terça-feira, 5 de julho de 2011

Eclipse - Capítulos 21 ao 25

21. Rastros

Eu odiava perder alguma parte da noite domindo, mas isso era inevitável. O sol estava brilhante fora da parede-janela quando eu acordei, com pequenas nuvens fugindo rapidamente no céu. O vento balançava o topo das árvores até que parecia que a floresta inteira ia se partir.
Ele me deixou sozinha pra se vestir, e eu aproveitei essa chance pra pensar. De alguma forma, o meu plano da noite passada havia saído horrivelmente distorcido, e eu precisava ter algumas idéias das consequências. Apesar de eu ter dado o anel herdado de voltar assim que eu pude fazer isso sem machucar os sentimentos dele, a minha mão esquerda parecia mais pesada, como se ele ainda estivesse no lugar, só que invisível.
Isso não devia me incomodar, eu raciocinei. Não era uma coisa tão grande - uma viagem de carro à Las Vegas. Eu usaria uma coisa melhor que jeans velhos - eu usaria moletons velhos. A cerimônia certamente não demoraria muito tempo; não mais que quinze minutos no máximo, certo? Então eu podia lidar com isso.
E aí, quando estivesse acabado, ele teria que cumprir com a sua parte na barganha. Eu ia me concentrar nisso, e esquecer o resto.
Ele disse que eu não precisava contar pra ninguém, e eu estava tentando forçá-lo ao mesmo. É claro, foi muito estúpido da minha parte não pensar em Alice.
Os Cullen chegaram em casa por volta do meio dia. Havia uma nova atmosfera, toda profissional, cercando eles, e isso me puxou de volta para a enormidade do que estava prestes a acontecer.
Alice parecia estar incomumente mal humorada. Eu engolí a frustração dela até que pareceu normal, porque as primeiras palavras dela pra Edward eram uma reclamação sobre trabalhar junto com os lobos.
"Eu acho" - ela fez uma cara enquanto usava a palavra incerta - "que você vai querer os lobos por perto para o clima frio, Edward. Eu não posso ver exatamente onde você está, porque você vai sair com aquele cachorro hoje à tarde. Mas a tempestade que está vindo parece particularmente ruim naquela àrea em geral".
Edward balançou a cabeça.
"Vai nevar nas montanhas", ela avisou ele.
"Eca, neve", eu murmurei pra mim mesma. Era Junho, pra dizer o mínimo.
"Use um casaco", Alice disse. A voz dela não estava amigável, e isso me surpreendeu. Eu tentei ler o rosto dela, mas ela desviou.
Eu olhei pra Edward, ele estava sorrindo; o que quer que estivesse incomodando Alice estava divertindo ele.
Edward tinha utensílios de camping mais do que sufícientes - benefícios na farsa de serem humanos; os Cullen eram bons clientes da loja dos Newton. Ele pegou um saco de dormir, uma pequena barraca, e vários pacotes de comida desidratada - dando um sorriso malicioso quando eu fiz uma careta pra eles - e enfiou todos eles em uma mochila.
Alice ficou vagando pela garagem enquanto nós estávamos lá, observando as preparações de Edward sem dizer uma palavra. Ele ignorou ela.
Quando ele acabou de empacotar as coisas, Edward me deu seu telefone. "Ligue pra Jacob e diga a ele que estaremos prontos em mais ou menos uma hora. Ele sabe onde nos encontrar".
Jacob não estava em casa, mas Billy prometeu que ia sair procurando até encontrar um lobisomem disponível pra passar as notícias.
"Não se preocupe com Charlie, Bella", Billy disse. "Eu estou com a minha parte disso sob controle".
"É, eu sei que Charlie estará bem" Eu não me sentia tão confiante sobre a segurança do filho dele, mas eu não queria acrescentar isso.
"Eu queria poder estar com o resto deles amanhã", Billy gargalhou ressentidamente. "Ser um velho é dureza, Bella"
A necessidade de brigar definitivamente devia ser uma característica entre o cromossomo Y. Eles eram todos os mesmos.
"Se divirta com Charlie".
"Boa sorte, Bella", ele disse. "E... passe isso para os, er, Cullen por mim"
"Eu passo", eu prometí, surpresa pelo gesto.
Enquanto eu passava o telefone de volta pra Edward, eu ví que ele e Alice estavam tendo algum tipo de discussão silenciosa. Ela estava encarando ele, implorando com os olhos. Ele estava fazendo uma careta de volta, infeliz com o que quer que ela quisesse.
"Billy desejou 'boa sorte'".
"Isso foi generoso da parte dele", Edward disse, desviando dela.
"Bella, será que eu poderia por favor falar com você sozinha?", Alice pediu rapidamente.
"Você está prestes a fazer a minha vida ser mais dura do que o necessário, Alice" Edward avisou ela por entre os dentes. "Eu realmente preferiria se você não fizesse isso".
"Isso não é sobre você, Edward", ela disparou de volta.
Ele riu. Alguma coisa na resposta dela era engraçada pra ele.
"Não é", Alice insistiu. "É uma coisa feminina".
Ele fez uma careta.
"Deixe ela falar comigo", eu disse a ele. Eu estava curiosa.
"Foi você quem pediu", ele murmurou. Ele riu de novo - meio com raiva, meio divertido - e saiu marchando da garagem.
Eu me virei pra Alice, preocupada agora, mas ela não olhou pra mim. O mal humor dela ainda não havia passado.
Ela foi se sentar no capô do Porsche dela, com o rosto abatido. Eu a segui, e me encostei no carro ao lado dela.
"Bella?", Alice chamou numa voz triste, mudando de posição e se curvando no meu lado. A voz dela parecia tão miserável que eu passei o meu braço ao redor dos ombros dela pra confortá-la.
"O que hà de errado, Alice?"
"Você não me ama?", ela perguntou com o mesmo tom triste.
"É claro que amo. Você sabe disso".
"Então porque você está escapulindo pra Las Vegas pra se casar sem me convidar?"
"Oh", eu murmurei, minhas bochechas ficando cor-de-rosa. Eu podia notar que havia magoado seriamente os sentimentos dela, e eu corri pra me defender. "Você sabe que eu odeio fazer um grande evento com as coisas. De qualquer jeito, foi idéia de Edward".
"Não me importa de quem é a idéia. Como você pôde fazer isso comigo? Eu esperava esse tipo de coisa de Edward, mas não de você. Eu te amo como se você fosse minha própria irmã".
"Pra mim, Alice, você é uma irmã".
"Palavras!" ela rosnou.
"Tá bom, você pode vir. Não haverá muito pra ver".
Ela ainda estava fazendo careta.
"O que?", eu quis saber.
"O quanto você me ama, Bella?"
"Porque?"
Ela me olhou com seus olhos implorativos, as longas sobrancelas dela estavam se aproximando do meio e se juntando, os lábios dela estavam tremendo nos cantos. Era uma expressão de partir o coração.
"Por favor, por favor, por favor", ela sussurrou. "Por favor, Bella - se você realmente me ama... Por favor me deixe fazer o seu casamento".
"Aw, Alice!", eu gemí, me afastando e ficando de pé. "Não! Não faça isso comigo!"
"Se você realmente, verdadeiramente me ama, Bella".
Eu cruzei os braços no peito. "Isso é tão injusto. E Edward meio que já usou isso pra cima de mim".
"Eu aposto que Edward preferiria fazer isso tradicionalmente, apesar de que ele nunca te diria isso. E Esme - pense no que isso significaria pra ela!"
Eu gemí. "Eu preferiria enfrentar os recém-nascidos sozinha".
"Eu vou te dever por uma década".
"Você me deveria por um século!"
Os olhos dela brilharam. "Isso é um sim?"
"Não! Eu não quero fazer isso!"
"Você não tem que fazer nada além de andar alguns metros e repetir as palavras do juíz de paz".
"Ugh! Ugh, ugh!"
"Por favor?", ela começou a saltitar no mesmo lugar. "Por favor, por favor, por favor, por favor, por favor?"
"Eu nunca, nunca vou te perdoar por isso, Alice".
"Yay!", ela esguichou, batendo as mãos.
"Isso não é um sim!"
"Mas será", ela cantou.
"Edward!", eu gritei, saindo da garagem. "Eu sei que você está escutando. Venha aqui." Alice estava bem atrás de mim, ainda batendo palmas.
"Muito obrigado, Alice", Edward disse acidamente, vindo por trás de mim. Eu me virei pra despejar nele, mas a expressão dele estava tão preocupada e aborrecida que eu não conseguí fazer minhas reclamações. Ao invés disso, eu atirei os meus braços ao redor dele, escondendo o meu rosto, só no caso de a umidade raivosa dos meus olhos fizesse parecer que eu estava chorando.
"Vegas", Edward prometeu no meu ouvido.
"Sem chance", Alice rosnou. "Bella jamais faria isso comigo. Sabe, Edward, como irmão, as vezes você é uma decepção".
"Não seja má", eu murmurei pra ela. "Ele está tentando me fazer feliz, diferente de você".
"Eu também estou tentando te fazer feliz, Bella. Só que eu sei melhor o que te deixará feliz... a longo prazo. Você vai me agradecer por isso. Talvez não daqui a quinze anos, mas algum dia".
"Eu nunca pensei que veria o dia em que eu estaria disposta a apostar contra você, Alice, mas esse dia chegou".
Ele riu o seu sorriso prateado. "Então, você vai me mostrar o anel?"
Eu fiz uma careta de horror quando ela agarrou a minha mão e a soltou igualmente rápido.
"Huh. Eu ví ele colocando-o em você... Eu perdí alguma coisa?", ela perguntou. Ela se concentrou por meio segundo, apertando as sobrancelhas, antes de responder às suas próprias perguntas. "Não. O casamento ainda está de pé".
"Bella tem um problema com jóias", Edward explicou.
"O que é mais um diamante? Eu acho que o anel tem muitos diamantes, mas o meu ponto é que ele já colocou um -"
"Basta, Alice!" Edward cortou ela de repente. O jeito que ele encarava ela... ele parecia com um vampiro de novo. "Nós estamos com pressa".
"Eu não entendo. O que têm os diamantes?", eu perguntei.
"Nós vamos falar sobre isso depois", Alice disse. "Edward está certo - é melhor vocês irem. Vocês têm que armar uma armadilha e fazer acampamento antes que a tempestade chegue". Ela fez uma careta, e a expressão dela estava ansiosa, quase nervosa. "Não esqueça o seu casaco, Bella. Parece que... estará frio demais para a estação".
"Eu já cuidei disso", Edward assegurou ela.
"Tenham uma boa noite", ela nos disse como adeus.
A distância até a clareira foi duas vezes maior que o normal; Edward fez um longo desvio, pra ter certeza de que o meu cheiro não chegasse nem perto da trilha onde Jacob se esconderia essa noite. Ele me carregou nos braços, a mochila lotada estava no meu lugar de costume.
Ele parou na ponta mais distante da clareira, me colocando de pé.
"Tudo bem. Só ande pelo norte, tocando o que você puder. Alice me deu uma imagem clara do caminho deles, e não vamos demorar a interceptá-los".
"Norte?"
Ele sorriu e apontou a direção certa.
Eu vaguei pela floresta, deixando a luz amarela do dia estranhamente ensolarado na clareira pra trás de mim. Talvez a visão nebolosa de Alice com a neve estivesse errada. Eu esperei que sim. O céu em grande parte estava limpo, apesar de que o vento soprava furiosamente nos espaços abertos. Nas árvores estava mais calmo, mas estava frio demais para Junho - mesmo usando uma camisa de mangas longas com um suéter mais grosso por cima, os meus braços estavam arrepiados. Eu caminhei lentamente, passando os meus dedos em tudo que estivesse perto o suficiente: a casca grossa da árvore, as samambaias molhadas, as pedras cobertas de musgos.
Edward ficou comigo, caminhando em uma linha paralela a cerca de vinte metros de distância.
"Eu estou fazendo isso direito?", eu chamei.
"Perfeitamente".
Eu tive uma idéia. "Isso vai ajudar?" eu perguntei enquanto passava as mãos pelos meus cabelos e pegava alguns fios soltos. Eu os soltei em cima das samambaias.
"Sim, isso deixa o rastro mais forte. Mas você não tem que arrancar seus cabelos, Bella. Vai ficar tudo bem".
"Eu tenho algns fios extras dos quais posso me dispor".
Estava nebuloso embaixo das árvores, e eu desejei poder andar mais perto de Edward e segurar a sua mão.
Eu coloquei outro cabelo meu em um tronco quebrado que fechava o meu caminho.
"Você não precisa fazer as coisas do jeito de Alice, sabe", Edward disse.
"Não se preocupe com isso, Edward. Aconteça o que acontecer, eu não vou te deixar no altar", eu tinha um forte pressentimento de que Alice ia conseguir o que queria, em grande parte porque ela era totalmente inescrupulosa quando se tratava de conseguir o que ela queria, e também porque eu era uma perdedora quando se tratava de sentir culpa.
"Não é com isso que eu estou preocupado. Eu quero que isso seja do jeito como você quer que seja".
Eu reprimí um suspiro. Saber a verdade ia magoar os sentimentos dele - que isso realmente não importava, que eram só graus de variações de algo horrível do mesmo jeito.
"Mesmo se ela fizer as coisas do jeito dela, nós podemos fazer uma coisa pequena. Só nós. Emmett pode arrumar uma licença de clérigo na internet".
Eu gargalhei. "Isso soa melhor". Não soaria muito oficial se Emmett lesse os votos, o que era uma ponto a favor. Mas eu ia ter dificuldades em ficar séria.
"Veja", ele disse sorrindo. "Sempre hà um compromisso".
Me levou algum tempo pra chegar até o local onde os recém-nascidos certamente cruzariam com o meu rastro, mas Edward nunca ficou impaciente com a minha velocidade.
Ele teve que guiar um pouco mais no caminho de volta, pra me manter no mesmo caminho. Tudo isso era a minha cara.
Nós estávamos quase na clareira quando eu caí. Eu podia ver a grande abertura logo em frente, e provavelmente foi por isso que eu fiquei ansiosa demais pra cuidar dos meus pés. Eu me segurei antes que a minha cabeça batesse na árvore mais próxima, mas um pequeno graveto escapuliu embaixo da minha mão esquerda e cortou a minha palma.
"Ouch! Oh, fabuloso", eu murmurei.
"Você está bem?"
"Eu estou bem. Fique onde está. Eu estou sangrando. Eu vou parar em um minuto".
Ele me ignorou. Ele já estava lá antes que eu pudesse terminar.
"Eu estou com um kit de primeiros socorros", ele disse, puxando a mochila. "Eu estava com o pressentimento de que precisaria dele".
"Não é tão ruim. Eu posso cuidar disso - você não precisa ficar desconfortável".
"Eu não estou desconfortável," ele disse calmamente. "Aqui - me deixe limpar isso".
"Espere um segundo, eu acabei de ter outra idéia".
Sem olhar para o sangue e respirando pela minha boca, só pra o caso do meu estômago começar a reagir, eu pressionei a minha mão em uma rocha que estava ao meu alcance.
"O que você está fazendo?"
"Jasper vai amar isso", eu murmurei pra mim mesma.
Eu comecei a ir para a clareira de novo, pressionando a minha palma em tudo no meu caminho. "Eu aposto que isso vai enlouquecê-los".
Edward suspirou.
"Segure o fôlego", eu disse a ele.
"Eu estou bem. Eu só acho que você está indo longe demais."
"Isso é tudo o que eu posso fazer. Eu quero fazer um trabalho".
Nós passamos pelas últimas árvores enquanto eu falava. Eu deixei minha mão ferida passar pelas samambaias.
"Bem, você fez", Edward me assegurou. "Os recém-nascidos ficarão frenéticos, e Jasper ficará bastante impressionado com a sua dedicação. Agora me deixe tratar a sua mão - você sujou o corte".
"Me deixe fazer isso, por favor".
Ele pegou a minha mão e sorriu enquanto a examinava. "Isso não me incomoda mais".
Eu o observei cuidadosamente enquanto ele limpava a ferida, procurando por algum sinal de angústia. Ele continuou a respirar uniformemente pra dentro e pra fora, o mesmo sorriso pequeno em seus lábios.
"Porque não?", eu perguntei finalmente enquanto ele amaciava o curativo na minha palma.
Ele levantou os ombros. "Eu superei isso".
"Você... superou isso? Quando? Como?" Eu tentei me lembrar da última vez que ele havia prendido a respiração perto de mim. Tudo em que eu pude pensar foi na minha festa de aniversário catastrófica do Setembro passado.
Edward torceu os lábios, parecendo tentar encontrar as palavras. "Eu viví por vinte e quatro horas inteiras pensando que você estivesse morta, Bella. Isso mudou a minha forma de ver as coisas".
"Isso mudou o jeito como eu cheiro pra você?"
"Nem um pouco. Mas... tendo experimentado a sensação de pensar que eu tinha perdido você... as minhas reações mudaram. Todo o meu ser se protege de qualquer curso que possa inspirar aquele tipo de dor novamente".
Eu não sabia o que dizer a isso.
Ele sorriu da minha expressão. "Eu acho que você poderia chamar isso de uma experiência muito educacional".
O vento invadiu a clareira de novo, lançando o meu cabelo no meu rosto e me fazendo estremecer.
"Tudo bem", ele disse, pegando a mochila dele de novo. "Você fez a sua parte". Ele puxou o meu casaco de inverno pesado e o segurou pra que eu deslizasse meus braços nele. "Agora não está mais nas suas mãos. Vamos acampar!"
Eu rí com o entusiasmo de brincadeira na voz dele.
Ele pegou a minha mão com o curativo - a outra estava pior, ainda na tipóia - e começou a ir para o outro lado da clareira.
"Onde nós vamos encontrar Jacob?", eu perguntei.
"Bem aqui", ele fez um gesto para as árvores na nossa frente exatamente quando Jacob saiu cautelosamente das sombras.
Eu não devia ter ficado surpresa por vê-lo humano. Eu não tinha certeza de porque eu estava procurando o lobo grande marrom-avermelhado.
Jacob pareceu maior de novo - sem dúvida isso era produto das minhas expectativas; eu devia estar esperando inconscientemente pelo Jacob menor das minhas memórias, o amigo fácil que não havia tornado as coisas tão difíceis. Ele estava com os braços cruzados no peito nú, um casaco preso no pulso. Ele estava sem expressão enquanto nos observava.
Os lábios de Edward caíram nos cantos. "Tinha que haver um jeito melhor de fazer isso".
"Agora é tarde demais", eu murmurei mal humorada.
Ele suspirou.
"Oi, Jake", eu o cumprimentei quando nós nos aproximamos.
"Oi, Bella".
"Olá, Jacob", Edward disse.
Jacob ignorou a delicadeza, todo profissionalismo. "Onde eu levo ela?"
Edward puxou um mapa de dentro de um bolso lateral da mochila e o ofereceu a ele. Jacob o desdobrou.
"Nós estamos aqui agora", Edward se aproximou pra tocar o ponto certo. Jacob se afstou da mão dele automaticamente, e aí se endireitou. Edward fingiu não reparar.
"E você vai levá-la até aqui" Edward continuou, traçando uma serpentina nas linhas elevadas do papel. "Dificilmente chega a ser nove milhas".
Jacob balançou a cabeça uma vez.
"Quando você estiver a cerca de uma milha de distância, você vai cruzar com o meu rastro. Isso vai te guiar até lá. Você precisa do mapa?"
"Não, obrigado. Eu conheço muito bem essa área. Eu já que sei pra onde eu estou indo".
Jacob parecia lutar mais do que Edward pra manter o tom educado.
"Eu vou pegar uma rota mais longa", Edward disse. "E eu vou encontrar vocês em algumas horas".
Edward olhou pra mim infeliz. Ele não gostava dessa parte do plano dele.
"A gente se vê", eu murmurei.
Edward desapareceu entre as árvores, indo para a direção oposta.
Assim que ele foi embora, Jacob se tornou alegre.
"E aí, Bella?", ele me perguntou com um grande sorriso.
Eu revirei os meus olhos. "Tudo velho, tudo velho".
"É", ele concordou. "Um monte de vampiros tentando matar você. O de sempre".
"O de sempre".
"Bem", ele disse, vestindo o seucasaco pra liberar os seus braços. "Vamos indo".
Fazendo uma cara, eu dei um passo pra me aproximar dele.
Ele se abaixou e passou o braço por trás dos meus joelhos, tirando eles de baixo de mim. O outro braço dele me agarrou antes que a minha cabeça batesse no chão.
"Estúpido", eu murmurei.
Jacob gargalhou, já correndo pelas árvores. Ele manteve um passo fixo, uma corrida viva cujo ritmo um humano normal poderia acompanhar... em um terreno plano... se eles não estivessem carregando uma trouxa de cinquenta e três quilos, como ele estava.
"Você nã precisa correr. Você vai ficar cansado".
"Correr não me deixa cansado", ele disse. A respiração dele estava uniforme - como se ele tivesse ajustado o ritmo de um maratonista. "Além do mais, vai esfriar em breve. Eu espero que ele consiga arrumar o acampamento antes de chagarmos lá".
Eu batí os dedos acolchoado grosso do casaco de pele dele. "Eu pensei que você não ficasse com frio".
"Eu não fico. Eu só trouxe isso pra você, só pro caso de você não estar preparada" Ele olhou para o meu casaco, quase como se estivesse decepcionado por eu estar preparada. "Eu não gosto do inverno. Ele me deixa nervoso. Você reparou em como nós não vimos nenhum animal?"
"Um, na verdade não".
"Eu podia imaginar que você não tinha. Os seus sentidos são entorpecidos demais".
Eu deixei essa passar. "Alice também estava preocupada com a tempestade".
"É preciso muita coisa pra silênciar a floresta desse jeito. Você escolheu uma noite dos infernos pra acampar"
"A idéia não foi inteiramente minha".
O caminho sem trilhas que ele tomou começou a declinar mais e mais abruptamente, mas isso não o fez diminuir a velocidade. Ele saltava facilmente de pedra pra pedra, sem parecer precisar absolutamente das suas mãos. O equilíbrio perfeito dele me fez lembrar de uma cabra da montanha.
"Qual é a dessa adição na sua pulseira?", ele perguntou.
Eu olhei pra baixo, e me dei conta de que o coração de cristal estava na face de cima do meu pulso.
Eu erguí os ombros sentindo culpa. "Outro presente formatura".
Ele bufou. "Uma rocha. Não é de estranhar".
Uma pedra? De repente eu me lembrei da frase inacabada de Alice na garagem. Eu olhei para o cristal branco brilhante e tentei me lembrar do que Alice estivera dizendo antes... sobre diamantes.
Será que ela estava tentando dizer ele já te deu um? Como em, eu já estava usando um diamante de Edward? Não, isso era impossível. Ocoração teria uns cinco quilates ou alguma coisa louca como essas! Edward não iria -
"Então já faz um tempo que você não vem até La Push", Jacob disse, interrompendo as minhas conjecturas perturbadoras.
"Eu estive ocupada", eu disse a ele. "E... provavelmente eu não teria ido visitar, do mesmo jeito"
Ele fez uma careta. "Eu achei que era pra você ser aquela que perdoava, e que eu era aquele que quardava rancores"
Eu dei de ombros.
"Você esteve pensando bastante naquela última vez, não é?"
"Não".
Ele riu. "Ou você está mentindo, ou você é a pessoa mais teimosa viva".
"Eu não sei sobre a segunda parte, mas eu não estou mentindo".
Eu não gostava de ter essa conversa sob as presentes condições -com os braços dele presos com força ao meu redor sem que houvesse nada que eu pudesse fazer sobre isso. O rosto dele estava mais próximo do que eu queria que estivesse. Eu queria poder dar um passo pra trás.
"Uma pessoa inteligente olha para todos os lados de uma decisão".
"Eu olhei", eu retorquí.
"Se você não pensou na nossa... er, conversa que nós tivemos da última vez que você apareceu, então isso não é verdade".
"Aquela conversa não é relevante para a minha decisão".
"Algumas pessoas fazer qualquer coisa para iludirem a sí mesmas".
"Eu reparei que os lobisomens em particular têm uma propenção a cometer esse erro - você acha que é uma coisa genética?"
"Isso significa que ele beija melhor que eu?", Jacob perguntou, mal humorado de repente.
"Eu realmente não sei dizer, Jake. Edward é a única pessoa que eu já beijei".
"Além de mim".
"Mas eu não conto aquilo como um beijo, Jacob. Eu penso naquilo mais como um assédio".
"Ouch! Isso foi frio"
Eu erguí os ombros. Eu não ia retirar aquilo.
"Eu me desculpei por aquilo", ele me lembrou.
"E eu te perdoei... em grande parte. Isso não muda a forma como eu me lembro daquilo".
Ele murmurou alguma coisa impossível de entender.
Depois, tudo ficou quieto por um tempo; só havia o som da respiração comedida dele e do vento soprando acima de nós no topo das árvores. Uma face de penhasco apareceu completamente na nossa frente, uma pedra cinza, nua, áspera. Nós seguimos a base enquanto ela se curvava pra cima na floresta.
"Eu acho que isso é bem irresponsável", Jacob disse se repente.
"O que quer que você esteja pensando, você está errado".
"Pense nisso, Bella. De acordo com você, você só beijou uma pessoa - que nem sequer é uma pessoa de verdade - na sua vida inteira, e você está chamando isso de quite? Como é que você sabe que isso é o que você quer? Será que voc~e não devia explorar as possibilidades um pouco?"
Eu mantive a minha voz calma. "Eu sei exatamente o que eu quero".
"Então não vai machucar checar mais uma vez. Talvez você devesse tentar beijar outra pessoa - só pra fazer uma comparação... já que o que aconteceu no outro dia não conta. Você podia me beijar, por exemplo. Eu não vou me incomodar se você me usar como cobáia".
Ele me segurou mais apertado em seu peito, até que o meu rosto estava perto do dele. Ele estava sorrindo da sua piada, mas eu não ia contar com a sorte.
"Não mexa comigo, Jake. Eu juro que não vou impedí-lo se ele quiser quebrar a sua mandíbula".
O tom de pânico na minha voz fez o sorriso dele crescer. "Se você me pedir um beijo, ele não terá nenhuma razão pra ficar aborrecido. Ele disse que isso estava bem".
"Não segure o fôlego, Jake - não, espere, eu mudei de idéia. Vá em frente. Segure a respiração até que eu te peça pra me beijar".
"Você está de mal humor hoje"
"Eu me pergunto, porque?"
"As vezes eu penso que você gosta mais de mim como lobo".
"As vezes eu gosto. Isso provavelmente tem a ver com o fato de que você não pode falar".
Ele torceu seus lábios largos pensativamente. "Não. Eu não acho que seja isso. Eu acho que é mais fácil pra você ficar perto de mim quando eu não sou humano, porque você não precisa fingir que não está atraída por mim".
Aminha boca se abriu com um pequeno som de algo espoucando. Eu a fechei imediatamente, apertando os meus dentes.
Ele ouviu isso. Os lábios dele se abriram largamente em seu rosto em um sorriso triunfante.
Eu respirei fundo lentamente antes de falar. "Não. Eu estou certa de que é porque você não fala".
Ele suspirou. "Você nunca se cansa de mentir pra sí mesma? Você tem que saber o quão consciente de mim você é. Fisicamente, eu quero dizer".
"Como alguém pode não ser cônscio de você fisicamente, Jacob?" eu quis saber. "Você é um monstro enorme que se recusa a respeitar o espaço pessoal dos outros".
"Eu te deixo nervosa. Mas só quando eu sou humano. Quando eu sou lobo, você fica mais confortável ao meu lado".
"Nervosismo e irritação não são a mesma coisa".
Ele olhou pra mim por um minuto, diminuindo até estar caminhando, a diversão estava desaparecendo do rosto dele. Os olhos dele se estreitaram, ficaram pretos na sombra das sobrancelhas dele. A respiração dele, tão regular enquanto ele corria, começou a acelerar.
Lentamente, ele inlinou o seu rosto mais pra perto do meu.
Eu encarei ele, sabendo exatamente o que ele estava tentando fazer.
"O rosto é seu", eu lembrei ele.
Ele riu alto e começou a fazer piada de novo. "Eu realmente não quero brigar com o seu vampiro essa noite - quer dizer, qualquer outra noite, com certeza. Mas nós dois temos um trabalho a fazer amanhã, e eu não gostaria de deixar os Cullen com um a menos".
De repente, uma inesperada onda de vergonha distorceu a minha expressão.
"Eu sei, eu sei", ele respondeu, sem entender. "Você acha que ele pode me enfrentar".
Eu não podia falar. Eu estava deixando-os com um a menos. E se alguém se machucasse por eu ser tão fraca? Mas e se eu fosse corajosa e Edward... eu não podia nem pensar nisso.
"Qual é o problema com você, Bella?" a máscara de comédia desapareceu do rosto dele, revelando o meu Jacob na superfície, como se estivesse retirando a máscara. "Se alguma coisa que eu disse te aborreceu, você sabe que eu só estava brincando. Eu não estava falando sério - ei, você está bem? Não chore, Bella", ele implorou.
Eu tentei me recompor. "Eu não vou chorar".
"O que eu disse?"
"Não é nadda que você disse. É, bem, sou eu. Eu fiz uma coisa... má".
Ele me encarou, os olhos dele arregalados de confusão.
"Edward não vai lutar amanhã" eu sussurrei a explicação. "Eu estou fazendo ele ficar comigo. Eu sou uma enorme covarde".
Ele fez uma careta. "Você acha que isso não vai dar certo? Que eles vão te encontrar aqui? Você sabe de alguma coisa que eu não sei?"
"Não, não. Eu não estou com medo disso. Eu só... não posso deixá-lo ir. Se ele não voltasse..." eu estremecí, fechando os meus olhos pra escapar do pensamento.
Jacob estava quieto.
Eu continuei sussurrando, meus olhos fechados. "Se alguém se machucar, isso será minha culpa. E mesmo se ninguém se machucar... eu fui horrível. Eu tive que ser, pra convencê-lo a ficar comigo. Ele jamais usaria isso contra mim, mas eu sempre saberei o que eu fui capaz de fazer".
Eu me sentí um pouco melhor, tirando isso do meu peito. Mesmo se eu só pudesse confessar isso a Jacob.
Ele bufou, meus olhos se abriram lentamente, e eu fiquei triste de ver que a máscara dura estava de volta nele.
"Eu não consigo acreditar que ele deixou você convencê-lo a ficar de fora. Eu não perderia isso por nada".
Eu suspirei. "Eu sei".
"Isso não significa nada, porém" Ele estava devolvendo de repente. "Isso não significa que ele te ama mais do que eu".
"Mas você não teria ficado comigo, nem se eu implorasse".
Ele torceu os lábios por um momento, e eu me perguntei se ele tentaria negar isso. Nós dois sabíamos a verdade. "Isso é só porque você sabe melhor", ele disse finalmente. "Tudo vai dar certo sem dúvida. Mesmo se você me pedisse e eu disesse não, você não ficaria brava comigo depois"
"Se tudo der certo, você provavelmente está certo. Eu não ficaria com raiva. Mas durante todo o tempo que você estivesse longe, eu estaria doente de preocupação, Jake. Eu enlouqueceria".
"Porque?", ele perguntou mal humorado. "Porque você se importa se alguma coisa acontecer comigo?"
"Não diga isso. Você sabe o quanto significa pra mim. Eu lamento que não seja do jeito como você quer, mas é assim que é. Você é meu melhor amigo. Pelo menos, você costumava ser. E algumas vezes é... quando você baixa a guarda".
Ele sorriu aquele velho sorriso que eu amava. "Eu sempre sou isso", ele prometeu. "Mesmo quando eu... me comporto tão bem quanto eu deveria. Por baixo, eu estou sempre aqui".
"Eu sei. Porque senão porque mais eu te aguentaria?"
Ele riu comigo, e aí os olhos dele ficaram tristes. "Quando você vai se dar conta finalmente de que você está apaixonada por mim também?"
"Deixe você arruinar o momento".
"Eu não estou dizendo que você não ama ele. Eu não sou burro. Mas é possível amar mais de uma pessoa de cada vez, Bella. Eu já ví isso em ação".
"Eu não sou um lobisomem esquisito, Jacob".
Ele entortou o nariz, e eu estava prestes a pedir desculpas pela última baboseira, mas ele mudou de assunto.
"Não estamos longe agora, eu sinto o cheiro dele".
Eu suspirei aliviada.
Ele se enganou na interpretação. "Eu diminuiria a velocidade com alegria, Bella, mas você vai gostar de estar em um abrigo antes que aquilo caia".
Nós dois olhamos para o céu.
Uma nuvem sólida de uma cor roxo-enegrecida estava correndo do oeste, escurecendo a floresta embaixo dela enquanto passávamos.
"Uau", eu murmurei. "É melhor você se apressar. Você vai querer estar em casa antes que ela chegue aqui".
"Eu não vou pra casa".
Eu encarei ele, exasperada. "Você não vai acampar conosco"
"Não tecnicamente - como em, dividindo uma tenda ou qualquer coisa. Eu refiro a temprestade ao cheiro. Mas eu tenho certeza que o seu sugador de sangue vai querer manter contato com o bando por propósitos de coordenação, então, eu graciosamente vou prover esses serviços".
"Eu pensei que esse era o trabalho de Seth".
"Ele vai me substituir amanhã, durante a luta".
Essa lembrança me silênciou por alguns segundos. Eu encarei ele, preocupação aparecendo com uma penetrância repentina.
"Eu não acho que há uma forma de te fazer ficar, já que você já está aqui?", eu sugerí. "Se eu implorasse? Ou se trocasse uma vida de servidão ou alguma coisa assim?"
"Tentador, mais não. De novo, implorar pode ser interessante pra que você veja. Você pode se dar uma tentativa se você quiser".
"Realmente não hà nada, absolutamente nada que eu posso dizer?"
"Não. A não ser que você possa me prometer uma luta melhor. De qualquer jeito, Sam faz as convocações, não eu".
Isso me lembrou.
"Edward me disse uma coisa no outro dia... sobre você"
Ele ficou eriçado. "Provavelmente é mentira".
"Oh, mesmo? Você não é o segundo no comando do bando, então?"
Ele piscou, o rosto dele ficando branco de surpresa. ""Oh. Isso".
"Como é que você nunca me contou isso?"
"Porque eu contaria? Não é nada importante".
"Eu não sei. Porque não? É interessante. Então, como é que isso funciona? Como Sam acabou sendo o Alpha, e você como... o Beta?"
Jacob gargalhou com o meu termo inventado. "Sam foi o primeiro, o mais velho. Fazia sentido que ele ficasse no comando".
Eu fiz uma careta. "Mas então não seriam Jared ou Paul a ser o segundo? Eles foram os próximos a se transformar".
"Bem... é difícil de explicar", Jacob disse evasivamente.
"Tente".
Ele suspirou. "É mais uma coisa de linhagem, sabe? Meio ultrapassado. Porque devia importar quem foi o seu avô, certo?"
Eu me lembrei de uma coisa que Jacob havia me dito ha um longo tempo atrás, antes que qualquer um de nós soubesse sobre os lobisomens.
"Você não disse que Ephraim Black foi o último chefe que os Quileute tiveram?"
"É, é isso mesmo. Porque ele era o Alpha. Você sabia que, tecnicamente, Sam é o chefe da tribo inteira agora?" Ele riu. "Tradições loucas".
Eu pensei nisso por um segundo, tentando fazer pedaços se encaixarem. "Mas você também disse que eles ouviam ao seu pai mais do que a qualquer outra pessoa no conselho, porque ele era o neto de Ephraim?"
"O que tem isso?"
"Bem, se isso é sobre a linhagem... você não devia ser o chefe, então?"
Jacob não me respondeu. Ele olhou para a floresta escurecendo, como se de repente ele precisasse se concentrar em pra onde ele estava indo.
"Jake?"
"Não. Esse é o trabalho de Sam" Ele manteve os olhos no caminho não demarcado.
"Porque? O tataravô dele era Levi Uley, certo? Levi era Alpha também?"
"Só hà um Alpha", ele respondeu automaticamente.
"Então o que Levi era?"
"Meio que o Beta, eu acho" He bufou com o meu termo. "Como eu".
"Isso não faz sentido".
"Isso não importa".
"Eu só quero entender".
Finalmente Jacob encontrou meu olhar confuso, e aí suspirou. "É. Era pra eu ser o Alpha".
As minhas sobrancelhas se juntaram. "Sam não quis descer do posto?"
"Dificilmente. Eu não quis subir".
"Porque não?"
Ele fez uma careta, desconfortavel com as minhas perguntas. Bem, era a vez dele de se sentir desconfortavel.
"Eu não quis nada daquilo, Bella. Eu não queria que nada mais mudasse. Eu não queria ser um chefe lendário".
"Eu nem queria ser parte de um bando de lobisomens, quanto mais liderá-los. Eu não aceitei quando Sam ofereceu".
Eu pensei nisso por um longo momento. Jacob não interrompeu. Ele estava encarando a floresta de novo.
"Mas eu pensei que você estava mais feliz. Que você estava se dando bem com isso", eu sussurrei finalmente.
Jacob sorriu me reassegurando. "É. Realmente não é tão ruim. É excitante as vezes, como essa coisa de amanhã. Mas no início parecia que eu estava sendo convocado pra uma guerra que eu nem sabia que existia. Não havia escolha, sabe? E foi tão definitivo" Ele levantou os ombros. "De qualquer jeito, eu acho que estou alegre agora. Tinha que ser feito, e será que eu poderia confiar em mais alguém pra fazer isso direito? É melhor que eu mesmo tenha certeza".
Eu encarei ele, sentindo um inexperado tipo de admiração pelo meu amigo. Ele era mais adulto do que eu havia acreditado que ele fosse. Como com Billy na outra noite na fogueira, havia uma realeza lá que eu não estava esperando.
"Chefe Jacob", eu sussurrei, sorrindo pelo jeito que as palavras soavam juntas.
Ele revirou os olhos.
Bem aí, o vento balançou mais ferozmente através das florestas ao nosso redor, e parecia que ele estava soprando diretamente de um congelador. O som agudo de madeira se partindo ecoou nas montanhas. Apesar da luz estar desaparendo enquanto as nuvens nebulosas cobriam o céu, eu ainda pude ver os pequenos flocos brancos que flutuavam entre nós.
Jacob apressou o passo, mantendo os olhos dele no chão agora, enquanto ele corria. Eu me curvei com mais vontade no peito dele, me protegendo da neve mal-vinda.
Foram apenas dez minutos desde que ele havia começado a correr ao redor do lado do pico de pedra e eu já podia ver a pequena tenda erguida contra uma face que a abrigava. Mais flocos fltuaram ao nosso redor, mas o vento estava violento demais pra deixá-los cair em um lugar.
"Bella!", Edward chamou em um alívio agudo. Nós o encontramos no meio de um movimento de andar pra frente e pra trás.
Ele veio rapidamente para o meu lado, meio que se transformando num vulto quando ele se movia tão rápido. Jacob enrijeceu, e aí ele me colocou de pé. Edward ignorou a reação dele e me pegou num abraço apertado.
"Obrigado", Edward disse por cima da minha cabeça. O tom dele era inequivocavelmente sincero. "Isso foi mais rápido do que eu esperava, e eu realmente aprecio isso".
Eu me virei pra ver a reação de Jacob.
Jacob meramente levantou os ombros, toda a amigabilidade havia sido limpa do rosto dele. "Leve ela pra dentro. Isso vai ser feito - o meu cabelo está arrepiando no meu crânio. Essa tenda é segura?"
"Eu a crevei na rocha".
"Bom".
Jacob olhou para o céu - agora preto com a tempestade, manchado com os pedacinhos de neve. As narinas dele inflaram.
"Eu vou trocar de roupa", ele disse. "Eu quero saber o que está acontecendo lá em casa".
Ele pendurou o seu casaco em um arbusto baixo, grosso, e caminhou para a floresta obscura sem olhar pra trás.

22- Fogo e Gelo

O vento estremeceu a tenda de novo, e eu estremecí junto com ela.
A temperatura estava caindo. Eu podia sentir isso através do saco, através da minha jaqueta. Eu estava completamente vestida, as minhas botas de caminhada ainda estavam no lugar. Isso não fez nenhuma diferença. Como é que podia estar tão frio? Como é que podia continuar esfriando. Ele tinha que estabilizar alguma hora, não tinha?
"Q-q-q-q-q-que h-h-h-h-horas são?" Eu forcei as palavras a sair pelos meus dentes se batendo.
"Duas", Edward respondeu.
Edward estava sentado tão longe de mim quanto era possível em um espaço apertado, com medo até de respirar em cima de mim quando eu já estava com tanto frio. Estava escuro demais pra que eu visse seu rosto, mas a voz dele estava selvagem de preocupação, indecisão e frustração.
"Talvez..."
"Não, eu tô b-b-b-b-b-bem, m-m-m-mesmo. Eu não q-q-q-quero i-i-ir lá fora".
Ele já tinha tentado me convencer a fazer uma corrida uma dúzia de vezes, mas eu estava morta de medo de deixar o meu abrigo. Se estava tão frio aqui, protegido do vendo rajante, eu podia imaginar o quão ruim seria se estivéssemos correndo por ele.
E isso ia estragar todos os esforços dessa tarde. Será que nós teríamos tempo de recomeçar tudo depois que a tempestade tivesse acabado? E se ela não acabasse?
Não fazia sentido me mexer agora. Eu podia ficar tremendo por uma noite.
Eu estava preocupada que o rastro que eu tinha deixado pudesse ter se perdido, mas ele me prometeu que isso ainda seria suficiente pra os monstros que estavam pra chegar.
"O que eu posso fazer?", ele quase implorou.
Eu só balancei a minha cabeça.
Lá fora na neve, Jacob choramingou infeliz.
"S-s-s-sai d-d-d-daqui", eu ordenei de novo.
"Ele só está preocupado com você", Edward traduziu. "Ele está bem. O corpo dele é equipado pra lidar com isso".
"E-e-e-e-e-e", eu queria dizer que ele devia ir embora mesmo assim, mas eu não conseguí fazer isso passar pelos meus dentes. Eu quase arranquei a minha língua fora.
Pelo menos, Jake parecia estar bem equipado para a neve, melhor até do que os outros do bando com o seu pelo ruivo mais grosso, mais longo, desarrumado. Eu me perguntei o porque disso.
Jacob choramingou, um rugido alto, um incômodo de reclamação.
"O que você quer que eu faça?", Edward rosnou, ansioso demais pra continuar se incomodando em ser educado.
"Carregá-la em meio a isso? Eu não estou vendo você se fazer útil. Porque você não vai pescar um aquecedor ou alguma coisa assim?"
"Eu tô b-b-b-b-b-bem", eu protestei. Julgando pelo gemido de Edward e pelo rosnado murmurado do lado de fora da tenda, eu não tinha convencido ninguém. O vento balançou a tendo com força, e eu estremecí em harmonia com ela.
Um rugido repentino soou pelo ronco do vento, e eu cobrí os meus ouvidos com o barulho. Edward fez uma careta.
"Isso não era muito necessário", ele murmurou. "E essa é a pior idéia que eu já ouví", ele chamou mais alto.
"É melhor do que alguma coisa que você tenha sugerido", Jacob respondeu, a voz humana dele me assustando. "Vá pescar um aquecedor", ele murmurou. "Eu não sou um São Bernardo".
Eu ouví o som do zíper da porta tenda sendo puxado rapidamente pra baixo.
Jacob escorregou pelo menor espaço que conseguiu, enquanto o vento ártico fluía ao redor dele, alguns flocos de neve caindo no chão à porta da tenda. Eu tremí tanto que era como uma convulsão.
"Eu não gosto disso", Edward assobiou enquanto Jacob fechava o zíper da porta da tenda. "Simplesmente dê o casaco a ela e se mande".
Os meus olhos só estavam ajustados o suficiente pra ver as formas - Jacob estava carregando o casaco de pele que esteve pendurado em uma árvore próxima a tenda.
Eu tentei perguntar sobre o que eles estavam falando, mas tudo o que saiu da minha boca foi, "O-o-o-o-o-o-o", enquanto os tremores me faziam balançar incontrolavelmente.
"A pele é para amanhã - ela está com frio demais pra aquecê-la sozinha. A pele está congelada" Ele a largou na porta.
"Você disse que precisava de uma aquecedor, e aqui estou eu", Jacob abriu os braços tanto quanto a tenda permitiu. Como sempre, quando ele havia estado correndo por aí como lobo, ele só estava carregando o que era essencial - um par de calças de moletom, sem camisa, sem sapatos.
"J-J-J-J=Jake, você vai c-c-c-congel-l-l-lar", eu tentei reclamar.
"Eu não", ele disse alegremente. "Eu estou com uns sólidos cinquenta e dois graus esses dias. Eu vou começar a te fazer suar rapidinho"
Edward rosnou, mas Jacob nem sequer olhou pra ela. Ao invés disso, ele começou a rastejar pra o meu lado e a abrir o zíper do saco de dormir.
A mão de Edward estava dura no braço dele de repente, restringindo, branca como neve na pele escura. A mandíbula de Jake se contraiu, as narinas dele inflando, o corpo dele se afastando do toque frio. Os músculos dos longos braços dele se flexionaram automaticamente.
"Mantenha a sua mão longe de mim", ele rosnou por entre os dentes.
"Mantenha as suas mãos longe dela" Edward respondeu com um tom vazio.
"N-n-n-não b-b-b-briquem", eu implorei. Outro tremor me balançou. Eu pensei que os meus dentes fossem se partir, de tão forte que eles estavam se batendo.
"Eu tenho certeza de que ela vai te agradecer por isso quando começar a ficar preta e a se decompor", Jacob disparou.
Edward hesitou, e depois a mão dele caiu e ele voltou para a sua posição no canto.
A voz dele era vazia e assustadora. "Se cuide".
"Chega mais, Bella", ele disse, abrindo ainda mais o zíper do saco de dormir.
Eu encarei ele ultrajada. Não era de surpreender que Edward estivesse reagindo desse jeito.
"N-n-n-n-n", eu tentei protestar.
"Não seja estúpida", ele disse, exasperado. "Você não gosta de ter dez dedos nos pés?"
O corpo dele encheu um espaço inexistente, forçando o zíper a se abrir atrás de sí mesmo.
Aí eu não pude mais me opor - eu não queria mais me opor. Ele era tão quente. Os braços dele se apertaram ao meu redor, me segurando largadamente em seu peito nú.
O calor era irresistível, como se fosse ar depois de ficar muito tempo embaixo da água. Ele se afastou quando eu pressionei meus dedos frios ansiosamente na pele dele.
"Nossa, você tá congelando, Bella", ele reclamou.
"D-d-d-d-desculpa" eu gaguejei.
"Tente relaxar", ele sugeriu enquanto outro tremor me balançou violentamente. "Você vai estar aquecida em um minuto. É claro, você se aqueceria mais rapidamente se eu pudesse tirar as suas roupas".
Edward rosnou afiadamente.
"Esse é simplesmente um fato", Jacob se defendeu. "Primeiros-Socorros".
"C-c-c-corta essa, Jake", eu disse com raiva, apesar do meu corpo se recusar a sequer tentar se afastar dele. "N-n-n-ninguém p-p-p-precisa de verdade de todos os dez d-d-dedos do pé".
"Não se preocupe com o sugador de sangue", Jacob sugeriu, o tom da voz dele estava um pouco presumido. "Ele só está com ciúmes".
"É claro que eu estou". A voz de Edward era veludo de novo, sob controle, um murmúrio musical na escuridão. "Você não tem nem a mais distante idéia do que eu daria pra estar fazendo o que você está fazendo por ela, mongól"
"Esses são os pontos", Jacob disse levemente, mas o tom dele estava um pouco azedo. "Pelo menos você sabe que ela gostaria que fosse você".
"Verdade", Edward concordou.
Os tremores diminuiram, ficaram suportávei enquanto iam embora.
"Aí está", Jacob disse, agradado. "Se sentindo melhor?"
Eu finalmente fui capaz de falar claramente. "Sim".
"Os seus lábios ainda estão azuis", ele meditou. "Quer que eu os aqueça pra você também? Você só precisa pedir".
Edward suspirou pesadamente.
"Se comporte", eu murmurei, pressionando o meu rosto no ombro dele. Ele se afastou de novo quando a minha pele fria tocou a dele, e sorriu com uma satisfação levemente vingativa.
Já estava quente e confortável dentro do saco de dormir. O corpo de Jacob parecia radiar calor de todos os lugares - talvez porque houvesse tanto dele. Eu tirei as minhas botas, e empurrei os meus dedos nas pernas dele.
Ele deu um pequeno pulo, e aí inclinou a cabeça pra baixo pra pressionar a sua bochecha quente na minha orelha dormente.
Eu reparei que a pele de Jake tinha um cheiro amadeirado, de almíscar - combinava com a ocasião, aqui no meio da floresta. Eu me perguntei se os Cullen e os Quileute não estariam apenas inventando aquele problema todo dos odores por causa de seus preconceitos. Todo mundo cheirava bem pra mim.
A tempestava rosnava como um animal atacando a tenda, mas agora ele não me preocupava. Jacob estava fora do frio, e eu também. Além do mais, eu estava simplesmente exausta demais pra me preocupar com alguma coisa - cansada apenas por ficar acordada até tão tarde, dolorida pelos espasmos dos músculos. O meu corpo relaxou lentamente enquanto descongelava, pedaço congelado a pedaço congelado, e depois ficaram flácidos.
"Jake?", eu murmurei sonolenta. "Posso te pedir uma coisa? Eu não estou tentando ser uma boboca nem nada assim, eu estou honestamente curiosa". Eram as mesmas palavras que ele havia usado na minha cozinha... quanto tempo fazia isso agora?
"Claro", ele gargalhou, lembrando.
"Porque você é tão mais peludo do que os seus amigos? Se eu estiver sendo rude, você não precisa responder" Eu não conhecia as regras de etiqueta quando elas se tratavam da cultura dos lobisomens.
"Porque o meu cabelo é mais longo", ele disse, divertido - pelo menos a minha pergunta não tinha ofendido ele. Ele balançou a cabela pra que seu cabelo rebelde - que agora estava perto da altura do queixo - fizesse cócegas na minha bochecha.
"Oh", eu estava surpresa, mas isso fazia sentido. Então foi por isso que eles todos cortavam os cabelos, quando se juntavam ao bando. "Então porque você não corta ele? Você gosta de ser tão felpudo?"
Dessa vez ele não respondeu imediatamente, e Edward riu por baixo do fôlego.
"Desculpa", eu disse, parando pra bocejar. "Eu não quis ser intrometida. Você não precisa me dizer".
Jacob fez um som aborrecido. "Oh, ele vai te dizer do mesmo jeito, então eu também posso... Eu estava deixando o cabelo crescer porque... parecia que você gostava mais dele longo".
"Oh", eu me sentí estranha. "Eu, er, gosto dos dois jeitos, Jake. Você não precisa... ter incovenientes".
Ele levantou os ombros. "Acontece que ele foi bem conveniente essa noite, então não se preocupe".
Eu não tinha mais nada pra dizer. Enquanto o silêncio aumentou, as minhas pálpabras cairam e se fecharam, e a minha respiração ficou mais lenta, mais uniforme.
"Isso mesmo, meu bem, vá dormir", Jacob sussurrou.
Eu suspirei, contente, já meio adormecida.
"Seth está aqui", Jacob murmurou pra Jacob, e de repente eu esntendí a necessidade do rosnado.
"Perfeito. Agora você pode ficar de olho nas outras coisas, enquanto eu cuido da sua namorada pra você".
Edward não respondeu, mas eu gemí groque. "Pare com isso", eu murmurei.
Ai tudo ficou silêncioso, pelo menos do lado de dentro. Do lado de fora, o vento soprava insamamente entre as árvores. A dança da tenda tornou difícil dormir. Os postes estremeciam e balançavam de repente, me trazendo de volta da beira da inconsciencia toda vez que eu já estava afundando. Eu me sentpi tão mal pelo lobo, pelo garoto que estava preso do lado de fora na neve.
A minha mente vagava e esperava até que o sono me achasse. O pequeno espaço quente me fez pensar nos dias anteriores com Jacob, e eu me lembrei de como as coisas costumavam quando ele era o meu sol de reserva, o calor que tornava a minha vida suportável. Já fazia um tempo que eu não pensava em Jake dessa forma, mas aqui estava ele, me aquecendo de novo.
"Por favor!", Edward assobiou. "Você se importa!"
"O que?", Jacob sussurrou de volta, seu tom estava surpreso.
"Será que você acha que podia tentar controlar os seus pensamentos?" O sussurro baixo de Edward estava furioso.
"Ninguém disse que você precisava ouvir", Jacob murmurou, desafiador, e mesmo assim um pouco envergonhado.
"Saia da minha cabeça".
"Eu queria poder. Você não faz idéia de como as suas pequenas fantasias são altas. É como se você estivesse gritando elas pra mim".
"Eu vou tentar manter o volume baixo", Jacob sussurrou sarcasticamente.
Houve um breve momento de silêncio.
"Sim", Edward respondeu a um pensamento não falado em um murmurio tão baixo que eu mal conseguia ouvir. "Eu estou com ciúme disso também".
"Eu imaginei que fosse assim", Jacob sussurrou presumidamente. "Isso meio que iguala um pouco o jogo, não é?"
Edward gargalhou. "Nos seus sonhos".
"Sabe, ela ainda pode mudar de idéia", Jacob cutucou ele. "Considerando todas que eu posso fazer com ela que você não pode. Isso é, pelo menos, não sem matar ela".
"Vá dormir, Jacob", Edward murmurou. "Você está começando a me deixar nervoso".
"Eu acho que eu vou. Eu estou muito confortável".
Edward não respondeu.
Eu estava apagada demais pra pedir que eles parassem de falam de mim como se eu não estivesse lá. A conversa havia tomado características de sonho pra mim, e eu não tinha certeza de que realmente estava acordada.
"Talvez eu fosse", Edward disse depois de um momento, respondendo a uma pergunta que eu não havia ouvido.
"Mas você seria honesto?"
"Você sempre pode perguntar e ver", o tom de Edward me fez imaginar se eu não estaria perdendo uma piada.
"Bem, você vê dentro da minha cabeça - me deixe ver dentro da sua hoje, é o justo". Jacob disse.
"A sua cabeça está cheia de perguntas. Qual você quer que eu responda?"
"Esse ciúme... ele esteve te comendo. Você não pode estar tão seguro de sí quanto parece. A não ser que você não tenha emoções".
"É claro que está." Edward concordou, não mais divertido. "Nesse momento está tão ruim que eu mal posso controlar a minha voz. É claro, isso é ainda pior quando ela está longe de mim, com você, e eu não posso vê-la".
"Você pensa nisso o tempo inteiro?", Jacob sussurrou. "É difícil pra você se concentrar quando ela não está com você?"
"Sim e não", Edward disse; ele parecia determinado a responder honestamente. "A minha mente não funciona exatamente como a sua. Eu posso pensar em mais coisas ao mesmo tempo. É claro que isso significa que eu sempre sou capaz de pensar em você, sempre capaz de me perguntar se é aí que a mente dela está, quando ela está quieta e pensativa".
Eles dois ficaram quietos por um minuto.
"Sim, eu acho que ela pensa em você com frequência", Edward murmurou em resposta aos pensamentos de Jacob. "Com mais frequência do que eu gosto. Ela se preocupa que você esteja infeliz. Não que você não saiba disso. Não que você não use isso".
"Eu tenho que usar qualquer coisa que eu puder", Jacob murmurou. "Eu não estou trabalhando com as suas vantagens - vantagens como saber que ela está apaixonada por você".
"Isso ajuda", Edward disse com um tom moderado.
Jacob estava desafiador. "Ela está apaixonada por mim também, sabe".
Edward não respondeu.
Jacob suspirou. "Mas ela não sabe ainda".
"Eu não sei dizer se você está certo".
"Isso incomoda você? Você queria ver o que ela está pensando também?"
"Sim... e não, de novo. Ela prefere que seja assim, e, apesar de que isso as vezes me deixa louco, eu prefiro que ela fique feliz".
O vento soprou na tenda, estremecendo como se fosse um terremoto. Os braços de Jacob me apertaram protetoramente.
"Obrigado", Edward sussurrou. "Mesmo que isso pareça estranho, eu estou feliz que você esteja aqui, Jacob".
"Você quer dizer 'mesmo que eu fosse adorar matar você, eu estou feliz que ela esteja aquecida', certo?"
"É uma trégua desconfortável, não é?"
O sussurro de Jacob estava presumido de repente. "Eu sabia que você estava tão louco de ciúmes quanto eu".
"Eu não sou tão idiota pra usar isso como uma carta na manga como você. Isso não ajuda o seu caso, sabe".
"Você é mais paciente do que eu".
"Eu devia. Eu tive cem anos pra ganhá-la. Cem anos de espera por ela".
"Então... em que ponto você resolveu bancar o cara bonzinho e paciente?"
"Quando eu ví o quanto estava machucando ela ter que decidir. Isso geralmente não é tão difícil de controlar. Eu posso amortecer os... sentimentos menos civiizados que eu possa ter por você muito mais facilmente na maior parte do tempo. As vezes eu acho que ela vê através de mim, mas eu não posso ter certeza".
"Eu acho que você só está preocupado que se você realmente a forçasse a escolher, ela podia não te escolher".
Edward não respondeu imediatamente. "Isso é uma parte", ele admitiu finalmente. "Mas só uma parte pequena. Todos nós temos nossos momentos de dúvida. Em grande parte, eu estava preocupado que ela pudesse se machucar fugindo pra ver você. Depois que eu aceitei que ela estava mais ou menos segura com você - tão segura quanto Bella sempre é - pareceu ser melhor parar de levar ela aos limites".
Jacob suspirou. "Eu teria dito tudo isso a ela, mas ela nunca teria acreditado em mim".
"Eu sei", pareceu que Edward estava sorrindo.
"Você acha que sabe de tudo", Jacob murmurou.
"Eu não sei o futuro", Edward disse, sua voz insegura de repente.
Houve uma pausa mais longa.
"O que você faria se ela mudasse de idéia?", Jacob perguntou.
"Eu também não sei isso".
Jacob gargalhou baixinho. "Você tentaria me matar?" Sarcástico de novo, como se estivesse duvidando da capacidade de Edward de fazer isso.
"Não".
"Porque não?" o tom de Jacob ainda estava zombador.
"Você realmente acha que eu magoaria ela desse jeito?"
Jacob hesitou por um segundo, e depois suspirou. "É, você está certo. Eu sei que isso está certo. Mas as vezes..."
"As vezes é uma idéia intrigante".
Jacob pressionou o rosto no saco de dormir pra abafar os risos. "Exatamente", ele concordou eventualmente.
Que sonho estranho esse era. Eu me perguntei se era o vento insessante que estava me fazendo imaginar todos esses sussurros. Só que o vento estava gritando mais do que sussurrando...
"Como é? Perder ela?" Jacob perguntou depois de um momento quieto, e não havia nenhum traço de humor na sua voz repentinamente rouca.
"Quando você pensou que tinha perdido ela pra sempre? Como você... continuou?"
"É muit difícil pra mim falar disso".
Jacob esperou.
"Houveram duas horas diferentes nas quais eu pensei nisso", Edward falou cada palavra um pouco mais devagar que o normal. "A primeira vez, quando eu pensei que podia deixar ela... isso foi... quase suportável. Porque eu pensei que ela esqueceria de mim e seria como se eu nunca tivesse tocado a vida dela. Por mais de seis meses eu fui capaz de me manter longe, de manter a minha promessa de que não interferiria de novo. Estava chegando perto - eu estava lutando, mas eu sabia que não ia vencer; eu teria que voltar... só pra checar ela. Pelo menos, isso era o que eu teria dito a mim mesmo. E se eu tivesse encontrado ela razoavelmente feliz... eu gosto de pensar que teria sido capaz de ir embora de novo.
"Mas ela não estava feliz. E eu teria ficado. Foi assim que ela me convenceu a ficar com ela amanhã, é claro. Você estava se perguntando sobre isso antes, o que poderia ter me motivado... porque ela estava se sentindo tão desnecessariamente culpada por causa disso. Ela me lembrou do que eu fiz com ela quando fui embora - o que ainda faz quando eu tenho que ir embora. Ela se sente horrível por tocar no assunto, mas ela está certa. Eu nunca serei capaz de acertar as coisas, mas mesmo assim eu nunca vou parar de tentar".
Jacob não respondeu por um momento, escutando a tempestade ou digerindo o que havia acabado de ouvir, eu não sabia qual dos dois.
"E a outra vez - quando você pensou que ela estava morta?" Jacob sussurrou ásperamente.
"Sim", Edward respondeu a uma pergunta diferente. "Isso provavelmente vai parecer assim pra você, não vai? Pela forma como você nos persegue, você pode não ser capaz de vê-la mais como Bella. Mas essa é que ela será".
"Não foi isso que eu perguntei".
Os braços de Jacob se flexionaram ao meu redor.
"Mas você se foi porque não queria transformá-la em uma sugadora de sangue. Você quer que ela seja humana".
Edward falou lentamente. "Jacob, desde o segundo em que eu me dei conta de que amava ela, eu sabia que só haveriam quatro possibilidades. A primeira alternativa, a melhor pra Bella, seria que ela não tivesse sentimentos tão fortes por mim - e que ela me esquecesse e seguisse em frente. Eu teria aceitado isso, apesar de que isso nunca mudaria a forma como eu me sinto. Você pensa em mim como... uma pedra viva - dura e fria. Isso é verdade. Nós somos presos da forma como somos, e é muito raro pra nós experimentar uma mudança de verdade. Quando isso acontece, como quando Bella entrou em minha vida, é uma mudança permanente. Não hà como voltar atrás...
"A segunda alternativa, a que eu havia escolhido originalmente, era ficar com ela durante a sua vida humana. Essa não era uma boa opção pra ela, desperdiçar a sua vida com alguém que não podia ser tão humano quanto ela, mas essa era a alternativa que eu podia aceitar com mais facilidade. Sabendo o tempo inteiro que, quando ela morresse, eu encontraria uma forma de morrer também. Seis anos, sessenta anos - isso pareceria um tempo muito, muito curto pra mim... Mas depois ficou comprovado que era perigoso demais pra ela viver em uma proximidade tão grande com o meu mundo. Parecia que tudo o que podia dar errado, deu. Ou estava ao nosso lado... esperando pra dar errado. Eu estava morrendo de medo de não conseguir aqueles sessenta anos se eu ficasse perto dela enquanto ela era humana.
"Então, eu escolhí a terceira opção. Que acabou sendo o pior erro que eu cometí em minha longa vida, como você sabe. Eu escolhí tirar a mim mesmo do mundo dela, esperando forçá-la a primeira alternativa. Não deu certo, e isso quase matou a nós dois.
"O que eu tinha de sobra a não ser a quarta opção? É o que ela quer - pelo menos, ela acha que quer. Eu estive tentando atrasá-la, pra dar a ela tempo de encontrar um motivo que a fizesse mudar de idéia, mas ela é muito... teimosa. Você sabe disso. Eu terei sorte se conseguir esticar isso por mais alguns meses."
"Ela tem horror a envelhecer, e o aniversário dela é em Setembro..."
"Eu gosto da primeira opção", Jacob murmurou.
Edward não respondeu.
"Você sabe exatamente o quanto eu odeio aceitar isso", Jacob sussurrou lentamente, "mas eu posso ver que você ama ela... da sua maneira. Eu não posso mais discutir com isso.
"Dito isso, eu não acho que você devia desistir da primeira alternativa, ainda não. Eu acho que hà uma chance muito boa de que ela ficaria bem. Depois de um tempo. Sabe, se ela não tivesse pulado do penhasco em Março... e se você tivesse esperado mais seis meses até ver checar ela... Bem, você podia ter encontrado ela razoavelmente feliz. Eu tinha um plano de jogo".
Edward gargalhou. "Talvez ele tivesse dado certo. Foi um plano bem pensado".
"É", Jake suspirou. "Mas... " de repente ela estava sussurrando tão rápido que as palavras estavam se misturando, "me dê um ano su- Edward. Eu realmente acho que poderia fazê-la feliz. Ela é teimosa, ninguém sabe disso melhor do que eu, mas ela é capaz de se curar. Ela teria se curado antes. Ela ela poderia ser humana, com Charlie e Renée, e ela poderia crescer, e ter filhos e... ser Bella.
"Você ama ela o suficiente pra ver as vantagens do plano. Ela acha que você é muito altruísta... você é mesmo? Será que você pode considerar a idéia de que eu sou melhor pra ela do que você?"
"Eu tenho considerado isso", Edward respondeu rapidamente. "De algumas formas, você serviria mais pra ela do que qualqurr outro humano. Bella requer alguns cuidados, e você é forte o suficiente pra poder protegê-la de sí mesma, e de tudo o que conspira contra ela. Você fez isso, e eu vou te dever por isso enquanto eu viver - pra sempre - o que vier primeiro...
"Eu até perguntei a Alice se ela podia ver isso - ver se Bella estaria melhor com você.
Ela não conseguiu, é claro. Ela não pode ver você, e também, Bella está segura do seu curso, por enquanto".
"Mas eu não sou estúpido o suficiente pra cometer o mesmo erro que eu cometí antes, Jacob. Eu não vou tentar ela a seguir a primeira opção de novo. Enquanto ela me quiser, eu estou aqui".
"E se ela decidisse que me queria?", Jacob desafiou. "Tudo bem, é difícil, eu te concedo isso".
"Eu a deixaria ir".
"Simplesmente assim?"
"No sentido de que eu jamais mostraria a ela o quão difícil isso seria pra mim, sim. Mas eu continuaria observando ela. Veja, Jacob, você pode deixar ela algum dia. Como Sam e Emily, você não teria escolha. Eu estaria sempre esperando na reserva, esperando que isso acontecesse".
Jacob bufou baixinho. "Bem, você foi muito mais honesto do que eu tinha o direito de esperar... Edward. Obrigado por me deixar entrar em sua cabeça".
"Como eu disse, eu estou me sentindo estranhamente grato por sua presença na vida dela essa noite. Isso era o mínimo que eu podia fazer... Sabe, Jacob, se não fosse pelo fato de sermos inimigos naturais e de que você também está tentando roubar a razão da minha existência, eu até podia gostar de você".
"Talvez... se você não fosse um vampiro nojento que está planejando sulgar a vida da garota que eu amo... bem, não, nem mesmo assim".
Edward gargalhou.
"Posso te perguntar uma coisa?", Edward perguntou.
"Porque você precisa pedir?"
"Eu só posso ouvir se você pensar nisso. É só uma história que Bella pareceu relutante em me dizer no outro dia. Alguma coisa sobre uma terceira esposa...?"
"O que tem isso?"
Edward não respondeu, escutando a história nos pensamentos de Jacob. Eu ouví seu assobio baixo na escuridão.
"O que?", Jacob quis saber de novo.
"É claro", Edward ferveu. "É claro! Eu teria preferido se os seus anciões tivessem quardado essa história pra sí mesmos, Jacob"
"Você não gosta que as sanguessugas estão sendo pintadas como os malvados?", Jacob zombou. "Sabe, eles são. Antes e agora".
"Eu não podia me importar menos com essa parte. Será que você não consegue adivinhar com qual personagem Bella se identifica?"
Jacob levou um minuto. "Oh. Ugh. A terceira esposa. Ok, eu entendo o seu ponto".
"Ela quer estar lá na clareira. Pra fazer o pouco que ela puder, como ela o colocou." Ele suspirou. "Essa era a segunda razão pra que eu ficasse com ela amanhã. Ela é bastante inventiva quando quer alguma coisa".
"Sabe, aquele seu irmão militar deu a idéia tanto quanto a história".
"Nenhum dos lados pretendia nenhum mal", Edward dussurrou, agora promovendo a paz.
"E quando essa pequena trégua acaba?", Jacob perguntou. "Logo pela manhã? Ou queremos esperar até depois que a luta acabar?"
Eles dois pausaram enquanto consideravam.
"Logo pela manhã", eles sussurraram juntos, e depois riram baixinho.
"Durma bem, Jacob", Edward murmurou. "Aproveite o momento".
Tudo ficou silencioso de novo, e a tenda ficou quieta por alguns minutos. O vento parecia ter decidido que, afinal, não ia nos aplainar, e estava desistindo de lutar.
Edward gemeu suavemente. "Eu não estava falando tão literalmente".
"Desculpe", Jacob sussurrou. "Você podia ir embora, sabe - nos dar um pouco de privacidade".
"Você gostaria que eu te ajudasse a dormir, Jacob?", Edward ofereceu.
"Você podia tentar", Jacob disse, despreocupado. "Ia ser interessante ver quem ia desistir, não ia?"
"Não me tente demais, lobo. A minha paciencia não é perfeita assim".
Jacob sussurrou uma risada. "Eu preferiria não me mover agora, se você não se importa".
Edward começou cantar pra sí mesmo, mais alto do que o normal - tentando ignorar os pensamentos de Jacob, eu presumí. Mas era a minha canção de ninar que ele estava cantando, e, apesar do meu crescente disconforto com esse sonho sussurrado, eu mergulhei mais fundo na inconsciencia... em outros sonhos que faziam mais sentido.

23. Monstro

Quando eu acordei pela manhã, estava muito claro - mesmo dentro da tenda, a luz do sol machucou os meus olhos. Jacob estava roncando levemente no meu ouvido, seus braços ainda apertados ao meu redor.
Eu levantei a minha cabeça do seu peito ferventemente quente e sentí o penetrant frio sa manhã na minha bochecha. Jacob suspirou em seu sono; seus braços se apertaram inconscientemente.
Eu me contorcí, incapaz de escapar do aperto dele, lutando pra levantar a minha cabeça o suficiente pra ver...
Edward encontrou o meu olhar diretamente. O rosto dele estava calmo, mas a dor nos olhos dele era impossível de esconder.
"Está mais quente aí fora?", eu sussurrei.
"Sim. Eu não acho que o aquecedor será necessário hoje".
Eu tentei alcançar o zíper, mas não conseguí liberar os meus braços. Eu repuxei, lutando contra a força inerte de Jacob. Jacob murmurou, ainda adormecido, os braços dele se apertando de novo.
"Uma ajudinha?", eu pedí baixinho.
Edward sorriu. "Você queria que eu tirasse os braços dle completamente do caminho?"
"Não, obrigada. Só me solte. Eu vou sofrer uma hipertermia".
Edward baixou o zíper do saco de dormir num movimento rápido, abrupto. Jacob caiu pra fora, o peito nú dele batendo no chão gelado da tenda.
"Hey!", Ele reclamou, seus olhos se abrindo. Instintivamente, ele se afastou de frio, rolando em cima de mim. Eu asfixiei quanto o peso dele tirou meu fôlego.
E de repente o peso dele tinha desaparecido. Eu sentí o impacto quando Jacob bateu contra as armações da tenda e a tenda estremeceu.
O rosnado estava vindo de todos os lugares. Edward estava curvado na minha frente, e eu não conseguia ver o rosto dele, mas os rugidos estavam saindo raivosos do peito dele. Jacob também estava meio curvado, seu corpo inteiro tremendo, enquanto rosnados escapavam por entre seus dentes apertados. Do lado de fora da tenda, as rosnaduras viciosas de Seth Clearwater ecoavam nas rochas.
"Parem! Parem!", eu gritei, me arrastando estranhamente pra me colocar no meio deles dois.
O espaço era tão pequeno que eu nem precisei me esticar tanto pra colocar as minhas mãos nos peitos dos dois. Edward passou a mão pela minha cintura, preparado pra me tirar do caminho.
"Pare, agora", eu avisei ele.
Sob o meu toque, Jacob começou a se acalmar. Os tremores diminuiram, mas os dentes dele ainda estavam expostos, os olhos dele furiosamente focados em Edward. Seth continuou a rosnar, um fundo violento para o silêncio repentino na tenda.
"Jacob?", eu chamei até que ele finalmente baixou seu olhar pra olhar pra mim. "Você está machucado?"
"É claro que não!", ele assobiou.
Eu me virei pra Edward. Ele estava olhando pra mim, a expressão dele estava dura e raivosa. "Isso não foi legal. Você devia pedir desculpas".
Os olhos dele se arregalaram de nojo. "Você deve estar brincando - ele estava te esmagando!"
"Porque você derrubou ele no chão! Ele não fez aquilo de propósito, e ele não me machucou".
Edward rosnou, revoltado. Lentamente, ele levantou os olhos pra encarar Jacob com olhos hostís. "Minhas desculpas, cachorro".
"Nenhum dano causado", Jacob disse, um tom de escárnio na voz.
Ainda estava frio, apesar de não tão frio quanto tinha estado. Eu cruzei os braços no peito.
"Aqui", Edward disse, calmo de novo. Ele pegou a pele no chão e passou ela por cima do meu casaco.
"Isso é de Jacob", eu me opus.
"Jacob tem um casaco de pêlos", Edward indicou.
"Eu vou usar o saco de dormir de novo, se vocês não se incomodam", Jacob ignorou ele, passando ao nosso redor e se enfiando no saco de novo. "Eu não estava completamente pronto pra acordar. Essa não foi a melhor noite de sono que eu já tive".
"Foi idéia sua", Edward disse impassivamente.
Jacob se curvou, os olhos já fechados. Ele bocejou. "Eu não disse que não foi a melhor noite que eu já passei. Eu só não conseguí dormir muito. Eu pensei que Bella não fosse calar a boca nunca"
Eu gemí, imaginando o que teria saído da minha boca durante o sono. As possibilidades eram horripilantes.
"Eu estou feliz que você tenha gostado", Edward murmurou.
Os olhos escuros de Jacob se abriram. "Você não teve uma noite boa, então?", ele perguntou, presumido.
"Não foi a pior noite da minha vida".
"Chegou na lista das dez piores?" Jacob perguntou, perverso com a diversão.
"Possivelmente"
Jacob sorriu e fechou os olhos.
"Mas", Edward continuou. "se eu tivesse sido capaz de ficar no seu lugar na noite passada, isso não teria chegado na lista das dez melhores noites da minha vida. Vai sonhando com isso".
Os olhos de Jacob se abriram brilhando. Ele se sentou rigidamente, seus ombros tensos.
"Sabe o que mais? Está lotado demais aqui".
"Eu não poderia concordar mais"
Eu acotovelei as costelas de Edward - provavelmente dando contusão a mim mesma.
"Acho que eu vou recuperar o meu sono depois, então", Jacob fez uma cara. "De qualquer forma, eu preciso falar com Sam".
Ele rolou até ficar de joelhos e agarrou o zíper da porta.
Uma dor se espalhou pela minha espinha e se espalhou pelo meu estômago enquanto eu me dava conta abruptamente de que esta podia ser a última vez que eu veria. Ele ia voltar pra Sam, de volta pra lutar com uma horda de vampiros recém-nascidos sedentos por sangue.
"Jake, espere -" eu alcancei ele, minha mão deslizando pelo braço dele.
Ele puxou o braço antes que os meus dedos pudessem ter suporte.
"Por favor, Jake? Você não vai ficar?"
"Não"
A palavra era dura e fria. Eu sabia que o meu rosto demonstrava a dor, porque ele exalou e um meio sorriso suavisou a sua expressão.
"Não se preocupe comigo, Bells. Eu vou ficar bem, como sempre fico", ele forçou uma risada. "Além do mais, você acha que eu vou deixar Seth ir no meu lugar - se diverti sozinho e ficar com toda a glória? Tá certo". Ele bufou.
"Tome cuidado -"
Ele saiu da tenda antes que eu pudesse terminar.
"Dá um tempo, Bella", eu ouví ele murmurar enquanto re-fechava o zíper da porta.
Eu tentei ouvir o som de passos se afastando, mas tudo estava perfeitamente quieto.
Não havia mais vento. Eu podia ouvir a canção matutina dos pássaros à distância na montanha, e nada mais. Jacob se movia silenciosamente agora.
Eu me agarrei nos meus casacos, e me inclinei no ombros de Edward. Nós ficamos em silêncio por algum tempo.
"Quanto tempo mais?", eu perguntei.
"Alice disse a Sam que devia sem em uma hora mais ou menos", Edward disse, suave e distante.
"Nós ficamos juntos. Aconteça o que acontecer".
"Aconteça o que acontecer", ele concordou, seus olhos apertados.
"Eu sei", eu disse. "Eu estou morrendo de medo por eles também".
"Eles sabem como se cuidar", Edward me assegurou, fazendo sua voz ficar propositadamente leve. "Eu só odeio estar perdendo a diversão".
De novo com a diversão. As minhas narinas inflaram.
Ele colocou o braço em cima dos meus ombros. "Não se preocupe", ele urgiu, e aí ele beijou a minha testa.
Como se houvesse algum jeito de evitar isso. "Claro, claro".
"Você que que eu te distraia?" Ele respirou, correndo seus dedos frios na maçã do meu rosto.
Eu estremecí involuntariamente; a manhã ainda estava congelante.
"Talvez agora não", ele mesmo respondeu, retirando a sua mão.
"Existem outras formas de me distrair".
"O que você gostaria?"
"Você podia me falar das suas dez melhores noites", eu sugerí. "Eu estou curiosa".
Ele riu. "Tente adivinhar".
Eu balancei a minha cabeça. "Existem muitas noites das quais eu não sei. Um século delas".
"Eu vou facilitar pra você. Todas as minhas melhores noite aconteceram desde que eu encontrei você".
"Mesmo?"
"Sim, mesmo - e também, com uma margem bem grande".
Eu pensei por um minuto. "Eu só consigo pensar nas minhas", eu admití.
"Elas podem ser as mesmas", ele encorajou.
"Bem, houve a primeira noite. A noite que você ficou".
"Sim, essa é uma das minhas também. É claro, você estava inconsciente na minha parte favorita".
"Isso mesmo", eu lembrei. "Eu estava falando naquela noite também".
"Sim", ele concordou.
O meu rosto ficou quente de novo quando eu me perguntei o que eu poderia ter dito enquanto dormia nos braços de Jacob. Eu não conseguia me lembrar com o que eu havia sonhado, ou se sequer eu havia sonhado, então isso não ajudava.
"O que eu disse na noite passada?", eu sussurrei mais baixo do que antes.
Ele levantou os ombros ao invés de responder, e eu gemí.
"Ruim assim?"
"Nada muito horrível", ele suspirou.
"Por favor me diga".
"Em maioria você disse o meu nome, como sempre".
"Isso não é ruim", eu concordei cautelosamente.
"Perto do final, no entanto, você começou a murmurar algumas bobagens sobre 'Jacob, meu Jacob", eu podia ouvir a dor, mesmo nos sussurros. "O seu Jacob gostou muito disso".
Eu estiquei o meu pescoço, me inclinando pra alcançar a beira da mandíbula dele com os meus lábios. Eu não podia olhar os olhos dele. Ele estava olhando para o teto da tenda.
"Desculpa", eu murmurei. "Essa é só a forma como eu diferencio".
"Diferencia?"
"Entre o Dr. Jekyll e o Sr. Hide. Entre o Jacob que eu gosto e o que me tira do sério", eu expliquei.
"Isso faz sentido" Ele parecia mais maleável. "Me diga outra das suas noites favoritas".
"Voltar pra casa da Itália".
Ele fez uma careta.
"Essa não é uma das suas?", eu me perguntei.
"Não, na verdade, essa é uma das minhas, mas eu estou surpreso que esteja na sua lista. Você não estava com a ridícula impressão que eu estava agindo por peso na consciencia, e que eu ia fugir assim que as portas do avião se abrissem?"
"Sim", eu sorri. "Mas, mesmo assim, você estava lá"
Ele beijou meu cabelo. "Você me ama mais do que eu mereço".
Eu rí com a impossibilidade da idéia. "A próxima seria a noite depois da Itália", eu continuei.
"Sim, essa está na lista. Você foi tão engraçada".
"Engraçada?", eu me opus.
"Eu não tinha idéia de que os seus sonhos eram tão vívidos. Eu levei uma eternidade pra te convencer de que você estava acordada".
"Eu ainda não tenho certeza", eu murmurei.
"Você sempre pareceu mais com um sonho do que com a realidade. Me diga uma das suas agora. Eu adivinhei a sua primeira colocada?"
"Não - essa seria ha duas noites atrás, quando você finalmente aceitou casar comigo".
Eu fiz uma cara.
"Essa não está na sua lista?"
Eu pensei no jeito como ele tinha me beijado, na concessão que eu tinha ganho, e mudei de idéia. "Sim... está. Com com reservas. Eu não entendo porque isso é tão importante pra você. Você já me tem pra sempre".
"Daqui a cem anos, quando você tiver ganho perspectiva suficiente pra realmente apreciar a resposta, eu vou explicar pra você"
"Eu vou te lembrar de explicar - daqui a cem anos".
"Você está aquecida o suficiente?", ele perguntou de repente.
"Eu estou bem", eu assegurei ele. "Porque?"
Antes que ele pudesse responder, o silêncio de fora da tenda foi partido por um rosnado ensurdecedor de dor. O som ricocheteou na face da montanha e encheu o ar até que ele estava sendo propagado em todas as direções.
O rosnado invadiu a minha mente como um tornado, tão estranho quanto familiar. Estranho porque eu nunca havia ouvido tal choro de tortura antes. Familiar porque eu reconhecí a voz imediatamente - eu reconhecí o som e compreendí o significado tão perfeitamente como se ele tivesse saído de mim mesma. Não fazia diferença se Jake era humano ou não quando ele chorava. Eu não precisava de tradução.
Jacob estava perto. Jacob havia ouvido todas as palavras que havíamos dito. Jacob estava em agonia.
O uivo foi sufocado com um estranho gargarejo, e depois tudo ficou quieto de novo.
Eu não ouví sua fuga silenciosa, mas eu podia sentí-la - eu podia sentir a ausência que eu havia imaginado erradamente que existisse antes, o espaço vazio que ele deixou pra trás.
"Porque o seu aquecedor passou dos limites", Edward respondeu rapidamente. "A trégua está acabada", ele acrescentou, tão baixo que eu não podia ter realmente certeza de que foi isso o que ele havia dito.
"Jacob estava escutando", eu sussurrei. Não foi uma pergunta.
"Sim"
"Você sabia"
"Sim".
Eu encarei o nada, vendo nada.
"Eu nunca prometí que lutaria de forma justa", ele me lembrou baixinho. "E ele merecia saber".
Minha cabeça caiu nas minhas mãos.
"Você está com raiva de mim?", ele perguntou.
"Não de você", eu sussurrei. "Eu estou horrorizada comigo"
"Não se atormente", ele implorou.
"Sim", eu concordei acidamente. "Eu devia guardar as minhas energias pra atormentar Jacob um pouco mais. Eu nãi ia querer deixar nenhuma parte dele intacta".
"Ele sabia o que estava fazendo".
"Você acha que isso importa?" Eu estava piscando contra as lágrimas, e era fácil ouvir isso em minha voz. "Você acha que eu me importo se ele foi ou não foi adequadamente avisado? Eu estou machucando ele. Toda vez que eu me viro, eu estou machucando ele de novo". A minha voz estava ficando mais alta, mais histérica. "Eu sou uma pessoa odiosa".
Ela passou seus braços com força ao meu redor. "Não, você não é".
"Eu sou! O que hà de errado comigo?", eu lutei contra os braços dele, e ele os deixou cair. "Eu tenho que ir encontrá-lo".
"Bella, ele já está a minha de distância, e está frio".
"Eu não me importo. Eu não posso simplesmente sentar aqui" Eu tirei o casaco de pele de Jacob, enfiei meus pés em minhas botas, e me arrastei rigidamente até a porta; minhas pernas estavam dormentes. "Eu tenho que - eu tenho que..." Eu não sabia como terminar a frase, não sabia o que podia ser feito, mas eu abrí o zíper da porta do mesmo jeito, e saí pela manhã clara, gélida.
Havia menos neve do que eu teria pensado, depois da fúria da tempestade de ontem.
Provavelmente ela havia sido levada pelo vento e não derretida pelo sol que agora brilhava baixo no sudeste, cintilando na neve que faziam meus olhos não ajustados demorarem a se acostumar e os fazia doer. O vento tinha um pouco a ver com isso, mas ele estava mortalmente calmo e se ficando lentamente mais de acordo com a estação enquanto o sol se erguia mais.
Seth Clearwater estava encurvado num remendo de galhos secos embaixo da sombra de uma árvore, com a cabeça nas patas. O pelo cor de areia dele era quase invisível contra os galhos, mas eu podia ver o reflexo da neve brilhante nos olhos dele. Ele estava me encarando com o que eu imaginei que fosse uma acusação.
Eu sabia que Edward estava me seguindo enquanto eu tropeçava por entre as árvores. Eu não podia ouvir ele, mas o sol refletia na pele dele formando arco-íris que dançavam na minha frente. Ele não tentou me parar até que eu já estava ha vários passos dentro das sombras da floresta.
A mão dele agarrou o meu pulso esquerdo. Ele ignorou quando eu tentei me libertar.
"Você não pode ir atrás dele. Hoje não. Já está quase na hora. E mais que tudo, você se perder não ia ajudar ninguém"
Eu torcí meu pulso, puxando ele inutilmente.
"Eu lamento, Bella", ele sussurrou. "Eu lamento por ter feito isso".
"Você não fez nada. A culpa é minha. Eu fiz isso. Eu fiz tudo errado. Eu podia ter... Quando ele... eu não devia ter... eu... eu... "Eu estava soluçando.
"Bella, Bella".
Os braços dele se dobraram ao meu redor, e as minhas lágrimas molharam a camisa dele.
"Eu devia ter - dito a ele - eu devia - ter dito -" O que? O que poderia ter feito isso certo? "Ele não devia ter - descoberto isso assim"
"Você quer que eu veja se eu consigo trazê-lo de volta, pra você poder falar com ele? Ainda hà um pouco de tempo" Edward murmurou, agonia silenciada em sua voz.
Eu balancei a cabeça no peito dele, com medo de ver o rosto dele.
"Fique na tenda. Eu volto logo".
Os braços dele desapareceram. Ele se foi tão rapidamente que, no segundo que eu levei pra olhar pra cima, ele já tinha ido embora. Eu estava sozinha.
Um novo soluço se partiu no meu peito. Hoje eu estva magoando todo mundo. Havia alguma coisa que eu tocasse que não se estragasse?
Eu não sabia porque isso estava me atingindo com tanta força agora. Não era como se eu não soubesse o tempo todo que isso ia acontecer.
Mas Jacob nunca havia reagido tão fortemente - perdido a sua forte super confiança e demonstrado a intensidade da sua dor. O som da agonia dele ainda me cortava, em algum lugar no fundo do meu peito. Bem ao lado havia a outra dor. A dor por sentir dor por Jacob. Dor por magoar Edward também. Por não ser capaz de ver Jacob ir embora com compostura, sabendo que essa era a coisa certa, o único jeito.
Eu era egoísta, eu machucava as pessoas. Eu torturava aqueles que eu amava.
Eu era como Cathy, como O Morro dos Ventos Uivantes, só que as minhas opções eram muito melhores do que as dela, nenhum deles era mau, nenhum deles era fraco. E aqui estava eu, chorando por isso, sem fazer nada produtivo pra endireitar as coisas. Exatamente como Cathy.
Eu não podia que o que me machucava influenciasse mais nas minhas decisões. Era um pouco tarde demais, mas eu tinha que fazer a coisa certa agora. Talvez isso já estivesse acabado pra mim. Talvez Edward fosse capaz de trazer ele de volta. E aí eu aceitaria isso e seguiria em frente com a minha vida. Edward nunca mais me veria verter outra lágrima por Jacob Black. Não haveriam mais lágrimas. Eu limper as últimas delas com os meus dedos agora.
Mas se Edward voltasse com Jacob, isso era tudo. Eu ia dizer a ele pra ir embora e nunca mais voltar.
Porque isso era tão difícil? Tão mais difícil do que dizer adeus aos meus outros amigos, a Angela, a Mike? Porque isso machucava? Isso não estava certo. Isso não devia ter a capacidade de me machucar. Eu tinha o que eu queria. Eu não podia ter os dois, porque Jacob não podia ser só meu amigo. Estava na hora de desistir de desejar isso. Quão ridicularmente gananciosa uma pessoa podia ser?
Eu tinha que superar esse pensamento irracional de que Jacob pertencia à minha vida. Ele não podia pertecer ao meu lado, não podia ser o meu Jacob, quando eu pertencia a outra pessoa.
Eu caminhei de volta para a pequena clareira, meus pés se arrastando.
Quando eu entrei no espaço aberto, piscando por causa da luz ofuscante, eu joguei um rápido olhar na direção de Seth - ele não havia se mexido da sua cama de gravetos - e depois desviei o olhar, evitando os olhos dele.
Eu podia sentir que os meus cabelos estavam selvagens, enrrolado em aglomerações, como as cobras de Medusa. Eu passei os meus dedos através deles, e desistí rapidamente. Afinal, quem se importava com como eu estava?
Eu peguei um cantil pendurado ao lado da porta da tenda e o balancei. Algo molhado fez barulho lá dentro, então eu desenrrosquei a tampa e dei um gole pra molhar a minha boca com a água gelada. Havia comida por perto em algum lugar, mas eu não estava com fome o suficiente pra procurar por ela. Eu comecei a vagar no pequeno espaço claro, sentindo os olhos de Seth em mim o tempo inteiro. Como eu não olhava pra ele, na minha cabeça ele se tornou aquele garoto de novo, e não o lobo gigante. Muito mais parecido com o Jacob mais novo.
Eu queria pedir que Seth latisse ou algo assim pra dar um sinal de que Jacob estava voltando, mas eu me impedí. Não importava se Jacob ia voltar. Podia ser mais fácil se ele não voltasse. Eu queria ter alguma forma de ligar pra Edward.
Seth choramingou nesse momento, e ficou de pé.
"O que é?", eu perguntei a ele, estupidamente.
Ele me ignorou, caminhando até a beira das árvores, e apontando o nariz na direção oeste. Ele começou a choramingar.
"São os outros, Seth?", eu quis saber. "Na clareira?"
Ele olhou pra mim e ganiu suavemente uma vez, e aí virou seu nariz de volta para o oeste, alerta. As orelhas dele caíram pra trás, e ele choramingou de novo.
Porque eu era tão boba? No que eu estava pensando, mandando Edward embora? E se Edward e Jacob se perdessem? E se Edward ecidisse se juntar à luta?
Um medo gélido se apoderou do meu estômago. E se a angústia de Seth não tivesse nada a ver com a clareira, e o choro dele tivesse sido uma negação? E se Jacob e Edward estivessem brigando um com o outro, longe na floresta?
Eles não iriam tão longe, iriam?
Com uma certeza repentina, arrepiante, eu me dei conta de que eles iriam sim - se as palavras erradas tiverem sido ditas. Eu pensei na sensação de retraimento dessa manhã na tenda, e me perguntei se eu havia subestimado o quão perto eles chegaram de uma briga.
Se eu perdesse eles dois, isso não seria nada além do que eu merecia.
O gelo travou no meu coração.
Antes que eu tivesse um colapso de medo, Seth rosnou um pouco, fundo dentro do peito, e se desviou das suas observações e voltou para o seu lugar de descanso. Isso me acalmou, mas me deixou irritada. Será que ele não podia escrever uma mensagem na terra ou alguma coisa assim?
A caminhada estava me fazendo suar embaixo da minhas camadas. Eu joguei o meu casaco na tenda, e aí eu voltei pra usar um pequeno lugar no centro de uma pequena pausa entre as árvores.
De repente, Seth pulou pra ficar de pé de novo, os pelos no pescoço dele estavam rigidamente em pé. Eu olhei ao redor, mas não ví nada. Se Seth não parasse com isso, eu ia atirar uma pinha nele.
Ele rosnou, um som baixo de aviso, se arrastando de novo para o lado oeste, e eu repensei a minha impaciência.
"Somos só nós, Seth", Jacob disse à distância.
Eu tentei explicar a minha mesma porque o meu coração entrou na quarta marcha quando eu ouvi ele. Eu só estava com medo do que teria que fazer agora, isso era tudo. Eu não podia me permitir ficar aliviada porque ele estava de volta. Isso seria o oposto de uma ajuda.
Edward apareceu primeiro, seu rosto estava vazio e suave. Quando ele saiu do meio das árvores, o sol cintilou nele como fazia na neve. Seth foi saudar ele, olhando intentamente nos olhos dele. Edward balançou a cabeça lentamente, e preocupação fez a testa dele enrugar.
"Sim, isso é tudo o que precisamos", ele murmurou pra sí mesmo antes de se dirigir para o grande lobo. "Eu suponho que não deveríamos estar surpresos. Mas o timing vai ser bem apertado. Por favor faça Sam pedir a Alice pra tentar acertar melhor os horários".
Seth baixou a cabeça uma vez, e eu desejei ser capaz de rosnar. Claro, agora ele podia balançar a cabeça. Eu virei a minha cabeça, aborrecida, e eu me dei conta de que Jacob estava lá.
Ele estava de costas pra mim, olhando pra o caminho de onde ele tinha vindo. Eu esperei cautelosamente que ele se virasse.
"Bella", Edward murmurou, repentinamente bem ao meu lado. Ele olhou pra baixo pra mim com nada além de preocupação aparecendo em seus olhos. Não havia fim para a generosidade dele. Eu não o merecia mais agora do que sempre havia merecido.
"Há uma pequena complicação", ele me disse, a voz dele cuidadosamente despreocupada. "Eu vou levar Seth em algumas direções pra entender isso. Eu não vou longe, mas eu também não vou ouvir. Eu sei que você não quer uma platéia, não importa que caminho você decida seguir".
Apenas no final a dor quebrou na voz dele.
Eu nunca ia machucá-lo de novo. Essa seria a missão da minha vida. Eu nunca seria a razão pra aquele olhar nos olhos dele novamente.
Eu estava triste demais pra perguntá-lo qual era o problema. Eu não precisava de mais nada no momento.
"Volte rápido", eu sussurrei.
Ele me beijou levemente nos lábios, e aí desapareceu na floresta com Seth ao seu lado.
Jacob ainda estava nas sombras das árvores; eu não podia ver a expressão dele claramente.
"Eu estou com pressa, Bella", ele disse com uma voz inexpressiva. "Porque você não acaba logo com isso?"
Eu engolí, minha garganta estava seca de repente que eu não sabia se podia fazer algum som sair.
"Só diga as palavras, e tudo está acabado".
Eu respirei fundo.
"Eu lamento por ser uma pessoa tão podre", eu sussurrei. "Eu lamento por ter sido tão egoísta. Eu queria nunca ter te conhecido, pra não ter que te machucar do jeito que eu fiz. Eu não farei mais isso, eu prometo. Eu vou ficar longe de você. Eu vou me mudar do estado. Você não vai mais ter que olhar pra mim de novo".
"Esse não é um pedido de desculpa muito bom", ele disse ácidamente.
Eu não conseguí fazer a minha voz ser mais alta que um cochicho. "Me diga como fazer isso certo".
"E se eu não quiser que você vá embora? E se eu preferisse que você ficasse, egoísta ou não? Será que eu não tenho nenhuma palavra, já que você está tentando acertas as coisas comigo?"
"Isso não vai ajudar em nada, Jake. Foi errado ficar com você quando você queria coisas tão diferentes. Isso não vai melhorar. Eu só vou continuar machucando você. Eu não quero mais te machucar. Eu odeio isso" Minha voz se partiu.
Ele suspirou. "Pare. Você não precisa dizer mais nada. Eu entendo".
Eu queria dizer o quanto eu sentiria saudades dele, mas mordí minha língua. Isso também não ajudaria em nada.
Ele ficou quieto por um momento, olhando para o chão, e eu lutei contra a minha vontade de ir e passar os meus braços ao redor dele. De confortar ele.
E aí a cabeça dele se levantou.
"Bem, você não é a única capaz de se auto-sacrificar", ele disse, sua voz estava mais forte. "Nesse jogo dois podem jogar".
"O que?"
"Eu tenho me comportado muito mal ultimamente. Eu fiz isso ser muito mais difícil pra você do que precisava ser. Eu podia ter desistido de boa vontade no início. Mas eu te machuquei também.
"Isso é minha culpa".
"Eu não vou deixar você reclamar a culpa aqui, Bella. E nem a glória também. Eu sei como me redimir".
"Do que você está falando?", eu quis saber. A luz repentina, frenética nos olhos dele me assustou.
Ele olhou para o sol e sorriu pra mim. "Hà uma luta bem séria prestes a acontecer aqui. Eu não acho que será muito difícil tirar o meu time de cena".
As palavras dele mergulharam no meu cérebro, vegarosamente, uma a uma, e eu não pude respirar. Apesar de todas as minhas intenções de cortar Jacob completamente da minha vida, eu não tinha me dado conta, até esse momento, o quanto a faca teria que ser profunda pra isso.
"Oh, não, Jake! Não, não, não, não", eu botei pra fora horrorizada. "Não, Jake, não. Por favor, não" Os meus joelhos começaram a estremecer.
"Qual é a diferença, Bella? Isso só vai tornar as coisas mais convenientes pra todo mundo. Você não vai ter que se mudar".
"Não!" A minha voz ficou mais alta. "Não, Jacob! Eu não vou deixar!"
"Como você vai me parar?", ele escarneceu levemente, sorrindo pra tirar a pontada voz dele.
"Jacob, eu estou implorando. Fique comigo". Eu teria ficado de joelhos, se eu pudesse me mexer.
"Por quinze minutos enquanto perco uma boa rixa? Pra que você possa fugir de mim assim que achar que eu estou a salvo? Você deve estar brincando".
"Eu não vou fugir. Eu mudei de idéia. Nós vamos conseguir dar um jeito, Jacob. Sempre hà um compromisso. Não vá!"
"Você está mentindo".
"Não estou. Você sabe que mentirosa horrível eu sou. Olhe nos meus olhos. Eu fico se você ficar".
O rosto dele endureceu. "E eu posso ser o seu padrinho de casamento?"
Levou um minuto antes que eu pudesse falar, e mesmo assim a única resposta que eu pude dar pra ele foi, "Por favor".
"Foi isso o que eu pensei", ele disse, seu rosto ficando calmo de novo, mas havia uma luz turbulenta nos olhos dele.
"Eu te amo, Bella", ele murmurou.
"Eu amo você, Jacob", eu sussurrei com a voz partida.
Ele sorriu. "Eu sei disso melhor que você".
Ele se virou pra ir embora.
"Qualquer coisa', eu chamei ele com a voz estrangulada. "Qualquer coisa que você quiser, Jacob. Só não faça isso!"
Ela pausou, se virando lentamente.
"Você não está realmente falando sério".
"Fique", eu implorei.
Ele balançou a cabeça. "Não, eu vou". Ele pausou, como se estivesse decidindo alguma coisa. "Mas eu podia deixar isso nas mãos do destino".
"O que você quer dizer?", eu botei pra fora?
"Você não tem que fazer nada deliberadamente - eu podia simplesmente fazer o melhor pelo meu bando e deixar que o que tiver de acontecer, aconteça". Ele levantou os ombros. "Se você me convencer de que realmente que eu volte - mais do que querer fazer uma coisa altruísta".
"Como?", eu perguntei.
"Você podia me pedir", ele sugeriu.
"Volte", eu sussurrei. Como ele podia duvidar que eu estava falando sério?
Ele balançou a cabeça, sorrindo de novo. "Não é disso que eu estava falando".
Eu levei um segundo pra compreender o que ele estava falando, e todo o tempo ele estava olhado pra mim com aquela expressão superior - certo demais da minha reação. Assim que a realização bateu, no entanto, eu botei as palavras pra fora sem parar pra medir os custos.
"Jacob, você me beija?"
Os olhos dele se arregalaram com surpresa, e aí se estreitaram com surpresa. "Você está blefando".
"Me beije, Jacob. Me beije, e depois volte".
Ele hesitou na sombra, cauteloso consigo mesmo. Ele meio que se virou de novo para o oeste, o torax dele se virando pra longe de mim enquanto os pés dele continuavam plantados onde estavam. Ainda olhando pra longe, ele deu um passo incerto em minha direção, e depois outro. Ele virou o rosto pra olhar pra mim, os olhos dele estavam duvidosos.
Eu encarei de volta. Eu não fazia de expressão que havia no meu rosto.
Jacob se virou nos calcanhares, e aí se lançou pra frente, fechando a distância que havia entre nós com três passadas longas.
Eu sabia que ele ia tirar vantagem da situação. Eu esperava isso. Eu fiquei muito imóvel - meus olhos fechados, meus dedos dobrados nos punhos aos lados do meu corpo - enquanto ele segurava o meu rosto entre as mãos e os lábios dele encontraram os meus com uma ansiedade que não estava distante da violência.
Eu podia sentir a raiva dele enquanto a boca dele encontrava a minha resistência passiva. Uma mão se moveu para a minha nuca, agarrando as raízes do meu cabelo com o seu punho. A outra mão agarrou o meu ombro com força, me balançando, e depois me trazer pra ele. As mãos dele continuaram a descer pelo meu braço, encontrando o meu pulso e colocando o meu braço ao redor do pescoço dele. Eu o deixei lá, minha mão ainda estava curvada no punho, incerta do quão longe eu iria no meu desespero de mantê-lo vivo.
Durante todo esse tempo, os lábios dele, desconcertamentemente macios e quentes, tentaram forçar uma resposta aos meus.
Assim que ele teve certeza que eu não ia abaixar o braço, ele soltou o meu pulso, as mãos dele indo em direção à minha cintura. A mão fervente dele encontrou a pele das minhas costas, e ele me puxou pra frente, ajustando o meu corpo contra o dele.
Os lábios dele desistiram dos meus por um segundo, mas eu sabia que ele ainda não estava nem perto de acabar. A boca dele seguiu a linha da minha mandíbula, e depois explorou o meu pescoço. Ele soltou o meu cabelo, pegando o meu outro braço pra colocá-lo em cima do seu pescoço assim como o primeiro.
Aí os dois braços dele estavam na minha cintura, e os lábios dele encontraram a minha orelha.
"Você consegue fazer melhor que isso, Bella", ele sussurrou ásperamente. "Você está pensando demais".
Eu estremecí quando os dentes dele morderam o lóbulo da minha orelha.
"Isso mesmo", ele murmurou. "Pelo menos uma vez, deixe-se sentir o que você sente".
Eu balancei a minha cabeça mecanicamente até que uma das mãos dele voltou para o meu cabelo e me parou.
A voz dele se tornou ácida. "Você tem certeza que quer que eu volte? Ouvocê realmente quer que eu morra?"
A raiva me fez balançar como se fosse um saco de areia depois de um soco forte. Isso foi demais - ele não estava lutando justo.
Os meus braços já estavam ao redor dele, então eu agarrei uma mão cheia dos cabelos dele - ignorando a dor penetrante na minha mão direita - e lutei de volta, lutando pra levar o meu rosto pra longe do dele.
E Jacob entendeu errado.
Ele era forte demais praa reconhecer que as minhas mãos, tentando arrancar os cabelos dele das raízes, tentavam causá-lo dor. Ao invés de raiva, ele imaginou paixão. Ele pensou que eu estivesse correspondendo ele.
Com um movimento selavagem, ele trouxe sua boca de volta para a minha, os dedos dele se agarrando freneticamente à pele da minha cintura.
A onde de raiva desequilibrou o meu auto-controle tenaz; a resposta inesperada, estática dele o subverteu inteiramente. Se houvesse apenas triunfo, eu teria resistido. Mas a enorme alegria indefesa dele arrebentou a minha determinação, a incapacitou. O meu cérebro se disconectou do meu corpo, e eu estava beijando ele de volta. Contra todas as razões, os meus lábios estavam se movendo nos dele de formas estranhas, confusas, que nunca haviam se movimentado antes - porque eu não precisva ser cuidadosa com Jacob, e ele certamente não estava sendo cuidadoso comigo.
Os meus dedos apertaram os cabelos dele, mas agora eu estava o trazendo mais pra perto.
Ele estava em todo lugar. A penetrante luz do sol deixou as minhas pálpebras vermelhas, e a cor se ajustava, combinava com o calor. O calor estava em todo lugar. Eu não podia ver ou ouvir ou sentir outra coisa que não fosse Jacob.
A pequena parte do meu cérebro que retinha a sanidade gritava perguntas pra mim.
Porque eu não estava parando isso? Pior que isso, porque eu não podia encontrar em mim mesma nem o desejo de querer pará-lo? O que significava eu não querer que ele parasse? Que as minhas mãos estavam agarrando os ombros dele, e que elas gostavam que eles fossem largos e fortes? Que as mãos dele me puxassem com tanta força contra ele, e mesmo assim isso não era o suficiente pra mim?
As perguntas eram estúpidas, porque eu sabia a resposta: eu estive mentindo pra mim mesma.
Jacob estava certo. Ele esteve certo o tempo inteiro. Ele era mais que só meu amigo. Era por isso que era tão impossível dizer adeus a ele - porque eu estava apaixonada por ele. Também. Eu amava ele, muito mais do que eu deveria, e mesmo assim, não era nem de perto o suficiente. Eu estava apaixonada por ele, mas isso não era o suficiente pra mudar tudo; só era o suficiente pra nos machucar ainda mais. Pra magoar mais do que eu já tinha feito.
Eu não me importava pra mais que isso - a dor dele. Eu merecia mais do que qualquer dor que isso causasse pra mim. Eu esperava que fosse ruim. Eu esperava que eu realmente sofresse.
Nesse momento, parecia que éramos a mesma pessoa. A dor dele sempre foi e sempre seria a minha dor - agora a alegria dele era a minha alegria. Eu sentia alegria também, e mesmo assim, a alegria dele de alguma forma também era dor. Quase tangível - ela queimava na minha pele como ácido, uma dor lenta.
Por um segundo breve, sem fim, um caminho interiamente diferente se expandiu atrás das pálpebras dos meus olhos molhados de lágrimas. Como se eu estivesse olhando pra algum compartimento dentro dos pensamentos de Jacob, eu podia ver exatamente as coisas das quais eu abriria mão, exatamente o que esse novo auto-conhecimento não ia me salvar de perder. Eu podia ver Charlie e Renée misturados em uma estranha colagem com Billy e Sam e La Push. Eu podia ver os anos se passando, e significando alguma coisa enquanto passavam, me mudando. Eu podia ver o enorme lobo marrom-avermelhado que eu amava, sempre protetor se eu precisasse dele. Pelo menor fragmento desse segundo, eu ví as cabeças saltitantes de duas crianças, de cabelos pretos, correndo pra longe de mim e pra dentro da floresta familiar. Quando eles desapareceram, o resot da visão foi com eles.
E aí, bem distintamente, eu sentí uma fissura na linha do meu coração enquanto a parte menor se separava do resto.
Os lábios de Jacob ficaram imóveis antes dos meus. Eu abrí os meus olhos e ele estava olhando pra mim com maravilha e elação.
"Eu tenho que ir embora", ele sussurrou.
"Não".
Ele sorriu, contente com a minha resposta. "Eu não vou demorar", ele prometeu. "Mas primeiro uma coisa..."
Ele se inclinou pra me beijar de novo, e não havia razão pra resistir. Qual seria a necessidade?
Dessa vez foi diferente. As mãos dele estavam macias no meu rosto e os lábios dele eram gentís, inesperadamente exitantes. Foi breve, e muito, muito doce.
Os braços dele se curvaram ao meu redor, e ele me abraçou seguramente enquanto sussurrava no meu ouvido.
"Esse devia ter sido o nosso primeiro beijo. Antes tarde do que nunca".
Contra o peito dele, onde ele não podia ver, as lágrimas rolaram e se espalharam.

24- Decisão Repentina

Eu fiquei deitada com o rosto pra baixo no saco de dormir, esperando que a justiça me encontrasse. Talvez uma avalanche me enterrasse aqui. Eu desejei que acontecesse. Eu nunca mais queria ter que ver o meu rosto no espelho de novo.
Não houve nenhum som pra me avisar. Do nada, as mãos frias de Edward alisaram o meu cabelo embolado. Eu estremecí de culpa embaixo do toque dele.
"Você está bem?", ele murmurou, sua voz ansiosa.
"Não. Eu quero morrer".
"Isso não vai acontecer nunca. Eu não vou permitir."
Eu gemí e aí sussurrei, "Você pode mudar de idéia sobre isso".
"Onde está Jacob?"
"Ele foi lutar", eu murmurei para o chão.
Jacob tinha deixado o acampamento alegremente - com um alegre "eu vou voltar" - correndo a galope para a clareira, já estremecendo enquanto ele se preparava pra se transformar em seu outro ser. A essa altura o bando inteiro já sabia de tudo. Seth Clearwater, vagando do lado de fora da tenda, era uma testemunha íntima da minha desgraça.
Edward ficou em silêncio por um longo momento. "Oh", ele disse finalmente.
O tom da voz dele me deixou preocupada que a avalanche não estivesse chegando rápida o suficiente. Eu dei uma olhada para o rosto dele, e certamente, os olhos dele estavam desfocados enquanto ele escutava uma coisa que eu preferia morrer a que ele ouvisse. Eu deixei meu rosto cair de volta no chão.
Eu fiquei aturdida quando Edward gargalhou relutantemente.
"E eu pensava que eu lutava sujo", ele disse com admiração invejosa. "Ele me faz parecer com os santo patrono dos éticos", a mão dele alisou a parte da minha bochecha que estava exposta. "Eu não estou com raiva de você, amor. Jacob é mais esperto do que eu tinha acreditado que ele fosse. No entanto, eu gostaria que você não tivese pedido".
"Edward", eu sussurrei através do nilon grosso. "Eu... eu... eu tô -"
"Shh", ele me calou, os dedos dele calmantes na minha bochecha. "Não foi isso que eu quis dizer. É só que ele teria te beijado de qualquer jeito - mesmo se você nãop tivesse caído nessa - e agora eu não tenho desculpa pra quebrar a cara dele. Eu teria gostado disso também".
"Caído nessa?", eu murmurei quase incompreensívelmente.
"Bella, você realmente acreditou que ele era nobre? Que ele sairia numa chama de glória só pra deixar o caminho livre pra mim?"
Eu levantei a minha cabeça lentamente pra encontrar o olhar paciente dele. A expressão dele era suave, os olhos dele estavam cheios de compreensão, e não da repulssão que eu merecia ver.
"Sim, eu acreditei nisso", eu murmurei, e depois desviei o olhar. Mas eu não sentia nenhuma raiva de Jacob por ter me enganado. Não havia espaço suficiente no meu corpo pra conter mais nada além da raiva que eu sentia de mim mesma.
Edward riu suavemente de novo. "Você é uma péssima mentirosa, que você acredita em qualquer um que tenha o mínimo de habilidade".
"Você não está com raiva de mim?", eu sussurrei. "Porque você não me odeia? Ou você ainda não ouviu a história inteira?"
"Eu acho que dei uma olhada bem compreensíva", ele disse com uma voz leve, fácil. "Jacob faz imagens mentais vívidas. Eu quase me sinto tão mal pelo bando dele quanto eu me sinto por mim mesmo. O pobre Seth estava ficando nauseado. Mas agora Sam está fazendo Jacob se concentrar".
Eu fechei os meus olhos e balancei minha cabeça agoniada. As fibras de nilon afiadas da tenda arranhavam a minha pele.
"Você é apenas humana", ele sussurrou, alisando o meu cabelo de novo.
"Essa é a defesa mais miserável que eu já ouví".
"Mas você é humana, Bella. E, por mais que eu queira que seja de outra forma, ele também é... Existem buracos na sua vida que eu não posso preencher. Eu compreendo isso".
"Mas isso não é verdade. É isso que me faz sentir horrível. Não existem buracos".
"Você ama ele", ele murmurou gentilmente.
Todas as células no meu corpo doíam pra negar.
"Eu te amo mais", eu disse.
Isso era o melhor que eu podia fazer.
"Sim, eu sei disso também. Mas... quando eu deixei você, Bella, eu te deixei sangrando. Foi Jacob que te costurou de novo. Isso tinha chance de deixar marcas - em vocês dois. Eu não tenho certeza de que esse pontos se dissolvem sozinhos. Eu não posso te culpar por uma coisa que eu tornei necessária. Eu posso ganhar perdão, mas isso não me deixa escapar das consequências".
"Eu devia saber que você ia encontrar alguma forma de culpar a sí mesmo. Por favor, pare. Eu não aguento".
"O que você gostaria que eu dissesse?"
"Eu quero que você me chame de todos os nomes ruins em que conseguir pensar, em todas as línguas que você conhecer. Eu quero que você me diga que está com nojo de mim e que vai embora pra eu poder implorar e rastejar de joelhos pra que você fique".
"Eu lamento", ele suspirou. "Eu não posso fazer isso".
"Pelo menos pare de tentar fazer com que eu me sinta melhor. Me deixe sofrer. Eu mereço".
"Não", ele murmurou.
Eu balancei a cabeça lentamente. "Você está certo. Continue sendo compreensívo. Isso provavelmente é pior".
Ele ficou em silêncio por um momento, e eu sentí uma mudança na atmosfera, uma nova urgência.
"Está chegando perto", eu declarei.
"Sim, mais alguns minutos agora. Só tempo suficiente pra dizer mais uma coisa..."
Eu esperei. Quando ele finalmente falou de novo, ele estava cochichando. "Eu posso ser nobre, Bella. Eu não vou fazer você escolher entre nós dois. Só seja feliz, e você pode ter a parte de mim que você quiser, ou nenhuma delas, se isso for o melhor. Não deixe que nehum débito que você acha que tem comigo influenciar na sua decisão".
Eu me empurrei do chão, me jogando nos meus joelhos.
"Droga, pare com isso!", eu gritei pra ele.
Os olhos dele se arregalaram de surpresa. "Não - você não entende. Eu não estou apenas tentando fazer você se sentir melhor, Bella, eu estou falando sério".
"Eu sei que está", eu rosnei. "O que aconteceu com lutar de volta? Não comece com o auto-sacrifício nobre agora! Lute!"
"Como?", os olhos dele estavam envelhecidos de tristeza.
Eu me arrastei para o colo dele, jagando meus braços ao seu redor.
"Eu não me importo que seja frio aqui. Eu não me importo que eu esteja fedendo como um cachorro agora. Me faça esquecer o quanto eu sou horrível. Me faça esquecer ele. Me faça esquecer meu próprio nome. Lute de volta!"
Eu não esperei que ele decidesse - ou que tivesse a chance de dizer que não estava interessado em um monstro cruel, descrente como eu. Eu me empurrei contra ele e esmaguei a minha boca em seus lábios frios como neve.
"Cuidado, amor", ele murmurou sob meu beijo urgente.
"Não", eu rosnei.
Ele afastou o meu rosto gentilmente alguns centímetros. "Você não tem que provar nada pra mim".
"Eu não estou tentando provar nada. Você disse que eu podia ter a parte de você que eu quisesse. Eu quero essa parte. Eu quero todas as partes" eu passei meu braços pelo pescoço dele e me estiquei pra alcançar seus lábios. Ele abaixou a cabeça pra me beijar de volta, mas a boca fria dele ficava mais hesitante enquanto a minha impaciência ficava mais pronunciada. O meu corpo estava tornando as minhas intenções claras, me traíndo. Inevitavelmente, as mãos dele se moveram pra me restringir.
"Talvez esse não seja o melhor momento pra isso", ele sugeriu, calmo demais pro meu gosto.
"Porque não?", eu rosnei. Não havia nenhum ponto em lutar se ele ia ser racional; eu deixei meus braços caírem.
"Primeiro, porque está frio". Ele se inclinou pra puxar o saco de dormir do chão; ele o passou ao meu redor como se fosse um cobertor.
"Errado", eu disse. "Primeiro, porque você é bizarramente moral pra um vampiro".
Ele gargalhou. "Tudo bem, eu te dou essa. O frio é a segunda. E terceiro... bem, na verdade você está fedendo, amor".
Ele torceu o nariz.
Eu suspirei.
"Quarto", ele murmurou, baixando o rosto até que ele estivesse sussurrando no meu ouvido. "Nós vamos tentar, Bella. Eu vou cumprir a minha promessa. Mas eu preferiria muito que isso não fosse uma reação a Jacob Black".
Eu bajulei e escondí meu rosto no ombro dele.
"E quinto..."
"Essa é uma lista bem longa", eu murmurei.
Ele riu. "Sim, mas você queria iuvir a luta ou não?"
Enquanto ele falava, Seth uivou estridentemente fora da fora.
Meu corpo enrijeceu com o som. Eu não tinha me dado conta de que a minha mão esquerda tinha se curvado no punho, as unhas perfurando a minha mão com o curativo, até que Edward a pegou e gentilmente acalmou os dedos.
"Tudo vai ficar bem, Bella", ele prometeu. "Nós temos habilidade, treinamento, e a surpresa ao nosso lado. Estará acabado muito em breve. Se eu não acreditasse nisso verdadeiramente, eu não estaria aqui agora - e você estaria aqui, acorrentada em uma dessas árvores ou algo ao longo dessas linhas".
"Alice é tão pequena", eu gemí.
Ele gargalhou. "Esse podia ser um problema... se fosse possível alguém agarrar ela."
Seth começou a choramingar.
"O que há de errado?", eu quis saber.
"Ele só está com raiva por estar preso aqui conosco. Ele sabe que o bando o tirou da ação pra protegê-lo. Ele está salivando pra se juntar a eles".
Eu fiz uma careta na direção geral de Seth.
"Os recém-nascidos alcançaram o fim do rastro - funcionou como um feitiço, Jasper é um gênio - e eles sentiram o cheiro dos que estão na clareira, então, agora eles estão se separando em dois grupos, assim como Alice disse", Edward murmurou, os olhos dele estavam focados em alguma coisa distante. "Sam está nos levando pra começar a emboscada". Ele estava tão atento no que estava ouvindo que usou o plural com o bando.
De repente ele olhou pra baixo pra mim. "Respire, Bella".
Eu lutei pra fazer o que ele pedia. Eu podia ouvir a respiração ofegante de Seth bem do lado de fora da parede da tenda, e eu tentei manter os meus pulmões no mesmo passo uniforme, pra que eu não hiperventilasse.
"O primeiro grupo está na clareira. Nós podemos ouvir a luta".
Os meus dentes se prenderam uns aos outros.
Ele riu uma vez. "Nós conseguimos ouvir Emmett - ele está se divertindo".
Eu fiz eu mesma respirar fundo novamente com Seth.
"O segundo grupo está se preparando - eles não estão prestando atenção, eles ainda não nos ouviram".
Edward rosnou.
"O que foi?", eu ofeguei.
"Eles estão falando sobre você" Os dentes dele se trincaram. "Eles devem ter certeza de que você não vai escapar... Belo movimento, Leah! Mmm, ela é bem rápida",ele murmurou aprovando. "Um dos recém-nascidos sentiu o nosso cheiro, e Leah o derrubou antes mesmo que ele pudesse se viram. Sam está ajudando ela a acabar com ele. Paul e Jacob pegaram outro, mas agora os outros estão na defensiva. Eles não têm idéia do que fazer conosco. Os dois lados estão se defendendo... não, deixe Sam liderar. Fique fora do caminho.", ele murmurou. "Separe eles - não deixem que eles protejam as costas um do outro".
Seth choramingou.
"Isso é melhor, leve eles em direção à clareira", Edward aprovou. O corpo dele estava mudando de posição inconscientemente enquanto ele falava, se enrijecendo com os movimentos que ele teria feito. As mãos dele ainda seguravam as minhas; eu torcí os meus dedos através dos dele. Pelo menos ele não estava lá.
A breve ausência de som foi o único aviso.
A respiração pesada de Seth se cortou, e - como eu havia sincronizado a minha respiração com a dele - eu reparei.
Eu parei de respirar também - assustada demais até pra respirar quando eu me dei conta de que Edward havia se transformado em uma pedra de gelo ao meu lado.
Oh, não. Não. Não.
Quem havia pedido? Os deles ou os nossos? Meus, todos os meus. Qual era a minha perda?
Tão rapidamente que eu não tive exatamente certeza de como havia acontecido, eu estava de pé e a tenda estava caindo em trapos rasgados aos meus pés. Edward havia estraçalhado pra tirá-la do caminho? Porque?
Eu pisquei, chocada, para a luz brilhante. Seth era tudo o que eu podia ver, bem ao nosso lado, o rosto dele a apenas seis centímetros do de Edward. Eles olharam um para o outro em absoluta concentração por um segundo interminável.
O sol cintilava na pele de Edward e fazia brilhos dançarem no pêlo de Seth.
E aí Edward sussurrou urgentemente. "Vai, Seth!"
O enorme lobo se virou e desapareceu nas sombras da floresta.
Será que dois segundos inteiros haviam se passado? Pareciam ter sido horas. Eu estava aterrorizada a ponto de me sentir nauseada pelo conhecimento de que alguma coisa tinha dado errado na clareira. Eu abri minha boca pra mandar que Edward me levasse até, e que o fizesse agora. Eles precisavam dele, precisavam de mim. Se eu tivesse que sangrar pra salvá-los, eu faria isso. Eu morreria por isso, como a terceira esposa fez. Eu não tinha uma adaga de prata na mão, mas eu daria um jeito -
Antes que eu pudesse botar a primeira sílaba pra fora, eu me sentí como se estivesse sendo lançada no ar. Mas as mãos de Edward nunca me soltaram - eu só estava sendo movida, tão rapidamente que eu estava com a sensação de que estava voando de lado.
Eu encontrei a mim mesma com as costas pressionadas contra a face do penhasco. Edward estava na minha frente, usando uma postura que eu reconhecí imediatamente.
O alívio dominou a minha mente ao mesmo tempo que o meu estômago caiu até a sola dos meus pés.
Eu tinha entendido errado.
Alívio - nada tinha dado errado na clareira.
Horror - a crise era aqui.
Edward ficou numa posição defensiva - meio curvado, os braços dele um pouco estendidos - que eu reconhecí com uma certeza doentia. A pedra nas minhas costas podia ser uma parede de tijolos antiga da ruela Italiana onde ele havia ficado entre mim e os guerreiros Volturi com seus mantos pretos.
Alguma coisa estava vindo por nós.
"Quem?", eu sussurrei.
As palavras sairam por entre os dentes dele em um rosnado que era mais alto do que eu esperava. Alto demais. Isso significava que era tarde demais pra se esconder. Nós estavamos encurralados, e não importava quem ouvisse a resposta dele.
"Victoria", ele disse, cuspido a palavra, fazendo com que ela fosse um xingamento.
"Ela não está sozinha. Ela sentiu o meu cheiro, seguindo os recém-nascidos pra assistir - ela nunca teve a intenção de lutar ao lado deles. Ela fez uma decisão repentina de vir me encontrar, achando que você estaria onde eu estivesse. Ela estava certa. Você estava certa. Sempre foi Victoria".
Ela estava perto o suficiente pra que ele pudesse ouvir os seus pensamentos.
Alívio de novo. Se tivessem sido os Volturi, nós dois estaríamos mortos. Mas Victoria não precisava ser nós dois. Edward podia sobreviver a isso. Ele era um bom lutador, tão bom quanto Jasper. Se ela não trouxesse muitos outros, ele podia lutar pra escapar, pra voltar pra sua família. Edward era mais rápido que qualquer um. Ele podia conseguir.
Eu estava tão feliz por ele ter mandado Seth embora. É claro, não havia ninguém a quem Seth pudesse recorrer por ajuda. Victoria tomou a sua decisão com um timing perfeito. Mas pelo menos Seth estava a salvo; eu não podia pensar no enorme lobo cor de areia enquanto pensava no nome dele - só o garotinho de quinze anos de idade.
O corpo de Edward mudou de posição - apenas minimamente, mas isso me disse pra onde olhar. Eu olhei para as sombras negras da floresta.
Era como ter os meus pesadelos vindo em minha direção pra me cumprimentar.
Dois vampiros entraram lentamente na pequena abertura do nosso campo, com os olhos atentos, sem perder nada. Eles reluziram como diamantes no sol.
Eu mal podia olhar para o garoto loiro - sim, ele era só um garoto, apesar de ser musculoso e alto, talvez ele tivesse a minha idade quando foi mudado. Os olhos dele -do vermelho mais vívido que eu já havia visto - não conseguiram segurar os meus. Apesar dele ser o mais próximo de Edward, o perigo mais próximo, eu não conseguí olhar ele.
Porque, um metro ao lado e alguns centímetros mais atrás, Victoria estava me encarando.
O cabelo laranja dela era mais brilhante do que eu lembrava, mais parecido com uma chama. Não havia vento aqui, mas o fogo ao redor do rosto dele se movia levemente, como se estivesse vivo.
Os olhos dela estavam pretos de sede. Ela não estava sorrindo, como fazia sempre nos meus pesadelos - os lábios dela estavam pressionados em uma linha dura. Havia uma qualidade felina na forma como ela curvava o seu corpo, uma leoa esperando por uma oportunidade de dar o bote. O seu olhar selvagem, indescansável passava entre Edward e eu, mas nunca parou nele por mais de meio segundo. Ela não conseguia manter os olhos dela longe do meu rosto por mais tempo do que eu conseguia manter os meus longe do dela.
A tensão saia rolando dela, quase visível no ar. Eu podia sentir o desejo, a paixão consumidora que a segurava em seus braços. Quase como se eu também pudesse ouvir os pensamentos dela, eu sabia o que ela estava pensando.
Ela estava tão próxima do que ela queria - o foco de toda a existência dela por mais de um ano, agora estava tão perto.
Minha morte.
O plano dela era tão óbvio como era prático. O grande garoto loito atacaria Edward. Assim que Edward estivesse suficientemente distraído, Victoria acabaria comigo.
Seria rápido - ela não tinha tempo pra jogos aqui - mas seria completo. Uma coisa da qual seria impossível se recuperar. Alguma coisa que nem o veneno dos vampiros poderia reparar.
Ela teria que parar o meu coração. Talvez uma mão enfiada no meu peito, destruindo ele. Alguma coisa seguindo essas linhas.
O meu coração batia furiosamente, alto, como se fosse pra fazer o alvo ser mais óbvio.
A uma imensa distância ao longe, o uivo de um lobo ecoou no ar parado. Com Seth longe, não havia forma de interpretar o som.
O garoto loito olhou pra Victoria pelo canto dos olhos, esperando pelo comando dela.
Ele era jovem em mais maneiras que uma. Eu imaginei pelas íris rubras dele que ele não podia ser um vampiro a muito tempo. Ele seria forte, mas inapto. Edward saberia como lutar com ele. Edward sobreviveria
Victoria apontou o queixo na direção de Edward, dando uma ordem silênciosa para o garoto ir em frente.
"Riley", Edward disse com uma voz suave, implorativa.
O garoto loiro congelou, seus olhos se arregalando.
"Ela está mentindo pra você, Riley", Edward disse a ele. "Me ouça. Ela mentiu pra você assim como ela mentiu para os outros que agora estão morrendo na clareira. Você sabe que ela mentiu pra você, que ela fez você mentir pra eles, que nenhum de vocês dois ia ajudar eles. Será que é tão difícil de acreditar que ela tenha mentido pra você também?"
Confusão atravessou o rosto de Riley.
Edward mudou de posição alguns centímetros para o lado, e Riley automaticamente compensou a diferença mudando também de posição.
"Ela não ama você, Riley", a voz suave de Edward era atraente, quase hipnótica. "Ela nunca amou. Ela amou alguém chamado James, e você não passa de uma ferramenta pra ela".
Quando ele disse o nome de James, Victoria colocou os dentes pra fora como se fosse uma careta. Os olhos dela permaneceram travados em mim.
Riley deu uma olhada frenética na direção dela.
"Riley?", Edward disse.
Riley se reconcentrou automaticamente em Edward.
"Ela sabe que eu vou te matar, Riley. Ela quer que você morra pra que ela não tenha mais que continuar com o fingimento. Sim - você já viu isso, não viu? Você já leu a relutância nos olhos dela, suspeitou da nota falsa das promessas dela. Você estava certo. Ela nunca te quis. Cada beijo, cada toque era uma mentira".
Edward se moveu de novo, indo alguns centímentros em direção ao garoto, alguns centímetros pra longe de mim.
Os olhos de Victoria se firmaram no espaço entre nós. Levaria menos de um segundo pra me matar - ela precisava apenas damenor margem de oportunidade.
Mais lentamente dessa vez, Riley se reposicionou.
"Você não precisa morrer", Edward prometeu, os olhos dele segurando os do garoto.
"Existem outras formas de se viver além da que ela te mostrou. Nem tudo são sangue e mentiras, Riley. Você pode ir embora agora mesmo. Você não precisa morrer pelas mentiras dela".
Edward deslizou o pé para a frente e para o lado. Agora havia um pé de distância entre nós dois.
Riley circulou demais, compensando em excesso dessa vez. Victoria se inclinou para a frente no peito dos pés.
"Última chance, Riley", Edward sussurrou.
O rosto de Riley estava desesperado enquanto ele olhava pra Victoria pra ter respostas.
"Ele é um mentiroso, Riley", Victoria disse, e minha boca se abriu com o choque por causa da voz dela. "Eu te falei sobre os truques com mentes deles. Você sabe que eu só amo você".
A voz dela não era forte, selvagem, um rosnado felino que eu teria imaginado pelo seu rosto e posição. Ela era suave, era alta - um tilitar de bebê, soprano. O tipo de voz que vinha com cachos loiros e um chiclete cor de rosa. Ela não fazia nenhum sentindo sainda de seus dentes expostos, brilhantes.
A mandíbula de Riley endureceu, e ele enquadrou os ombros. Os olhos dele esvaziaram - não havia mais confusão, não havia suspeita. Não havia nenhum pensamento. E ficou tenso pra atacar.
O corpo de Victoria parecia estar estremecendo, de tão enrijecida que ela estava. Os dedos dela já eram garras, esperando que Edward se movesse apenas um centímetro pra longe de mim.
O rugido não veio de nenhum deles.
Um mamute bronzeado vôou pelo centro da abertura, jogando Riley no chão.
"Não!", Victoria chorou, a voz de bebê dela esganiçou com a descrença.
A um metro e meio de mim, o enorme lobo despedaçou e estraçalhou o vampiro loiro embaixo dele. Alguma coisa branca e dura bateu nas pedras aos meu pés. Eu me encolhí pra longe dela.
Victoria não desperdiçou um olhar com o garoto ao qual ela havia jurado amor. Os olhos dela ainda estavam em mim, cheios com um desapontamento tão feroz que ela parecia desarranjada.
"Não", ela disse de novo, através de seus dentes, enquanto Edward começou a se mover em direção a ela, bloqueando o caminho dela pra mim.
Riley já estava de pé de novo, parecendo disforme e desfigurado, mas ele foi capaz de dar um chute violento no ombro de Seth. Eu ouví o osso quebrar. Seth se afastou e começou a andar em círculos, mancando.
Riley estava com os braços pra fora, preparado, apesar de aprecer que ele estava sem parte de uma mão...
A apenas alguns centímetros dessa luta, Edward e Victória estavam dançando.
Não exatamente circulando, porque Edward não estava permitindo que ela se posicionasse mais perto de mim. Ele moveu pra trás, se movendo de um lado pro outro, tentando encontrar um buraco na defesa dele. Ele imitou o trabalho de pés dela levemente, perseguindo ela com uma concentração perfeita. Ele começou a se mexer só uma fração de segundo antes que ela se mexesse, lendo as intenções nos pensamentos dela.
Seth se lançou em Riley pelo lado, e alguma coisa se rasgou com um horrível som de algo guinchando. Outro pedaço de algo grosso e pesado vôou pra dentro da floresta e caiu fazendo um som pesado. Riley rosnou furioso, e Seth pulou pra trás - incrivelmente leve com os pés pro tamanho dele - enquanto Riley tentava socá-lo com uma mão mutilada.
Agora Victoria estava voando através dos troncos das árvores na beira mais distante da clareira. Ela estava dividida, os pés dela a guiando para a segurança enquanto os olhos dela se ligavam aos meus como se eu fosse um imã, atraindo ela. Eu podia ver o desejo de matar lutando com o seu instinto de sobrevivência.
Edward também podia ver isso.
"Não vá, Victoria", ele murmurou naquele mesmo tom hipnótico de antes. "Você nunca terá outra chance como essa".
Ela mostrou os dentes e assobiou pra ele, mas ela pareceu incapaz de se mover pra mais longe de mim.
"Você sempre pode fugir mais tarde", Edward ronronou. "Tem bastante tempo pra isso. É isso que você faz, não é? Era por isso que James te mantinha por perto. Útil, se você gosta de jogar esses jogos mortais. Uma parceira com um misterioso instinto pra fugas. Ele não devia ter te deixado - ele podia ter usado as suas habilidades quando nós o pegamos em Phoenix".
Um rosnado ricocheteou entre os dentes dela.
"No entanto, isso é tudo o que você era pra ele. Que bobagem desperdiçar tanta energia pra vingar uma pessoa que tinha menos afeição a você do que um caçador tem por sua presa. Você nunca foi nada além de conveniente pra ele. Eu sei bem".
Os lábios de Edward se ergueram em um dos lados enquanto ele cutucava sua têmpora.
Com um grunhido estrangulado, Victoria saiu de dentro das árvores novamente, indo para o lado. Edward respondeu, e eles começaram a dançar de novo.
Bem aí, o pulso de Riley agarrou o flanco de Seth, e um ganido baixo escapou da garganta de Seth. Seth se afastou, os ombros dele se agitando como se ele estivesse tentando sacudir a dor.
Por favor, queria implorar a Riley, mas eu não conseguí encontrar os músculos pra fazer minha boca se abrir, pra empurrar o ar dos meus pulmões. Por favor, ele é só uma criança!
Porque Seth não tinha fugido? Porque ele não fugia agora?
Riley estava fechando a distância entre eles de novo, fazendo Seth ir em direção ao penhasco ao meu lado. De repente, Victoria estava interessada no destino do parceiro. Eu podia vê-la, pelo canto dos seus olhos, julgar a distância entre Riley e eu.
Seth se lançou contra Riley, forçando-o a ir pra trás de novo, e Victoria assobiou.
Seth já não estava mais mancando. Os círculos dele o levaram a apenas alguns centímetros de Edward; o rabo dele passou pelas costas de Edward, e os olhos de Victoria se arregalaram.
"Não, ele não vai me machucar", Edward disse, respondendo à pergunta na cabeça de Victoria. Ele usou a distração dela pra se aproximar mais. "Você nos deu um inimigo em comum. Você nos tornou aliados".
Ela apertou os dentes, tentando se concentrar apenas em Edward.
"Olhe mais de perto, Victoria", ele murmurou, colocando limites à concentração dela. "Ele realmente é tão parecido com o monstro que James perseguiu na Sibéria?"
Os olhos dela arregalaram, e aí começaram a passar loucamente de Edward pra Seth pra mim, de novo e de novo.
"Não é o mesmo?" ela rosnou com o seu soprano de menininha. "Impossível!"
"Nada é impossível", Edward murmurou, com a voz suave como veludo enquanto ele se movia mais um centímetro na direção dela. "Exceto o que você quer. Você num vai tocar ela".
Ela balançou a cabeça, rápido e bobamente, lutando contra as distrações, e tentou desviar ao redor dele, mas ele já estava no lugar pra bloquea-la assim que ela pensou no plano. O rosto dela se contorceu de frustração, e aí ela se curvou ainda mais, uma leoa novamente, e veio pra a frente deliberadamente.
Victoria não era uam recém-nascida inexperiente, dirigida pelos instintos. Ela era letal. Até eu podia reparar a diferença entre ela e Riley, e eu sabia que Seth não duraria muito se ele estivesse lutando com essa vampira.
Edward se moveu também, enquanto eles se aproximavam um do outro, e era um leão contra uma leoa.
A dança aumentou de ritmo.
Era como Alice e Jasper na clareira, uma espiral turva de movimentos, só que essa dança não era coreografada com tanta perfeição. Sons agudos de algo se rachando e quebrando ecoavam na face do penhasco toda vez que alguém errava sua formação. Mas eles estavam se movendo rápido demais pra que eu pudesse ver quem estava cometendo os erros...
Riley estava distraído com o ballet violento, seus olhos estavam ansiosos para a sua parceira. Seth atacou, arrancando outro pequeno pedaço do vampiro. Riley berrou e lançou um soco massivo com as costas da mão que pegou Seth em cheio no peito. O corpo enorme de Seth vôou dez metros e se bateu na parede de rochas acima da minha cabeça com uma força que pareceu balançar o pico inteiro. Eu ouví o ar escapar dos pulmões dele, e eu saí do caminho enquanto ele se soltou da rocha e colapsou no chão a apenas alguns metros à minha frente.
O choro baixo escapou pelos dentes de Seth.
Fragmentos afiados de pedra cinza caíram na minha cabeça, arranhando a minha pele exposta. Uma estaca afiada de pedra rolou pelo meu braço direito e eu a peguei em um reflexo.
Os meus dedos agarraram o longo fragmento enquanto os meus próprios instintos de sobrevivência se manifestavam; já que não havia nenhum chance de voa, o meu corpo - sem se preocupar com o quanto o gesto era ineficaz - se preparou pra lutar.
A adrenalina corria pelas minhas veias. Eu sabia que a tipóia estava cortando a minha palma. Eu sabia que a minha mão quebrada estava protestando. Eu sabia disso, mas não conseguia sentir a dor.
Atrás de Riley, tudo o que eu podia ver eram as chamas do cabelo de Victoria se contorcendo e um vulto branco. O aumento frequente dos sons metálicos de algo sendo arrancado e torado, e os suspiros e os assobios chocados, deixavam bem claro que a dança estava se tornando mortal para alguém.
Mas alguém quem?
Riley se lançou em direção a mim, seus olhos vermelhos brilhavam de fúria. Ele olhou para a montanha de pêlo cor de areia entre nós, e as mãos dele - as mãos mutiladas, quebradas - se curvaram em garras. A boca dele se abriu, se arregalou, seus dentes brilhando, enquanto ele se preparava pra abrir a garganta de Seth.
Uma segunda onda de adrenalina me chutou como uma corrente elétrica, e de repente tudo ficou claro.
As duas lutas estavam próximas demais. Seth estava prestes a perder a dele, e eu não fazia idéia de se Edward estava ganhando ou perdendo. Eles precisavam de ajuda. Uma distração. Alguma coisa pra dá-los uma chance.
A minha mão segurou a pedra pontiaguda com tanta força que o suporte na tipóia se abriu.
Será que eu era forte o suficiente? Será que eu era corajosa o suficiente? Com quanta força eu podia enfiar a pedra áspera no meu corpo? Será que isso compraria tempo suficiente pra que Seth pudesse ficar de pé novamente? Será que ele se curaria rápido o suficiente pra fazer que o meu sacrifício valesse a pena pra ele?
Eu passei a ponta do fragmento pelo meu braço, colocando o meu suéter grosso pra expor a minha pele, e pressionei a ponta afiada na ponta do meu cotovelo. Eu já tinha longa cicatriz lá pelo meu último aniversário.
Naquela noite, o meu sangue fluindo foi um chamariz para a atenção de todos os vampiros, pra fazê-los congelar no lugar por um instante. Eu rezei pra que funcionasse de novo. Eu me concentrei e respirei fundo.
Victoria se distraiu com o som da minha respiração. Os olhos dela, ficando parados por uma pequeno porção de seguindo, encontraram os meus. Fúria e curiosidade se misturaram estranhamente na expressão dela.
Eu não tinha certeza de como eu havia ouvido o barulho com os outros barulhos ecoando nas rochas e batendo na minha cabeça. As próprias batidas do meu coração deviam ser suficientes pra abafá-lo. Mas na fração de segundo que eu olhei nos olhos de Victoria, eu pensei ter ouvido um suspiro famíliar, exasperado.
Nesse mesmo segundo curto, a dança se separou violentamente. Tudo aconteceu tão rapidamente que já tinha terminado antes que eu pudesse acompanhar as sequências dos fatos. Eu tentei atualizar na minha cabeça.
Victoria havia voando pra fora da formação turva e se chocou numa árvore alta, a cerca de meio tronco árvore à cima. Ela caiu de volta na terra e já se posicionou de novo pra saltar.
Simultaneamente, Edward - simplesmente invisível com a velocidade - havia se virado de costas e pegou o braço de Riley, que estava desprevinido. Parecia que Edward tinha plantado o pé nas costas de Riley, e o levantou -
O pequeno acampamento se encheu com o grito penetrante de agonia de Riley.
Ao mesmo tempo, Seth ficou de pé, cortando a maior parte da minha vista.
Mas eu ainda podia ver Victoria. E apesar de que ela parecia estranhamente deformada - como se ela tivesse sido incapaz de se refazer completamente - eu podia ver o sorriso com o qual eu estive sonhando se abrir no rosto dela.
Ela se curvou e saltou.
Alguma coisa pequena e branca assobiou no ar e se colidiu com ela no meio do ar. O impacto pareceu com um explosão, e atirou ela contra outra árvore - mas essa se partiu no meio. Ela já caiu de pé, curvada e pronta, mas Edward já estava no lugar.
O meu coração se encheu de alívio quando eu ví que ele estava ereto e perfeito.
Victoria chutou alguma coisa pra o lado com um movimento do seu pé - o míssil que havia detido o seu ataque. Ele rolou em minha direção, e eu ví o meu era.
O meu estômago revirou.
Os dedos ainda estavam se mexendo; agarrando tufos de grama, o braço de Riley começou a se arrastar sozinho pelo chão.
Seth estava circulando Riley de novo, e agora Riley estava se afastando. Ele se afastou do ataque do lobisomem que se aproximava, o rosto dele estava rígido de dor. Ele ergueu seu único braço defensivamente.
Seth avançou pra Riley, e o vampiro caiu sem equilíbrio. Eu ví Seth enfiar seus dentes no ombro de Riley e arrancá-lo, pulando pra trás de novo.
Com um som metálico de algo se partindo, Riley perdeu seu outro braço.
Seth balançou a cabeça, atirando o braço para a floresta. O barulho de um assobio partido que saiu pelos dentes de Seth parecia uma risada.
Riley gritou num rogo de tortura. "Victoria!"
Victoria nem vacilou com o som do nome dela. Os olhos dela não olharam na direção do parceiro nem uma vez.
Seth se lançou para a frente com a força de uma bola de canhão. A força do ataque lançou Seth e Riley pra dentro das árvores, onde o som metálico de rasgões se igualou aos gritos de Riley. Gritos que foram cortados abruptamente, enquanto o som de uma pedra sendo feita em pedaços continuou.
Apesar de não ter gastado nenhum olhar de despedida com Riley, Victoria pareceu ter se dado conta de que estava sozinha. Ela começou a se afastar de Edward, um desapontamento frenético brilhando em seus olhos. Ele me jogou outro curto, agoniado, olhar de desejo, e aí começou a se afastar mais rapidamente.
"Não", Edward sussurrou, a voz dele sedutora. "Fique só um pouco mais".
Ela se virou e vôou para o refúgio da floresta como se fosse uma flecha lançada de um arco.
Mas Edward foi mais rápido - uma bala de revólver.
Ele pegou as costas desprotegidas dela na beira das árvore e, com um último, simples passo, a dança estava acabada.
A boca de Edward alisou o pescoço dela uma vez, como uma carícia. Os gritos produzidos pelos esforças de Seth cobriram todos os outros barulhos, então, não houve nenhum som discernível que tornasse aquela uma imagem de violência. El podia estar beijando ela.
E aí a confusão ígnea de cabelos já não estava mais conectada com o resto do corpo. As ondas laranjas inquietas caíram no chão, e saltitaram uma vez antes de saírem rolando em direção às árvores.

25. Espelho

Eu forcei os meus olhos - que estavam congelados e arregalados com o choque - a se moverem pra que eu não pudesse examinar tão de perto o objeto oval que foi arrancado da raiz com os seu cabelos tremulo e ígneo.
Edward estava em movimento de novo. Rápido e friamente profissional, ele desmembrou o cadáver sem cabeça.
Eu não podia ir até ele - eu não conseguia fazer os meus pés responderem; eles estavam travados à pedra embaixo deles. Mas eu estudei a ação a cada minuto, procurando por qualquer evidência de que ele tivesse sido machucado. O meu coração diminuiu a um ritmo mais saudável quando eu não encontrei nada. Ele estava tão leve e gracioso como sempre. Eu não podia nem sequer ver um rasgão nas roupas dele.
Ele não olhou pra mim - onde eu estava grudada à parede do penhasco, horrorizada - enquanto ele empilhava os membros trêmulos e os cobria com gravetos secos.Ele ainda não encontrou o meu olhar chocado enquanto ele se embranhou na floresta procurando por Seth.
Eu não tive tempo pra me recuperar antes que ele e Seth estivessem de volta, Edward com os braços cheios de Riley. Seth estava carregando um volume grande - o tórax - em sua boca. Eles adicionaram seu fardo à pilha, e Edward puxou um triângulo prateado do seu bolso. Ele abriu o isqueiro a gás e segurou a chama na madeira seca. Ela acendeu imediatamente; línguas longas de fogo laranja lamberam rapidamente a pilha.
"Pegue todos os pedaços", Edward disse numa voz baixa pra Seth.
Juntos, o vampiro e o lobisomem vasculharam o local, ocasionalmente atirando pedaços pequenos de caroços brancos de pedra nas chamas. Seth manuseou os pedaços com seus dentes. O meu cérebro não estava funcionando bem o suficiente pra entender porque ele não mudava de volta pra uma forma com mãos.
Edward manteve seus olhos no trabalho.
E aí eles tinham acabado, e a pilha granda estava mandando uma grossa fumaça asfixiante em direção ao céu.
A fumaça grossa se curvava lentamente, parecendo ser mais sólida do que devia; ela tinha cheiro de incenso queimando, e o cheiro era desconfortável. Ele era pesado, muito forte.
Seth fez aquele som de risada de novo, no fundo do seu peito.
Um sorriso de abriu no rosto tenso de Edward.
Edward esticou o braço, e curvou a mão no punho. Seth deu um sorriso, revelando a long fileira de dentes afiados, e bateu o seu nariz na mão de Edward.
"Belo trabalho em equipe", Edward murmurou.
Seth tossiu uma risada.
Aí Edward respirou fundo, e se virou lentamente pra me olhar.
Eu não entendí a expressão dele. Os olhos dele estavam cautelosos como se eu fosse outro inimigo - mais que cautelosos, eles estavam com medo. E mesmo assim, ele não demonstrou medo nenhum quando enfrentou Victoria e Riley... A minha mente estava travada, tão pasma e inútil quanto o meu corpo. Eu encarei ele, desnorteada.
"Bella, amor", ele disse no tom mais suave, caminhando em minha direção com lentidão exagerada, as mãos dele estavam pra cima, com as palmas viradas pra frente. Ofuscada como eu estava, isso me lembrou estranhamente de um suspeito se proximando do policial, mostrando que ele não estava armado...
"Bella, você pode soltar a pedra, por favor? Cuidadosamente. Não se machuque".
Eu tinha esquecido da minha arma crua, apesar de ter me dado conta de que eu estava segurando ela com tanta força que a minha mão estava gritando em protesto. Será que ela estava re-quebrada? Dessa vez Carlisle com certeza ia colocar um gesso.
Edward hesitou a alguns metros de mim, as mãos dele ainda no ar, os olhos dele ainda amedrontados.
Eu levei alguns segundos pra lembrar de como os meus dedos funcionavam. Aí a rocha resvalou no chão, enquanto a minha mão ficou congelada na mesma posição.
Edward relaxou um pouco quando as minhas mãos estavam vazias, mas não se aproximou mais.
"Você não precisa ter medo, Bella", Edward murmurou. "Você está a salvo. Eu não vou te machucar".
Essa promessa sem sentido só me confundiu ainda mais. Eu encarei ele como uma imbecil, tentando entender.
"Tudo vai ficar bem, Bella. Eu sei que você está amedrontada agora, mas está acabado. Ninguém vai te machucar. Eu não vou te tocar. Eu não vou te machucar", ele disse de novo.
Meus olhos piscaram furiosamente, e eu encontrei minha voz. "Porque você fica dizendo isso?"
Eu dei um passo instável em direção a ele, e ele se inclinou pra longe do meu avanço.
"O que hà de errado?", eu sussurrei. "O que você quer dizer?"
"Você está..." de repente seus olhos dourados estavam tão confusos quanto eu me sentia. "Você não está com medo de mim?"
"Medo de você? Porque?"
Eu dei outro passo pra frente, e aí tropecei em alguma coisa - provavelmente meus próprios pés. Edward me pegou, e eu enterrei meu rosto no peito dele e comecei a soluçar.
"Bella, Bella, eu lamento. Está acabado, está acabado".
"Eu estou bem", eu ofeguei. "Eu estou bem. Eu só estou. Enlouquecendo. Me dê. Um minuto."
Os braços dele se apertaram ao meu redor. "Eu lamento", ele murmurou, de novo e de novo.
Eu me apertei a ele até que eu pudesse respirar, a aí eu estava beijando ele - seu peito, seu ombro, seu pescoço - todas as partes dele que eu conseguia alcançar. Lentamente, o meu cérebro começou a funcionar de novo.
"Você está bem?", eu quis saber entre os beijos. "Ela te machucou?"
"Eu estou absolutamente bem", ele prometeu, enterrando o rosto no meu cabelo.
"Seth?'
Edward gargalhou. "Mais que bem. Muito feliz consigo mesmo, na verdade".
"Os outros? Alice, Esme? Os lobos?"
"Todos bem. Está acabado lá também. Foi tudo tão calmo quanto eu te prometí. Nós ficamos com o pior aqui".
Eu me deixei absolver isso por um momento, deixei isso afundar e se ajustar na minha cabeça.
Minha família e meus amigos estavam a salvo. Victoria nunca mais viria atrás de mim. Estava acabado.
Nós todos íamos ficar bem.
Mas eu não conseguia aceitar completamente as boas notícias enquanto estava tão confusa.
"Me diga", eu insistí. "Porque você achou que eu estaria com medo de você?"
"Eu lamento", ele disse, se desculpando mais uma vez - pelo quê? Eu não fazia idéia.
"Lamento tanto. Eu não queria que você visse aquilo. Que me visse daquele jeito. Eu sei que eu devo ter te deixado aterrorizada".
Eu tive que pensar nisso por um minuto, sobre a forma hesitante com a qual ele havia se aproximado de mim, com as mãos pro ar. Como se eu fosse sair correndo se ele se aproximasse rápido demais...
"Sério?", eu perguntei finalmente. "Você... o que? Pensou que tinha me assustado?" Eu bufei. Bufar era bom; a voz não podia tremer e nem falhar enquanto você bufava. Eu parecí impressionantemente despreocupada.
Ele colocou a máo embaixo do meu queixo e colocou a minha cabeça pra trás pra ler o meu rosto.
"Bella, eu só -" ele hesitou e aí forçou as palavras a sairem - "Eu acabei de arrancar a cabeça e desmembrar uma criatura viva a menos de vinte metros de você. Isso não incomoda você?"
Ele fez uma careta pra mim.
Eu levantei os ombros. Levantar os ombros era bom também. Bem blasé. "Na verdade não. Eu só estava com medo de que você e Seth pudessem se machucar. Eu queria ajudar, mas não havia muito que eu pudesse fazer..."
A expressão repentinamente lívida dele fez a minha voz desaparecer.
"Sim", ele disse, seu tom entrecortado. "Sua pequena perfomance com a pedra. Você sabia que por pouco não me deu um ataque do coração? E isso não é a coisa mais fácil de se fazer".
O seu olhar furioso fez com que fosse difícil responder.
"Eu queria ajudar... Seth estava machucado..."
"Seth só estava fingindo que estava machucado, Bella. Era um truque. E aí você...!" Ele balançou a cabeça, incapaz de terminar. "Seth não podia ver o que você estava fazendo, então eu tive que intervir. Agora Seth está um pouco aborrecido porque agora não pode dizer que foi uma batalha solo"
"Seth estava... fingindo?"
Edward balançou a cabeça duramente.
"Oh."
Nós dois olhamos pra Seth, que estava nos ignorando de propósito, observando as chamas. Presunção radiava de todos os fios do pêlo dele.
"Bem, eu não sabia disso", eu disse, agora na ofensiva. "Não é fácil ser a única pessoa indefesa por perto. Espere até que eu seja uma vampira! Da próxima vez eu não vou ficar sentada nos cantos".
Uma dúzia de emoções passou pelo rosto dele e ele acabou ficando divertido. "Da próxima vez? Você está antecipando outra guerra em breve?"
"Com a minha sorte? Quem sabe?"
Ele revirou os olhos, mas eu podia ver que ele estava voando - o alívio estava fazendo com nós dois ficássemos com as cabeças leves. Estava acabado.
Ou... estava?
"Espere. Você não disse alguma coisa antes - ?" Eu vacilei, lembrando exatamente o que havia acontecido antes - o que eu ia dizer pra Jacob? Meu coração rachado correu pra uma batida dolorosa, incômoda. Era difícil de acreditar, quase impossível, mas a parte mais difícil desse dia não estava atrás de mim - e aí eu continuei.
"Sobre uma complicação? E Alice tendo que ajustar os horários pra Sam? Você disse que seria apertado. O que ia ser apertado?"
Os olhos de Edward voltaram pra Seth, e eles trocaram um olhar carregado.
"Bem?", eu perguntei.
"Não é nada, de verdade", Edward disse rapidamente. "Mas nós precisamos ir..."
Ele começou a posicionar nas costas dele, mas eu enrijecí e me afastei.
"Defina nada".
Edwardpegou meu rosto entre suas palmas. "Nós só temos um minuto, então não entre em pânico, tudo bem? Eu te disse que não haviam motivos pra ter medo. Confie em mim, por favor?"
Eu balancei a cabeça, tentando esconder o horror repentino - quão mais eu podia aguentar antes de ter um colapso? "Não hà motivo pra ter medo. Entendí"
Ele torceu os lábios por um segundo, decidindo o que dizer. E aí ele olhou abruptamente pra Seth, como se o lobo tivesse chamado por ele.
"O que ela está fazendo?" Edward perguntou.
Seth choramingou; era um som ansioso, inquieto.
Ele fez os cabelos da minha nuca se arrepiarem.
Tudo ficou em um silêncio de morte por um segundo sem fim.
E aí Edward ficou sem fôlego. "Não!" e uma das mãos dele vôou como se fosse pra pegar alguma coisa que eu não podia ver. ""Não -!"
Um espasmo balançou o corpo de Seth, e um uivo, empolado de agonia, escapou dos seus pulmões.
Edward caiu de joelhos nesse exato momento, agarrando os lados da cabeça dele com as duas mãos, o rosto dele contorcido de dor.
Eu gritei uma vez com um terror desnorteado, e caí de joelhos ao lado dele. Estupidamente, eu tentei puxar as mãos dele do seu rosto; as minhas palmas, brilhando de suor, escorregavam da pele de mármore dele.
"Edward! Edward!"
Os olhos dele se focaram em mim; com um esforço óbvio, ele separou seus dentes trincados.
"Está tudo bem. Nós vamos ficar bem. É -" Ele parou e gemeu de novo.
"O que está acontecendo?" eu chorei enquanto Seth uivou angustiado.
"Nós estamos bem. Nós vamos ficar bem", Edward resfolegou. "Sam - ajude ele -"
E eu me dei conta nesse instante, quando ele disse o nome de Sam, que ele não estava falando de sí mesmo e de Seth. Nenhuma força desconhecída estava atacando eles. Dessa vez, a crise não era aqui.
Ele estava usando o plural do bando.
Eu havia me queimado com tada a minha adrenalina. Já não restava nada mais de mim. Eu caí, e Edward me pegou antes que eu pudesse atingir as rochas. Ele ficou de pé, comigo em seus braços.
"Seth!" Edward gritou.
Seth estava curvado, ainda tenso de agonia, parecendo que estava se preparando pra se lançar floresta à dentro.
"Não!" Edward ordenou. "Você vai direto pra casa. Agora. O mais rápido que você puder!"
Seth choramingou, balançando a cabeça de um lado pro outro.
"Seth. Confie em mim".
O enorme lobo olhou pra os olhos agoniados de Edward por um longo segundo, e aí ele se endireitou e vôou para as árvores, desaparecendo como um fantasma.
Edward me apertou com força contra o seu peito, e aí nós também estávamos correndo pela floresta sombria, tomando um caminho diferente do do lobo.
"Edward", eu forcei a sair pela minha garganta bloqueada. "O que aconteceu, Edward? O que aconteceu com Sam? Onde estamos indo? O que está acontecendo?"
"Nós temos que voltar para a clareira", ele me disse com uma voz baixa. "Nós sabíamos que havia uma boa probabilidade disso acontecer. Mais cedo essa manhã, Alice viu isso e passou de Sam pra Seth. Os Volturi decidiram que era hora de interceder".
Os Volturi.
Era demais. A minha mente se recusava a entender o sentido das palavras, fingia que eu não conseguia entender.
As árvores passavam voando por nós. Ele estava correndo abaixo tão rápido que eu sentia como se estivéssemos levitando, perdendo o controle.
"Não entre em pânico. Eles não estão vindo por nós. É só o contingente normal da guarda que geralmente limpa esse tipo de bagunça. Nada importante, eles só estão fazendo seu trabalho. É claro, eles parecem ter planejado o timing de sua chegada muito cuidadosamente. O que me leva a acreditar que ninguém na Itália teria sentido muito se um desses recém-nascidos tivessem redizido o tamanho da família Cullen" As palavras sairam entre os dentes dele, duras e inexpressívas. "Eu vou saber com certeza o que eles estavam pensando quando eles chegarem na clareira".
"É por isso que estamos voltando?", eu sussurrei. Será que eu podia lidar com isso? Imagens de robes flutuantes se grudaram na minha cabeça contra a minha vontade, e eu me separei delas. Eu estava perto do ponto final.
"É parte da razão. Em grande parte, será mais seguro se nós apresentarmos uma frente unida a esse ponto. Eles não tem motivos pra nos atacar, mas... Jane está com eles. Se ela soubesse que estávamos em algum lugar, longe dos outros, isso podia tentar ela. Como Victoria, Jane provavelmente vai adivinhar que eu estou com você. Demetri, é claro, está com ela. Ele podia me encontrar, se Jane pedisse isso a ele".
Eu não queria pensar nesse nome. Eu não queria queria ver aquele rosto impressionantemente primoroso, infantil, na minha cabeça. Um som estranho saiu da minha garganta.
"Shh, Bella, shh. Vai ficar tudo bem. Alice consegue ver isso".
Alice podia ver? Mas... então onde estavam os lobos? Onde estava o bando?
"O bando?"
"Eles tiveram que ir embora rapidamente. Os Volturi não honram tréguas com lobisomens".
Eu ouví a minha respiração ficar mais alta, mas eu não conseguí controlá-la. Eu comecei a asfixiar.
"Eu juro que eles ficarão bem", Edward me prometeu. "Os Volturi não reconhecerão o cheiro - eles não se darão conta de que os lobos estão aqui; essa não é uma espécie com a qual eles estão familiarizados. O bando ficará bem".
Eu não conseguí processar a explicação dele. A minha concentração estava aos trapos por causa do medo. Nós vamos ficar bem, ele havia dito antes... e Seth, uivando de agonia... Edward tinha evitado a minha primeira pergunta, me distraiu com os Volturi...
Eu estava muito próxima do limite - me segurando com as pontas dos dedos.
As árvores estavam passando por ele como um vulto ao redor dele, como água de jade.
"O que aconteceu?", eu sussurrei de novo. "Antes. Quando Seth estava uivando? Quando você estava machucado?"
Edward hesitou.
"Edward! Me diga!"
"Está tudo acabado", ele sussurrou. Eu mal conseguia ouvir ele com todo o vento que a velocidade dele criava. "Os lobos não contaram a metade deles... eles acharam que já haviam destruído todos. É claro, Alice não pôde ver..."
"O que aconteceu?!"
"Um dos recém-nascidos estava se escondendo... Leah encontrou ele - ela estava sendo estúpida, convencida, tentando provar alguma coisa. Ela cercou ele sozinha..."
"Leah", eu repetí, e eu estava fraca demais pra me sentir envergonhada pelo alívio que tomou conta de mim. "Ela vai ficar bem?"
"Leah não se machucou", Edward murmurou.
Eu encarei ele por um longo segundo.
Sam - ajude ele - Edward tinha ofegado. Ele, não ela.
"Estamos quase lá", Edward disse, e ele olhou para um ponto fixo no céu.
Automaticamente, os meus olhos seguiram os dele. Havia uma nuvem escura roxa pairando baixa acima das árvores. Mas estava tão anormalmente ensolarado... Não, não uma nuvem - eu reconhecí a coluna grossa de fumaça, assim como aquela no nosso acampamento.
"Edward, eu disse, minha voz quase inaudível. "Edward, alguém se machucou".
Eu tinha ouvido a agonia de Seth, visto a tortura no rosto de Edward.
"Sim", ele sussurrou.
"Quem?", eu perguntei, apesar, é claro, de que eu já sabia a resposta.
É claro que eu sabia. É claro.
As árvores estavam ficando mais lentas ao nosso redor enquanto nos aproximavamos do nosso destino.
Ele levou um longo momento pra responder.
"Jacob", ele disse.
Eu fui capaz de balançar a cabeça uma vez.
"É claro", eu sussurrei.
E aí eu escorreguei do limite ao qual eu estava me segurando dentro da minha cabeça.
Tudo ficou preto.

Primeiro eu fiquei consciente das mãos frias me tocando. Mais do que um par de mãos. Braços me segurando, uma palma curvada pra levantar a minha bochecha, dedos alisando a minha testa, e mais dedos pressionados levemente na minha cintura.
Aí eu tive consciencia das vozes. No início elas só estavam cochichando, e aí elas aumentaram de volume e clareza, como se alguém estivesse aumentando um rádio.
"Carlisle - já se passaram cinco minutos" A voz de Edward, ansiosa.
"Ela vai acordar quando estiver pronta, Edward", a voz de Carlisle, sempre calma e segura. "Ela teve que lidar com muitas coisas hoje. Deixe que ela proteja sua mente por sí só".
Mas a minha mente não estava protegida. Eu estava presa no conhecimento que não havia me deixado, mesmo na inconsciência - a dor que era parte da escuridão.
E me sentí totalmente desconectada do meu corpo. Como se eu estivesse aprisionada a alguma outra parte do meu cérebro, que já não estava sob controle. Mas eu não podia fazer nada em relação a isso. Eu não conseguia pensar. A agonia era forte demais pra isso. Não havia como escapar dela.
Jacob.
Jacob.
Não, não, não, não, não...
"Alice, quanto tempo nós temos?" Edward quis saber, a voz dele ainda estava tensa; as palavras tranquilizadoras de Carlisle não haviam ajudado.
De mais distante, a voz de Alice. Era um chispado brilhante. "Mais cinco minutos. E Bella vai abrir os olhos em trinta e sete segundos. Eu não duvidaria que ela estivesse nos ouvindo agora".
"Bella, querida?" Essa era a voz suave, reconfortante de Esme. "Você consegue me ouvir? Você está a salvo agora querida".
Sim, eu estava a salvo. Isso realmente importava?
Aí haviam lábios frios no meu ouvido, e Edward estava falando as palavras que me permitiram escapar da tortura que havia me prisionado dentro da minha própria cabeça.
"Ele vai sobreviver, Bella. Jacob Black está se curando enquanto eu falo. Ele ficará bem".
Enquanto a dor e o medo se acalmavam, eu encontrei meu caminho de volta para o meu corpo. As minhas pálpebras levitaram.
"Oh, Bella", Edward suspirou aliviado, e os lábios dele tocaram os meus.
"Edward", eu sussurrei.
"Sim, eu estou aqui".
Eu fiz minhas pálpebras se abrirem, e eu olhei para o dourado cálido.
"Jacob está bem?", eu perguntei.
"Sim", ele prometeu.
Eu procurei em seus olhos algum sinal de que ele estava tentando me acalmar, mas eles estavam perfeitamente claros.
"Eu mesmo o examinei", Carlisle falou; eu virei minha cabeça pra encontrar o rosto dele, apenas alguns centímetros distante. A expressão de Carlisle estava séria e tranquilizadora ao mesmo tempo. Duvidar dele era impossível. "A vida dele não correr nenhum risco. Ele estava se curando a uma velocidade incrível, apesar de que os ferimentos dele serem extensos o suficiente pra que ele leve alguns dias pra estar de volta ao normal, mesmo se a velocidade de sua cura for estabilizada. Assim que acabarmos aqui, eu vou ver o que posso fazer por ele. Sam está tentando fazer com que ele volte a sua forma humana. Isso fará com que seja mais fácil tratá-lo" Carlisle sorriu um pouco. "Eu nunca estive na escola de veterinária".
"O que aconteceu com ele?", eu sussurrei. "Os ferimentos foram muito ruins?"
O rosto de Carlisle estava sério de novo. "Outro lobo estava com problemas -"
"Leah", eu respirei.
"Sim. Ele tirou ela do caminho, mas não teve tempo de defender a sí mesmo. O recém-nascido passou os braços ao redor dele. A maioria dos ossos de seus lado direito foram quebrados".
Eu vacilei.
"Sam e Paul chegaram lá a tempo. Ele já estava melhorando quando eles o levaram de volta para La Push".
"Ele vai voltar ao normal?", eu perguntei.
"Sim, Bella. Ele não terá nenhum dano permanente".
Eu respirei fundo.
"Três minutos", Alice disse baixinho.
Eu lutei, tentando ficar na vertical. Edward se deu conta do que eu estava tentando fazer e me ajudou a ficar de pé.
Eu olhei para a cena à minha frente.
Os Cullen estavam em um semi-círculo frouxo ao redor de uma fogueira. Já era difícil ver alguma chama, apenas a fumaça grossa, de um roxo escuro. Se espalhando como uma doença contra a grama brilhante. Jasper era o que estava mais perto da névoa de aparência sólida, em sua sombra, a pele dele não brilhava no sol tanto quanto a pele dos outros brilhava. Ele estava de costas pra mim, os ombros dele estavam tensos, seus braços um pouco estendidos. Havia mais alguma coisa, na sombra dele. Alguma coisa sobre a qual ele estava se curvando com cautelosa intensidade...
Eu estava entorpecida demais pra sentir mais do que um choque moderado quando eu me dei conta do que era.
Haviam oito vampiros na clareira.
A garota estava curvada em uma pequena bola ao lado das chamas, seus braços estavam ao redor de suas pernas. Ela era muito jovem. Mais jovem que eu - ela parecia ter talvez quinze anos, tinha cabelos escuros e ralos. Os olhos dela estavam focados em mim, e as íris eram de um vermelho chocante, brilhante. Muito mais brilhantes que os de Riley, quase cintilantes. Eles se moviam selvagemente, fora de controle.
Edward viu a minha expressão desnorteada.
"Ela se rendeu", ele me disse baixinho. "Isso é uma coisa que eu nunca ví antes. Apenas Carlisle pensou em oferecer. Jasper não aprova".
Eu não podia retirar os meus olhos da cena ao lado fogo. Jasper estava esfregando ausentemente seu antebraço.
"Jasper está bem?", eu sussurrei.
"Ele está bem. O veneno coça".
"Ele foi mordido?", eu perguntei, horrorizada.
"Ele estava tentando estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Na verdade, ele estava tentando tentando certeza de que Alice não tivesse nada pra fazer". Edward balançou a cabeça. "Alice não precisa da ajuda de ninguém".
Alice fez uma careta na direção do seu verdadeiro amor. "Bobo super-protetor".
A jovem fêmea jogou a cabeça pra trás de repente como um animal e lamentou ruidosamente.
Jasper rosnou pra ela e ela se afastou, mas os dedos dela se enterraram no chão como se fossem garras e a cabeça dela balançava pra frente e pra trás, agustiada.
Jasper deu um passo em direção a ela, se curvando ainda mais. Edward se moveu com uma casualidade excedida, virando seu corpo até que ele estava entre a garota e eu. Eu dei uma espiada ao redor do braço dele pra observar a garota e Jasper.
Carlisle estava ao de Jasper em um instante. Ele colocou uma mão restringente no braço de seu filho mais recente.
"Você mudou de idéia, minha jovem?" Carlisle perguntou, calmo como sempre. "Nós não queremos destruir você, mas se você não se controlar, nós iremos".
"Como vocês conseguem aguentar isso?" a garota rosnou numa voz alta, clara. "Eu quero ela". As íris escarlates brilhantes se focaram em Edward, através dele, além dele pra mim, e as unhas dela se enterraram no solo duro novamente.
"Você deve aguentar" Carlis disse gravemente pra ela. "Você precisa exercitar o controle. É possível, e é a única coisa que te salvará agora."
A garota agarrou a cabeça com as mãos sujas de terra, gemendo baixo.
"Não devíamos nos distanciar dela?", eu sussurrei, me agarrando ao braço de Edward.
Os lábios da garota se ergueram sobre seus dentes quando ela ouviu a minha, a expressão dela estava atormentada.
"Nós temos que ficar aqui", Edward murmurou. "Eles estão vindo pelo lado Norte da clareira nesse momento".
O meu coração começou a saltar enquanto eu vasculhava a clareira, mas eu não conseguia ver nada além da nuvem grossa de fumaça.
Depois de um segundo de procura infrutífera, o meu olhar voltou para a jovem fêmea vampira. Ela ainda estava olhando pra mim, seus olhos meio-loucos.
Eu encontrei o olhar da garota por um longo momento. Um cabelo escuro na altura do queixo emoldurava o rosto dela, que era pálido cor de alabástro. Era difícil dizer se as feições dela eram bonitas, contorcida como elas estavam de raiva e de sede. Seus olhos vermelhos ferinos eram dominantes - era difícil desviar o olhar. Ela me olhou furiosamente, estremecendo e se estorcendo a cada segundo.
Eu encarei ela, hipnotizada, me perguntando se eu estaria olhando pra um espelho de mim mesma no futuro.
Aí Carlisle e Jasper começaram a voltar para o resto de nós. Emmett, Rosalie, e Esme, todos se convergiram apressadamente ao redor de onde Edward estava com Alice e eu. Uma frente unida, como Edward havia dito, comigo no coração, no lugar mais seguro.
Eu desviei a minha atenção da garota selvagem para procurar pelos monstros que se aproximavam.
Não havia nada pra ver. Eu olhei pra Edward, e os olhos dele estava travados diretamente à frente. Eu tentei seguir o olhar dele, mas não havia nada além da fumaça - uma fumaça densa, oleosa, se torcendo baixo no chão, se erguendo preguiçosamente, ondulando sobre a grama.
Ela se ondulava para a frente, mais escura no meio.
"Hmm", uma voz morta murmurou da névoa. Eu reconhecí aquela apatia imediatamente.
"Bem-vinda, Jane", o tom de Edward era friamente cortês.
As formas escuras se aproximaram, se separando da névoa, se solidificando. Eu sabia que seria Jane na frente - o manto mais escuro, quase preto, e a menor figura por quase meio metro.
Eu mal podia ver as feições angelicais de Jane por causa das sombras do capuz.
As quatro figuras vestidas de cinza que vieram atrás dela também eram um tanto familiares. Eu tinha certeza de que reconhecia o maior, e enquanto eu encarava, tentando confirmar as minhas suspeitas, Felix olhou pra cima. Ele deixou seu capuz cair um pouco pra trás pra que eu visse ele piscando e sorrindo pra mim. Edward estava muito imóvel ao meu lado, muito controlado.
O olhar de Jane se moveu lentamente entre os rostos luminosos dos Cullen e tocou a garota recém-nascida ao lado da fogueira; a garota recém-nascida colocou as mãos na cabeça de novo.
"Eu não compreendo", a voz de Jane estava sem tom, mas não tão desinteressada quanto antes.
"Ela se rendeu", Edward explicou, respondendo à confusão na cabeça dela.
Os olhos escuros de Jane passaram para o rosto dele. "Se rendeu?"
Felix e outra sombra trocaram um rápido olhar.
Edward levantou os ombros. "Carlisle deu-a a opção".
"Não existem opções para aqueles que quebram as regras", Jane disse inexpressivamente.
Carlisle falou aí, a voz dele moderada. "Isso está em suas mãos. Enquanto ela estava disposta a cessar o seu ataque sobre nós, eu não ví nenhuma necessidade de destruí-la. Ela nunca foi ensinada".
"Isso é irrelevante", Jane insistiu.
"Como você quiser".
Jane olhou pra Carlisle consternada. Ela balançou a cabeça minimamente, e aí recompôs suas feições.
"Aro esperava que fôssemos chegar o suficiente a oeste pra vermos você, Carlisle. Ele manda suas saudações".
Carlisle balançou a cabeça. "Eu apreciaria se você mandasse as minhas pra ele".
"É claro", Jane sorriu. O rosto dela era quase adorável demais quando ela estava animada. Ela voltou em direção à fumaça. "Parece que vocês fizeram o nosso trabalho por nos hoje... em grande parte" Os olhos dela passaram para a refém. "Só por curiosidade profissional, quantos eles eram? Eles deixaram um despertar de destruição em Seattle".
"Dezoito, incluindo essa", Carlisle respondeu.
Os olhos de Jane se arregalaram, e ela olhou para o fogo de novo, parecendo medir novamente o tamanho dele. Felix e a outra sombra trocaram um olhar mais demorado.
"Dezoito?", ela repetiu, a voz dela soou incerta pela primeira vez.
"Todos novos", Carlisle disse disperssadamente. "Eles não tinham habilidade".
"Todos?", a voz dela ficou áspera. "Então quem era o criador deles?"
"O nome dela era Victoria" Edward respondeu, nenhuma emoção em sua voz.
"Era?", Jane perguntou.
Edward inclinou sua cabeça em direção à floresta mais ao leste. Os olhos de Jane levantaram e se focaram em alguma coisa à distância. A outra pilastra de fumaça? Eu não desviei o olhar pra checar.
Jane olhou pra o leste por um longo momento, e aí examinou a fogueira mais próxima novamente.
"Essa Victoria - ela separada desses dezoito aqui?"
"Sim. So havia mais um com ela. Ele não era tão novo quanto esses aqui, mas não tinha mais de um ano".
"Vinte", Jane respirou. "Quem lidou com o criador deles?"
"Fui eu", Edward disse a ela.
Os olhos de Jane se estreitaram, e ela se virou para a garota ao lado da fogueira.
"Você aí", ela disse, sua voz morta estava mais áspera do que antes. "Seu nome".
A garota recém-nascida deu um olhar pra Jane, os lábios dela pressionados com força.
Jane sorriu de volta angelicalmente.
O grito de resposta da garota recém-nascida era muito estridente; o corpo dela se arqueou rigidamente em uma posição distorcida, desnatural. Eu desviei o olhar, lutando com a vontade de cobriu meus ouvidos. Eu trinquei os meus dentes, esperando controlar o meu estômago. O grito se intensificou. Eu tentei me concentrar no rosto de Edward, calmo e sem emoção, mas isso me fez lembrar de quando era Edward quem estava sob o olhar torturante de Jane, e eu me sentí pior. Ao invés disso, eu olhei pra Alice, e Esme ao lado dela. Os rostos delas estavam tão vazios quanto o dele.
Finalmente, houve silêncio.
"Seu nome", Jane disse de novo, sua voz inflexível.
"Bree", a garota resfolegou.
Jane sorriu, a garota gritou de novo. Eu segurei a respiração até que o som da agonia dela parou.
"Ela te dirá tudo o que você quiser saber" Edward disse através de seus dentes. "Você não precisa fazer isso".
Jane olhou pra cima, de repente havia humor em seus olhos geralmente mortos. "Oh, eu sei", ela disse pra Edward, sorrindo maliciosamente pra ele antes de se virar de volta para a jovem vampira, Bree.
"Bree", Jane disse, sua voz fria de novo. "Essa história é verdade? Haviam vinte dos seus?"
A garota estava caída arquejando, o lado de seu rosto estava pressionado contra a terra. Ela falou rapidamente. "Dezenove ou vinte, talvez mais, eu não sei!" Ela vacilou, aterrorizada que a ignorância dela pudesse trazer outra rodada de tortura. "Sara e um outro que eu não sei o nome se meteram em uma briga no caminho..."
"E essa Victoria - ela criou vocês?"
"Eu não sei", ela disse, se arqueando de novo. "Riley nunca disse o nome dela. Naquela noite eu não ví... estava tão escuro, e doeu... "Bree estremeceu. "Ele não queria que fôssemos capazes de pensar nela. Ele disse que os nossos pensamentos não eram seguros..."
Os olhos de Jane olharam pra Edward, e depois de volta para a garota.
Victoria havia planejado isso bem. Se ela não tivesse seguido Edward, nunca haveria uma forma de saber que ela tinha estado envolvida...
"Me fale sobre Riley", Jane disse. "Porque ele te trouxe aqui?"
"Riley nos disse que nós tínhamos que destruir os estranhos de olhar amarelos aqui" Bree tagarelou rapidamente e com vontade. "Ele disse que seria fácil. Ele disse que essa cidade era deles, e que eles estavam vindo pra nos pegar. Ele disse que quando eles tivessem ido embora, todo o sangue seria nosso. Ele nos deu o cheiro dela" Bree levantou uma mão e apontou um dedo em minha direção. "Ele disse que nós saberíamos quando tivéssemos encontrado o grupo certo, porque ela estaria com eles. Ele disse que quem quer que a encontrasse primeiro, podia ficar com ela".
Eu ouví a mandíbula de Edward se flexionar ao meu lado.
"Parece que Riley entendeu errado a parte de ser fácil", Jane notou.
Bree balançou a cabeça, parecendo aliviada por essa conversa ter tomado um curso não doloroso. Ela se sentou cuidadosamente. "Eu não sei o que aconteceu. Nós nos separamos, mas os outros nunca voltaram. E Riley nos deixou, e não voltou pra nos ajudar como havia prometido. E aí foi tão confuso, e todo mundo estava em pedaços". Ela estremeceu de novo. "Eu estava com medo. Eu queria fugir. Aquele alí" - ela olhou pra Carlisle - "disse que não me machucaria se eu parasse de lutar".
"Ah, mas esse não era um presente a se oferecer, minha jovem", Jane murmurou, a voz dela estranhamente gentil agora. "Regras quebrdas pedem por uma consequência".
Bree encarou ela, sem compreender.
Jane olhou pra Carlisle. "Você tem certeza de que pegaram todos eles? A outra parte que se separou?"
O rosto de Carlisle estava muito calmo enquanto ele balançava a cabeça. "Nós nos dividimos também".
Jane deu um meio sorriso. "Eu não posso negar que estou impressionada". As grandes sombras atrás dela murmuraram concordando. "Eu nunca ví um grupo escapar intacto dessa magnetude de ataque. Vocês sabem o que estava por trás disso? Esse parece ser um comportamente extremo, considerando a forma como vocês vivem aqui. E porque a garota era a chave?" Os olhos dela descansaram em mim sem vontade por um breve segundo.
Eu estremecí.
"Victoria queria vingança contra Bella" Edward disse a ela, sua voz estava impassiva.
Jane riu - o som era dourado, a risada borbulhante de uma criança feliz. "Essa aí parece trazer fortes reações bizarras àqueles da nosso espécie", ela observou, sorrindo diretamente pra mim, o rosto dela beatífico.
Edward enrijeceu. Eu olhei pro rosto dele na hora de ver o rosto dele se virando, de volta pra Jane.
"Você poderia por favor não fazer isso?", ele perguntou com uma voz apertada.
Jane riu levemente de novo. "Só checando. Aparentemente, nenhum dano causado".
Eu estremecí, profundamente grata que aquela estranha falha no meu sistema - que me protegeu de Jane na última vez que nos encontramos - ainda fazia efeito. Os braços de Edward se apertaram ao me redor.
"Bem, aparentemente não tem muito mais que possamos fazer. Estranho" Jane disse, a apatia estava de volta à voz dela. "Nós não estamos acostumados a ser movidos desnecessariamente. Que pena que nós perdemos a luta. Parece que ela teria sido uma coisa muito divertida de se assistir"
"Sim", Edward respondeu rapidamente, a voz dele afiada. "E vocês estavam tão perto. É uma pena que vocês não chegaram meia hora adiantados. Talvez assim vocês tivessem concluido o seu propósito aqui".
Jane encontrou os olhos de Edward e o olhar dela não vacilou. "Sim. Realmente uma pena a forma como as coisas acabaram, não é?"
Edward balançou a cabeça uma vez pra sí mesmo, as suspeitas dele estavam confirmadas.
Jane se virou pra olhar para a recém-nascida Bree de novo, o rosto dela estava completamente enfadado. "Felix?", ela chamou.
"Espere", Edward interviu.
Jane ergueu uma sobrancelha, mas Edward estava olhando pra Carlisle enquanto falava numa voz urgente. "Nós poderíamos explicar as regras para a jovem. Ela não parece estar sem vontade de aprender. Ela não sabia o que estava fazendo."
"É claro", Carlisle respondeu. "Nós certamente estaríamos preparados pra tomar a responsabilidade por Bree".
A expressão de Jane estava dividida entre diversão e descrença.
"Nós não fazemos excessões", ela disse. "E nós não damos segundas chances. É ruim para a nossa reputação. O que me lembra..." De repente, os olhos dela estavam em mim de novo, e seu rosto de querubim sorridente. "Caius vai ficar tão interessado em ouvir que você ainda é humana, Bella. Talvez ele decia que vai fazer uma visita".
"A data está marcada" Alice disse a Jane, falando pela primeira vez. "Talvez a gente vá visitar vocês em alguns meses"
O sorriso de Jane desapareceu, e ela ergueu os ombros com indiferença, sem nunca olhar pra Alice. Ela se virou pra olhar pra Carlisle. "Bom bom conhecê-lo, Carlisle - eu pensei que Aro estava exagerando. Bem, até nos vermos novamente..."
Carlisle balançou a cabeça, a expressão dele estava doída.
"Cuide disso, Felix", Jane disse, acenando com a cabeça na direção de Bree, a voz dela estava pingando de enfado. "Eu quero ir pra casa".
"Não olhe", Edward sussurrou no meu ouvido.
Eu estava asniosa para seguir a instrução dele. Eu havia visto mais do que o suficiente por hoje - mais do que o suficiente por uma vida. Eu apertei os meus olhos com força e virei o meu rosto na direção do peito de Edward.
Mas eu ainda podia ouvir.
Houve um rosnado profundo, estrondoso, e aí um barulho alto e estridente que era horrivelmente familiar. Aquele som se cortou rapidamente, e aí o único som era o de coisas se quebrando e se partindo.
Edward esfregou as mão ansiosamente nos meus ombros.
"Venham", Jane disse, e eu olhei pra cima pra ver as costas dos altos mantos cinzas indo embora em direção à fumaça encaracolada. O cheiro de incenso ficou forte de novo - fresco.
Os mantos cinzas desapareceram dentro da névoa grossa.

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