quarta-feira, 6 de julho de 2011

Eclipse - Capítulos 26 e 27 (Últimos Capítulos)

26. Ética

O balcão no banheiro de Alice estava coberto com milhares de produtos diferentes, todos clamando embelezar a superfície de uma pessoa. Já que todo mundo nessa casa era perfeito e impermeável, eu só podia presumir que ela havia comprado todas essas coisas comigo em mente. Eu lí os rótulos entorpecidamente, golpeada pelo desperdício.
Eu era cuidadosa pra nunca olhar no longo espelho.
Alice penteava o meu cabelo com movimentos lentos, ritmicos.
"Isso é suficiente, Alice", eu disse sem tom. "Eu quero voltar para La Push".
Quantas horas eu esperei até que Charlie finalmente deixasse a casa de Billy pra que eu pudesse ver Jacob? Cada minuto, sem saber se Jacob estava respirando ou não, pareciam ser dez vidas inteiras. E aí, quando eu finalmente fui permitida de ir, pra descobrir eu mesma se Jacob estava vivo, o tempo foi embora rápido demais. Eu sentí como se eu mal pudesse recuperar o fôlego antes que Alice estivesse ligando pra Edward, insistindo que eu mantivesse essa fachada ridícula da festa do pijama. Isso parecia tão insignificante...
"Jacob ainda está inconsciente", Alice respondeu. "Carlisle ou Edward vão ligar quando ele estiver acordado. De qualquer forma, você precisa ir ver Charlie. Ele estava lá na casa de Billy, ele viu que Carlisle e Edward estão de volta da viagem, e ele pode começar a suspeitar quando você chegar em casa".
Eu já tinha a minha história memorizada e confirmada. "Eu não ligo. Eu quero estar lá quando Jacob acordar".
"Você precisa pensar em Charlie agora. Você teve um dia longo - desculpa, eu sei que isso nem começa e descrever tudo - mas isso não significa que você possa escapar das suas responsabilidades" A voz dela estava séria, quase me repreendendo. "Agora é mais importante do que nunca que Charlie fique seguro no escuro. Faça o seu papel primeiro, Bella, e aí você pode fazer o que você quiser fazer em segundo lugar. Ser meticulosamente responsavel faz parte de ser um Cullen".
É claro que ela estava certa. E se não por essa mesma razão - uma razão que era mais poderosa do que todo o meu medo e dor e culpa - Carlisle nunca teria me convencido a deixar o lado de Jacob, inconsciente ou não.
"Vá pra casa", Alice ordenou. "Fael com Charlie. Use o seu álibi. Mantenha-o a salvo".
Eu fiquei de pé, e o sangue correu para os meus pés, picando como se fossem milhares de furadas de agulha. Eu estive sentada na mesma posição por tempo demais.
"Esse vestido fica adorável em você", Alice arrulhou.
"Huh? Oh. Er - obrigada de novo pelas roupas" eu murmurei mais por cortesia do que por gratidão de verdade.
"Você precisa de evidências" Alice disse, os olhos dela inocentes e grandes. "O que é uma viagem de compras sem uma roupa nova? É muito lisonjeador, se eu puder dizer eu mesma".
Eu pisquei, incapaz de lembrar com o que ela havia me vestido. Eu não podia evitar que os meus pensamentos escapassem de mim a cada segundo, como insetos fugindo da luz...
"Jacob está bem, Bella", Alice disse, interpretando a minha preocupação com facilidade. "Não tem pressa. Se você se desse conta da quantidade extra de morfina que Carlisle teve que dar pra ele - com a temperatura dele diminuindo tão rápido - você saberia que ele vai ficar fora por uns tempos".
Pelo menos ele não estava sentindo dor. Ainda não.
"Hà alguma coisa sobre a qual você queira conversar antes de ir embora?" Alice perguntou com simpatia. "Você deve estar mais do que um pouco traumatizada".
Eu sabia sobre o que ela estava curiosa. Mas eu tinha outras perguntas.
"Eu vou ser daquele jeito?", eu perguntei, minha voz subjulgada. "Como aquela garota, Bree, na clareira?"
Haviam muitas coisas nas quais eu precisava pensar, mas eu não parecia conseguir tirá-la da minha cabeça, a recém-nascida cuja outra vida agora estava - abruptamente- acabada. O rosto dela, contorcido com o desejo pelo meu sangue, ficou marcado atrás das minhas pálpebras.
Alice alisou o meu braço. "Todo mundo é diferente. Mas algo parecido com aquilo, sim".
Eu estava muito imóvel, tentando imaginar.
"Isso passa", ela prometeu.
"Quanto tempo?"
Ela levantou os ombros. "Alguns anos, talvez menos. Pode ser diferente pra você. Eu nunca ví isso acontecer com alguém que já havia feito essa escolha com antecedência. Vai ser interessante ver como isso te afeta".
"Interessante", eu repetí.
"Nós vamos manter você longe dos problemas".
"Eu sei disso. Eu confio em vocês". A minha voz era um monotom, morta.
A testa de Alice enrugou. "Se você está preocupada com Carlisle e Edward, eu tenho certeza que eles ficarão bem. Eu acredito que Sam esteja começando a acreditar em nós... bem, confiar em Carlisle, pelo menos. Isso é uma coisa boa também. Eu imagino que a atmosfera tenha ficado um pouco tensa quando Carlisle teve que re-quebrar as fraturas -"
"Por favor, Alice".
"Desculpe".
Eu respirei fundo para me recompor. Jacob havia começado a se curar rápido demais, e alguns dos seus ossos foram para os lugares errados. Ele esteve fora durante o processo, mas mesmo assim era difícil nisso.
"Alice, posso te fazer uma pergunta? Sobre o futuro?"
Ela estava cautelosa de repente. "Você sabe que eu não vejo tudo".
"Não é isso, exatamente. Mas você o meu futuro, as vezes. Porque é que, na sua opinião, que nada funciona em mim? Nada do que Jane faz, ou Edward ou Aro..."
A minha frase desapareceu com o meu nível de interesse. A minha curiosidade nesse ponto estava levitando, pesadamente dominada por outras emoções mais conflitantes.
Alice, no entanto, achou a pergunta muito interessante. "Jasper também, Bella - o talento dele funciona tão bem em você no seu corpo como no de todo mundo. Isso é diferente, você vê? As habilidades de Jasper afetam o corpo fisicamente. Ele realmente acalma o seu sistema, ou o excita. Não é uma ilusão. E eu tenho visões de coisas que vão acontecer, não as razões e os pensamentos por trás des decisões que as criam. Esa fora da mente, também não é uma ilusão; é realidade, ou pelo menos, uma versão dela".
"Mas Jane e Edward e Aro e Demetri - eles trabalham dentro da mente. Jane apenas cria a ilusão de dor. Ela não machuca o seu corpo de verdade, você só acha que sente isso. Você vê, Bella? Você está segura dentro de sua mente. Ninguém pode te alcançar aí. Não é de se admirar que Aro esteja tão curioso sobre as suas habilidades futuras".
Ela observou o meu rosto pra ver se eu estava acompanhando a lógica dela. Na verdade, as palavras dela começaram a correr juntas, as sílabas e os sons perdendo seus significados. Eu não conseguia me concentrar nelas. Mesmo assim, eu balancei a cabeça. Tentando parecer que tinha entendido.
Ela não se deixou enganar. Ela alisou a minha bochecha e murmurou. "Ele vai ficar bem, Bella. Eu não preciso de uma visão pra saber disso. Você está pronta pra ir?"
"Mais uma coisa. Posso te perguntar outra coisa sobre o futuro? Eu não quero coisas específicas, só uma avaliação".
"Eu farei o meu melhor", ela disse, em duvida de novo.
"Você ainda consegue me ver virando uma vampira?"
"Oh, essa é fácil. É claro, eu consigo".
Eu balancei a minha cabeça lentamente.
Ela examinou o meu rosto, seus olhos estavam insondáveis. "Você não conhece a sua própria mente, Bella?"
"Eu conheço. Eu só queria ter certeza".
"Eu só tenho certeza enquanto você tiver, Bella. Você sabe disso. Se você mudasse de idéia, o que eu vejo iria mudar... ou desaparecer, no seu caso".
Eu suspirei. "No entanto, isso não vai acontecer".
Ela colocou os braços ao meu redor. "Eu lamento. Eu não consigo realmente enfatizar. A minha primeira memória é a de ver o rosto de Jasper no meu futuro; eu sempre soube que ele era pra onde a minha vida seguia. Mas eu posso simpatizar. Eu lamento que você tenha que escolher entre duas coisas boas".
Eu soltei os braços dela. "Não sinta pena de mim". Haviam pessoas que mereciam simpatia. Eu não era uma delas. E não havia nenhuma escolha pra fazer - agora eu só tinha que quebrar um coração. "Agora eu vou lidar com Charlie".
Eu dirigí a minha caminhonete pra casa, onde Charlie estava esperando tão suspeitosamente quanto Alice havia previsto.
"Hey, Bella. Como foi a viagem de compras?", ele me cumprimentou enquanto eu entrava na cozinha. Ele estava com os braços cruzados no peito, os olhos no meu rosto.
"Longa", eu disse estupidamente. "Nós acabamos de voltar".
Charlie examinou o meu humor. "Eu acho que você já ouviu de Jacob, então?'
"Sim. O resto dos Cullen nos encontrou em casa. Esme nos contou onde Carlisle e Edward estavam".
"Você está bem?"
"Preocupada com Jake. Assim que eu fizer o jantar, eu vou até La Push".
"Eu te disse que aquelas motos eram perigosas. Eu espero que isso faça você se dar conta de que eu não estava brincando".
Eu balancei a cabeça enquanto comecei a tirar coisas do congelador. Charlie se sentou na mesa. Ele parecia estar num humor mais falante do que de costume.
"Eu não acho que você precise se preocupar muito com Jake. Qualquer um que consiga xingar com toda aquela energia pode se recuperar".
"Jake estava acordado quando você viu ele?", eu perguntei, me virando pra olhar para ele.
"Oh, é, ele estava acordado. Você devia ter ouvido ele - na verdade, é melhor que você não tenha ouvido. Eu não acho que houvesse alguém em La Push que não conseguisse ouvir ele. Eu não sei onde ele arranjou aquele vocabulário, mas eu espero que ele não tenho usado aquela linguagem perto de você".
"Ele teve uma desculpa muito boa hoje. Como ele estava?"
"Acabado. Os amigos dele carregaram ele. É bom que eles sejam garotos grandes, porque aquele garoto é um bom peso. Carlisle disse que a perna direita dele está quebrada, e o seu braço direito. Grande parte do seu lado direito foi esmagado quando ele caiu daquela maldição de moto", Charlie balançou a cabeça. "Se eu ouvir algums coisa sobre você montando de novo, Bella -"
"Sem problemas, pai. Você não vai. Você realmente acha que Jake está bem?"
"Claro, Bella, não se preocupe. Ele era ele mesmo o suficiente pra zombar de mim".
"Zombar de você?", eu perguntei, chocada.
"É - entre insultar a mãe de alguém e falar o nome de Senhor em vão, ele disse, "Aposto que hoje você está feliz por ela amar um Cullen ao invés de mim, huh, Charlie?"
Eu virei de volta para o congelador pra que ele não visse o meu rosto.
"E eu não pude discutir. Edward é mais maduro do que Jacob quando se trata da sua segurança, eu tenho que admitir isso sobre ele".
"Jacob é bastante maduro", eu murmurei defensivamente. "Eu tenho certeza de que isso não foi culpa dele".
"Hoje foi um dia estranho", Charlie meditou depois de um minuto. "Sabe, eu não boto muita credibilidade nessa bobagem supersticiosa. mas foi estranho... Era como se Billy soubesse que alguma coisa ruim ia acontecer com Jake. Ele estava nervoso feito um peru na manhã de ação-de-graças. Eu não acho que ele tenha ouvido nada que eu disse pra ele.
"E aí, mais estranho ainda - se lembra de Fevereiro e Merço quando tivemos aqueles problemas com os lobos?"
Eu me abaixei pra pegar uma frigideira no armário, e me escondí lá um segundo a mais ou dois.
"É", eu murmurei.
"Eu espero que a gente não vá ter mais problemas com aquilo de novo. Essa manhã, nós estávamos no barco, e Billy não estava prestando atenção em mim e nem na pescaria, quando, do nada, você podia ouvir os lobos uivando na floresta. Mais do que um, e, garoto, aquilo foi alto. Parecia que eles estavam lá mesmo no vilarejo. A parte mais estranha foi, Billy voltou com o barco direto para o cais como se eles o estivessem chamando pessoalmente. Ele nem me ouviu perguntar a ele o que estava acontecendo.
"O barulho parou antes que nós atracássemos o barco. Mas, do nada, Billy estava na maior pressa pra não perder o jogo, apesar de que ainda tínhamos horas. Ele estava murmurando alguma loucura sobre uma apresentação mais cedo... de um jogo ao vivo? Eu te digo, Bella, foi estranho.
"Bem, nós encontramos um jogo que ele disse que queria assistir, mas depois ele simplesmente o ignorou."
"Ele ficou no telefone o tempo inteiro, ligando pra Sue, e Emily, e o avô do seu amigo Quil. Eu não conseguí entender o que ele estava procurando - ele só estava conversando com eles bem casualmente.
"Os uivos começaram de novo bem do lado de fora da casa. Eu nunca ouví nada parecido com aquilo - os meus braços ficaram arrepiados. Eu perguntei a Billy - eu tive que gritar por causa do barulho - se ele tinha colocado armadilhas no quintal dele. Parecia que o animal estava passando por muita dor".
Eu gemí, mas Charlie estava tão entretido em sua história que não me ouviu.
"É claro que eu esquecí sobre tudo isso até esse momento, porque foi nessa hora que Jake chegou em casa. O lobo ficou uivando por um minuto e você já não podia mais ouví-lo - os xingamentos de Jake abafaram o resto. Aquele garoto tem um belo par de pulmões."
Charlie parou por um minuto, seu rosto estava pensativo. "Engraçado que alguma coisa boa tenha sido tirada dessa confusão toda. Eu não pensei que eles fossem esquecer esse preconceito bobo que eles têm contra os Cullen por lá. Mas alguém ligou pra Carlisle, e Billy ficou muito agradecido quando ele apareceu. Eu achei que devíamos levar Jake para o hospital, mas Billy queria mantê-lo em casa, e Carlisle concordou. Eu acho que Carlisle sabe o que é o melhor. É generoso da parte dele aceitar receber tantas chamadas em casa".
"E..." ele pausou como se não estivesse com vontade de dizer alguma coisa. Ele suspirou, e aí continuou. "E Edward foi muito... legal. Ele parecia estar tão preocupado com Jacob quanto você estava - como se fosse um irmão dele que estivesse alí. O olhar nos olhos dele..." Charlie balançou a cabeça. "Ele é um cara decente, Bella. Eu vou tentar me lembrar disso. No entanto, eu não prometo nada" Ele sorriu pra mim.
"Eu não vou te fazer prometer", eu murmurei.
Charlie esticou as pernas e gemeu. "É bom estar em casa. Você não acreditaria em quão lotada a casinha de Bily pode ficar. Sete dos amigos de Jake se espremeram na sala da frente - eu mal podia respirar".
"Você já reparou no quanto aqueles garotos Quileute são grandes?"
"Sim, já reparei".
Charlie me encarou, os olhos dele estavam mais focados abruptamente. "Sério, Bella, Carlisle disse que Jake vai estar de pé e andando por aí em breve. Ele disse que parecia muito pior do que era na verdade. Ele vai ficar bem".
Eu só balancei a cabeça.
Jacob parecia tão... estranhamente frágil quando eu me apressei pra ir vê-lo asism que Charlie foi embora. Ele estava com suspensórios em todo lugar - Carlisle disse que não havia necessidade de gesso, já que ele estava curando tão rápido. O rosto dele estava pálido e abatido, profundamente inconsciente como ele estava na hora. Quebrável. Mesmo enorme como ele era, ele parecia muito quebrável. Talvez tivesse sido só a minha imaginação, junto com o conhecimento de que eu teria que quebrá-lo.
Se eu pudesse ser atingida por um relâmpago e ser dividida em dois pedaços. Dolorosamente, de preferência. Pelo primeira vez, desistir de ser humana pareceu ser um verdadeiro sacrifício. Como se houvessem muitas coisas para perder.
Eu coloquei o jantar de Charlie na mesa ao lado do cotovelo dele e fui para a porta.
"Er, Bella? Você pode esperar só um segundo?"
"Eu esquecí alguma coisa?", eu perguntei, olhando para o prato dele.
"Não, não. Eu só... quero te pedir um favor", Charlie fez uma careta e olhou para o chão. "Sente-se - isso não vai demorar muito".
Eu sentei em frente a ele, um pouco confusa. Eu tentei me concentrar. "O que você precisa, pai?"
"É aqui que está a essência disso, Bella", Charlie ficou corado. "Talvez eu só esteja me sentindo... supersticioso depois de ter ficado com Billy enquanto ele estava agindo tão estranho o dia inteiro. Mas eu tenho essa... sensação. Eu me sinto como se fosse... te perder em breve".
"Não seja bobo, pai" eu murmurei me sentindo culpada. "Você quer que eu vá para a escola, não quer?"
"Só me prometa uma coisa".
Eu estava hesitante, pronta pra rescindir. "Tudo bem..."
"Você vai me contar antes de fazer alguma coisa maior? Antes de fugir com ele ou alguma coisa assim?"
"Pai..." eu gemí.
"Eu tô falando sério. Eu não vou chutar o balde. Só me dê um aviso com antecedência. Me dê uma chance de te dar um abraço de adeus".
Vacilando mentalmente, eu levantei a minha mão. "Isso é bobagem. Mas, se isso te deixa feliz... Eu prometo".
"Obrigado, Bella", ele disse. "Eu te amo, guria".
"Eu te amo também, pai", eu toquei o ombro dele e me levantei da mesa. "Se você precisar de alguma coisa, eu vou estar na casa de Billy".
Eu não olhei pra trás enquanto corria pra fora. Isso foi perfeito, exatamente o que eu precisava agora. Eu murmurei pra mim mesma no caminho pra La Push.
A Mercedes preta de Carlisle não estava na frente da casa de Billy. Isso era bom e ruim. Obviamente, eu precisava falar com Jacob a sós. E mesmo assim, eu desejava poder segura a mão de Edward de alguma forma, como eu tinha feito antes, quando Jacob estava inconsciente. Impossível. Mas eu sentia falta de Edward - parecia já ter se passado muito tempo desde a minha tarde sozinha com Alice. Eu achava que isso tornava a minha resposta bastante óbvia. Eu já sabia que eu não podia viver sem Edward. Esse fato não ia tornar as coisas nem um pouco menos dolorosas.
Eu batí baixinho na porta da frente.
"Entre, Bella", Billy disse. O barulho da minha caminhonete era fácil de reconhecer.
Eu me deixei entrar.
"Hey, Billy. Ele está acordado?", eu perguntei.
"Ele se acordou a cerca de meia hora atrás, pouco antes do doutor ir embora. Eu acho que ele estava esperando por você".
Eu vacilei, e aí respirei fundo. "Obrigada".
Eu hesitei na porta do quarto de Jacob, sem ter certeza se eu devia bater. Eu decidí dar uma olhadinha antes, esperando - como a covarde que eu era - que talvez ele tivesse voltado a dormir. Eu sentí que poderia usar mais alguns minutinhos.
Eu abrí a porta e me inclinei pra dentro hesitantemente.
Jacob estava esperando por mim, seu rosto estava calmo e suave.
A aparência desfigurada, abatida, tinha desaparecido, mas apenas um vazio cuidadoso estava em seu lugar. Não havia nenhuma animação em seus olhos escuros.
Era difícil olhar nos olhos dele, sabendo que eu o amava. Isso fazia mais diferença do que eu teria pensado. Eu me perguntei se teria sido sempre assim tão difícil pra ele, todo esse tempo.
Gratamente, alguem o havia coberto com uma colcha. Era um alívio não precisar ver as extensões dos danos.
Eu entrei e fechei a porta baixinho atrás de mim.
"Oi, Jake", eu murmurei.
Ele não respondeu no início. Ele olhou pro meu rosto por um longo momento. Aí, com algum esforço, ele rearrumou a sua expressão em um sorriso levemente zombeteiro.
"É, eu meio que pensei que seria assim". Ele surpirou. "Hoje definitivamente as coisas mudaram pra pior. Primeiro, eu escolhí o pior lugar, perdí a melhor luta, e Seth ficou com toda a glória. Depois Leah ficou agindo feito uma idiota pra provar que era tão durona quanto o resto de nós e eu tive que ser o idiota que salvou ela. E agora isso". Ele fez um gesto com a mão esquerda na minha direção onde eu hesitei na porta.
"Como você está se sentindo?", eu murmurei. Que pergunta idiota.
"Um pouco chapado. O Dr. Presa não tem certeza de quanta medicação eu preciso, então ele está na base da tentativa e erro. Eu acho que ele se excedeu".
"Mas você não está sentindo dor".
"Não. Pelo menos, eu não consigo sentir os meus ferimentos", ele disse, dando um sorriso de zombaria de novo.
Eu mordí o meu lábio. Eu nunca ia conseguir fazer isso. Porque ninguém tentava me matar quando eu queria morrer?
O humor torto desapareceu do rosto dele, e os olhos dele se aqueceram. A testa dele enrugou, como se ele estivesse preocupado.
"E quanto a você?", ele perguntou, realmente parecendo preocupado. "Você está bem?"
"Eu?", eu encarei ele. Talvez ele tivesse tomado drogas demais. "Porque?"
"Bem, eu quero dizer, eu estava certo de que ele não iria te machucar de verdade, mas eu não tinha certeza do quão ruim ia ser. Eu meio que estive ficando louco de preocupação com isso desde que eu acordei. Eu não sabia se você teria permissão pra fazer uma visita ou algo assim. O suspense foi terrível. Como é que foi? Ele foi mau com você? Eu lamento se foi ruim. Eu não queria que você tivesse que passar por isso sozinha. Eu estava pensando que estaria lá..."
Eu levei um minuto pra entender. Ele continuou tagarelando, parecendo mais e mais desajeitado, até que eu entendí o que ele estava dizendo. Aí eu me apressei pra reassegurá-lo.
"Não, não, Jake! Eu estou bem. Bem demais, na verdade. É claro que ele não foi mau.
Bem que eu queria!"
Os olhos dele se arregalaram com o que parecia ser horror. "O que?"
"Ele nem ficou com raiva de mim - ele nem ficou com raiva de você! Ele é tão altruísta que isso faz com que eu me sinta ainda pior. Eu queria que ele tivesse gritado comigo ou coisa assim. Não é como se eu não merecesse... bem, coisa muito pior do que só gritarem comigo. Mas ele não se importa. Ele só quer que eu seja feliz".
"Ele não ficou com raiva?", Jacob perguntou, incrédulo.
"Não. Ele foi... gentil demais".
Jacob me encarou por outro minuto, e aí de repente ele fez uma careta. "Bem, droga!", ele rosnou.
"Qual é o problema, Jake? Está doendo?" As minhas mãos flutuaram inutilmente enquanto eu procurava pelos medicamentos dele.
"Não", ele murmurou com um tom enojado. "Eu não consigo acreditar nisso! Ele nem te deu um ultimato ou alguma coisa assim?"
"Nem perto - o que hà de errado com você?"
Ele fez uma careta e balançou a cabeça. "Eu meio que estava contando com a reação dele. Dane-se tudo. Ele é melhor do que eu pensava".
O jeito que ele disse isso, apesar de ser mais raivoso, me fez lembrar do tributo que Edward havia feito à falta de ética de Jacob essa manhã na tenda. O que significava que Jake ainda estava tendo esperanças, ainda estava lutando.
Eu gemí quando essa faca se aprofundou mais.
"Ele não está jogando nenhum jogo, Jake", eu disse baixinho.
"Pode apostar que ele está. Ele está jogando tão duro quanto eu, só que ele sabe o que está fazendo e eu não. Não me culpe por ele ser um manipulador melhor que eu - eu não estive na ativa a tanto tempo pra aprender todos os truques dele".
"Ele não está me manipulando!"
"Sim, ele está! Quando é que você vai acordar e se dar conta de que ele não é tão perfeito quanto você pensa?"
"Pelo menos ele não ameaçou se matar pra que eu o beijasse", eu disparei. Assim que as palavras tinham saído, eu corei de pesar. "Espere. Finja que isso não escapuliu. Eu jurei pra mim mesma que não falaria nada sobre isso".
Ele respirou fundo. Quando ele falou, ele estava mais calmo. "Porque não?"
"Porque eu não vim aqui pra te culpar por nada".
"Contudo, é verdade", ele disse uniformemente. "Eu fiz isso".
"Eu não ligo, Jake. Eu não estou com raiva"
Ele sorriu. "Eu também não ligo. Eu sabia que você ia me desculpar, e eu estou feliz por ter feito aquilo. Eu faria de novo. Pelo menos eu tenho isso. Pelo menos eu te fiz ver que voce me ama. Isso valeu alguma coisa".
"Valeu? Isso é realmente melhor do que se eu ainda não soubesse nada?"
"Você não acha que você devia saber como se sente - só pra que você não seja pega de surpresa quando já for tarde demais e você estiver casada com um vampiro?"
Eu balancei a minha cabeça. "Não - eu não quis dizer melhor pra mim. Eu quis dizer melhor pra você. Isso torna as coisas melhores ou piores pra você, me fazer saber que eu estou apaixonada por você? Já que isso não faz diferença do mesmo jeito. Não teria sido melhor, mais fácil pra você, se eu nunca tivesse descoberto?"
Ele estudou a minha pergunta tão seriamente quanto eu esperava, pensando cuidadosamente antes de responder. "Sim, eu acho melhor que você saiba", ele decidiu finalmente.
"Se você não tivesse descoberto... eu sempre me perguntaria se a sua decisão teria sido diferente da que foi. Agora eu sei. Eu fiz tudo o que podia". Ele inspirou o ar instavelmente, e fechou os olhos.
Dessa vez eu não resistí - não conseguí resistí - a necessidade de confortá-lo. Eu cruzei o quarto pequeno e me ajoelhei ao lado da cama dele, com medo de sentar na cama com medo de empurrá-lo e machucá-lo, e me inclinei pra tocar a minha testa na bochecha dele.
Jacob suspirou e colocou a mão dele no meu cabelo, me segurando lá.
"Eu lamento, Jake".
"Eu sempre soube que isso seria difícil. Não é culpa sua, Bella".
"Você também não", eu gemí. "Por favor".
Ele se afastou pra olhar pra mim. "O que?"
"É minha culpa. E eu estou cansada que me digam que não é".
Ele sorriu. O sorriso não tocou os olhos dele. "Você quer que eu te jogue na brasa?"
"Na verdade... eu acho que quero".
Ele torceu os lábios enquanto media o quão sério eu estava falando. Um sorriso apareceu brevemente no rosto dele, e aí ele distorceu sua expressão em uma careta feroz.
"Me beijar de volta daquele jeito foi indesculpável" Ele cuspiu as palavras e mim. "Se você sabia que ia dar pra trás, talvez você não devesse ter sido tão convincente".
Eu gemí e balancei a cabeça. "Eu sinto muito".
"Sentir muito não melhora as coisas, Bella. O que você estava pensando?"
"Eu não estava", eu sussurrei.
"Você devia ter me dito pra ir e morrer. É isso que você quer".
"Não, Jacob", eu choraminguei, lutando contra as lágrimas que se acumulavam. "Não! Nunca".
"Você não está chorando?", ele quis saber, de repente a voz dele estava de volta ao tom normal. Ele se mexeu impacientemente na cama.
"É" , eu murmurei, rindo fracamente de mim mesma através das lágrimas que de repente eram soluços.
Ela trocou seu peso, jogando a sua perna boa pra fora da cama como se ele fosse tentar ficar de pé.
"O que você está fazendo?", eu perguntei através das lágrimas.
"Deite, seu idiota, você vai se machucar!" eu pulei pra ficar de pé e empurrei o ombro dele com as duas mãos.
Ele se rendeu, se enconstando de novo com um gemido de dor, mas ele agarrou a minha cintura e mepuxou de volta para a cama, contra o lado bom dele. Eu fiquei curvada lá, tentando abafar os soluços bobos contra a pele quente dele.
"Eu não acredito que você está chorando", ele murmurou. "Você sabe que eu só disse aquelas coisas porque você queria que eu dissesse. Eu não quis dizê-las" Ele esfregou a mão no meu ombro.
"Eu sei" eu respirei fundo, atormentada, tentando me controlar. Como é que acabou sendo eu que estava chorando e ele que estava me confortando? "Contudo, isso tudo é verdade. Obrigada por dizer em voz alta".
"Eu ganho pontos por te fazer chorar?"
"Claro, Jake', eu tentei sorrir. "Quantos você quiser".
"Não se preocupe, Bella, querida. Tudo vai dar certo".
"Eu não vejo como", eu murmurei.
Ele deu um tapinha em cima da minha cabeça. "Eu vou desistir e ser bonzinho".
"Mais jogos?", eu me perguntei, levantando o meu queixo pra poder ver ele.
"Talvez", ele riu com um pouco de esforço, e aí suspirou. "Mas eu vou tentar".
Eu fiz uma careta.
"Não seja tão pessimista", ele reclamou. "Me dê um pouco de crédito".
"O que você quer dizer com 'ser bonzinho'?"
"Eu vou ser seu amigo, Bella", ele disse baixinho. "Eu não vou pedir por mais do que isso".
"Eu acho que é tarde demais pra isso, Jake. Como é que nós podemos ser amigos, quando nós amamos um ao outro desse jeito?"
Ele olhou para o teto, seu olhar estava atento, como se ele estivesse lendo alguma coisa que estivesse escrita lá. "Talvez... essa terá que ser uma amizade a longa distância".
Eu apertei os meus dentes, feliz por ele não estar olhando para o meu rosto, lutando contra os soluços que ameaçavam tomar conta de mim de novo. Eu precisava ser forte, e eu não tinha idéia de como...
"Você sabe aquela história na Biblia?" Jacob perguntou de repente, ainda lendo o teto vazio."Aquela sobre o rei e as duas mulheres brigando por um bebê?"
Claro. Rei Salomão".
"Isso mesmo. Rei Salomão", ele repetiu. "E ele disse, cortem a criança no meio... mas era só um teste. Só pra ver quem desistiria de sua metade pra proteger a criança".
"Sim, eu lembro".
Ele olhou de volta para o meu rosto. "Eu não vou mais te cortar no meio, Bella".
Eu entendí o que ele estava dizendo. Ele estava dizendo que me amava mais, que a desistência dele provava isso. Eu queria defender Edward, dizer a Jacob que Edward faria a mesma coisa se eu quisesse, se eu o deixasse fazer. Era eu que não queria renunciar à minha reinvidicação sobre ele. Mas não havia necessidade de começar uma discussão que só o magoaria mais.
Eu fechei os olhos, desejando a mim mesma que controlasse a dor. Eu não ia impor isso a ele.
Ele ficou quieto por um momento. Ele parecia estar esperando que eu dissesse alguma coisa; eu estava tentando pensar em alguma coisa pra dizer.
"Posso te dizer qual é a pior parte disso?", ele perguntou hesitantemente quando eu não disse nada. "Você se importa? Eu vou ser bonzinho".
"Isso vai ajudar?", eu sussurrei.
"Pode ser. Não pode machucar".
"Então, qual é pior parte?"
"A pior parte é saber o que teria sido".
"O que poderia ter sido". Eu suspirei.
"Não", Jacob balançou a cabeça. "Eu sou exatamente certo pra você, Bella. Teria sido fácil pra nós - confortável, fácil como respirar. Eu era o caminho natural que a sua vida teria tomado..." Ele olhou para o espaço por um momento, e eu esperei. "Se o mundo fosse do jeito que devia ser, se não houvessem monstros e nem magia..."
Eu podia ver o que ele via, e eu sabia que ele estava certo. Se o mundo fosse o lugar são que devia ser, Jacob e eu teríamos ficado juntos. E nós teríamos sido felizes. Ele era a minha alma gêmea nesse mundo - e ainda teria sido a minha alma gêmea se ele não tivesse sido obscurecido por algo mais forte, uma coisa tão forte que não podia existir no mundo racional.
Será que havia isso pra Jacob também? Alguma coisa que trunfasse uma alma gêmea? Eu tinha que acreditar que sim.
Dois futuros, duas almas gêmeas... demais pra uma pessoa só. E era muito injusto que eu não fosse a única a pagar o preço por isso. A dor de Jacob era um preço alto demais. Vacilando com o pensamento do preço, eu me perguntei se teria tomado outro caminho, se Edward não tivesse ido embora. Se eu não soubesse como era viver sem ele. Eu não tinha certeza. Aquele conhecimento era uma parte muito profunda de mim, e eu não conseguia imaginar como me sentiria sem ela.
"Ele é como uma droga pra você, Bella" A voz dele aindaera gentil, nem um pouco crítica. "Eu vejo que você não consegue viver sem ele agora. É tarde demais. Mas eu teria sido mais saudável pra você. Não uma droga; eu teria sido o ar, o sol".
O canto da minha boca virou pra cima em um meio sorriso saudoso. "Eu costumava pensar em você desse jeito, sabe. Como o sol. Meu sol particular. Você equilibrava bem as nuvens pra mim".
Ele suspirou. "Das nuvens eu posso cuidar. Mas eu não posso lutar com um eclipse".
Eu toquei o rosto dele, descansando a minha mão na bochecha dele. Ele exalou sob o meu toque e fechou os olhos. Tudo ficou muito quieto. Por um minuto, eu pude ouvir as batidas do coração dele, lentas e uniformes.
"Me diga qual é a por parte pra você", ele sussurrou.
"Essa pode ser uma má idéia"
"Por favor"
"Eu acho que vai doer".
"Por favor?"
Como eu podia negar alguma coisa a ele nesse ponto?
"A pior parte..." eu hesitei, e aí deixei as palavras fluírem, numa fonte de verdade. "A pior parte é que eu ví a coisa toda - a nossa vida inteira. Eu queria muito, Jake, eu queria tudo. Eu quero ficar bem aqui e não me mover nunca. Eu quero te amar e te fazer feliz. E eu não posso, e isso está me matando. É como Sam e Emily, Jake - eu nunca tive uma escolha. Eu sempre soube que nada mudaria. Talvez fosse por isso que eu lutei tanto contra você".
Ele pareceu estar se concentrando em respirar uniformemente.
"Eu sabia que não devia ter dito isso".
Ele balançou a cabeça lentamente.
"Não. Eu estou feliz que você tenha dito. Obrigado", ele beijou o topo da minha cabeça, e aí suspirou. "Eu vou ser bonzinho agora".
Eu olhei pra cima, e ele estava sorrindo.
"Então, você vai se casar, huh?"
"Nós não temos que falar sobre isso".
"Eu gostaria de saber alguns dos detalhes. Eu não sei quando vou falar com você de novo".
Eu tive que esperar por um minuto antes de falar. Quando eu tinha absoluta certeza de que a minha voz não ia se partir, eu respondí a pergunta dele.
"Não foi minha idéia de verdade... mas, sim. Significa muito pra ele. Eu me pergunto, porque não?"
Jake balançou a cabeça dele. "É verdade. Não é uma coisa tão grande - em comparação'.
A voz dele estava muito calma, muito prática. Eu encarei ele, curiosa pra saber como ele estava se virando, e isso arruinou tudo. Ele encontrou meus olhos por um segundo, e aí virou a cabeça dele. Eu esperei pra falar até que a respiração dele estava sob controle.
"Sim. Em comparação", eu concordei.
"Quanto tempo nós ainda temos?"
"Isso depende de quanto tempo Alice leva pra organizar um casamento", eu suprimí um gemido, imaginando o que Alice faria.
"Antes ou depois?", ele perguntou baixinho.
Eu sabia o que ele queria dizer. "Depois".
Ele balançou a cabeça. Isso era um alívio pra ele. Eu imaginei quantas noites de insônia o pensamento da minha formatura havia dado a ele.
"Você está assustada?", ele sussurrou.
"Sim", eu sussurrei de volta.
"Do que você tem medo?" Agora eu mal podia ouvir a voz dele. Ele estava olhando para as minhas mãos.
"Muitas coisas" Eu trabalhei pra deixar a minha voz mais leve, mas continuei honesta.
"Eu nunca fui muito masoquista, então, eu não estou muito ansiosa pela dor. E eu queria que houvesse alguma forma de manter ele longe - eu não quero que ele sofra comigo, mas eu não acho que haja outro jeito. Também hà Charlie, e Renée... E aí depois, eu espero ser capaz de me controlar cedo. Talvez eu seja uma ameaça tão grande que o bando vai ter que me destruir".
Ele me olhou com uma expressão desaprovadora. "Eu daria uma paralisia a qualquer um dos meus irmãos que tentasse".
"Obrigada".
Ele sorriu sem vontade. Aí ele fez uma careta. "Mas isso não é mais perigoso que isso? Em todas as histórias, eles dizem que é difícil demais... eles perdem o controle... as pessoas morrem..." Ele engoliu seco.
"Não, eu não estou com medo disso. Jacob bobo - você não sabe que não deve acreditar em histórias de vampiros?"
Ele obviamente não apreciou a minha tentativa de humor.
"Bem, de qualquer jeito, muita coisa pra se preocupar. Mas no fim, vale a pena".
Ele balançou a cabeça sem vontade, e eu sabia que não tinha jeito de ele concordar comigo.
Eu estiquei o meu pescoço pra sussurrar no ouvido dele, descansando a minha bochecha contra a pele quente dele. "Você sabe que eu te amo".
"Eu sei", ele respirou, os braços dele se apertando automaticamente ao redor da minha cintura. "Você sabe o quanto eu queria que isso fosse suficiente".
"Sim".
"Eu sempre estarei esperando dos lados, Bella", ele promereu, deixando seu tom leve e afrouxando os braços. Eu me afastei com uma sensação entorpecente, arrastada, de perda, sentindo a separação rasgante enquanto eu deixava uma parte de mim para trás, lá na cama ao lado dele. "Você sempre vai me ter como segunda opção se quiser".
Eu fiz um esforço pra sorrir. "Até que o meu coração pare de bater".
Ele sorriu de volta. "Sabe, eu acho que ainda vou aceitar você - talvez. Eu acho que vai depender do quanto você vai feder".
"Eu devo voltar pra te ver? Ou você preferiria que eu não viesse?"
"Eu vou pensar nisso e te avisar",ele disse. "Eu posso precisar de companhia pra evitar ficar louco. O vampiro cirurgião extraordinário disse que eu não posso me transformar até que ele diga que está tudo bem - isso pode estragar a forma como os meus ossos estão arrumados". Jacob fez uma cara.
"Seja bonzinho e faça o que Carlisle disser pra fazer. Você mais melhorar mais rápido".
"Claro, claro".
"Eu me pergunto quando vai acontecer", eu disse. "Quando a garota certa vai te chamar a atenção".
"Não tenha grandes esperanças, Bella" A voz de Jacob estava amarga de repente. "Apesar de que eu estou certo de que isso seria um alívio pra você".
"Talvez, talvez não. Eu provavelmente vou achar que ela não é boa o suficiente pra você. Eu me pergunto o quão ciumenta eu vou ser".
"Essa parte pode ser meio divertida", ele admitiu.
"Me avise quando você quiser que eu volte, e eu estarei aqui", eu prometí.
Com um suspiro, ele virou a bochecha na minha direção.
Eu me inclinei e beijei o rosto dele suavemente. "Te amo, Jacob"
Ele riu levemente. "Te amo mais".
Ele me observou sair do quarto dele com uma expressão insondável em seus olhos pretos.

27- Necessidades

Eu não fui muito longe antes que fosse impossível dirigir.
Quando eu não podia mais enxergar, eu deixei os meus pneus encontrarem o acostamento o rolarem lentamente até pararem. Eu me joguei no banco e deixei que a fraqueza que eu tinha lutado no quarto de Jacob se apoderasse de mim. Foi pior do que eu pensava - isso me surpreendeu. Sim, eu tinha estado certa de esconder isso de Jacob. Ninguém devia ver isso.
Mas eu não fiquei sozinha por muito tempo - só exatamente o tempo necessário pra Alice me ver aqui, e depois os poucos minutos que levaram até que ele chegasse lá. A porta se abriu, e ele me puxou para os seus braços.
No início foi pior. Porque havia aquela menor parte de mim - menor, mas ficando mais alta e mais raivosa a cada minuto, gritando com o resto de mim - que desejava um par diferente de braços. Depois houve culpa fresca pra sancionar a dor.
Ele não disse nada, só me deixou soluçar até que eu comecei a dizer o nome de Charlie.
"Você realmente está pronta pra voltar pra casa?", ele perguntou duvidosamente.
Eu consegui dizer, depois de algumas tentativas, que eu não ia ficar melhor muito cedo. Eu precisava passar por Charlie antes que fosse tarde suficiente pra ele ligar pra Billy.
Então, ele me levou pra casa - pela primeira vez nem chegando perto do limite de velocidade da minha caminhonete - mantendo um braço ao meu redor com força. O caminho inteiro, eu lutei pra ter controle. Parecia ser um esforço inútil no começo, mas eu não desistí. Só alguns segundos, eu disse a mim mesma. Só o tempo para algumas deculpas, algumas mentiras, e aí eu podia ter um ataque de novo. Eu tinha que ser capaz de fazer isso. Eu vasculhei a minha cabeça, procurando desesperadamente por uma reserva de força.
Só havia suficiente pra que eu aquietasse os soluços - segura-los, mas não acabar com eles. As lágrimas não diminuiram. Eu não parecia conseguir encontrar controle suficiente pra sequer começar a trabalhar com essas.
"Espere por mim lá em cima", eu murmurei quando nós estávamos na frente de casa.
Ele me abraçou mais paetado por um minuto, e depois ele desapareceu.
Quando dentro, eu fui direto para as escadas.
"Bella?", Charlie chamou no seu lugar de sempre no sofá quando eu passei.
Eu me virei pra olhar pra ele sem falar. Os olhos dele se arregalaram, e ele se lançou pra ficar de pé.
"O que aconteceu? É Jacob...?", ele quis saber.
Eu balancei a minha cabeça furiosamente, tentando encontrar a minha força. "Ele está bem, ele está bem." eu prometí, minha voz baixa e rouca. A Jacob estava bem, fisicamente, que era com o que Charlie estava preocupado no momento.
"Mas o que aconteceu?" ele agarrou os meus ombros, os olhos dele ansiosos e grandes. "O que aconteceu com você?"
Eu devia estar pior do que eu tinha imaginado.
"Nada, pai, eu... só tive que falar com Jacob... algumas coisas que foram difíceis. Eu tô bem".
A ansiedade se acalmou, e foi substituída pela desaprovação.
"Será que essa era mesmo a melhor hora?" ele perguntou.
"Provavelmente não, pai, mas eu não tinha alternativas - eu simplesmente cheguei em um ponto em que eu precisava escolher... As vezes, não tem como manter o compromisso".
Ele balançou a cabeça lentamente. "Como foi que ele lidou com isso?"
Eu não respondí.
Ele olhou pro meu rosto por um minuto, e aí balançou a cabeça. Aquela devia ser resposta suficiente.
"Eu espero que você não tenha estragado a recuperação dele".
"Ele se cura rápido", eu murmurei.
Charlie suspirou.
Eu podia sentir o controle desaparecendo.
"Eu vou estar no meu quarto", eu disse a ele, levantando os ombros embaixo das mãos dele.
"Tá", Charlie concordou. Ele provavelmente conseguia ver as cascatas começando a funcionar. Nada assustava Charlie mais do que lágrimas.
Eu fiz o caminho para o meu quarto, cega e tropeçando.
Uma vez dentro, eu lutei com o abridor da minha pulseira, tentando abrí-la com os dedos tremendo.
"Não, Bella", Edward sussurrou, capturando as minhas mãos. "Isso é parte de quem você é".
Ele me puxou para o berço dos seus braços e os soluços ficaram livres de novo.
O mais longo dos dias parecia estar se esticando mais e mais. Eu me perguntei se ele ia acabar um dia.
Mas, apesar da noite ter se passado implacavelmente, não foi a pior noite da minha vida. Eu tirei conforto disso. E eu não estava sozinha. Havia uma boa quantidade de conforto nisso também.
O medo de Charlie de descontroles emocionais evitou que ele viesse me checar, apesar de eu não ter ficado quieta - ele provavelmente não dormiu mais que eu.
A minha compreensão tardia parecia insuportavelmente clara essa noite. Eu podia ver cada erro que eu havia cometido, cada dano que eu havia causado, as coisas pequenas e as coisas grandes. Cada dor que eu havia causado a Jacob, cada ferida que eu havia dado a Edward, foram aumentando em pilhas organizadas que eu não podia ignorar e nem negar.
Eu eu me dei conta de que estive errada o tempo inteiro sobre os imãs. Não eram Edward e Jacob que eu estava tentando forçar a ficarem juntos, eram as duas partes de mim mesma, a Bella de Edward e a Bella de Jacob. Mas elas não podiam existir juntas, e eu nunca devia ter tentado.
Eu havia causado tanto dano.
Em algum ponto da noite, eu me lembrei da promessa que havia feito a mim mesma essa manhã - que eu nunca faria Edward ver vertendo outra lágrima por Jacob. Esse pensamento trouxe uma rodada de histeria que assustou Edward mais do que a choradeira. Mas isso passou também, quando teve que passar.
Edward disse pouco; ele só me segurou na cama e me deixou arruinar a camisa dele, pingando de água salgada.
Levou mais tempo do que eu esperava para aquela parte menor de mim, a parte quebrada, chorar tudo. Aconteceu, no entanto, e eventualmente eu fiquei exausta o suficiente pra dormir. A inconsciencia não trouxe alívio completo da dor, só uma calma entorpecida, como se fosse um medicamento. A tornou mais suportável. Mas ela ainda estava lá; eu estava consciente dela, mesmo adormecida, e isso me ajudou a fazer os ajustes que eu precisava fazer.
A manhã trouxe consigo, se não uma perspectiva mais clara, pelo menos uma medida de controle, alguma aceitação. Instintivamente, eu soube que a nova lágrima do meu coração sempre doeria. Isso simplesmente seria uma parte de mim agora. O tempo faria ser mais fácil - isso era o que todo mundo sempre dizia. Mas eu não me importava se o tempo me curasse ou não, contanto que Jacob pudesse melhorar. Pudesse ser feliz de novo.
Quando eu acordei, não havia nenhuma desorientação. Eu abrí meus olhos - finalmente secos - e encontrei o olhar ansioso dele.
"Hey", eu disse. Minha voz estava rouca. Eu limpei a minha garganta.
Ele não respondeu. Ele me observou, esperando que aquilo começasse.
"Não, eu estou bem", eu prometí. "Aquilo não vai acontecer de novo".
Os olhos dele se estreitaram com as minhas palavras.
"Eu lamento que você tenha que ter visto isso", eu disse. "Aquilo não foi justo com você".
Ele colocou as mãos dos dois lados do meu rosto.
"Bella... você tem certeza? Você fez a escolha certa? Eu nunca ví você sofrendo tanto -" A voz dele se partiu na última palavra.
Mas eu já havia conhecido dor pior.
Eu toquei os lábios dele. "Sim".
"Eu não sei..." A sobrancelha dele se contraiu. "Se isso te machuca tanto, como é que pode ser a coisa certa pra você?"
"Edward, eu sei que eu não posso viver sem".
"Mas..."
Eu balancei a minha cabeça. "Você não entende. Você pode ser corajoso o suficiente ou forte o suficiente pra viver sem mim, se isso for para o melhor. Mas eu nunca poderia me auto-sacrificar desse jeito. Eu tenho que estar com você. É a única forma de que poder viver".
Eu ainda parecia estar duvidando. Eu nunca devia ter deixado ele ficar comigo na noite passada. Mas eu tinha precisado tanto dele...
"Me passa aquele livro, por favor?", eu perguntei, apontando por cima do ombro dele.
As sobrancelhas dele se juntaram de confusão, mas ele o deu pra mim rapidamente.
"Isso de novo?", ele perguntou.
"Eu só queria encontrar essa parte da qual eu me lembrei... pra ver como ela disse..." Eu passei as páginas do livro, encontrando facilmente a página que eu queria. O canto estava parecendo uma orelha de cachorro pela quantidade de vezes que eu já tinha parado ali. "Cathy é um monstro, mas haviam algumas coisas que ela entendia direito", eu murmurei. Eu lí as linhas baixinho, eu grande parte pra mim mesma. "Se todo o resto perecesse, e ele permanecesse, eu deveria continuar a existir; se todo o resto permanecesse, e ele fosse aniquilado, o universo se transformaria em um poderoso estranho", eu balancei a cabeça, de novo pra mim mesma. "Eu sei exatamente o que ela quer dizer. Eu sei quem eu não posso viver sem".
Edward pegou o livro das minhas mãos e o atirou através do meu quarto - ele caiu com um leve thud na minha mesa. Ele passou os braços ao redor da minha cintura.
Um sorriso iluminou o seu rosto perfeito, apesar de que ainda havia uma linha de preocupação na testa dele. "Heathcliff também teve seus momentos",ele disse. Ele não precisou do livro pra dizer as palavras com perfeição. Ele me puxou mais pra perto em seus braços e sussurrou no meu ouvido. "'Eu não posso viver a minha vida! Eu não posso viver sem a minha alma!"
"Sim", eu disse baixinho. "É disso que eu estou falando".
"Bella, eu não consigo aguentar que você esteja infeliz. Talvez..."
"Não, Edward. Eu fiz uma verdadeira bagunça com as coisas, e eu vou ter que viver com isso. Mas eu sei o que eu quero e o que eu preciso... e o que eu vou fazer agora."
"O que nós vamos fazer agora?"
Eu rí um pouquinho com a correção dele, e aí suspirei. "Nós vamos ver Alice".
Alice estava no topo das escadas da varanda, hiperativa demais pra esperar do lado de dentro. Ela parecia a ponto de começar a fazer uma dança de celebração, de tão excitada que eu estava com a notícia que eu estava lá pra dar.
"Obrigada, Bella!", ela cantou assim que nós saímos da caminhonete.
"Espere, Alice", eu avisei a ela, levantando uma mão pra parar a alegria dela. "Eu tenho algumas limitações pra você".
"Eu sei, eu sei, eu sei. Eu só tenho até treze de Agosto no máximo, você tem poder de veto na lista dos convidados, e se eu exagerar em alguma coisa, você nunca mais vai falar comigo de novo".
"Oh, ok. Bem, é. Então, você sabe as regras".
"Não se preocupe, Bella, será perfeito. Você quer ver o seu vestido?"
Eu tive que respirar fundo algumas vezes. Qualquer coisa que deixar ela feliz, eu disse pra mim mesma.
"Claro".
O sorriso de Alice era presumido.
"Um, Alice?", eu disse, me mantendo casual, um tom tranquilo na minha voz. "Quando foi que você me comprou um vestido?"
Isso provavelmente não era bem um show. Edward apertou a minha mão.
Alice guiou o caminho pra dentro, indo direto para as escadas. "Essas coisas levam tempo, Bella", Alice explicou. "Quer dizer, eu não tinha certeza de que as coisas acabariam desse jeito, mas havia uma distinta possibilidade..."
"Quando?", eu perguntei de novo.
"Perrine Bruyere tem uma lista de espera, sabe", ela disse, agora na defensiva. "Obras primas dos tecidos não acontecem da noite pra o dia. Se eu não tivesse me adiantado, você estaria usando um trapo qualquer!"
Não parecia que eu ia conseguir uma reposta direta. "Per - quem?"
"Ele não é o maior disigner, Bella, então não precisa dar um piti. No entanto, ele é uma promessa, e é especialista no que eu precisava".
"Eu não estou dando piti".
"Não, não está" Ela olhou meu rosto calmo com suspeita. Aí, enquanto entravamos no quarto dela, ela se virou pra Edward.
"Você - fora".
"Porque?", eu quis saber.
"Bella", ela gemeu. "Você sabe as regras. Ele não pode ver o vestido até o dia".
Eu respirei fundo de novo. "Isso não importa pra mim. E você sabe que ele já o viu em sua cabeça. Mas se é assim que você quer..."
Ela empurrou Edward de volta pela porta. Ele nem olhou pra ela - os olhos dele estavam em mim, cautelosos, com medo de me deixar sozinha.
Eu balancei a cabeça, esperando que a minha expressão estivesse tranquila o suficiente pra reassegurar ele.
Alice fechou a porta no rosto dele.
"Tudo bem!", ela murmurou. "Vamos".
Ela agarrou o meu pulso e me puxou para o closet dela - que era maior do que o meu quarto - e me arrastou até o canto do fundo, onde uma bolsa de artigo de vestuário tinha uma prateleira só pra sí.
Ela abriu o zíper da bolsa num movimento rápido, e depois o escorregou cuidadosamente no cabide. Ela deu um passo pra trás, segurando a mão na direção do vestido como se fosse uma apresentadora de um game show.
"Bem?", ela perguntou sem fôlego.
Eu avaliei por um longo momento, brincando com ela um pouco. A expressão dela ficou preocupada.
"Ah", eu disse, e sorrí, deixando ela relaxar. "Eu vejo".
"O que você acha?", ela quis saber.
Era a minha visão de Anne of Green Gables de novo.
"É perfeito, é claro. Exatamente certo. Você é um gênio".
Ela sorriu. "Eu sei".
"Mil novecentos de dezoito?", eu adivinhei.
"Mais ou menos", ela disse, balançando a cabeça. "Um pouco dele é meu design, a trena, o véu..." Ela tocou o cetim branco enquanto falava. "O laço é um vintage. Você gosta?"
"É lindo. É exatamente certo pra ele".
"Mas é certo pra você?", ela insistiu.
"Sim, eu acho que é, Alice. Eu acho que é exatamente o que eu estava precisando. Eu sei que você fará um trabalho ótimo com isso... se você puder se controlar".
Ela se irritou.
"Posso ver o seu vestido?', eu perguntei.
Ela piscou, seu rosto confuso.
"Você não encomendou o seu vestido de dama-de-honra ao mesmo tempo? Eu não quero a minha madrinha vestindo algum trapo", eu fingí estremecer de horror.
Ela jogou os braços ao redor da minha cintura. "Obrigada, Bella!"
"Como é que você não conseguiu enxergar isso?", eu zombei, beijando o seu cabelo espetadinho. "Bela psíquica você é!"
Alice dançou de volta, e o rosto dela estava brilhando com excitação fresca. "Eu tenho tanto pra fazer! Vá brincar com Edward. Eu tenho um trabalho a fazer".
Ela saiu correndo do quarto, gritando, "Esme!" enquanto desaparecia.
Eu seguí no meu próprio passo. Edward estava esperando por mim no corredor, encostado na parede forrada de madeira.
"Aquilo foi muito, muito legal da sua parte", ele disse pra mim.
"Ela parece feliz", eu concordei.
Ele tocou o meu rosto; os olhos dele - escuros demais, já fazia tanto tempo desde que ele havia me deixado - vasculharam a minha expressão minunciosamente.
"Vamos sair daqui", ele sugeriu de repente. "Vamos para a nossa clareira".
Parecia bastante tentador. "Eu acho que não preciso mais me esconder, preciso?"
"Não. O perigo está atrás de nós".
Ele estava quieto, pensativo, enquanto corria. O vento batia no meu rosto, mais quente agora que a tempestade realmente havia passado. As nuvens cobriam o céu, do jeito que faziam sempre.
A clareira hoje era um lugar pacífico, feliz. Remendos das margaridas de verão interrompiam a grama com tons de branco e amarelo. Eu me deitei, ignorando a leve sujeira no chão, e olhei para as figuras nas nuvens. Eles eram macias demais, uniformes demais. Sem figuras, só um cobertos macio, cinza.
Edward deitou ao meu lado e segurou a minha mão.
"Treze de Agosto?", ele perguntou casualmente depois de alguns minutos de um silêncio confortável.
"Isso me dá um mês até o meu aniversário. Eu não queria chegar tão perto".
Ele suspirou. "Esme é três anos mais velha que Carlisle - tecnicamente. Você sabia disso?"
Eu balancei a minha cabeça.
"Isso não fez diferença pra eles".
A minha voz estava serena, um contraponto com a ansiedade dele. "A minha idade realmente não é tão importante. Edward, eu estou preparada. Eu escolhí a minha vida - agora eu quero começar a vivê-la".
Ele alisou o meu cabelo. "O veto da lista de convidados?"
"Eu realmente não ligo, mas eu... " eu hesitei, sem querer explicar isso. Era melhor acabar logo com isso. "Eu não tenho certeza de que Alice sentiria a necessidade de convidar... alguns lobisomens".
"Eu não sei se... Jake sentiria... que ele devia vir. Como se essa é a coisa certa a fazer, ou que os meus sentimentos se magoariam se ele não viesse. Ele não devia ter que passar por isso".
Edward ficou quieto por um minuto. Eu olhei para o topo das árvores, quase pretas contra o cinza leve do céu.
De repente, Edward me pegou pelo pulso e me puxou para o peito dele.
"Me diga porque você está fazendo isso, Bella. Porque você decidiu, agora, dar liberdade total à Alice?"
Eu repeti pra ele a conversa que tinha tido com Charlie na noite passada antes de ir ver Jacob.
"Não seria justo manter Charlie de fora disso", eu concluí. "E isso significa Renée e Phil. Eu posso muito bem deixar Alice se divertir também. Talvez a coisa toda seja mais fácil pra Charlie se ele tiver uma despedida apropriada. Se ele acha que é cedo demais, eu não vou querer roubar dele a chance de me levar pela igreja", eu fiz uma careta com as palavras, aí respirei fundo de novo. "Pelo menos a minha mãe e o meu pai e os meus amigos vão saber da melhor parte da minha escolha, a parte que eu tenho permissão de contar pra eles. Eles saberão que eu escolhi você, e eles saberão que estamos juntos. Eles saberão que eu estou feliz, onde quer que eu esteja. Eu acho que isso é o melhor que eu posso fazer por eles".
Edward segurou o meu rosto, procurando por um breve momento.
"O acordo está acabado", ele disse abruptamente.
"O quê?", eu asfixiei. "Você está dando pra trás? Não!"
"Eu não estou dando pra trás, Bella. Eu ainda vou manter o meu lado da barganha. Mas você fica fora disso. O que você quiser, nada de correntes".
"Porque?"
"Bella, eu vejo o que você está fazendo. Você está tentando deixar todas as outras pessoas felizes. E eu não me importo com os sentimentos de mais ninguém. Eu só preciso que você seja feliz. Não se preocupe em dar as notícias a Alice. Eu vou cuidar disso. Eu prometo que ela não vai fazer com que você se sinta culpada".
"Mas eu -"
"Não. Você vai fazer isso do seu jeito. Porque do meu jeito não funciona. Eu te chamo de teimosa, mas olha só o que eu fiz. Eu fiquei colado com essa minha obstinação idiota da minha idéia do que era melhor pra você, apesar de que isso só te machucou. Te machucou tão profundamente, de novo e de novo. Eu não confio mais em mim mesmo. Você pode ter a felicidade do seu jeito. O meu jeito está sempre errado. Então" Ele mudou de posição embaixo de mim, enquandrando os ombros. "Nós vamos fazer isso do seu jeito, Bella. Essa noite. Hoje. Quanto mais cedo melhor. Eu vou falar com Carlisle. Eu estava pensando antes que talvez, se nós te déssemos morfina suficiente, não seria tão ruim. Vale a pena tentar". Ele apertou os dentes.
"Edward, não -"
Ele colocou um dedo nos meus lábios. "Não se preocupe, Bella, amor. Eu não esquecí o resto dos seus pedidos".
As mãos dele estavam no meu cabelo, os lábios dele se movendo suavemente - mas muito seriamente - contra os meus, antes que eu me desse conta do que ele estava dizendo. O que ele estava fazendo.
Não havia muito tempo pra agir. Se eu esperasse tempo demais, eu não seria capaz de me lembrar porque eu precisava pará-lo. Eu já não conseguia respirar direito. As minhas mãos estavam apertando os braços dele, apertando mais ele contra mim, a minha boca se colou à dele e respondeu todas as perguntas não feitas que ele tinha na cabeça.
Eu tentei limpar a minha cabeça, pra encontrar uma forma de falar.
Ele rolou gentilmente, me pressionando na grama.
Oh, deixa pra lá! O meu lado menos noble exultou. A minha cabeça estava cheia com a doçura da respiração dele.
Não, não, não, eu discutí comigo mesma. Eu balancei a minha cabeça, e a boca dele se moveu para o meu pescoço, me dando uma chance de respirar.
"Pare, Edward. Espere" A minha voz estava tão fraca quanto a minha força de vontade.
"Porque?", ele sussurrou na base da minha garganta.
Eu trabalhei pra colocar alguma resolução no meu tom. "Eu não quero fazer isso agora".
"Não quer?", ele perguntou, com um sorriso na voz. Ele moveu seu lábios de volta para os meus, e falar ficou impossível. Calor correu pelas minha veias, queimando a minha pele onde ela tocava a dele.
Eu me fiz ficar concentrada. Eu tive que me esforçar bastante só pra libertar as minhas mãos do cabelo dele, pra movê-las para o peito dele. Mas eu conseguí. E ai eu empurrei ele, tentando afastá-lo. Eu não podia conseguir sozinha, mas ele respondeu como eu sabia que iria.
Ele se afastou alguns centímetros de mim pra me olhar, e os olhos dele não fizeram nada além de ajudar na minha resolução. Eles eram um fogo negro. Eles estavam chamuscando.
"Porque?", ele perguntou de novo, a voz dele estava baixa e áspera. "Eu amo você. Eu te quero. Agora mesmo".
As borboletas no meu estômago flutuaram para a minha garganta. Ele se aproveitou da minha falta de fala.
"Espere, espere", eu tentei dizer através dos lábios dele.
"Não por mim", ele murmurou em discordância.
"Por favor?", eu ofeguei.
Ele gemeu, e se empurrou pra longe de mim, rolando de volta para as suas costas.
Nós dois ficamos lá deitados por um minuto, tentando diminuir as nossas respirações.
"Me diga porque não, Bella" ele quis saber. "É melhor que isso não seja sobre mim".
Tudo no meu mundo era sobre ele. Que coisa boba pra ele esperar.
"Edward, isso é muito importante pra mim. Eu vou fazer isso do jeito certo".
"A definição de quem do que é certo?"
"A minha".
Ele rolou pra se equilibrar no cotovelo e me encarou, a expressão dele estava desaprovadora.
"Como você vai fazer isso do jeito certo?"
Eu respirei fundo. "Com responsabilidade. Tudo na ordem certa. Eu não vou deixar Charlie e Renée sem a melhor resolução que eu puder dar pra eles. E eu não vou negar a diversão a Alice, já que eu vou ter um casamento do mesmo jeito. E eu vou me prender a você de todas as formas humanas possíveis, antes de te pedir que me torne imortal. Eu vou seguir as regras, Edward".
"A sua alma é muito, muito mais que importante pra que eu brinque com ela. Você não vai me fazer cair nessa".
"Eu aposto que eu poderia", ele murmurou, seus olhos queimando de novo.
"Mas você não faria isso", eu disse, tentando manter o meu nível de voz. "Não sabendo que isso é o que eu realmente preciso".
"Você não luta justo", ele acusou.
Eu sorri pra ele. "Eu nunca disse que lutava justo".
Ele sorriu de volta, saudoso. "Se você mudar de idéia..."
"Você vai ser o primeiro a saber", eu prometí.
Bem nessa hora a chuva começou a pingar das nuvens, algumas gotas esporádicas faziam leves thuds quando atingiam a grama.
Eu olhei para o céu.
"Eu vou te levar pra casa" Ele limpou as pequenas gotículas de água das minhas bochechas.
"Chuva não é um problema", eu murmurei. "Ela só significa que está na hora de fazer uma coisa que será muito desagradável e que possivelmente será altamente perigosa".
Os olhos dele se arregalaram em alarme.

"É bom que você seja a prova de balas" Eu suspirei. "Eu vou precisar daquele anel. Está na hora de contar a Charlie".
Ele riu da expressão no meu rosto. "Altamente perigoso", ele concordou. Ele riu de novo e colocou a mão no bolso do seu jeans. "Mas pelo menos não precisamos parar no caminho".
Novamente ele escorregou o meu anel no seu lugar no terceiro dedo da minha mão esquerda.
Onde ele ia ficar - concebivelmente pelo resto da eternidade.

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