacob bufou com a ideia. "Tudo bem, então deixe ela na reserva. Nós vamos fazer Collin e Brady ficar pra trás mesmo. Ela vai ficar mais segura lá".
Eu fiz uma carranca. "Vocês estão falando sobre mim?"
"Eu só quero saber o que ele planeja fazer com você durante a luta", Jacob explicou.
"Fazer comigo?"
"Você não pode ficar em Forks, Bella", a voz de Edward era apaziguadora. "Lá eles sabem onde te procurar. E se alguém passasse por nós?"
O meu estômago caiu e o sangue foi drenado do meu rosto. "Charlie?", eu ofeguei.
"Ele vai ficar com Billy", Jacob me assegurou rapidamente. "Se o meu pai tiver que cometer um assassinato pra levá-lo até lá, ele vai fazer isso. Isso tudo provavelmente não será necessário. É sábado, certo? Há um jogo".
"Esse sábado?", eu perguntei, minha cabeça girando. Eu estava com a cabeça leve demais pra controlar os meus pensamentos selvagemente randômicos. Eu fiz uma careta pra Edward. "Bem, que droga! Lá se vai o meu presente de formatura".
Edward riu. "É o pensamento que conta", ele me lembrou. "Você pode dar as entradas a outra pessoa".
A inspiração me veio rapidamente. "Angela e Ben", eu decidí imediatamente. "Pelo menos isso vai tirá-los da cidade".
Ele tocou minha bochecha. "Você não pode evacuar todo mundo", ele disse com uma voz gentil.
"Te esconder é só uma precaução. Eu te disse - agora nós não teremos problemas. Não haverão suficiente deles pra nos manter entretidos".
"Mas e quanto a deixar ela em La Push?", Jacob interrompeu, impaciente.
"Ela ficou pra lá e pra cá demais", Edward disse. "Ela deixou trilhas pelo lugar todo. Alice só vê vampiros muito jovens vindo para a caçada, mas obviamente alguém os criou. Há alguém mais experiente por trás disso. Quem quer que ele" - Edward parou pra olhar pra mim - "ou ela seja, essa poderia ser uma distração. Alice vai ver se ele decidir vir olhar por contra própria, mas nós estaremos muito, muito ocupados na hora que a decisão for tomada. Talvez alguém esteja contando com isso. Ela não posso deixá-la em alguem lugar onde ela esteve frequentemente. Ela tem que ser difícil de achar, só na dúvida. É uma chance pequena, mas eu não vou contar com a sorte".
Eu olhei pra Edward enquanto ele explicava, com a minha testa enrugando. Ele deu um tapinha no meu braço.
"Só sendo muito cuidadoso", ele prometeu.
Jacob fez um gesto para a floresta profunda à leste de nós, para a vasta expansão das Montanhas Olímpicas.
"Então esconda ela lá", ele sugeriu. "Existe um milhão de possibilidades - lugares onde tanto você quanto eu poderemos estar em apenas alguns minutos, se ela precisar".
Edward balançou a cabeça. "O cheiro dela é forte demais e, combinado com o meu, é especialmente distinto. Mesmo se eu levasse ela, isso deixaria uma trilha. Nossa trilha é fora de alcance, mas em conjunção com o cheiro de Bella, chamaria a atenção deles. Nós não temos certeza absoluta de que caminho eles vão tomar, porque eles não sabem disso ainda. Se eles sentissem o cheiro dela antes de nos encontrarem..."
Os dois fizeram caretas ao mesmo tempo, suas sobrancelhas ficando juntas.
"Você entende as dificuldades".
"Deve haver um jeito de fazer isso funcionar", Jacob murmurou. Ele olhou na direção da floresta, torcendo os lábios.
Eu me desequilibrei nos meus pés. Edward passou seu braço pela minha cintura, me trazendo mais pra perto e sustentando o meu peso.
"Eu preciso te levar pra casa - você está exausta. E Charlie vai se acordar logo..."
"Espere um segundo", Jacob disse, se virando de volta pra nós, com os olhos brilhando. "O meu cheiro te incomoda, certo?"
"Hmm, nada mal", Edward já estava dois passos à frente. "É possível". Ele se virou em direção a sua família. "Jasper?", ele chamou.
Jasper olhou pra cima curiosamente. Ele veio até nós com Alice meio passo atrás. O rosto dela estava frustrado de novo.
"Ok, Jacob", Edward balançou a cabeça pra ele.
Jacob se virou pra mim com uma estranha mistura de emoções no rosto. Ele claramente estava excitado por qualquer que fosse o plano dele, mas também aninda estava um pouco intranquilo por ter seus inimigos tão próximos como aliados. E foi minha vez de ser cautelosa quando ele ergueu os braços na minha direção.
Edward respirou fundo.
"Nós vamos ver se conseguimos confundir suficientemente o cheiro pra esconder a sua trilha", Jacob explicou.
Eu olhei para os braços abertos dele suspeitosamente.
"Você vai ter que deixar ele te carregar, Bella", Edward me disse. A voz dele estava calma, mas eu conseguia ouvir o desgosto escondido.
Eu fiz uma careta.
Jacob revirou os olhos, impaciente, e se abaixou pra me agarrar nos seus braços.
"Não seja tão infantil", ele murmurou.
Mas os olhos dele passaram pra Edward, assim como os meus. O rosto de Edward estava composto e suave. Ele falou com Jasper.
"O cheiro de Bella é muito mais potente pra mim - eu pensei que seria um testa mais justo se outra pessoa tentasse".
Jacob deu as costas pra eles e se embrenhou rapidamente na floresta. Eu não disse nada enquanto a escuridão se fechava ao nosso redor. Eu estava fazendo biquinho, desconfortável nos braços de Jacob. Ele parecia íntimo demais de mim - certamente ele não precisava me segurar tão apertado - eu não podia deixar de me perguntar como ele se sentia com isso.
Isso me lembrou da minha última tarde em La Push, e eu não queria lembrar daquilo. Eu cruzei os meus braços, aborrecida quando a tipóia no meu braço intensificou a memória.
Nós não fomos muito longe; ele fez uma volta larga e voltou para a clareira por uma direção diferente, talvez meio campo de futebol de distância do ponto de partida original. Edward estava lá sozinho e Jacob foi em direção a ele.
"Você pode me colocar no chão agora".
"Eu não quero ter uma chance de arruinar a experiência" Ele caminhou mais devagar e os braços dele se apertaram.
"Você é tão chato", eu murmurei.
"Obrigado".
Do nada, Alice e Jasper estavam de pé ao lado de Edward. Jacob deu mais um passo, e me colocou no chão à uma meia dúzia de pés de distância de Edward. Sem olhar de volta pra Jacob, eu caminhei para o lado de Edward e peguei a mão dele.
"Bem?", eu perguntei.
"Contanto que você não toque nada, Bella, eu não posso imaginar como alguém poderia colocar o nariz perto o suficiente da trilha pra sentir o seu cheiro", Jasper disse, fazendo uma careta. "Ele está quase completamente obscurecido".
"Um sucesso definitivo", Alice concordou, torcendo o nariz.
"E isso me deu uma idéia"
"Que vai dar certo", Alice acrescentou confiantemente.
"Inteligente", Edward concordou.
"Como você aguenta isso?", Jacob murmurou pra mim.
Edward ignorou Jacob e olhou pra mim enquanto explicava. "Nós vamos - bem, você vai - deixar um trilha falsa até a clareira, Bella. Os recém-nascidos estão caçando, o seu cheiro vai deixá-los excitados, e eles virão exatamente por onde nós queremos que eles venham sem que tenhamos que ser cuidadosos sobre isso. Alice já pode ver que isso vai funcionar. Quando eles sentirem o nosso cheiro, eles vão se separar e tentar nos cercar pelos dois lados. A metade irá para a floresta, onde as visões dela desaparecem de repente..."
"Sim!", Jacob assobiou.
Edward sorriu pra ele, um sorriso de verdadeira camaradagem.
Eu me sentí doente. Como eles podiam estar tão ansiosos com isso?
Como eu aguentaria ter ambos em perigo? Eu não podia.
Eu não iria.
"Sem chance", Edward disse de repente, com a voz enojada. Isso me fez pular, me preocupando que ele de alguma forma tivesse ouvido a minha resolução, mas os olhos dele estavam em Jasper.
"Eu sei, eu sei", Jasper disse rapidamente. "Eu nem considerei isso, na verdade".
Alice pisou no pé dele.
"Se Bella estivesse de verdade na clareira", Jasper explicou pra ela, "Isso os deixaria loucos. Eles não seriam capazes de se concentrar em nada além dela. Isso deixaria bem fácil acabarmos com eles..."
O olhar de Edward fez Jasper dar pra trás.
"É claro que é perigoso demais pra ela. Foi só um pensamento à toa", ele disse rapidamente. Mas ele olhou pra mim pelo canto dos seus olhos, e o olhar era saudoso.
"Não", Edward disse. A voz dele ecoava com finalidade.
"Você está certo", Jasper disse, pegando a mão de Alice e voltando pra junto dos outros. "Vamos fazer um melhor de três?", eu ouví ele perguntando a ela enquanto eles iam treinar de novo.
Jacob encarou ele com desgosto.
"Jasper olha para as coisas por uma perspectiva militar", Edward defendeu seu irmão baixinho. "Ele olha pra todas as opções - é eficácia, não insensibilidade".
Jacob bufou.
Ele havia se inlinado mais pra perto inconscientemente, mergulhado em sua absorção pelos planejamentos. Agora ele estava a apenas três pés de Edward, e, estando entre eles dois, eu podia sentir a tensão física no ar. Era como estática, uma carga desconfortável.
Edward voltou aos negócios. "Eu vou trazê-la aqui a Sexta à tarde pra espalhar a trilha falsa. Você pode nos encontrar depois, e eu vou levá-la a um lugar que eu conheço. Completamente fora do caminho e facilmente defensível, não que nós cheguemos a isso. Eu vo pegar outra rota daqui".
"E depois o quê? Deixar ela com um celular?", Jacob perguntou criticamente.
"Você tem uma idéia melhor?"
Jacob ficou presumido de repente. "Na verdade, eu tenho".
"Oh... De novo, cachorro, nada mal".
Jacob se virou rapidamente pra mim, como se estivesse determinado a bancar o cara bonzinho por me passar a conversa. "Nós tentamos convencer Seth a ficar pra trás com os dois mais jovens. Ele ainda é novo demais, mas ele é teimoso e está resistindo. Então eu pensei em uma tarefa nova pra ele - celular".
Eu tentei parecer que estava entendendo. Não enganei ninguém.
"Contanto que Seth Clearwater permaneça em sua forma de lobo, ele fica conectado ao bando", Edward disse. "Distância é um problema?", ele acrescentou, se virando pra Jacob.
"Não"
"Trezentas milhas?", Edward perguntou. "Isso é impressionante".
Jacob foi o cara bonzinho de novo. "Isso é o mais longe que nós já experimentamos", ele me disse. "Claro como um sino".
Eu balancei a cabeça ausentemente; eu estava me revirando com a idéia de que Seth Clearwater já era um lobisomem também, e isso dificultou a minha concentração. Eu podia ver o seu sorriso brilhante, tão mais jovem que Jacob na minha cabeça; ele não podia ter mais de quinze anos, se é que ele tinha isso. O entusiasmo dele no encontro do conselho na fogueira tomou um significado de repente...
"Essa é um boa idéia", Edward pareceu relutante em admitir. "Eu vou me sentir melhor com Seth lá, mesmo sem comunicação instantânea. Eu não sei se eu seria capaz de deixar Bella lá sozinha. No entanto, pensar nisso! Confiar em lobisomens!"
"Lutando com vampiros ao invés de contra eles!", Jacob imitou o tom de desgosto de Edward.
"Bem , você aninda vai conseguir lutar contra alguns deles", Edward disse.
Jacob sorriu. "Essa é a razão pela qual estamos aqui".

19. Egoísta

Edward me carregou pra casa em seus braços, esperando que eu não fosse capaz de me segurar. Eu devo ter caído no sono no caminho.
Quando eu acordei, eu estava na minha cama e a luz fraca entrando pela minha janela estava vindo de um ângulo estranho. Quase como se fosse se tarde.
Eu bocejei e me estiquei, meus dedos procurando por ele e encontrando o vazio.
"Edward?", eu murmurei.
Meu dedos procurando encontraram alguma coisa fria e macia. A mão dele.
"Você realmente está acordada dessa vez?", ele murmurou.
"Mmm", eu murmurei assentindo. "Houveram muitos falsos alarmes?"
"Você esteve inquieta - falando o dia todo".
"O dia todo?", eu pisquei e olhei pelas janelas de novo.
"Você teve uma noite longa", ele disse me acalmando. "Você mereceu um dia na cama".
Eu me sentei, e minha cabeça virou. A luz estava entrando pela minha janela vinda do oeste. "Uau".
"Com fome?", ele adivinhou. "Você quer café da manhã na cama?"
"Eu vou pegar", eu gemi, me esticando de novo. "Eu preciso me levantar e me mover".
Ele segurou minha mão no caminho para a cozinha, me olhando cuidadosamente, como se eu estivesse prestes a cair. Ou talvez ele pensasse que eu estava andando enquanto dormia.
Eu mantive as coisas simples, jogando dois Pop-Tarts na torradeira. Eu dei uma olhada em mim mesma na reflexão do cromado.
"Ugh, eu tô uma bagunça".
"Foi uma noite longa", ele disse de novo. "Você devia ter ficado aqui e dormido".
"Certo! E ter perdido tudo. Sabe, você precisa começar a aceitar o fato de que eu siu uma parte da família agora".
Ele sorriu. "Eu provavelmente poderia me acostumar com essa idéia".
Eu me sentei com o meu café da manhã, e ele sentou ao meu lado. Quando eu levantei o Pop-Tart pra dar a primeira mordida, eu reparei ele olhando para a minha mão. Eu olhei pra baixo, e ví que eu ainda estava usando o presente que Jacob havia me dado na festa.
"Posso?", ele perguntou, pegando o pequeno lobo.
Eu engolí fazendo barulho. "Um, claro".
Ele moveu sua mão embaixo do pingente da pulseira e equilibrou a pequena figura na sua palma branca. Por um breve momento, eu tive medo. Apenas o menor movimento dos seus dedos podia quebrá-lo em pedaços.
Mas é claro que Edward não faria isso. Eu estava envergonhada só de ter pensado nisso. Ele só pesou o lobo em sua palma por um momento, e depois deixou ele cair. Ele balançou levemente no meu pulso.
Eu tentei ler a expressão nos olhos dele. Tudo o que eu pude ver foi pensamento; ele manteve todo o resto escondido, se é que havia mais alguma coisa.
"Jacob Black pode te dar presentes".
Não era uma pergunta, era uma acusação. Só a atestação de um fato. Mas eu sabia que ele estava se referindo ao meu último aniversário e ao piti que eu dei por causa dos presentes; eu não queria nenhum. Especialmente não de Edward. Isso não era inteiramente lógico, e, é claro, todo mundo me ignorou do mesmo jeito...
"Você me deu presentes", eu lembrei ele. "Você sabe que eu gosto de coisas feitas em casa".
Ele torceu os lábios por um momento. "E quando a presentes passados? Esses são aceitáveis?"
"O que você quer dizer?"
"Essa pulseira", ele passou um círculo no meu pulso com o dedo. "Você vai usar muito isso?"
Eu levantei os ombros.
"Porque você não ia querer magoar os sentimentos dele", ele sugeriu astutamente.
"Claro, eu acho que sim".
"Então, você não acha que é justo", ele perguntou, olhando para a minha mão enquanto falava. Ele virou minha palma pra cima, e correu seus dedos pelas veias dos meus pulsos. "Se eu tiver uma pequena representação?"
"Representação?"
"Um pingente - alguma coisa que me mantenha na sua mente".
"Você está em todos os meus pensamentos. Eu não preciso de lembretes".
"Se eu te der uma coisa, você vai usar?", ele pressionou.
"Um presente passado?", eu chequei.
"Sim, uma coisa que eu já tenho ha algum tempo" Ele sorriu seu sorriso angelical.
Se essa era a única reação ao presente de Jacob, eu ia aceitar alegremente. "O que te deixar feliz".
"Você reparou na desigualdade?", ele perguntou, e a voz dele se tornou acusadora.
"Porque eu certamente reparei".
"Que desigualdade?"
Os olhos dele se estreitaram. "Todas as outras pessoas podem ir em frente e te dar coisas. Todo mundo menos eu. Eu teria amado te dar um presente de formatura, mas eu não dei. Eu sabia que isso te incomodaria mais do que se outras pessoas te dessem. Isso é absolutamente injusto. Como você se explica?"
"Fácil", eu levantei os ombros. "Você é mais importante do que as outras pessoas. E você me deu você. Isso já é mais do que eu mereço, e qualquer outra coisa que você me der só vai nos colocar ainda mais fora de equilíbrio".
Ele processou isso por um momento, e depois revirou os olhos. "A forma que você pensa de mim é ridícula".
Eu mastiguei o meu café da manhã calmamente. Eu sabia que ele não ia me ouvir se eu disse que podia dizer o mesmo sobre ele.
O telefone de Edward vibrou.
Ele olhou para o número antes de abrí-lo. "O que foi, Alice?"
Ele escutou, e eu observei a reação dele, nervosa de repente. Mas o que quer que ela tenha dito, não surpreendeu ele. Ele suspirou algumas vezes.
"Eu meio que já esperava por isso",. ele disse pra ela, me olhando nos olhos, com uma arco de desaprovação nas sobrancelhas. "Ela estava falando durante o sono".
Eu corei. O que foi que eu disse agora?
"Eu vou cuidar disso", ele prometeu.
Ele me encarou enquanto fechava o telefone. "Há alguma coisa sobre a qual você queira me falar?"
Eu pensei por um momento. Tendo em vista o aviso de Alice na noite passada, eu podia adivinhar porque ela tinha ligado. E isso me lembrou dos sonhos problemáticos que eu tive enquanto dormia durante o dia - sonhos onde eu corria atrás de Jasper, tentando seguí-lo e encontrar a clareira no meio da floresta, sabendo que eu iria encontrar Edward lá... Edward e os monstros que queriam me matar, mas sem me importar com eles porque eu já havia tomado a minha decisão - eu também já podia adivinhar o que Edward havia ouvido enquanto eu dormia.
Eu torcí meus lábios por um momento, sem ser exatamente capaz de encontrar os olhos dele. Ele esperou.
"Eu gosto da idéia de Jasper", eu disse finalmente.
Ele gemeu.
"Eu quero ajudar. Eu tenho que fazer alguma coisa", eu insistí.
"Te colocar em perigo não ia ajudar".
"Jasper acha que ajudaria. Nessa área ele é o expert".
Edward me encarou.
"Você não pode me manter afastada", eu ameacei. "Eu não vou ficar escondida na floresta enquanto você se enfrenta todos os riscos por mim".
De repente, ele estava lutando com um sorriso. "Alice não te viu na clareira, Bella. Ela vê você tropeçando ao redor da floresta. Você não vai conseguir nos encontrar; você só vai me fazer consumir mais tempo te procurando depois".
Eu tentei me manter tão tranquila quanto ele estava. "Isso é porque Alice não viu o fator Seth Clearwater", eu disse educadamente. "Se ela tivesse, é claro, ela não teria sido capaz de ver nada mais. Mas parece que Seth quer estar lá tanto quanto eu. Não deve ser difícil persuadí-lo a me mostrar o caminho".
Raiva faiscou no rosto dele, e aí ele respirou fundo pra se recompor. "Isso podia ter dado certo... se você não tivesse me contado. Agora eu simplesmente vou pedir a Sam que dê certas ordens a Seth. Mesmo que ele possa querer muito, Seth não será capaz de ignorar esse tipo de ordem.”
Eu mantive o meu sorriso agradável. “Mas porque Sam daria essas ordens. Se eu dissesse a ele o quanto ajudaria se eu estivesse lá? Eu aposto que Sam ia preferia fazer um favor pra mim do que pra você”.
Ele havia se composto de novo. “Talvez você esteja certa. Mas eu tenho certeza de que Jacob não estaria nada além de ansioso pra dar essas mesmas ordens”.
Eu fiz uma careta. “Jacob?”
“Jacob está no segundo comando. Ele nunca te contou isso? As ordens dele têm que ser seguidas também”.
Ele tinha ganhado, e pelo sorriso dele, ele também sabia disso. A minha testa enrugou. Jacob ia ficar do lado dele – nesse caso – eu tinha certeza. E Jacob nunca havia me contado isso.
Edward pegou vantagem no fato de que eu fiquei momentaneamente embasbacada, continuando em sua voz suspeitosamente macia e suave.
“Eu dei uma olhada fascinante nas mentes do bando na noite passada. Era melhor que uma novela. Eu não fazia idéia de como a dinâmica de uma bando tão grande era complicada. O empurrão de um indivíduo contra o plural psíquico... Absolutamente fascinante”.
Ele obviamente estava tentando me distrair. Eu encarei ele.
“Jacob esteve escondendo vários segredos”, ele disse com um sorriso malicioso.
Eu não respondi, eu só continuei encarando, me segurando ao meu argumento e esperando por uma abertura.
"Por exemplo, você reparou num lobo menor, cinza que estava lá na noite passada?"
Eu balancei a cabeça num movimento rígido.
Ele gargalhou, "Eles levam todas aquelas lendas tão a sério. Acontece que existem coisas para as quais as histórias deles não os preparam".
Eu suspirei. "Tudo bem, eu vou morder essa. Sobre o que estamos falando?"
"Eles sempre aceitaram sem questionar que apenas os bisnetos diretos do lobo original tinham poder pra se transformar".
"Então alguém que não era descendente direto se transformou?"
"Não, ela realmente é uma descendente direta".
Eu pisquei, meu olhos arregalaram. "Ela?"
Ele balançou a cabeça. "Ela conhece você. O nome dela é Leah Clearwater".
"Leah é um lobisomem!", eu gritei. "Oque? Por quanto tempo? Porque Jacob não me disse?"
"Existem coisas que ele não tem permissão de dividir - o número deles, por exemplo. Como eu disse antes, quando Sam dá uma ordem, o bando não pode simplesmente ignorá-la. Jacob foi cuidadoso pra pensar em outras coisas enquanto estava perto de mim. É claro, depois da noite passada, tudo foi em vão".
"Eu não posso acreditar. Leah Clearwater!", de repente, eu me lembrei de Jacob falando sobre Leah e Sam, e do jeito como ele agiu, como se tivesse dito coisas demais - depois que ele disse alguma coisa sobre Sam tendo que olhar nos olhos de Leah todos os dias e saber que ele havia quebrado suas promessas...
Leah no penhasco, uma lágrima brilhando na bochecha dela quando o Velho Quil falou sobre o fardo e o sacrifício que os filhos Quileute dividiam... E Billy, passando o tempo com Sue que estava tendo dificuldade com seus filhos... e o problema de verdade era que agora eles dois eram lobisomens!
Eu nunca pensei muito em Leah Clearwater, a não ser pra sentir pena dela quando Harry morreu, e depois pra sentir pena de novo quando Jacob me contou a história dela, sobre a estranha impressão que houve entre Sam e sua prima Emily que havia quebrado o coração de Leah.
E agora ela era parte do bando de Sam, escutando os pensamentos dele... e incapaz de esconder os dela.
Eu realmente odeio essa parte, Jacob havia dito, Todas as coisas das quais você se envergonha, expostas pra todo mundo ver.
"Pobre Leah", eu sussurrei.
Edward bufou. "Ela está tornando a vida deles excessivamente difícil. Eu não tenho certeza de que ela merece a sua simpatia".
"O que você quer dizer?"
"Já é difícil suficiente pra eles, terem que dividir todos os seus pensamentos. A maioria deles tenta cooperar, fazer isso ser mais fácil. Mesmo quando apenas um membro é deliberadamente malicioso, isso é doloroso pra todos".
"Ela tem razões suficientes", eu murmurei, ainda do lado dela.
"Oh, eu sei", ele disse. "A compulsão da impressão é uma das coisas mais estranhas que eu já testemunhei em minha vida, e eu já ví algumas coisas estranhas" Ele balançou a cabeça pensativamente. "A forma como Sam está ligado a Emily é impossível de descrever - ou eu deveria dizer o Sam dela. Sam realmente não teve escolha. Isso me lembra de Sonhos de Uma Noite de Verão com todo aquele caos criado pelos feitiços de amor das fadas... como mágica". Ele sorriu. "É realmente quase tão forte quando o que eu sinto por você".
"Pobre Leah", eu disse de novo. "Mas o que você quer dizer com malicioso?"
"Ela fica trazendo à tona constantemente coisas sobre as quais eles não querem pensar," ele explicou. "Como Embry, por exemplo".
"O que tem Embry?", eu perguntei, surpresa.
"A mão dele veio da reserva de Makah hà dezessete anos atrás, quando ela estava grávida dele. Ela não é Quileute. Todos presumiram que ela havia deixado o pai dele pra trás com os Makah. Mas aí ele se juntou ao bando".
"Então?"
"Então, os principais candidatos pra pais são o Sr. Quil Ateara, Joshua Uley, ou Billy Black, e todos eles eram casados nessa época, é claro".
"Não!", eu fiquei ofegante. Edward estava certo - isso era exatamente uma novela.
"Agora, Sam, Jacob e Quil todos ficam imaginando qual deles têm um meio irmão. Todos eles gostariam de pensar que fosse Sam, já que o pai dele nunca foi uma boa figura de pai. Mas sempre existem dúvidas. Jacob nunca foi capaz de perguntar a Billy sobre isso".
"Uau. Como é que você conseguiu pegar isso tudo em uma noite?"
"A mente do bando é hipnotisadora. Todos pensando separadamente ao mesmo tempo. Hà tanta coisa pra ler!"
Ele pareceu levemente arrependido, como alguém que havia fechado um livro em sua melhor parte. Eu rí.
"O bando é fascinante", eu concordei. "Quase tão fascinante quanto você é quando está querendo me distrair".
A expressão dele ficou educada de novo - a expressão de um jogador de pôquer.
"Eu tenho que estar naquela clareira, Edward".
"Não", ele disse num tom muito definitivo.
Uma certa saída clareou pra mim nesse momento.
Não era muito importante que eu estivesse na clareira. Eu só tinha que estar onde Edward estava.
Cruel, eu acusei a mim mesma, Egoísta, egoísta, egoísta! Não faça isso!"
Eu ignorei os meus melhores instintos. No entanto, eu não pude olhar pra ele enquanto falava. A culpa colocou os meus olhos na mesa.
"Tudo bem, olha, Edward", eu sussurrei. "Aqui está o negócio... Eu já fiquei louca uma vez. Eu sei quais são os meus limites. Eu não vou aguentar se você me deixar de novo".
Eu não olhei pra cima pra ver a reação dele, com medo da quantidade de dor que eu estava inflingindo a ele.
Eu ouví ele sulgar o ar de repente e o silêncio que se seguiu. Eu encarei o tampo de madeira escura da mesa, desejando pegar aquelas palavras de volta. Mas sabendo que eu provavelmente não faria isso. Nem se desse certo.
De repente, os braços dele estavam ao redor, as mãos dele alisando o meu rosto, meus braços. Ele estava me confortando. A culpa começou a girar em espiral. Mas o instinto de sobrevivência era mais forte. Não havia dúvida de que ele era fundamental para a minha sobrevivência.
"Você sabe que não é assim, Bella", ele murmurou. "Não vai ser longe, e tudo estará rapidamente acabado".
"Eu não posso aguentar", eu insistí, olhando pra baixo. "Não sem saber se você vai estar de volta ou não. Como eu sobrevivo a isso, não importa o quão rapidamente isso acabe?"
Ele suspirou. "Isso vai ser fácil, Bella. Não existem razões para os seus medos".
"Nenhum mesmo?"
"Nenhum".
"E todos vão ficar bem?"
"Todo mundo", ele prometeu.
"Então não jeito mesmo de que eu seva ser necessária na clareira?"
"É claro não. Alice acabou de me dizer que eles foram diminuídos a dezenove. Nós conseguiremos cuidar disso facilmente".
"É isso mesmo - você disse que ia ser tão fácil que alguém até poderia ficar de fora.", eu repetí as palavras que ele disse na noite passada. "Você realmente estava falando sério?"
"Sim".
Parecia simples demais - ele deiva saber onde isso estava chegando.
"Tão fácil que você possa ficar de fora?"
Depois de um longo momento de silêncio, eu finalmente olhei para a expressão dele.
O rosto do jogador de pôquer estava de volta.
Eu respirei fundo. "Então é de um jeito ou de outro. Ou isso é mais perigoso do que o que você está querendo me contar, e nesse caso seria certo que eu estivesse lá pra ajudar, pra fazer o que eu puder pra ajudar. Ou... isso será tão fácil que ele serão capazes de passar por isso sem você. De que jeito vai ser?"
Ele não falou.
Eu sabia o que ele estava pensando - a mesma coisa na qual eu estava pensando.
Carlisle. Esme. Emmett. Rosalie. Jasper. E... eu me forcei a dizer o último nome. E Alice.
Eu me perguntei se eu era um monstro. Não do tipo que ele pensava que ele era, mas um de verdade. O tipo de verdade que machuca as pessoas. O tipo que não tem limites quando se trata do que eles querem.
O que eu queria era mantê-lo a salvo, a salvo comigo. Será que eu tinha limites pra o que eu faria, o que eu sacrificaria por isso? Eu não tinha certeza.
"Você está me pedindo pra ir deixá-los lutar sem a minha ajuda?", ele perguntou com uma voz baixa.
"Sim", eu estava surpresa por conseguir manter a minha voz uniforme, já que eu me sentia tão miserável por dentro. "Ou me deixar estar lá. Qualquer um dos dois, contanto que estejamos juntos".
Ele respirou fundo, e exalou lentamente. Ele colocou suas mãos dos dois lados do meu rosto, me forçando a olhar pra ele. Ele me olhou dentro dos olhos por um longo tempo. Eu me perguntei o que ele estava procurando, e o que ele encontrou. Será que a culpa estava tão aparente no meu rosto quanto estava no meu estômago - me deixando enjoada?
Os olhos dele se apertaram por causa de alguma emoção que eu conseguí ler, e ele baixou sua mão pra pegar o telefone de novo.
"Alice", ele suspirou. "Será que você pode vir tomar conta de Bella por mim um pouco?" Ele ergueu uma sobrencelha, me desafiando a me opor a isso. "Eu preciso falar com Jasper".
Ela evidentemente concordou. Ele guardou o telefone e voltou a olhar para o meu rosto.
"O que você vai dizer pra Jasper?", eu sussurrei.
"Eu vou discutir... a minha saída".
Era fácil ver no rosto dele o quanto essas palavras eram difíceis pra ele.
"Eu lamento".
Eu lamentava. Eu odiava ter que fazer isso com ele. Mas não o suficiente pra dar um sorriso falso e dizer que ele seguisse em frente sem mim. Definitivamente não tanto assim.
"Não se desculpe", ele disse, sorrindo só um pouquinho. "Nunca tenha medo de me dizer como você se sente, Bella. Se isso é o que você precisa..." ele levantou os ombros. "Você é minha primeira prioridade"
"Eu não queria que parecesse desse jeito - como se você tivesse que escolher entre mim e sua família".
"Eu sei disso. Além do mais, não foi isso o que você pediu. Você me deu duas alternativas com as quais você podia conviver, e eu escolhí a alternativa com a qual eu posso conviver. É assim que um compromisso deve funcionar".
Eu me inclinei pra frente e encostei minha testa no peito dele. "Obrigada", eu sussurrei.
"A qualquer hora", ele respondeu, beijando o meu cabelo. "Qualquer coisa".
Nós não tivemos que nos mexer por um longo momento. Eu mantive o meu rosto escondido, pressionado contra a camisa dele. Duas vozes discutiam dentro de mim. Uma que queria ser boa e corajosa, e uma que falava pra a boa que ficasse de bico fechado.
"Quem é a terceira esposa?", ele me perguntou de repente.
"Huh?", eu perguntei, protelando. Eu não me lembrava de ter tido aquele sonho de novo.
"Você estava murmurando alguma coisa sobre "a terceira esposa" na noite passada. O resto fez um pouco de sentido, mas aí você me deixou confuso".
"Oh. Um, é. Essa foi apenas uma das histórias que eu ouví na fogueira na noite passada", eu levantei os ombros. "Eu acho que ficou grudada em mim".
Edward se afastou de mim e deixou a cabeça pender pro lado, provavelmente confuso pelo tom confuso da minha voz.
Antes que ele pudesse pergunta, Alice apareceu na porta da cozinha com uma expressão azeda.
"Você vai perder toda a diversão", ela murmurou.
"Olá, Alice", ele saudou de volta. Ele colocou um dedo embaixo do meu queixo e levantou o meu rosto e me dar um beijo de adeus.
"Eu vou voltar mais tarde essa noite", ele prometeu. "Eu vou trabalhar isso com os outros... rearrumar as coisas".
"Tudo bem".
"Não há muito pra rearrumar", Alice disse. "Eu já contei pra eles. Emmett está contente".
Edward suspirou. "É claro que ele está".
Ele saiu pela porta, me deixando pra enfrentar Alice.
Ela me encarou.
"Eu lamento", eu me desculpei de novo. "Você acha que isso tornará as coisas mais difíceis pra vocês?"
Alice bufou. "Você se preocupa demais, Bella. Você vai ficar prematuramente grisalha".
"Então, porque você está aborrecida?"
"Edward é um resmungão quando não consegue fazer as coisas do jeito que ele quer. Eu só estou antecipando como vai ser viver com ele pelos próximos meses". Ela fez uma cara. "Eu acho que, se isso te deixa sã, vale a pena. Mas eu queria que você pudesse controlar o seu pessimismo, Bella. É tão desnecessário".
"Você deixaria Jasper ir sem você?", eu quis saber.
Alice fez uma careta. "Isso é diferente".
"Claro que é".
"Vá se limpar", ela me ordenou. "Charlie vai estar em casa em quinze minutos, e se ele te encontrar acabada desse jeito, ele não vai mais querer deixar você sair"
Uau, eu realmente tinha perdido o dia inteiro. Isso parecia um desperdício. Eu estava feliz por não ter que perder o meu tempo dormindo pra sempre.
Eu estava inteiramente apresentável quando Charlie chegou em casa - totalmente vestida, com o cabelo decente, e na cozinha colocando o jantar dele na mesa. Alice sentou no lugar de costume de Edward, e isso pareceu iluminar o dia de Charlie.
"Olá, Alice! Como vai você, querida?"
"Eu estou bem, Charlie, obrigada"
"Eu vejo que você finalmente saiu da cama, dorminhoca", ele disse pra mim enquanto eu me sentava ao lado dele, antes de se virar de volta pra Alice. "Todo mundo está falando da festa que os seus pais deram na noite passada. Eu aposto que vocês têm uma baita limpeza pra fazer hoje".
Alice levantou os ombros. Conhecendo ela, já estava tudo feito".
"Valeu a pena", ela disse. "Foi uma festa ótima".
"Onde está Edward?", Charlie perguntou um pouco mal-humorado. "Ele está ajudando com a limpeza?"
Alice suspirou e o rosto dela ficou trágico. Provavelmente era uma atuação, mas era perfeita demais pra que eu fosse otimista. "Não. Ele está planejando o fim de semana com Emmett e Carlisle".
"Vão caminhar de novo?"
Alice balançou a cabeça, de repente com uma expressão abandonada.
"Sim. Todos eles vão menos eu. Nós sempre vamos acampar no final do ano escolar, um tipo de celebração, mas esse ano eu decidí que preferia fazer compras do que caminhar, e nenhum deles quis ficar pra trás comigo. Eu estou abandonada".
O rosto dela se contorceu, uma expressão tão devastada que Charlie se inclinou em direção a ela automaticamente, com uma mão erguida, procurando alguma forma de ajudar. Eu encarei ela suspeitosamente. O que ela estava fazendo?
"Alice, querida, porque você não vem ficar conosco?", Charlie ofereceu. "Eu odeio pensar que você vai ficar sozinha naquela casa grande".
Ela suspirou. Alguma coisa chutou meu pé por debaixo da mesa.
"Ow!", eu protestei.
Charlie se virou pra mim. "O que?"
Alice me lançou um olhar frustrado. Eu podia notar que ela estava pensando que eu estava muito lenta essa noite.
"Batí o meu dedão", eu murmurei.
"Oh", ele olhou de volta pra Alice. "Então, que tal?"
Ela chutou o meu pé de novo, dessa vez não com tanta força.
"Er, pai, sabe, nós realmente não temos as melhores acomodações aqui. Eu aposto que Alice não quer dormir no chão..."
Charlie torceu os lábios. Alice fez aquela expressão devastada de novo.
"Talvez Bella devesse ficar lá com você", ele sugeriu. "Só até os seus parentes voltarem".
"Oh, você faria isso, Bella?" Alice sorriu radiantemente pra mim. "Você não se importaria em fazer comprar comigo, certo?"
"Claro", eu concordei. "Compras. Ok".
"Quando eles vão embora?" Charlie perguntou.
Alice fez outra cara. "Amanhã"
"Quando você quer que eu vá?", eu perguntei.
"Depois do jantar, eu acho", ela disse, colocando um dedo no queixo, pensativa. "Você não tem nada pra fazer no Sábado, tem? Eu quero sair da cidade pra fazer compras, e vai ser coisa de uma tarde inteira".
"Seattle não", Charlie interviu, com as sobrancelhas se juntando.
"É claro que não", Alice concordou imediatamente, apesar de que nós duas sabíamos que Seattle estaria bastante segura no Sábado. "Eu estava pensando em Olympia, talvez..."
"Você vai gostar disso, Bella", Charlie disse, alegre de alívio. "Passar algum tempo na cidade".
"É, pai, vai ser ótimo".
Com uma conversa fácil, Alice havia limpado a minha agenda para a batalha.
Edward voltou não muito mais tarde. Ele aceitou os desejos de Charlie para uma boa viagem sem surpresa. Ele disse que eles estavam partindo cedo no dia seguinte, e disse boa noite mais cedo que o normal. Alice foi embora com ele.
Eu pedí licença pouco tempo depois que eles foram embora.
"Você não pode estar cansada", Charlie protestou.
"Um pouco", eu mentí.
"Não é de estranhar que você gosta de escapar de festas", ele murmurou. "Você demora bastante pra se recuperar".
Lá em cima, Edward estava deitado na minha cama.
"Que horas nós vamos encontrar os lobos?", eu murmurei enquanto ia me juntar a ele.
"Em uma hora".
"Isso é bom. Jake e os amigos dele precisam descansar um pouco".
"Eles não precisam disso tanto quanto você", Edward apontou.
Eu passei pra outro tópico, presumindo que ele estava prestes a tentar me convencer a ficar em casa. "Alice te contou que ela vai me sequestrar?"
Ele sorriu maliciosamente. "Na verdade, ela não vai".
Eu encarei ele, confusa, e ele riu baixinho da minha expressão.
"Sou eu que tem permissão pra te fazer de refém, lembra?", ele disse. "Alice vai caçar com os outros". Ele suspirou. "Eu acho que eu não preciso mais fazer isso".
"Você está me sequestrando?"
Ele balançou a cabeça.
Eu pensei nisso brevemente. Nada de Charlie ouvindo lá embaixo, ou vindo me checar com certa frequência. E nada de uma casa cheia de vampiros acordados com suas audições intromissívas... Só ele e eu - realmente sozinhos.
"Isso está bem?", ele perguntou, preocupado com o meu silêncio.
"Bem... claro, exceto por uma coisa".
"Que coisa?" Os olhos dele estavam ansiosos. Era uma tremenda bobagem, mas, de alguma forma, ele ainda parecia incerto quanto ao poder sobre mim. Talvez eu precisasse me fazer mais clara.
"Porque Alice não disse a Charlie que vocês iam embora hoje à noite?", eu perguntei.
Ele riu, aliviado.
Eu aproveitei mais a viagem até a clareira do que na noite passada. Eu ainda me sentia culpada, mas eu já não estava mais aterrorizada. Eu podia pensar. Eu podia olhar para o que estava acontecendo, e quase acreditar que talvez as coisas poderiam acabar bem. Aparentemente Edward estava bem com a idéia de perder a luta... e isso fez ser muito difícil de acreditar quando ele disse que seria fácil. Ele não abandonaria a família dele se ele mesmo não acreditasse nisso. Talvez Alice estivesse certa, eu me preocupava demais.
Nós fomos os últimos a chegar à clareira.
Jasper e Emmett já estavam lutando - pelo som das risadas deles eles só estavam se aquecendo. Alice e Rosalie estavam sentadas no chão duro, olhando. Esme e Carlisle estavam conversando a alguns metros de distância, suas cabeças estavam juntas, os dedos entrelaçados, sem prestar atenção.
Essa noite estava muito mais clara, a lua estava brilhando através das nuvens grossas, e eu podia ver claramente os três lobos sentados na beira da arena de luta, um pouco espaçados pra observarem de ângulos diferentes.
Também foi fácil reconhecer Jacob; eu teria reconhecido ele imediatamente, mesmo se ele não tivesse olhado pra cima e olhado para a direção do som da nossa chegada.
"Onde está o resto dos lobos?", eu me perguntei.
"Eles não precisam estar todos aqui. Apenas um bastaria, mas Sam não confia em nós o suficiente pra mandar apenas Jacob, apesar disso ser o que Jacob queria. Quil e Embry como sempre são seu... acho que você poderia dizer ajudantes".
"Jacob confia em você".
Edward balançou a cabeça. "Ele confia que nós não tentaremos matar ele. No entanto, isso é tudo".
"Você vai participar essa noite?", eu perguntei a ele, hesitante. Eu sabia que seria tão difícil pra ele ser deixado pra trás quanto teria sido pra mim. Talvez mais difícil.
"Eu vou ajudar quando Jasper precisar. Ele quer tentar alguns agrupamentos desiguais, ensiná-los a lidar com alguns ataques múltiplos".
Ele levantou os ombros.
E uma onda de pânico lavou a minha breve sensação de confiança.
Eles ainda estavam em menor número. Eu estava piorando isso.
Eu olhei para o campo, tentando esconder a minha reação.
Esse era o lugar errado, lutando como eu estava comigo mesma, pra me convercer de que tudo acabaria da forma como eu precisava que acabasse. Porque quando eu forcei os meus olhos a se afastarem dos Cullen - pra longe da imagem da luta de brincadeira dele que seria real e mortal em alguns dias - Jacob capturou os meus olhos e sorriu pra mim.
Era o mesmo sorriso de lobo de antes, os olhos dele se estreitando como faziam quando ele era humano.
Era difícil de acreditar que, hà não muito tempo atrás, eu tinha achado os lobisomens assustadores - perdia o sono com pesadelos sobre eles.
Eu sabia, sem perguntar, qual deles era Embry e qual era Quil. Porque Embry claramente era o lobo cinza mais magro com os pontos escuros nas costas, que se sentava pacientemente observando, enquanto Quil - cor de chocolate forte, mas clara no rosto dele - se mexia constantemente, parecendo que ele estava morrendo de vontade de se juntar à luta de brincadeira. Eles não eram monstros, mesmo desse jeito. Eles eram amigos.
Amigos que nem de perto pareciam ser tão indestrutíveis quanto Emmett e Jasper pareciam ser, se movendo mais rapidamente do que ataques de cobra enquanto a luz da lua reluzia em suas peles duras como granito. Amigos que não pareciam entender o perigo envolvido aqui. Amigos que de certa forma ainda pareciam ser mortais, amigos que podiam sangrar, amigos que podiam morrer...
A confiança de Edward era tranquilizadora, porque estava claro que ele não estava realmente preocupado com a sua família. Mas será que ele ficaria magoado se alguma coisa acontecesse com os lobos? Será que haviam razões pra que ele ficassem ansioso, sendo que provavelmente isso não incomodava ele?
A confiança de Edward só aplacava uma parte dos meus medos.
Eu tentei sorrir de volta pra Jacob, engolindo o caroço da minha garganta. Eu parecia estar fazendo isso certo.
Jacob se pôs levemente de pé, a agilidade dele era um contraste com a sua massa, e correu até onde Edward e eu estavamos só observando as coisas.
"Jacob", Edward o saudou educadamente.
Jacob ignorou ele, seus olhos escuros estavam em mim. Ele abaixou a cabeça até o meu nível, como tinha feito ontem, pendendo ela pra um lado. Um chorinho baixo escapou pelo fucinho dele.
"Eu estou bem", eu respondí, sem precisar da tradução que Edward estava prestes a dar. "Só preocupada, sabe".
Jacob continuou a me encarar.
"Ele quer saber porque", Edward murmurou.
Jacob rosnou - um som ameaçador, um som aborrecido - e os lábios de Edward se torceram.
"O quê?", eu perguntei.
"Ele acha que a minha tradução deixa algo a desejar. O que ele pensou mesmo foi 'Isso é muito estúpido. O que há pra se preocupar?' Eu editei, porque eu achei que era rude".
Eu dei um meio sorriso, ansiosa demais pra me divertir. "Têm muitas coisas pra se preocupar", eu disse a Jacob. "Tipo um monte de lobisomens idiotas se machucando".
Jacob sorriu o seu rosnado tossido.
Edward suspirou. "Jasper que ajuda. Você vai ficar bem sem tradutor?"
"Eu consigo".
Edward me olhou saudosamente por um minuto, a expressão dele era difícil de entender, e depois se virou e correu para onde Jasper estava esperando.
Eu me sentei onde estava. O chão era frio e desconfortável.
Jacob deu um passo pra frente, aí olhou pra mim, um choro baixo apareceu na garganta dele. Ele deu outro meio passo.
"Vá sem mim", eu disse a ele. "Eu não quero olhar".
Jacob inclinou sua cabeça para o lado por um momento, e depois se curvou no chão ao meu lado com um suspiro ruidoso.
"De verdade, você pode ir em frente", eu assegurei ele. Ele não respondeu, só colocou a cabeça nas patas da frente.
Eu olhei pra cima para as nuvens prateadas, sem querer ver a luta.
A minha imaginação já tinha combustível mais que suficiente. Uma brisa soprou na clareira, e eu estremecí.
Jacob se trouxe mais pra perto de mim, pressionando seu pêlo quente no meu lado esquerdo.
"Er, obrigada", eu murmurei.
Depois de alguns minutos, eu estava encostada em seu ombro largo. Era muito mais confortável desse jeito.
As nuvens se moviam lentamente pelo céu, escurecendo e ficando mais claras enquanto as figuras grossas se aproximavam da lua e passavam por ela.
Ausentemente, eu comecei a passar os meus dedos pelo pêlo do pescoço dele. O mesmo som estranho de zumbido que ele havia feito ontem resoou na garganta dele. Era um som familiar. Mais áspero, maior do que o ronco de um gato, mas convinha do mesmo contentamento.
"Sabe, eu nunca tive um cachorro", eu meditei. "Eu sempre quis ter um, mas Renée é alérgica".
Jacob riu, o corpo dele estremeceu embaixo de mim.
"Você não está nem um pouco preocupado com Sábado?", eu perguntei.
Ele virou sua cabeça enorme na minha direção, pra que eu pudesse ver os olhos dele se revirando.
"Eu queria poder ser tão positiva".
Ele encostou a cabeça na minha perna e começou a zumbir de novo. E isso me fez ficar só um pouco melhor.
"Então nós temos um pouco de caminhada pra fazer amanhã, eu acho".
Ele rosnou; o som estava entusiasmado.
"Essa pode ser uma longa caminhada", eu avisei a ele. "Edward não julga distâncias do jeito que uma pessoa normal faz".
Jacob latiu outra risada.
Eu me afundei mais no pêlo dele, descansando a minha cabeça no pêlo dele.
Era estranho. Mesmo quando ele estava nessa forma bizarra, ele parecia ser mais parecido com o Jake que eu conhecia - a amizade fácil, sem esforços que era tão natural quanto respirar pra dentro e pra fora - do que nas poucas vezes em que eu estava com Jacob enquanto ele era humano. Era estranho que eu pudesse encontrar isso aqui, quando eu achava que toda essa coisa de lobo foi o que causou sua perda.
Os jogos mortais continuaram na clareira, e eu olhava para a lua nebulosa.

20. Compromisso

Tudo estava pronto.
Eu estava com as malas prontas para a minha visita de dois dias com "Alice", e a minha mala esperava por mim no banco do passageiro da minha caminhonete. Eu havia dado os ingressos do show para Angela, Ben e Mike. Mike ia levar Jessica, que era exatamente o que eu esperava. Billy havia pego o barco do Velho Quil Ateara emprestado e convidou Charlie pra uma pescaria em mar aberto à tarde antes que o jogo começasse. Collin e Brady, os dois lobisomens mais jovens, foram deixados pra trás pra proteger de La Push - eles eram apenas crianças, eles dois tinham apenas treze anos. Mesmo assim, Charlie ainda estaria mais seguro do que qualquer pessoa deixada em Forks.
Eu tinha feito tudo o que podia. E tentei aceitar isso, e colocar coisas que estavam fora do meu controle pra trás na minha cabeça, pelo menos por essa noite. De uma forma ou de outra, tudo isso estaria acabado em quarenta e oito horas. Esse pensamento era quase reconfortante.
Edward havia pedido que eu relaxasse, e eu ia fazer o melhor que eu pudesse.
"Só por essa noite, será que podemos tentar esquecer tudo além de simplesmente você e eu?", ele havia implorado, despejando todo o poder dos seus olhos em mim. "Parece que eu nunca tenho tempo assim suficiente. Eu preciso estar com você. Só você".
Esse não era um pedido dificil de se concordar, apesar de eu saber que esquecer o meus medos era muito mais fácil de dizer do que de fazer. Outras coisas estavam na minha cabeça agora, sabendo que nós teríamos essa noite pra ficar sozinhos, e isso ia ajudar.
Haviam algumas coisas que haviam mudado.
Por exemplo, eu estava pronta.
Eu estava pronta pra me juntar à família dele e ao seu mundo. O medo e a culpa e a angústia que eu estava sentindo agora haviam me ensinado isso. Eu tinha tido uma chance de me concentrar nisso - eu tinha olhado para a lua através das nuvens e havia me encostado em um lobisomem - e eu sabia que não entraria em pânico de novo. Da próxima vez que alguma coisa estivesse vindo pra nós, eu estaria pronta.
Um recurso, não uma responsabilidade. Ele nunca mais teria que escolher entre mim e sua família de novo. Nós seríamos parceiros, como Alice e Jasper. Da próxima vez, eu faria a minha parte.
Eu esperaria até que a espada fosse tirada de cima da minha cabeça, pra que Edward ficasse satisfeito. Mas isso não era necessário. Eu estava pronta.
Só havia um pedaço faltando.
Um pedaço, porque haviam coisas que não haviam mudado, e isso incluía a forma desesperada como eu amava ele. Eu tive bastante tempo pra pensar nas ramificações da aposta de Jasper e Emmett - pra descobrir as coisas que eu estava querendo perder com a minha humanidade, e na parte da qual eu não estava com vontade de desistir. Eu sabia em qual experiência eu ia insistir antes de me tornar não-humana.
Então nós tínhamos algumas coisas pra fazer essa noite. Depois de tudo o que eu havia visto nos últimos dois anos, eu não acreditava mais na palavra impossível. Ia ser necessário mais do que isso pra me deter agora.
Ok, bem, honestamente, provavelmente isso ia ser muito mais complicado que isso. Mas eu ia tentar.
Tão decidida quanto eu estava, eu não estava tão surpresa por me sentir nervosa enquanto eu dirigia pelo longo caminho até a casa dele - eu não sabia como fazer o que eu estava tentando fazer, e isso me garantiu uma séria agitação. Ele estava sentado no banco do passageiro, tentando não sorrir do meu passo lento. Eu estava surpresa por ele não ter insistido em pegar o volante, mas essa noite ele parecia contente em seguir a minha velocidade.
Já estava escuro quando nós chegamos à casa dele. A despeito disso, a clareira estava brilhando com as luzes que saiam de todas as janelas.
Assim que eu desliguei o motor, ele estava na minha porta, abrindo ela pra mim. Ele me levantou da cabine com um braço, pegando a minha mala da caminhonete e jogando-a por cima do ombro com a outra. Os lábios dele encontraram os meus enquanto eu ouvia ele chutar a porta da caminhonete pra fechá-la atrás de mim.
Sem quebrar o beijo, ele me levantou até que eu estava aninhada em seus braços e me levou pra dentro de casa.
A porta já estava aberta? Eu não sabia. Contudo, nós já estavamos dentro, e eu estava atordoada. Eu tive que me lembrar de respirar.
Esse beijo não me assustou. Não foi como antes quando eu podia sentir o medo e o pânico escapando do controle dele. Os lábios dele não estavam mais ansiosos, mas agora estavam entusiásticos - ele parecia tão feliz quanto eu por termos essa noite pra nos concentrarmos um no outro. Ele continuou a me beijar por vários minutos, parados na entrada; ele pareceu menos resguardado do que o normal, a boca dele era fria e urgente na minha.
Eu comecei a me sentir cuidadosamente otimista. Talvez conseguir o que eu queria não fosse tão difícil quanto eu estava esperando.
Não, é claro que ia ser exatamente difícil desse jeito.
Com uma risadinha, ele me afastou, me segurando nos braços.
"Bem-vinda ao lar", ele disse, seus olhos estavam líquidos e quentes.
"Isso parece legal", eu disse, sem ar.
Ele me colocou gentilmente de pé. Eu passei meus dois braços ao redor dele, me recusando a deixar que algum espaço se formasse entre nós.
"Eu tenho uma coisa pra você", ele disse, com um tom conversional.
"Oh?"
"O seu presente passado, lembra? Você disse que isso era permitido".
"Oh, é mesmo. Eu acho que disse isso".
Ele gargalhou com a minha relutância.
"Está lá no meu quarto. Vamos pegá-lo?"
O quarto dele? "Claro", eu concordei, me sentindo bastante desviada enquanto entrelaçava os meus dedos com os dele. "Vamos lá".
Ele devia estar ansioso pra me dar o meu não-presente, porque a velocidade humana não foi suficiente pra ele. Ele me pegou nos braços de novo e praticamente voou pelas escadas até o quarto dele. Ele me colocou no chão na porta, e foi até o seu closet.
Ele já estava de volta antes que eu desse um passo, mas eu ignorei ele e fui até a enorme cama dourada, me sentando na beira e depois deslizando até o centro.
Eu me curvei em uma bola, meus braços ao redor dos meus joelhos.
"Ok", eu murmurei. Agora que eu estava onde queria estar, eu podia me dar ao luxo de relutar um pouco. "Pode me dar".
Edward riu.
Ele subiu na cama pra sentar ao meu lado, e o meu coração disparou desigualmente. Eu tinha esperanças de que ele interpretasse isso como algum tipo de reação a ele me dando presentes.
"Um presente passado", ele me lembrou duramente. Ele puxou meu pulso esquerdo pra longe da minha perna, e tocou a pulsei de prata só por um momento. Aí ele devolveu meu braço.
Eu o examinei cuidadosamente. No lado oposto de onde estava o lobo, agora balançava um cristal brilhante em formato de coração. Ele estava cortado em milhões de facetas, então, mesmo com a luz fraca de saia da luminária, ele brilhou. Eu inalei em um ofego baixo.
"Era da minha mãe" Ele levantou os ombros num gesto implorativo. "Eu herdei muitas coisinhas como essa. Eu dei algumas pra Esme e Alice. Então, claramente, essa não é uma grande coisa de qualquer maneira".
Eu sorri sentidamente com a garantia dele.
"Mas eu achei que essa era uma boa representação", ele continuou. "É duro e frio" Ele riu. "E faz arco-íris na luz do sol".
"Você esqueceu da similaridade mais importante", eu murmurei. "É lindo".
"O meu coração é igualmente silencioso", ele meditou. "E ele também, agora é seu".
Eu virei o meu pulso pra que o coração reluzisse. "Obrigada. Pelos dois".
"Não, obrigado você. É um alívio que você aceite um presente tão facilmente. É bom pra você praticar também" Ele sorriu, mostrando seus dentes.
Eu me inclinei pra ele, colocando minha cabeça embaixo do braço dele e me aconchegando no lado dele. Isso provavelmente era similar se aconchegar em David de Michelangelo, exceto que essa criatura perfeita de mármore passou os braços ao meu redor e me trouxe mais pra perto.
Esse pareceu ser um bom lugar pra começar.
"Podemos discutir uma coisa? Eu apreciaria se você começasse com a mente aberta".
Ele hesitou por um momento. "Eu vou me esforçar o quanto puder", ele concordou, agora cuidadoso.
"Eu não estou quebrando regra nenhuma", eu prometí. "Isso é estritamente sobre eu e você". Eu limpei minha garganta. "Então... eu fiquei impressionada de ver o quanto nós fomos capazes de nos comprometer na outra noite. Eu estava pensando que eu gostaria de aplicar o mesmo princípio para uma situação diferente", eu me perguntei porque eu estava sendo tão formal. Deviam ser os nervos.
"O que você gostaria de negociar?", ele perguntou, um sorriso em sua voz.
Eu lutei, tentando encontrar as palavras certas pra começar.
"Ouça o seu coração voar", ele murmurou. "Ele está tremulando como as asas de um bando de pássaros. Você está bem?"
"Eu estou ótima".
"Por favor vá em frente então", ele encorajou.
"Bem, eu acho, primeiro, eu queria falar sobre aquela coisa ridícula da condição do casamento".
"Só é ridícula pra você. O que tem ela?"
"Eu estava me perguntando... essa é uma negociação aberta?".
Edward fez uma careta, sério agora. "Eu já fiz a maior concessão por agora e por depois - eu concordei em tomar sua vida mesmo contra o meu melhor julgamento. E isso devia me garantir alguns compromissos da sua parte".
"Não", eu balancei minha cabeça, me concentrando em manter meu rosto composto. "Essa parte já é um negócio fechado. Nós não estamos negociando as minhas... renovações agora. Eu quero martelar em alguns outros detalhes".
Ele me olhou suspeitosamente. "De que detalhes você fala exatamente?"
Eu hesitei. "Primeiro vamos esclarecer os seus pré-requisitos".
"Você sabe o que eu quero".
"Matrimônio", eu fiz parecer que essa era uma palavra suja.
"Sim", ele deu um sorriso largo. "Pra começar".
O choque estragou a minha expressão composta. "Tem mais?"
"Bem", ele disse, e seus rosto estava calculando. "Se você é minha esposa, então o que é meu é seu... como o dinheiro para a faculdade. Então não haveria problema com Dartmouth".
"Mais alguma coisa? Já que você já está sendo absurdo?"
"Eu não me importaria com um pouco mais de tempo".
"Não. Tempo não. Só isso já quebraria o trato".
Ele suspirou desejando. "Só um ano ou dois?"
Eu balancei a cabeça, meus lábios faziam uma careta de teimosia. "Passe para a próxima".
"Isso é tudo. A não ser que você queira falar sobre carros..."
Ele deu um largo sorriso quando eu fiz uma careta, e aí pegou minha mão e começou a brincar com os meus dedos.
"Eu não tinha me dado conta de que havia mais alguma coisa que você queria além de ser transformada em um monstro também. Eu estou extremamente curioso" A voz dele era baixa e suave. O pequeno nervosismo seria difícil de detectar se eu não o conhecesse tão bem.
Eu pausei, olhando para as suas mãos nas minhas. Eu ainda não sabia como começar. Eu sentia os olhos dele me observando e estava com medo de olhar pra cima. O sangue começou a queimar no meu rosto.
Os dedos frios dele alisaram a minha bochecha. "Você está corando?" ele perguntou surpreso. Eu mantive os meus olhos baixos. "Por favor, Bella, esse suspense é tão doloroso".
Eu mordí meu lábio.
"Bella". Agora o tom dele estava me repreendendo, me lembrando que era difícil pra ele quando eu quardava os meus pensamentos só pra mim.
"Bem, eu estou um pouco preocupada... sobre depois", eu admití, finalmente olhando pra ele.
Eu sentí o corpo dele ficar tenso, mas a voz dele estava gentil e parecia veludo. "O que te deixa preocupada?"
"Todos vocês parecem estar tão convencidos de que a única coisa na qual eu vou estar interessada, depois, é em matar todos na cidade", eu confessei, enquanto ele gemia com a minha escolha de palavras. "E eu estou com medo de estar tão preocupada com o caos que eu não serei mais eu mesma... e que eu não... eu não vou te querer da mesma forma que eu quero agora."
"Bella, essa parte não dura pra sempre", ele me assegurou.
Ele não estava entendendo o ponto.
"Edward", eu disse, nervosa, olhando pra uma sarda no meu pulso. "Tem uma coisa que eu quero fazer antes que eu não seja mais humana".
Ele esperou que eu continuasse. Eu não continuei. O meu rosto estava todo quente.
"Qualquer coisa que você quiser", ele encorajou, ansioso e completamente sem pistas.
"Você promete?", eu murmurei, sabendo que a minha tentativa de criar uma armadilha com as palavras dele não iam funcionar, mas incapaz de resistir.
"Sim", ele disse. Eu olhei pra cima pra ver que os olhos dele estavam sérios e confusos. "Me diga o que você quer, e você terá".
Eu não podia acreditar no quanto me sentia estranha e idiota. Eu era inocente demais - que era, é claro, o centro da discussão. Eu não tinha nem a mais breve idéia de como ser sedutora. Eu teria que dar um jeito sendo corada e tímida.
"Você", eu murmurei quase incoerentemente.
"Eu sou seu". Ele sorriu, ainda inconsciente, tentando segurar o meu olhar enquanto eu desviava os olhos.
Eu respirei fundo e me inclinei pra frente até que estava de joelhos na cama. E aí eu passei meus braços pelo pescoço dele e o beijei.
Ele me beijou de volta, desnorteado mas com vontade. Os lábios dele eram gentís contra os meus, e eu podia notar que a mente dele estava em outro lugar - tentando descobrir onde estava a minha mente. Eu decidí que ele precisava de uma dica.
As minhas mãos estavam tremendo um pouco enquanto eu tirei os meus braços do pescoço dele. Os meus dedos deslizaram até o colarinho da camisa dele. A tremedeira não me ajudou enquanto eu me apressava pra abrir os botões dele antes que ele me parasse.
Os lábios congelarem, e eu quase pude ouvir o clique na cabeça dele enquanto ele juntava as minhas palavras e ações.
Ele me afastou imediatamente, o rosto dele estava duramente desaprovador.
"Seja razoável, Bella".
"Você me prometeu - tudo o que eu quisesse", eu lembrei ele sem esperança.
"Nós não vamos ter essa discussão". Ele me encarou enquanto fechava os dois botões que eu tinha conseguido abrir.
Meus dentes se apertaram.
"Eu digo que vamos", eu rosnei. Eu moví as minhas mãos para a minha blusa e abrí o primeiro botão.
Ele agarrou os meus pulsos e os colocou dos meus lados.
"Eu digo que não vamos", ele disse numa voz vazia.
Nós nos encaramos.
"Você queria saber", eu apontei.
"Eu pensei que fosse uma coisa minimamente realista".
"Então, você pode pedir por qualquer coisa estúpida, ridícula que você queira - tipo casar- mas eu nem sequer tenho permissão pra discutir o que eu-"
Enquanto eu estava falando, ele havia colocado as minhas mãos juntas pra restringí-las em um das dele, e ele colocou a outra mão na minha boca.
"Não", o rosto dele estava duro.
Eu respirei fundo pra me acalmar. E, quando a raiva começou a desaparecer, eu sentí outra coisa.
Me levou um minuto pra que eu reconhecesse porque eu estava olhando pra baixo de novo, voltando a ficar corada - porque o meu estômago estava inquieto, porque havia umidez demais nos meus olhos, porque de repente eu queria sair saindo do quarto.
A rejeição passou por mim, instintiva e forte.
Eu sabia que era irracional. Ele foi bem claro em outras ocasiões que a minha segurança era o único fator. Mesmo assim, eu nunca havia estado tão vulnerável antes. Eu fiz uma careta para a colcha que combinava com a cor dos olhos dele e tentei banir a reação reflexiva que me dizia que ele não me desejava e que eu não era desejada.
Edward suspirou. A mão que estava em cima da minha boca se moveu pra debaixo do meu queixo, e ele puxou o meu rosto pra cima até que eu tive que eu tivesse que olhar pra ele.
"O que foi agora?"
"Nada", eu murmurei.
Ele estudou o meu rosto por um longo momento enquanto eu tentava sem sucesso me afastar do olhar dele. As sobrancelhas dele se juntaram, e a expressão dele ficou horrorizada.
"Eu magoei os seus sentimentos?", ele me perguntou, chocado.
"Não", eu mentí.
Tão rápido que eu nem tive certeza de como isso tinha acontecido, eu estava nos braços dele, meu rosto aninhado entre seu ombro e sua mão, enquanto o polegar dele alisava a minha bochecha me acalmando.
"Você sabe porque eu tenho que dizer não", ele murmurou. "Você sabe que eu te quero também".
"Quer?", eu sussurrei, minha voz cheia de dúvida.
"É claro que eu quero, sua garota boba, linda, super sensível." Ele riu uma vez, e aí a voz dele ficou vazia. "Todo mundo não quer? Eu sinto como se houvesse uma linha atrás de mim, correndo pra chegar na frente, esperando que eu cometa um erro grande o suficiente... Você é desejável demais pro seu próprio bem".
"Quem está sendo bobo agora?" Eu me perguntei se estranha, tímida, e inapta eram considerados desejáveis no livro de alguém.
"Você que eu faça uma petição pra te fazer acreditar? Será que eu devo te dizer quais os nomes que estariam no topo da lista? Você sabe de alguns deles, alguns iam te surpreender".
Eu balancei a minha cabeça contra o peito dele, fazendo uma careta. "Você só está tentando me distrair. Vamos voltar ao assunto".
Ele suspirou.
"Me diga se há algo errado comigo", eu tentei soar como se não me importasse. "As sua demanda é o casamento" - eu não conseguí dizer a palavra sem fazer uma cara -
"pagar a minha faculdade, mais tempo, e você não se incomodaria se o meu veículo fosse um pouco mais rápido". Eu erguí as minhas sobrancelhas. "Eu disse tudo? Essa é uma lista comprida".
"Só a primeira é uma demanda". Ele parecia estar tendo dificuldades em manter um rosto sério. "Os outros são meros pedidos".
"E a minha única demanda, solitária, é -"
"Demanda?", ele perguntou, de repente sério de novo.
"Sim. Demanda".
Os olhos dele se estreitaram.
"Casamento é uma extensão pra mim. Eu não vou dizer sim a não ser que eu ganhe alguma coisa em troca".
Ele se inclinou pra sussurrar no meu ouvido. "Não", ele murmurou suavemente. "Agora não é possível. Depois, quando você for menos quebrável. Seja paciente, Bella".
Eu tentei manter minha voz firme a razoável. "Mas esse é o problema. Não será a mesma coisa quando eu for menos quebrável. Não será o mesmo! Eu não sei quem eu serei até lá".
"Você ainda será Bella", ele prometeu.
Eu fiz uma careta. "Eu serei tão diferente que eu iria querer matar Charlie - eu iria querer beber o sangue de Jacob ou de Angela se eu tivesse a chance - como é que isso pode ser verdade?"
"Isso vai passar. E eu duvido que você vá querer beber o sangue do cachorro". Ele fingiu estremecer com o pensamento. "Mesmo sendo uma recém-nascida você vai ter um gosto melhor que isso".
Eu ignorei a tentativa dele de me distrair. "Mais isso sempre será o que eu vou querer mais, não é?", eu desafiei. "Sangue, sangue e mais sangue!"
"O fato de que você ainda está viva prova que isso não é verdade", ele apontou.
"Mais de oitenta anos depois", eu lembrei ele. "De qualquer forma, eu quis dizer fisicamente. Intelectualmente, eu sei que serei capaz de ser eu mesma... depois de algum tempo. Mas puramente fisicamente - eu sempre sentirei mais sede do que qualquer outra coisa"
Ele não respondeu.
"Então eu serei diferente", eu concluí sem me opor. "Porque agora mesmo, fisicamente, não hà nada que eu queira mais do que você. Mais do que comida ou água ou oxigênio. Intelectualmente, eu tenho as minhas prioridades em uma ordem um pouco mais sensível. Mas fisicamente..."
Eu virei a minha cabeça pra beijar a palma da mão dele.
Ele respirou fundo. Eu fiquei surpresa de notar que isso foi um pouco instável.
"Bella, eu podia te matar", ele sussurrou.
"Eu não acho que você poderia".
Os olhos de Edward estreitaram. Ele levantou sua mão e pegou rapidamente atrás de sí mesmo alguma coisa que eu não podia ver. Houve um som apafado de alguma coisa partindo, e a cama estremeceu embaixo de nós.
Alguma coisa escura estava na mão dele; ele a levantou para o meu curioso exame. Era uma flor de metal, uma das rosas que adornavam o poste de metal e o pálio da armação da cama dele. A mão dele se fechou por um breve segundo, os dedos dele se contraindo suavemente, e aí se abriu de novo.
Sem uma palavra, ele me ofereceu a bola de metal preto amassada, desigual.
Havia uma marca do interior da mão dele, como um pedaço de massa de modelar espremida na mão de uma criança. Meio segundo se passou, e a forma se transformou em areia preta na mão dele.
Eu encarei ele. "Não foi isso que eu quis dizer. Eu já sei o quanto você é forte. Você não precisava quebrar o móvel".
"O que você quis dizer, então?", ele perguntou com uma voz sombria, jogando os vestígios da areia preta no canto do quarto; eles bateram na parece e soaram como chuva.
Os olhos dele estavam atentos no meu rosto enquanto eu tentava explicar.
"Obviamente não era que você não é capaz de me machucar fisicamente, se você quisesse... Mais isso, você não quer me machucar... é tanto que eu não acho você um dia pudesse".
Ele começou a balançar a cabeça antes que eu tivesse acabado.
"Isso pode não funcionar assim, Bella"
"Pode", eu bufei. "Você não faz mais idéia do que está falando do que eu".
"Exatamente. Você acha que eu ia expor você a esse tipo de risco?"
Eu olhei nos olhos dele por um longo minuto. Não havia nenhum sinal de compromisso, nenhuma ponta de indecisão neles.
"Por favor", eu sussurrei finalmente, sem esperanças. "Isso é tudo o que eu quero. Por favor". Eu fechei os meus olhos, vencida, esperando por um não rápido e final.
Mas ele não respondeu imediatamente. Eu hesitei sem acreditar,aturdida ao descobrir que a respiraçãp dele estava ínstavel de novo.
Eu abri os meus olhos, e o rosto dele estava arrasado.
"Por favor?",eu sussurrei de novo,meu coração começando a bater mais rápido. As minhas palavras tropaçaram umas nas outras enquanto eu me apressava pra tirar vantagem da incerteza repentina nos olhos dele. "Você não tem que me dar nenhuma garantia. Se isso não der certo,bem, então é isso. Vamos só tentar... só tentar. E eu vou te dar o que você quer",eu prometí rapidamente. "Eu caso com você. Eu deixo você pagar por Dartmouth, e eu não vou reclamar dos subornos que você me der. Você pode me comprar um carro veloz se isso te deixa feliz! Só... por favor"
Os braços gelados dele se apertaram ao me redor, e os lábios dele estavam na minha orelha; a respiração fria dele me fez estremecer. "Isso é insuportável. Tantas coisas que eu queria dar pra você - e isso é o que você decide pedir. Você tem idéia do quanto é doloroso, tentar te recusar quando você me implora desse jeito?"
"Então não recuse", eu sugerí, sem fôlego.
Ele não respondeu.
"Por favor", eu tentei de novo.
"Bella", ele balançou a cabeça lentamente, mas não parecia ser uma negação enquanto o rosto dele, seus lábios, se moviam pra frente e pra trás na minha garganta. Parecia mais uma redenção. O meu coração, já correndo, batia freneticamente.
De novo, eu tomei toda a vantagem que podia. Quando o rosto dele virou em direção ao meu com o leve movimento da sua indecisão, eu me virei rapidamente nos braços dele até que os meus lábios alcançaram os dele. As mãos dele seguraram o meu rosto, e eu pensei que ele fosse me afastar de novo.
Eu estava errada.
A boca dele não estava gentil; havia uma nova extremidade de conflito e desespero na forma como os seus lábios de moviam. Eu travei os meus braços no pescoço dele, e, para a minha pele repentinamente mais quente, a pele dele parecia mais fria do que nunca. Eu estremecí, mas não era pelo frio.
Ela não parou de me beijar. Fui eu quem teve que parar, ofegando por ar. Mesmo assim os lábios dele não saíram da minha pele, eles só se moveram para a minha garganta. A sensação de vitória deu uma alta estranha; isso me fez poderosa. Corajosa. As minhas mãos agora estavam inquietas; eu passei pelos botões da camisa dele com facilidade dessa vez, e os meus dedos traçaram as formas perfeitas do peito gelado dele. Ele era lindo demais. Qual era a palavra que ele havia acabado de usar? Insuportável - isso é o que era. A beleza dele era demais pra suportar...
Ele colocou a sua boca de volta na minha, e ele pareceu estar tão ansioso quanto eu estava.
Uma das mãos dele ainda segurava o meu rosto, seu outro braço estava apertado na minha cintura, me trazendo mais pra perto. Isso tornou as coisas um pouco mais difíceis enquanto eu tentava alcançar a frente da minha camisa, mas não impossível.
Algemas frias como metal se fecharam nos meus pulsos, e puxaram as minhas mãos pra cima da minha cabeça, que de repente estava em cima de um travesseiro.
Os lábios dele estavam no meu ouvido de novo. "Bella", ele murmurou, a voz dele era quente e macia. "Você pode por favor parar de tentar tirar as suas roupas?"
"Você quer fazer essa parte?", eu perguntei, confusa.
"Essa noite não", ele respondeu suavemente. Agora os lábios dele estavam mais devagar na minha bochecha e na minha mandíbula, toda a urgência havia desaparecido.
"Edward, não -", eu comecei a discutir.
"Eu não estou dizendo não", ele me assegurou. "Eu estou dizendo não essa noite".
Eu pensei nisso por um momento e a minha respiração se acalmou.
"Me dê uma razão pela qual essa noite não é tão boa quanto qualquer outra noite", eu ainda estava sem fôlego; isso deixou a frustração na minha voz menos impressionante.
"Eu não nasci ontem" Ele gargalhou no meu ouvido. "Entre nós dois qual é aquele que está com mais vontade de dar ao outro o que ele quer? Você só prometeu se casar comigo antes de qualquer mudança, mas se eu fizer isso essa noite, o que me garante que você não vai sair correndo pra Carlisle de manhã? Eu sou - claramente - muito menos relutante em te dar o que você quer. Portanto... você primeiro".
Eu exalei num alto acesso de ira. "Você vai me fazer casar com você antes?", eu perguntei sem acreditar.
"Esse é o acordo - é pegar ou largar. Compromisso, lembra?"
Os braços dele se entrelaçaram ao meu redor, e ele começou a me beijar de uma forma que devia ser ilegal. Muito persuasiva - isso era compulsão, coerção. Eu tentei manter minha cabeça limpa... e falhei rapidamente e absolutamente.
"Eu realmente acho que essa é uma má idéia", eu ofeguei quando ele me deixou respirar.
"Eu não estou surpreso que você se sinta assim" Ele deu um sorriso malicioso. "Você tem uma cabeça pouco aberta".
"Como foi que isso aconteceu?", eu murmurei. "Eu pensei que ia fazer as coisas do meu jeito essa noite - pra variar - e agora, do nada -"
"Você está noiva", ele terminou.
"Eca! Por favor não diga isso em voz alta".
"Você vai voltar com a palavra?", ele quis saber. Ele se afastou pra ler o meu rosto. A expressão dele estava divertida. Ele estava se divertindo.
Eu encarei ele, tentando ignorar a forma como o sorriso dele fazia o meu coração reagir.
"Você vai?", ele pressionou.
"Ugh!", eu gemí. "Não. Eu não vou. Você está feliz agora?"
O sorriso dele era dominante. "Exepcionalmente".
Eu gemí de novo.
"Você não está nem um pouco feliz?"
Ele me beijou de novo antes que eu pudesse responder. Outro beijo persuasivo demais.
"Um pouco", eu admití quando pude falar. "Mas não por estar me casando".
Ele me beijou outra vez. "Você está com a sensação de que tudo está ao contrário?", ele riu no meu ouvido. "Tradicionalmente, não era você que devia estar discutindo no meu lugar, e eu no seu?"
"Não tem muita coisa tradicional entre você e eu".
"Verdade".
Ele me beijou de novo, e continuou até que o meu coração estava disparado e a minha pele estava corando.
"Olha, Edward", eu murmurei, minha voz lisonjeando, quando ele parou pra beijar a palma da minha mão. "Eu disse que me casaria com você, e eu vou. Eu prometo. Eu juro. Se você quiser, eu assino um contrato com o meu próprio sangue".
"Isso não foi engraçado", ele murmurou na parte de dentro do meu pulso.
"O que eu estou dizendo é isso - Eu não vou te enganar nem nada. Você me conhece melhor que isso. Então não hà razão pra esperar. Nós estamos completamente sozinhos - com que frequência isso acontece? - e você arrumou essa cama tão grande e confortável..."
"Essa noite não", ele disse de novo.
"Você não confia em mim?"
"É claro que eu confio"
Usando a mão que ele ainda estava beijando, eu puxei o rosto dele de volta pra onde eu podia ver a expressão dele.
"Então qual é o problema? Não é como se você não soubesse que vai vencer no final". Eu fiz uma careta e murmurei. "Você sempre ganha".
"Só estou garantindo as minhas apostas", ele disse calmamente.
"Há mais alguma coisa", eu adivinhei, meus olhos estreitando. Havia uma defesa no rosto dele, uma leve pista de um motivo secreto que ele estava tentando esconder com o seu jeito casual. "Você está planejando dar pra trás na sua palavra?"
"Não", ele prometeu solenemente. "Eu juro pra você, nós vamos tentar. Depois que você casar comigo".
Eu balancei a minha cabeça, e rí bobamente. "Você está me fazendo parecer um vilão de um melodrama - revirando o bigode enquanto tenta roubar a virtude de uma pobre garotinha".
Os olhos dele estavam cautelosos enquanto passaram pelo meu rosto, aí ele rapidamente se abaixou pra pressionar seus lábios na minha clavícula.
"É isso, não é?", o riso curto que escapou de mim era mais chocado que divertido. "Você está tentando proteger a sua virtude!", eu cobri a minha boca com a minha mão pra abafar as gargalhadas que se seguiram. As palavras eram tão... antiquadas.
"Não, garota boba", ele murmurou contra o meu ombro. "Eu estou tentando proteger a sua. Você está tornando isso chocantemente difícil".
"Entre todas as ridículas -"
"Me deixe te perguntar uma coisa", ele me interrompeu rapidamente. "Nós já tivemos essa discussão antes, mas me distraia. Quantas pessoas nesse quarto têm uma alma? Uma chance no céu, ou o que quer que haja depois dessa vida?"
"Duas", eu respondi imediatamente, minha voz furiosa.
"Tudo bem. Talvez isso seja verdade. Agora, existe um mundo cheio de dissenções sobre isso, mas a vasta maioria acha que existem algumas regras que precisam ser seguidas".
"As regras dos vampiros não são suficientes pra você? Você tem que se preocupar com as dos humanos também?"
"Isso não pode fazer mal", ele levantou os ombros. "Só na dúvida".
Eu encarei ele através de olhos apertados.
"Agora, é claro, pode ser tarde demais pra mim, mesmo se você estiver certa sobre a minha alma".
"Não, não é", eu discutí, com raiva.
"'Não matarás' é comumente aceito pelos maiores sistemas de crenças. E eu já matei muitas pessoas, Bella".
"Só pessoas más".
Ele levantou os ombros. "Talvez isso conte, mas talvez não conte. Mas você não matou ninguém -"
"Que você saiba", eu murmurei.
Ele sorriu, mas de outra forma, ignorou a interrupção. "E eu vou fazer o meu melhor pra te manter fora do caminho da tentação".
"Ok. Mas nós não estávamos brigando por cometer assassinatos", eu lembrei ele.
"O mesmo princípio se aplica - a única diferença é que nessa área eu sou tão imaculado quanto você. Será que eu não posso ter uma regra que não quebrei?"
"Uma?"
"Você sabe que eu já roubei, eu já mentí, eu já cobicei... a minha virtude é tudo o que me sobra". Ele deu um sorriso torto.
"Eu minto o tempo todo".
"Sim, mas você mente mente tão mal que isso nem conta. Ninguém acredita em você".
"Eu realmente espero que você esteja errado quanto a isso - porque senão Charlie pode estar prestes a invadir essa quarto com uma arma carregada".
"Charlie fica mais feliz quando ele finge engolir as suas histórias. Ele prefere menti pra sí mesmo do que olhar muito de perto", ele sorriu pra mim.
"Mas o que você já cobiçou?", eu perguntei duvidosamente. "Você tem tudo".
"Eu cobicei você", o sorriso dele escureceu. "Eu não tinha o direito de querer você - mas eu fui lá e te peguei do mesmo jeito. E agora veja o que você se tornou! Tentando seduzir um vampiro" Ele balançou a cabeça com horror de brincadeira.
"Você pode cobiçar o que já é seu", eu informei ele. "Além do mais, eu pensei que era com a minha virtude que você estava preocupado".
"E é. Se é tarde demais pra mim... Bem, eu serei amaldiçoado - sem pretenção de trocadilho - se eu deixar eles te pegarem também".
"Você não pode me fazer ir pra um lugar onde você não vai estar", eu jurei. "Essa é a minha definição de inferno. De qualquer forma, eu tenho uma solução fácil pra isso: não vamos morrer nunca, tá certo?"
"Isso parece fácil o suficiente. Porque eu não pensei nisso?"
Ele sorriu pra mim e eu desistí com um humph raivoso. "Então é isso. Você não vai dormir comigo até que estejamos casados".
"Tecnicamente, eu não posso dormir com você nunca".
Eu revirei os meus olhos. "Muito maduro, Edward".
"Mas, todos os outros detalhes, sim, você os entendeu corretamente".
"Eu acho que você tem um motivo escondido".
Os olhos dele se arregalaram inocentemente. "Mais um?"
"Você sabe que isso vai apressar as coisas", eu acusei.
Ele tentou não sorrir. "Só hà uma coisa que eu quero apressar, o resto pode esperar pra sempre... mas por isso, é verdade, os seus hormônios humanos impaciêntes são os meus maiores aliados nesse momento".
"Eu não posso acreditar que estou caindo nessa. Quando eu penso em Charlie... e Renée! Você consegue imaginar o que Angela vai pensar? Ou Jessica? Ugh. Eu já posso ouvir a fofoca agora".
Ele ergueu uma sobrancelha pra mim, e eu sabia porque. O que importava o que eles dissessem sobre mim quando eu estaria indo embora em breve pra nunca mais voltar? Será que realmente eu era tão sensível que eu não poderia aguentar umas semanas de olhares de lado e de ser motivo de perguntas?
Talvez isso não me incomodasse tanto se eu não soubesse que eu estaria fofocando tão condescendentemente quanto eles se outra pessoa estivesse se casando nesse verão.
Gah. Casada esse verão! Eu estremecí.
E depois, talvez isso não me incomodasse tanto se eu não estremecesse só de pensar em casamento.
Edward interrompeu as minhas irritações. "Não tem que ser uma grande produção. Eu não preciso de festa. Você não precisa dizer a ninguém e nem mudar nada. Nós vamos à Las Vegas - você pode usar jeans velhos e nós iremos à uma capela com uma janela drive-thru. "
"Eu só quero que seja oficial - que você pertença a mim e a mais ninguém".
"Isso não podia ser mais oficial do que já é", eu murmurei. Mas a descrição dele não soava tão mal. Só Alice ficaria desapontada.
"Nós veremos isso" Ele sorriu complacentemente. "Eu suponho que você não queira o seu anel agora?"
Eu tive que engolir antes de poder falar. "Você supôs corretamente".
Ele riu da minha expressão. "Está bem. Eu vou colocá-lo no seu dedo em breve."
Eu encarei ele. "Você fala como se já tivesse um".
"Eu tenho", ele disse, sem vergonha. "Pronto pra ser forçado em você ao menor sinal de fraqueza."
"Você é inacreditável".
"Você quer vê-lo?", ele perguntou. Seus olhos líquidos de topázio estavam brilhando de repente com excitação.
"Não!", eu quase gritei, uma reação em reflexo. Eu me arrependí imediatamente. O rosto dele ficou um pouco abatido. "A não ser que você realmente queira me mostrar", eu emendei. Eu apertei os meus dentes pra evitar que o horror ilógico aparecesse.
"Está tudo bem", ele levantou os ombros. "Eu posso esperar".
Eu suspirei. "Me mostra a droga do anel, Edward".
Ele balançou a cabeça. "Não".
Eu estudei a expressão dele por um longo minuto.
"Por favor?", eu pedí baixinho, experimentando essa minha nova arma recém-descoberta. Eu toquei o rosto dele levemente com as pontas dos meus dedos. "Por favor, eu posso vê-lo?"
Os olhos dele se estreitaram. "Você é a criatura mais perigosa que eu já conhecí", ele murmurou. Mas ele se levantou e se moveu com uma graça inconsciente pra se ajoelhar perto do pequeno criado da cama. Ele estava de volta á sua cama em uma instante, se sentando ao meu lado com um braço nos meus ombros. Na sua outra mão havia uma caixinha preta. Ele a equilibrou no meu joelho esquerdo.
"Vá em frente e olhe, então", ele disse bruscamente.
Pegar a caixinha inofensiva foi mais difícil do que deveria ser, mas eu não queria magoá-lo de novo, então eu tentei evitar que as minhas mãos tremessem. A superficie era de um cetim preto macio.
Eu alisei ele com os dedos, hesitando.
"Você não gastou muito dinheiro, gastou? Minta pra mim, se você gastou".
"Eu não gastei nada", ele me assegurou. "É só outro presente passado. Esse é o anel que o meu pai deu para a minha mãe".
"Oh", a surpresa coloriu a minha voz. Eu peguei a tampa entre o meu polegar e indicador, mas não a abrí.
"Eu acho que está um pouco ultrapassado" O tom dele estava apologético de brincadeira. "Ultrapassado, exatamente como eu. Eu posso te dar alguma coisa mais moderna. Alguma coisa da Tiffany's?"
"Eu gosto de coisas ultrapassadas", eu murmurei hesitantemente enquanto levantava a tampa.
Enfiado no cetim preto, o anel de Elizabeth Masen resplandeceu na luz fraca. A face era de um longo oval, cercado de pedras brilhantes arredondadas enfileiradas. A faixa era de ouro - delicada e estreita. O ouro fazia uma delicada teia ao redor dos diamantes. Eu nunca tinha visto nada parecido.
Sem pensar, eu alisei as gemas brilhantes.
"É tão bonito, eu murmurei pra mim mesma, surpresa.
"Você gostou?"
"É lindo", eu levantei os ombros, fingindo falta de interesse. "O que hà pra não gostar?"
Ele gargalhou. "Veja se cabe".
A minha mão esquerda se curvou num punho.
"Bella", ele suspirou. "Eu não vou soldá-lo no seu dedo. Só experimente pra ver se o tamanho precisa ser ajustado. Depois você pode tirá-lo".
"Tá bom", eu murmurei.
Eu fui pegar o anel, mas os dedos longos dele ganharam de mim. Ele pegou a minha mão esquerda na dele, e deslizou o anel no meu terceiro dedo. Ele segurou minha mão, e nós dois examinamos o brilho oval contra a minha pele. Não era tão horrível quanto eu havia temido, ter ele lá.
"Serve perfeitamente", ele disse indiferentemente. "Isso é bom - me poupa de uma viagem até o joalheiro".
Eu podia ouvir alguma emoção forte queimando por baixo do tom casual dele, e eu olhei pra cima pra ver o rosto dele. Estava nos olhos dele também, apesar da cuidadosa indiferença da expressão dele.
"Você gostou dele, não gostou?", eu perguntei suspeitosamente, tremulando os meus dedos e pensando que realmente era uma pena que eu não tivesse quebrado a mão esquerda.
Ele ergueu os ombros. "Claro", ele disse, ainda casual. "Ele fica muito bem em você".
Eu olhei nos olhos dele, tentando decifrar a emoção que borbulhava bem embaixo da superfície. Ele olhou de volta, a falsa pretensão casual escorregou de repente. Ele estava cintilando - seu rosto de anjo estava brilhando com alegria e vitória. Ele estava tão glorioso que me deixou sem fôlego.
Antes que eu recuperasse o fôlego, ele estava me beijando, os lábios dele estavam exultantes. Eu estava com a cabeça leve quando ele moveu seus lábios pra falar em meu ouvido - mas a respiração dele estava tão abalada quanto a minha.
"Sim, eu gosto disso. Você não faz idéia".
Eu rí, refolegando um pouco. "Eu acredito em você".
"Você se importa se eu fizer uma coisa?", ele murmurou, seus braços se apertaram ao meu redor.
"O que você quiser".
Mas ele me soltou e se afastou.
"Qualquer coisa menos isso", eu reclamei.
Ele me ignorou, pegando a minha mão e me puxando da cama também. Ele ficou na minha frente, mãos nos meus ombros, o rosto sério.
"Agora, eu quero fazer isso. Por favor, por favor, mantenha em mente que você já concordou com isso, e não arruine o momento pra mim".
"Oh, não", eu resfoleguei enquanto ele se pôs em um joelho.
"Seja boazinha", ele murmurou.
Eu respirei fundo.

"Isabella Swan?", ele olhou pra mim através daqueles cílios impossivelmente grandes, os olhos dele estavam suaves mas, de alguma forma, chamuscando. "Eu prometo te amar pra sempre - todos os dias do pra sempre. Você quer se casar comigo?"

Haviam muitas coisas que eu queria dizer, algumas delas não eram nem um pouco legais, e algumas delas eram mais pasmamente apaixonadas e românticas do que ele provavelmente sonhava que eu era capaz. Ao invés de me envergonhar com alguma dessas coisas, eu sussurrei. "Sim".

"Obrigado", ele disse simplesmente. Ele pegou minha mão esquerda e beijou todas as pontas dos meus dedos antes de beijar o anel que já era meu.

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