sexta-feira, 1 de julho de 2011

Eclipse - Capítulos 1 ao 5

Capítulo 1 - Ultimato


Bella,
Eu não sei por que você está fazendo Charlie passar bilhetinhos pra Billy como se estivéssemos na 2ª série se eu quisesse falar com você eu teria respondido o

Foi você quem fez a escolha aqui, Ok?
Você não pode ter as duas coisas quando

Que parte de 'inimigos mortal' você não
Olha, eu sei que eu estou sendo um idiota, mas não existe outra forma de

Nós não podemos ser amigos enquanto você está passando o seu tempo com um bando de

Pensar de mais em você só deixa as coisas piores, então não escreva mais


É, eu sinto a sua falta também. Muito. Isso não muda nada.
Desculpe,
Jacob.


Eu passei os meus dedos pela página, sentindo as marcas onde ele havia pressionado a caneta no papel com tanta força que ele quase rasgou. Eu podia imaginá-lo escrevendo isso - desenhando as letras raivosas com a sua escrita áspera, riscando linha após linha quando as palavras saíam erradas, talvez até fazendo a caneta quebrar em sua mão grande demais; isso explicaria as manchas de tinta.
Eu podia imaginar a frustração fazendo as sobrancelhas dele se apertarem e enrugando a sua testa. Se eu estivesse lá, eu teria sorrido. Não tenha uma hemorragia cerebral, Jacob, eu teria dito a ele. Bota tudo pra fora logo.
Rir era a última coisa que eu tinha vontade de fazer enquanto relia as palavras que eu quase já tinha memorizado. A resposta dele ao meu bilhete de alegações - passado de Charlie pra Billy pra ele, exatamente como na segunda série, como ele apontou - não era surpresa. Eu já sabia a essência do que ele ia dizer antes de abri-lo.
O que mais me surpreendia era o quanto aquelas linhas rabiscadas haviam me machucado - como se a ponta das letras tivessem superfícies cortantes. Mais do que isso, por trás de cada palavra raivosa se escondia uma piscina de dor; a dor de Jacob me cortou mais profundamente do que a minha própria.
Enquanto eu estava pensando nisso, eu senti o cheiro inconfundível de alguma coisa queimando na cozinha.
Em outra casa, o fato de que alguém que não fosse eu estava cozinhando não causaria muito pânico.
Eu enfiei o papel amassado no meu bolso de trás e saí correndo. Eu cheguei ao fim das escadas quase sem tempo. O recipiente de molho de espaguete que Charlie tinha enfiado no microondas estava apenas no início da revolução quando eu abri a porta e o tirei de lá.
"O que eu fiz de errado?", Charlie quis saber.
"Você tinha que ter tirado a tampa antes, pai. Metal não é bom em microondas." Eu rapidamente removi a tampa enquanto falava, derramei metade do molho em uma tigela, depois coloquei a tigela de volta no microondas e guardei o resto de volta no congelador; eu arrumei o tempo e apertei o botão start.
Charlie observou os meus arranjos com os lábios torcidos.
"Eu fiz o macarrão direito?"
Eu olhei para a panela no fogão - a fonte do cheiro que havia me alertado.
"Mexer ajuda", eu disse à meia voz. Eu encontrei uma colher e tentei desgrudar a massa que estava pegada no fundo.
Charlie suspirou.
"Então, pra que é tudo isso?", eu perguntei a ele.
Ele cruzou os braços no peito e olhou, pela janela dos fundos, para a chuva caindo.
"Eu não sei do que você está falando", ele rosnou.
Eu estava confusa. Charlie cozinhando? Qual era o motivo da sua atitude ranzinza?
Edward ainda não estava aqui; geralmente Charlie guardava esse tipo de atitude para o meu namorado, fazendo o melhor que podia para ilustrar o tema "mal vindo" com palavras e postura. Os esforços de Charlie eram desnecessários - Edward já sabia exatamente o que o meu pai estava pensando sem esse show.
A palavra "namorado" me fez mordiscar a minha bochecha pelo lado interior com uma tensão familiar enquanto eu me movia. Não era a palavra certa, nem um pouco. Eu precisava de uma palavra mais expressiva pra comprometimento eterno... Mas palavras como destino e fado pareciam estranhas quando você as usava numa conversa convencional.
Edward tinha outra palavra em mente, e essa palavra era a fonte da tensão que eu sentia.
Os meus dentes se apertavam só de pensar na palavra.
Noiva. Ugh. Eu me afastei do pensamento.
"Eu perdi alguma coisa? Desde quando você faz o jantar?", eu perguntei a Charlie. A massa grudenta boiava na água borbulhante enquanto eu a cutucava. "Ou será que eu devo dizer ‘tenta’ fazer o jantar?"
Charlie levantou os ombros.
"Não há nenhuma lei que diga que eu não posso cozinhar em minha própria casa."
"É você quem sabe", eu respondi sorrindo, enquanto olhava para o distintivo no seu casaco de couro.
"Ha. Essa foi boa." Ele tirou a jaqueta como se o meu olhar tivesse feito ele se lembrar que ainda estava usando o casaco e pendurou-o no gancho reservado para o seu cinto. Seu cinto de armas já estava pendurado no lugar - ele não tinha a necessidade de usá-lo para ir à delegacia por algumas semanas. Não houve mais desaparecimentos perturbadores pra atrapalhar a pequena cidade de Forks, em Washington, nada de visões de lobos gigantescos, misteriosos, nas florestas chuvosas...
Eu cutucava o macarrão em silêncio, imaginando que Charlie falaria sobre o que quer que estivesse incomodando-o quando ele achasse que estava na hora. Meu pai não era um homem de muitas palavras, e o esforço desastroso de orquestrar um jantar feito por ele deixou muito claro que ele estava com um número estranho de palavras em sua cabeça.
Eu olhei pra o relógio rotineiramente - uma coisa que eu fazia todos os dias nessa hora. Agora faltava menos de meia hora. As tardes eram a parte mais difícil do meu dia. Desde que o meu ex melhor amigo (e lobisomem), Jacob Black, me dedurou sobre a moto que eu andava guiando - um castigo que ele havia arquitetado pra que eu não pudesse passar tempo com o meu namorado (e vampiro), Edward Cullen - Edward só tem permissão de me ver até as nove e meia da noite, sempre nos confins da minha casa e sob a supervisão do olhar infalivelmente mal-humorado do meu pai.
Essa era só uma pequena parcela do castigo anterior que eu recebi por ter desaparecido três dias sem explicar e pelo episódio do mergulho do penhasco.
É claro, eu ainda via Edward na escola, porque ainda não havia nada que Charlie pudesse fazer em relação a isso. E depois, Edward passava quase todas as noites no meu quarto também, mas Charlie não estava precisamente consciente disso. A habilidade de Edward de escalar rápida e silenciosamente a minha janela no segundo andar era quase tão útil quanto a habilidade dele de ler a mente de Charlie.
Apesar de as tardes serem a única hora que eu passava longe de Edward, isso já era o suficiente pra me deixar impaciente, e as horas sempre se arrastavam. Mesmo assim, eu agüentava o meu castigo sem reclamar porque - pra começar - eu sabia que tinha merecido, e - pra terminar - porque eu sabia que não podia machucar o meu pai me mudando agora, quando uma separação muito mais permanente se aproximava, invisível pra Charlie, perto no horizonte.
Meu pai se sentou na mesa com um jornal desdobrado e amassado que havia lá; dentro de segundos ele já estava estalando a língua de desaprovação.
"Eu não sei pra quê você lê o jornal, pai. Ele só te tira do sério."
Ele me ignorou, rosnando para o papel em suas mãos.
"É por isso que todo mundo quer viver em cidades pequenas. Ridículo!"
"O que foi que as cidades grandes fizeram de errado agora?"
"Seattle está entrando para a lista das cidades com mais crimes do país. Cinco homicídios sem solução nas últimas duas semanas. Você pode imaginar viver assim?"
"Na verdade, eu acho que Phoenix está mais no topo da lista, pai. Eu vivi assim."
Eu nunca havia chegado perto de ser uma vítima de assassinato antes de vir pra essa pequena cidade segura. Na verdade, eu ainda estava em muitas das listas de perigo... A colher balançou nas minhas mãos, fazendo a água tremer.
"Bem, você não me pagaria o suficiente", Charlie disse.
Eu desisti de salvar o jantar e me sentei pra servi-lo; eu tive que usar uma faca de carne pra cortar uma porção do espaguete pra mim e pra Charlie, enquanto ele observava com uma expressão tímida. Charlie cobriu o seu com molho pra ajudar e começou a escavar. Eu disfarcei o meu com o molho da melhor forma que pude e segui o exemplo dele, sem muito entusiasmo. Nós comemos em silêncio por algum tempo. Charlie ainda estava vasculhando as notícias, então eu peguei a minha cópia muito abusada de O morro dos ventos uivantes de onde eu havia deixado-a no café da manhã e tentei me perder na Inglaterra da virada do século, enquanto eu esperava que ele começasse a falar.
Eu estava exatamente na parte do retorno de Heathcliff quando Charlie limpou a garganta e jogou o jornal no chão.
"Você está certa", Charlie disse. "Eu tenho uma razão pra ter feito isso." Ele acenou com o garfo na direção da mistura grudenta. "Eu queria falar com você."
Eu coloquei o livro de lado; a encadernação estava tão destruída que ela ficou plana na mesa.
"Você podia ter só pedido."
Ele balançou a cabeça, as sobrancelhas juntas.
"É. Eu vou lembrar disso da próxima vez. Eu pensei que te livrar de fazer o jantar ia te amaciar."
Eu ri.
"Deu certo - seus talentos culinários me deixaram molinha feito marshmallow. Do que você precisa, pai?"
"É sobre Jacob."
Eu senti meu rosto endurecer.
"O que tem ele?", eu perguntei através dos lábios rígidos.
"Calma, Bells. Eu sei que você ainda está brava porque ele te dedurou, mas foi a coisa certa. Ele estava sendo responsável."
"Responsável", eu repeti agudamente, rolando os meus olhos. "Certo. Então, o que tem Jacob?"
A pergunta sem importância repetida na minha cabeça não era nada além do trivial.
O que tem Jacob? O que eu ia fazer em relação a ele? Meu ex-melhor amigo que agora era... o que? Meu inimigo? Eu vacilei.
O rosto de Charlie de repente estava cauteloso.
"Não fique brava comigo, ok?"
"Brava?"
"Bem, é sobre Edward também."
Meus olhos se estreitaram.
A voz de Charlie ficou mais áspera.
"Eu deixo ele entrar em casa, não deixo?"
"Você deixa", eu admiti. "Por breves períodos de tempo. É claro, você também me deixa sair de casa por breves períodos de vez em quando", eu continuei - só de piada, eu sabia que ficaria presa enquanto durasse o período escolar. "Eu tenho sido muito boazinha ultimamente."
"Bem, é mais ou menos aí que eu queria chegar com isso..." E depois o rosto de Charlie se arreganhou num sorriso inesperado; por um segundo ele pareceu ser vinte anos mais jovem.
Eu vi o fraco brilho de uma possibilidade naquele sorriso, mas eu prossegui lentamente.
"Eu estou confusa, pai. Nós estamos falando sobre Jacob, Edward ou sobre o meu castigo?"
O sorriso dele brilhou de novo.
"Um pouco dos três."
"E como eles se relacionam?", eu perguntei, cuidadosa.
"Tudo bem", ele suspirou, erguendo as mãos como se estivesse se rendendo. "Então eu acho que talvez você mereça uma condicional por bom comportamento. Para uma adolescente, você é incrivelmente não-reclamona."
Minha voz e minhas sobrancelhas levantaram.
"Sério? Eu estou livre?"
De onde foi que isso veio? Eu pensei que fosse ficar trancada em casa até me mudar de fato, e Edward não havia registrado nenhuma mudança nos pensamentos de Charlie...
Charlie levantou um dedo.
"Condicionalmente."
O entusiasmo desapareceu.
"Fantástico", eu gemi.
"Bella, isso é mais um pedido do que uma ordem, ok? Você está livre. Mas eu espero que você use essa liberdade mais... judicialmente."
"O que isso significa?"
Ele suspirou de novo.
"Eu sei que você fica satisfeita passando todo o seu tempo com Edward -"
"Eu passo tempo com Alice também", eu interferi. A irmã de Edward não tinha horários para visita; ela ia e vinha quando bem entendia. Charlie era como pudim nas mãos capazes dela.
"Isso é verdade", ele disse. "Mas você tem outros amigos além dos Cullen, Bella. Ou costumava ter."
Nós encaramos um ao outro por um momento.
"Quando foi a última vez que você falou com Angela Weber?", ele jogou pra mim.
"Sexta no almoço", eu respondi imediatamente.
Antes da volta de Edward, os meus amigos da escola haviam se polarizado em dois grupos. Eu gostava de pensar neles como grupos de bem vs. mau. Nós e eles funcionava também. Os mocinhos eram Angela, seu namorado Ben Cheney e Mike Newton; esses três haviam muito generosamente me perdoado quando eu enlouqueci porque Edward foi embora. Lauren Mallory era a líder do lado deles, e quase todo mundo, incluindo minha primeira amiga em Forks, Jessica Stanley, parecia seguir a agenda Anti-Bella dela contentemente.
Com Edward de volta a escola, a linha de divisão havia ficado ainda mais distinta. O retorno de Edward havia cobrado um certo pedágio a Mike, mas Angela era inquestionavelmente leal, e Ben a seguia. A despeito da aversão natural que a maioria dos humanos sentia pelos Cullen, Angela sentava-se obrigatoriamente ao lado de Alice todos os dias no almoço. Depois de alguns dias, Angela até começou a parecer confortável lá. Era difícil não se encantar pelos Cullen - quando você dava a um deles a chance de ser encantador.
"Fora da escola?", Charlie perguntou, chamando minha atenção de volta.
"Eu não tenho visto ninguém fora da escola, pai. De castigo, lembra? E Angela tem um namorado também. Ela está sempre com Ben. Se eu realmente estou livre", eu adicionei, pegando pesado no ceticismo, "talvez possamos sair em casais."
"Tudo bem, mas então...", ele hesitou. "Você e Jake costumavam fazer tudo juntos, e agora -"
Eu cortei ele.
"Dá pra você chegar no ponto, pai? Qual é a sua condição - exatamente?"
"Eu não acho que você deveria abandonar os seus amigos pelo seu namorado, Bella", ele disse numa voz dura. "Não é legal, e eu acho que a sua vida estaria mais bem balanceada se houvessem mais algumas pessoas nela. O que aconteceu Setembro passado..." Eu vacilei. "Bem", ele disse defensivamente. "Se você tivesse uma vida além de Edward Cullen, as coisas podiam não ter sido daquele jeito."
"Teria sido exatamente daquele jeito", eu murmurei.
"Talvez sim, talvez não."
"O ponto?", eu lembrei ele.
"Use a sua liberdade pra ver os seus outros amigos também. Equilibre as coisas."
Eu balancei a cabeça lentamente.
"Equilíbrio é bom. No entanto, eu tenho cotas de tempo pra seguir?"
Ele fez uma cara, mas balançou a cabeça.
"Eu não quero complicar as coisas. Só não esqueça os seus amigos - particularmente Jacob."
Eu levei algum tempo pra encontrar as palavras certas.
"Jacob pode ser... difícil."
"Os Black são praticamente da família, Bella", ele disse, dura e paternalmente de novo. "E Jacob foi um amigo muito, muito bom pra você."
"Eu sei disso."
"Você não sente nem um pouco de saudades dele?", Charlie perguntou, frustrado.
Minha garganta pareceu inchar de repente; eu tive que limpá-la duas vezes antes de responder.
"Sim, eu sinto saudades dele", eu admiti, ainda olhando pra baixo. "Eu sinto muita falta dele."
"Então por que é tão difícil?"
Isso não era uma coisa que eu tinha liberdade de explicar. Era contra as regras para as pessoas normais - pessoas humanas como eu e Charlie - saber sobre o mundo clandestino, cheio de mitos e monstros, que existia secretamente ao nosso redor. Eu sabia sobre esse mundo - e eu tinha uma pequena porção de problemas como resultado. Eu não ia envolver Charlie nos mesmos problemas.
"Com Jacob existe um... conflito", eu disse solenemente. "Eu quero dizer, um conflito sobre a coisa da amizade. Amizade não parece ser o suficiente pra Jake."
Eu inventei a minha desculpa baseada em fatos que eram verdadeiros, mas insignificantes, dificilmente tão cruciais se comparados com o fato de que o bando de lobisomens de Jake odiava amargamente a família vampira de Edward – e, portanto, eu também, já que eu estava inteiramente intencionada a me juntar a essa família. Não era uma coisa que eu podia resolver com ele através de um bilhete, e ele não atendia os meus telefonemas.
Mas o meu plano de ir lidar pessoalmente com o lobisomem definitivamente não havia calhado bem com os vampiros.
"Será que Edward não está a fim de um pouco de competição saudável?", a voz de Charlie estava sarcástica agora.
Eu olhei pra ele com um olhar obscuro.
"Não tem competição."
"Você está machucando os sentimentos de Jake evitando-o desse jeito. Ele iria preferir ser seu amigo do que nada."
Oh, agora era eu que o estava evitando?
"Eu tenho certeza absoluta que Jake não quer amizade de jeito nenhum." As palavras queimaram na minha boca. "Afinal, de onde foi que você tirou essa idéia?"
Agora Charlie parecia envergonhado.
"O assunto pode ter aparecido hoje com Billy..."
"Você e Billy fofocam como mulheres velhas", eu reclamei, espetando o meu garfo violentamente no espaguete congelado no meu prato.
"Billy está preocupado com Jacob", Charlie disse. "Jake está passando por um momento difícil agora... Ele está deprimido."
Eu gemi, mas mantive os meus olhos na gororoba.
"E, além do mais, você ficava tão feliz depois de passar o dia com Jake", Charlie suspirou.
"Eu estou feliz agora", eu rosnei ferozmente por entre os dentes.
O contraste entre as minhas palavras e o tom que eu usei quebrou a tensão. Charlie começou a rir, e eu me juntei a ele.
"Ok, ok", eu concordei. "Equilíbrio."
"E Jacob", ele insistiu.
"Eu vou tentar".
"Bom. Encontre esse equilíbrio, Bella. E, oh, é, você tem correspondência", Charlie disse, fechando o assunto sem muitas dificuldades. "Está no balcão."
Eu não me movi, meus pensamentos se moviam como espirais ao redor do nome de Jacob. Provavelmente era só correspondência boba; eu havia acabado de receber um pacote da minha mãe e não estava esperando mais nada.
Charlie empurrou a sua cadeira pra trás e se espreguiçou enquanto ficava de pé. Ele levou seu prato para a pia, mas antes de ligar a água pra lavá-lo, ele pausou e jogou um envelope grosso pra cima de mim. A carta escorregou pela mesa e deu um choque no meu cotovelo.
"Er, obrigada", eu murmurei, confusa pela insistência dele. Aí eu vi o endereço do remetente - a carta era da universidade do Sudeste do Alaska.
"Isso foi rápido. Eu pensei que havia perdido o prazo de entrega dessa também."
Charlie gargalhou.
Eu virei o e
nvelope e olhei pra ele.
"Está aberto."
"Eu estava curioso."
"Eu estou chocada, xerife. Isso é um crime federal."
"Oh, leia logo."
Eu puxei a carta pra fora e encontrei uma agenda dobrada dos cursos.
"Parabéns", ele disse antes que eu pudesse ler alguma coisa. "Sua primeira aceitação."
"Obrigada, pai."
"Nós deveríamos falar sobre o custeamento. Eu tenho algum dinheiro economizado -"
"Ei, ei, nada disso. Eu não vou tocar na sua aposentadoria, pai. Eu tenho os meus fundos para a faculdade." O que restava dele - que já não era muito no começo.
Charlie fez uma carranca.
"Alguns desses lugares são muito caros, Bella. Eu quero ajudar. Você não tem que ir para o Alaska só porque é mais barato."
Não era mais barato, nem um pouco. Mas era longe, e Juneau tinha um normal de trezentos e vinte e um dias nublados por ano. O primeiro era o meu pré-requisito, o segundo era o de Edward.
"Eu já tenho tudo coberto. Além do mais, tem um monte de auxílios financeiros por aí. É fácil ganhar empréstimos." Eu esperava que o meu blefe não fosse óbvio demais. Eu não tinha feito muitas pesquisas sobre o assunto.
"Então...", Charlie começou, e então ele contorceu os lábios e desviou o olhar.
"Então o que?"
"Nada. Eu só estava..." Ele fez uma carranca. "Só me perguntando quais... quais são os planos de Edward para o ano que vem."
"Oh."
"Então?"
As três batidas rápidas na porta me salvaram. Charlie revirou os olhos enquanto eu pulava pra ficar de pé.
"Já vou!", eu gritei enquanto Charlie murmurava alguma coisa parecida com "Vá embora". Eu o ignorei e segui em frente pra deixar Edward entrar.
Eu tirei a porta do caminho - ridiculamente ansiosa - e lá estava ele, o meu milagre pessoal.
O tempo não me fez imune à perfeição do rosto dele, e eu tinha certeza de que nunca iria me acostumar com nenhum dos aspectos dele. Meus olhos observaram suas feições pálidas: sua dura mandíbula quadrada, a curva mais suave dos seus lábios cheios - que agora estavam curvados pra cima num sorriso, a linha reta do nariz dele, o ângulo das maçãs do rosto dele, a envergadura da sua testa macia de mármore - parcialmente obscurecida por uma mecha de cabelos cor de bronze escurecidos pela chuva...
Eu deixei seus olhos por último, sabendo que quando eu olhasse dentro deles haveria uma grande possibilidade de eu perder a linha de raciocínio. Eles estavam grandes, quentes com um dourado derretido, e moldados por uma linha de cílios grossos. Olhar dentro dos olhos dele sempre faziam eu me sentir extraordinária - como se os meus ossos estivessem como esponja. Eu também ficava com a cabeça meio leve, mas isso podia ser porque eu esquecia de respirar. De novo.
Era o rosto pelo qual qualquer modelo daria a sua alma pra ter. É claro, esse podia ser exatamente o preço pedido: uma alma.
Não. Eu não acreditava nisso. Eu me sentia culpada só de pensar nisso, e eu estava feliz - assim como estava frequentemente feliz - por ser a única pessoa cujos pensamentos eram um mistério pra Edward.
Eu inclinei minha mão e suspirei quando os dedos frios dele encontraram os meus. O toque dele trouxe a sensação mais estranha de alívio - como se eu estivesse sentindo dor e essa dor houvesse cessado de repente.
"Oi", eu sorri um pouco com a minha saudação anti-climática.
Ele ergueu as nossas mãos entrelaçadas pra tocar a minha bochecha com as costas da mão dele.
"Como foi a sua tarde?"
"Lenta."
"Pra mim também."
Ele puxou o meu pulso para o rosto dele, nossas mãos ainda entrelaçadas. Os olhos dele se fecharam enquanto o nariz dele alisava a pele de lá, e ele sorriu gentilmente sem abri-los. Aproveitando o buquê enquanto resistia ao vinho, como ele havia colocado uma vez.
Eu sabia que o cheiro do meu sangue - muito mais doce pra ele do que o cheiro do sangue de qualquer outra pessoa, realmente como o vinho em vez de água para um alcoólatra – causava a ele verdadeira dor pela sede que acarretava. Eu podia apenas imaginar o esforço Herculano por trás desse simples gesto. Eu fiquei triste por ele ter que tentar tanto. Eu me confortei com o fato de que eu não causaria mais dor a ele por muito tempo.
Nessa hora eu ouvi Charlie se aproximando, batendo os pés no caminho com o seu desprazer de costume com a nossa visita. Edward abriu os olhos e deixou as nossas mãos caírem, mantendo-as entrelaçadas.
"Boa noite, Charlie", Edward era sempre impecavelmente educado, apesar de Charlie não merecer isso. Charlie grunhiu pra ele e ficou em pé onde estava, com os braços cruzados no peito. Ele estava levando o conceito de supervisão paterna aos extremos ultimamente.
"Eu trouxe outras inscrições", Edward me disse nessa hora, levantando um bolo de papéis envelopados. Ele estava usando um rolo de selos como se fosse um anel no seu dedo mindinho.
Eu gemi. Como é que podiam ainda haver faculdades às quais ele já não tivesse me obrigado a me inscrever? Como é que ele continuava encontrando essas vagas em aberto? O ano já estava muito atrasado.
Ele sorriu como se pudesse ler os meus pensamentos; eles deviam estar óbvios no meu rosto.
"Ainda haviam prazos de inscrição em aberto. E alguns lugares a fim de fazer exceções..."
Eu podia imaginar as motivações pra essas exceções. E os montes de dólares envolvidos. Edward riu da minha expressão.
"Vamos lá?", ele perguntou, me levando em direção à mesa da cozinha.
Charlie ficou mal-humorado e seguiu atrás, apesar de ele não poder reclamar da agenda de atividades de hoje. Ele vivia me enchendo pra tomar uma decisão sobre a faculdade todos os dias.
Eu limpei a mesa rapidamente enquanto Edward organizava uma pilha intimidante de formulários. Quando eu movi O morro dos ventos uivantes pra cima do balcão, Edward ergueu uma sobrancelha.
Eu sabia o que ele estava pensando, mas Charlie interrompeu antes que Edward pudesse comentar.
"Falando em inscrições para a faculdade, Edward", Charlie disse, seu tom ainda mais solene - ele tentava evitar se dirigir pra Edward diretamente, e, quando ele tinha que fazê-lo, isso exacerbava o seu humor. "Bella e eu estávamos falando sobre o ano que vem. Você já decidiu onde vai estudar?"
Edward sorriu pra Charlie e a voz dele estava amigável.
"Ainda não. Eu recebi algumas cartas de aceitação, mas eu ainda estou pensando as minhas opções."
"Onde você foi aceito?", Charlie pressionou.
"Syracuse... Harvard... Dartmouth... e eu acabei de ser aceito na faculdade do Sudeste do Alaska hoje."
Edward virou levemente a sua cabeça pra o lado pra poder piscar pra mim. Eu prendi uma gargalhada.
"Harvard? Dartmouth?", Charlie murmurou, incapaz de esconder a sua admiração. "Bem, isso é muito... isso é interessante. É, mas a Universidade do Alaska... você realmente está considerando isso quando pode ir para a Ivy League? Quer dizer, o seu pai iria querer que..."
"Carlisle sempre está de acordo com qualquer escolha que eu fizer", Edward disse a ele serenamente.
"Hmph."
"Adivinhe, Edward?", eu pedi com uma voz brilhante, entrando na brincadeira.
"O que, Bella?"
Eu apontei para o grosso envelope no balcão.
"Eu acabei de receber a minha carta de aceitação da Universidade do Alaska!"
"Parabéns", ele deu um sorriso largo. "Que coincidência."
Os olhos de Charlie se estreitaram e ele olhou pra frente e pra trás entre nós.
"Tá bom", ele murmurou depois de um minuto. "Eu vou assistir o jogo, Bella. Nove e meia."
"Er, pai? Lembra o que nós discutimos sobre a minha liberdade...?"
Ele suspirou.
"Certo. Ok, dez e meia. Você ainda tem o toque de recolher nas noites de aula."
"Bella não está mais de castigo?", Edward perguntou. Apesar de saber que ele não estava realmente surpreso, eu não consegui detectar nenhum sinal de falsa excitação na voz dele.
"Condicionalmente", Charlie corrigiu através dos dentes. "O que você tem com isso?"
Eu fiz uma carranca para o meu pai, mas ele não viu.
"Só é bom saber", Edward disse. "Alice está louca pra arranjar uma parceira de compras, e eu tenho certeza de que Bella adoraria ver as luzes da cidade", ele sorriu pra mim.
Mas Charlie rosnou.
"Não!", e o rosto dele ficou roxo.
"Pai! Qual é o problema?"
Ele fez um esforço pra destrincar os dentes.
"Eu não quero que você vá a Seattle agora."
"Huh?"
"Eu te disse sobre a história no jornal - tem alguma espécie de gangue fazendo uma matança em Seattle e eu quero que você mantenha a distância, ok?"
Eu rolei os meus olhos.
"Pai, existe uma chance maior de eu ser atingida por um raio do que eu passar um dia em Seattle e -"
"Não, está tudo bem, Charlie", Edward disse, me interrompendo. "Eu não me referia a Seattle. Eu estava pensando em Portland, na verdade. Eu também não levaria Bella a Seattle. É claro que não."
Eu olhei pra ele sem acreditar, mas ele estava com o jornal de Charlie nas mãos e lia a primeira página atentamente.
Ele devia estar tentando aplacar o meu pai. A idéia de estar em perigo mesmo por causa do mais letal dos humanos estando na companhia de Alice ou Edward era hilária.
Funcionou. Charlie olhou pra Edward por mais ou segundo, e depois levantou os ombros.
"Tudo bem." Ele saiu na direção da sala de estar, agora com um pouco de pressa - talvez ele não quisesse perder o início do jogo.
Eu esperei até que a TV estivesse ligada, pra que Charlie não pudesse me ouvir.
"O que -", eu comecei a perguntar.
"Espere", Edward disse sem tirar os olhos do jornal. Os olhos dele continuaram focados na primeira página enquanto ele empurrava a primeira inscrição na minha direção pela mesa. "Eu acho que você pode reutilizar os seus ensaios nessa. As mesmas perguntas."
Charlie ainda devia estar ouvindo. Eu suspirei e comecei a responder as perguntas repetitivas: nome, endereço, social... Depois de alguns minutos, eu olhei pra cima, mas agora Edward estava olhando perseverantemente pela janela.
Enquanto eu baixava a minha cabeça de volta para o meu trabalho, eu percebi pela primeira vez o nome da escola.
Eu bufei e coloquei os papeis de lado.
"Bella?"
"Fala sério, Edward. Dartmouth?"
Edward levantou as inscrições descartadas e as colocou gentilmente na minha frente novamente.
"Eu pensei que você gostaria de New Hampshire", ele disse. "Há muitas coisas pra eu fazer durante a noite, e as florestas estão convenientemente localizadas para os praticantes ávidos de caminhadas. Bastante vida selvagem." Ele deu o riso torto ao qual ele sabia que eu não podia resistir.
Eu respirei profundamente pelo nariz.
"Eu deixo você pagar, se isso te deixa feliz", ele prometeu. "Se você quiser, eu posso custear o seu interesse."
"Como se eu fosse conseguir entrar sem um enorme suborno. Ou isso foi parte do empréstimo? Uma nova ala dos Cullen para a biblioteca? Ugh! Por que é que estamos tendo essa discussão de novo?"
"Será que dá pra você responder a inscrições, por favor, Bella? Se inscrever não vai te machucar."
Minha mandíbula flexionou-se.
"Quer saber? Eu não acho que vá."
Eu peguei os papéis, planejando colocá-los numa pilha que coubesse direitinho na lata de lixo, mas eles já tinham desaparecido. Eu olhei para a mesa vazia por um momento, e depois pra Edward. Ele não parecia ter se movido, mas as inscrições provavelmente já estavam enfiadas embaixo do casaco dele.
"O que você está fazendo?", eu quis saber.
"Eu sei assinar o seu nome melhor que você. Você já escreveu os ensaios."
"Você está indo longe demais com isso, sabe", eu sussurrei, pela chance improvável de que Charlie não estivesse completamente compenetrado em seu jogo. "Eu não preciso me inscrever pra nada. Eu já fui aceita no Alaska. Eu quase já posso pagar pelo primeiro mês de estudos. Ele é um álibi tão bom quanto qualquer outro. Não há necessidade de jogar fora um bolo de dinheiro, não importa de quem ele seja."
Um olhar de dor espremeu o rosto dele.
"Bella -"
"Não comece. Eu concordo que eu tenha que passar por essas fases por Charlie, mas nós dois sabemos que eu não estarei em condições de estudar no próximo outono. Ficar perto de pessoas."
Meu conhecimento desses primeiros anos como vampira eram incompletos. Edward nunca entrava nos detalhes - esse não era o assunto favorito dele -, mas eu sabia que não era nada bonito. Auto-controle aparentemente era uma habilidade requerida. Qualquer coisa que não estivesse ligada a escola por correspondência estava fora de questão.
"Eu pensei que o timing ainda não estivesse decidido", Edward me lembrou suavemente. "Você pode gostar de um semestre ou dois na faculdade. Ainda existem muitas experiências humanas que você nunca teve."
"Eu irei vivê-las depois."
"Depois elas não serão experiências humanas. Você não terá uma segunda chance para a humanidade, Bella."
Eu suspirei.
"Você precisa ser razoável com o tempo, Edward. É muito perigoso brincar com ele."
“Não há perigo ainda”, ele insistiu.
Eu encarei-o. Sem perigo? Claro. Eu só tinha uma vampira sádica me perseguindo pra vingar a morte do parceiro dela com a minha própria morte, preferivelmente utilizando usando algum método lento e torturante. Quem estava preocupado com Victoria? E, oh, é, os Volturi - a família real de vampiros com o seu pequeno exército de guerreiros vampiros - que insistiam em fazer meu coração parar de bater de uma forma ou de outra num futuro próximo, porque nenhum humano tinha permissão de saber que eles existiam. Certo. Absolutamente nenhuma razão pra entrar em pânico.
Mesmo com Alice continuando a observar - Edward estava se valendo das suas visões apuradas do futuro pra nos dar um aviso -, era uma insanidade contar com a sorte.
Além do mais, eu já tinha ganhado essa discussão. A data para a minha transformação estava tentadoramente marcada pra pouco depois da minha formatura no segundo grau, em apenas algumas semanas.
Uma afiada pontada de enjôo perfurou meu estômago quando eu percebi o quão curto o tempo realmente era. Claro que esta mudança era necessária - é a chave para o que eu mais quero que tudo no mundo reunido - mas eu estava profundamente consciente de Charlie, sentado no outro quarto desfrutando o jogo dele, só ao vivo a cada duas noites. E minha mãe, Renee, longe na Flórida ensolarada, que ainda suplica para eu passar o verão na praia com ela e o novo marido dela.
E Jacob, que, diferente dos meus pais, saberia exatamente o que ia acontecer comigo quando eu desaparecesse para alguma escola distante. Se os meus pais não ficassem suspeitando depois de muito tempo, mesmo que eu pudesse evitar visitas com desculpas sobre custos da viagem, muito pra estudar ou doença, Jacob saberia da verdade.
Por um momento, a dor da repulsa de Jacob ultrapassou qualquer outra dor.
"Bella", Edward murmurou, o rosto dele se contorcendo quando ele leu a angústia no meu. "Não tem pressa. Eu não vou deixar ninguém te machucar. Você pode usar de todo o tempo que precisar."
"Eu quero me apressar", eu sussurrei, sorrindo fracamente, tentando fazer piada do assunto. "Eu quero ser um monstro também."
Os dentes dele se trincaram; ele falou entre eles.
"Você não faz idéia do que está dizendo." Abruptamente ele jogou o jornal amassado na mesa entre nós. Os dedos dele bateram na linha principal na primeira página:
CRESCE O ÍNDICE DE MORTE, POLÍCIA TEME ATIVIDADE DE GANGUE
"O que isso tem a ver com alguma coisa?"
"Monstros não são uma piada, Bella."
Eu olhei para a manchete de novo, e depois para a sua expressão dura.
"Um... vampiro está fazendo isso?", eu sussurrei.
Ele sorriu sem humor, sua voz estava baixa e fria.
"Você ficaria surpresa, Bella, por saber o quão frequentemente a minha espécie está envolvida nessas horrorosas manchetes humanas. É fácil reconhecer, quando você sabe o que procurar. A informação aqui indica que há um vampiro recém nascido em Seattle. Sedento por sangue, selvagem, fora de controle. Do jeito que todos nós somos."
Eu deixei os meus olhos caírem para o papel de novo, evitando os olhos dele.
"Nós estivemos monitorando a situação por algumas semanas. Todos os sinais estão aí - os desaparecimentos improváveis, os cadáveres mal dispostos, a falta de outras provas... Sim, alguém ainda novo. E ninguém parece estar se responsabilizando pelo neófito...", ele respirou fundo. "Bem, não é problema nosso. Nós nem prestaríamos atenção nessa situação se não fosse tão próximo de casa. Como eu disse, isso acontece o tempo inteiro. A existência de monstros resulta em conseqüências monstruosas."
Eu tentei não ver os nomes na página, mas eles se destacavam das outras palavras na folha como se estivessem em negrito. As cinco pessoas cujas vidas estavam acabadas, cujas famílias estavam de luto agora. Era diferente considerar a forma abstrata dos assassinatos lendo esses nomes agora. Maureen Gardiner, Geoffrey Campbell, Grace Razi, Michelle O' Connell, Ronald Albrook. Pessoas que tinham pais e filhos e amigos e bichos de estimação e empregos e esperanças e planos e memórias e futuros...
"Não será o mesmo pra mim", eu cochichei, meio pra mim mesma. "Você não vai me deixar ser assim. Vamos morar na Antártida."
Edward bufou, quebrando a tensão.
"Pingüins. Adorável."
Eu dei uma gargalhada tremendo e joguei o jornal pra fora da mesa pra que eu não pudesse mais ver aqueles nomes; ele bateu na madeira com um estrondo. É claro que Edward iria considerar as opções de caça. Ele e a sua família "vegetariana" - todos compromissados a proteger vidas humanas - preferiam o sabor de grandes predadores pra satisfazer as necessidades de sua dieta.
"Alaska, então, como o planejado. Só que um lugar muito mais remoto que Juneau - algum lugar com ursos pardos."
"Melhor", ele permitiu. "Lá tem ursos polares também. Muito furiosos. E os lobos ficam muito grandes."
Minha boca se abriu e a respiração saiu numa contração afiada.
"Qual é o problema?", ele perguntou. Antes que eu pudesse me recuperar, a confusão desapareceu do rosto dele e o corpo inteiro dele pareceu ficar duro.
"Oh. Esqueça dos lobos então, se a idéia te ofende", a voz dele estava dura, formal, seus ombros estavam rígidos.
"Ele era o meu melhor amigo, Edward", eu murmurei. Eu fiquei machucada por usar o tempo passado. "É claro que a idéia me ofende."
"Por favor, perdoe a minha falta de consideração", ele disse, ainda muito formal. "Eu não deveria ter sugerido isso."
"Não se preocupe com isso", eu olhei para as minhas mãos, fechadas nos meus pulsos em cima da mesa.
Nós dois ficamos em silêncio por um momento, e depois seu dedo frio estava embaixo do meu queixo, levantando o meu rosto. A expressão dele estava muito mais suave agora.
"Desculpe. Mesmo."
“Eu sei. Eu sei que não é a mesma coisa. Eu não devia ter reagido daquele jeito. É só que... bem, eu já estava pensando em Jacob antes de você chegar." Eu hesitei. Seus olhos pareciam sempre ficar um pouco mais escuros quando eu falava o nome de Jacob. Em resposta, a minha voz se tornou implorativa. "Charlie disse que Jake está passando por dificuldades. Ele está machucado agora, e... é minha culpa."
"Você não fez nada errado, Bella."
Eu respirei fundo.
"Eu preciso melhorar as coisas, Edward. Eu devo isso a ele. E, além do mais, é uma das condições de Charlie-"
O rosto dele mudou enquanto eu falava, ficando duro de novo, como estátua.
"Você sabe que está fora de questão você ficar perto de um lobisomem desprotegida, Bella. E se algum de nós passasse as barreiras das terras deles, estaria quebrando o acordo. Você quer que nós comecemos uma guerra?"
"É claro que não!"
"Então não há nenhum sentido em levar essa discussão adiante." Ele deixou a mão cair e desviou o olhar, procurando por uma mudança de assunto. Os olhos dele pararam em alguma coisa atrás de mim, e ele sorriu, apesar dos olhos dele estarem cautelosos.
"Eu fico feliz que Charlie tenha deixado você sair - você está precisando tristemente fazer uma visita a uma livraria. Eu não posso acreditar que você está lendo O morro dos ventos uivantes de novo. Você já não sabe ele de cor?"
"Nem todos nós temos memória fotográfica", eu disse curtamente.
"Com memória fotográfica ou não, eu não entendo por que você gosta disso. Os personagens são só pessoas que arruínam a vida uns dos outros. Eu não consigo entender como Heathcliff e Cathy acabaram sendo comparados a casais como Romeu e Julieta ou Elizabeth Bennett e Sr. Darcy. Essa não é uma história de amor, é uma história de ódio."
"Você tem sérios problemas com os clássicos", eu disparei.
"Talvez seja porque eu não fico impressionado com antiguidades."
Ele sorriu, evidentemente satisfeito por ter me distraído.
"No entanto, honestamente, por que é que você lê isso de novo e de novo?" Os olhos dele estavam vívidos com real interesse agora, tentando - de novo - desvendar os complicados trabalhos da minha mente. Ele se inclinou na mesa pra pegar o meu rosto nas mãos dele. "Por que isso é apelativo pra você?"
A sincera curiosidade dele me desarmou.
"Eu não tenho certeza", eu disse, lutando pra ser coerente enquanto o olhar dele não intencionalmente confundia os meus pensamentos. "É alguma coisa relacionada a inevitabilidade. Como nada consegue mantê-los separados - nem o egoísmo dela, nem o mau dele, e no fim, nem mesmo a morte..."
O rosto dele estava pensativo enquanto ele pensava nas minhas palavras. Depois de um momento, ele deu um sorriso de zombaria.
"Eu ainda preferiria se um deles tivesse uma qualidade que os redimisse."
"Eu acho que é disso que eu estou falando", eu discordei. "O amor deles é a única qualidade que os redime."
"Eu espero que você tenha mais senso que isso - se apaixonar por alguém tão... maligno."
"É um pouco tarde pra me preocupar com a pessoa pela qual eu vou me apaixonar", eu apontei. "Mas mesmo sem o aviso, eu pareço ter me saído muito bem."
Ele riu baixinho.
"Eu me alegro que você pense isso."
"Bem, eu espero que você seja esperto o suficiente pra ficar longe de alguém tão egoísta. A fonte de todo o problema na verdade é Catherine, não Heathcliff."
"Eu vou ficar de olho", ele prometeu.
Eu suspirei. Ele era muito bom com distrações.
Eu coloquei a minha mão em cima da dele pra segurá-la no meu rosto.
"Eu preciso ver Jacob."
Ele fechou os olhos.
"Não."
"Não é assim tão perigoso", eu disse, implorando de novo. "Ei, eu costumava passar o tempo inteiro em La Push com eles e nada nunca aconteceu."
Mas eu cometi um deslize: minha voz falhou no final, porque eu me dei conta de que estava dizendo palavras que não eram verdade. Não era verdade que nada nunca aconteceu. Um breve flash de memória - um enorme lobo cinza se preparando pra saltar, mostrando seus dentes afiados como facas pra mim - fez as palmas das minhas mãos suarem com o eco do pânico relembrado.
Edward ouviu o meu coração acelerar e balançou a cabeça como se eu tivesse desmentido tudo em voz alta.
"Lobisomens são instáveis. Às vezes as pessoas que estão por perto acabam se machucando. Às vezes, elas morrem."
Eu queria negar isso, mas outra imagem parou a minha resposta. Eu vi em minha cabeça o rosto da um dia linda Emily Young, agora marcada por um trio de cicatrizes escuras que arrastavam o canto do seu olhos direito e da sua boca que ficaram presos pra sempre numa careta permanente.
Ele esperou, presumidamente triunfante, que eu encontrasse a minha voz.
"Você não os conhece", eu sussurrei.
"Eu os conheço melhor do que você pensa, Bella. Eu estava lá da última vez."
"Da última vez?"
"Nós começamos a cruzar caminhos com os lobisomens há cerca de setenta anos... Nós havíamos acabado de chegar em Hoquiam. Isso foi antes de Alice e Jasper estarem conosco. Nós éramos um número maior que eles, mas isso não impediria que a coisa se tornasse uma briga se não fosse por Carlisle. Ele conseguiu convencer Ephraim Black de que coexistir era possível, e eventualmente nós fizemos a trégua."
O nome do bisavô de Jacob me surpreendeu.
"Nós pensamos que a linhagem havia morrido com Ephraim", Edward murmurou; agora parecia que ele estava falando pra si mesmo. "Pensamos que a genética que permite a mutação estava perdida..." Ele parou e olhou pra mim acusadoramente. "A sua má sorte parece ficar mais forte a cada dia. Será que você se dá conta de que sua tendência insaciável a todas as coisas letais foi forte o suficiente pra recuperar um bando de caninos mutantes em extinção? Se nós pudéssemos colocar a sua má sorte em uma garrafa, nós teríamos uma arma de destruição em massa em nossas mãos."
Eu ignorei a piada, minha atenção ficou presa na suposição dele - ele estava falando sério?
"Mas não fui eu quem os trouxe de volta. Você não sabe?"
"Sabe do que?"
"A minha má sorte não tem nada a ver com isso. Os lobisomens voltaram porque os vampiros voltaram."
Edward me encarou, seu corpo ficou imóvel com a surpresa.
"Jacob me disse que a sua família estar aqui fez as coisas se movimentarem. Eu pensei que você já sabia..."
Os olhos dele se estreitaram.
"É isso que eles pensam?"
"Edward, olhe para os fatos. Há setenta anos atrás você veio pra cá e os lobisomens apareceram também. Você voltou agora e os lobisomens apareceram de novo. Você acha que é coincidência?"
Ele piscou e o seu olhar relaxou.
"Carlisle ficará interessado nessa teoria."
"Teoria", eu zombei.
Ele ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela para a chuva; eu imaginei que ele estava contemplando a idéia de que a presença dele e de sua família estava transformando os moradores locais em cachorros gigantes.
"Interessante, mas não exatamente relevante", ele murmurou de repente. "A situação continua a mesma."
Eu podia traduzir isso facilmente: nada de amigos lobisomens.
Eu sabia que tinha de ser paciente com Edward. Não era que ele não estava sendo razoável, é só que ele não conseguia entender. Ele não fazia idéia do quanto eu devia a Jacob Black - minha vida muitas vezes acabada, e possivelmente a minha sanidade também. Eu não queria mais falar desses tempos estéreis, e Edward especialmente também não. Ele estava apenas tentando me salvar quando foi embora, tentando salvar minha alma.
Eu não o responsabilizava por todas as coisas estúpidas que havia feito na ausência dele, ou pela dor que eu sofri. Ele se responsabilizava.
Então eu teria que colocar a minha explicação em palavras muito cuidadosamente. Eu me levantei e rodeei a mesa, ele abriu os braços e eu me sentei no colo dele, me aconchegando no seu abraço frio como pedra. Eu olhei para as mãos dele enquanto falava.
"Por favor, me ouça por um minuto. Isso é muito mais do que um gesto de caridade com um amigo antigo. Jacob está sofrendo." Minha voz se contorceu na palavra. "Eu não posso não tentar ajudá-lo - eu não posso desistir dele agora, quando ele precisa de mim. Só porque ele não é humano o tempo inteiro... Bem, ele estava lá por mim quando eu estava..." Eu hesitei. Os braços de Edward estavam rígidos ao meu redor; as mãos dele estavam nos punhos agora, os tendões dele se destacam. "Se Jacob não tivesse me ajudado... Eu não tenho certeza do que você encontraria ao voltar pra casa. Eu tenho que tentar melhorar as coisas. Eu devo-lhe mais que isso, Edward."
Eu olhei para o rosto dele cautelosamente. Os olhos dele estavam fechados e a mandíbula dele estava trincada.
"Eu nunca vou me perdoar por ter te deixado", ele murmurou, "Nem se eu viver cem mil anos."
Eu coloquei a minha mão no seu rosto frio e esperei até que ele suspirou e abriu os olhos.
"Você só estava tentando fazer a coisa certa, e eu tenho certeza de que teria funcionado com alguém menos louco que eu. Além do mais, você está aqui agora. Essa é a parte que importa."
"Se eu não tivesse ido embora, você não estaria tendo que arriscar sua vida pra confortar um cachorro."
Eu vacilei. Eu estava acostumada a Jacob e os seus apelidos pejorativos - sugador de sangue, sanguessuga, parasita... De alguma forma, eles pareciam mais ofensivos na voz aveludada de Edward.
"Eu não sei como frasear isso apropriadamente", Edward disse, e o tom dele ficou vazio. "Vai soar cruel, eu acho. Mas eu já cheguei perto de te perder no passado. Eu sei como me sinto só de pensar nisso. Eu não vou tolerar nada perigoso."
"Você precisa confiar em mim nisso. Eu vou ficar bem."
O rosto dele demonstrou dor de novo.
"Por favor, Bella", ele sussurrou.
Eu olhei dentro dos seus olhos dourados, repentinamente flamejantes. "Por favor o que?"
"Por favor, por mim. Faça um esforço consciente pra se manter em segurança. Eu farei tudo o que puder, mas eu apreciaria um pouco de ajuda."
"Eu vou trabalhar nisso", eu murmurei.
"Você realmente tem alguma idéia do quanto é importante pra mim? Algum conceito do quanto eu te amo?" Ele me segurou com mais força contra o peito, colocando a minha cabeça embaixo do queixo dele.
Eu pressionei meus lábios no pescoço frio como neve dele.
"Eu sei o quanto eu amo você", eu respondi.
"Você está comparando uma pequena árvore a uma floresta inteira."
Eu revirei meus olhos, mas ele não podia ver.
"Impossível.”
Ele beijou o topo da minha cabeça e suspirou.
"Nada de lobisomens."
"Eu não vou seguir isso. Eu tenho que ver Jacob."
"Então eu vou ter que te impedir."
Ele parecia extremamente confiante de que isso não seria um problema.
Eu tinha certeza de que ele estava certo.
"Nós veremos isso", eu blefei do mesmo jeito. "Ele ainda é meu amigo."
Eu podia sentir o bilhete de Jacob no meu bolso, como se de repente ele pesasse dez quilos. Eu podia ouvir as palavras na voz dele, e ele parecia concordar com Edward - coisa que jamais aconteceria na realidade.

Isso não muda nada. Desculpe.

Capítulo 2 - Fuga

Eu me senti estranhamente contente enquanto caminhava da aula de Espanhol em direção ao refeitório, e não era só porque eu estava de mãos dadas com a pessoa mais perfeita do planeta, apesar de que essa era certamente parte da razão.
Talvez fosse o conhecimento de que a minha sentença estava acabada e eu era uma mulher livre novamente.

Ou talvez não tivesse nada a ver comigo especificamente. Talvez fosse a atmosfera de liberdade que pairava sobre o campus inteiro. As aulas estavam acabando e, especialmente para a classe do último ano, havia uma alegria perceptível no ar.

A liberdade estava tão próxima que era tocável, degustável. Os sinais dela estavam em todo lugar. Posters se amontoavam nas paredes do refeitório, e as latas de lixo usavam uma vestimenta colorida amontoada de panfletos: lembretes pra comprarmos os livros do ano, anéis de classes, e anúncios; prazos para as roupas da formatura, chapéus e borlas; panfletos de vendas cor de néon – a campanha dos alunos calouros para a coordenação da sala; anúncios mau-agourentos, decorados com rosas, sobre o baile desse ano. O grande baile era no próximo fim de semana, mas eu tinha uma promessa inquebrável de Edward de que eu não seria submetida áquilo de novo. Afinal de contas, eu já havia passado por aquela experiência humana.

Não, devia ser a minha liberdade pessoal que me iluminava hoje. O fim do calendário escolar não me trouxe o mesmo prazer que parecia trazer aos outros alunos. Na verdade, eu me sentia nervosa a ponto de sentir náuseas toda vez que pensava nisso. Eu tentava não pensar nisso.

“Você já enviou seus convites?” Angela perguntou quando Edward e eu nos sentamos em nossa mesa. Ela tinha o cabelo castanho claro preso para trás em um rabo-de-cavalo em vez de seu lizo natural, e havia um olhar ligeramente frenético em seus olhos.
Alice e Ben já estavam lá também, cada um em um lado de Angela. Ben estava atento a um Gibi, seus óculos escorregando pelo seu nariz fino. Alice estava examinando meu Jeans-e-camiseta sem graça de um jeito que me deixou constrangida. Provavelmente planejando outro look. Eu suspirei. Minha atitude indiferente em relação à moda aborrecia Alice. Se eu deixasse, ela amaria me vestir todo dia – talvez várias vezes ao dia – como alguma boneca de papel tridimensional extra-grande.

"Não," eu respondi a Angela. "Não faz sentido, de verdade. Renée sabe quando eu me formo. Quem mais há?"

"E você, Alice?

Alice sorriu. "Tudo feito."

"Sorte sua." Angela suspirou. "Minha mãe tem uns mil primos e espera que eu escreva o endereço para todo mundo. Vou ficar com dor no pulso. Eu não posso adiar muito isso e estou meio assustada.

"Eu posso ajudá-la," Eu me ofereci. "Se você não se importar com a minha letra horrível."

Charlie gostaria isso. Pelo canto do olho, viu Edward sorrir. Ele devia gostar daquilo também - de mim cumprindo as condições de Charlie sem envolver lobisomens.

Angela pareceu aliviada. "Que legal da sua parte. Eu virei a qualquer hora que você quiser."

"Na verdade, eu prefiro ir à sua casa se estiver tudo bem - Estou cansada da minha. Charlie me liberou noite passada." Eu sorri enquanto contava as boas notícias.

"Sério?" Angela perguntou, um suave excitamento iluminou seus olhos castanhos sempre gentis "Pensei que você tinha dito que estava de castigo pelo resto da vida."–

"Estou mais surpresa que você. Eu tinha certeza que iria pelo menos ter terminado o ensino médio antes de ele me deixar livre".

"Bem, isso é ótimo, Bella! Nós temos que sair para comemorar."

"Você tem idéia de como isso é bom."

"O que deveríamos fazer?" Alice meditou, sua face se iluminando com as possibilidades. As idéias de Alice geralmente eram um pouco grandiosas para mim, e eu podia ver isso em seus olhos agora – a tendência de fazer coisas longe demais virando ação.
“O que quer que você esteja pensando, Alice, eu duvido que esteja livre para isso.”

“Livre é livre, certo?“ ela insistiu.

“Tenho certeza que eu ainda tenho limites – como o continente estado-unidense, por exemplo.

Angela e Ben riram, mas Alice fez uma careta de verdadeiro desapontamento.

“Então o que nós vamos fazer hoje à noite?” ela persistiu.

“Nada. Olhe, vamos dar uns dois dias para ter certeza de que ele não estava brincando. É uma noite de escola, de qualquer forma.”

“Nós vamos comemorar esse final de semana, então.” O entusiasmo de Alice era impossível de reprimir.

“Claro – eu disse, esperando aplacá-la. Eu sabia que não estava indo fazer nada longe demais; seria mais seguro ir devagar com Charlie. Dar a ele a chance de avaliar quão merecedora de confiança e madura eu era antes de pedir qualquer favor.

Angela e Alice começaram a falar sobre opções; Ben se juntou à conversa, colocando seu Gibi de lado. Minha atenção se desviou. Eu estava surpresa por descobrir que o assunto da minha liberdade de repente não era tão agradável quanto há apenas um momento trás. Enquanto eles discutiam coisas para fazer em Port Angeles ou talvez em Hoquiam, eu comecei a me sentir decepcionada.

Não demorei muito para determinar de onde veio minha impaciência.

Desde quando eu disse adeus para Jacob Black na floresta além da minha casa, eu tinha sido infeccionada por uma persistente e desconfortável invasão de uma figura mental específica. Ela entrava nos meus pensamentos em intervalos regulares como algum incômodo despertador programado para tocar a cada meia hora, enchendo minha cabeça com a imagem do rosto de Jacob contorcido de dor. Esta era a última memória que eu tinha dele.

Conforme a perturbadora visão me atingia novamente, eu sabia exatamente por que eu estava insatisfeita com a minha liberdade. Porque era incompleta.
Claro, eu estava livre para ir a qualquer lugar que eu quisesse – exceto La Push; livre para fazer qualquer coisa que eu quisesse – exceto ver Jacob. Olhei a mesa com desagrado. Tinha que haver algum tipo de território intermediário.

"Alice? Alice!"

A voz de Angela me arrancou do meu devaneio. Ela estava agitando sua mão para frente e para trás diante do rosto pálido de Alice, olhando-a fixamente. A expressão de Alice era algo que eu reconhecia – uma expressão que produziu um automático choque de pânico dentro do meu corpo. O olhar vago em seus olhos me disse que ela estava vendo alguma coisa muito diferente da cena do refeitório mundando que nos cercava, mas algo de que cada pedaço era tão verdadeiro do seu próprio modo. Alguma coisa estava vindo, alguma coisa que aconteceria logo. Eu senti o sangue sumir do meu rosto.

Então Edward riu, um som muito natural, tranqüilo. Angela e Ben olharam em direção a ele, mas meus olhos estavam presos em Alice. Ela pulou de repente, como se alguém a tivesse chutado por debaixo da mesa.

“Já é hora de dormir, Alice?” Edward provocou.

Alice voltou a si novamente. “Desculpem, eu estava sonhando acordada, acho.”

“Sonhar acordada é melhor do que encarar mais duas horas de aula.” Ben disse.

Alice voltou à conversa com mais animação que antes – só um pouquinho demais. Uma vez eu vi seus olhos se prenderem aos de Edward, só por um momento, e então ela olhou de volta para Angela antes que alguém mais notasse. Edward estava quieto, brincando inconscientemente com um fio do meu cabelo.

Eu esperei ansiosamente por uma chance de perguntar a Edward o que Alice tinha visto em sua visão, mas a tarde se passou sem que pudéssemos ficar um minuto do tempo a sós.
Isso parecia estranho para mim, quase proposital. Depois do almoço, Edward reduziu a velocidade do seu passo para acompanhar Ben, conversando sobre alguma tarefa que eu sabia que ele já tinha terminado. Então havia sempre alguém mais lá entre as aulas, embora nós geralmente tivéssemos uns poucos minutos para nós mesmos. Quando o último sinal tocou, Edward iniciou uma conversa com Mike Newton de todas as pessoas, diminuindo o passo ao lado dele enquanto Mike se direcionava para o estacionamento. Eu me arrastava atrás, deixando Edward me rebocar adiante.
Eu ouvia, confusa, enquanto Mike respondia às incomuns perguntas amigáveis de Edward. Parecia que Mike estava tendo problemas com o carro.

"...mas eu só repus a bateria." Mike estava dizendo. Seu olhar lançava-se para frente e então de volta para Edward cautelosamente. Mistificado, assim como eu estava.

"Talvez sejam os cabos" Edward sugeriu.

"Talvez. Eu realmente não sei nada sobre carros." Mike admitiu. "Eu preciso que alguém dê uma olhada, mas eu não posso deixar isso para Dowling.

Eu abri minha boca para sugerir meu mecânico, e então a fechei de novo. Meu mecânico estava ocupado esses dias – ocupado correndo por aí como um lobo gigante.

"Eu sei algumas coisas, eu posso dar uma olhada, se você quiser." Edward ofereceu. "Só me permita deixar Alice e Bella em casa.

Mike e eu encaramos Edward juntos de bocas abertas.

"Hã... obrigado." Mike murmurou quando ele se recuperou. "Mas eu tenho que ir trabalhar. Talvez uma outra hora."

"Absolutamente."

"Até mais." Mike entrou em seu carro, sacudindo a cabeça em incredulidade.

O Volvo de Edward, com Alice já dentro, estava só dois carros à distância.

"O que foi aquilo?" eu murmurei enquanto Edward segurava a porta do passageiro para mim.

"Só sendo prestativo." Edward respondeu.

E então Alice, esperando no banco de trás, estava tagarelando na maior velocidade.
"Você realmente não é tão bom mecânico, Edward. Talvez você devesse fazer Rosalie dar uma olhada nisso esta noite, apenas de modo que você pareça bom se Mike decidir deixar você ajudar, sabe. Não que não fosse ser divertido ver a cara dele se Rosalie descobrisse como ajudar. Mas desde que supõe-se que Rosalie esteja do outro lado do país fazendo faculdade, eu acho que essa não é a melhor idéia. Ruim demais. Embora eu suponha que, para o carro do Mike, você sirva. Só dentro dos tunings mais finos de um bom carro esportivo italiano você está fora do seu departamento. E falando da Itália e de carros esportivos que eu roubei lá, você ainda me deve um Porshe amarelo. Eu não sei se eu quero esperar pelo Natal..."

Eu parei de ouvir depois de um minuto, deixando sua voz rápida se tornar só um zumbido ao fundo enquanto eu me concentrava no meu modo paciente.
Para mim, parecia que Edward estava tentando evitar minhas perguntas. Legal. Ele teria que ficar sozinho comigo breve o bastante. Era só uma questão de tempo.

Edward pareceu entender isso também. Ele deixou Alice na boca da garagem dos Cullen como o habitual, embora a esse ponto eu meio que esperava que ele a levasse à porta e a encaminhasse para dentro.

Enquanto ela saía, Alice lançou um olhar penetrante para o rosto dele. Edward parecia completamente tranqüilo.

"Vejo você depois." ele disse. E então, muito levemente, ele acenou com a cabeça.
Alice virou para desaparecer nas árvores.

Ele estava calado enquanto virava o carro em volta e conduzia de volta a Forks. Eu esperei, imaginando se ele iria começar. Ele não começou, e isso me deixou tensa. O que Alice tinha visto hoje no almoço? Algo que ele não queria me dizer, e eu tentei pensar numa razão pela qual ele iria guardar segredos. Talvez fosse melhor me preparar antes de perguntar. Eu não queria ficar fora de mim e deixá-lo pensar que eu não podia lidar com isso, o que quer que fosse.

Então nós dois ficamos em silêncio até voltarmos à casa de Charlie.
" A carga de dever de casa pode esperar por esta noite".

"Mmm" eu concordei.

"Você acha que eu possa entrar de novo?"

"Charlie não se alterou quando você me buscou na escola."

Mas eu tinha certeza que Charlie iria ficar rapidamente zangado quando ele chegasse em casa e encontrasse Edward aqui. Talvez eu devesse fazer algo extra-especial para o jantar.

Lá dentro, eu subi as escadas e Edward me seguiu. Ele espreguiçou-se na minha cama e olhou fixamente para a janela, parecendo esquecer-se do meu nervosismo.
Eu arrumei minha mochila e liguei o computador. Havia um e-mail não respondido da minha mãe para eu me preocupar, e ela entrava em pânico quando eu demorava muito. Eu tamborilei meus dedos enquanto esperava pelo meu computador muito idoso acordar ruidosamente; eles batiam contra a mesa, rápidos e ansiosos.

E então os dedos dele estavam nos meus, segurando-os tranqüilos.

"Nós estamos um pouco impacientes hoje?" ele murmurou.

Eu olhei para cima, tencionando fazer uma observação sarcástica, mas o rosto dele estava mais próximo do que eu esperava. Seus olhos dourados estavam queimando, afastados apenas centímetros, e sua respiração estava fria contra meus lábios abertos. Eu podia sentir o gosto do seu cheiro na minha língua.

Eu não consegui lembrar da resposta mordaz que eu quase tinha feito. Eu não conseguia lembrar do meu nome.

Ele não me deu a chance de me recuperar.

Se as coisas fossem do meu jeito, eu passaria a maior parte do meu tempo beijando Edward. Não havia nada que eu tivesse experimentado na minha vida que se comparasse à sensação dos lábios dele, frios e duros como mármore, mas sempre tão gentis, se movendo com os meus.

As coisas geralmente não eram do meu jeito.
Então me surpreendi um pouco quando seus dedos se entrelaçaram no meu cabelo, segurando meu rosto com eles. Meus braços se prenderam ao seu pescoço, e eu desejei que fosse mais forte – forte o bastante para mantê-lo prisioneiro aqui.

Uma mão escorregou para as minhas costas, me pressionando mais apertado contra seu peito de pedra. Mesmo sob seu suéter, a pele dele estava fria o bastante para me fazer tremer – era um tremor de satisfação, de felicidade, mas suas mãos começaram a afrouxar em resposta.

Eu sabia que eu tinha mais ou menos três segundos antes de ele suspirar e me empurrar para longe com jeito, dizendo alguma coisa sobre como nós tínhamos arriscado minha vida o suficiente por uma tarde. Aproveitando-me ao máximo dos meus últimos segundos, me pressionei mais para perto, moldando-me à forma dele. A ponta da minha língua traçou a curva do seu lábio inferior; era tão perfeitamente macio como se tivesse sido envernizado, e o gosto...

Ele colocou meu rosto longe do dele, quebrando meu abraço com facilidade – ele provavelmente não tinha nem percebido que eu estava usando toda a minha força.
Ele soltou um risinho uma vez, um som baixo, gutural. Seus olhos estavam resplancedentes com a excitação que ele tão rigidamente controlava.

"Ah, Bela." Ele suspirou.

"Eu diria que sinto muito, mas eu não sinto."

"E eu deveria sentir muito por você não sentir muito, mas eu não sinto. Talvez eu devesse sentar na cama."

Exalei um pouco vertiginosamente. “Se você acha que isso é... necessário."

Ele deu um sorriso torto e se soltou.

Balancei a cabeça algumas vezes, tentando clareá-la, e voltei ao computador. Estava tudo animado e cantarolando. Bem, não cantorolando tanto quanto suspirando.

"Diz a Renée que eu estou mandando um oi."

"Com certeza."
Olhei atenciosamente o e-mail de Renée, sacudindo minha cabeça de vez em quando por conta de algumas maluquices que ela havia feito. Eu estava tão horrorizada e entretida quanto na primeira vez em que havia lido isto. Ela se esqueceu de como tinha medo de alturas até estar presa num pára-quedas e ter pulado com o instrutor. Me senti um pouco desapontada com Phil, marido dela há quase dois anos, por permitir isso. Eu teria cuidado dela melhor. A conhecia melhor.

Tenho que finalmente deixá-los seguirem o próprio caminho, lembrei a mim. Tenho que deixá-los terem a própria vida...

Eu havia passado a maior parte de minha vida cuidando de Renée, afastando-a de suas loucuras o mais gentilmente possível. Sempre fui boa para minha mãe, me divertia com ela, até mesmo eu era um pouco condescendente a ela. Eu via a cornucópia de erros dela e ria comigo mesma. Renée avoada.

Eu era uma pessoa muito diferente de minha mãe. Alguém pensativa e cautelosa. A responsável, a adulta. Assim é como eu me via. Essa era pessoa que eu conhecia.

Com o sangue ainda palpitando em minha cabeça por conta do beijo de Edward, eu nem podia contar a maioria de erros que mudaram a vida de minha mãe. Tonta e romântica, havia se casado com um homem que ela apenas conhecia sem ter terminado o segundo grau, me tendo um ano depois. Ela sempre me jurou que não tinha nenhum arrependimento, que eu era o melhor presente que vida já havia lhe dado. E ela vivia me repetindo - pessoas inteligentes levam o matrimônio a serio. Pessoas ajuizadas vão para a faculdade e começam carreiras antes que de se aprofundem em um relacionamento. Ela sabia que eu nunca seria tão imprudente, estúpida e provinciana.

Trinquei meus dentes e tentei me concentrar enquanto respondia a carta dela.
Aí eu ví a primeira linha dela e me lembrei do porque de eu haver negligenciado escrever pra ela mais cedo.
Você não diz nada sobre Jacob ha muito tempo., ela tinha escrito. O que está acontecendo nesses dias?
Charlie estava influenciando ela, eu tinha certeza.
Eu suspirei e teclei rapidamente, respondendo à pergunta dela entre dois parágrafos menos sensíveis.

Jacob está bem, eu acho. Eu não o vejo muito; ele passa a maior parte do tempo com o seu bando de amigos lá em La Push ultimamente.

Sorrindo bobamente para mim mesma, eu acrescentei a saudação de Edward e apertei "send".
Eu não me dei conta de que Edward estava silenciosamente de pé atrás de mim até que eu desliguei o computador e me afastei da mesa. Eu estava prestes a passar um sermão nele por estar lendo por cima do meu ombro quando eu me dei conta de que ele não estava prestando atenção em mim. Ele estava examinando uma caixa achatada com fios encaracolados desordenadamente longe do quadrado principal de uma maneira que não parecia saudável pra o que quer que fosse. Depois de um segundo, reconhecí o som para carros que Emmett, Rosalie e Jasper haviam me dado pelo meu último aniversário. Eu havia esquecido dos presentes que estavam escondidos embaixo de uma pilha crescente de poeira no chão do meu closet.
"Porque você fez isso?", ele perguntou com uma voz horrorizada.
"Ele não queria sair do painél".
"E você sentiu necessidade de torturá-lo?"
"Você sabe como eu sou com ferramentas. Nenhuma dor foi inflingida intencionalmente".
Ele balançou a cabeça, o rosto dele era uma máscara falsa de tragédia. "Você o matou".
Eu levantei os ombros. "Oh, bem."
"Magoaria os sentimentos deles se eles vissem isso", ele disse. "Eu acho que foi bom você ter ficado confinada em casa. Eu vou ter que colocar outro no lugar antes que eles reparem".
"Obrigada, mas eu não preciso de um som chique".
"Não é para o seu bem que eu vou repô-lo".
Eu suspirei.
"Você não fez muito bom uso dos seus presentes de aniversário do ano passado", ele disse com uma voz estranha. De repente, ele estava se abanando com um retângulo rígido de papel.
Eu não respondí, com medo de que a minha voz fosse falhar. O meu desastroso aniversário de dezoito anos - com todas as suas consequências a longo prazo - não era uma coisa que eu fazia questão de lembrar, e eu estava surpresa por ele tê-lo mencionado. Ele era ainda mais sensível em relação a isso do que eu.
"Você se dá conta de que elas estão prestes a expirar?" ele perguntou, segurando o papel pra mim. Era outro presente - os vales para passagens de avião que Esme e Carlisle haviam me dado pra que eu pudesse visitar Renée na Flórida.
Eu respirei fundo e respondí com uma voz vazia. "Não. Eu havia esquecido de todos eles, na verdade".
A expressão dele estava cautelosamente luminosa e positiva; não havia nenhum traço de emoção mais profundo quando ele continuou. "Bem, nós ainda temos um pouco de tempo. Você foi liberada... e nós não temos planos para esse fim de semana, já que você se recusa a ir ao baile comigo". Ele sorriu. "Porque não celebrar a sua liberdade desse jeito?"
Eu ofeguei. "Indo para a Flórida?"
"Você disse alguma coisa sobre o E.U continental ser permitido."
Eu encarei ele, suspeitosamente, tentando entender de onde isso tinha vindo.
"Bem?", ele quis saber. "Nós vamos ver Renée ou não?"
"Charlie nunca vai permitir".
"Charlie não pode te impedir de visitar a sua mãe. Ela ainda tem a sua custódia primária".
"Ninguém tem minha custódia. Eu sou uma adulta".
Ele deu um sorriso brilhante. "Exatamente".
Eu pensei nisso por um breve minuto antes de decidir que a briga não valia a pena. Charlie ia ficar furioso - não porque eu ia visitar Renée, mas porque Edward ia vir comigo. Charlie não falaria comigo por meses, e eu provavelmente acabaria de castigo de novo. Eu definitivamente era esperta o suficiente pra nem sequer tocar no assunto. Talvez daqui a algumas semanas,como um favor pela formatura, ou alguma coisa assim.
Mas a idéia de ver minha mãe agora, e não semanas mais tarde, era difícil de resistir. Já fazia tanto tempo desde que eu ví Renée. E ainda mais tempo desde que eu a ví em circunstâncias prazeirosas. A última vez em que eu estive com ela em Phoenix, eu passei o tempo inteiro em uma cama de hospital. Da última vez que ela havia vindo aqui, eu estive mais ou menos catatônica. Não exatamente a melhor memória pra deixar com ela.
E talvez, se ela visse o quanto eu estava feliz com Edward, ela podia dizer pra Charlie relaxar.
Edward observou o meu rosto enquanto eu considerava.
Eu suspirei. "Esse fim de semana não".
"Porque não?"
"Eu não quero brigar com Charlie. Não tão pouco tempo depois de ele ter me perdoado".
As sobrancelhas dele se uniram. "Eu acho que esse fim de semana é perfeito", ele murmurou.
Eu balancei minha cabeça. "Outra hora".
"Você não é a única que esteve presa nessa casa, sabe?" Ele fez uma careta pra mim.
A suspeita retornou. Esse tipo de comportamento não era natural dele. Ele era tão impossivelmente altruísta; eu sabia que isso estava me deixando mimada.
"Você pode ir onde você quiser", eu apontei.
"O mundo exterior não possui nenhum interesse pra mim sem você".
Eu rolei os meus olhos à hiperbole.
"Eu estou falando sério", ele disse.
"Vamos ver o mundo exterior lentamente, tá certo? Por exemplo, nós podíamos começar com um filme em Port Angeles..."
Ele rosnou. "Esqueça. Nós falaremos sobre isso mais tarde".
"Não há mais nada para falar".
Ele ergueu os ombros.
"Ok, então, novo assunto", eu disse. Eu quase havia me esquecido sobre as minhas preocupações dessa tarde - será que essa era a intenção? "O que Alice viu durante o almoço?"
Os meus olhos estavam no rosto dele enquanto ele falava, medindo a sua reação.
A expressão dele estava composta; só havia uma leve dureza em seus olhos de topázio. "Ela viu Jasper em um lugar estranho, algum lugar ao sul, ela acha, perto da sua antiga... família. Mas ele não tem nenhuma intenção consciente de ir embora". Ele suspirou.
"Isso a deixou preocupada".
"Oh". Isso não era nada próximo do que eu estivera esperando. Mas é claro que fazia sentido que Alice estivesse olhando para o futuro de Jasper. Ele era a alma gêmea dela, a sua verdadeira outra metade, eles não eram tão externais com o seu relacionamento quanto Rosalie e Emmett. "Porque você não me disse?"
"Eu não me dei conta de que você havia percebido", ele disse. "Em qualquer caso, provavelmente não é nada importante".
A minha imaginação estava tristemente fora de controle. Eu havia pego uma tarde perfeitamenbte normal e havia distorcido tudo até que parecesse que Edward estava tentando esconder coisas de mim. Eu precisava de terapia.
Nós fomos lá pra baixo para fazer o nosso dever de casa, no caso de Charlie chegar mais cedo. Edward acabou em minutos; eu lutei laborosamente com os meus cálculos até que eu decidí que estava na hora de fazer o jantar de Charlie. Edward ajudou fazendo caretas de vez em quando para os ingredientes crus - comida humana era praticamente repulsiva para ele. Eu fiz strogonoff com a receita da vovó Swan, porque eu estava sem idéias.
Charlie já parecia estar de bom humor quando chegou em casa. Ele nem começou com a sua maneira rude de tratar Edward. Edward se desculpou por não comer conosco, como sempre. O som do noticiario noturno vinha da sala da frente, mas eu duvidava que Edward realmente estivesse assistindo.
Depois de repetir três vezes, Charlie colocou os pés pra cma da cadeira reserva e cruzou as mãos contentemente em cima do seu estômago inchado.
"Isso estava ótimo, Bells".
"Eu estou feliz que você gostou. Como foi o trabalho?" Ele estava comendo com muita concentração antes para eu conseguir puxar conversa antes.
"Meio lento. Bem, mortalmente lento, na verdade. Mark e eu jogamos carta em boa parte da tarde", ele admitiu com um sorriso. "Eu vencí, dezenove mãos para sete. E depois eu fiquei no telefone com Billy durante algum tempo".
Eu tentei manter minha expressão igual. "Como ele está?"
"Bem, bem. As juntas dele estão o incomodando um pouco."
"Oh. Isso é uma pena".
"É. Ele nos convidou para uma visita esse final de semana. Ele estava pensando em chamar os Clearwaters e os Uleys também. Uma espécie de festinha..."
"Huh", foi a minha resposta genial. Mas o que eu ia dizer? Eu sabia que não teria permissão para comparecer a uma festa de lobisomens, mesmo com supervisão do meu pai. Eu me perguntei se Edward teria um problema com Charlie andando por La Push. Ou será que ele iria supor que já que Charlie passaria mais tempo com Billy, que era apenas humano, o meu pai não estaria em perigo?
Eu me levantei e empilhei os pratos sem olhar para Charlie. Eu os coloquei na pia e liguei a água. Edward apareceu silenciosamente e pegou uma toalha de pratos.
Charlie suspirou e desistiu por um momento, apesar de eu imaginar que ele revisitaria o assunto assim que estivéssemos juntos de novo. Ele se pôs de pé e seguiu para a sala de TV, exatamente como na outra noite.
"Charlie", Edward disse num tom conversional.
Charlie parou no meio da sua pequena cozinha. "Sim?"
"Bella te contou que os meus pais deram passagens de avião pra ela em seu último aniversário, pra que ela pudesse visitar Renée?"
Eu deixei cair o prato que eu estava esfregando. Ele resvalou no balcão e caiu no chão fazendo barulho. Ele não quebrou, mas melou a cozinha, e nós três, com água ensaboada. Charlie nem pareceu reparar.
"Bella?" Ele perguntou numa voz espantada.
Eu mantive os olhos no prato enquanto o pegava de volta. "É, eles me deram".
Charlie engoliu altamente, e então os olhos dele se estreitaram quando ele olhou de volta para Edward. "Não, ela nunca mencionou isso".
"Hmm", Edward murmurou.
"Há uma razão pra você ter tocado no assunto?" Charlie perguntou com um voz dura.
Edward ergueu os ombros. "Elas estão quase expirando. Eu acho que isso pode machucar os sentimentos de Esme se Bella não usar o presente dela. Não que ela fosse dizer alguma coisa".
Eu encarei Edward sem acreditar.
Charlie pensou por um minuto. "Provavelmente é uma boa idéia você ir visitar a sua mãe, Bella. Ela ia adorar. No entanto, eu estou surpreso que você não tenha falado nada sobre isso."
"Eu esquecí", eu admití.
Ele fez uma careta. "Você esqueceu que alguém te deu passagens da avião?"
"Mmm", eu murmurei vagamente, e me virei de volta para a pia.
"Eu percebí que você disse que elas estavam prestes e expirar, Edward", Charlie continuou. "Quantas passagens os seus pais deram pra ela?"
"Só uma pra ela... e uma pra mim".
O prato que eu derrubei dessa vez caiu na pia, então ele não fez muito barulho. Eu podia ouvir claramente o bufo afiado do meu pai enquanto ele exalava. O sangue correu para o meu rosto, cheio de irritação e vergonha. Porque Edward estava fazendo isso? Eu olhei para as bolhas na pia, entrando em pânico.
"Isso está fora de questão!" Charlie estava abruptamente enraivecido, gritando as palavras.
"Porque?" Edward perguntou, sua voz saturada com uma surpresa inocente. "Você disse que era uma boa idéia ela ver a mãe".
Charlie ignorou ele. "Você não vai a lugar algum com ele, mocinha!" ele gritou. Eu me virei quando ele estava apontando um dedo para mim.
A raiva pulsou em mim automaticamente, uma reação instintiva ao tom dele.
"Eu não sou uma criança, pai. E eu não estou mais de castigo, lembra?"
"Oh sim, está sim. Começando agora".
"Por quê?!"
"Porque eu disse que sim".
"Eu preciso te lembrar de que sou legalmente adulta, Charlie?"
"Essa é a minha casa - você segue as minhas regras!"
O meu olhar ficou frio. "Se é isso que você quer. Você quer que eu me mude essa noite? Ou eu posso ter alguns dias para fazer as malas?"
O rosto de Charlie ficou vermelho brilhante. Eu instantaneamente me sentí horrivel por usar a tática de me mudar.
Eu respirei fundo e tentei fazer o meu tom ficar mais razoável. "Eu vou ficar de castigo sem reclamar quando eu tiver feito alguma coisa, pai, mas eu não vou pagar pelos seus preconceitos".
Ele gaguejou, mas conseguiu se manter coerente.
"Agora, eu sei que você sabe que eu tenho todos os direitos de ver a mamãe nos fins de semana. Vocâ não pode me dizer honestamente que estaria contra o plano se eu estivesse indo com Alice ou Angela".
"Garotas", ele rosnou, com um movimento de cabeça.
"Você se incomodaria se eu levasse Jacob?"
Eu só havia escolhido o nome porque eu sabia da preferência do meu pai por Jacob, mas eu rapidamente desejei não o ter feito; os dentes de Edward se trincaram com um estalo audível.
O meu pai lutou pra se recompor antes de responder. "Sim", ele disse com uma voz que não convencia. "Isso me incomodaria".
"Você é um péssimo mentiroso, pai".
"Bella -"
"Não é como se eu estivesse fugindo pra Las Vegas pra ser uma garota de show ou algo assim. Eu vou ver a mamãe.", eu o lembrei. "Ela tem tanta autoridade paterna sobre mim quanto você".
Ele me passou um olhar contestador.
"Você está implicando alguma coisa sobre a capacidade de mamãe de cuidar de mim?"
Charlie enrijeceu com a ameaça implicita na minha pergunta.
"É melhor você esperar que eu não mencione isso pra ela", eu disse.
"É melhor você não mencionar", ele avisou. "Eu não estou feliz com isso, Bella".
"Não ha nenhum motivo pra você ficar chateado".
Ele revirou os olhos, mas eu podia sentir que a tempestade estava acabada.
Eu me virei pra tirar o ralo da pia. "Então o meu dever de casa está feito, o seu jantar está pronto, os pratos estão lavados, e eu não estou de castigo. Eu vou sair. Eu vou estar de volta antes das dez e meia".
"Onde você vai?" O rosto dele, quase de volta ao normal, ficou vermelho de novo.
"Eu não tenho certeza", eu admití. "No entanto, eu me manterei num raio de dez milhas. Tudo bem?"
Ele rosnou alguma coisa que não soou como uma aprovação, e marchou pra fora da sala. Naturalmente, assim que terminei de vencer a briga, eu comecei a me sentir culpada.
"Nós vamos sair?", Edward perguntou, a voz dele estava baixa mas entusiamada.
Eu me virei para encará-lo. "Sim. Eu acho que gostaria de falar com você a sós"
Ele não pareceu tão apreensivo quanto eu achei que ele deveria estar.
Eu esperei pra começar quando estavamos seguramente no carro dele.
"O que foi aquilo?" Eu quis saber.
"Eu sei que você quer ver a sua mãe, Bella - Você estava falando sobre ela no sono. Preocupada na verdade".
"Tenho?"
Ele balançou a cabeça. "Mas claramente você era coverde demais pra lidar com Charlie, então eu intercedí em seu nome".
"Intercedeu? Você atirou para os tubarões!"
Ele rolou os olhos. "Eu não acho que você estava em perigo".
"Eu te disse que não queria brigar com Charlie".
"Ninguém disse que você precisava".
Eu encarei ele. "Eu não consigo me segurar quando ele fica mandão daquele jeito - os meus instintos naturais de adolescente me dominam".
Ele gargalhou. "Bem, isso não é culpa minha".
Eu olhei pra ele, especulando. Ele não pareceu notar. O rosto dele estava sereno enquanto ele olhava para o para-brisa. Algo estava estranho, mas eu não conseguia identificar o que. Ou talvez fosse só a minha imaginação de novo, correndo selvagem como tinha feito essa tarde.
"Essa urgência de ir para a Flórida tem alguma coisa a ver com a festa na casa de Billy?"
A mandíbula dele flexionou. "Absolutamente nada. Não importaria se você estivesse aqui ou do outro lado do mundo, você ainda não iria".
Era como havia sido com Charlie antes - sendo tratada como uma criança mal comportada. Eu apertei os meus dentes pra não começar a gritar. Eu não queria brigar com Edward também.
Edward suspirou, e quando ele falou a voz dele era cálida e macia novamente. "Então o que você quer fazer essa noite?" ele perguntou.
"Podemos ir à sua casa? Já faz tanto tempo que eu não vejo Esme".
Ele sorriu. "Ela vai gostar disso. Especialmente quando ela ouvir o que vamos fazer esse fim de semana".
Eu rosnei em defesa.
Nós não ficamos fora até tarde, assim como eu prometí. Eu não fiquei surpresa de ver as luzes ainda acesas quando nós paramos na frente da casa - eu sabia que Charlie estaria esperando pra gritar um pouco mais comigo.
"É melhor você não entrar", eu disse. "Isso só vai piorar as coisas".
"Os pensamentos dele estão relativamente calmos", Edward zombou. A expressão dele me fez imaginarse havia alguma piada que eu estava perdendo. Os cantos dos lábios dele se contorciam, lutando com um sorriso.
"Eu te vejo mais tarde", eu murmurei mal humorada.
Ele riu e beijou o topo da minha cabeça. "Eu vou voltar quando Charlie estiver roncando".
A TV estava alta quando eu entrei. Eu considerei brevemente tentar me arrastar pra passar por ele.
"Você pode vir aqui, Bella?" Charlie chamou, estragando o plano.
Os meus pés se arrastavam enquanto eu dava os cinco passos necessários.
"O que foi, pai?"
"Você se divertiu essa noite?" ele perguntou. Ele parecia doente de tranquilidade. Eu procurei pelos significados nas palavras dele antes de responder.
"Sim", eu disse hesitantemente.
"O que você fez?"
Eu levantei os ombros. "Saí com Alice e Jasper. Edward venceu Alice no xadrez, e depois eu joguei com Jasper. Ele me enterrou".
Eu sorrí. Edward e Alice jogando xadrez era a coisa mais engraçada que eu já tinha visto. Eles sentavam lá praticamente imóveis, olhando para o tabuleiro, enquanto Alice previa os movimentos que ele faria e ele escolhia fazer os movimentos que ela escolhia em retorno na mente dela. Eles jogavam a maior parte do jogo nas mentes deles; eu acho que eles haviam mexido duas peças quando Alice de repente jogou o rei dela e se rendeu. Tudo isso levou três minutos.
Charlie apertou o botão de "mudo" - uma ação estranha.
"Olha, tem uma coisa que eu preciso dizer" Ele fez uma careta, parecendo muito desconfortável.
Eu sentei ereta, esperando. Ele encontrou meu olhar por um segundo antes de passar os olhos dele para o chão. Ele não disse mais nada.
"O que é, pai?"
Ele supirou. "Eu não sou bom com esse tipo de coisa. Eu não sei como começar..."
Eu esperei de novo.
"Ok, Bella. O negócio é o seguinte". Ele se levantou do sofá e começou a andar pra frente e pra trás pela sala, olhando pro pés dele o tempo inteiro.
"Você e Edward parecem ser bastante sérios, e existem coisas com as quais você precisa ter cuidado.. Eu sei que você é uma adulta agora, mas você ainda é jovem, Bella, e existe um monte de coisas importantes que você precisa saber quando você... bem, quando você se involver fisicamente com -"
"Oh, por favor, por favor não!" eu implorei, ficando de pé. "Por favor me diga que você não está tentando ter uma conversa sobre sexo comigo, Charlie".
Ele olhou para o chão. "Eu sou o seu pai. Eu tenho responsabilidades. Lembre-se, eu estou tão envergonhado quanto você".
"Eu não acho que isso seja humanamente possível. De qualquer forma, a mamãe já se encarregou disso a cerca de dez anos atrás. Você está atrasado".
"Você não tinha um namorado a dez anos atrás", ele murmurou sem querer. Eu podia reparar que ele estava batalhando com a sua vontade de esquecer o assunto. Nós dois estávamos de pé, olhando para o chão, e desviando o olhar um do outro.
"Eu não acho que as coisas essenciais tenham mudado tanto assim", eu murmurei, e o meu rosto tinha que estar tão vermelho quanto o dele estava. Isso estava além do sétimo círculo de Hades; pior ainda era me dar conta de que Edward sabia que isso ia acontecer. Não é de adimirar que ele estivesse se divertindo no carro.
"Só me diga que você dois estão sendo responsáveis" Charlie implorou, obviamente desejando que um buraco se abrisse no chão pra que ele caísse nele.
"Não se preocupe, pai, não é assim"
"Não que eu não confie em você, Bella, mas eu sei que você não quer me contar nada sobre isso, e você sabe que eu realmente não quero ouvir. No entanto, eu tentarei ser mente aberta. Eu sei que os tempos mudaram".
Eu rí estranhamente. "Talvez os tempos tenham, mas Edward é muito antiquado. Você não tem nada com o que se preocupar".
Charlie suspirou. "É claro que ele é", ele murmurou.
"Ugh!" eu rugí. "Eu realmente queria que você não estivesse me forçando a dizer isso, pai. Realmente. Mas...eu sou... virgem,e eu não tenho planos imediatos para mudar esse status".
Nós dois enrijecemos, mas ai o rosto de Charlie ficou suave. Ele pareceu acreditar em mim.
"Posso ir a para a cama agora? Por favor?"
"Em um minuto", ele disse.
"Aw, por favor, pai? Eu estou implorando".
"A parte embaraçosa já passou, eu prometo", ele me assegurou.
Eu olhei para ele, e fiquei feliz por ele parecer mais relaxado, que o rosto dele estava de volta a cor regular. Ele afundou no sofá, suspirando de alívio por ele ter passado pelo seu discurso sobre sexo.
"O que é agora?"
"Eu só queria saber como anda aquela coisa de equilíbrio"
"Oh. Bem, eu acho. Eu fiz planos com Angela hoje. Eu vou ajudar ela com os anúncios da formatura. Só nós garotas".
"Isso é bom. E quanto a Jake?"
Eu suspirei. "Eu ainda não arranjei isso, pai".
"Continue tentando, Bella. Eu sei que você fará a coisa certa. Você é uma pessoa boa".
Isso foi golpe baixo.
"Claro, claro", eu concordei. A resposta automática quase me fez sorrir - isso foi uma coisa que eu aprendí com Jacob. Eu até usei o mesmo tom padronizado que ele usava com o pai.
Charlie deu um sorriso e religou o som. Ele afundou mais nas almofadas, satisfeito com o seu trabalho dessa noite. Eu podia notar que ele ficaria acompanhando esse jogo por um bom tempo.
"Boa noite, Bells"
"Te vejo de manhã!" Eu corrí pelas escadas.
Edward já tinha ido embora amuito tempo e não voltaria até Charlie estar dormindo - ele provavelmente estava lá fora caçando ou fazendo qualquer coisa para passar o tempo - então eu não tive pressa de tirar a roupa para ir pra cama. Eu não estava com humor pra ficar sozinha, mas eu certamente não ia descer e ficar com o meu pai, só no caso de ainda haver algum tópico no assunto do sexo que ele ainda não tenha tocado antes; eu tremí.
Então, graças a Charlie, eu estava ferida e ansiosa. O meu dever de casa estava pronto e eu não estava melodramática o suficiente pra ler ou ouvir música.
Eu considerei ligar para Renée com as notícias da minha visita, mas aí eu me dei conta de que eram três horas a mais na Flórida, e ela devia estar dormindo.
Eu podia ligar pra Angela, eu achei.
Mas de repente eu me dei conta de que não era com Angela que eu queria falar. Que eu precisava falar.
Eu olhei para a janela negra vazia, mordendo o meu lábio. Eu não sei quanto tempo eu fiquei lá pesando os prós e os contras - fazer a coisa certa em relação a Jacob, ver o meu amigo mais próximo de novo, ser uma boa pessoa, versus fazer Edward ficar furioso comigo. Dez minutos talvez. Tempo suficiente pra decidir que os prós eram válidos e que os contras não eram. Edward só estava preocupado com a minha segurança, e eu sabia que não havia realmente um problema nesse sentido.
O telefone não ajudava em nada; Jacob se recusava a atender os meus telefonemas desde que Edward retornou.
Além do mais, eu precisava vê-lo - ver ele sorrindo do jeito que ele costumava fazer. Eu precisava repor aquela terrível última memória do rosto dele condoído e se contorcendo de dor se um dia eu quisesse voltar a ter paz de espírito.
Eu provavelmente tinha uma hora. Eu podia ir correndo até La Push e estar de volta antes que Edward se desse conta que eu havia saído. Já passava do meu toque de recolher, mas será que Charlie realmente se preocuparia com isso quando Edward não estava envolvido? Havia um jeito de descobrir.
Eu agarrei o meu casaco e passei os meus braços pelas mangas e corrí pelas escadas.
Charlie olhou pra cima do jogo, instantaneamente suspeito.
"Você se importa se eu for ver Jake essa noite?" eu perguntei sem fôlego. "Eu não vou demorar".
Assim que eu disse o nome de Jake, a expressão de Charlie relaxou em um sorriso bobo. Ele não parecia surpreso pelo discurso dele fazer efeito tão rapidamente. "Claro, guria. Sem problema. Pode ficar fora o quanto quiser".
"Obrigada, pai", eu disse enquanto saia pela porta.
Como qualquer fugitiva, eu não pude deixar de olhar por cima do ombro algumas vezes enquanto corria para a minha caminhonete, mas a noite estava tão escura que na verdade não havia sentido nisso. Eu tive que sentir o caminho na lateral da caminhonete até encontrar a maçaneta.
Os meus olhos estavam apenas começando a se ajustar enquanto eu colocava as chaves na ignição. Eu girei elas com força para a esquerda, mas ao invés de ligar rosnando alto, o motor só fez um clique. Eu tentei de novo com os mesmo resultados.
E aí um pequeno movimento na minha visão periférica me fez pular.
"Gah!", eu ofeguei de choque quando me dei conta de que não estava sozinha na cabine.
Edward estava sentado muito rígido, um fraco ponto brilhante na escuridão, só as mãos dele se moviam enquanto ele girava um misterioso objeto preto pra lá e pra cá. Ele olhava para o objeto enquanto falava.
"Alice ligou", ele murmurou.
Alice! Droga. Eu tinha me esquecido de levá-la em conta nos meus planos. Ele devia ter pedido pra ela ficar me vigiando.
"Ela ficou nervosa quando o seu futuro desapareceu abruptamente ha cinco minutos atrás".
Meus olhos, já arregalados de surpresa, abriram ainda mais.
"Porque ela não consegue ver os lobisomens, sabe" ele explicou com o mesmo murmúrio baixo. "Você tinha esquecido isso? Quando você resolve juntar o seu destino ao deles, você desaparece também. Você não podia saber dessa parte, eu me dou conta disso. Mas será que você pode entender que isso pode me deixar um pouco... ansioso? Alice te viu desaparecer, e ela nem podia me dizer se você voltaria pra casa ou não. O seu futuro ficou perdido, assim como o deles.
"Nós não temos certeza de porque isso acontece. Alguma defesa natural com a qual eles nasceram?" Ele falava como se estivesse falando sozinho agora, ainda olhando para o pedaço do motor da minha caminhonete enquanto ele o girava nas mãos.
"Isso não parece ser inteiramente provável, já que eu não tive nenhum problam em ler a mente deles. Da de Black, pelo menos."
A teoria de Carlisle é de que a vida deles é muito governada pela transformação. É mais uma reação involuntária do que uma decisão. É altamente imprevisível, e isso muda tudo neles. Naquele instante quando eles se transformam de um para outro, eles nem sequer existem. O futuro não pode mantê-los..."
Eu escutei os pensamentos dele em silêncio de pedra.
"Eu vou reconcertar o seu carro a tempo para a escola amanhã, no caso de você querer ir sozinha", ele me assegurou depois de um minuto.
Com os meus lábios grudados um no outro, eu retirei as minhas chaves rapidamente e saí da cabine rigidamente.
"Feche a janela se você quiser que eu fique longe essa noite. Eu vou entender", ele sussurou bem antes de eu bater a porta.
Eu entrei em casa, batendo a porta também.
"Qual é o problema?" Charlie quis saber do sofá.
"A caminhonete não quer ligar", eu rosnei.
"Quer que eu dê uma olhada?"
"Não. Eu vou tentar de manhã".
"Quer usar o meu carro?"
Eu não devia dirigir a viatura policial dele. Charlie devia estar muito desesperado pra eu ir à La Push. Quase tão desesperado quanto eu estava.
"Não. Eu estou cansada", eu murmurei. "Boa noite".
Eu subí as escadas me arrastando, e fui direto para a minha janela. Eu puxei e estrutura de metal com força - ela bateu quando fechou e o vidro tremeu.
Eu olhei para o vidro negro tremendo por um longo momento, até que ele parou. Aí eu suspirei e abrí a janela o máximo que ela podia abrir.

3. Motivos

O sol estava tão profundamente enterrado atrás das nuvens que não havia jeito de dizer se ele havia se posto ou não. Depois de um longo vôo – perseguindo o sol em direção ao oeste até que ele pareceu nem se mover no céu – isso foi especialmente desorientador; o tempo parecia estranhamente variável. Eu fui pega de surpresa quando a floresta deu lugar aos primeiros prédios, sinalando que estávamos quase em casa.
“Você estava muito quieta”, Edward observou. “O avião te deixou enjoada?”
“Não, eu estou bem”
“Você está triste por ir embora?”
“Mais aliviada do que triste, eu acho”
Ele ergueu uma sobrancelha pra mim. Eu sabia que era inútil – e mesmo que eu não gostasse de admitir – desnecessário pedir que ele mantivesse os olhos na estrada.
“Renée é muito mais... perceptiva do que Charlie de algumas maneiras. Isso estava me deixando inquieta”.
Edward riu. “A sua mãe tem uma mente muito interessante. Quase infantil, mas muito intuitiva. Ela vê as coisas diferente das outras pessoas”.
Intuitiva. Essa era uma boa descrição da minha mãe – quando ela estava prestando atenção. Na maior parte do tempo Renée estava tão perplexa com a sua própria vida que ela não reparava muito nas outras coisas. Mas esse fim de semana ela esteve prestando bastante atenção em mim.
Phil estava ocupado – o time colegial de baseball que ele estava treinando estava nas semi finais – e estando sozinha com Edward e eu apenas aguçou os sentidos de Renée. Assim que os abraços e os gritinhos de deleite dela estavam fora do caminho, Renée começou a prestar atenção. E enquanto ela prestava atenção, seus grandes olhos azuis ficaram primeiro confusos e depois preocupados.
Essa manhã nós havíamos saído pra fazer uma caminhada na praia. Ela queria mostrar as belezas do novo lar dela, ainda esperando, eu acho, que o sol pudesse me atrair a sair de Forks.

Ela também queria falar comigo a sós, e isso foi facilmente arranjado. Edward havia inventado um trabalho de termologia para dar a si mesmo uma desculpa pra ficar dentro de casa durante o dia.
Na minha cabeça, eu repassei a conversa de novo...
Renée e eu andamos pela calçada, tentando ficar ao alcance das sombras inconstantes que vinham das palmeiras. Apesar de ser cedo, o calor estava começando a se acumular. O ar estava tão pesado com a umidade que simplesmente inspirar e expirar já era um exercício para os meus pulmões.
“Bella?”, minha mãe perguntou, olhando através da areia para as ondas quebrando enquanto falava.
“O que é, mãe?”
Ela suspirou, sem me olhar nos olhos. “Eu estou preocupada...”
“O que é?” eu perguntei, ficando imediatamente ansiosa. “O que eu posso fazer?”
“Não sou eu”. Ela balançou a cabeça. “Eu estou preocupada com você... e Edward”.
Renée finalmente olhou pra mim quando disse o nome dele, o rosto dela estava apologético.
“Oh”, eu murmurei, fixando o meu olhar num par de corredores enquanto eles passaram por nós, molhados de suor.
“Vocês dois são mais sérios do que eu estive pensando”, ela continuou.
Eu fiz uma careta, rapidamente revendo os últimos dois dias na minha cabeça. Edward e eu mal nos tocamos – ns frente dela, pelo menos. Eu me perguntei se Renée ia me passar um sermão sobre responsabilidade também. Não me importava como com o de Charlie. Com a minha mãe isso não era vergonhoso. Afinal, era eu quem vivia passando esse sermão nela de vez em quando pelos últimos dez anos.
“Há alguma coisa... estranha com o jeito de vocês dois juntos”, ela murmurou, a testa dela estava enrugando sobre os seus olhos confusos. “O jeito como ele olha pra você – é tão... protetor. Como se ele estivesse prestes a se jogar na frente de uma bala pra te salvar ou algo assim”.
Eu ri, apesar de ainda não ser capaz de olha-la nos olhos. “Isso é uma coisa ruim?”
“Não”, ela fez uma careta enquanto lutava pra encontrar as palavras. “Só é diferente. Ele é muito intenso com você... e muito cuidadoso. Eu sinto como não entendesse realmente o relacionamento de vocês. Como se houvesse um segredo que eu estou perdendo...”
“Eu acho que você está imaginando coisas, mãe”. Eu disse rapidamente, lutando pra manter minha voz leve. Havia um friozinho no meu estômago. Eu havia esquecido o quanto a minha mãe via. Alguma coisa na sua forma simples de ver o mundo ultrapassava todas as distrações e penetrava diretamente na verdade das coisas. Isso nunca foi um problema antes. Até agora, nunca houve um segredo que eu não pudesse contar pra ela.
“Não é só ele”. Ela juntou os lábios em defesa. “Eu queria que você pudesse ver como se move perto dele”.
“O que você quer dizer?”
“A forma como você se move – você se orienta ao redor dele sem nem sequer pensar nisso. Quando ele se move, mesmo que um pouco, você ajusta a sua posição ao mesmo tempo. Como imãs... ou gravidade. Você é como um satélite, ou algo assim. Eu nunca vi nada parecido”.
Ela torceu os lábios e olhou pra baixo.
“Não me diga”, eu zombei, forçando um sorriso. “Você está lendo mistérios de novo, não está? Ou dessa vez é ficção científica?”
Renée corou em um rosa delicado. “A questão vai além disso”.
“Achou algo bom?”
“Bom, houve um – mas isso não importa. Nós estamos falando de você agora”.
“Você devia continuar nos romances, mãe. Você sabe que você enlouquece”.
Os lábios dela torceram pra cima nos cantos. “Eu estou sendo boba, não estou?”
Por meio segundo, eu não pude responder. Renée era tão facilmente distraída. As vezes isso era uma coisa boa, porque nem todas as idéias dela eram práticas. Mas me machucou ver o quão rapidamente ela se rendia às minhas perguntas, especialmente já que ela estava absolutamente certa dessa vez.
Ela olhou pra cima, e eu controlei a minha expressão.
“Boba não – só sendo mãe”.
Ela sorriu e depois fez um gesto largo na direção das areias brancas que se estendiam para a água azul.
“E tudo isso não é suficiente pra fazer você voltar a morar com a sua mãe boba?”
Eu bati a minha mãe dramaticamente na minha testa, e depois fingi estar torcendo os meus cabelos.
“Você se acostuma com a umidade”, ela prometeu.
“Você também pode se acostumar á chuva”, eu apontei.
Ela me acotovelou de brincadeira e depois pegou a minha mãe enquanto caminhávamos de volta para o carro.
Apesar das preocupações dela comigo, ela parecia feliz o suficiente. Contente. Ela ainda olhava para Phil com olhos abobalhados, e isso era reconfortante. Com certeza a vida dela era plena e satisfatória. Com certeza ela não sentia a minha falta tanto assim, mesmo agora...
Os dedos gelados de Edward alisavam a minha bochecha. Eu olhei pra cima, piscando, voltando para o presente. Ele se inclinou e me deu um beijo na testa.
“Você está em casa, Bela Adormecida. Hora de acordar”.
Nós estávamos parados na frente da casa de Charlie. A luz da varanda estava acesa e a viatura estava parada na entrada de carros. Enquanto eu examinava a casa, eu vi a cortina se mexer na janela da sala de estar, jogando uma linha de luz amarela através da grama escura.
Eu suspirei. É claro que Charlie estava esperando para reclamar.
Edward deve ter pensado a mesma coisa, porque a expressão dele estava rígida e os olhos dele estavam remotos enquanto ele vinha abrir a porta pra mim.
“Quão ruim?”, eu perguntei.
“Charlie não vai ser difícil”, Edward prometeu, o nível de voz dele não continha humor. “Ele sentiu a sua falta”.
Os meus olhos se estreitaram duvidosamente. Se esse era o caso, então porque Edward estava tenso como se para batalhar?
A minha mala era pequena, mas ele insistiu em carrega-la até em casa. Charlie segurou a porta aberta para nós.
“Bem vinda ao lar, guria!” Charlie gritou como se estivesse falando sério. “Como foi Jacksonville?”
“Úmido. E com insetos”.
“Então Renée não te convenceu a ir para a universidade da Flórida?”
“Ela tentou. Mas eu prefiro beber água do que inalá-la”.
Os olhos de Charlie se moveram sem vontade para Edward. “Você se divertiu?”
“Sim”, Edward respondeu numa voz serena. “Renée foi muito hospitaleira”.
“Isso é... hum, bom. Fico feliz que você se divertiram”. Charlie virou de costas pra Edward e me puxou em um abraço inexperado.
“Impressionante”, eu suspirei no ouvido dele.
Ele abafou um riso. “Eu realmente senti sua falta, Bells. A comida aqui é uma droga quando você não está”.
“Eu vou cuidar disso”, eu disse enquanto ele me soltava.
“Você poderia ligar para Jacob antes? Ele esteve me enchendo a casa cinco minutos desde as seis horas dessa manhã. Eu prometi que te faria ligar pra ele antes mesmo de desfazer as malas.”
Eu não tive que olhar pra Edward pra saber que ele estava rígido demais, frio demais ao meu lado. Então esse era o motivo da tensão.
“Jacob quer falar comigo?”
“Muito, eu diria. Ele não quis me dizer sobre o que era – só disse que era importante”.
Então o telefone tocou, barulhento e insistente.
“É ele de novo, eu aposto o meu próximo salário”, Charlie murmurou.
“Eu atendo”. Eu corri para a cozinha.
Edward me seguiu enquanto Charlie desaparecia na sala de estar.
Eu agarrei o telefone no meio do toque, e me virei até que fiquei encarando a parede. “Alô?”
“Você está de volta”, Jacob disse.
A familiar voz rouca dele mandou uma onda de por mim. Um milhão de memórias giraram na minha cabeça, se enroscando – uma praia cheia de pedras cercada de árvores de salgueiro, uma garagem feita de telhas de plástico, refrigerantes quentes em um saco de papel, uma sala pequena com uma poltrona pequena demais. O sorriso em seus olhos profundos-muito pretos, o calor febril da mão grande dele, e o brilho dos seus dentes brancos em contraste com sua pele escura., o rosto dele se contraindo em um grande sorriso que sempre foi a chave para a porta secreta onde apenas bons espíritos eram permitidos de entrar.
Parecia ser uma espécie de saudade de casa, essa vontade do lugar e da pessoa que havia me protegido na minha noite mais escura.
Eu limpei o caroço da minha garganta. “Sim”, eu respondi.
“Porque você não me ligou?”, Jacob quis saber.
O tom raivoso da voz dele rapidamente me trouxe de volta. “Porque eu estava em casa a exatamente quatro segundos e a sua ligação interrompeu Charlie que estava dizendo que você ligou”.
“Oh. Desculpe”.
“Claro. Agora, porque você está assediando Charlie?”
“Eu preciso falar com você”
“É, eu descobri essa parte sozinha. Vá em frente”
Houve uma curta pausa.
“Você vai para a escola amanhã?”
Eu fiz uma careta para mim mesma, incapaz de entender o sentido dessa pergunta. “É claro que vou. Porque não iria?”
“Eu não sei. Só curioso”.
Outra pausa.
“Então sobre o que você queria falar, Jake?”
Ele hesitou. “na verdade nada, eu acho. Eu... eu queria ouvir a sua voz”.
“É, eu sei. Eu estou tão feliz por você ter ligado. Eu...” Mas eu não sabia o que mais dizer. Eu queria dize-lo que estava a caminho de La Push agora. E eu não podia dizê-lo isso.
“Eu tenho que ir”, ele disse abruptamente.
“O que?”
“Eu falo com você em breve, ta legal?”
“Mas Jake –“
Ele já tinha ido embora. Eu escutei o tom de discagem sem acreditar.
“Isso foi curto”, eu murmurei.
“Está tudo bem?” Edward perguntou. A voz dele estava baixa e cuidadosa.
Eu me virei lentamente pra ele. A expressão dele estava perfeitamente suave – impossível de ler.
“Eu não sei. Eu me pergunto o que foi isso”. Não fazia sentido que Jake tivesse rondado Charlie o dia inteiro só pra me perguntar se eu ia para a escola. E se ele queria ouvir a minha voz, então porque ele desligou tão rápido?
“A sua suposição provavelmente é melhor do que a minha”, Edward disse, a sombra de um sorriso aparecendo nos cantos da boca dele.
“Mmm”, eu murmurei. Isso era verdade. Eu conhecia Jake por dentro e por fora. Não devia ser tão complicado descobrir as motivações dele.
Com os meus pensamentos a milhas de distância – cerca de quinze milhas de distância, na estrada para La Push – eu comecei a mexer na frigideira, misturando os ingredientes do jantar de Charlie. Edward se inclinou no balcão, e eu estava distantemente consciente dos olhos dele no meu rosto, mas preocupada demais para me preocupar com o que ele via lá.
A coisa da escola parecia ser a chave pra mim. Essa foi a única pergunta de verdade que Jake fez. E ele devia estar procurando a resposta para alguma coisa, senão ele não teria chateado Charlie tão insistentemente.
No entanto, porque o meu registro de presença era importante pra ele?
Eu tentei pensar nisso de forma lógica. Então, se eu não estivesse indo para a escola amanhã, qual seria o problema com isso, na perspectiva de Jacob? Charlie me passou um pequeno sermão por perder um dia de aula tão perto das provas finais, mas eu o convenci de que uma Sexta não ia atrapalhar os meus estudos. Jake dificilmente se importaria com isso.
O meu cérebro se recusava a ter uma intuição brilhante. Talvez eu estivesse perdendo um pedaço vital de informação.
O que havia mudado nos últimos três dias que era tão importante a ponto de fazer Jacob quebrar o longo período de se recusar a atender meus telefonemas e entrar em contato comigo? Que diferença três dias podia fazer?
Eu congelei no meio da cozinha.
O pacote de hambúrguer congelado escorregou da minha mão pelos meus dedos entorpecidos. Me levou um lento segundo pra perder o barulho que ele devia ter feito ao bater no chão.
Edward o havia pego e atirado no balcão. Os braços dele já estavam ao meu redor, os lábios dele no meu ouvido.
“Qual é o problema?”
Eu balancei minha cabeça, confusa.
Três dias podiam mudar tudo.
Eu não estava pensando no quanto a faculdade era impossível? Como eu não poderia nem chegar perto de pessoas durante os dolorosos três dias da conversão que ia me livrar da mortalidade, pra que eu pudesse passar a eternidade com Edward? A conversão que me faria pra sempre prisioneira da minha própria sede...
Será que Charlie tinha contado pra Billy que eu desapareci por três dias? Será que Billy tinha tirado conclusões? Será que Jacob realmente estava me perguntando se eu ainda era humana? Tendo certeza de que o trato dos lobisomens continuava intacto – que nenhum dos Cullen havia mordido um humano... mordido... não matado...?
Mas ele realmente achava que eu voltaria para casa pra Charlie se esse fosse o caso?
Edward me chacoalhou. “Bella?” ele perguntou, realmente ansioso dessa vez.
“Eu acho... eu acho que ele estava checando”. Eu murmurei. “Checando pra ter certeza. De que eu sou humana, eu quero dizer”.
Edward enrijeceu, e um rugido baixo soou no meu ouvido.
“Nós teremos que ir embora”, eu suspirei. “Antes. Para que o acordo não seja quebrado. Nós não seremos mais capazes de voltar”.
Os braços dele se apertaram ao meu redor. “Eu sei”.
“Ahem” Charlie limpou sua alto a voz atrás de nós.
Eu pulei e depois me livrei dos braços de Edward, meu rosto ficando quente. Edward se inclinou de volta no balcão. Os olhos dele estavam estreitos. Eu podia ver preocupação neles, e raiva.
“Se você não quer fazer o jantar, eu peço uma pizza”, Charlie ofereceu.
“Não, está tudo bem. Eu já comecei”.
“Okay”, Charlie disse. Ele se encostou no arco da porta, cruzando os braços.
Eu suspirei e comecei a trabalhar, tentando ignorar a minha platéia.
“Se eu te pedisse pra fazer uma coisa, você confiaria em mim?”, Edward perguntou, com um tom em sua voz macia.
Nós estávamos quase na escola. Edward estava relaxado e fazendo piada a apenas um momento atrás, e agora as mãos dele estavam agarrando o volante com força, as articulações dele lutando com o esforço para não quebrá-lo em pedaços.
Eu encarei a expressão ansiosa dele – os olhos dele estavam distantes, como se ele estivesse ouvindo vozes distantes.
O meu pulso acelerou em resposta ao estresse dele, mas eu respondi cautelosamente. “Isso depende”.
Nós entramos no estacionamento da escola.
“Eu temia que você fosse dizer isso”.
“O que você quer que eu faça, Edward?”
“Eu quero que você fique no carro”, ele parou na sua vaga habitual e desligou o motor enquanto falava. “Eu quero que você espere aqui até eu voltar pra te buscar”.
“Mas... porque?”
Foi aí que eu vi ele. Ele teria sido difícil de não reparar, parecendo uma torre sobre os estudantes como ele estava, mesmo se ele não estivesse encostado em sua moto preta, que estava estacionada ilegalmente na calçada.
“Oh”
O rosto de Jake era uma máscara de calma que eu conhecia bem. Era o rosto de que ele usava quando estava disposto a manter as suas emoções sob controle. Ela fazia ele parecer Sam, o mais velho dos lobos, o líder do bando Quileute. Mas Jacob nunca conseguia controlar a perfeita serenidade que Sam sempre demonstrava.
Eu havia me esquecido do quanto aquele rosto me incomodava. Apesar de eu ter conhecido Sam muito bem antes dos Cullen voltarem – até gostar dele – eu nunca fui completamente capaz de ignorar o ressentimento que eu sentia quando Jacob imitava a expressão de Sam. Era um rosto estranho. Ele não era o meu Jacob quando o usava.
“Você tirou a conclusão errada na noite passada”, Edward murmurou. “Ele perguntou sobre a escola porque ele sabia que eu estaria onde você estivesse. Ele estava procurando por um lugar seguro pra conversar comigo. Um lugar com testemunhas”.
Então eu havia interpretado mal os motivos de Jacob na noite passada. Perdendo informações, esse era o problema. Informações como porque nesse mundo Jacob ia querer falar com Edward.
“Eu não vou ficar no carro”, eu disse.
Edward rosnou baixinho. “É claro que não. Bem, vamos acabar logo com isso”.
O rosto de Jacob endureceu quando caminhamos em direção a ele, de mãos dadas.
Eu reparei nos outros rostos também – os rostos dos meus colegas de classe. Eu reparei em como os olhos deles arregalavam enquanto eles observavam os 2,4m do longo corpo de Jacob, mais musculoso do que um garoto de dezesseis anos e meio podia ser. Eu vi aqueles olhos se mexerem em cima da sua camisa preta apertada – com mangas curtas, apesar de ser um dia razoavelmente frio – seus jeans surrados e sujos de graxa, e a moto preta brilhante na qual ele estava se encostando. Os olhos deles não ficavam em seu rosto – alguma coisa na expressão dele fazia com que eles desviassem o olhar rapidamente. E eu reparei no grande espaço que todos davam pra ele, a bolha de espaço da qual ninguém ousava se aproximar.
Com uma sensação de surpresa, eu me dei conta de que Jacob parecia perigoso para eles. Que estranho.
Edward parou a alguns metros de Jacob, e eu podia notar que ele estava desconfortável por me ter tão perto de um lobisomem. Ele colocou sua mão pra trás um pouco, me colocando um pouco atrás do seu corpo.
“Você podia ter nos ligado”, Edward disse numa voz dura como aço.
“Desculpe”, Jacob respondeu, o rosto dele se contorcendo em uma careta de zombaria. “Eu não tenho sanguessugas na minha discagem rápida”.
“Você podia ter me encontrado na casa de Bella, é claro”.
A mandíbula de Jacob flexionou, e as sobrancelhas dele estavam juntas. Ele não respondeu.
“Esse dificilmente é o lugar, Jacob. Podíamos discutir isso depois?”
“Claro, claro. Eu vou passar na sua cripta depois da escola”. Jacob bufou. “Qual é o problema com agora?”
Edward olhou ao redor apontando, os olhos dele pairando sobre as testemunhas que mal estavam fora do alcance auditivo. Algumas pessoas estavam hesitando na calçada, seus olhos brilhando de expectativa. Como se eles estivessem esperando que um briga fosse começar para aliviar o tédio de outra manhã de Segunda. Eu vi Tyler Crowley cutucando Austin Marks, e os dois pararam no caminho para a aula deles.
“Eu já sei o que você veio pra dizer” Edward lembrou Jacob numa voz tão baixa que eu mal consegui ouvir. “Mensagem entregue. Nos considere avisados”.
Edward olhou pra baixo pra mim por um rápido segundo com olhos preocupados.
“Avisados?” eu perguntei sem entender. “Do que vocês estão falando?”
“Você não contou pra ela?” Jacob perguntou, seus olhos arregalando de descrença. “O que foi, você estava com medo de que ela escolhesse o nosso lado?”
“Por favor deixa pra lá, Jacob” Edward disse com uma voz uniforme.
“Porque?” Jacob desafiou.
Eu fiz uma careta de confusão. “O que eu não sei? Edward?”
Edward simplesmente encarou Jacob como se não tivesse me ouvido.
“Jake?”
Jacob ergueu uma sobrancelha para mim. “Ele não te contou que o... irmão mais velho dele cruzou a linha Sábado à noite?” ele perguntou, o seu tom ficou pesado com uma camada de sarcasmo. E aí os olhos dele voltaram para Edward. “Paul está totalmente justificado em –“
“Aquela terra não tem donos!” Edward assobiou.
“Não é não!”
Jacob estava ficando visivelmente nervoso. As mãos dele tremiam. Ele balançou a cabeça e sugou o ar profundamente para os pulmões duas vezes.
“Emmett e Paul?” eu sussurrei. Paul era o irmão mais volátil do bando de Jacob. Foi ele quem perdeu o controle naquele dia na floresta – a memória do lobo cinza repentinamente estava vívida na minha mente. “O que aconteceu? Eles estavam brigando?” A minha voz foi aumentando com o pânico. “Porque? Paul se machucou?”
“Ninguém brigou” Edward disse baixinho, só pra mim. “Ninguém se machucou. Não fique ansiosa”.
Jacob estava olhando pra nós com olhos incrédulos. “Você não a contou absolutamente nada, contou? Foi por isso que você a levou embora? Pra que ela não soubesse que -?”
“Vá embora agora”. Edward o cortou no meio da frase, e o rosto dele ficou repentinamente assustador. Por um segundo, ela pareceu com... com um vampiro. ele olhou pra Jacob com ódio cruel, descontrolado.
Jacob ergueu as sobrancelhas, mas não fez outro movimento. “Porque você não contou pra ela?”
Eles se encararam silenciosamente por um longo momento. Mais estudantes se acumularam atrás de Tyler e Austin. Eu vi Mike ao lado de Ben – Mike estava com uma mão sobre o ombro de Ben, como se estivesse segurando-o no lugar.
No silêncio mortal, todos os detalhes de repente se encaixaram pra mim como uma explosão de intuição.
Alguma coisa que Edward não queria que eu soubesse.
Alguma coisa que Jacob não teria escondido de mim.
Algo que havia lançado tanto os Cullen quanto os lobisomens na floresta, movendo em perigosa proximidade uns dos outros.
Alguma coisa que faria Edward insistir pra que eu voasse através do país.
Alguma coisa que Alice tinha visto na visão da semana passada – uma visão sobre a qual Edward havia mentido pra mim.
Uma coisa pela qual eu já estava esperando do mesmo jeito. Uma coisa que eu sabia que aconteceria de novo, não importava o quanto eu desejasse que não acontecesse. Isso não ia acabar nunca, não é?
Eu ouvi o rápido gasp, gasp, gasp, gasp do ar passando pelos meus lábios, mas eu não conseguia evitar. Parecia que a escola estava tremendo, como se houvesse um terremoto, mas eu sabia que era o meu próprio tremor que causava a ilusão.
“Ela voltou por mim” eu me engasguei.
Victória nunca ia desistir até que eu estivesse morta. Ela continuaria repetindo o mesmo padrão – aparecer e fugir, aparecer e fugir – até que ela encontrasse um buraco entre os meus defensores.
Talvez eu tivesse sorte. Talvez os Volturi me encontrassem primeiro – pelo menos, eles me matariam mais rápido.
Edward me segurou com força ao seu lado, angulando seu corpo para que ele ainda estivesse entre mim e Jacob, e acariciou meu rosto com mãos ansiosas. “Está tudo bem”, ele sussurrou. “Está tudo bem. Eu nunca vou deixa-la se aproximar de você. Está tudo bem”.
Então ele encarou Jacob. “Isso responde a sua pergunta, mongol?”
“Você não acha que Bella tem o direito de saber?” Jacob desafiou. “É a vida dela”
Edward manteve sua voz baixa; mesmo Tyler, que estava se inclinando uns centímetros para a frente, seria incapaz de ouvir. “Porque ela devia ser assustada se ela nunca estava em perigo?”
“Melhor assustada do que enganada”.
Eu tentei me recompor, mas os meus olhos estavam nadando em umidade. Eu podia vê-la por trás das minhas pálpebras – eu podia ver o rosto de Victoria, seus lábios erguidos sobre seus dentes, seus olhos vermelhos brilhando com sua obsessão por vingança; ela responsabilizava Edward pela morte do seu amor, James. Ela não pararia até que o amor dele fosse tirado também.
Edward limpou as lágrimas das minhas bochechas com as pontas dos dedos.
“Você realmente acha que machuca-la é melhor do que protegê-la?” ele murmurou.
“Ela é mais durona do que você pensa” Jacob disse. “E ela já passou por coisa pior”.
Repentinamente, a expressão de Jacob mudou, e ele estava olhando pra Edward com uma expressão estranha, especulativa.
Os olhos dele ficaram estreitos como se ele estivesse tentando resolver um problema difícil de matemática na cabeça.
Eu senti Edward enrijecer. Eu olhei pra ele, e o rosto dele estava contorcido com o que só podia ser dor. Por um momento terrível, eu me lembrei daquela tarde na Itália, no macabro quarto na torre dos Volturi, onde Jane havia torturado Edward com o seu dom maligno, queimando-o apenas com seus pensamentos...
A memória me arrancou da minha histeria e colocou tudo em perspectiva. Porque eu preferiria que Victoria me matasse mil vezes do que ver Edward sofrer aquilo de novo.
“Isso é engraçado” Jacob disse, rindo enquanto ele olhava o rosto de Edward.
Edward gemeu, mas suavizou a expressão com um pouco de esforço. Ele não conseguia esconder muito bem a agonia em seus olhos.
Eu olhei, com os olhos arregalados, da careta de Edward para o riso de Jacob.
“O que você está fazendo com ele?” eu quis saber.
“Não é nada, Bella” Edward me disse baixinho. “Jacob tem uma boa memória, isso é tudo”.
Jacob deu um sorriso largo e Edward gemeu de novo.
“Pare com isso! O que quer que você esteja fazendo”.
“Claro, se você quer”, Jacob levantou os ombros. “No entanto, é culpa dele mesmo que ele não gosta do que eu lembro”.
Eu o encarei, e ele sorriu de volta cinicamente – como uma criança que foi pega fazendo alguma coisa que ele sabe que não devia por uma pessoa que ele sabe que não vai castigá-lo.
“O diretor está à caminho para desencorajar badernas no terreno escolar”. Edward murmurou pra mim. “Vamos para a aula de Inglês, Bella, pra que você não se involva”.
“Ele é super protetor, não é?” Jacob disse, falando só comigo. “Um pouco de problema é divertido. Deixa eu adivinhar, você não tem permissão pra se divertir, não é?”
Edward encarou, e seus lábios se ergueram um pouco sobre seus lábios.
“Cala a boca, Jake”, eu disse.
Jacob riu. “Isso soa como um não. hey, se um dia você sentir vontade de ter uma vida novo, você podia vir me ver. Eu ainda estou com a sua moto na garagem”.
Essa notícia me distraiu. “Era pra você ter vendido aquilo. Você prometeu a Charlie que venderia”. Se eu não tivesse implorado por Jacob – afinal, foi ele quem trabalhou nas duas motos, e ele merecia um pouco do meu troco – Charlie teria jogado a minha moto num lixão. E possivelmente incendiaria o lixão.
“É, certo. Como se eu fosse fazer isso. Ela pertence a você, não a mim. De qualquer forma, eu vou guardá-la até você voltar”.
Uma pequena sombra do sorriso que eu lembrava repentinamente estava brincando nos cantos dos lábios dele.
“Jake...”
Ele se inclinou para a frente, agora seu rosto estava ansioso, o sarcasmo ácido estava desaparecendo. “Eu acho que estava errado antes, sabe, sobre e eu você não sermos capazes de ser amigos. Talvez pudéssemos lidar com isso, no meu lado da linha. Venha me ver”.
Eu estava vividamente consciente de Edward, com seus braços ainda me cercando protetoramente, imóvel como uma pedra. Eu dei uma olhada no rosto dele – estava calmo, paciente.
Jacob abriu mão completamente da fachada antagonista. Foi como se ele tivesse esquecido que Edward estava lá, ou pelo menos ele estava determinado a agir dessa forma. “Eu sinto sua falta todos os dias, Bella. Não é a mesma coisa sem você”.
“Eu sei e eu sinto muito, Jake, é só que eu...”
Ele balançou a cabeça e suspirou. “Eu sei. Não importa, certo? Eu acho que eu vou sobreviver ou algo assim. Quem precisa de amigos?” Ele fez uma careta, tentando esconder a dor com uma fina tentativa de bravura.
O sofrimento de Jacob sempre fazia o meu lado protetor despertar. Isso não era completamente racional – Jacob dificilmente precisaria de qualquer proteção física que eu pudesse oferecer. Mas os meus braços, apertados embaixo dos de Edward, queriam alcançá-lo. Envolver a sua cintura grande, quente em uma promessa silenciosa de aceitação e conforto.
Os braços protetores de Edward se tornaram restritivos.
“Tudo bem, para as salas” uma voz diferente soou atrás de nós. “Mova-se, Sr. Crowley”.
“Vá para a escola, Jake”, eu sussurrei, ansiosa assim que eu reconheci a voz do diretor. Jacob freqüentava a escola Quileute mas ele ainda podia ter problemas por invasão ou algo assim.
Edward me soltou, segurando apenas a minha mão e me puxando pra trás do seu corpo de novo.
O Sr. Greene abriu caminho pelo círculo de espectadores, as suas sobrancelhas pressionadas pra baixo como nuvens de uma tempestade mal humorada em cima dos seus olhos pequenos.
“Eu falo sério”, ele estava ameaçando. “Detenção pra todo mundo que ainda estiver aqui quando eu me virar de novo”.
A platéia de dissolveu antes que ele terminasse a frase.
“Ah, Sr. Cullen. Temos um problema aqui?”
“Absolutamente não, Sr. Greene. Nós estávamos a caminho da aula”.
“Excelente. Eu não pareço reconhecer o seu amigo” O Sr. Greene virou seu olhar para Jacob. “Você é um estudante novo aqui?”
Os olhos do Sr. Greene estudaram Jacob, e eu podia ver que ele havia chegado a conclusão que todos haviam chegado: perigoso. Um encrenqueiro.
“Não”, Jacob respondeu, um meio sorriso nos seus lábios cheios.
“Então eu sugiro que você se retire da propriedade escola imediatamente, meu jovem, antes que eu ligue para a polícia”.
O pequeno sorriso de Jacob se transformou num riso aberto, e eu sabia que ele estava imaginando Charlie aparecendo para prendê-lo. Esse sorriso era ácido demais, muito cheio de zombaria para o meu gosto. Esse não era o sorriso que eu estive esperando pra ver.
Jacob disse “Sim, senhor” e fez uma saudação militar antes de montar em sua motocicleta e dar a partida lá mesmo na calçada. O motor roncou e os pneus cantaram quando ele fez uma curva fechada. Em questão de segundos, Jacob estava fora de vista.
O Sr. Greene arranhou os trincou os dentes enquanto ele assistia essa performance.
“Sr. Cullen, eu espero que você peça que seu amigo se retenha de invadir de novo”.
“Ele não é meu amigo, Sr Greene, mas eu vou passar o aviso”.
O Sr. Greene torceu os lábios. As notas perfeitas e os registros impecáveis de Edward eram claramente uma fator para a análise do Sr Greene do incidente. “Eu entendo. Se você estiver preocupado com qualquer problema, eu ficaria feliz em –“
“Não há nada com o que se preocupar, Sr. Greene. Não haverá nenhum problema”.
“Eu espero que isso esteja correto. Bem, então. Para a aula. Você também, Srta. Swan”.
Edward acenou com a cabeça, e me puxou junto rapidamente em direção ao prédio da aula de Inglês.
“Você se sente bem o suficiente para ir para a aula?” ele sussurrou quando passamos do diretor.
“Sim” eu sussurrei de volta, sem ter certeza de se era uma mentira.
Quer eu me sentisse bem ou não, essa dificilmente era a consideração mais importante. Eu precisava falar com Edward imediatamente, e a aula de Inglês não era o local ideal para a conversa que eu tinha em mente.
Mas com o Sr. Greene bem atrás de nós, não haviam muitas outras opções.
Nós chegamos na aula um pouco atrasados e nos sentamos rapidamente. O Sr. Berty estava recitando um poema de Frost. Ele ignorou a nossa entrada, se recusando a nos deixar quebrar o seu ritmo.
Eu arranquei uma página em branco do meu caderno e comecei a escrever, a minha escrita estava mais ilegível do que o normal graças a minha agitação.

-O que aconteceu? Me conte tudo. E para com essa bobagem de me proteger, por favor.

Eu joguei o bilhete para Edward. Ele suspirou e então começou a escrever. Ele levou menos tempo que eu, apesar dele ter escrito um parágrafo inteiro com a sua caligrafia particular antes de passar o papel de volta.

-Alice viu que Victoria estava vindo. Eu te tirei da cidade meramente por precaução – nunca houve uma chance de que Victoria chegasse em algum lugar perto de você. Emmett e Jasper por pouco não pegaram ela, mas Victoria parece ter algum instinto para fuga.
-Ela escapou bem por baixo das fronteira Quileute como se ela estivesse vendo um mapa. Não ajudou muito as habilidades de Alice serem inúteis com os Quileute. Para ser honesto, os Quileute podiam ter pego ela também, se nós não tivéssemos entrado no caminho. O grande cinza achou que Emmett tinha ultrapassado a barreira e ficou defensivo. É claro que Rosalie reagiu a isso, e todos abandonaram a caçada pra proteger seus companheiros. Carlisle e Jasper conseguiram acalmar as coisas antes que elas saíssem do controle. Mas até aí, Victoria já tinha escapado. Isso é tudo.

Eu fiz uma careta para as letras na página. Todos eles haviam estado nisso – Emmett, Jasper, Alice, Rosalie e Carlisle. Talvez até Esme, apesar dele não ter mencionado ela. E também Paul e o resto do bando Quileute. Podia ter sido tão fácil as coisas acabarem em briga, colocando a minha futura família e os meus velhos amigos uns contra os outros. E qualquer um deles podia ter se machucado. Eu imaginei que os lobisomens estariam em maior perigo, mas imaginando a pequena Alice perto de um dos enormes lobisomens, lutando...
Eu tremi.
Cuidadosamente, eu apaguei o parágrafo inteiro com a minha borracha e escrevi no topo:

-E quanto a Charlie? Ela podia ter estado atrás dele.


Edward já estava balançando a cabeça antes de eu ter terminado, obviamente preparado pra lidar com qualquer perigo que afligisse Charlie. Ele levantou a mão, mas eu ignorei e comecei de novo.


-Você não pode saber que ela não estava pensando isso, porque você não estava aqui. Flórida foi uma má idéia.


Ele pegou o papel de baixo da minha mão
-Eu não estava disposto a te mandar sozinha. Com a sua sorte, nem a caixa preta sobreviveria.

Não foi isso o que eu quis dizer; eu não tinha pensado em ir sem ele. Eu quis dizer que nós devíamos ter ficado aqui juntos. Mas eu fui distraída pela resposta, e um pouco ofendida. Como se eu não pudesse voar pelo país sem fazer o avião cair. Muito engraçado.

-Então digamos que a minha má sorte tivesse derrubado o avião. O que exatamente você teria feito sobre isso?

-Porque o avião está caindo?

Agora ele estava tentando esconder um sorriso.

-Os pilotos desmaiaram de bêbados.

-Fácil. Eu pilotaria o avião.

É claro. Eu torci os meus lábios de novo.

-Os dois motores explodiram e estamos caindo em espiral em direção à morte.

-Eu vou esperar até estarmos bem perto do chão, te segurar bem apertado, chutar a parede fora, e pular. Depois nós voltaríamos a cena do acidente, e nós andaríamos por aí como os dois sobreviventes mais sortudos da história.

Eu o encarei sem palavras.

“O que?” ele sussurrou.

Eu balancei a minha cabeça abobalhada. “Nada” eu fiz com a boca.

Eu deixei pra lá a conversa desconcertante e escrevi mais uma linha.

-Você vai me contar da próxima vez.

Eu sabia que haveria uma próxima vez. Esse padrão continuaria até que alguém perdesse.
Edward me olhou nos olhos por um longo tempo. Eu me perguntei qual seria a aparência do meu rosto – ele estava frio, como se o sangue ainda não tivesse retornado para as minhas bochechas. Os meus cílios ainda estavam molhados.
Ele suspirou e depois balançou a cabeça uma vez.

-Obrigada.

O papel desapareceu de baixo da minha mão. Eu olhei pra cima, piscando com a minha surpresa, exatamente quando o Sr. Berty vinha andando pelo corredor.
“Há alguma coisa que você queira dividir aí, Sr. Cullen?”
Edward olhou pra cima inocentemente e levantou uma folha de papel do topo do seu caderno. “As minhas anotações?” ele perguntou, parecendo confuso.
O Sr. Berty vasculhou as anotações – sem dúvida era um bela prescrição da aula dele – e depois foi embora fazendo uma careta.
Foi mais tarde, na aula de Cálculo – a única que eu não tinha com Edward – que eu ouvi a fofoca.
“O meu dinheiro está no grande índio”, alguém estava dizendo.
Eu espiei pra ver que Tyler, Mike, Austin e Ben estavam com as cabeças juntas, absolvidos em uma conversa.
“É”, Mike sussurrou. “Vocês viram o tamanho daquele garoto Jacob? Eu acho que ele derrubava o Cullen” Mike parecia feliz com a idéia.
“Eu não acho”, Ben discordou. “Tem alguma coisa em Edward. Ele é sempre tão... confiante. Eu tenho a sensação de que ele saberia cuidar de si mesmo”.
“Eu estou com Ben”, Tyler concordou. “Além do mais, se qualquer outro garoto mexesse com Edward você sabe que aqueles irmãos mais velhos dele iam se involver”.
“Você já esteve em La Push ultimamente?” Mike perguntou. “Lauren e eu fomos à praia umas duas semanas atrás, e pode acreditar em mim, os amigos de Jacob são tão grandes quanto ele.”
“Huh” Tyler disse. “Que pena que não deu em nada. Acho que a gente nunca vai saber como teria acabado”.
“Pra mim não pareceu acabado” Austin disse. “Talvez tenhamos a chance de ver.”
Mike riu. “Alguém tá a fim de apostar?”
“Dez no Jacob” Austin disse imediatamente.
“Dez em Cullen” Tyler se juntou.
“Dez em Edward”, Bem concordou.
“Hey, algum de vocês sabe do que se tratou?” Austin pensou. “Isso pode afetar os resultados”.
“Eu posso imaginar” Mike disse, e então deu uma olhada para mim ao mesmo tempo que Ben e Tyler.
Pelas expressões deles, eles não se deram conta de que eu estava a uma distância audível. Eles todos desviaram o olhar rapidamente, enfiando papéis em suas mesas.
“Eu ainda digo Jacob”, Mike murmurou por baixo do fôlego.

4. Natureza

Eu estava tendo uma semana ruim.
Eu sabia que essencialmente nada havia mudado. Tudo bem, então Victoria não tinha desistido, mas será que eu tinha sonhado por um momento que ela havia? O reaparecimento dela spo confirmava o que eu já sabia. Nenhum motivo pra novo pânico.
Teoricamente. Não entrar em pânico era mais fácil de dizer do que fazer.
A formatura era daqui a umas semanas, mas eu me perguntei se não era um pouco bobo ficar sentada, fraca e saborosa, esperando pelo próximo desastre. Parecia perigoso demais ser humana - simplesmente implorar pra ter problemas. Uma pessoa com a minha sorte tende a ser um pouco desesperançada.
Mas ninguém me escutava.
Carlisle dizia "Nós somos sete, Bella. E com Alice ao nosso lado, eu não acho que Victoria vá nos pegar fora de guarda. Eu acho que é importante, pelo bem de Charlie, que nós continuemos com o plano original.
Esme disse "Nós nunca permitiremos que nada aconteça com você, querida. Você sabe disso. Por favor, não fique ansiosa." E aí ela me deu um beijo na testa.
Emmett disse "eu estou feliz por Edward não ter te matado. Tudo é muito mais divertido com você por perto".
Rosalie encarou ele.
Alice revirou os olhos e disse "Eu estou ofendida. Você não está honestamente preocupada com isso, está?"
"Se não é nada importante, então porque Edward me arrastou para a Flórida?" eu quis saber.
"Você não reparou ainda, Bella, que Edward tem uma pequena tendência a ser exagerado?"
Jasper havia silenciosamente apagado todo o pânico e a tensão do meu corpo com o seu curioso talento de mudar as emoções na atmosfera. Eu me sentí segura, e deixei que eles me convecessem a sair do meu rogo desesperado.
É claro que a calma desapareceu assim que eu e Edward saímos da sala.
Então, o consenso era de que eu devia esquecer que uma vampira alucinada estava me perseguindo, com intenção de me matar. Se meter nos meus assuntos.
Eu tentei. E surpreendentemente, haviam outras coisas igualmente estressantes para duelas comigo pelo status na lista de espécies em perigo...
Porque a resposte de Edward foi a mais frustrante de todas.
"Isso é entre você e Carlisle", ele disse. "É claro, você sabe que eu estou desejoso de fazer com que seja entre você e eu a qualquer hora que você desejar. Você sabe a minha condição". E ele sorriu angelicalmente.
Ugh. Eu sabia a condição dele. Edward havia prometido que ele mesmo me transformaria quando eu quisesse... contanto que eu me casasse com ele primeiro.
As vezes eu me perguntava se ele não estava só fingindo que não lia a minha mente. De outra forma, como ele ia manter a insistência na única condição que eu tinha problema em aceitar? A única condição que me fazia desacelerar.
Tudo em tudo, uma semana muito ruim. E hoje era o pior dia dela.
Era sempre ruim quando Edward estava longe. Alice não havia previsto nada fora do normal esse fim de semana, então eu insistí que ele aproveitasse a oportunidade e fosse caçar com os seus irmãos. Eu sabia o quanto o deixava chateado caçar as presas chatas, fáceis que haviam por perto.
"Vá se divertir", eu disse pra ele. "Traga alguns leões da montanha para mim".
Eu jamais admitiria pra ele o quanto era difícil pra mim quando ele estava longe - como isso trazia de volta os meus pesadelos de abandono. Se ele soubesse disso, isso faria com que ele se sentisse horrível e ele ficaria com medo de me deixar de novo, mesmo pelas razões mais necessárias. Foi assim desde o começo, quando ele retornou da Itália. Os olhos dourados dele haviam ficcado pretos e ele sofria com a sede mais do que já era necessário que ele sofresse. Então eu fazia uma cara corajosa e chutava ele pra fora de casa toda vez que Emmett e Jasper queriam ir.
No entanto, eu acho que ele via além de mim. Um pouco. Essa manhão havia um bilhete no meu travesseiro:

- Eu volto logo pra que você não precise sentir a minha falta. Tome conta do meu coração - eu deixei ele com você.
Então agora eu tinha um longo Sábado vazio com nada além do meu turno matutino no Newton's Olympics Outfitters pra me distrair. E, é claro,. eu tinha a promessa muito confortadora de Alice.
"Eu vou ficar perto de casa pra caçar. Eu só estarei a quinze minutos de distância se você precisar de mim. Eu vou ficar de olho se tiverem problemas pra você".
Tradução: não tente nada engraçadinho só porque Edward está longe.
Alice certamente era tão capaz de arruinar a minha caminhonete quanto Edward.
Eu tentei olhar as coisas pelo lado bom. Depois do trabalho, eu tinha planos pra ajudar Angela com os anúncios dela, então, isso seria uma distração. E Charlie estava com excelente humor por causa da ausência de Edward, então eu devia aproveitar enquanto durava. Alice passaria a noite comigo se eu fosse patética o suficiente pra pedí-la. E aí amanhã, Edward estaria de volta. Eu ia sobreviver.
Não querendo chegar ridicilarmente cedo para o trabalho, eu tomei o café da manhã lentamente. Um cereal de cada vez. Então, quando eu lavei os pratos, eu arrumei os imãs na geladeira em uma linha perfeita. Talvez eu estivesse adquirindo um transtorno obcessivo compulsivo.
Os últimos dois imãs - pedaços utilitários arredondados pretos que eram os meus favoritos porque odiam segurar dez folhas de papel na geladeira sem esforço - não quiseram cooperar com a minha fixação. As polaridades deles eram reversas; toda vez que eu tentava alinhar um deles, o outro pulava fora do lugar.
Por alguma razão - mania iminente, talvez - isso realmente me irritou. Porque que eles não podiam simplesmente ser bonzinhos? Estúpida de teimosia, eu continuei a colocá-los juntos como se estivesse esperando que eles desistissem de repente. Eu podia trocar um de lugar, mas isso ia parecer uma derrota. Finalmente, mais exasperada comigo mesma do que com os imãs, e os tirei da geladeira e os juntei com as duas mãos. Exigiu um pouco de esforço - eles eram fortes o suficiente para sustentar uma briga - mas eu os forcei a coexistir, lado a lado.
"Vejam", eu disse em voz alta - falando com objetos inanimados, nunca um bom sinal - "Não é tão horrível, é?"
Eu fiquei lá feito uma idiota por um segundo, sem ser exatamente capaz de admitir que eu não estava tendo nenhum efeito duradouro nos princípios científicos. Então, com um suspiro, eu coloquei os imãs de volta na geladeira, um centímetro separados.
"Não há necessidade de ser tão inflexível", eu murmurei.
Ainda era muito cedo, mas eu decidí que era melhor eu sair de casa antes que os objetos inanimados começassem a responder.
Quando eu cheguei nos Newton, Mike estava passando pano metodicamente nos corredores enquanto a mão dele arrumava o novo display do balcão. E os peguei no meio de um discussão, inconscientes de que eu havia chegado.
"Mas é a única hora que Tyler pode ir", Mike reclamou. "Você disse que depois da formatura -"
"Você simplesmente vai ter de esperar", a Sra. Newton disparou. "Você e Tyler podem pensar em outra coisa pra fazer. Você não vai à Seattle até que a polícia pare o que quer que esteja aontecendo lá. Eu sei que Beth Crowley disse a mesma coisa a Tyler, então não haja como se eu fosse o bandido - oh, bom dia, Bella", ela disse quando me viu, iluminando o seu tom imediatamente. "Você chegou cedo".
Karen Newton era a última pessoa a quem eu pediria ajuda numa loja de equipamentos de esporte. O seu cabelo loiro perfeitamente claro estava sempre preso em uma elegante trança na parte de trás do seu pescoço, as unhas dela eram pintadas por profissionais, assim como as unhas de seus pés - que eram visíveis pelos sapatos altos de tiras que não se assemelhava em nada com o que Newton oferecia no longo corredor de botas de caminhada.
"Pouco trânsito", eu brinquei enquanto pegava o meu odioso uniforme laranja florescente debaixo do balcão. Eu estava supresa pela Sra. Newton estar tão afetada por essa coisa em Seattle quanto Charlie. Eu pensei que ele estava sendo exagerado.
"Bem, er..." a Sra. Newton hesitou por um momento, brincando desconfortavelmente com a pilha de panfletos que ela estava arrumando na registradora.
Eu parei com um braço só no meu uniforme. Eu conhecia aquele olhar.
Quando eu avisei os Newton de que não estaria trabalhando aqui no verão - abandonando-os na época mais agitada, na verdade - eles começaram a treinar Kate Marshall pra ficar no meu lugar. Eles não podiam pagar nós duas ao mesmo tempo, então, quando parecia ser um dia calmo...
"Eu ia ligar" a Sra. Newton continuou. "Eu não acho que estamos esperando uma tonelada de trabalho hoje. Mike e eu provavelmente podemos cuidar das coisas. Eu lamento por termos feito você dirigir até aqui..."
Num dia normal, eu estaria estasiada por essa virada nos planos. Hoje... não tanto.
"Okay", eu suspirei. Os meus ombros caíram. O que eu ia fazer agora?
"Isso não é justo, mãe", Mike disse. "Se Bella quer trabalhar -"
"Não, está tudo bem Sra. Newton. Sério, Mike. Eu tenho que estudar para as provas finais e tudo mais..." eu não queria ser a fonte de um discórdia familiar quando eles já estavam discutindo.
"Obrigada, Bella. Mike, você esqueceu o corredor quatro. Um, Bella, você se incomodaria em jogar esses panfletos fora enquanto estiver saindo? Eu disse à garota que os deixou aqui que eu os colocaria no balcão, mas eu realmente não tenho espaço".
"Claro, sem problema". Eu tirei o meu uniforme, e enfiei os panfletos embaixo do braço e saí para a fina chuva.
O lixo ficava no lado de trás do Newton's, perto de onde os funcionários deviam estacionar. Eu me arrastei, chutando pedrinhas petulantemente no caminho. Eu estava prestes a jogar a pilha de papéis amarelos na lata de lixo quando a impressão no topo da página chamou minha atenção. Uma palavra em particular aumentou minha atenção.
Eu apertei os papéis com ambas as mãos e olhei para a foto embaixo das legendas. Um caroço me subiu à garganta.

SALVE O LOBO DO OLÍMPICO
Embaixo das palavras, havia um desenho detalhado de um lobo na frente de uma árvore, com a cabeça pra trás enquanto parecia uivar para a lua. Era uma foto desconcertante; alguma coisa na postura melancólica do lobo fez com que ele parecesse abandonado. Como se ele estivesse uivando de tristeza.
E então eu estava correndo para a minha caminhonete, ainda agarrando os panfletos.
Quinze minutos - isso era tudo o que eu tinha. Mas isso devia ser o suficiente. Eram apenas quinze minutos até La Push, e certamente eu ia alcançar à fronteira antes de alcançar a cidade.
A minha caminhonete ligou sem nenhuma dificuldade.
Alice não podia ter me visto fazendo isso, porque eu não estive planejando. Uma decisão repentina, essa era a chave! E contanto que eu me movesse rápido o suficiente, eu seria capaz de realizá-la.
Eu joguei os panfletos amarelos na minha pressa e eles se espalharam numa bagunça brilhante no meu banco do passageiro - cem letras de legendas, cem lobos escuros uivantes se esboçavam no fundo amarelo.
Eu embarrilei pela estrada molhada, ligando os limpadores de vidros e ignorando o barulho do motor velho. Cinquenta e cinco era quase o limite máximo da minha caminhonete, e eu rezei pra que isso fosse suficiente.
Eu não fazia idéia de onde ficava a linha da fronteira, mas eu comecei a me sentir mais segura quando comecei a passar pelas primeiras casas da saída de La Push. Isso devia além de onde Alice tinha permissão de ir.
Eu ia ligar pra ela da casa de Angela essa tarde, eu pensei, pra que ela soubesse que eu estava bem. Não havia razão pra ela ficar preocupada. Ela não precisava ficar com raiva de mim - Edward ficaria com raiva o suficiente pelos dois quando voltasse.
A minha caminhonete estava certamente a ponto de desistir quando eu parei na frente da casa familiar de um vermelho gasto. O caroço voltou à minha garganta enquanto eu olhava para o pequeno lugar que um dia foi meu refúgio. Já fazia tanto tempo desde que eu tinha estado lá.
No silêncio repentino quando o motor da caminhonete morreu, eu o ouví ofegar.
"Bella?"
"Hey, Jake!"
"Bella!", ele gritou de volta, e o sorriu pelo qual eu estava esperando se abriu no rosto dele como se fosse o sol saindo por entre as nuvens. Os dentes dele cintilaram brilhantes contra a sua pele ruiva. "Eu não acredito!"
Ele correu para a caminhonete e meio que me arrancou pela porta aberta, e depois nós dois estavamos pulando pra cima e pra baixo feito duas crianças.
"Como você chegou aqui?"
"Eu escapulí!"
"Maravilhoso!"
"Hey, Bella!", Billy havia se empurrado até o arco da porta pra ver do que se tratava toda aquela comoção.
"Hey, Bil -!"
Então o meu ar desapareceu - Jacob me agarrou em um abraço de urso apertado demais pra me deixar respirar e me girou em círculo.
"Uau, é bom te ver aqui!"
"Não consigo... respirar!", eu botei pra fora.
Ele riu e me colocou no chão.
"Bem vinda, Bella", ele disse, rindo. E o jeito como ele disse as palavras fez com que parecesse Bem vinda ao lar.
Nós começamos a andar, animados demais pra ficarmos sentados em casa. Jacob estava praticament pulando enquanto se movia, e eu tive que lembrá-lo algumas vezes de que as minhas pernas não tinham dez metros de comprimento.
Enquanto caminhávamos, eu sentí que estava entrando em outra versão de mim mesma, a pessoa que eu era com Jacob. Um pouco mais jovem, um pouco mais irresponsável. Alguém que podia, em uma certa ocasião, fazer alguém realmente muito estúpido por nenhum bom motivo.
A nossa exuberância durou durante os primeiros tópicos da nossa conversa: como estávamos indo, o que estávamos fazendo, quanto tempo eu tinha, e o que havia me trazido aqui. Quando eu hesitantemente o contei sobre os panfletos do lobo, a sua risada estrondosa ecoou nas árvores.
Mas depois, quando nós passamos pela loja e passamos pelos arbustos grossos que cercavam a Primeira Praia, nós fomos para as partes mais difíceis.
Cedo demais nós tivemos que começar a falar sobre os motivos por trás da nossa longa separação, e eu observei o rosto do meu amigo endurecer até se transformar naquela máscara ácida com a qual eu já era bem familiar.
"Qual é a história, afinal?" Jacob me perguntou, chutando um pedaço de graveto fora do seu caminho com força demais. Ele viajou pela areia e depois se espatifou nas rochas. "Quer dizer, da última vez que nós... bem, antes de, você sabe..." Ele lutou pelas palavras. Ele respirou fundo e tentou de novo. "O que eu estou perguntando é... tudo está de volta a ser como era antes dele ir embora? Você perdoou ele por aquilo tudo?"
Eu respirei fundo. "Não havia nada pra perdoar".
Eu queria pular essa parte, as traições, as acusações, mas eu sabia que teríamos que falar tudo antes que fôssemos capazes de superar todo o resto.
O rosto de Jacob enrugou como se ele tivesse lambido um limão. "Eu queria que Sam tivesse tirado uma foto quando ele te encontrou naquela noite em Setembro. Ela seria a prova A"
"Ninguém está em julgamento"
"Talvez alguém devesse estar"
"Você não o culparia por ir embora se soubesse as razões dele pra ir embora".
Ele me encarou por alguns segundos. "Tudo bem", ele me desafiou acidamente. "Me surpreenda".
A hostilidade dele estava me cansando - era como esfregar algo áspero, doía quando ele estava com raiva de mim. Eu me lembrei da tarde, ha muito tempo atrás, quando - com as ordens de Sam - ele me disse que não podíamos ser amigos. Eu levei um longo segundo pra me recompor.
"Edward me deixou porque ele não achava que eu devia estar andando com vampiros. Ele achou que seria mais saudável pra mim se ele fosse embora".
Jacob ingeriu isso. Ele teve que pensar por um minuto. O que quer que ele estivesse planejando dizer, claramente não funcionava mais. Eu estava feliz por ele não saber o que fez a decisão de Edward ser tomada. Eu só podia imaginar o que ele pensaria se ele soubesse que Jasper tinha tentado me matar.
"No entanto, ele voltou, não voltou?" Jacob murmurou. "Que pena que ele não pode sustentar a decisão".
"Se você se lembra, eu fui e peguei ele".
Jacob olhou pra mim por um momento, e depois desistiu. O rosto dele relaxou, e sua voz estava mais calma quando ele falou.
"Isso é verdade. Eu nunca ouví a história. O que aconteceu?"
Eu hesitei, mordendo o meu lábio.
"É um segredo?" A voz dele tomou um tom de zombaria. "Você não tem permissão pra me contar?"
"Não", eu disparei. "Só que é uma história muito longa".
Jacob sorriu, arrogante, e virou pra caminhar para a praia, esperando que eu o seguisse.
Não tinha graça estar com Jacob se ele ia agir desse jeito. Eu o seguí automaticamente, sem ter certeza se eu devia me virar e ir embora. Porém, eu ia ter que enfrentar Alice, quando eu chegasse em casa... eu acho que não estava com pressa.
Jacob caminhou para um enorme, familiar, pedaço de salgueiro - uma árvore inteira, com raízes e tudo, esbranquiçado, e bem afundado na areia; era a nossa árvore, de certa forma.
Jacob sentou no banco natural, e deu uns tapinhas no espaço ao lado dele.
"Eu não me importo com histórias longas. Tem ação?"
Eu revirei os meus olhos enquanto me sentava ao lado dele. "Tem um pouco de ação", eu permití.
"Não seria uma história de terror se não tivesse ação"
"Terror!", eu repreendí. "Você pode ouvir, ou você vai ficar me interrompendo com comentários rudes sobre os meus amigos?"
Ele fingiu trancar os lábios e depois jogou a chave invisível por cima do ombro. Eu tentei não sorrir, e falhei.
"Eu tenho que começar por onde você já estava", eu decidí, trabalhando pra organizar as histórias na minhacabeça antes de começar.
Jacob ergueu a mão.
"Pode falar"
"Isso é bom", ele disse. "Eu não entendí muito bem o que estava acontecendo naquela hora".
"É, bem, vai ficar complicado, então preste atenção. Você sabe como Alice as coisas?"
Eu entendí a careta dele - os lobisomens não estavam felizes porque as lendas sobre os vampiros possuirem dons sobrenaturais eram verdadeiras - como um sim, e prossegui com a história da minha corrida pela Itália para resgatar Edward.
Eu a mantí o mais suscinta possível - deixando de fora qualquer coisa que não fosse essencial. Eu tentei ler as expressões de Jacob, mas o rosto dele estava enigmático quando eu expliquei como Alice tinha visto Edward planejando se matar quando ele ouviu que eu havia morrido. As vezes Jacob parecia tão absolvido em pensamentos, que eu não tinha certeza de que ele estava ouvindo. Ele só interrompeu uma vez.
"A sugadora de sangue que vê o futuro não pode nos ver?" ele ecoou, o rosto dele estava tão feroz quanto estava alegre. "Sério? Isso é excelente!"
Eu trinquei os meus dentes, e nós sentamos em silêncio, o rosto dele estava cheio de expectativa enquanto ele esperava que eu continuasse. Eu o encarei até que ele reparasse no seu erro.
"Oops!", ele disse. "Desculpe" Ele trancou os lábios de novo.
A resposta dele foi fácil de ler quando eu contei sobre os Volturi. Os dentes dele trincaram, os braços dele ficaram arrepiados, e as narinas dele inflaram. Eu não fui específica, eu só o contei que Edward havia copnseguido nos tirar do problema, sem revelar a promessa que nós tivemos que fazer, ou da visita que estávamos esperando. Jacob não precisava ter os meus pesadelos.
"Agora você sabe a história toda", eu concluí. "Então é a sua vez de falar. O que aconteceu enquanto eu estava com a minha mãe esse fim de semana?" Eu sabia que Jacob me daria mais detalhes do que Edward havia me dado. Ele não estava com medo de me assustar.
Jacob se inclinou para a frente, instantaneamente animado. "Então Embry e Quil e eu estávamos correndo na nossa patrulha no Sábado à noite, só as coisas de rotina, e do nada -bam!" Ele levantou os braços, personalisando uma explosão.
"Lá estava - uma trilha fresca, não tinha nem quinze minutos. Sam queria que nós esperássemos por ele, mas eu não sabia que você não estava aqui, e não sabia se os seus sugadores de sangue estavam de olho em você ou não. Então nós perseguimos ela a toda velocidade, mas ela cruzou a linha do acordo antes que a alcançássemos. Nós nos separamos pela linha, esperando que ela voltasse. Foi frustrante, deixe eu te dizer." Ele balançou a cabeça e os cabelos - que estavam crescendo do corte curto que ele havia adotado quando ele se juntou ao bando - caíram em seus olhos. "Nós acabamos perto demais do Sul. Os Cullen a perseguiram de volta para o nosso lado até apenas algumas milhas do nosso Norte. Teria sido a emboscada perfeita se nós subessemos onde esperar".
Ele balançou a cabeça, agora fazendo careta. "Foi aí que ficou feio. Sam e os outros a alcançaram antes de nós, mas ela estava dançando bem além da linha, e o grupo inteiro estava bem alí do outro lado. O grande, como é o nome dele -"
"Emmett"
"É, ele. Ele tentou atacá-la, mas aquela ruiva é rápida! Ele passou bem por trás dela e quase bateu em Paul. Então Paul... bem, você conhece Paul".
"É".
"Ele perdeu o foco. Eu não posso dizer que o culpo - o sugador de sangue grandão estava bem em cima dele. Ele saltou - ei, não me olhe desse jeito. O vampiro estava nas nossas terras".
Eu tentei recompor o meu rosto para que ele continuasse. As minhas unhas estavam enterradas nas minhas palmas com o estresse da história, mesmo sabendo que tudo tinha acabado bem.
"De qualquer forma, Paul errou, e o vampiro voltou para o lado dele. Mas aí a, uh, bem a, uh, loira..." A expressão de Jacob era uma cômica mistura de nojo e de admiração sem querer enquanto ele tentava encontrar uma palavra para descrever a irmã de Edward.
"Rosalie".
"Que seja. Ela ficou cheia de sí, então Sam e eu voltamos pra perto de Paul. Aí o líder deles e o outro loiro -"
"Carlisle e Jasper"
Ele me deu um olhar exasperado.
"Você sabe que eu não me importo de verdade. De qualquer forma, então Carlisle falou com Sam, tentando acalmar as coisas. Então foi estranho, porque todo mundo ficou muito calmo bastante rápido. Foi aquele outro sobre quem você me falou, que estava zoando com as nossas cabeças. Mas mesmo que soubéssemos o que ele estava fazendo, nós não conseguimos não ficar calmos".
"É, eu sei como é"
"Muito chato, é isso que é. Só que você só consegue ficar com raiva depois". Ele balançou a cabeça com raiva. "Então Sam e o vampiro lider concordaram que Victoria era a prioridade, e nós saímos atrás dela de novo. Carlisle nos deu a linha, para que pudéssemos sentir o cheiro apropriadamente, mas aí ela chegou nos penhascos a norte do condado de Makah, lá onde a linha abraça a costa por alguns quilômetros. Ela escapou pela água de novo. O grandão e o calmo pediram permissão para ultrapassar a linha pra ir atrás dela, mas é claro que nós dissemos não".
"Bom. Quer dizer, você estava sendo estúpido, mas eu estou feliz. Emmett nunca é cuidadoso o suficiente. Ele podia ter se machucado".
Jacob bufou. "Então o seu vampiro te disse que nós atacamos sem nenhuma razão e que o grupo completamente inocente dele -"
"Não", eu interrompí. "Edward me contou a mesma história, só que não com tantos detalhes".
"Huh", Jacob disse por baixo do fôlego, e se abaixou para pegar uma pedras entre os milhões de pedrinhas aos nossos pés. Com um movimento casual, ele fez ela sair voando uns bons cem metros pra fora da baía. "Bom, ela vai voltar, eu acho. Nós vamos ter outra chance com ela".
Eu levantei os ombros; é claro que ela ia voltar. Edward realmente me diria da próxima vez? Eu não tinha certeza. Eu ia ter que ficar de olho em Alice, pra procurar por sinais de que o padrão estava prestes a se repetir...
Jacob não pareceu reparar a minha reação. Ele estava olhando para as ondas com um expressão pensativa no rosto, com seus lábios grossos fazendo beicinho.
"No que você está pensando?", eu perguntei depois de um longo tempo, em silêncio.
"Eu estou pensando no que você me disse. Sobre quando o vidente viu você pular do penhasco e pensou que você tinha se suicidado, e como tudo saiu do controle... Você se dá conta de que se você tivesse esperado por mim como devia, então depois a su -Alice não tivesse sido capaz de te ver pular? Nada teria mudado. Nós provavelmente estariamos na minha garagem agora, como em qualquer outro Sábado. Não haveriam vampiros em Forks, e você e eu..." Ele parou, perdido em pensamentos.
O jeito que ele disse isso foi desconcertante, como se fosse uma coisa que não houvessem vampiros em Forks. O meu coração bateu fora de ordem por causa do vazio do quadro que ele pintou.
"Edward teria voltado do mesmo jeito".
"Você tem certeza disso?" ele perguntou, agressivo de novo assim que eu falei o nome de Edward.
"Estar separados... Não funcionou muito bem para nenhum de nós"
Ele começou a dizer alguma coisa, alguma coisa raivosa pela expressão dele, mas ele se deteve, respirou fundo, e começou de novo.
"Você sabia que Sam está com raiva de você?"
"Eu?" Eu levei um segundo. "Oh. Eu entendo. Ele acha que eles teriam ficado longe se eu não estivesse aqui".
"Não. Não é isso".
"Qual é o problema então?"
Jacob se abaixou para pegar outra pedra. Ele a girou pra lá e pra cá em seus dedos; os olhos dele estavam grudados na pedra preta enquanto ele falava com uma voz baixa.
"Quando Sam viu... como você estava no começo, quando Billy os disse o quanto Charlie estava preocupado quando você não melhorou, e aí você começou a pular de penhascos..."
Eu fiz uma cara. Ninguém ia me deixar esquecer aquilo.
Os olhos de Jacob vieram para os meus. "Ele pensou que você era a única pessoa no mundo que teria tantas razões para odiar os Cullen quanto ele. Sam se sente meio... traído por você simplesmente ter deixado eles voltarem para a sua vida como se eles nunca tivessem te machucado".
Eu não acreditei nem por um segundo que era Sam que se sentia assim.
E o ácido na minha voz agora era para eles dois.
"Você pode dizer a Sam que ele -"
"Olhe pra isso", Jacob me interrompeu, apontando para uma águia que estava voando pra baixo em direção ao oceano de uma altura incrível. Ela se deteve no último minuto, apenas as suas garras quebrando a superfície das ondas, só por um instante. Depois ela levantou vôo, suas asas se debatendo contra o peso de um peixe enorme e ela tinha pego.
"Aqui você vê isso o tempo inteiro" Jacob disse, sua voz repentinamente distante. "A natureza tomando o seu curso - o caçador e a presa, e o interminável ciclo de vida e morte".
Eu não entendí a necessidade do discurso sobre a natureza; eu imaginei que ele estivesse só tentando mudar de assunto. Mas depois ele olhou de volta para mim com humor negro nos olhos.
"E mesmo assim, você não vê o peixe tentando dar um beijo na águia. Você nunca vê isso". Ele deu um sorriso de zombaria.
Eu correspondí com um sorriso forçado, apesar do gosto amargo ainda estar na minha boca. "Talvez o peixe estivesse tentando", eu sugerí. "É difícil dizer o que o peixe estava pensando. Águias são pássaros de boa aparência, você não acha?"
"É disso que se trata?" A voz dele estava abruptamente mais afiada. "Boa aparência?"
"Não seja estúpido, Jacob"
"É o dinheiro, então?", ele insistiu.
"Isso é legal" eu murmurei, me levantando da árvore. "Eu estou lisonjeada que você pense tão bem de mim". Eu dei as costas pra ele e comecei a ir embora.
"Aw, não fique com raiva". Ele estava bem atrás de mim; ele agarrou o meu pulso e me virou. "Eu estou falando sério! Eu estou tentando entender, e estou ficando em branco"
As minhas sobrencelhas se uniram raivosamente, e os olhos dele estavam pretos nas sombras escuras.
"Eu amo ele. Não porque ele é lindo ou porque ele é rico!" eu joguei a palavra em Jacob.
"Eu preferiria se ele não fosse nenhum dos dois. Isso iria balancear as coisas entre nós um pouquinho - porque ele ainda seria a pessoa mais amorosa e altruísta e brilhante e decente que eu já conhecí. É claro que eu amo ele. Será que isso é difícil de entender?"
"É impossível de entender".
"Por favor, me esclareça então, Jacob" eu deixei o sarcasmo voar solto. "Qual é o motivo válido pra se amar alguém? Já que aparentemente eu estou fazendo isso errado".
"Eu acho que o melhor lugar pra começar seria procurar entre a nossa própria espécie. Isso geralmente funciona".
"Bem, isso é uma droga!" eu atirei. "Eu acho que estou presa com Mike Newton afinal de contas".
Jacob enrijeceu e mordeu o lábio. Eu podia notar que as minhas palavras haviam machucado ele, mas eu ainda estava com raiva demais pra me sentir mal sobre isso. Ele soltou o meu pulso e cruzou os braços no peito, desviando de mim pra encarar o oceano.
"Eu sou humano", ele murmurou, sua voz quase inaudível.
"Você não é tão humano quanto Mike" eu continuei rudemente. "Você ainda acha que essa é a consideração mais inportante?"
"Não é a mesma coisa", Jacob não desviou o olhar das ondas cinzas. "Eu não escolhí isso".
Eu rí mais uma vez sem acreditar. "Você acha que Edward escolheu? Ele não sabia o que estava acontecendo com ele mais do que você sabia. Ele não se inscreveu pra isso".
Jacob estava balançando a cabeça pra frente e pra trás, num movimento pequeno, rápido.
"Sabe, Jacob, você é terrivelmente cheio de sí - levando em consideração que você é um lobisomem e tudo mais".
"Não é a mesma coisa", ele repetiu, olhando pra mim.
"Eu não vejo porque não. Você podia ser um pouco mais compreensívo com os Cullen. Você não tem idéia do quão realmente bons eles são - demais, Jacob".
A careta dele se aprofundou. "Eles não deviam existir. A existência deles vai contra a natureza".
Eu o encarei com um sobrancelha erguida incredulamente. Levou um tempo até que ele reparesse.
"O que ?"
"Falando de sobrenatural..." eu indiquei.
"Bella", ele disse com uma voz lenta e diferente. Amadurecida. Eu me dei conta de que de repente ele parecia ser mais velho que eu - como uma pai ou um professor. "O que eu sou nasceu comigo. Isso é parte de quem eu sou, de quem a minha família é, de quem toda a tribo é - essa é a razão pela qual ainda estamos aqui.
"Além do mais" - ele olhou pra mim, seus olhos pretos ilegíveis. "Eu ainda sou humano".
Ele pegou a minha mão e pressionou no seu peito febriamente quente. Através da sua camisa, eu podia sentir as batidas uniformes do coração dele na minha palma.
"Humanos normais não podem andar em motos do jeito que você faz".
Ele deu um meio sorriso fraco. "Humanos normais fogem de monstros, Bella. E eu nunca disse que era normal. Só humano."
Ficar com raiva de Jacob era trabalhoso demais. Eu comecei a sorrir enquanto tirava a minha mão do peito dele.
"Você é bastante humano pra mim", eu permití. "No momento".
"Eu me sinto humano". Ele olhou através de mim, o rosto dele estava entristecido. O lábio inferior dele estremeceu, e ele o mordeu com força.
"Oh, Jake", eu sussurrei, pegando a mão dele.
Era por isso que eu estava lá. Era por isso que eu aguentaria qualquer recepção que estivesse esperando por mim quando eu voltasse. Porque, por baixo de toda aquela raiva e sarcasmo, Jacob estava sentindo dor. Nesse momento, isso estava muito claro nos olhos dele. Eu não sabia como ajudá-lo, mas eu já sabia que eu tinha que tentar. Isso era mais do que porque eu o devia. Era porque a dor dele me machucava também. Jacob havia se tornado uma parte de mim, e não havia como mudar isso agora.

5. Imprimido

"Você está bem, Jake? Charlie disse que você está passando por um momento difícil... Isso não tá melhorando?"
A mão quente dele circulou a minha. "Não é tão ruim", ele disse, mas ele não me olhava nos olhos.
Ele caminhou lentamente para o banco de salgueiro, olhando para as pedrinhas com cor de arco-íris, e me puxando para o lado dele. Eu me sentei na nossa árvore, mas ele preferiu se sentar no chão molhado, coberto de pedras do que perto de mim. Eu me perguntei se era pra que ele pudesse esconder o rosto com mais facilidade. Ele continuou segurando minha mão.
Eu comecei a tagarelar para acabar com o silêncio. "Já faz tanto tempo desde que eu estive aqui. Eu provavelmente perdí uma tonelada de coisas. Como estão Sam e Emily? E Embry? E Quil -?"
Eu parei no meio da frase, lembrando que o amigo de Jacob, Quil, costumava ser uma assunto sensível.
"Ah, Quil", Jacob suspirou.
Então já devia ter acontecido - Quil deve ter se juntado ao bando.
"Eu lamento", eu murmurei.
Para a minha surpresa, Jacob bufou. "Não diga isso a ele".
"O que você quer dizer?"
"Quil não está procurando por pena. Pelo contrário - ele está contente. Simplesmente louco de felicidade".
Isso não fazia sentido pra mim. Todos os outros lobos tinham estado tão deprimidos com a idéia do amigo deles dividir esse mesmo destino. "Huh?"
Jacob pendeu a cabeça de lado pra olhar pra mim. Ele sorriu e revirou os olhos.
"Quil acha que isso é a coisa mais legal que já aconteceu com ele. Agora ele já sabe realmente o que está acontecendo. E ele está feliz por ter os amigos de volta - por ser parte "do grupo". Jacob bufou de novo. "Eu não devia estar supreso, eu acho. Isso é tão Quil".
"Ele gosta disso?"
"Honestamente... a maioria deles gosta", Jacob admitiu lentamente. "Definitivamente têm lados bons nisso - a velocidade, a liberdade, a força... o sensação de - de família... Sam e eu somos os únicos que se sentem mal. E Sam já superou isso a muito tempo. Então agora eu sou o bebê chorão." Jacob riu de sí mesmo.
Haviam tantas coisas que eu queria saber. "Porque você e Sam são diferentes? O que aconteceu com Sam, afinal? Qual é o problema dele?" As perguntas iam escapando sem dar tempo pra uma resposta, e Jacob riu de novo.
"Essa é uma longa história".
"Eu te contei uma longa história. Além do mais, eu não estou com pressa." Eu disse, e depois fiz uma careta quando eu pensei no problema em que ia me meter.
Ele olhou pra mim rapidamente, ouvindo o tom de dúvida nas minhas palavras. "Ele vai ficar com raiva de você?"
"Sim", eu adimití. "Ele realmente odeia quando eu faço coisas que ele considera... arriscadas".
"Como andar com lobisomens"
"É".
Jacob levantou os ombros. "Então não volte. Eu durmo no sofá".
"Essa é uma ótima idéia" eu rosnei. "Porque aí ele ia vir procurar por mim".
Jacob enrijeceu, e sorriu sem sinceridade. "Viria?"
"Se ele estivesse com medo de que eu fosse me machucar ou coisa assim - provavelmente"
"A minha idéia está parecendo melhor a cada segundo".
"Por favor, Jake. Isso realmente me incomoda"
"O que?"
"Que vocês dois estejam tão prontos pra matar um ao outro!" eu reclamei. "Isso me deixa louca. Porque vocês dois não podem ser civilizados?"
"Ele está pronto pra me matar?" Jacob perguntou com um sorriso de zombaria, despreocupado com a minha raiva.
"Não como você parece estar!" eu me dei conta de que estava gritando. "Pelo menos ele consegue ser maturo em relação a isso. Ele sabe que te machucar ia me machucar - então ele nunca faria isso. Você não parece se importar com isso nem um pouco!"
"É, tá", Jacob murmurou. "Estou certo de que ele é um pacificador".
"Ugh!" eu puxei a minha mão da dele e empurrei a cabeça dele pra longe. Então eu puxei os meus joelhos para o meu peito e passei os meus braços com força ao redor deles.
Eu olhei para o horizonte, enfurecida.
Jacob ficou quieto por alguns minutos. Finalmente, ele levantou do chão e se sentou ao meu lado, colocando o braço ao redor do meu ombro. Eu o afastei.
"Desculpe", ele disse baixinho.
"Eu vou tentar me comportar".
Eu não respondí.
"Você quer ouvir sobre Sam?", ele ofereceu.
Eu levantei os ombros.
"Como eu disse, é uma longa história. E muito... estranha. Existem muitas coisas estranhas sobre essa nova vida. Eu não tive tempo pra te contar nem a metade. E essa coisa com Sam - bem, eu não sei se serei capaz de explicar direito".
As palavras dele eriçaram a minha curiosidade apesar da minha irritação.
"Eu estou ouvindo", eu disse rigidamente.
Pelo canto do meu olho, eu ví os cantos da boca dele se levantarem em um sorriso.
"Sam e eu sofremos muito mais com isso do que os outros. Porque ele foi o primeiro, e ele estava sozinho, e ele não tinha ninguém pra dizê-lo o que estava acontecendo. O avô de Sam morreu antes que ele tivesse nascido, e o pai dele nunca esteve por perto. Não havia niguém lá pra reconhecer os sinais. Na primeira vez que aconteceu - a primeira vez que ele se transformou - ele pensou que tinha enlouquecido. Ele levou duas semanas pra se acalmar o suficiente pra voltar ao normal.
"Isso foi antes de você vir a Forks, então você não poderia lembrar. A mãe de Sam e Leah Clearwater fizeram os guardas da floresta procurar ele, a polícia. As pessoas pensaram que ele tinha sofrido um acidente ou algo assim..."
"Leah", eu perguntei, surpresa. Leah era a filha de Harry. Ouvir o nome mandou uma onda imediata de piedade por mim. Harry Clearwater, velho amigo de Charlie, tinha morrido de um ataque do coração na primavera passada.
A voz dele mudou, ficou mais pesada. "É. Leah e Sam eram namorados na escola. Eles começaram a namorar quando ela ainda era caloura. Ela ficou frenética quando ele desapareceu."
"Mas ele e Emily -"
"Eu vou chegar lá - isso é parte da história", ele disse. Ele inalou lentamente, e exalou com força.
Eu acho que eu tinha sido boba por pensar que Sam nunca havia amado ninguém além de Emily. A maioria das pessoas se apaixona e desapaixona tantas vezes na vida. É só que eu tinha visto Sam com Emily, e eu não conseguia imaginá-lo com mais ninguém.
O jeito como ele olhava pra ela... bem, isso me lembrava de um olhar que eu já tinha visto algumas vezes nos olhos de Edward - quando ele estava olhando pra mim.
"Sam voltou", Jacob disse. "mas ele não disse a ninguém onde havia estado. Os rumores começaram a aparecer - de que ele não estava fazendo nada bom, em grande parte. E depois Sam se bateu com o avô de Quil quando o velho Quil Ateara veio visitar a Sra. Uley. Sam balançou a mão dele. O velho Quil quase teve um derrame". Jacob parou pra rir.
"Porque?"
Jacob colocou a mão na minha bochecha e puxou meu rosto pra que eu pudesse olhar pra ele - ele estava inclinado na minha direção. A palma dele queimava a minha pele, como se ele estivesse com febre.
"Oh, certo", eu disse. Eu estava desconfortável, tendo o meu rosto tão perto do dele e a mão quente dele na minha pele. "Sam estava com a temperatura alta".
Jacob riu de novo. "Parecia que Sam tinha colocado a mão dele no fogão".
Ele estava tão perto, que eu podia sentir a sua respiração quente. Eu alcancei casualmente, pra retirar a mão dele e libertar o meu rosto, mas entralecei meus dedos com os dele pra não magoar seus sentimentos. Ele sorriu e se afastou, sem ser enganado com a minha tentativa de ser gentil.
"Então o Sr. Ateara foi até os anciões", Jacob continuou. "Eles eram os únicos que haviam restado que ainda sabiam, ainda lembravam. O Sr. Ateara, Billy e Harry realmente haviam visto seus avôs se tranformando. Quando o velho Quil os contou, eles se encontraram com Sam secretamente e explicaram.
"Foi mais fácil quando ele entendeu - quando ele não estava mais sozinho. Eles sabiam que ele não seria o único a ser afetado pela volta dos Cullen" - ele pronunciou o nome com uma acidez incosciente - "mas ninguém mais era velho o suficiente. Então Sam esperou até que o resto de nós se juntasse a ele..."
"Os Cullen não tinham idéia", eu disse em um sussurro. "Eles não sabiam que os lobisomens ainda existiam aqui. Eles não sabiam que vir aqui faria com que vocês mudassem".
"Isso não muda o fato de que fez"
"Me lembre não não mexer com o seu lado ruim".
"Você acha que eu devia perdoá-los como você? Nós não podemos ser todos Santos e Mártires".
"Cresça, Jacob."
"Eu queria poder", ele murmurou baixinho.
Eu o encarei, tentando entender o sentido da frase dele. "O que?"
Jacob gargalhou. "Uma daquelas muitas coisas estranhas que eu mencionei".
"Você... não pode... crescer?" eu disse vazia. "Você o que? Não vai... envelhecer? Isso é uma piada?"
"Nope", ele estalou os lábios no P.
Eu sentí o sangue escapando do meu rosto. Lágrimas - lágrimas de raiva - encheram os meus olhos. Os meus dentes rangeram, com um audível som incômodo.
"Bella? O que foi que eu disse?"
Eu estava de pé de novo, minhas mãos eram bolas nos meus pulsos, o meu corpo estava tremendo.
"Você. Não. Vai. Envelhecer". Eu rugí por entre os dentes.
Jacob puxou o meu braço gentilmente, tentando me fazer sentar. "Nenhum de nós vai. Qual é o problema com você?"
"Eu sou a única que tem que ficar velha? Eu estou ficando mais velha a cada dia nojento!" eu preticamente gritei, jogando as mãos pra o ar. Uma parte de mim reconheceu que eu estava fazendo um escândalo Charlie-esco, mas essa parte racional estava dominada pela parte irracional. "Droga! Que espécie de mundo é esse? Onde está a justiça?"
"Pega leve, Bella"
"Cala a boca, Jacob. Só cala a boca! É tão injusto!"
"Você seriamente acabou de bater o pé? Eu pensei que as garotas só faziam isso na TV".
Eu rosnei de forma não impressionante.
"Não é tão ruim quanto você pensa. Sente e eu vou explicar".
"Eu vou ficar de pé"
Ele revirou os olhos. "Tá certo. O que você quiser. Mas escute, eu vou envelhecer... algum dia".
"Explique".
Ele deu um tapinha na árvore. Eu rosnei por um segundo, mas depois eu me sentei; meu temperamento melhorou tão rapidamente quanto tinha piorado e eu me acalmei o suficiente pra me dar conta que eu estava fazendo papel de boba.
"Quando nos tornarmos velhos o suficiente pra desistir..." Jacob disse. "Quando nós pararmos de nos transformar por uma sólida quantidade de tempo, nós envelheceremos de novo. Não é fácil". Ele balançou a cabeça, abruptamente duvidoso. "Vai levar bastante tempo para aprender esse tipo de restrinção, eu acho. Sam ainda nem chegou lá. É claro que não ajuda o fato de que há um enorme grupo de vampiros por perto. Nós não podemos nem pensar em desistir enquanto a tribo precisar de protetores. Mas você não devia ficar louca por causa disso, de qualquer forma, porque eu já sou mais velho de que você, fisicamente, pelo menos".
"Do que é que você está falando?"
"Olha pra mim, Bells. Você acha que eu pareço ter dezesseis?"
Eu olhei para a estatura de mamute dele, tentando ser imparcial. "Não exatamente, eu acho".
"Nem um pouco. Porque nós atingimos a maturidade máxima dentro de alguns meses quando o gene lobisomem é ativado. É um tremendo período de crescimento." Ele fez uma cara. "Fisicamente, eu provavelmente tenho vinte e cinco ou coisa parecida. Então você não precisa se preocupar em ser velha demais pra mim por pelo menos sete anos".
Vinte e cinco ou coisa assim. A idéia mexeu com a minha cabeça. Mas eu me lembrei daquele período de crescimento - eu me lembrei de observar ele crescer bem em frente aos meus olhos. Eu me lembrei de como ele parecia diferente todos os dias... eu balancei a minha cabeça, me sentindo tonta.
"Então, você quer ouvir sobre Sam, ou você quer gritar mais comigo por coisas que estão fora do meu controle?"
Eu respirei fundo. "Desculpa. Idade é um assunto complicado pra mim. Isso atacou meus nervos".
Os olhos de Jacob estreitaram, como se ele estivesse tentendo decidir a forma de falar alguma coisa.
Já que eu não queria falar sobre as coisas realmente complicadas pra mim - meus planos pra o futuro, ou os acordos que podiam ser quebrados por tais planos, eu fiz ele ir em frente.
"Então, quando Sam entendeu o que estava acontecendo, quando ele tinha Billy e Harry e o Sr. Ateara, você disse que não foi mais difícil. E, como você também disse, existem partes boas..." eu hesitei brevemente. "O que faz Sam odia-los tanto? O que faz ele desejar que eu os odei?"
Jacob suspirou. "Essa á a perte realmente estranha".
"Eu sou profissional em coisas estranhas".
"É, eu sei". Ele riu antes de continuar. "Então, você está certa. Sam sabia o que estava acontecendo, e tudo estava meio que bem. Em maioria, a vida dele estava, bem, não normal. Mas melhor". Aí a expressão de Jacob endureceu, como se alguma coisa dolorosa estivesse vindo. "Sam não podia contar a Leah. Nós não devemos contar a ninguém que não deva saber. E não era muito seguro ele estar perto dela - mas ele trapaceou, exatamente como eu fiz com você. Leah ficou furiosa por ele não contá-la o que estava acontecendo - onde ele havia estado, onde ele esteve a noite inteira, porque ele estava sempre tão exausto - mas eles estavam fazendo dar certo. Eles estavam tentando. Eles realmente se amavam".
"Ela descobriu? Foi isso que aconteceu?"
Ele balançou a cabeça. "Não, esse não é o problema. A prima dela, Emily Young, veio da reserva de Makah pra fazer uma visitar ela num fim de semana".
Eu sufoquei. "Emily é prima de Leah?"
"Prima de segundo grau. No entanto, elas são próximas. Elas eram como irmãs quando eram crianças."
"Isso é... horrível. Como Sam pôde...?" eu parei, balançando minha cabeça.
"Não o julgue ainda. Alguém já te disse... Você já ouviu falar da impressão?"
"Impressão?" eu repetí a palavra estranha. "Não. O que significa?"
"É uma daquelas coisas estranhas com as quais eu tenho que lidar. Isso não acontece com todo mundo. Na verdade, eu acho que é uma rara excessão, não uma regra. Até essa hora, Sam já havia ouvido todas as histórias, as histórias que todos nós costumávamos pensar que eram lendas. Ele ouviu da impressão, mas ele nunca sonhou que..."
"O que é?" eu instiguei.
Os olhos de Jacob grudaram no oceano. "Sam amava Leah. Mas quando ele viu Emily, isso não importou mais. As vezes... nós não sabemos exatamente porque... nós encontramos as nossas parceiras assim". Os olhos dele voltaram pra mim, o rosto dele ficando vermelho. "Eu quero dizer... as nossas almas gêmeas".
"Que jeito? Amor à primeira vista?" eu rí silenciosamente.
Jacob não estava rindo. Os olhos dele estavam criticando a minha reação. "Isso é um pouco mais poderoso do que isso. Mais absoluto".
"Desculpa", eu murmurei. "Você estão falando sério, não está?"
"É, eu estou".
"Amor à primeira vista? Mas mais poderoso?" A minha voz soava duvidosa, e ele podia ouvir isso.
"Não é fácil explicar. De qualquer forma, não importa". Ele levantou os ombros indiferentemente. "Você queria saber o que aconteceu com Sam pra fazê-lo odiar os vampiros por fazer ele mudar, pra fazê-lo odiar a sí mesmo. E foi isso que aconteceu. Ele partiu o coração de Leah. Ele teve que voltar atrás em todas as promessas que havia feito a ela. Todos os dias ele tem que ver a acusação nos olhos dela, e saber que ela está certa".
Ele parou de falar abruptamente, como se ele tivesse dito alguma coisa que não devia ter dito.
"Como Emily lidou com isso? Se ela era tão próxima a Leah...?" Sam e Emily eram extremamente certos juntos, duas partes de quebra-cabeças, feitos um para o outro exatamente. Ainda assim... Como Emily ignorou o fato de que ele pertencia a outra pessoas? Quase a irmã dela.
"Ela ficou com muita raiva no início, mas era dificil resistir àquele nível de compromisso e adoração". Jacob suspirou. "E depois, Sam pôde contar tudo pra ela. Não existem regras que te impeçam quando você realmente encontra a sua outra metade. Você sabe como ela se machucou?"
"Sei". A história em Forks era de que ela tinha sido atacada por um urso, mas eu sabia do segredo.
Lobisomens são instáveis, Edward tinha dito. As pessoas próximas a eles se machucam.
"Bem, estranhamente o suficiente, isso foi meio que a forma como eles acertaram as coisas. Sam ficou tão horrorizado, tão enojado consigo mesmo, tão cheio de ódio pelo que ele havia feito... Ele teria se atirado na frente de um ônibus se isso fizesse com que ela se sentisse melhor. Ele deve ter feito do mesmo jeito, só pra escapar do que ele havia feito. Ele estava arrasado... Então, de alguma forma, era ela que estava confortando ele, e no fim das contas..."
Jacob não terminou o seu pensamento, e eu sentí que a história tinha se tornado pessoal demais pra dividir.
"Pobre Emily", eu sussurrei. "Pobre Sam. Pobre Leah..."
"É, Leah ficou com a pior parte", ele concordou. "Ela faz cara de durona. Ela vai ser uma das damas de honra".
Eu olhei pra longe, para as rochas pontudas que se erguiam do oceanos como se fossem dedos quebrados ao sul do porto, enquanto eu tentei entender o sentido disso tudo. Eu podia sentir os olhos dele no meu rosto, esperando que eu dissesse alguma coisa.
"Isso aconteceu com você?", eu finalmente perguntei, ainda olhando pra longe. "Essa coisa de amor à primeira vista?"
"Não", ele respondeu vivamente. "Sam e Jared são os únicos".
"Hmm" eu disse, tentando soar educadamente interessada. Eu estava aliviada, e eu tentei explicar a minha reação para mim mesma. Eu decidí que eu só estava feliz que não havia nenhuma ligação mística, de lobos, entre nós. O nosso relacionamento já era confuso o suficiente do jeito que era. Eu não queria mais nada sobrenatural além daquilo com o que eu já tinha que lidar.
Ele estava quieto também, e o silêncio ficou um pouco estranho. A minha intuição me disse que eu não ia querer saber o que ele estava pensando.
"Como foi que isso funcionou pra Jared?" eu perguntei pra quebrar o silêncio.
"Nenhum drama aqui. Era só uma garota da qual ele passou o ano todo sentando perto na escola e ele nunca a olhou duas vezes. E depois, quando ele foi transformado, ele olhou pra ela e não conseguiu desviar o olhar".
"Kim ficou muito feliz. Ela tinha uma enorme queda por ele. Ela tinha escrito o sobrenome dele depois do nome dela no diário dela inteiro". Ele sorriu de zombaria.
Eu fiz uma careta. "Jared te contou isso? Ele não devia ter contado".
Jacob mordeu o lábio. "Eu acho que não devia rir. No entanto, é engraçado".
"Bela alma gêmea".
Ele suspirou. "Jared não nos contou de propósito. Eu já te contei essa parte, lembra?"
"Oh, é. Vocês podem ouvir os pensamentos uns dos outros, mas só quando são lobos, certo?"
"Certo. Igual ao seu sugador de sangue".
"Edward", eu corrigí.
"Claro, claro. É assim que eu sei tanto sobre como Sam se sentiu. Não é como se ele fosse nos contar isso se ele tivesse escolha. Na verdade, isso é uma coisa que todos nós odiamos." A acidez repentinamente endureceu a voz dele. "É horrível. Sem privacidade, sem segredos. Todas as coisas das quais você se envergonha, expostas pra todo mundo ver". Ele estremeceu.
"Parece horrível", eu sussurrei.
"Isso é útil quando nós precisamos nos coordenar", ele disse carrancudo. "Uma vez a cada lua azul, quando um sugador de sangue ultrapassa o nosso território. Laurent foi divertido. E se os Cullen não tivessem ficado no nosso caminho no Sábado passado... ugh!" ele rugiu. "Nós podíamos ter agarrado ela!" Os punhos dele viraram duas bolas raivosas.
Eu enrijecí. Mesmo me preocupando que Jasper ou Emmett se machucassem, isso não era nada comparado com o pânico que eu sentí com a idéia de Jacob tentando enfrentar Victoria. Emmett e Jasper eram as duas coisas mais próximas do indestrutível que eu podia imaginar. Jacob ainda era quente, ainda era comparativamente humano. Mortal. Eu pensei em Jacob enfrentando Victoria, seu cabelo brilhante esvoaçando ao redor do seu rosto estranhamente felino... e estremecí.
Jacob olhou pra mim com uma expressão curiosa. "Mas não é assim pra você o tempo todo? Tendo ele em sua cabeça?"
"Oh, não. Edward nunca está em minha cabeça. Ele só deseja isso".
A expressão de Jacob ficou confusa.
"Ele não pode me ouvir", eu expliquei, a minha voz estava um pouco presumida por causa do hábito. "Eu sou a única que é assim pra ele. Nós não sabemos porque ele não pode".
"Estranho", Jacob disse.
"É", a presunção desapareceu. "Isso provavelmente significa que tem alguma coisa errada com o meu cérebro", eu admití.
"Eu já sabia que tinha alguma coisa errada com o seu cérebro", Jacob murmurou.
"Obrigada".
O sol saiu do meio das nuvens de repente, uma surpresa que eu não estava esperando, e eu tive que apertar os meus olhos pra olhar para a água. Tudo tinha mudado de cor - as ondas mudaram de cinza para azul, as árvores de uma cor de oliva chata para um brilhante jade, e as pedrinhas com cor de arco-íris brilhavam como se fossem pedras preciosas.
Nós piscamos por um segundo, deixando os nossos olhos se ajustarem. Não havia nenhum som além do murmúrio das ondas que ecoavam de todos os lados do porto abrigado, o som suave das pedras batendo umas contra as outras a cada movimento que a água fazia, e o choro das gaivotas lá no alto. Era muito tranquilo.
Jacob se aproximou de mim, até que ele estava se inclinando no meu braço. Ele era tão quente. Depois de um minuto disso, eu tirei o meu casaco de chuva. Ele fez um sonzinho de contentamento no fundo da garganta, e descansou o seu queixo em cima da minha cabeça. Eu podia sentir o sol esquentando a minha pele - apesar dele não ser tão quente quanto Jacob. E eu me perguntei à toa quanto tempo eu levaria até me queimar.
Com a mente ausente, eu virei minha mão direita para o lado, e observei a minha pele brilhar subtamente na cicatriz que James havia me deixado lá.
"No que você está pensando?" ele murmurou.
"O sol".
"Hmm. É legal".
"No que você está pensando?"
Ele gargalhou para sí mesmo. "Eu estava lembrando daquele filme idiota que você me levou. E de Mike Newton vomitando em tudo".
Eu rí também, surpresa de ver como o tempo havia mudado aquela memória. Ela costumava ser uma memória de estresse, de confusão.
Tanta coisa mudou naquela noite... E agora eu podia rir. Essa foi a última noite que eu e Jacob haviamos tido antes que ele soubesse a verdade sobre a sua herança. A última memória humana. Uma memória estranhamente agradável agora.
"Eu sentí falta disso", Jacob disse. "Do jeito que isso costumava ser tão fácil... descomplicado. Eu estou feliz por ter uma boa memória". Ele suspirou.
Ele sentiu a tensão repentina no meu corpo quando as memórias dele desencadearam as minha próprias memórias.
"O que foi?" ele perguntou?
"Sobre essa sua boa memória..." eu me separei dele pra que assim eu pudesse ver o seu rosto. No momento, ele estava confuso. "Você se importa de dizer o que você estava fazendo na Segunda de manhã? Você estava pensando em alguma coisa que incomodou Edward". Incomodaram não era exatamente a palavra pra isso, mas eu queria uma resposta, então eu achei que era melhor não começar muito severamente.
O rosto de Jacob brilhou com a compreensão, e ele riu. "Eu só estava pensando em você. Ele não gostou muito, não é?"
"Em mim? O que sobre mim?"
Jacob sorriu de novo, dessa vez com um tom mais duro. "Eu estava me lembrando do jeito como você estava na noite em que Sam te achou - eu ví isso na cabeça dele, e é como se eu estivesse lá; aquela memória sempre perseguiu Sam, sabe. E depois eu me lembrei de como você estava na primeira vez que foi na minha casa. Eu aposto que você não imagina a confusão que você estava na época, Bella. Levaram semanas até que você começasse a parecer humana de novo. E eu me lembrei de como você sempre costumava passar os braços ao redor de sí mesma, tentando se manter inteira..." Jacob gemeu, e depois balançou a cabeça. "É difícil pra mim lembrar do quanto você estava triste, e não era minha culpa. Então eu me dei conta de que seria mais difícil pra ele. E eu pensei que ele devia dar uma olhada no que ele tinha feito".
Eu batí no ombro dele. Isso machucou a minha mão. "Jacob Black, nunca mais faça isso de novo! Me prometa que você não vai".
"De jeito nenhum. Eu não me divertia daquele jeito ha meses".
"Então me ajude, Jake -"
"Oh, deixa dessa, Bella. Quando é que eu vou conseguir vê-lo de novo? Não se preocupe com isso".
Eu fiquei de pé, e ele segurou a minha mão enquanto começamos a caminhar. Eu tentei me soltar.
"Eu vou embora, Jacob".
"Não, não vá ainda", ele protestou, a mão dele apertando a minha. "Me desculpe. E... está bem, eu não vou fazer aquilo de novo. Prometo".
Eu suspirei. "Obrigada, Jake".
"Vamos lá, vamos voltar para a minha casa", ele disse ansiosamente.
"Na verdade, eu acho que eu realmente preciso ir. Angela Weber está me esperando, e eu sei que Alice está preocupada. Eu não quero deixá-la muito chateada."
"Mas você acabou de chegar aqui!"
"É que parece", eu concordei. Eu olhei para o sol, de alguma forma ele já estava diretamente à frente. Como o tempo tinha passado tão rapidamente?
As sobrancelhas dele se juntaram em cima dos seus olhos. "Eu não sei quando vou ver você de novo", ele disse com uma voz machucada.
"Eu volto da próxima vez que ele estiver longe", eu prometí impulsivamente.
"Longe?" Jacob rolou os olhos. "Essa é uma forma legal de descrever o que ele está fazendo. Parasitas nojentos".
"Se você não consegue ser gentil, eu não vou voltar!" eu ameacei, tentando soltar a minha mão. Ele se recusou a soltar.
"Aw, não fique com raiva", ele disse, rindo. "Reação instantânea".
"Se eu vou tentar vir outra vez, você vai ter que entender bom uma coisa, certo?"
Ele esperou.
"Entenda", eu expliquei. "Eu não me importo com quem é o vampiro e quem é o lobisomem. Isso é irrelevante. Você é Jacob, e ele é Edward, e eu sou Bella. Nada mais importa".
Os olhos dele estreitaram um pouco. "Mas eu sou um lobisomem", ele disse sem vontade. "E ele é um vampiro", ele disse com óbvia repulsa.
"E eu sou do signo de Virgem!" eu gritei, exasperada.
Ele ergueu as sobrancelhas, medindo a minha expressão com olhos curiosos. Finalmente, ele ergueu os ombros.
"Se você realmente consegue ver dessa forma..."
"Eu consigo. Eu vejo."
"Está bem. Simplesmente Bella e Jacob. Nada desses Virginianos esquisitos por aqui". Ele sorriu pra mim, o sorriso cálido, familiar do qual eu sentia tanta falta. Eu sentí o sorriso de resposta se abrindo no meu rosto.
"Eu realmente sentí sua falta, Jake" Eu admití impulsivamente.
"Eu também" o sorriso dele abriu mais. Os olhos dele estavam felizes e claros, livres pelo menos uma vez da raiva ácida. "Mais do que você sabe. Você vai voltar logo?"
"Assim que eu puder", eu prometi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário