domingo, 3 de julho de 2011

Eclipse - Capítulos 11 ao 15

11.Lendas

“Você vai comer esse cachorro quente?” Paul perguntou a Jacob, os olhos dele permaneceram grudados nos últimos vestígios de uma enorme refeição que os lobisomens haviam consumido.
Jacob se encostou nos meus joelhos e brincou com o cachorros quente que estava enfiado num fio de aço esticado, as chamas nas beiras da fogueira lambiam a sua pele empolada. Ele suspirou com força e deu um tapinha no estômago. De alguma forma, ele ainda estava plano, apesar de eu já ter perdido as contas de quantos cachorros quentes ele havia comido depois do décimo. Sem mencionar um saco gigante de batatas e duas garrafas de cerveja preta.
“Eu acho”, Jacob disse lentamente. “Eu estou tão cheio que estou prestes a vomitar, mas eu acho que ainda posso forçá-lo a descer. No entanto, eu não vou gostar disso nem um pouco”. Ele disse de novo tristemente.
Apesar do fato de que Paul havia comido pelo menos tanto quanto Jacob, ele ficou com raiva e as mãos dele fincaram nos pulsos.
“Nossa”, Jacob riu. “Brincando, Paul. Aqui”.
Ele jogou a comida feita em casa através do círculo, eu esperei que o cachorro quente caísse na areia, mas Paul o pegou pela direita sem dificuldade.
Andar por aí com ninguém além de pessoas destras o tempo todo ia acabar me deixando com complexo.
“Valeu, cara”, Paul disse, já superando o seu breve acesso de raiva.
A fogueira de partiu, baixando mais na areia. Faíscas brilharam numa nuvem repentina de um laranja brilhante contra o céu preto. Engraçado, eu não tinha reparado que o sol tinha se posto. Pelo primeiro vez, eu me perguntei quão tarde era. Eu perdi completamente a noção do tempo.
Era mais fácil ficar com os meus amigos Quileute do que eu tinha esperado.
Enquanto Jacob e eu deixávamos a minha moto na garagem – e ele admitia sem vontade que o capacete era uma boa idéia e que ele devia ter pensado nisso – eu comecei a me preocupar em aparecer com ele na fogueira, imaginando que os lobisomens iam me considerar uma traidora agora.
Será que eles ficariam com raiva de Jacob por ter me convidado? Será que eu arruinaria a festa?
Mas quando Jacob me acompanhou pela floresta para o topo dos penhascos no local do encontro – onde o fogo já queimava mais brilhante do que o sol obscurecido pelas nuvens – tudo estava muito leve e casual.
“Ei, garota vampira!”, Embry me cumprimentou alto. Quil tinha levantado pra bater na minha mão e me beijar na bochecha. Emily apertou a minha mão quando eu me sentei no chão frio de pedra ao lado dela e de Sam.
Além das reclamações de brincadeira – em maioria de Paul – sobre estar com fedor de sugadores de sangue, eu fui tratada com alguém que pertencia ali.
E também não foi só uma festa de jovens. Billy estava lá, sua cadeira de rodas estacionada no que parecia ser a cabeça natural do círculo. Ao lado dele, numa cadeira dobrável, parecendo bastante frágil, estava o velho avô de Quil, de cabelos brancos, o Velho Quil. Sue Clearwater, viúva de Harry o amigo de Charlie, estava numa cadeira do outro lado; os dois filhos dela, Leah e Seth, também estavam lá, sentados no chão como o resto de nós. Isso me surpreendeu, mas claramente eles três faziam parte do segredo agora. Pelo jeito que Billy e o velho Quil falavam com Sue, parecia que ela tinha tomado o lugar de Harry no conselho. Será que isso fazia os filhos dela membros automáticos da sociedade mais secreta de La Push?
Eu me perguntei o quanto devia ser horrível pra Leah se sentar num círculo com Sam e Emily. Seu rosto adorável traía a emoção, mas ela nunca desviou o rosto das chamas.Olhando para a perfeição do rosto de Leah, eu não pode deixar de compara-lo com o rosto arruinado de Emily. O que Leah pensava das cicatrizes de Emily, agora que ela sabia a verdade por trás delas? Será que elas pareciam com justiça nos olhos dela?
O pequeno Seth Clearwater já não era mais pequeno. Com o seu enorme sorriso feliz atravessando seu rosto, feito sem força, ele me lembrava de um Jacob muito mais novo.
Essa semelhança me fez sorrir, e depois suspirar. Será que Seth estava predestinado a ter a sua vida tão drasticamente mudada quanto as do resto dos rapazes? Seria esse o futuro pelo qual ele e sua família tinham permissão de ficar aqui?
O bando inteiro estava lá: Sam com a sua Emily, Paul, Embry, Quil, Jared com a sua Kim, a garota com a qual ele tinha tido uma impressão.
A minha primeira impressão de Kim foi de que ela era uma garota legal, um pouco tímida, um pouco normal. Ela tinha um rosto largo, as maçãs do rosto grandes, com olhos pequenos demais pra equilibra-los. Seu nariz e boca eram largos demais pra se ajustarem ao padrão tradicional de beleza. Seu cabelo liso era fino e assanhado com o vento que nunca parecia parar no topo do penhasco.
Essa foi a minha primeira impressão. Mas depois de algumas horas observando Jared e Kim, eu não conseguia ver mais nada de normal na garota.
O jeito que ele olhava pra ela! Era como um homem cego vendo o sol pela primeira vez. Como um colecionador achando um Da Vinci desconhecido, como uma mãe olhando para o rosto do filho recém-nascido.
Seus olhos sonhadores me fizeram ver coisas novas sobre ela- a pele de cor ruiva dela parecia seda na luz do fogo, como a forma dos lábios dela eram uma curva dupla perfeita, como os dentes dela eram brancos em contraste com eles, como os cílios dela eram longos, varrendo suas bochechas quando ela olhava pra baixo.
As vezes a pele de Kim escurecia quando ela encontrava o olhar fascinado de Jared, e os olhos dela baixavam como se fosse por vergonha, mas ela tinha dificuldade em manter os olhos longe dele por muito tempo.
Observando eles, eu senti que podia entender melhor o que Jacob havia me dito antes sobre a impressão – é difícil resistir a esse nível de comprometimento e adoração.
Kim estava balançando a cabeça no peito de Jared, os braços dele ao redor dela. Eu imaginei que ela devia estar bem aquecida ali.
“Está ficando tarde”, eu murmurei pra Jacob.
“Não comece com isso ainda” Jacob murmurou de volta – apesar de que certamente metade do círculo tinha ouvidos sensíveis o bastante pra nos ouvir mesmo assim. “A melhor parte está chegando”
“Qual é a melhor parte? Você vai engolir uma vaca inteira?”
Jacob riu seu riso baixo, gutural. “Não. Esse é o final. Nós não nos encontramos só pra comer a comida equivalente a uma semana inteira. Isso é tecnicamente uma reunião do conselho. Essa é a primeira vez de Quil, e ele ainda não ouviu as histórias. Bem, ele havia ouvido elas, mas essa é a primeira vez que ele sabe que elas são verdadeiras. Isso tende a fazer um cara prestar mais atenção. É a primeira vez de Kim e Seth e Leah também”.
“Histórias?”
Jacob inclinou pra trás ao meu lado, onde eu me encostava num cume baixo da pedra. Ele passou o braço pelos meus ombros e falou ainda mais baixo no meu ouvido.
“As histórias que sempre pensamos que fossem lendas”, ele disse. “As histórias de como chegamos a existir. A primeira história sobre os espíritos guerreiros”.
Era quase como se Jacob estivesse sussurrando a introdução. A atmosfera mudou de repente ao redor da fogueira baixa. Paul e Embry se sentaram mais eretos. Jared cutucou Kim e então puxou ela gentilmente pra cima.
Emily pegou um caderno de espiral e uma caneta, parecendo exatamente com uma estudante que havia sido escolhida para uma palestra importante. Sam se virou apenas um pouco ao lado dela – até que ele estivesse olhando na mesmo direção que o velho Quil, que estava do seu outro lado – e de repente eu me dei conta de que os anciões do conselho não eram três, mas quatro em número.
Leah Clearwater, o rosto dela ainda era uma linda máscara sem emoção, fechou os olhos- não como se ela estivesse cansada, mas como se fosse pra ajudar na concentração. O irmão dela se inclinou ansiosamente na direção dos anciões.
A fogueira partiu, mandando outra explosão de faíscas brilhando na noite.
Billy limpou sua garganta, e, sem nenhuma outra introdução além do sussurro dos seu filho, começou a contar a história com sua voz rica, profunda. As palavras fluíam com precisão, como se ele as soubesse com o coração, mas também com sentimento e um subto ritmo. Como uma poesia recitada pelo seu autor.
“Os Quileute têm sido poucas pessoas desde o início”, Billy disse. “E ainda somos poucas pessoas, mas nós nunca desaparecemos. Isso é porque sempre houve a mágica em nosso sangue. Não era a mágica de mudar de forma – isso veio depois. Primeiro, nós éramos espíritos guerreiros”.
Eu nunca havia reconhecido antes a realeza que havia na voz de Billy, apesar de que agora eu me dava conta de que a autoridade sempre esteve lá.
Emily escrevia nas folhas de papel enquanto tentava acompanhar ele.
“No começo, a tribo se assentou nesse porto e se transformaram em habilidosos construtores de barco e pescadores. Mas a tribo era pequena, e o porto era rico em peixes. Haviam outros que desejavam as nossas terras, e nós éramos poucos pra enfrenta-los. Uma tribo maior se moveu contra nós, e nós entramos em nossos navios pra escapar deles.
“Kaheleha não foi o primeiro espírito guerreiro, mas nós não lembramos de outras histórias que venham antes dessa. Nós não lembramos de quem foi o primeiro a descobrir esse poder, ou como ele havia sido usado antes dessa crise. Kaheleha foi o primeiro grande Espírito Chefe na nossa história. Nessa emergência, Kaheleha usou a sua magia pra defender as nossas terras.
“Ele e todos os seus guerreiros abandonaram o navio – não seus corpos, mas seus espíritos. As suas mulheres cuidaram de seus corpos e das ondas,e os homens levaram seus espíritos de volta ao nosso porto.
“Eles não podiam tocar fisicamente a tribo inimiga, mas eles tinham outros meios. As histórias nos contam que eles puderam fazer um vento feroz soprar nos acampamentos inimigos; eles podiam fazer um grande grito no vento que aterrorizou seus inimigos. As histórias também nos contam que os animais podiam ver os espíritos guerreiros e compreende-los; os animais os licitavam.
“Kaheleha levou o seu exército de espíritos e criou o caos entre os intrusos. Essa tribo invasora tinha grandes bandos de cães grandes, furiosos que eles usavam pra puxar seus trenós no norte congelado. Os espíritos guerreiros fizeram com que os cães se virassem contra seus mestres e trouxessem uma poderosa infestação de morcegos das cavernas no penhascos. Eles usaram o vento gritante pra ajudar os cães a confundir os homens. Os cães e os morcegos venceram. Os sobreviventes fugiram, dizendo que o porto era amaldiçoado. Os cachorros correram livres quando os espíritos guerreiros os libertaram. Os Quileute retornaram pra seus corpos e suas esposas, vitoriosos.
“As outras tribos vizinhas, os Hoh e os Makah, fizeram acordos com os Quileute. Eles não queriam nada com a nossa magia. Nós vivemos em paz com eles. Quando um inimigo vinha contra nós, os espíritos guerreiros os afastavam.
“Gerações se passaram. Então veio o primeiro grande Espírito Chefe, Taha Aki. Ele era conhecido por sua sabedoria, e por ser um homem de paz. As pessoas viviam bem e contentes sob seus cuidados.
“Mas haviam um homem, Utlapa, que não estava contente.”
Um assobio correu pela fogueira. Eu era lenta demais pra descobrir de onde ele tinha vindo. Billy ignorou e continuou com a lenda.
“Utlapa era um dos espíritos guerreiros mais fortes do Chefe Taha Aki – um homem poderoso, mas um homem ganancioso também. Ele achava que as pessoas deviam usar sua magia pra expandir suas terras, escravizar os Hoh e os Makah e construir um império.
“Agora, quando os guerreiros se transformavam em seus espíritos, eles podiam ouvir os pensamentos uns dos outros. Taha Aki viu o que Utlapa sonhava, e ficou bravo com Utlapa. Utlapa foi ordenado a deixar o povo, e nunca usar o seu espírito de novo. Utlapa era um homem poderoso, mas os guerreiros do chefe eram um número que ele. Ele não teve escolha a não ser ir embora. O furioso excluído se escondeu na floresta nas proximidades, esperando pela chance pra se vingar de seu chefe.
“Mesmo em tempo de paz, o Chefe Espírito era vigilante na proteção ao seu povo. Frequentemente ele ia para um lugar secreto, sagrado, nas montanhas. Ele deixava o seu corpo pra trás e andava pelas florestas e pela costa, pra ter certeza de que nenhuma ameaça se aproximava.
“Um dia, quando o Chefe Taha Aki saiu pra fazer o seu trabalho, Utlapa o seguiu. No início, Utlapa apenas planejava matar o chefe, mas seu plano tinha suas desvantagens. Com certeza os espíritos guerreiros iam procura-lo e destruí-lo, e eles podiam persegui-lo mais rápido do que ele podia fugir. Enquanto ele se escondia nas rochas o observava o chefe se preparar pra deixar seu corpo, outro plano ocorreu a ele.
“Taha Aki deixou seu corpo no local secreto e voou com os ventos pra manter a vigilância sobre seu povo. Utlapa esperou até que ele tivesse certeza de que o chefe havia viajado certa distância com seu ser espírito.
“Taha Aki soube o instante em que Utlapa se juntou a ele no mundo dos espíritos, e também soube do plano de assassinato de Utlapa. Ele correu de volta para o seu local secreto, mas mesmo os ventos não foram rápidos o suficiente pra salva-lo. Quando ele retornou, o seu corpo já tinha ido embora. O corpo de Utlapa estava abandonado, mas Utlapa não tinha deixado Taha Aki com uma escolha – ele havia cortado a garganta do seu próprio corpo com as mãos de Taha Aki.
“Taha Aki seguiu o seu prórpio corpo pela montanha. Ele gritou com Utlapa, mas Utlapa o ignorou como se ele fosse apenas o vento.
“Taha Aki observou com desespero enquanto Utlapa pegava o seu lugar como chefe dos Quileute. Por algumas semanas, Utlapa não fez nada além de se certificar de que todos acreditavam que ele era Taha Aki. Aí as mudanças começaram – a primeira ordem de Utlapa foi que qualquer guerreiro entrasse no mundo dos espíritos. Ele clamou que tinha uma visão do perigo, mas na verdade ele estava com medo. Ele sabia que Taha Aki estaria esperando pela chance de contar a sua história. O próprio Utlapa estava com muito medo de entrar no mundo dos espíritos, sabendo que Taha Aki rapidamente clamaria seu corpo. Então seus sonhos de conquista com um exército de espíritos guerreiros era impossível, e ele teve que se contentar em reinar sobre a tribo. Ele se tornou um fardo – procurando privilégios que Taha Aki nunca havia pedido, se recusando a trabalhar junto dos seus guerreiros, se casando com uma segunda jovem esposa, e depois uma terceira, apesar da esposa de Taha Aki ainda viver – em algum lugar desconhecido da tribo. Taha Aki observou furioso sem poder fazer nada.
“Eventualmente, Taha Aki tentou matar seu próprio corpo pra salvar a tribo dos desmandos de Utlapa. Ele trouxe um lobo feroz das montanhas, mas Utlapa se escondeu atrás de seus guerreiros. Quando o lobo matou um jovem que estava protegendo seu falso chefe, Taha Aki sentiu um terrível pesar. Ele ordenou que o lobo fosse embora.
“Todas as histórias nos contam que não eram fácil ser um espírito guerreiro. Era mais assustador do que excitante estar fora do seu próprio corpo. Era por isso que eles só usavam sua magia em tempos de necessidade. As viagens solitárias do chefe pra manter guarda eram um fardo e um sacrifício. Ficar sem corpo era desorientador, desconfortável, aterrorizante. Taha Aki esteve longe de seu corpo por tanto tempo que chegou um ponto que ele sentiu agonia. Ele sentiu que estava sentenciado – a nunca cruzar a linha para a terra final onde todos os seus ancestrais esperavam, preso naquele nada torturante pra sempre.
“O grande lobo seguiu o espírito de Taha Aki se contorcia e se estorcia em agonia pelas florestas. O lobo era muito grande para a sua espécie, e lindo. Taha Aki de repente ficou com inveja do animal. Pelo menos ele tinha um corpo. Pelo menos ele tinha uma vida. Até a vida como um animal seria melhor do que essa horrível consciência vazia.
“E aí Taha Aki teve a idéia que mudou todos nós. Ele pediu ao lobo que dividisse o espaço com ele, pra compartilharem. O lobo permitiu. Taha Aki entrou no corpo do lobo com alívio e gratidão. Não era o seu corpo humano, mas era melhor do que o buraco negro do mundo dos espíritos.
“Pra começar, o homem e o lobo voltaram à vila no porto. As pessoas correram com medo, gritando pra que os guerreiros viessem. Os guerreiros correram pra encontrar o lobo com suas lanças. Utlapa, é claro, ficou seguramente escondido.
“Taha Aki não atacou seus guerreiros. Ele se afastou lentamente deles, falando com seus olhos e tentando uivar as canções do seu povo. Os guerreiros começaram a notar que o lobo não era um animal qualquer, que havia uma influência espiritual nele. Um guerreiro ancião, uma homem chamado Yut, decidiu desobedecer a ordem do falso chefe e tentar se comunicar com o lobo.
“Assim que Yut cruzou para o mundo espiritual, Taha Aki saiu do lobo – o animal esperou pacientemente pelo seu retorno – pra falar com ele. Yut compreendeu a verdade em um instante, e deu as boas vindas ao lar a seu chefe.
“A essa hora, Utlapa veio ver se o lobo havia sido derrotado. Quando ele viu Yut caído sem vida no chão, cercado por guerreiros protetores, ele se deu conta do que estava acontecendo. Ele pegou sua faca e correu pra matar Yut antes que ele pudesse retornar ao seu corpo.
“Traidor’, ele gritou, e os guerreiros não sabiam o que fazer. O Chefe havia proibido viagens espirituais, e era a decisão do chefe como punir aqueles que desobedecessem.
“Yut pulou de volta para o seu corpo, mas Utlapa estava com a faca em seu pescoço em com uma mão em sua boca. O corpo de Taha Aki era forte, e Yut era fraco com a idade. Yut nem sequer pôde dizer uma palavra pra alertar os outros antes que Utlapa o silenciasse pra sempre.
“Taha Aki observou enquanto o espírito de Yut ia embora para as terras finais das quais Taha Aki havia sido barrado pra sempre. Ele sentiu uma grande raiva, mais poderosa do que qualquer coisa que ele já havia sentido. Ele entrou no lobo novamente, com a intenção de rasgar a garganta de Utlapa. Mas, enquanto ele se juntava ao lobo, uma grande mágica aconteceu.
“A raiva de Taha Aki era a raiva de um homem. O amor que ele tinha pelo seu povo e o ódio que ele sentia pelo seu opressor era vasto demais para o corpo do lobo, humano demais. O lobo estremeceu, e – ante os olhos dos guerreiros chocados e de Utlapa – ele se transformou em homem.
“O novo homem não se parecia com o corpo de Taha Aki. Ele era muito mais glorioso. Ele era uma interpretação fresca do espírito de Taha Aki. Os guerreiros reconheceram ele imediatamente, no entanto, pois eles conheciam o espírito de Taha Aki.
“Utlapa tentou correr, mas Taha Aki tinha a força de um lobo em seu novo corpo. Ele agarrou o ladrão e arrancou o espírito dele antes que ele pudesse pular do corpo roubado.
“As pessoas ficaram muito felizes quando se deram conta do que estava acontecendo. Taha Aki rapidamente arrumou as coisas, trabalhando novamente com o seu povo e devolvendo as jovens esposas às suas famílias. A única mudança que ele não desfez foi a proibição das viagens espirituais. Ele sabia que isso era muito perigoso, agora que a idéia de roubar uma vida estava por ali. Os espíritos guerreiros já não existiam.
“Desse ponto em diante, Taha Aki eram mais do que apenas um lobo ou um homem. Eles chamavam ele, Taha Aki, de o Grande Lobo. Ele liderou a tribo por muitos, muitos anos, pois ele não envelhecia. Quando o perigo ameaçava, ele reassumia seu eu lobo pra lutar ou assustar o inimigo.
As pessoas viviam em paz. Taha Aki foi pai de muitos filhos, e alguns deles descobriram que, depois que eles atingiam a maturidade, eles também podiam se transformar em lobos. Os lobos eram todos diferentes, porque eles eram espíritos lobos e refletiam o que o homem era por dentro.”
“Então é por isso que Sam é preto”, Quil murmurou por baixo do fôlego, sorrindo, “Coração negro, pêlo negro”.
Eu estava tão envolvida na história, que foi um choque voltar ao presente, para o círculo ao redor do fogo morrendo. Com outro choque, eu me dei conta de que o círculo já feito dos netos – não importava em que graus – de Taha Aki.
O fogo jogou uma salva de faíscas para o céu, e elas tremeram e dançaram, fazendo formas que eram quase indecifráveis.
“E o seu pêlo cor de chocolate reflete o que?” Sam sussurrou de volta pra Quil. “O quanto você é doce?”
Billy ignorou as piadas deles. “Alguns dos filhos se tornaram guerreiros com Taha Aki, e não mais envelheceram. Os outros, que não gostaram da transformação, se recusaram a se juntar ao bando de homens lobos. Esses começaram a envelhecer novamente, e a tribo descobriu que os homens lobo podiam envelhecer como qualquer outra pessoa, se desistissem de seus espíritos guerreiros. Taha Aki viveu o tempo de vida de três homens. Ele havia se casado com uma terceira esposa depois da morte das duas primeiras, e encontrou nela a sua verdadeira esposa espiritual. Apesar dele ter amado as outras, essa era algo mais. Ele decidiu desistir de seu espírito lobo pra morrer quando ela morreu.
“Foi assim que a mágica veio até nós, mas esse não é o fim da história...”
Ele olhou pra o Velho Quil Atearra, que mudou de posição em sua cadeira, ajeitando seus ombros frágeis. Billy deu um gole numa garrafa de água e enxugou sua testa. A caneta de Emily nunca hesitava enquanto ela escrevia furiosamente no papel.
"Essa foi a história dos espíritos guerreiros", o Velho Quil começou num voz de tenor. "Essa é a história do sacrifício da terceira esposa."
"Muitos anos depois de Taha Aki ter desistido de seu espírito lobo, quando ele já era um homem velho, um problema começou ao norte, com os Makah. Várias mulheres jovens da tribo deles havia desaparecido, e eles colocaram a culpa nos lobos das redondezas, a quem eles temiam e desconfiavam. Os homens-lobo ainda podiam ouvir os pensamentos uns dos outros enquanto em sua forma de lobo, assim como seus ancestrais haviam feito enquanto estavam na forma de espíritos. Eles sabiam que nenhum em seu grupo era o culpado. Taha Aki tentou pacificar o chefe de Makah, mas havia medo demais. Taha Aki não queria ter uma guerra em suas mãos. Ele já não era um guerreiro pra liderar seu povo. Ele encarregou seu filho lobo mais velho, Taha Wi, de encontrar o verdadeiro culpado antes que as hostilidades começassem.
"Taha Wi liderou os outro cinco lobos em seu bando em uma procura pelas montanhas, procurando por alguma evidência sobre o desaparecimento das Makah. Eles se depararam com uma coisa que eles nunca haviam visto antes - um cheiro doce, estranho na floresta que queimava seus narizes a ponto de doer."
Eu fui um pouco mais pro lado de Jacob. Eu ví o canto da sua boca vibrar com o humor, e o braço dele se apertou ao meu redor.
"Eles não sabiam que criatura podia ter deixado aquele cheiro, mas eles o seguiram", O Velho Quil continuou. Sua voz tremendo não era tão majestosa como a de Billy, mas havia um stranho tom de urgência penetrante nela. O meu pulso acelerou quando as palavras saíram mais rápidas.
"Eles acharam traços fracos de cheiro humano, e de sangue humano, pela trilha. Eles estavam certos de que esse era o inimigo que eles estavam procurando.
"A jornada deles os levou pra tão longe ao norte que Taha Wi mandou metade do bando, os mais novos, devolta pra o porto pra avisar Taha Aki.
"Taha Wi e seus dois irmãos não retornaram.
"Os irmãos mais novos procuraram pelos seus ancestrais, mas só encontraram silêncio. Taha Aki lamentou por seus filhos. Ele desejava vingar a morte dos filhos, mas ele já era velho."
"Eles foi ao chefe de Makah ainda com as roupas da manhã e o contou o que havia acontecido. O chefe de Makah acreditou em seu pesar, e as tensões acabaram entre as tribos.
"Um ano depois, duas donzelas de Makah desapareceram de suas casas na mesma noite. Os Makah chamaram os lobos Quileute imediatamente, que encontraram o mesmo fedor doce em todo lugar no vilarejo dos Makah. Os lobos foram caçar de novo.
"Apenas um retornou. Ele era Yaha Uta, o filho mais velho da terceira esposa de Taha Aki, e o mais novo no bando. Ele trouxe algo consigo que nunca havia sido antes pelos Quileute - um cadáver estranho, frio de pedra, que ele carregava aos pedaços. Todos aqueles que tinham o sangue de Taha Aki, até mesmo aqueles que não eram lobos, podiam sentir o cheiro forte da criatura morta. Esse era o inimigo dos Makah.
"Yaha Uta descreveu o que havia acontecido: ele e seus irmãos haviam encontrado a criatura, que se parecia com um homem mas era duro como um pedra de granito, com duas filhas de Makah. Uma garota ja estava morta, branca e sem sangue no chão. A outra estava nos braços da criatura, a boca dele em seu pescoço. Ela podia estar viva quando eles chegaram na cena odiosa, mas a criatura rapidamente quebrou seu pescoço e jogou seu corpo sem vida no chão enquanto eles se aproximavam. Seus lábios brancos estavam cobertos com o sangue dela, e seus olhos brilhavam vermelhos.
"Yaha Uta descreveu a força feroz e a velocidade da criatura. Um de seus irmãos rapidamente se tornou uma vítima quando subestimou aquela força. A criatura o partiu como se fosse um boneco. Yaha Uta e seus irmãos foram mais cautelosos. Eles trabalharam juntos, chegando nas criaturas pelos seus lados, manobrando-a. Eles tiveram que atingir o limite de sua força e de sua velocidade de lobo, coisa que eles jamais haviam testado antes. A criatura era dura como pedra e fria como gelo. Eles descobriram que seus dentes podiam machucá-lo. Eles começaram a rasgar a criatura em pequenos pedaços enquanto lutavam com ela.
"Mas a criatura aprendeu com velocidade, a logo estava compativel com as manobras deles. Ele pôs as mãos no irmão de Yaha Uta. Yaha Uta encontrou uma abertura em seu pescoço, e atacou. Os dentes dele arrancaram a cabeça da criatura, mas as mãos continuaram apertando o seu irmão.
"Yaha Uta rasgou a criatura em pedaços irreconhecíveis, rasgando os pedaços numa tentativa desesperada de salvar seu irmão. Ele estava atrasado, mas, no final, a criatura foi destruída.
"Ou assim eles pensaram. Yaha Uta espalhou os pedaços para os anciões examinarem. Uma mão destroçada estava ao lado de um pedaço do braço de granito da criatura. Dois pedaços se tocaram quando os anciões os uniram com pontos, e a mão foi em direção ao braço, tentanto se unir novamente.
"Aterrorizados, os anciões tocaram fogo no que restou. Uma grande nuvem de fumaça forte, vil, poluiu o ar. Quando ja não haviam nada além das cinzas, eles separeram as cinzas em pequenos sacos e os separou a grandes espaços uns dos outros - uns no oceano, alguns na floresta, alguns nas cavernas dos penhascos. Taha Aki usava um dos saquinhos em seu pescoço, pra que ele pudesse ser avisado se um dia a criatura tentasse se juntar de novo".
O Velho Quil pausou e olhou pra Billy. Billy puxou uma fita de couro do seu pescoço. Preso na ponta havia um velho saquinho, escurecido com o tempo. Algumas pessoas ofegaram. Eu posso ter sido uma delas.
"Eles o chamaram de O Frio, O Bebedor de Sangue, e viveram com medo de que ele não estivesse sozinho. Eles só tinham mais um lobo protetor, o jovem Yaha Uta.
"Eles não tiveram que esperar muito. A criatura tinha uma parceira, outra bebedora de sangue, que veio até os Quileute em busca de vingança.
"As histórias dizem que A Mulher Fria era a coisa mais linda que os olhos humanos já haviam visto. Ela parecia com a deusa do alvorecer quando entrou na vila naquela manhã; o sol estava brilhando pelo menos dessa vez, e ele cintilava na pele branca dela e iluminava seu cabelo loiro que chegava nos joelhos."
"O rosto dela era mágico em sua beleza, os olhos eram pretos em seu rosto. Alguns caíram de joelhos pra adorá-la.
"Ele perguntou alguma coisa em uma voz alta, penetrante, em uma linguagem que ninguém nunca tinha ouvido. As pessoas ficaram abobalhadas, sem saber o que dizê-las. Não havia ninguém com o sangue de Taha Aki entre as testemunhas a não ser um garotinho. Ele se apertou a sua mãe e gritou que o cheiro estava machucando o nariz dele. Um dos anciões, que estava a caminho do conselho, ouviu o garoto e se deu conta do que havia chegado pra eles. Ele gritou pra que as pessoas corressem. Ela o matou primeiro.
"Haviam vinte testemunhas da chegada da Mulher Fria. Dois sobreviveram, apenas porque ela ficou destraída com o sangue, e parou pra saciar sua sede. Eles correram pra Taha Aki, que estava no conselho com os outros anciões, seus filhos, e sua terceira esposa.
"Yaha Uta se transformou em seu espírito lobo assim que ele ouviu as notícias. Ele foi sozinho combater a bebedora de sangue. Taha Aki, e sua terceira esposa, e seus anciões seguiram ele.
"No inicio eles não conseguiram encontrar a criatura, só as evidências de seu ataque. Corpos estavam quebrados, alguns completamente sem sangue, espalhados pela estrada por onde ela havia aparecido. Aí eles ouviram os gritos e correram para o porto.
"Vários Quileute haviam corrido para os navios para se refugiarem. Ela nadou atrás deles como um tubarão, e quebrou o casco do navio deles com sua incrível força. Quando o navio afundou, ela agarrou aqueles que tentaram fugir a nado, e quebrou eles também.
"Ela viu o grande lobo na costa, e esqueceu dos nadadores flutuando. Ela nadou tção rápido que se transformou num vulto, pingando e gloriosa, ela veio ficar de pé na frente de Yaha Uta. Ela apontou para ele uma vez com seu dedo branco e fez outra pergunta incompreensível. Yaha Uta esperou.
"Foi uma luta apertada. Ela não era tão boa lutadora quanto o seu parceiro havia sido. Mas Yaha Uta estava sozinho - não havia ninguém pra distraí-la da fúria com ele.
"Quando Yaha Uta perdeu, Taha Aki gritou em desafio. Ele tropeçou para a frente e se transformou em um lobo ansião, com pêlo branco. O lobo era velho, mas esse era o Espírito Homem de Taha Aki, e sua raiva o tornou forte. A luta recomeçou.
"A terceira esposa de Taha Aki havia acabado de ver seu filho morrer diante de seus olhos. Agora o seu marido lutava, e ela não tinha esperanças de que ele pudesse vencer. Ela havia ouvido cada palavra que a vítima havia dito no conselho. Ela havia ouvido a história da primeira vitória de Yaha Uta, e ela sabia que a distração de seus irmãos haviam salvado ele.
"A terceira pegou uma faca do cinto de um dos filhos que estava ao seu lado. Eles eram todos filhos jovens, ainda não eram homens, e ela sabia que eles morreriam quando o seu marido falhasse.
"A terceira esposa correu em direção à Mulher Fria com a adaga erguida. A Mulher Fria sorriu, pouco destraída da sua luta com o lobo velho. Ela não tinha medo de uma mulher humana fraca e nem da faca que não causaria nenhum arranhão em sua pele, e ela estava prestes a dar o golpe de misericórdia em Taha Aki.
"E aí, a terceira esposa fez algo que A Mulher Fria não estava esperando. Ela caiu de joelhos aos pés da bebedora de sangue e enfiou a faca em seu próprio coração.
"O sangue escorreu pelos dedos da terceira esposa e espirrou na Mulher Fria. A bebedora de sangue não pôde resistir à luxuria do sangue fresco que estava deixando o corpo da terceira esposa. Instintivamente, ela se virou para a mulher que estava morrendo, por um segundo inteiramente consumida pelo sangue.
"Os dentes de Taha Aki se fecharam no pescoço dela.
"Aquele não foi o fim da batalha, mas agora, Taha Aki não estava mais sozinho. Vendo a mãe deles morrer, dois filhos mais novos sentiram tanta raiva que se lançaram para a frente como seus espíritos lobos, apesar de ainda não serem homens. Com seu pai, eles exterminaram a criatura.
"Taha Aki nunca se reuniu à tribo. Ele nunca se transformou em homem de novo."
"Ele deitou por um dia ao lado do corpo da terceira esposa, rosnando toda vez que alguém tentava encostar nela, e aí ele foi para a floresta e nunca mais retornou.
"Problemas com os frios eram raros e aconteciam de vez em quando. Os filhos de Taha Aki guardaram a tribo até que seus filhos fossem velhos o suficiente pra ficarem em seu lugar. Nunca houveram mais de três lobos de cada vez. Era o suficiente. Ocasionalmente um bebedor de sangue aparecia por essas terras, mas eles eram pegos de surpresa, sem esperar os lobos. De vez em quando um lobo morria, mas eles nunca foram dezimados de novo como da primeira vez. Eles haviam aprendido como lutar com os frios, e eles passaram o conhecimento de lobo pra lobo, de mente de lobo pra mente de lobo, de espírito pra espírito, de pai pra filho.
"O tempo passou, e os descendentes de Taha Aki já não se transformavam mais em lobos quando atingiam a idade adulta. Só muito raramente, se um frio estava por perto, os lobos retornavam, e o bando continuava pequeno.
"Um grupo maior chegou, e os seus próprios bisavôs se prepararam pra lutar contra eles. Mas o líder falou com Ephraim Black como se fosse um homem, e prometeu não machucar os Quileute. Os seus estranhos olhos amarelos davam alguma espécie de prova do que ele dizia sobre eles não serem iguais aos outros bebedores de sangue.
Os lobisomens estavam em menor número; não havia necessidade dos frio pedirem um acordo sendo que eles podiam ter vencido a batalha. Ephraim aceitou. Eles cumpriram com a sua parte, apesar de que a presença deles tendia a puxar outros.
"E o número deles forçou o bando a atingir um número que a tribo nunca havia visto", o Velho Quil disse, e por um momento em seus olhos pretos, afundados nas rugas e na pele dobrada ao redor deles, pareceram parar em mim. "Exceto, é claro, no tempo de Taha Aki", ele disse, e então suspirou. "E então os filhos da nossa tribo carregam novamente o fardo e dividem o sacrifício que seus pais suportaram antes deles".
Tudo ficou em silêncio por um longo momento. Os descendentes vivos da magia e das lendas olharam uns para os outros através do fogo com tristeza nos olhos. Todos menos um.
"Fardo", ele zombou em uma voz baixa. "Eu acho que é legal", o lábio inferior de Quil ficou um pouco pra fora.
Do outro lado do fogo que estava morrendo, Seth Clearwater - seus olhos estavam arregalados de adulação pela fraternidade dos irmãos protetores da tribo - balançou a cabeça concordando.
Billy gargalhou, baixa e longamente, e a mágica pareceu desaparecer nas brasas brilhantes. De repente, era apenas um círculo de amigos de novo. Jared jogou uma pedra pequena em Quil, e todo mundo sorriu quando isso fez ele pular. Conversas baixas murmuravam ao nosso redor, zombeteiras e casuais.
Os olhos de Leah Clearwater não se abriram. Eu achei ter visto alguma coisa como uma lágrima brilhando na bochecha dela, mas quando eu olhei de volta um momento depois já não estava mais lá.
Nem Jacob nem eu falamos. Ele estava tão imóvel ao meu lado, a respiração dele tão profunda e uniforme, que eu pensei que ele devia estar perto de dormir.
A minha mente estava hà um milhão de anos de distância. Eu não estava pensando em Yaha Uta ou em outros lobos, ou na linda Mulher Fria - eu podia imaginar ela bem demais. Não, eu estava pensando em algum de fora de toda essa magia. Eu estava tentando o rosto da mulher sem nome que havia salvado a tribo inteira, a terceira esposa.
Só uma mulher humana, sem nenhum dom ou poder especial. Fisicamente mais fraca e lenta do que qualquer dos outros monstros na história. Mas ela havia sido a chave, a solução. Ela havia salvado seu marido, seus filhos, a tribo inteira.
Eu queria que eles lembrassem do nome dela...
Alguma coisa balançou meu braço.
"Vamos, Bells", Jacob disse. "Estamos aqui".
Eu pisquei, confusa porque o fogo parecia ter desaparecido. Eu olhei para a inexperada escuridão, tentando entender as minhas redondezas. Eu levei um minuto pra me dar conta que eu já não estava mais no penhasco.
Eu ainda estava nos braços dele, mas não estava mais no chão.
Como é que eu cheguei no carro de Jacob?
"Oh, droga!", eu sufoquei enquanto me dava conta de que havia pego no sono. "Que horas são? Droga, onde está aquele telefone estúpido?" eu tateei meus bolsos, frenética, e encontrando eles vazios.
"Fácil. Ainda não é nem meia noite. E eu já liguei pra ele por você. Olhe - ele está esperando alí".
"Meia noite?" eu respondí estupidamente, ainda desorientada. Eu olhei para a escuridão, e as batidas do meu coração aceleraram quando os meus olhos encontraram as formas do Volvo, a trinta metros de distância. Eu encontrei a maçaneta da porta.
"Aqui", Jacob disse, e colocou um coisa pequena na minha mão. O telefone.
"Você ligou pra Edward por mim?"
Os meus olhos estavam ajustados o suficiente pra ver o brilho cintilante do sorriso de Jacob. "Eu achei que se bancasse o bonzinho, eu teria mais tempo com você".
"Obrigada, Jake", eu disse, tocada. "Mesmo, obrigada. E obrigada por me convidar essa noite. Aquilo foi... "As palavras me faltaram. "Uau. Aquilo foi algo mais".
"E você nem sequer ficou acordada pra me ver engolir uma vaca". Ele riu. "Não. Eu estou feliz por você ter gostado. Foi... legal pra mim. Ter você aqui".
Houve um movimento à distância na escuridão - alguma coisa pálida estava flutuando entre as árvores. Vagando?
"É, ele não é tão paciente, é?" Jacob disse, reparando na minha distração. "Vá em frente. Mas volte logo, tá legal?"
"Claro, Jake", eu prometí, abrindo a porta. O ar frio bateu nas minhas pernas e me fez estremecer.
"Durma bem, Bells. Não se preocupe com nada - eu vou estar te observando essa noite".
Eu pausei, um pé no chão. "Não, Jake. Descance um pouco, eu vou estar bem".
"Claro, claro", mas ele parecia mais estar aceitando do que concordando.
"Boa noite, Jake. Obrigada"
"Boa noite, Bella", ele sussurrou enquanto eu corria para a escuridão.
Edward me pegou na linha da fronteira.
"Bella", ele disse, o alívio estava forte na voz dele; seus braços fortemente ao meu redor.
"Oi. Desculpa por eu ter me atrasado. Eu caí no sono e -"
"Eu sei. Jacob explicou". Ele começou a ir na direção do carro, e eu tropecei cambaleante ao lado dele. "Você está cansada? Eu podia te carregar".
"Eu estou bem".
"Você te levar pra casa e te colocar na cama. Você se divertiu?"
"Sim - foi incrível, Edward. Eu queria que você tivesse vindo. Eu nem posso explicar. O pai de Jake nos contou algumas histórias e elas eram como... como magia."
"Você vai ter que me contar. Depois que você dormir".
"Eu não vou contar direito", eu disse, e aí bocejei enormemente.
Edward gargalhou. Ele abriu a minha porta pra mim, me levantou me colocando lá dentro, e prendeu o cinto de segurança ao meu redor.
Luzes claras brilharam e bateram em nós. Eu acenei na direção dos faróis de Jacob, mas eu não sabia de ele tinha visto o gesto.
Naquela noite - depois que eu passei por Charlie que não me deu tantos problemas quanto eu esperava porque Jacob havia ligado pra ele também - ao invés de colidir na cama imediatamente, eu me inclinei pra abrir a janela enquanto eu esperava que Edward voltasse. A noite estava surpreendentemente fria, quase invernal. Eu não tinha reparado nisso nos penhascos; eu imaginei que isso tinha menos a ver com a fogueira e mais a ver com o fato de estar sentada ao lado de Jacob.
Pedacinhos de gelos se espalharam pelo meu rosto quando a chuva começou.
Estava escuro demais pra ver alguma coisa além dos triângulos das samambaias se inclinando e balançando com o vento. Mas eu forcei os meus olhos mesmo assim, procurando por outras formas na tempestade. Uma silhueta pálida, se movendo feito um fantasma pela escuridão... ou talvez as linhas sombradas de um enorme lobo... Os meus olhos estava fracos demais.
Então, houve um movimento na noite, bem ao meu lado. Edward entrou pela minha janela aberta, suas mãos mais frias que a chuva.
"Jacob está lá fora?", eu perguntei, tremendo enquanto Edward me puxava para o círculo dos seus braços.
"Sim... em algum lugar. E Esme está indo pra casa".
Eu suspirei. "Está tão frio e molhado. Isso é bobagem". Eu tremí de novo.
Ele gargalhou. "Só está frio pra você, Bella"
Estava frio nos meus sonhos também, talvez porque eu tenha dormido nos braços de Edward. Mas eu sonhei que estava lá fora na tempestade, o vento fazendo o meu cabelo bater em meu rosto e cegando os meus olhos. Eu estava na roche crescente da praia, tentando entender os movimentos das formas rápidas que eu mal podia enxergar direito na escuridão da beira da costa. Primeiro, não havia nada além de um flash de branco e preto, indo na direção um do outro e dançando pra longe. E então, quando a lua repentinamente apareceu entre as nuvens, eu pude ver tudo.
Rosalie, com seus cabelos molhados se movimentando e dourados, na altura do joelho, estava se jogando na direção em um lobo enorme - os dentes dele brilhavam prateados - que eu reconhecí como sendo Billy Black.
Eu comecei a correr, mas me encontrei me movendo frustramentemente devagar no sonho. Eu tentei gritar pra eles, dizer que eles paressem, mas a minha voz era roubada pelo vento, e eu não conseguia fazer um som. Eu balancei os braços, espérando chamar a atenção deles. Alguma coisa brilhou na minha mão, e eu reparei pela primeira vez que a minha mão não estava vazia.
Eu estava segurando uma longa lâmina, velha e prateada, suja com sangue seco e empretecido.
Eu me afastei da faca, e os meus olhos se abriram na escuridão do quarto. A primeira coisa que eu reparei foi que eu não estava sozinha, e eu virei meu rosto pra enterrá-lo no peito de Edward, sabendo que o doce cheiro da pele dele afastaria o pesadelo com mais eficácia do que qualquer outra coisa.
"Eu te acordei?", ele sussurrou. Houve o som de papeis, páginas virando, e um fraco thump quando alguma coisa leve caiu no chão de madeira.
"Não", eu murmurei, suspirando de contentamento quando os braços dele me apertaram. "Eu tive um pesadelo".
"Você não quer me contar sobre ele?"
Eu balancei minha cabeça. "Cansada demais. Talvez de manhã, se eu lembrar".
Eu sentí um riso silencioso balançar ele.
"De manhã", ele concordou.
"O que você estava lendo?", eu murmurei, não completamente acordada.
"O Morro dos Ventos Uivantes", ele disse.
Eu fiz uma careta sonolenta. "Eu pensei que você não gostasse desse livro".
"Você me fez mudar de idéia", ele murmurou, sua voz suave me lançando para a inconsciencia. "Além do mais... quanto mais tempo eu passo com você, mais emoções humanas se tornam compreensíveis pra mim. Eu estou descobrindo que sinto simpatia por Heathcliff de maneiras que eu não julgava possíveis antes".
"Mmm", eu suspirei.
Ele disse mais alguma coisa, alguma coisa baixa, mas eu já tinha adormecido.
A manhã seguinte acordou cinzenta e perolada. Edward me perguntou sobre o meu sonho, mas eu não conseguí lembrar dele. Eu só me lembrei que estava frio, e que fiquei feliz quando acordei porque ele estava lá. Ele me beijou, por tempo suficiente pra acelerar o meu pulso, e depois foi pra casa pra trocar de roupa de pegar seu carro.
Eu me vestí rapidamente, com poucas opções. Quem quer que tenha pego as minhas coisas havia diminuido o meu guarda-roupa criticamente. Se isso não fosse assutador, seria seriamente incômodo.
Quando estava prestes a descer pra o café da manhã, eu ví a minha cópia já gasta de O Morro dos Ventos Uivantes caída no chão onde Edward havia derrubado ela na noite passada, deixando a capa envelhecida do jeito que eu sempre deixava.
Eu o peguei com curiosidade, tentando lembrar do que ele havia dito. Algo sobre estar sentindo simpatia por Heathcliff, entre todas as pessoas. Isso não podia estar certo; eu devo ter sonhado com essa parte.
As palavras na página aberta me chamaram a atenção, e eu me inclinei pra ler o parágrafo mais de perto. Era Heathcliff falando, e eu conhecia bem aquela passagem.
E aí você vê a distinção entre os nossos sentimentos: se ele estivesse no meu lugar e eu no dele, apesar de eu odiá-lo com um ódio que esfolou a minha vida, eu jamais teria erguido a mão contra ele. Você pode não acreditar, se assim o desejar! Eu jamais o teria banido da sociedade dela enquanto ela desejasse a dele. No momento em que a consideração dela tivesse cessado, eu teria arrancado o coração dele fora, e bebido seu sangue! Mas, até lá - se você não me acredita, não me conhece - até lá, eu teria morrido a poucos centímetros antes de tocar um fio sequer da cabeça dele!


As três palavras que me chamaram a atenção foram "Bebido seu sangue".
Eu estremecí.

Sim, eu certamente havia sonhado com Edward dizendo alguma coisa positiva sobre Heathcliff. E essa página provavelmente não era a que ele estava lendo. O livro devia ter caído aberto em qualquer página.

12. Tempo

"Eu tinha previsto...", Alice começou num tom ominoso.
Edward jogou o cotovelo nas costelas dela, que ela desviou por pouco.
"Tá", ela rosnou. "Edward está me fazendo fazer isso. Mas eu preví que seria mais difícil se eu surpreendesse você".
Nós estávamos caminhando para o carro depois da escola, e eu não tinha a mínima idéia do que ela estava falando.
"Em Inglês?", eu quis saber.
"Não seja um bebê sobre isso. Nada de acessos de raiva".
"Então você - quer dizer, nós - vamos ter uma festa de formatura. Não é nada grande. Nada com o que se preocupar. Mas eu ví que você ia enlouquecer se eu tentasse fazer uma festa surpresa" - ela dançou fora do caminho quando Edward se aproximou pra bagunçar o cabelo dela - "e Edward disse que eu tinha que te contar. Mas não é nada. Prometo."
Eu suspirei com força. "Existe alguma necessidade de discussão?".
"Absolutamente não".
"Está bem, Alice. Eu estarei lá. E eu vou odiar cada minuto dela. Prometo".
"Esse é o espírito! Aliás, eu adorei o meu presente. Não precisava".
"Alice, eu não dei!"
"Oh, eu sei disso. Mas você vai".
Eu revirei o meu cérebro, tentando lembrar do que eu havia decidido dar pra ela como presente de formatura que ela pudesse ter visto.
"Incrível", Edward murmurou. "Como é que alguém tão pequeno pode ser tão irritante?"
Alice riu. "É um talento".
"Será que você não podia ter esperado umas semanas pra me contar sobre isso?", eu perguntei petulantemente. "Agora eu vou ficar estressada com isso por muito mais tempo".
Alice fez uma careta pra mim.
"Bella", ela disse pra mim. "Você sabe que dia é hoje?"
"Segunda?"
Ela revirou os olhos. "Sim. É Segunda... dia quatro". Ela puxou meu cotovelo, me virou, e apontou para um grande pôster amarelo pregado na porta do ginásio. Lá, em letras pretas pontudas, estava o dia da formatura. A exatamente uma semana de hoje.
"Dia quatro? De Junho? Você tem certeza?"
Nenhum dos dois respondeu.
Alice apenas balançou a cabeça tristemente, fingindo estar desapontada, e as sobrancelhas de Edward se ergueram.
"Não pode ser! Como foi que isso aconteceu?" Eu tentei fazer as contas na minha cabeça, mas eu não conseguia descobrir pra onde os dias haviam ido.
Eu sentí como se alguém tivesse chutado as minhas pernas de baixo de mim. As semanas de estresse, de preocupação... de alguma forma, no meio de toda a minha obcessão com o tempo, o tempo tinha desaparecido. O meu espaço pra resolver tudo, pra fazer planos, havia desaparecido. Eu estava sem tempo.
E eu não estava preparada.
Eu não sabia como fazer isso. Como dizer adeus à Charlie e à Renée... pra Jacob... a ser humana.
Eu sabia exatamente o que eu queria, mas de repente eu estava morrendo de medo de pegar.
Em teoria, eu estava ansiosa, e até apressada pra trocar a mortalidade pela imortalidade. Afinal, ela era a chave pra ficar com Edward pra sempre. E aí havia o fato de que eu estava sendo caçada por inimigos conhecidos e desconhecidos. Eu preferiria não ficar sentada, desamparada e deliciosa, esperando que eles viessem me encontrar.
Em teoria, isso tudo fazia sentido.
Na prática... ser humana era tudo o que eu conhecia. O futuro além disso era um grande abismo escuro que eu não podia conhecer até me jogar nele.
O simples conhecimento, a data de hoje - que era tão óbvia que eu devia estar repreendendo-a subconscientemente - fez com que o prazo final pelo qual eu estive esperando tão impacientemente, parecesse um encontro com um esquadrão de tiro.
De uma maneira vaga, eu estava consciente de Edward segurando a porta aberta do carro pra mim, de Alice tagarelando no banco de trás, da chuva batendo no pára-brisa. Edward pareceu reparar que eu só estava lá em corpo; ele não tentou me tirar da minha abstração. Ou talvez ele tentou, e eu não reparei.
Nós acabamos em minha casa, onde Edward me levou até o sofá e me puxou pra baixo com ele. Eu olhei pela janela, para a névoa cinza líquida, e tentei descobrir pra onde a minha resolução havia ido.
Porque eu estava entrando em pânico agora? Eu sabia que o prazo estava acabando. Porque devia me assustar que ele já estivesse aqui?
Eu não sei por quanto tempo ele me deixou olhar para a janela em silêncio. Mas a chuva já estava desaparecendo na escuridão quando foi demais pra ele.
Ele colocou suas mãos frias em ambos os lados do meu rosto e fixou seus olhos dourados em mim.
"Será que você poderia por favor me dizer o que você está pensando? Antes que eu fique louco?"
O que eu podia dizer pra ele? Que eu era covarde? Eu procurei pelas palavras.
"Seus lábios estão brancos. Fale, Bella"
Eu exalei em uma grande rajada. Por quanto tempo eu estive prendendo a respiração?
"A data me pegou fora de guarda", eu sussurrei. "Isso é tudo".
Ele esperou, seu rosto cheio de preocupação e ceticismo.
Eu tentei explicar. "Eu não tenho certeza... do que dizer à Charlie... o que dizer... como dizer..." A minha voz escapou.
"Isso não é por causa da festa?"
Eu fiz uma careta. "Não. Mas obrigada por me lembrar".
A chuva estava mais alta enquanto ele leu o meu rosto.
"Você não está pronta", ele sussurrou.
"Eu estou", eu mentí imediatamente, uma reação de reflexo. Eu pude notar que ele viu isso, então eu respirei fundo, e contei a verdade. "Eu tenho que estar".
"Você não tem que estar nada".
Eu podia sentir o pânico surgindo em meus olhos enquanto eu falava as razões. "Victoria, Jane, Caius, quem quer que fosse que estava no meu quarto...!"
"Muito mais razões pra esperar".
"Isso não faz sentido, Edward!"
Ele pressionou as mãos com mais força no meu rosto e falou deliberadamente devagar.
"Bella. Nenhum de nós teve a escolha. Você viu o que isso fez... com Rosalie, especialmente. Nós todos lutamos, tentando reconciliar a nós mesmos por uma coisa sobre a qual nunca tivemos controle. Não será assim pra você. Você vai ter uma escolha".
"Eu já fiz a minha escolha".
"Você não vai passar por isso porque tem um espada erguida sobre a sua cabeça. Nós vamos tomar conta dos problemas, e eu vou tomar conta de você", ele prometeu.
"Quando não estivérmos passando por isso, não houver nada forçando a sua decisão, ai você pode decidir se unir à mim, se você ainda quiser. Mas não porque você está com medo. Você não será forçada a isso".
"Carlisle prometeu", eu murmurei, contrariando só pelo hábito. "Depois da formatura".
"Não até que você esteja pronta", ele disse com uma voz segura. "E definitivamente não enquanto você se sentir ameaçada".
Eu não respondí. Eu não conseguia encontrar nada pra discutir; no momento eu não parecia encontrar o meu comprometimento.
"Ai", ele beijou a minha testa. "Nada com o que se preocupar".
Eu rí um riso estremecido. "Nada além da distruição iminente."
"Confie em mim".
"Eu confio".
Ele ainda estava observando o meu rosto, esperando que eu relaxasse.
"Posso te perguntar uma coisa?", eu disse.
"Qualquer coisa".
Eu hesitei, mordendo o meu lábio, e aí fiz uma pergunta diferente daquela que estava me preocupando.
"O que eu vou dar à Alice como presente de formatura?"
Ele riu silenciosamente. "Parecia que você ia dar a nós dois ingressos para um show-"
"Isso mesmo!" eu estava tão aliviada que quase sorrí. "O show em Tacoma. Eu ví o anúncio em um jornal na semana passada, e eu pensei que seria uma coisa que você gostaria, já que você disse que o CD era bom".
"É uma ótima idéia. Obrigado".
"Eu espero que já não esteja lotado".
"É o pensamento que conta. Eu bem sei".
Eu suspirei.
"Tem outra coisa que você está querendo perguntar", ele disse.
Eu fiz uma careta. "Você é bom".
"Eu tenho bastante prática em ler o seu rosto. Me pergunte".
Eu fechei os olhos e me inclinei pra ele, escondendo o meu rosto no peito dele. "Você não quer que eu seja vampira".
"Não, eu não quero.", ele disse suavemente. "Isso não é uma pergunta", ele testou depois de um momento.
"Bem... eu estava me preocupando com... porque você se sente assim".
"Se preocupando?" Ele escolheu as palavras com surpresa.
"Você pode me dizer porque? Toda a verdade, sem poupar meus sentimentos?"
Ele hesitou um momento. "Se eu vou responder a sua pergunta, você vai me explicar a sua pergunta?"
Eu balancei a cabeça, o meu rosto ainda escondido.
Ele respirou fundo antes de responder. "Você podia fazer coisa muito melhor, Bella. Eu sei que vocêacredita que eu tenho uma alma, mas eu não estou inteiramente convencido nesse aspecto, e isso te arrisca..." Ele balançou a cabeça lentamente. "Pra que eu permita isso - deixar que você se torne o que eu sou só pra que eu nunca tenha que te perder - é o ato mais egoísta que eu posso imaginar. Eu quero isso mais do que qualquer outra coisa, por mim mesmo. Mas pra você, eu quero tão mais. Permitir isso - parece um crime. É a coisa mais egoísta que eu jamais terei que fazer, mesmo se eu viver pra sempre.
"Se houvesse uma forma de eu me transformar em humano pra você - não importa qual fosse o preço, eu pagaria".
Eu me sentei muito rígida, absolvendo isso.
Edward pensava que ele estava sendo egoísta.
Eu sentí o sorriso cruzar lentamente pelo meu rosto.
"Então... não é porque você está com medo de... não gostar tanto de mim quando eu for diferente - quando eu não for mais macia e quente e quando não tiver o mesmo cheiro? Você realmente me quer, não importa no que eu me transforme?"
Ele exalou agudamente. "Você estava preocupada que eu não fosse gostar de você?" ele quis saber. Então, antes que eu pudesse responder, ele estava rindo. "Bella, pra uma pessoa tão intuitiva, você consegue ser tão obtusa!"
Eu sabia que ele pensava que era bobagem, mas eu estava aliviada. Se ele realmente me queria, eu podia passar pelo resto... de alguma forma. Egoísta, de repente pareceu ser uma palavra linda.
"Eu não acho que você se dá conta do quão mais fácil isso será pra mim, Bella", ele disse, o eco do seu humor ainda estava em sua voz. "quando eu não tiver mais que me concentrar o tempo todo em te matar. Crtemente, haverão coisas das quais eu sentirei falta. Isso pra começar..."
Ele me olhou nos olhos enquanto alisava a minha bochecha, e eu sentí o sangue correr e colorir o meu rosto. Ele riu gentilmente.
"E o som do seu coração", ele continuou, mais sério, mas ainda sorrindo um pouco. "É o som mais significante no mundo. Eu estou tão conectado a ele agora, que eu juro que poderia identificá-lo à milhas de distância. Mas nenhum dessas coisas importa. Isso", ele disse pegando o meu rosto nas mãos. "Você. É isso que eu vou guardar. Você sempre será a minha Bella, só que você só será um pouco mais durável".
Eu suspirei e deixei os meus olhos se fecharem de contentamento, descansando nas mãos dele.
"Agora, você vai responder uma pergunta pra mim? A verdade, sem poupar os meus sentimentos?" ele perguntou.
"É claro", eu respondí imediatamente, meus olhos se abrindo com a surpresa.
Ele falou as palavras lentamente. "Você não quer ser minha esposa".
O meu coração parou e depois começou a saltar. Um suor frio se acumulou na minha nuca e as minhas mãos se transformaram em gelo.
Ele esperou, observando e escutando a minha reação.
"Isso não é uma pergunta", eu finalmente sussurrei.
Ele olhou pra baixo, seu cílios formando grandes sombras nas maçãs de seu rosto, e ele deixou as mãos caírem do meu rosto pra pegar a minha mão esquerda congelada. Ele brincou com os meus dedos enquanto falava.
"Eu estava me preocupando com porque você sente desse jeito"
Eu tentei engolir. "Isso também não é uma pergunta", eu cochichei.
"Por favor, Bella?"
"A verdade?", eu perguntei, apenas formando as palavras com a boca.
"É claro. Eu posso aguentar, seja lá o que for".
Eu respirei fundo. "Você vai rir de mim".
Ele virou se olhar pra mim, chocado. "Rir? Eu não posso imaginar isso".
"Você vai ver", eu murmurei, e depois suspirei. O meu rosto foi de branco para um repentino tom escarlate com o pesar. "tá, tudo bem. Eu tenho certeza que isso tudo vai soar como uma grande piada pra você, mas realmente! É tão... tão... embaraçoso!", eu confessei, e escondí meu rosto no peito dele de novo.
Houve uma breve pausa.
"Eu não estou te entendendo".
Eu levantei a minha cabeça de volta e encarei ele, a vergonha me deixou brava, agressiva.
"Eu não sou aquela garota, Edward. Aquela que se casa logo quando sai da escola como se fosse uma garota de interior que se apaixonou pelo namorado! Você sabe o que as pessoas iriam dizer? Você sabe que século é esse? As pessoas não se casam aos dezoito anos! Não as pessoas inteligentes, não as pessoas responsáveis, não as pessoas maduras! Eu não ia ser aquela garota! Essa não sou eu..." Eu parei, pendendo a trilha.
O rosto de Edward era impossível de ler enquanto ele pensava na minha resposta.
"Isso é tudo?", ele perguntou finalmente.
Eu pisquei. "Já não é o suficiente?"
"Não é porque você estava mais ansiosa... com a imoralidade em sí do que apenas por mim?"
E aí, apesar de eu ter previsto que ele ia rir, de repente era eu que estava ficando histérica.
"Edward!", eu ofeguei entre os paradoxismos das risadas. "E aqui... eu sempre... pensei que... você fosse... tão mais... inteligentes que eu!"
Ele me pegou em seus braços, e eu podia sentir que ele estava rindo comigo.
"Edward", eu disse, conseguindo falar mais claramente com certo esforço. "não há necessidade de viver pra sempre sem você. Eu não ia querer um dia sem você".
"Bem, isso é um alívio", ele disse.
"Ainda assim... isso não muda nada".
"No entanto, é bom entender. E eu compreendo a sua perspectiva, Bella, eu realmente compreendo. Mas eu gostaria muito so você considerasse a minha".
Até aí eu já estava sóbria, então eu balancei a cabeça e lutei pra não fazer uma careta.
Seus olhos dourados líquidos ficaram hipnóticos enquanto seguravam os meus.
"Entenda, Bella, eu era aquele garoto. No meu mundo, eu já era um homem. Eu não estava procurando por amor - não, eu estava ansioso demais por ser soldado pra me preocupar com isso; eu não pensava em nada além do ideal de glória de guerra que eles estavam vendendo para os cadetes na época - mas se eu tivesse descoberto..." Ele pausou, pendendo a cabeça para o lado. "Eu ia dizer: se eu tivesse encontrado alguém, mas isso não basta. Se eu tivesse encontrado você, não há dúvida na minha cabeça sobre o que eu teria feito. Eu era aquele garoto, que teria - assim que eu tivesse descoberto que era por você que eu estava procurando - ficaria de joelhos e seguraria a sua mão. Eu iria querer você pela eternidade, mesmo se essa palavras não tivesse as mesmas conotações".
Ele sorriu seu sorriso torto pra mim.
Eu encarei ele com os meus olhos arregalados congelados.
"Respire, Bella", ele me lembrou, sorrindo.
Eu respirei.
"Você pode ver o meu lado, Bella, um pouquinho?"
E por um segundo, eu pude. Eu ví eu mesma com uma saia longa e com uma blusa de gola alta, com o meu cabelo preso em um coque em cima da minha cabeça. Eu ví Edward vindo na luz do sol com um buquê de flores do campo na mão, se sentando ao meu lado num balanço na varanda.
Eu balancei minha cabeça e engoli seco. Eu estava tendo flashbacks com Anne of Green Gables.
"O negócio é, Edward" eu disse com minha voz tremendo, evitando a pergunta. "na minha cabeça, casamento e eternidade não são conceitos mutuamente exclusivos ou mutualmente inclusivos. E já que estamos vivendo no meu mundo no momento, nós devíamos seguir o tempo, se você entende o que eu quero dizer".
"Mas por outro lado", ele contrariou. "em breve você estara deixando o tempo completamente pra trás. Então porque esse costumes transitórios de cultura local deveriam afetar tanto essa decisão?"
Eu torcí os lábios. "Quando em Roma?"
Ele riu de mim. "Você não tem que dizer sim ou não hoje, Bella. É bom entender ambos os lados, no entanto, você não acha?"
"Então a sua condição...?"
"Ainda está em efeito. Entendo o seu ponto, Bella, mas se você quer que eu mesmo te mude..."
"Dum, dum, dah-dum", eu sofejei por baixo do fôlego. Eu ia fazer uma marcha nupcial, mas pareceu mais com um canto.
O tempo continuou a se mover muito rápido.
A noite se passou sem sonhos, e aí amanheceu e a formatura estava me encarando. Eu tinha uma pilha de coisas pra estudar para as minhas provas finais e eu sabia que não conseguiria estudar nem a metade com os poucos dias que eu tinha de sobra.
Quando eu descí para o café da manhã, Charlie já tinha ido embora. Ele tinha deixado o jornal em cima da mesa, e isso me lembrou que eu tinha compras a fazer. Eu esperava que o anuncio do show ainda estivesse rolando; eu precisava do número de telefone pra comprar as estúpidas entradas. Não parecia mais um bom presente agora que não era mais surpresa. É claro, tentar surpreender Alice não era o plano mais brilhante, pra começo de história.
Eu esperava ir diretamente para a seção de entretenimento, mas a machete em letras grossas e pretas me chamou a atenção. Eu sentí uma pontada de medo enquanto chegava mais perto pra ler a primeira página da história.

SEATTLE ATERRORIZADA POR ASSASSINATOS

Fazem menos de dez anos desde que a cidade de Seattle estava caçando o mais perigoso dos serial-killers da história dos E.U. Gary Ridgeway, o assassino de Green River, foi condenado pelo assassinato de 48 mulheres. E agora, a assediada Seattle tem que lidar com a possibilidade de estar lidando com um monstro ainda mais aterrorizante dessa vez.
A polícia não acha que a recente onda de homicídios e desaparecimentos seja trabalho de um serrial-killer. Pelo menos, ainda não. Este assassino - se, na verdade, for apenas uma pessoa - teria sido acusada por 39 homicídios qualificados e desaparecimentos apenas em menos de três meses.
Em comparação, a onda de 48 assassinatos provocada por Ridgeway foi espalhada num período de mais de 21 anos. Se essas mortes puderem ser ligadas a apenas um homem, então, esse seria o mais violento ataque de um assassino em série da história Americana.
A polícia, no entanto, está inclinada na teoria de um involvimento com atividade de gangues. Ele teoria é apoiada pelo grande npumero de vítimas, e pelo fato de que não parece haver um padrão de escolha entre as vítimas.
De Jack o Estripador à Ted Bundy, os alvos de serial-killers estão geralmente conectados por similaridades em idade, gênero, raça, ou uma combinação dos três. As vítimas desse ataque de crimes têm idades entre a da estudante Amanda Reed de 15 anos, ao carteiro aposentado, Omar Janks, de 67 anos de idade. Os assassinatos qualificados incluem cerca de 18 mulheres e 21 homens. As vítimas tinham raças diversas: Caucasianos, Afro-Americanos, Hispânicos e Asiáticos.
A seleção parece ser randômica. O motivo parece não ter outra razão a não ser simplesmente matar.
Então porque considerar a idéia de um serrial-killer?
Existem similaridades suficiente no modo de operação dos crimes para selecioná-los como crimes não relacionados. Todos as vítimas descobertas foram queimadas a tal ponto que foi necessário um exame de arcada dentária para identificá-los. O uso de algum acelerante, gasolina ou álcool, parece ser um indicativo das conflagrações; nos entanto, nenhum traço de acelerantes parecem ter sido encontrado ainda. Todos os corpos foram enterrados negligentemente, sem tentativa de encobrimento.
Mais horrível ainda, a maioria dos restos parece conter sinais de violência brutal - ossos quebrados e esmagados por algum tipo de pressão tremenda - que os médicos examinadores acreditam haver ocorrido antes da hora da morte, apesar de se ser difícil ter certeza sobre essas conclusões, considerando o estado das evidências.
Outra similaridade que aponta para a possibilidade de um serrial: todos os crimes estão perfeitamente limpos de evidências, além dos restos por sí só. Nenhuma impressão digital, nenhuma marca de pneu ou um fio de cabelo é deixado pra trás. Não houve nenhuma testemunha oculares para nenhum suspeito nos desaparecimentos.
E então temos os próprios desaparecimentos - altamente sigilosos em todos os aspectos. Nenhuma das vítimas podia ser considerada um alvo fácil. Nenhum deles era um fugitivo ou sem teto, que desaparecem tão facilmente e que dificilmente têm seus desaparecimentos reportados. Vítimas desapareceram de suas casas, de um apartamento de quatro andares, de um spa, de uma recepção de casamento. Talvez o mais impressionante: o boxeador amador de 30 anos de idade, Robert Walsh, entrou em um cinema com sua acompanhante; depois de poucos minutos no cinema, a mulher se deu conta de que ele não estava em seu lugar. O corpo dele foi encontrado apenas três horas depois quando os bombeiros foram chamados à cena de um lixão em incêndio, a vinte quilômetros de distância.
Outro padrão presente nos assassinatos: todas as vítimas desapareceram à noite.
E o padrão mais alarmante? Aceleração. Seis homicídios foram cometidos no primeiro mês, 11 no segundo. Vinte e dois ocorreram apenas nos últimos dois dias. E a polícia não está mais perto de encontrar o responsável do que estavam quando o primeiro corpo carbonizado foi encontrado.
A evidência é conflitante, os pedaços são aterrorizantes. Uma nova gangue viciada ou um serial-killer selvagemente ativo? Ou alguma outra coisa que a polícia ainda não tenha levado em consideração?
Uma única conclusão é indesputável: algo horrível está perseguindo Seattle.

Eu precisei tentar três vezes pra ler a última frase, e eu me dei conta de que o problema era o estremecimento das minhas mãos.
"Bella?"
Focada como eu estava, a voz de Edward, apesar de baixa e não totalmente inexperada, me fez ofegar e girar.
Ele estava inclinado na porta, com as sobrancelhas juntas. Então, de repente ele estava ao meu lado, segurando a minha mão.
"Eu assustei você? Eu lamento. Eu não batí..."
"Não, não", eu disse rapidamente. "Você já viu isso?" Eu apontei para o jornal.
Uma careta enrugou a testa dele.
"Eu ainda não ví as notícias de hoje. Mas eu sabia que estava piorando. Nós vamos ter que fazer alguma coisa... rapidamente".
Eu não gostei disso. Eu odiava qualquer um deles tentando a sorte, e o que quer ou quem quer que estivesse em Seattle estava realmente começando a me assutar. Mas a idéia dos Volturi voltando era igualmente assutadora.
"O que Alice diz?"
"Esse é o problema" A careta dele endureceu. "Ela não consegue ver nada... apesar de já termos decidido um milhão de vezes que nós vamos investigar. Ela está começando a perder a confiança. Ela sente como se estivesse perdendo muito esses dias, que alguma coisa está errada. Talvez as visões dela estejam desaparecendo".
Meus olhos arregalaram. "Isso pode acontecer?"
"Quem sabe? Ninguém nunca fez um estudo... mas eu realmente duvido. Essas coisas tendem a intensificar com o tempo. Olhe pra Aro e Jane".
"Então o que ha de errado?"
"Profecias auto-realizáveis, eu acho. Nós continuamos esperando que Alice veja alguma coisa pra que possamos ir... e ela não vê nada porque nós não iremos até que ela veja alguma coisa. Então ela não pode nos ver lá. Talvez nós tenhamos que fazer isso às cegas".
Eu estremecí. "Não".
"Você tem um forte desejo de assitir aula hoje? Nós só estamos a dois dias das provas finais; eles não vão nos ensinar nada novo".
"Eu posso viver sem escola por um dia. O que vamos fazer?"
"Eu quero falar com Jasper".
Jasper se novo. Isso era estranho. Na família Cullen, Jasper estava sempre um pouco de lado, parte das coisas, mas nunca no centro delas. A minha assunção silênciosa era de que ele só estava lá por Alice. Eu tinha a sensação de que ele seguiria Alice pra onde quer que fosse, mas esse estilo de vida não era sua primeira escolha.
O fato de que ele tinha menos comprometimento do que os outros era provavelmente o motivo pelo qual ele tinha mais dificuldade de se ajustar.
De qualquer forma, eu nunca havia visto Edward se sentir dependente de Jasper. Eu me perguntei de novo o que ele queria dizer sobre Jasper ser um expert. Eu realmente não sabia muito sobre a história de Jasper, só que ele tinha vindo de algum lugar no sul antes de Alice encontrar ele. Por alguma razão, Edward sempre se esquivava de perguntas sobre seu irmão mais novo. Eu sempre me sentí intimidada demais pelo alto vampiro loiro que parecia mais com um astro de cinema em ascenção pra perguntá-lo diretamente.
Quando estávamos na casa, nós encontramos Carlisle, Esme, e Jasper assistindo atentamente o noticiário, apesar do som estar tão baixo que era impossível pra mim ouvir. Alice estava sentada no topo da grande escadaria, o rosto nas mãos com uma expressão desencorajada. Enquanto entrávamos, Emmett entrou pela porta da cozinha, parecendo perfeitamente tranquilo. Nada nunca incomodava Emmett.
"Ei, Edward. Faltando aula, Bella?" Ele sorriu pra mim.
"Nós dois estamos", Edward lembrou ele.
Emmett riu. "Sim, mas é a primeira vez dela no colegial. Ela pode perder alguma coisa".
Edward rolou os olhos, de outra maneira ignorando seu irmão favorito. Ele jogou o jornal pra Carlisle.
"Você viu que agora eles estão considerando um serial-killer?", ele perguntou.
Carlisle suspirou. "Eles estavam com dois especialistas no CNN debatendo essa possibilidade hoje".
"Nós não podemos continuar assim".
"Vamos agora", Emmett disse com um entusiasmo repentino. "Eu estou morto de chateação".
Um assobio ecoou de cima das escadas até embaixo.
"Ela é tão pessimista", Emmett murmurou pra sí mesmo.
Edward concordou com Emmett. "Não vamos ter que ir alguma hora".
Rosalie apareceu no topo das escadas e desceu lentamente. O rosto dela estava suave, sem expressão.
Carlisle estava balançando a cabeça. "Eu estou preocupado. Nós nunca nos envolvemos nesse tipo de coisa antes. Não somos Volturi".
"Eu não quero que os Volturi venham aqui", Edward disse. "Isso nos dá muito menos tempo de reação".
"E todos aqueles humanos inocentes em Seattle", Esme murmurou. "Não pe certo deixá-los morrer desse jeito".
"Eu sei", Carlisle disse.
"Oh", Edward disse repentinamente, virando sua cabeça um pouco pra olhar pra Jasper. "Eu acho que não tinha pensado nisso. Eu entendo. Você está certo, tem que ser isso. Bem, isso muda tudo".
Eu não fui a única que o encarou confusa, mas eu devo ter sido a única que não pareceu nem um pouco incomodada.
"Eu acho que é melhor você explicar aos outros", Edward disse pra Jasper. "Qual seria o propósito disso?", Edward começou a andar de um lado pro outro, olhando para o chão, perdido em pensamentos.
Eu não tinha visto ela se levantar, mas Alice já estava lá ao meu lado. "Porque ele está vagando?" ela perguntou a Jasper. "O que você está pensando?"
Jasper não pareceu gostar de toda a atenção. Ele hesitou, lendo cada um dos rostos no círculo - já que todo mundo tinha se aproximado pra ouvir o que ele tinha a dizer - e então os olhos dele pausaram no meu rosto.
"Você está confusa", ele disse pra mim, sua voz profunda estava muito baixa.
Não havia pergunta em sua suposição. Jasper sabia o que eu estava sentindo, o que todos estavam sentindo.
"Nós estamos todos confusos", Emmett murmurou.
"Vocês têm tempo pra ser pacientes", Jasper disse a ele. "Bella devia entender isso também. Ela é uma de nós agora".
As palavras dele me pegaram de surpresa. Tão pouco que eu havia lidado com Jasper, especialmente desde o meu último aniversário quando ele tentou me matar, eu não havia me dado conta de que ele pensava em mim desse jeito.
"Quanto você sabe sobre mim, Bella?", Jasper perguntou.
Emmett suspirou teatralmente, e se atirou no sofá pra esperar com exagerada impaciência.
"Não muito", eu admití.
Jasper olhou pra Edward, que olhou pra cima pra encontrar seu olhar.
"Não", Edward respondeu o seu pensamento. "Eu tenho certeza que você entende porque eu nunca contei essa história pra ela. Mas eu acho que ela precisa saber agora".
Jasper balançou a cabeça pensativamente, e aí começou a enrolar pra cima a manga do seu suéter marfim.
Eu observei, curiosa e confusa, tentando entender o que ele estava fazendo. Ele segurou o seu pulso embaixo de uma luminária que estava ao lado dele, perto da luz da lâmpada, e passou o dedo em uma marca crescente em sua pele pálida.
Eu levei um segundo pra entender porque aquela forma me parecia estranhamente familiar.
"Oh", eu respirei quando a realização bateu. "Jasper, você tem uma cicatriz exatamente igual a minha".
Eu levantei minha mão, a protuberância prateada era mais proeminente na minha pele cor de creme do que na sua, cor de alabastro.
Jasper sorriu fracamente. "Eu tenho muitas cicatrizes como as suas, Bella".
O rosto de Jasper estava ilegível enquanto ele puxava a manga do seu suéter mais pra cima. No início, os meus olhos não conseguiram entender a textura grossa que estava marcada na pele dele. Meias luas cruzadas umas por cimas das outras em um padrão que só era visível, branco no branco como era, porque o forte brilho da lâmpada ao lado dele fazia com que as marcas ficassem um pouco em relevo, com uma leve sombra marcando as formas. E então eu entendí que o padrão era feito com meias luas individais como a no pulso dele... como a da minha mão.
Eu olhei de volta para a minha cicatriz pequena, solitária - e me lembrei de como eu a recebí. Eu olhei para a forma dos dentes de James, embossada pra sempre na minha pele.
E aí eu sufoquei, olhando pra ele. "Jasper, o que aconteceu com você?"

13. Recém-nascido

“A mesma coisa que aconteceu na sua mão”, Jasper respondeu numa voz baixa. “Repetido mil vezes”. Ele sorriu um pouco amargamente e esfregou seu braço. “O nosso veneno é a única coisa que deixa cicatriz”.
Porque?, eu respirei horrorizada, me sentindo rude mas me sentindo incapaz de desviar os olhos da sua pele subitamente castigada.
“Eu não tive a mesma... criação que os meus irmãos adotivos aqui. O meu começo foi uma coisa inteiramente diferente”. A voz dele estava dura quando ele terminou.
Eu abri uma brecha pra ele, intimidada.
“Antes que eu te conte a minha história”, Jasper disse. “Você precisa entender que existem lugares no nosso mundo, Bella, onde o tempo de vida daqueles que não envelhecem é medida em semanas, e não em séculos”.
Os outros já tinham ouvido isso antes. Carlisle e Emmett viraram sua atenção para a TV de novo. Alice havia se movido um pouco pra se sentar aos pés de Esme. Mas Edward estava tão absolvido quando eu; eu podia sentir os olhos dele no meu rosto, lendo cada mudança de emoção.
"Pra entender realmente o porque, você tem que olhar pra o mundo por uma perspectiva diferente. Você tem que imaginar o jeito como ele parece para os poderosos, os gananciosos... os perpetuamente sedentos.
"Entenda, existem lugares no mundo que são mais desejáveis pra nós do que outros. Lugares onde nós podemos ter menos restrições, e ainda evitar a detecção.
"Imagine, por exemplo, um mapa do hemifério oeste. Imagine cada vida humana como um pequeno ponto vermelho. Quanto mais vermelho, mas facilmente nós - bem, aqueles que vivem desse jeito - podem se alimentar sem atrair atenção".
Eu estremecí com a imagem na minha cabeça, com a palavra alimentar. Mas Jasper não estava preocupado em me assustar, ele não era super protetor como Edward era. Ele continuou sem uma pausa.
"Não que os grupos ao sul liguem muito se os humanos vão notar ou não. São os Volturi que mantêm um olho nisso. Eles são os únicos que os grupos do sul temem."
"Se não fossem os Volturi, o resto de nós seria rapidamente exposto".
Eu fiz uma careta pelo jeito que ele pronunciou o nome - com respeito, quase gratidão. A idéia dos Volturi como os mocinhos de qualquer maneira era difícil de aceitar.
"O Norte é, em comparação, muito civilizado. A maioria de nós daqui são nômades que gostam do dia tanto quanto da noite, que permitem que os humanos interajam conosco sem levantar suspeitas - anonimato é muito importante pra todos nós.
"É um mundo diferente no Sul. Os imortais de lá só saem à noite. Eles passam o dia planejando seu próximo passo, antecipando seu inimigo. Como houve guerra no Sul, guerra constante por séculos, sem nenhum momento de trégua. Os grupos de lá mal reparam na existência dos humanos, a não ser como soldados que notam um rebanhos de vacas no lado de uma pista - comida pra pegar. Eles só se escondem do conhecimento do rebanho por causa do Volturi".
"Mas pelo quê eles estão lutando?" eu perguntei.
Jasper sorriu. "Lembra do mapa com os pontos vermelhos?"
Ele esperou, então eu balancei a cabeça.
"Eles lutam pelo controle do maior número de pontos vermelhos.
"Veja, se ocorresse que uma pessoa, se ele fosse o único vampiro, digamos no Novo México, então, ele poderia se alimentar toda noite, duas vezes, três vezes, e ninguém nunca repararia. Ele planeja as formas certas pra se livrar da competição.
"Outros tiveram a mesma idéia. Alguns apareceram com táticas mais efetivas do que outros.
"Mas a tática mais efetiva foi inventada por um vampiro bastante jovem chamado Benito. Da primeira vez que qualquer um ouviu falar nele, ele tinha vindo de algum lugar à norte de Dallas e massacrou dois grupos pequenos que dividiam uma área perto de Houston. Duas noites depois, ele pegou um clã muito mais forte de aliados que controlava Monterrey no norte no México. De novo, ele venceu."
"Como foi que ele venceu?" eu perguntei com curiosidade cautelosa.
"Benito havia criado um exército de vampiros recém nascidos. Ele foi o primeiro a pensar nisso, e, no começo, ele era impossível de parar. Vampiros jovens são muito voláteis, selvagens, e quase impossíveis de controlar. É possível ser razoável com um recém-nascido, ensiná-lo a se controlar, mas dez, quinze juntos são um pesadelo. Eles vão se virar um contra o outro com tanta facilidade como se fosse um inimigo para o qual você aponta. Benito teve que ficar fazendo mais à medida que eles se destruíam, e os grupos que ele derrotava matavam metade de sua força antes de perderem a luta.
"Veja, apesar dos recém-nascidos serem perigosos, eles ainda são possíveis de derrotar se você souber o que está fazendo. Eles são incrívelmente poderosos fisicamente, pelo primeiro ano ou coisa assim, e se eles forem permitidos a usar a força pra aguentar, eles podem derrotar um vampiro mais velho com facilidade. Mas eles são escravos de seus instintos, e por isso são previsíveis. Geralmente, eles não tem nenhuma habilidade com luta, apenas musculos e ferocidade. E nesse caso, maior número.
"Os vampiros ao Sul do México se deram conta do que estava vindo pra eles, e fizeram a única coisa que podiam pra enfrentar Benito. Eles mesmos fizeram exércitos...
"E o inferno correu solto - e eu estou falando da forma mais literal que você possa imaginar. Nós imortais temos as nossas histórias também, e essa guerra em particular nunca será esquecida. É claro, também não era uma época muito boa pra se ser humano no México".
Eu estremecí.
"Quando a contagem dos corpos tomou proporções epidêmicas - de fato, as suas histórias culpam as doenças pela baixa na população - os Volturi finalmente interviram. A guarda inteira veio junta e acabou com todos os recém-nascidos na metade de cima da América do Norte. Benito estava escondido em Puebla, construindo seu exército o mais rápido que podia pra poder tomar o seu prêmio - a Cidade do México. Os Volturi começaram com ele, e depois passaram pro resto."
"Qualquer um que fossem encontrado com vampiros recém-nascidos era executados imediatamente, e, já que todos estavam tentando se proteger de Benito, México ficou esvaziada de vampiros por algum tempo.
"Os Volturi ficaram limpando a casa por quase um ano. Esse é outro capítulo da nossa história que será sempre lembrado, apesar de que houveram poucas testemunhas restantes pra falar de como foi. Eu falei com uma pessoa que uma vez tinha, à distância, observado o que aconteceu quando eles visitaram Culiancán".
Jasper estremeceu. Eu me dei conta de que eu nunca havia visto ele com medo ou aterrorizado antes. Essa era a primeira vez.
"Isso foi o suficiente pra que a febre de conquista não se espalhasse pelo Sul. O resto do mundo ficou são. Nos devemos aos Volturi pelo nosso estilo de vida atual.
"Mas quando os Volturi voltaram para a Itália, os sobreviventes foram rápidos pra apostar em suas posses ao Sul.
"Não demorou muito tempo pra que os grupos começassem a disputar novamente. Havia muito sangue ruim, se você perdoa a expressão. Vinganças por todo lado. A idéia dos recém-nascidos já estava lá, e alguns não foram capazes de resistir. Porém, os Volturi ainda não haviam sido esquecidos, e os grupos do sul foram mais cuidadosos dessa vez. Os recém-nascidos eram escolhidos entre os humanos com mais cuidado, e eram mais treinados. Eles eram usados circunspectamente, e os humanos continuaram, em grande parte, sem saber de nada. Os criadores deles não deram aos Volturi nenhum motivo pra voltar.
"As guerras foram reassumidas, mas em uma escala menor. De vez em quando, se alguém ia muito longe, especulações começavam a aparecer nos jornais dos humanos, e os Volturi voltavam pra limpar a cidade. Mas eles deixavam os outros, os mais cuidadosos, continuarem..."
Jasper estava olhando para o espaço.
"Foi assim que você foi transformado". A minha realização foi um sussurro.
"Sim", ele concordou. "Quando eu era humano, eu viví em Houston, Texas. Eu estava quase com dezessete anos quando eu me juntei ao Exército Confederado em 1861. Eu mentí pra os recrutadores e disse que tinha vinte anos. Eu era alto o suficiente pra escapar com a mentira.
"A minha carreira militar foi curta, mas muito promissora. As pessoas sempre... gostaram de mim, escutaram o que eu tinha a dizer. O meu pai dizia que era carisma. É claro, agora eu sei que provavelmente era algo mais. Mas, qualquer que fosse a razão, eu fui rapidamente promovido entre as patentes, acima de homens mais velhos, mais experientes. O Exército Confederado era novo e estava começando a se organizar, então, isso também promoveu oportunidades. Na primeira batalha em Galveston - bem, foi mais um desfarce, na verdade - eu era o Major mais novo do Texas, se que sequer soubessem minha verdadeira idade.
"Eu fiquei com a responsabilidade de evacuar as mulheres e as crianças da cidade quando os barcos do morteiro Union atracaram no porto. Eu levei um dia pra prepará-los, e então eu partí com o primeiro grupo de civis pra carregá-los até Houston.
"Eu me lembro daquela noite muito claramente.
"Nós chegamos à cidade quando já estava escuro. Eu só fiquei por tempo suficiente pra ter certeza se o grupo inteiro estava seguramente situado. Assim que isso foi feito, eu peguei um cavalo novo pra mim, e voltei pra Galveston. Não havia tempo pra descansar.
"A apenas um metro fora da cidade, eu encontrei três mulheres a pé. Eu pensei que elas estavam perdidas e desmontei imediatamente pra oferecê-las meu auxílio. Mas, quando eu conseguí ver o rosto delas na luz difusa da lua, eu fiquei silenciosamente fascinado. Elas eram, sem dúvida, as três mulheres mais bonitas que eu já havia visto.
"Elas tinham uma pele tão pálida, que eu me lembro de ficar maravilhado. Mesmo a garota pequena de cabelos pretos, de quem as feições era claramente mexicanas, pareciam porcelana à luz da lua."
"Elas pareciam jovens, todas elas, ainda jovens o suficiente pra serem chamadas de garotas. Eu sabia que elas não eram membros perdidos do nosso grupo. Eu teria me lembrado de vez aquelas três.
"Ele está sem voz' disse a garota mais alta com uma voz adorável, delicada - era como uma brisa de vento. Ela tinha bastante cabelo, e a pele dela era branca como neve.
"A outra era mais loira e mesmo assim, sua pele era igualmente branca. O rosto dela era como o de um anjo. Ela inclinou na minha direção com os olhos meio fechados e inalou profundamente.
"Mmm' ela suspirou. 'Adorável'.
"A menor, uma morena pequena, colocou a mão no braço da outra e falou rapidamente. A voz dela estava muito suave e musical pra ser ríspida, mas isso parecia ser o que ela pretendia.
"Se concentre, Nettie', ela disse.
"Eu sempre tive uma boa sensação de como as pessoas se relacionam umas com as outras, e ficou claro imediatamente que a morena estava no comando das outras. Se elas fossem militares, eu diria que ela se sobressaía às outras.
"Ele parece ser certo - jovem, forte, um oficial...' a morena pausou, e eu tentei falar sem sucesso. 'E tem mais alguma coisa... vocês estão sentindo?' ela perguntou às outras duas. 'Ele é... coagente'.
"Oh, sim' Nettie concordou rapidamente, se inclinando na minha direção de novo.
"Paciencia', a morena avisou ela. 'Eu quero ficar com esse'.
"Nettie fez uma careta, ela pareceu aborrecida.
"É melhor você fazer isso, Maria', a loira mais alta falou de novo. 'Se ele é importante pra você. Eu os mato duas vezes mais do que os crio'.
"'Sim, eu vou fazer isso', Maria concordou. 'Eu realmente gosto desse. Leve Nettie pra longe, tá? Eu não quero ter que proteger as minhas costas enquanto estou tentando me concentrar.'
"O meu cabelo estava arrepiando na minha nuca, apesar não se eu não entender o significado de nada do que aquelas lindas criaturas estavam falando."
"Os meus instintos me diziam que eu estava em perigo, que aquele anjo estava falando sério quando falou em matar, mas meu julgamento dominou os meus instintos. Eu nunca fui ensinado a temer mulheres, e sim a protegê-las.
"Vamos caçar', Nettie concordou entusiasticamente, pegando a mão da garota alta. Elas foram embora - elas eram tão graciosas! - e saíram em direção à cidade. Elas pareciam prestes a levantar vôo, de tão rápidas que eram - seus vestidos brancos esvoaçavam atrás delas como se fossem asas. Eu pisquei pasmificado, e elas foram embora.
"Eu me virei pra encarar Maria, que estava me olhando com curiosidade.
"Eu nunca havia sido supersticioso em minha vida. Até aquele segundo, eu nunca havia acreditado em fantasmas e nessas bobagens. De repente, eu não tinha certeza.
"Qual é o seu nome, soldado?' Maria me perguntou.
"Major Jasper Withlock, madame', eu gaguejei, incapaz de ser mal educado com a mulher, mesmo se ela fosse um fantasma.
"Eu realmente espero que você sobreviva, Jasper'. Ela disse com uma voz gentil. 'Eu tenho um bom sentimento sobre você.'
"Ela deu um passo mais pra perto, e inclinou a cabeça como se ela fosse me beijar. Eu fiquei congelado no lugar, apesar dos meus instintos estarem gritando pra que eu corresse."
Jasper pausou, seu rosto estava pensativo. "Alguns dias depois", ele finalmente disse, e eu não pude ter certeza se ele havia editado a história pro meu bem ou porque ele estava respondendo à tensão que até eu podia sentir exalando de Edward. "Eu fui apresentado à minha nova vida.
"Os nomes delas eram Maria, Nettie, e Lucy. Elas não estavam juntas ha muito tempo - Maria havia encontrado as outras duas - todas as três eram sobreviventes de batalhas recentemente perdidas. A parceria delas era de conveniência. Maria queria vingança, e ela queria seus territórios de volta. As outras duas estavam ansiosas pra aumentar suas... terras de rebanho, eu acho que você pode dizer. Elas estavam criando um outro exército, e iam ser mais cuidadosas com isso do que o normal."
"Foi idéia de Maria. Ela queria um exército superior, então ela escolhia humanos específicos que tivessem potencial. Aí ela nos deu muito mais atenção, muito mais treinamento do que outra pessoa tinha se incomodado em fazer. Ela nos ensinou a lutar, e nos ensinou a ser invisíveis para os humanos. Quando nós fazíamos direito, nós éramos recompensados..."
Ele parou, editando de novo.
"No entanto, ela estava com pressa. Maria sabia que a força massiva dos recém-nascidos ia diminuindo no período de um ano, e ela queria agir enquanto éramos fortes.
"Haviam seis de nós quando eu me juntei ao bando de Maria. Ela fez mais quatro no período de uma noite. Nós éramos todos homens - Maria queria soldados - e isso fez com que fosse um pouco mais dificil não brigarmos entre nós mesmos. Eu lutei minhas primeiras batalhas contra os meus próprios camaradas no exército. Eu era mais rápido que os outros, melhor no combate. Maria estava satisfeita comigo, apesar de ter que continuar repondo aqueles que eu destruía. Eu era recompensado com frequência, e isso me deixava mais forte.
"Maria era uma boa juíza de caráter. Ela decidiu me colocar no comando dos outros - como se eu estivesse sendo promovido. Isso servia perfeitamente com a minha natureza. As brigas diminuiram dramaticamente, e o nosso número aumentou até que éramos cerca de vinte.
"Esse era um número considerável levando em consideração os tempos cuidadosos em que vivíamos. A minha habilidade, ainda que indefinida, de controlar a atmosfera emocional ao meu redor era vitalmente efetiva. Em breve nós começamos a trabalhar juntos de uma forma que os vampiros recém-nascidos jamais haviam cooperado antes. Até Maria, Nettie, e Lucu eram capazes de trabalhar juntas com mais facilidade.
"Maria ficou muito apegada a mim - ela começou a depender de mim. E, de algumas formas, eu adorava o chão em que ela pisava. Eu não fazia idéia de que outra vida era possível. Maria nos disse que esse era o jeito como as coisas eram, e nós acreditamos".
"Ela pediu que eu dissesse a ela quando os meus irmãos e ela estivéssemos prontos pra lutar, e eu estava ansioso pra me provar. Eu havia juntado um exército de vinte e três no final - vinte e três vampiros inacreditavelmente fortes, organizados e habilidosos com nenhum outro antes. Maria estava estasiada.
"Nós nos movemos em direção à Monterrey, sua antiga casa, e ela no soltou em cima de seus inimigos. Naquela hora eles só tinham nove recém-nascidos, e um par de vampiros mais velhos controlando eles. Nós os derrotamos mais facilmente do que Maria podia acreditar, perdendo apenas quatro no processo. Eu estava na ponta da margem de vitória.
"E nós éramos todos bem treinados. Nós fizemos isso sem atrair atenção. Naquele primeiro ano, ela estendeu seu controle pra controlar a maior parte do Texas e do norte do México. Então os outros vieram do Sul pra enfrentar ela."
Ele passou dois dedos nas fracas marcas das cicatrizes no braço dele.
"A luta foi intensa. Muitos começaram a se preocupar que os Volturi fossem voltar. Dos vinte e três originais, eu fui o único a sobreviver nos primeiros oito meses. Nós tanto perdemos quanto vencemos. Eventualmente Nettie e Lucy se viraram contra Maria - mas essa nós vencemos.
"Maria e eu fomos capazes de segurar Monterrey. As coisas de acalmaram um pouco, apesar das guerras continuarem. A idéia de conquista estava morrendo; agora a maioria era por vingança e por terras. Muitos deles haviam perdido seus parceiros, e isso é uma coisa que a nossa espécie não perdoa.
"Maria e eu sempre mantínhamos cerca de doze recém-nascidos prontos. Eles significavam pouco pra nós - eles eram moeda de troca, eram descartáveis. Quando eles não eram mais úteis, nós mesmos nos livrávamos deles. A minha vida continuou o mesmo padrão violênto e o ano se passou. Eu já estava de saco cheio de tudo muito antes das coisas mudarem...
"Décadas depois, eu desenvolví uma amizade com um recém-nascido que continuou sendo útil e sobreviveu aos seus três primeiros anos, apesar das chances."
"O nome dele era Peter. Eu gostava de Peter; ele era... civilizado - eu acho que essa é a palavra correta. Ele não gostava de lutar, apesar de ser bom nisso.
"Ele foi encarregado de lidar com os recém-nascidos - ser babá deles, pode-se dizer. Era um trabalho de tempo integral.
"E aí era hora de fazer uma limpeza de novo. Os recém-nascidos iam perdendo a força; eles precisavam ser repostos. Era pra Peter me ajudar com isso. Nós cuidávamos deles individualmente, entende, um por um... Era sempre uma noite muito longa. Dessa vez, ele tentou me convencer de que alguns tinham potencial, mas Maria havia me dado instrunções pra me livrar deles. Eu disse não a ele.
"Nós estavamos quase na metade, e eu podia sentir que isso estava exigindo uma grande carga de Peter. Eu estava decidindo se eu devia ou não mandá-lo embora e acabar com tudo sozinho enquanto eu chamava a próxima vítima. Pra minha surpresa, ele ficou com raiva de repente, furioso. Eu suportei o que quer que fosse que o humor dele queria dizer - ele era um bom lutador, mas não era páreo pra mim.
"O recém-nascido que eu havia chamado era uma fêmea, que havia acabado de completar um ano. O nome dela era Charlotte. Os sentimentos dele mudaram quando ela apareceu; eles o traíram. Ele gritou pra que ela corresse, e ele mesmo correu atrás dela. Eu podia ter perseguido eles, mas não perseguí. Eu sentí... aversão a destruí-lo.
"Maria ficou irritada comigo por isso.
"Cinco anos depois, Peter voltou pra me ver. Ele escolheu um bom dia pra aparecer.
"Ela estava confusa com o meu humor já deteriorado. Ela nunca sentia uma depressão momentânea, e eu me perguntei porque eu era diferente. Eu comecei a notar a diferença nas emoções dela quando ela estava perto de mim - as vezes ela ficava com medo... e com malícia. Eu estava me preparando pra distruir a minha única aliada, a semente da minha existência, quando Peter retornou.
"Peter me contou sobre sua nova vida com Charlotte, me contou sobre opções que eu nunca sonhei que tivesse."
"Em cinco anos, eles nunca tiveram uma briga, apesar deles haverem conhecido muitos outros no norte. Outros que podiam co-existir sem viverem em um caos constante.
"Em uma conversa, ele convenceu. Eu estava pronto pra ir embora, e um pouco aliviado por não ter que matar Maria. Eu fui companheiro dela por tantos anos quantos Carlisle e Edward estiveram juntos, e mesmo assim, o laço entre nós nem de perto era tão forte quanto o deles. Quando você vive para a luta, para o sangue, os relacionamentos que você forma são tenazes e facilmente quebrados. Eu fui embora sem olhar pra trás.
"Eu viajei com Peter e Charlotte por alguns anos, tento uma sensação desse mundo novo, mas pacífico. Mas a depressão não foi embora. Eu não entendia o que havia de errado comigo, até que Peter começou a reparar que eu sempre ficava pior depois de caçar.
"Eu pensei nisso. Em tantos anos de matança e carnagem, eu havia perdido praticamente toda a minha humanidade. Eu era um inegavelmente um pesadelo, um monstro do tipo mais odiavel. Toda vez que eu encontrava outra vítima humana, eu sentia uma leve pontada de semelhança com aquela outra vida. Observando os olhos delas se abrirem impressionados com a minha beleza, eu me lembrava de Maria e as outras em minha cabeça, o que elas haviam parecido pra mim na última noite em que eu fui Jasper Withlock. Era mais forte pra mim - essa memória emprestada - do que era para os outros, porque eu podia sentir tudo o que a minha presa estava sentindo. E eu vivia as emoções deles enquanto os estava matando.
"Você já experimentou a forma como eu consigo manipular as emoções ao meu redor, Bella, mas eu me perguntou se você se já imaginou o quanto as emoções de uma sala me afetam. Eu vivo todos os dias em uma variação de emoções. Pelo primeiro século de minha vida, eu viví num mundo de vingança sanguenta. Ódio era o meu companheiro constante. Isso se acalmou um pouco quando eu deixei Maria, mas eu ainda sentia o horror e o medo da minha presa".
"Isso começou a ser demais.
"A depressão ficou pior, e eu me afastei de Peter e Charlotte. Mesmo civilizados como eles eram, eles não sentiam a mesma aversão que eu começava a sentir. Eles só queriam paz das lutas. Eu estava cansado de matar - matar qualquer um, até meros humanos.
"E mesmo assim eu tinha que continuar matando. Que escolha eu tinha? Eu tentei matar com menos frequência, mas aí eu ficava com muita sede e desistia. Depois de um século de gratificação instantânea, eu achava a auto-disciplina... desafiadora. Eu ainda não havia aperfeiçoado isso."
Jasper estava perdido na história, assim como eu. Eu fiquei surpresa quando sua expressão desolada se suavizou em um sorriso pacífico.
"Eu estava na Philadélfia. Houve uma tempestade, e eu havia saído durando o dia - coisa com a qual eu ainda não estava completamente confortável. Eu sabia que ficar de pá na chuva ia chamar a atenção, então eu entrei numa lanchonete meio vazia. Os meus olhos estavam escuros o suficiente pra ninguém reparar neles, apesar disso significar que eu estava com sede, e isso me preocupou um pouco.
"Ela estava lá - me esperando, naturalmente". Ele gargalhou uma vez. "Ela pulou do banco alto no balcão assim que eu entrei e veio andando diretamente em minha direção.
"Isso me chocou. Eu não tinha certeza se ela queria atacar. Essa é a única interpretação de comportamento dela que o meu passado tem a oferecer. Mas ela estava sorrindo. E as emoções que emanavam dela eram uma coisa que eu nunca havia sentido antes.
"'Você me deixou esperando por muito tempo', ela disse"
Eu não tinha me dado conta de que Alice tinha vindo ficar de pé atrás de mim novamente.
"E você abaixou a cabeça, como um bom cavalheiro do Sul, e disse 'Eu lamento, madame'" Alice riu com a memória.
Jasper sorriu pra ela. "Você levantou a mão, e eu a peguei sem me dar conta do que estava fazendo. Pela primeira vez em um século, eu sentí esperança".
Jasper pegou as mãos de Alice enquanto falava.
Alice deu um sorriso largo. "Eu estava aliviada. Eu pensei que você não fosse aparecer nunca".
Eles sorriram um pro outro por algum tempo, e aí Jasper olhou de volta pra mim, ainda com a expressão suave.
"Alice me disse que tinha visto sobre Carlisle e a família dele. Eu mal podia acreditar que um experiência assim fosse possível. Mas Alice me fez otimista. Então nós fomos encontrá-los".
"E matar eles de susto também", Edward disse, revirando os olhos pra Jasper antes de se virar pra mim e explicar. "Emmett e eu estávamos fora caçando. Jasper aparece, coberto de marcas de batalhas, acompanhando essa estranha pequena" - ele cutucou Alice de brincadeira - "que se refere a todo mundo pelo nome, sabe tudo sobre eles, e quer saber em que quarto ela vai ficar".
Alice e Jasper riram em harmonia, soprano e baixo.
"Quando eu voltei pra casa, todas as minhas coisas estavam na garagem", Edward continuou.
Alice lvantou os ombros. "O seu quarto tinha a melhor vista".
Agora todos eles riram juntos.
"Essa é uma história legal", eu disse.
Três pares de olhos questionaram a minha sanidade.
"Eu estou falando da última parte", eu me defendí. "O final feliz com Alice".
"Alice fez toda a diferença", Jasper concordou. "Esse é um clima que eu gosto".
Mas a pausa momentânea no estresse não podia durar muito.
"Um exército", Alice disse. "Porque você não me contou?"
Os outros estavam atentos de novo, os olhos deles presos no rosto de Jasper.
"Eu pensei que pudesse estar interpretando os sinais incorretamente. Porque, qual é o motivo? Porque alguém criaria um exército em Seattle? Não existe história lá, nada de vinganças. Uma disputa por um lugar de destaque também não faz sentido. Os nômades passam por lá, mas não hà ninguém pra lutar por isso. Não hà ninguém pra defender isso.
"Mas eu já ví isso antes, e não existe outra explicação. Há um exército de vampiros recém-nascidos em Seattle. Pouco menos de vinte, eu acho. A parte difícil é que eles estão completamente destreinados."
"Quem quer que os tenha criado deixou eles soltos. Isso só vai piorar, e não vai demorar muito até os Volturi intervirem. Na verdade, eu estou surpreso por estar demorando tanto".
"O que podemos fazer?" Carlisle perguntou.
"Se nós queremos evitar o envolvimento dos Volturi, nós vamos ter que destruir os recém-nascidos, e nós vamos ter que fazer isso em breve". O rosto de Jasper estava duro. Agora que eu conhecia a história dele, eu podia entender o quanto essa avaliação perturbava ele. "Eu posso ensinar vocês agora. Não vai ser fácil na cidade. Os jovens não estão preocupados em manter segredo, mas nós temos que estar. Isso vai nos deixar limitados de formas que eles não estão. Talvez possamos atraí-los".
"Talvez nós não tenhamos que fazer isso" a voz de Edward estava vazia. "Já ocorreu a alguém que o único motivo pra se montar um exército nessa área... somos nós?"
Os olhos de Jasper estreitaram, os de Carlisle se abriram, chocados.
"A família de Tânia também está por perto", Esme disse, sem querer aceitas as palavras de Edward.
"Os recém-nascidos não iam querer tomar um Ancoradouro, Esme. Eu acho que devemos considerar a idéia de que nós somos os alvos".
"Eles não estão vindo atrás de nós," Alice insistiu, e depois pausou. "Oh... eles não sabem que estão. Ainda não".
"O que é isso?" Edward perguntou, curioso e tenso. "O que é isso que você está lembrando?"
"Vestígios", Alice disse. "Eu não consigo ver uma imagem clara quando eu tento ver o que está acontecendo, nada concreto. Mas eu estou tendo esse flashes estranhos. Não é o suficiente pra entender o sentido deles. É como se alguém ficasse mudando de idéia, movendo de um curso de ação pra outro tão rapidamente que eu nem consigo ter uma boa imagem..."
"Indecisão?" Jasper perguntou sem acreditar.
"Eu não sei..."
"Não é indecisão", Edward rosnou. "Conhecimento. Alguém sabe que você não consegue ter uma visão até que uma decisão seja tomada. Alguém está se escondendo de nós. Brincando com os buracos das suas visões".
"Quem saberia disso?" Alice suspirou.
Os olhos de Edward estavam duros como gelo. "Aro sabe tanto sobre você quanto você própria".
"Mas eu teria visto se eles decidissem vir..."
"A não ser que eles não quisesse sujar as mãos".
"Um favor", Rosalie sugeriu, falando pela primeira vez. "Alguém do Sul... alguém que já tenha tido problemas com as regras. Alguém já devia ter sido destruído e a quem uma segunda chance foi oferecida - se eles cuidarem desse pequeno probleminha... isso explicaria a resposta lenta dos Volturi"
"Porque?", Carlisle perguntou, ainda chocado. "Não há motivo pra os Volturi -"
"Há sim" Edward discordou rapidamente. "Eu estou surpreso por isso ter vindo tão cedo, porque os outros pensamentos eram mais fortes. Na cabeça de Aro, ele me via em um dos seus lados e Alice no outro. O presente e o futuro, como se fossem um só. O poder da idéia intoxicou ele. Eu teria imaginado que ele levaria muito mais tempo pra desistir daquele plano - ele o queria demais. Mas aí havia o pensamento em você, Carlisle, na nossa família, crescendo e ficando mais forte. A inveja e o medo: você tendo... não mais do que o que ele tinha, mas ainda assim, coisas que ele queria. Ele tentou não pensar nisso, mas não conseguiu esconder completamente. A idéia de eliminar a competição já estava lá; além da deles, o nosso grupo é o maior que eles já encontraram..."
Eu olhei horrorizada para o rosto dele. Ele não havia me contado nada disso, mas eu acho que sabia o porque. Eu podia ver isso na minha cabeça agora, o sonho de Aro.
Edward e Alice em robes pretos, esvoaçantes, andando ao lado de Aro, seus olhos frios e vermelhos cor de sangue...
Carlisle interrompeu o meu pesadelo da vida real. "Eles estão comprometidos demais com sua missão. Eles jamais quebrariam as regras. Isso vai contra tudo o que eles trabalharam".
"Eles vão limpar tudo depois. Uma traição dupla", Edward disse com uma voz mal humorada. "Nenhum prejuízo".
Jasper se inclinou pra frente, balançando a cabeça.
"Não, Carlisle está certo. Os Volturi não quebram as regras. Além do mais, é muito descuidado. Essa pessoa... essa ameaça - eles não tinham idéia do que estavam fazendo. É um iniciante, eu posso jurar. Eu não posso acreditar que os Volturi estejam envolvidos. Mas eles vão estar"
Eles encararam uns aos outros, congelados pelo estresse.
"Vamos lá", Emmett quase rugiu. "O que estamos esperando?"
Carlisle e Edward trocaram um longo olhar. Edward balançou a cabeça.
"Nós vamos precisar que você nos ensine, Jasper", Carlisle disse finalmente. "Como destruí-los", a mandíbula de Carlisle estava dura, mas eu podia ver a dor nos olhos dele enquanto ele dizia as palavras. Ninguém odiava violência mais que Carlisle.
Haviam alguma coisa me incomodando, mas eu não conseguia identificar. Eu estava entorpecida, aterrorizada, mortalmente assustada. E mesmo assim, por baixo disso, eu podia sentir que estava esquecendo algo importante. Alguma coisa que fizesse sentido nesse caos. Que o explicaria.
"Nós vamos precisar de ajuda", Jasper disso. "Você acha que Tânia e sua família estão a fim...? Outros cinco vampiros maduros fariam uma enorme diferença. E Kate e Eleazar seria enormemente vantajosos para o nosso lado. Seria quase fácil, com a ajuda deles".
"Eu vou perguntar", Carlisle disse.
Jasper levantou um celular. "Precisamos nos apressar".
Eu nunca ví a calma inata de Carlisle tão abalada. Ele pegou o telefone, e caminhou na direção das janelas. Ele discou um número, segurou o telefone em seu ouvido, e apoiou a outra mão no vidro. Ele olhou para a névoa da manhã com uma expressão magoada e ambivalente.
Edward pegou a minha mão e me puxou pra o sofá com ele. Eu sentei ao lado dele, olhando para o rosto dele enquanto ele olhava pra Carlisle.
A voz de Carlisle estava baixa e rápida, difícil de ouvir. Eu ouví ele saudar Tânia, e aí ele passou a situação rápido demais pra que eu pudesse entender, apesar de eu entender que os vampiros do Alaska não eram ignorantes ao que estava acontecendo em Seattle.
Alguma coisa mudou na voz de Carlisle.
"Oh", ele disse, a voz dele estava mais ríspida com a surpresa. "Nós não havíamos nos dado conta... que Irina se sentia assim".
Edward rosnou ao meu lado e fechou os olhos. "Maldição. Que Laurent seja amaldiçoado às profundezas do inferno onde ele pertence".
"Laurent", eu sussurrei, o sangue escapando do meu rosto, mas Edward não respondeu, concentrado nos pensamentos de Carlisle.
O meu curto encontro com Laurent no início da primavera não havia sido uma coisa que saiu ou ficou esquecida na minha cabeça. Eu ainda me lembrava de cada palavra que ele havia dito antes de Jacob e seu bando interromper.

Na verdade eu venho aqui como um favor pra ela.

Victoria. Laurent foi a primeira manobra que ela fez - ela o mandou pra observar, pra ver quão difícil seria me pegar. Ele não sobreviveu aos lobos pra contar a história.
Apesar de ter mantido seu velho laço com Victoria depois da morte de James, ele também havia formado novos vínculos e relacionamentos. Ele foi viver com Tânia e sua família no Alaska - Tânia, a loira morango - os amigos mais próximos dos Cullen no mundo dos vampiros, praticamente uma extensão da família. Laurent esteve com eles por quase um ano antes de sua morte.
Carlisle estava falando, sua voz não estava exatamente passiva. Persuasiva, talvez, mas com um tom.
"Não há dúvida disso", Carlisle disse numa voz esternada. "Nós temos um acordo. Eles não o quebraram e nós também não iremos. Eu lamento ouvir isso... É claro. Teremos que fazer o melhor sozinhos".
Carlisle fechou o telefone sem esperar a resposta. Ele continuou a olhar para a névoa.
"Qual é o problema?" Emmett murmurou pra Edward.
"Irina esteve mais envolvida com o nosso amigo Laurent do que pensávamos. Ele está com rancor dos lobos por terem destruído ele pra salvar Bella. Ela quer -" Ele pausou, olhando pra mim.
"Vá em frente" eu disse tão uniformemente quanto pude.
Os olhos dele se apertaram. "Ela quer vingança. Destruir o bando. Eles trocariam sua ajuda pela nossa permissão".
"Não!", eu ofeguei.
"Não se preocupe", ele disse com uma voz vazia. "Carlisle jamais concordaria com isso". Ele hesitou, e depois suspirou. "E nem eu. Laurent sabia que isso aconteceria"- isso era quase um rosnado - "e eu ainda devo aos lobos por aquilo".
"Isso não é bom", Jasper disse. "É uma luta apertada demais. Nós teríamos uma vantagem com habilidades, mas não em número. Nós venceríamos, mas a que preço?"
Os olhos dele passaram pro rosto de Alice e depois se desviaram.
Eu quis gritar alto quando eu entendí o que Jasper queria dizer.
Nós venceríamos, mas perderíamos. Alguém não ia sobreviver.
Eu olhei ao redor da sala para os rostos deles - Jasper, Alice, Emmett, Rose, Esme, Carlisle... Edward - os rostos da minha família.

14. Declaração

"Você não pode estar falando sério", eu disse, na quarta à tarde. "Você está completamente louca!"
"Diga o que você quiser sobre mim", Alice respondeu. "A festa ainda vai acontecer".
Eu encarei ela, os meus olhos estavam tão arregalados de descrença que parecia que eles estavam prestes a cair e cair na minha bandeja do almoço.
"Oh, se acalme, Bella! Não há razão pra não continuar com isso. Além do mais, os convites já foram enviados".
"Mas... o... você... eu... louca!", eu estalei.
"Você já comprou o meu presente", ela me lembrou. "Você não precisa fazer nada além de aparecer".
Eu fiz uma esforço pra me acalmar. "Com tudo o que está acontecendo, uma festa dificilmente é apropriada."
"A formatura é o que está acontecendo, e uma festa é tão apropriada que é quase passé".
"Alice!"
Ela suspirou, e tentou ficar séria. "Existem algumas coisas que precisamos pôr em ordem agora, e isso vai levar algum tempo. Enquanto estivermos aqui sentados esperando, nós podemos muito bem comemorar as coisas boas. Você só vai se formar do colegial - pela primeira vez - uma vez. Você não vai ser humana de novo, Bella. Essa é uma chance única na vida".
Edward, que estava em silêncio durante a nossa discussão, deu um olhar de aviso pra ela. Ela mostrou a língua pra ele. Ela estava certa - a voz suave dela nunca ia se sobrepor à tagarelice do refeitório. E em qualquer caso, ninguém ia entender mesmo o significado das palavras dela.
"Que poucas coisas nós precisamos pôr em ordem?", eu perguntei, me recusando a ser passada pra trás.
Edward respondeu com uma voz baixa. "Jasper acha que poderíamos usar um pouco de ajuda. A família de Tânia não é a única opção que temos. Carlisle está tentando encontrar alguns velhos amigos, e Jasper está procurando por Peter e Charlotte. Ele está considerando falar com Maria..."
Alice estremeceu delicadamente.
"Não deve ser tão difícil convencê-los a ajudar", ele disse. "Ninguém quer uma visita da Itália".
"Mas esse amigos - eles não vão ser... vegetarianos, certo?", eu protestei, usando o apelido seguro que os Cullen davam a sí mesmos.
"Não", Edward respondeu, repentinamente sem expressão.
"Aqui? Em Forks?"
"Eles são amigos", Alice me assegurou. "Tudo vai ficar bem. Não se preocupe. E depois, Jasper terá que nos dar alguns cursos sobre eliminação de recém-nascidos..."
Os olhos de Edward brilharam com isso, e um breve sorriso apareceu no rosto dele. De repente, parecia que o meu estômago estava cheio de de pequenos pedaços de gelo.
"Quando vocês vão?", eu perguntei com uma voz fraca. Eu não conseguia aguentar isso - a idéia de que alguém podia não voltar. E se fosse Emmett, tão corajoso e irresponsável que nunca era nem minimamente cuidadoso? Ou Esme, tão doce e maternal que eu nem podia imaginá-la numa luta? Ou Alice, tão pequena, de aparência tão frágil? Ou... mas eu nem conseguia pensar no nome, considerar a possibilidade.
"Uma semana", Edward disse casualmente. "Isso deve nos dar tempo suficiente".
Os pedaços de gelo reviraram desconfortavelmente no meu estômago. De repente eu estava nauseada.
"Você está verda, Bella", Alice comentou.
Edward passou o braço ao meu redor e me puxou com força contra o lado do seu corpo. "Tudo vai ficar bem, Bella. Confie em mim".
Claro, eu pensei comigo mesma. Confie nele. Não era ele que ia ter que sentar e se perguntar se a razão da existência dele ia voltar pra casa.
E foi aí que me ocorreu. Talvez eu não tivesse que ficar sentada. Uma semana era tempo mais que suficiente pra mim.
"Você estão procurando por ajuda", eu disse lentamente.
"Sim", a cabeça de Alice pendeu pra o lado enquanto ela processava o tom da minha voz.
Eu só olhei pra ela enquanto respondia. A minha voz só era um pouco mais alta que um suspiro quando eu respondi. "Eu podia ajudar".
O corpo de Edward ficou rigido de repente, o braço dele me apertando demais. Ele exalou, e o som foi um assobio.
Mas foi Alice, ainda calma, quem respondeu. "Isso não seria realmente uma ajuda"
"Porque não?", eu discutí; eu podia ouvir a desespero na minha voz. "Oito é melhor que sete. Há mais tempo do que o suficiente".
"Não há tempo suficiente pra fazer com que você seja uma ajuda, Bella", ela discordou friamente. "Você se lembra de como Jasper descreveu os jovens? Você não seria boa em uma luta. Você não seria capaz de controlar seus instintos, e isso faria de você um alvo fácil. E aí Edward ia se machucar tentando proteger você" Ela cruzou os braços no peito, satisfeita com a sua lógica indiscutível.
E eu sabia que ela estava certa, quando ela falava desse jeito. Eu afundei na minha cadeira, a minha esperança repentina estava derrotada. Ao meu lado, Edward relaxou.
Ele sussurrou no meu ouvido. "Não porque você está com medo".
"Oh", Alice disse, e um olhar vazio passou pelo rosto dela. A expressão dela se tornou amarga. "Eu odeio cancelamentos de última hora. Então isso significa que apenas sessenta e cinco pessoas irão à festa..."
"Sessente e cinco!" Meus olhos se arregalaram de novo. Eu não tinha tantos amigos assim. Será que eu conhecia tantas pessoas?
"Quem cancelou?" Edward imaginou, me ignorando.
"Renée"
"O quê?", eu ofeguei.
"Ela ia te fazer uma surpresa pela sua formatura, mas alguma coisa deu errado. Você vai ter uma mensagem quando chegar em casa".
Por um momento, eu me deixei aproveitar o alívio. O que quer que tenha dado errado para a minha mãe, eu estava eternamente grata. Se ela tivesse vindo a Forks agora... eu nem queria pensar nisso. A minha cabeça ia explodir.
A luz de mensagens estava ligada quando eu cheguei em casa. O meu sentimento de alívio cresceu de novo quando eu ouví a minha mãe descrever o acidente de Phil no campo de bola - enquanto estava demonstrando um passe, ele se bateu com o pegador e quebrou o osso da coxa; ele estava inteiramente dependente dela, e não tinha como ela poder deixar ele. A minha mãe ainda estava se desculpando quando a mensagem caiu.
"Bom, essa é uma", eu suspirei.
"Uma o que?", Edward perguntou.
"Uma pessoa que eu não preciso me preocupar que seja assassinada essa semana"
Ele revirou os olhos.
"Porque você e Alice não levam isso a sério?", eu quis saber. "Isso é sério"
Ele sorriu. "Confiança'.
"Maravilhoso", eu murmurei. Eu peguei o telefone e disquei o número de Renée. Eu sabia que essa seria uma longa conversa, mas eu também sabia que eu não teria que contribuir muito.
Eu só escutei, e reassegurei ele todas as vezes que eu tinha a chance de falar: Eu não estava desapontada, eu não estava com raiva, eu não estava magoada. Ela podia se conncentrar apenas em fazer Phil melhorar. Eu passei o meu "melhore logo" pra Phil, e prometí ligar pra ela com todos os mínimos detalhes da formatura genérica da Forks High. Finalmente, eu tive que usar a minha necessidade desesperada de estudar pra as provas finais para sair do telefone.
A paciência de Edward não tinha fim. Ele esperou educadamente durante a conversa inteira, só brincando com o meu cabelo e sorrindo toda vez que eu olhava pra cima. Provavelmente era superficial ficar reparando nessas coisas enquanto eu tinha tantas coisas importante com as quais me preocupar, mas o sorriso dele ainda me deixava sem fôlego. Ele era tão lindo que as vezes isso tornava difícil pensar em outra coisa, era difícil me concetrar nos problemas de Phil ou nas desculpas de Renée ou em exércitos de vampiros hostís. Eu era só uma humana.
Assim que eu desliguei, eu fiquei na pontas dos pés pra dar beijar ele. Ele colocou as mãos em volta da minha cintura e me colocou no balcão da cozinha, pra que eu não tivesse que me esticar tanto. Isso fucionava pra mim. Eu travei os meus braços no pescoço dele e derretí no peito frio dele.
Cedo demais, como sempre, ele se afastou.
Eu sentí o meu rosto fazer um beicinho. Ele riu da minha expressão enquanto se destravava dos meus braços e das minhas pernas. Ele se inclinou no balcão ao meu lado e colocou um braço levemente sobre os meus ombros.
"Eu sei que você pensa que eu tenho um tipo de auto-controle perfeito, inflexível, mas na verdade esse não é o caso."
"Eu queria", eu suspirei.
E ele suspirou também.
"Amanhã depois da escola", ele disse, mudando de assunto. "Eu vou caçar com Carlisle, Esme e Rosalie. Só por algumas horas - nós vamos ficar por perto. Alice, Jasper e Emmett devem ser capazes de te manter segura".
"Ugh", eu murmurei. Amanhã era o primeiro dia das provas finais, e só tínhamos aula durante a metade do dia. Eu tinha prova de Cálculo e História - os dos únicos desafios na minha lista - então eu teria o dia quase o dia todo sem ele, e nada pra fazer além de me preocupar. "Eu odeio ficar com babás".
"É temporário", ele prometeu.
"Jasper vai ficar enfadado. Emmett vai fazer piada de mim".
"Eles vão estar em seu melhor comportamento".
"Certo", eu estrondei.
E foi aí que me ocorreu que eu tinha uma opção opção além das babás. "Sabe... eu não estive em La Push desde a fogueira".
Eu observei o rosto dele pra qualquer mudança de expressão. Os olhos dele se estreitaram só um pouco.
"Eu ficaria segura o suficiente lá", eu lembrei ele.
Ele pensou nisso por alguns segundos. "Provavelmente você está certa".
O rosto dele estava calmo, mas estava suave demais. Eu quase perguntei se ele preferiria que eu ficasse aqui, mas aí ei pensei nas bobagens que Emmett induvidavelmente soltaria, e eu mudei de assunto. "Você já está com sede?", eu me inclinei pra tocar as leves sombas embaixo dos olhos dele. As íris dele ainda tinham uma profunda cor dourada.
"Na verdade não" Ele pareceu relutante em responder, e isso me surpreendeu. Eu esperei por uma explicação.
"Nós queremos estar tão fortes quanto for possível", ele explicou, ainda relutante. "Nós provavelmente vamos caçar de novo no caminho, procurando por animais grandes"
"Isso te deixa mais forte?"
Ele procurou por alguma coisa no meu rosto, mas não havia nada pra encontrar além de curiosidade.
"Sim", ele disse finalmente. "O sangue humano nos torna mais fortes, mas apenas fracionalmente. Jasper anda pensando em burlar as regras - mesmo tendo aversão à idéia, ele é prático demais - mas ele não quer nos sugerir. Ele sabe o que Carlisle vai dizer".
"Isso não ia ajudar?" eu perguntei baixinho.
"Isso não importa. Não vamos mudar quem somos".
Eu fiz uma careta. Se alguma ajudava nas chances... e aí eu estremecí, me dando conta de que eu estava desejando que um estranho morresse pra proteger ele. Eu estava horrorizada comigo mesma, mas também não era inteiramente capaz de descartar a idéia.
Ele mudou de assunto de novo. "É por isso que eles são tão fortes, é claro. Os recém-nascidos são cheios de sangue humano - o próprio sangue deles, reagindo à mudança. Ele permanece nos tecidos e os deixa mais forte. O corpo deles vai enfraquecendo lentamente, como Jasper disse, e a força vao começando a esvair em cerca de um ano".
"Quão forte eu vou ser?"
Ele sorriu pra mim. "Mais forte que eu".
"Mais forte que Emmett?"
O sorriso ficou maior. "Sim. Me faça o favor de desafiar ele para uma luta de braço. Seria uma boa experiência pra ele".
Eu rí. Isso soava tão ridículo.
Aí eu suspirei e descí do balcão, porque eu realmente não podia mais adiar isso. Eu tinha que estudar, e estudar muito. Por sorte, eu tinha Edward pra me ajudar, e Edward era um professor excelente - já que ele sabia absolutamente tudo. Eu me dei conta de que o meu maior problema seria me concentrar nos testes. Se eu não me cuidasse, eu ia acabar escrevendo a minha redação de História sobra a guerra dos vampiros do Sul.
Eu fiz uma pausa pra ligar pra Jake, e Edward pareceu estar tão confortável quanto estava quando eu estava no telefone com Renée. Ele brincou com o meu cabelo de novo.
Apesar de ser o meio da tarde, o meu telefonema acordou Jacob, e no início ele estava grogue. Ele se alegrou imediatamente quando eu perguntei se podia fazer um visita no dia seguinte.
A escola Quileute já estava de férias para o verão, então ele me disse pra ir o mais cedo que pudesse. Eu estava contente por ter uma opção além de ficar com babás. Havia um pouco mais de dignidade em passar o dia com Jacob.
Um pouco dessa dignidade se perdeu quando Edward insistiu de novo em me levar à linha da fronteira como se fosse um bebê mudando de custódia.
"Como você acha que se saiu nas provas?" Edward perguntou no caminho, tentando puxar conversa.
"História foi fácil, mas eu não sei sobre Cálculo. Parecia que estava fazendo um pouco de sentido, então isso provavelmente significa que eu reprovei".
Ele riu. "Eu tenho certeza que você se saiu bem. Ou, se você estiver realmente preocupada, eu podia subornar o Sr. Varne pra ele te dar um Dez".
"Er, obrigada, mas não, obrigada".
Ele riu de novo, mas parou de repente quando nós viramos na última curva e vimos o carro vermelho esperando. Ele fez uma careta de concentração, e então, enquanto parava o carro, ele suspirou.
"O que há de errado?", eu perguntei, minha mão na porta.
Ele balançou a cabeça. "Nada". Os olhos dele estavam apertados enquanto ele olhava para o outro carro através do pára-brisa. Eu já tinha visto aquele olhar antes.
"Você está escutando Jacob, não está?", eu acusei.
"Não é muito fácil ignorar uma pessoa quando ela está gritando".
"Oh", eu pensei nisso por um segundo. "O que ele está gritando?", eu sussurrei.
"Eu estou absolutamente certo de que ele mesmo vai mencionar", Edward disse com um tom torto.
Provavelmente eu pudesse ter pressionado o assunto, mas aí Jacob tocou sua buzina - duas vezes impacientemente.
"Isso é falta de educação", Edward rosnou.
"Esse é Jacob", eu suspirei, e eu me apressei pra sair antes que Jacob realmente fizesse alguma coisa que levasse os dentes de Edward ao limite.
Eu acenei pra Edward antes de entrar no Rabbit e, à distância, parecia que ele realmente estava chateado com a história da buzina... ou com o que quer que Jacob estivesse pensando.
Mas os meus olhos eram fracos e cometiam erros o tempo inteiro.
Eu queria que Edward viesse comigo. Eu queria fazer com que eles dois saíssem de seus carros e balançassem suas mãos e fossem amigos - ser Edward e Jacob ao invés de vampiro e lobisomem. Era como se eu tivesse aqueles dois imãs teimosos nas minha mãos de novo, e eu estava segurando eles juntos, tentando forçar a natureza a se reverter...
Eu suspirei e entrei no carro de Jacob.
"Ei, Bells", o tom de Jake era alegre, mas a voz dele estava embargada. Eu examinei o rosto dele enquanto ele descia a estrada, dirigindo seu carro mais rápido que eu, mas mais devagar que Edward, no caminho de volta pra La Push.
Jacob parecia doente, talvez até doente. As pálpebras dele caíram e o rosto dele estava absorto. Seu cabelo cheio estava saindo em direções variadas; ele estava quase chegando no queixo dele em alguns lugares.
"Você está bem, Jake?"
"Só cansado", ele conseguiu botar pra fora antes de dar um bocejo gigantesco. Quando ele terminou, ele perguntou. "O que você quer fazer hoje?"
Eu olhei ele por um momento. "Vamos só ficar na sua casa por enquanto", eu sugerí. Ele não parecia estar com disposição pra fazer muito mais do que isso. "Nós podemos andar nas nossas motos mais tarde".
"Claro,claro", ele disse, bocejando de novo.
A casa de Jacob estava vazia, e isso parece estranho. Eu me dei conta de que eu pensava em Billy praticamente como uma instalação permanente de lá.
"Onde está o seu pai?"
"Na casa dos Clearwater. Ele tem ido bastante lá desde que Harry morreu. Sue fica sozinha".
Jacob se sentou no sofá que não era maior do que uma poltrona e foi um pouco pro lado pra me dar mais espaço.
"Oh. Isso é legal. Pobre Sue".
"É... ela está tendo alguns problemas...", ele hesitou. "Com os filhos".
"Claro, deve ser difícil pra Seth e Leah, perder o pai..."
"Uh-huh", ele concordou, perdido em pensamentos. Ele pegou o controle remoto e ficou passando os canais sem parecer prestar atenção nisso. Ele bocejou.
"O que há com você, Jake? Você parece um zumbí".
"Eu dormí umas duas horas na noite passada, e quatro horas na noite anterior", ele me disse. Ele esticou seus longos braços lentamente, e eu pude ouvir as juntas dele estalarem enquanto ele se flexionava. Ele colocou o braço em cima do encosto do sofá atrás de mim, e se encostava pra descansar a sua cabeça na parede. "Eu estou exausto".
"Porque você não está dormindo?", eu perguntei.
Ele fez uma cara. "Sam está sendo difícil. Ele não confia de verdade nos seus sugadores de sangue. Eu estive correndo em turno duplo por duas semanas e ninguém me tocou ainda, mas ele ainda assim não confia. Então eu estou sozinho por enquanto".
"Turnos duplos? Isso é porque você está tentando me vigiar? Jake, isso é errado! Você precisa dormir. Eu vou ficar bem".
"Não é grande coisa". Os olhos dele ficaram mais alerta abruptamente. "Ei, você já descobriu quem estava no seu quarto? Hà algo novo?"
Eu ignorei a segunda pergunta. "Não, nós não descobrimos nada sobre o meu, um, visitante".
"Então eu vou ficar por perto", ele disse enquanto os olhos dele se fechavam.
"Jake..." eu comecei a choramingar.
"Ei, isso é o mínimo que eu posso fazer - eu oferecí servidão eterna. Eu sou seu escravo por uma vida".
"Eu não quero um escravo!"
Os olhos dele não se abriram. "O que você quer, Bella?"
"Eu quero o meu amigo Jacob - e eu não quero ele meio-morto, se machucando em alguma tentativa desmandada de -"
Ele me cortou. "Olhe desse jeito - eu estou esperando encontrar um vampiro que eu possa matar, tudo bem?"
Eu não respondí. Aí ele olhou pra mim, olhando para a minha reação.
"Brincando, Bella".
Eu encarei a TV.
"Então, algum plano especial para a semana que vem? Você vai se formar. Uau. Isso é grande". A voz dele ficou plana, e, o rosto dele, já caído, pareceu campletamente desfigurado quando ele fechou os olhos de novo - dessa vez não com exaustão, mas com negação.
Eu me dei conta de que a formatura ainda tinha uma significência horrível pra ele, apesar das minhas intenções estarem confusas agora.
"Nada de planos especiais", eu disse cuidadosamente, esperando que ele ouvisse a confiança nas minhas palavras sem precisar de explicações detalhadas. Eu não queria falar nisso agora. Pra começar, eu sabia que ele podia ler demais nas minhas reações. "Bem, eu vou ter que ir a uma festa de formatura. A minha." eu fiz um som de desgosto. "Alice adora festas, e ela convidou a cidade inteira para uma noitada. Vai ser horrível".
Os olhos dele se abriram enquanto eu falava, e um sorriso aliviado fez o rosto dele parecer menos cansado. "Eu não fui convidado. Eu estou magoado", ele zombou.
"Considere-se convidado. Essa supostamente é a minha festa, então eu devia poder convidar quem eu quiser".
"Obrigado", ele disse sarcasticamente, os olhos dele se fechando mais uma vez.
"Eu queria que você pudesse vir", eu disse, sem nenhuma esperança. "Ia ser divertido. Pra mim, quer dizer".
"Claro, claro", ele murmurou. "Isso seria muito... sábio..." a voz dele parou.
Alguns segundos depois, ele estava roncando.
Pobre Jacob. Eu estudei seu rosto sonhador, e gostei do que ví. Enquanto ele dormia, todos os traços de defesa e de amargura desapareceram, e de repente ele era o garoto que havia sido o meu melhor amigo antes que toda essa bobagem de lobisomem se metesse no caminho. Ele parecia muito mais jovem. Ele parecia ser o meu Jacob.
Eu fiquei sentada no sofá pra esperar o cochilo dele, esperando que ele dormisse um pouco e compensasse um pouco pelo que ele havia perdido. Eu passei pelos canais, mas não havia muito passando. Eu escolhí um programa culinário, sabendo, enquanto eu assistia, que eu nunca havia me esforçado tanto no jantar de Charlie. Jacob continuava a roncar, ficando mais alto. Eu aumentei a TV.
Eu estava estranhamente relaxada, quase sonolenta também.
Essa casa parecia ser mais segura que a minha própria, talvez porque ninguém nunca havia vindo me procurar aqui. Eu me curvei no sofá e pensei em tirar uma soneca também. Talvez eu até tivesse, mas os roncos de Jacob eram impossíveis de ignorar. Então, ao invés de dormir, eu deixei minha mente vagar.
As provas finais tinham acabado, e a maioria delas tinha sido uma moleza. Cálculo, a única exceção, havia ficado pra trás, tendo eu passado ou reprovado. A minha educação colegial estava acabada. E eu não sabia o que eu realmente sentia em relação a isso. Eu não conseguia olhar pra isso objetivamente, sendo que isso estava conectado com o fim da minha vida humana.
Eu me perguntei por quanto tempo Edward usaria essa desculpa de "não porque você está com medo". Eu ia ter que bater o pé uma hora dessas.
Se eu estivesse pensando com praticidade, eu saberia que faria mais sentido se Carlisle me transformasse no segundo que eu ultrapassasse a barreira da formatura. Forks estava se tornando quase tão perigosa quanto uma zona de guerra. Não, Forks era uma zona de guerra. Sem mencionar... essa seria uma boa desculpa pra perder a festa de formatura. Eu sorrí pra mim mesma quando pensei na mais trivial das razões para a minha mudança. Bobagem... mas ainda assim tentador.
Mas Edward estava certo - eu ainda não estava totalmente pronta.
E eu não queria ser prática. Eu queria que Edward fizesse isso. Esse não era um desejo racional. Eu tinha certeza de que - cerca de dois segundos depois que alguém tivesse me mordido e o veneno começasse a passar pelas minhas veias - eu realmente não me importaria com quem tinha feito. Então isso não fazia diferença.
Era difícil definir, até pra mim mesma, porque isso importava. Só que havia alguma coisa sobre ser ele a decidir a fazer a escolha - a querer ficar comigo o suficiente pra permitir a minha mudança, era ele quem ia agir pra me manter junto a ele. Era infantil, mas eu gostava da idéia de que os lábios dele seriam as últimas coisas que eu sentiria.
Mais vergonhoso ainda, uma coisa que eu jamais diria em voz alta, eu queria o veneno dele no meu sistema. Isso me faria pertencer a ele de maneira tangível, qualificável.
Mas eu sabia que ele ia ficar grudado nesse esquema de casamento feito cola - porque um adiamento era claramente o que ele estava procurando e até agora ele estava conseguindo. Eu tentei me imaginar dizendo aos meus pais que ia me casar nesse verão. Seria mais fácil dizer pra eles que eu ia me tornar uma vampira. Eu eu tinha certeza de que pelo menos a minha mãe - se eu contasse a ela todos os detalhes da verdade - iria se opor muito mais firmemente a me ver casando do que me tornando uma vampira. Eu fiz uma careta pra mim mesma enquanto imaginei e expressão horrorizada dela.
Então, por apenas um segundo, eu tive a mesma visão estranha de Edward e eu no balanço da varanda, vestindo roupas de um outro tipo de mundo. Um mundo onde não seria uma surpresa se eu usasse o anel dele no meu dedo. Um lugar mais simples, onde o amor era definido de formas simples. Um mais um igual a dois...
Jacob bufou e virou de lado. O braço dele escapuliu das costas do sofá e me pressionou no corpo dele.
Minha nossa, mas ele era pesado! E quente. Eu já estava suando depois de alguns segundos.
Eu tentei escapar do braço dele sem acordá-lo, mas eu tive que empurrá-lo um pouco, e quando o braço dele caiu de cima de mim, os olhos dele se abriram. Ele ficou de pé num pulo, olhando ao redor ansiosamente.
"O quê? O quê?", ele perguntou, desorientado.
"Sou só eu, Jake. Desculpe por ter te acordado".
Ele virou pra olhar pra olhar mim, piscando e confuso. "Bella?"
"Oi, dorminhoco".
"Oh, cara! Eu peguei no sono? Eu lamento! Por quanto tempo eu fiquei fora?"
"Alguns anos luz. Eu perdí as contas".
Ele se jogou de volta no sofá ao meu lado. "Uau. Me desculpe por isso, sério".
Eu alisei o cabelo dele, tentando arrumar o emaranhado selvagem. "Não se sinta mal. Eu estou feliz por você ter dormido um pouco".
Ele bocejou e se esticou. "Eu estou inútil esses dias. Não é de se estranhar que Billy nunca está em casa. Eu sou tão chato".
"Você é legal", eu assegurei ele.
"Ugh, vamos lá pra fora. Eu preciso caminhar senão eu vou desmaiar de novo".
"Jake, volte a dormir. Eu estou bem. Eu vou ligar pra Edward pra ele vir me pegar." Eu tateava os meus bolsos enquanto falava, e me dei conta de que eles estavam vazios. "Droga, eu vou ter que usar o seu telefone. Eu acho que devo ter deixado no carro dele". Eu comecei a me desdobrar.
"Não!", Jacob insistiu, pegando minha mão. "Não, fique. Você mal chegou aqui. Eu não posso acreditar que perdí esse tempo todo".
Ele me puxou do sofá enquanto falava, e guiou o caminho pro lado de fora, abaixando a cabeça enquanto passava pelo arco da porta. Parecia ser Fevereiro, não Março.
O ar invernal pareceu deixar Jacob mais alerta. Ele andou pra frente e pra trás na frente da casa por um minuto, me arrastando com ele.
"Eu sou um idiota", ele murmurou pra sí mesmo
"Qual é o problema, Jake? E daí que você pegou no sono", eu levantei os ombros.
"Eu queria falar com você. Eu não consigo acreditar nisso".
"Me diga agora", eu disse.
Jacob encontrou meus olhos por um segundo, e depois desviou o olhar rapidamente na direção das árvores. Quase pareceu que ele estava ficando corado, mas era difícil dizer com a pele escura dele.
De repente eu me lembrei do que Edward me disse quando me deixou lá - que Jacob me diria o que quer que ele estivesse gritando na cabeça dele. Eu comecei a mordiscar o meu lábio.
"Olha", Jacob disse. "Eu estava planejando fazer isso um pouco diferente". Ele riu, e aí pareceu que ele estava rindo de sí mesmo. "Mais sutilmente", ele acrescentou. "Eu ia trabalhar nisso, mas" - e ele olhou para as nuvens, mais escuras com o progresso da tarde - "Eu estou sem tempo pra trabalhar".
Ele riu de novo, nervoso. Nós ainda estávamos vagando lentamente.
"Do que nós estamos falando?" eu quis saber.
Ele respirou fundo. "Eu quero te dizer uma coisa. E você já sabe o que é... mas eu acho que devia dizer isso em voz alta do mesmo jeito. Só pra que não haja confusão sobre o assunto".
Eu plantei meus pés, e ele parou. Eu afastei a minha mão e cruzei os braços no peito. De repente eu tinha certeza de que não queria saber o que quer que ele estivesse planejando.
As sobrancelhas de Jacob se uniram, jogando seus olhos fundos nas sombras. Eles eram pretos cor de piche quando ele olhou para os meus.
"Eu estou apaixonado por você, Bella", ele disse com uma voz forte, segura. "Bella, eu te amo. E eu quero que você me escolha ao invés dele. Eu sei que você não se sente assim, mas eu preciso colocar a verdade pra fora pra que você conheça as suas opções. Eu não quero que nenhum mal entendido fique no nosso caminho."

14. Aposta

Eu encarei ele por um longo minuto, sem fala. Eu não podia pensar em uma coisa pra dizer pra ele.
Enquanto ele observava a minha expressão abobalhada, a seriedade abandonou o rosto dele.
"Tudo bem", ele disse sorrindo. "Isso é tudo".
"Jake -" eu me sentí como se houvesse alguma coisa grande enfiada na minha garganta. Eu tentei limpar a obstrução. "Eu não posso - Eu quero dizer que eu não... eu tenho que ir".
Eu me virei, mas ele agarrou meus ombros e me virou.
"Não, espere. Eu sei disso, Bella. Mas, olha, me responda isso, tudo bem? Você quer que eu vá embora e nunca mais te veja te novo? Seja honesta".
Era difícil me concentrar na pergunta dele, então eu levei um minuto pra responder. "Não, eu não quero isso". Eu finalmente admití.
Jacob sorriu de novo. "Entendo".
"Mas eu não te quero por perto pela mesma razão que você me quer por perto", eu me opus.
"Me diga exatamente porque você me quer por perto, então".
Eu pensei cuidadosamente. "Eu sinto sua falta quando você não está por perto. Quando você está feliz", eu qualifiquei cuidadosamente, "isso me deixa feliz. Mas eu poderia dizer a mesma coisa sobre Charlie, Jacob. Você é família. Eu amo você, mas eu não estou amando você".
Ele balançou a cabeça, sem se abater. "Mas você me quer por perto".
"Sim", eu suspirei. Ele era impossível de desencorajar.
"Então eu vou ficar por perto".
"Você está pedindo por um castigo", eu rosnei.
"É", ele acariciou a minha bochecha direita com a ponta dos seus dedos. Eu afastei a mão dele.
"Você acha que pode se comportar um pouco melhor, pelo menos?", eu perguntei, irritada.
"Não, eu não posso. Você decide, Bella. Você pode me ter do jeito que eu sou - com mal comportamente incluído - ou não me ter".
Eu encarei ele, frustrada. "Isso é mal".
"Você também é".
Isso me pegou de surpresa, e eu dei um passo involuntário pra trás. Ele estava certo. Se eu não fosse má - e gananciosa também - eu diria a ele que não queria ser sua amiga e iria embora.
Eu não sabia o que eu estava fazendo aqui, mas de repente eu tive certeza de que isso não era bom.
"Você está certo", eu sussurrei.
Ele riu. "Eu te perdôo. Só tente não ficar com raiva demais de mim. Porque recentemente eu decidí que eu não vou desistir. Essa é a parte irresistivel de uma causa perdida".
"Jacob", eu o encarei em seus olhos escuros, tentando fazer ele me levar a sério. "Eu amo ele, Jacob. Ele é a minha vida".
"Você me ama também", ele me lembrou. Ele levantou a mão quando eu comecei a protestar. "Não do mesmo jeito, eu sei. Mas ele também não é sua vida. Não mais. Talvez ele tenha sido um dia, mas ele foi embora. E agora ele vai ter que lidar com as consequências dessa escolha - eu".
Eu balancei minha cabeça. "Você é impossível".
De repente, ele estava sério de novo. Ele pegou meu queixo com as mãos, segurando firmemente pra que eu não pudesse desviar o olhar do seu.
"Até que o seu coração pare de bater, Bella", ele disse. "Eu vou estar aqui - lutando. Não esqueça que você tem opções".
"Eu não quero opções", eu discordei, tentando soltar meu queixo sem sucesso. "E as batidas do meu coração estão contadas, Jacob. O tempo está quase acabando".
Os olhos dele se estreitaram. "Muito mais razões pra lutar - lutar mais agora, enquanto eu posso.", ele sussurrou.
Ele ainda estava segurando o meu queixo - os dedos dele segurando com muita força, até que doeu - e de repente eu ví a resolução nos olhos dele.
"N -", eu comecei a me opor, mas era tarde demais.
Os lábios dele apertaram os meus, parando o meu protesto. Ele me beijou raivosamente, a sua outra mão apertando a minha nuca com força, tornando impossível escapar. Eu empurrei o peito dele com toda a minha força, mas ele nem pareceu reparar. A boca dele era macia, apesar da raiva, os lábios dele se moldando aos meus de uma forma cálida, desconhecida.
Eu agarrei o rosto dele, tentando afastá-lo, falhando novamente. Dessa vez, no entando, ele pareceu reparar, e isso o deixou agravado.
Os lábios dele forçaram os meus a se abrir, e eu podia sentir a respiração quente dele na minha boca.
Agindo por instinto, eu deixei as minhas mãos cairem dos meus lados, e fiquei quieta. Eu abri os meus olhos e não lutei, não sentí... eu só esperei que ele parasse.
Funcionou. A raiva pareceu evaporar, e ele me afastou pra olhar pra mim. Ele pressionou os lábios dele levemente nos meus de novo, uma vez, duas... uma terceira vez. Eu fingí que era uma estátua e esperei.
Finalmente, ele soltou o meu rosto e se afastou.
"Você acabou agora?" eu perguntei com uma voz sem expressão.
"Sim", ele suspirou. Ele começou a sorrir, fechando os olhos.
Eu coloquei o meu braço pra trás, e o lancei pra frente, socando ele na boca com todo o poder que eu conseguí forçar a sair do meu corpo.
Houve um som de algo se partindo.
"Ow! OW!", eu gritei, pulando pra cima e pra baixo freneticamente com agonia enquanto apertava a minha mão no meu peito. Ela estava quebrada, eu podia sentir isso.
Jacob me encarou chocado. "Você está bem?"
"Não, droga! Você quebrou a minha mão!"
"Bella, vocêquebrou a sua mão. Agora pare de dançar e me deixe dar uma olhada nisso".
"Não me toque! Eu vou pra casa agora!"
"Eu vou pegar o meu carro", ele disse calmamente. Ele nem sequer estava esfregando a mandíbula do jeito como as pessoas faziam nos filmes. Que patético.
"Não, obrigada", eu assobiei. "Eu prefiro caminhar" Eu me virei na direção da estrada. Seriam apenas alguns metros até a fronteira. Assim que eu me afastasse dele, Alice ia me ver. Ela ia mandar alguém pra vir me buscar.
"Só me deixe te levar pra casa", Jacob insistiu. Inacreditavelmente, ele teve os nervos de passar o braço pela minha cintura.
Eu me afastei dele.
"Tá!", eu rosnei. "Me leve! Eu mal posso esperar pra ver o que Edward vai fazer com você. Eu espero que ele quebre o seu pescoço, seu CACHORRO idiota, obnóxio, mongolóide!"
Jacob revirou os olhos. Ele me acompanhou até o lado do passageiro e me ajudou a entrar.
Quando ele sentou no lugar do motorista, ele estava assobiando.
"Eu não te machuquei nem um pouquinho?", eu perguntei, furiosa e enlouquecida.
"Você está brincando? Se você não tivesse começado a gritar, eu podia nem ter descoberto que você estava tentando me dar um soco. Eu posso não ser feito de pedra, mas eu não sou tão macio assim"
"Eu te odeio, Jacob Black".
"Isso é bom. Ódio é uma emoção apaixonada".
"Eu vou te dar paixão", eu murmurei por baixo do meu fôlego. "Assassinato, o maior crime apaixonado".
"Oh, vamos", ele disse, todo alegrinho e me olhando como se estivesse prestes a começar a assobiar de novo. "Aquilo teve que ser melhor do que beijar uma pedra".
"Nem remotamente perto", eu o disse friamente.
Ele torceu os lábios. "Você pode estar dizendo isso da boca pra fora".
"Mas eu não estou".
Isso pareceu incomodar ele por um segundo, mas aí ele continuou. "Você só está com raiva. Eu não tenho experiência com esse tipo de coisa, mas eu mesmo achei que foi bem incrível".
"Ugh", eu rosnei.
"Você vai pensar nisso essa noite. Quando ele achar que você está adormecida, você vai estar pensando nas suas opções".
"Se eu pensar em você essa noite, será porque eu estou tendo um pesadelo".
Ele diminuiu a velocidade do carro, se virando pra olhar pra mim com seus olhos escuros arregalados e ansiosos. "Pense em como poderia ser, Bella", ele urgiu com uma voz suave, ansiosa. "Você não teria que mudar nada por mim. Você sabe que Charlie ficaria feliz se você me escolhesse. Eu posso te proteger tanto quanto um vampiro pode - talvez melhor. E eu te faria feliz, Bella. Há tantas coisas que eu poderia te dar que ele não pode. Eu aposto que ele nem poderia te beijar daquele jeito - porque ele iria te machucar. Eu jamais, jamais te machucaria, Bella".
Eu levantei a minha mão ferida.
Ele suspirou. "Isso não foi minha culpa. Você devia saber que não devia fazer isso".
"Jacob, eu não posso ser feliz sem ele".
"Você nunca tentou", ele discordou.
"Quando ele foi embora, você gastou todas as suas energias se mantendo presa a ele. Você podia ser feliz se você esquecesse. Você podia ser feliz comigo".
"Eu não quero ser feliz com ninguém além dele", eu insistí.
"Você nunca poderá ter tanta certeza dele como tem de mim. Ele foi embora uma vez, ele pode ir de novo".
"Não, ele não vai", eu disse por entre os dentes. A dor da minha memória bateu em mim como se fosse um golpe de chicote. Isso me fez querer machucar ele de volta. "Você me deixou uma vez", eu lembrei ele com uma voz fria, pensando nas semanas que ele havia se escondido de mim, as palavras que ele havia me dito na floresta atrás da casa dele...
"Eu nunca fiz isso" ele discutiu ferventemente. "Ele me disseram que eu não podia te contar - que não era seguro pra você se nós ficássemos juntos. Mas eu nunca fui embora, nunca! Eu costumava correr ao redor da sua casa de noite - como eu faço agora. Só pra ter certeza de que você estava bem".
Eu não ia me deixar sentir mal por ele agora.
"Me leve pra casa. A minha mão está doendo".
Ele suspirou, e começou a dirigir num velocidade normal, observando a estrada.
"Só pense nisso, Bella".
"Não", eu disse teimosamente.
"Você vai. Essa noite. E eu vou estar pensando em você enquanto você estiver pensando em mim".
"Como eu disse, um pesadelo".
Ele sorriu maliciosamente pra mim. "Você me beijou de volta".
Eu ofeguei, prendendo as minhas mãos nos punhos de novo sem pensar, gemendo quando a minha mão quebrada reagiu.
"Você está bem?", ele perguntou.
"Eu não correspondí"
"Eu acho que eu sei dizer a diferença"
"Obviamente você não sabe - aquilo não foi beijar de volta, aquilo foi tentar tirar você de cima de mim, seu idiota".
Ele riu um riso baixo, gutural. "Tocante. Quase defensivo demais, eu diria".
Eu respirei fundo. Não havia nenhum ponto em discutir com ele; ele ia distorcer tudo que eu dissesse. Eu me concentrei na minha mão, tentando flexionar os meus dedos, pra tentar identificar quais eram as partes quebradas.
Dores agudas atingiram minhas juntas. Eu rosnei.
"Eu realmente sinto muito pela sua mão", Jacob disse, quase soando sincero. "Da próxima vez que você quiser me bater use um bastão de baseball ou uma alavanca, ok?"
"Eu não acho que eu vou esquecer disso", eu murmurei.
Eu não me dei conta de pra onde estávamos indo até que estávamos a estrada.
"Pra onde você está me levando?" eu quis saber.
Ele me olhou com um olhar vazio. "Eu pensei que você tivesse dito que queria ir pra casa?"
"Ugh. Eu acho que você não pode me levar pra casa de Edward, pode?", eu apertei os meus dentes de frustração.
Dor passou pelo rosto dele, e eu podia ver que isso tinha afetado ele mais do que qualquer outra coisa que eu tinha dito.
"Essa é a sua casa, Bella", ele disse em voz baixa.
"Sim, mas algum médico mora aqui?" eu perguntei, levantando minha mão de novo.
"Oh", ele pensou nisso por um minuto. "Eu vou te levar pro hospital. Ou Charlie leva".
"Eu não quero ir para o hospital. É vergonhoso e desnecessário".
Ele deixou o Rabbit encostar na porta da minha casa, pensando com uma expressão incerta. A viatura de Charlie estava na entrada de carros.
Eu suspirei. "Vá pra casa, Jacob".
Eu sai do carro estranhamente, indo em direção à casa. Ele desligou o motor atrás de mim, e eu estava menos surpresa do que aborrecida por ver Jacob ao meu lado de novo.
"O que você vai fazer?", ele perguntou.
"Eu vou colocar um pouco de gelo na minha mão, e depois eu vou ligar pra Edward e pedir pra ele vir me pegar e me levar até Carlisle pra ele poder conserta a minha mão. Depois, se você ainda estiver aqui, eu vou procurar uma alavanca".
Ele não respondeu. Ele abriu a porta da frente e a segurou aberta pra mim.
Nós passamos silenciosamente pela sala onde Charlie estava deitado no sofá.
"Oi, crianças", ele disse, se inclinando pra frente. "Legal te ver por aqui, Jacob".
"Ei, Charlie", ele respondeu casualmente, pausando enquanto eu entrava na cozinha.
"O que hà de errado com ela?" Charlie se perguntou.
"Ela acha que quebrou a mão", eu ouví Jacob dizer a ele. Eu fui para o freezer e tirei uma bandeja de gelo.
"Como ela fez isso?" Como meu pai, eu achava que Charlie devia estar um pouco menos divertido e um pouco mais preocupado.
Jacob riu. "Ela me bateu".
Charlie riu também, e eu fiz uma carranca enquanto batia a bandeja de gelo na pia. O gelo se soltou da bacia, e eu agarrei uma mão cheia deles com a minha mão boa e coloquei os cubos de gelo em uma toalha de prato em cima do balcão.
"Porque ela te bateu?"
"Porque eu beijei ela", Jacob disse, sem vergonha.
"Bom pra você, garoto", Charlie parabenizou ele.
Eu apertei meus dentes e fui para o telefone. Eu liguei para o celular de Edward.
"Bella?", ele atendeu no primeiro toque. Ele parecia mais que aliviado - ele estava deliciado. Eu podia ouvir o motor do Volvo no fundo; ele já estava no carro - isso era bom. "Você esqueceu o telefone... eu lamento, Jacob te levou pra casa?"
"Sim" eu rosnei. "Você pode vir me pegar, por favor?"
"Eu estou a caminho", ele disse imediatamente. "Qual é o problema?"
"Eu quero que Carlisle dê uma olhada na minha mão. Eu acho que está quebrada".
Tudo tinha ficado quieto na sala da frente, e eu me perguntei quando Jacob ia embora. Eu dei um sorriso maléfico, quando imaginei o desconforto dele.
"O que aconteceu?" Edward quis saber, a voz dele ficando vazia.
"Eu dei um murro em Jacob" eu admití.
"Bom", Edward disse vaziamente. "Apesar de eu lamentar que você tenha se machucado".
Eu rí uma vez, porque ele parecia tão agradado quanto Charlie estava.
"Eu queria ter machucado ele", eu suspirei frustrada. "Eu não fiz nenhum estrago sequer".
"Eu posso arrumar isso", ele ofereceu.
"Eu estava esperando que você dissesse isso"
Houve uma pequena pausa. "Essa não parece ser você", ele disse, cauteloso agora. "O que ele fez?"
"Ele me beijou", eu rosnei.
E tudo o que eu ouví do outro lado da linha foi o som de um motor acelerando.
Na outra sala, eu ouví Charlie falando.
"Talvez seja melhor você ir embora, Jake", ele sugeriu
"Eu acho que vou ficar por aqui, se você não se importar".
"O funeral é seu", Charlie murmurou.
"O cachorro ainda está aí?", Edward finalmente falou de novo.
"Sim".
"Eu estou na esquina", ele disse obscuramente, e a linha desconectou.
Eu desliguei o telefone, sorrindo, eu ouví o carro dele em alta velocidade na rua. Os freio protestaram altamente quando ele parou na frente de casa. Eu fui abrir a porta.
"Como está a sua mão?" Charlie perguntou enquanto eu passei pela sala. Charlie pareceu desconfortável. Jacpb sentou no sofá ao lado dele, perfeitamente tranquilo.
Eu levantei o pacote de gelo pra mostrar. "Está inchando".
"Talvez você devesse escolher gente do seu tamanho", Charlie sugeriu.
"Talvez", eu concordei. Eu caminhei pra abrir a porta. Edward estava esperando.
"Me deixe ver", ele murmurou.
Ele examinou minha mão gentilmente, tão cuidadosamente que quase não me causou dor nenhuma. As mãos dele eram quase tão frias quanto gelo, e elas eram uma boa sensação na minha pele.
"Você estava certa quanto a estar quebrada", ele disse. "Eu estou orgulhoso de você. Você teve ter colocado um tanto de força nisso aqui".
"Toda a que eu tinha", eu suspirei. "Aparentemente, não o suficiente".
Ele beijou a minha mão suavemente. "Eu vou cuidar disso", ele prometeu. E aí ele chamou. "Jacob", a voz dele ainda estava baixa e uniforme.
"Agora, agora", Charlie precaviu.
Eu ouví Charlie levantar do sofá. Jacob chegou no corredor primeiro, e muito mais silenciosamente, mas Charlie não estava muito atrás dele. A expressão de Jacob estava alerta e ansiosa.
"Eu não quero nenhuma briga, você está entendendo?" Charlie só olhou pra Edward enquanto falava. "Eu posso colocar o meu distintivo na história se precisar fazer o meu pedido ser mais oficial".
"Isso não será necessário", Edward disse com uma voz restringida.
"Porque você não me prende, Pai?", eu sugerí. "Sou eu que estou distribuindo socos".
Charlie ergueu uma sobrancelha.
"Você quer prestar queixa, Jake?"
"Não", Jacob sorriu, incorrigível. "Eu vou querer o troco um diz desses".
Edward fez uma careta.
"Pai, você não tem um taco de baseball em algum lugar no seu quarto? Eu quero ele emprestado por um minuto".
Charlie olhou pra mim uniformemente. "Chega, Bella".
"Vamos fazer Carlisle dar uma olhada na sua mão antes que você acabe num cela de cadeia", Edward disse. Ele colocou o braço ao meu redor e me puxou em direção à porta.
"Tá", eu disse, me inclinando pra ele. Eu já não estava mais com tanta raiva, agora que Edward estava comigo. E me sentí confortada, e a minha mão já não me incomodava tanto.
Nós estávamos na calçada quando eu ouví Charlie sussurrando ansiosamente atrás de mim.
"O que você está fazendo? Você está louco?"
"Me dê um minuto, Charlie", Jacob respondeu. "Não se preocupe, eu volto logo".
Eu olhei pra trás e Jacob estava nos seguindo, parando pra fechar a porta na cara surpresa e nervosa de Charlie.
Edward ignorou ele no início, me levando para o carro. Ele me ajudou a entrar, fechou a porta, e aí se virou pra encarar Jacob na calçada.
Eu me inclinei ansiosamente pela janela aberta. Charlie era visível de dentro da casa, espiando pelas cortinas da sala da frente.
A postura de Jacob estava casual, os braços cruzados no peito, mas os músculos da mandíbula dele estavam trincados.
Edward falou numa voz tão pacífica e gentil que isso deixou as palavras estranhamente ainda mais assustadoras. "Eu não vou te matar, porque isso iria aborrecer Bella".
"Hmph", eu rosnei.
Edward se virou um pouco pra me jogar um sorriso. O rosto dele ainda estava calmo. "Isso ia te encomodar de manhã", ele disse, acariciando a minha bochecha com os dedos.
Ele virou de volta pra Jacob.
"Mas se você a trouxer machucada de novo - eu não me importo de quem seja a culpa; eu não me importo se ela só tropeçar, ou se um meteoro cair do céu e atingir a cabeça dela - se você retornar com ela em uma condição menos que perfeita do que aquela em que eu a deixei, você vai correr com três pernas. Você entendeu isso, mongol?"
Jacob revirou os olhos.
"Quem vai voltar lá?", eu murmurei.
Edward continuou como se não tivesse me ouvido. "E se você a beijar de novo, eu vou quebrar a sua mandíbula por ela", ele prometeu, a voz dele ainda gentil e macia e mortal.
"E se ela quiser que eu a beije?" Jacob respondeu, arrogante.
"Hah!", eu ronquei.
"Se isso for o que ela quer, eu não vou me opor", Edward levantou os ombros, sem problemas. "Você deve querer que ela diga que quer, ao invés de confiar na sua interpretação de linguagem corporal - mas o rosto é seu".
Jacob sorriu.
"Você bem que queria", eu rosnei.
"É, ele quer", Edward murmurou.
"Bom, se você já colocou medo na minha cabeça", Jacob disse com um tom grosso de aborrecimento. "Porque você não cuida da mão dela?"
"Mais uma coisa", Edward disse lentamente. "Eu vou lutar por ela também. Você devia saber disso. Eu não estou dando nada como garantido, e eu vou lutar duas vezes mais que você".
"Bom", Jacob rosnou. "Não tem graça derrotar uma pessoa que se dá por vencido".
"Ela é minha" a voz baixa de Edward ficou sombria de repente, não tão composta como antes. "Eu não disse que ia lutar justo".
"Nem eu".
"Boa sorte".
Jacob balançou a cabeça. "Que o melhor homem vença".
"Isso parece certo... cãozinho".
Jacob fez uma careta brevemente, e aí compôs o rosto e se inclinou ao redor de Edward pra sorrir pra mim. Eu rosnei de volta.
"Eu espero que a sua mão melhore logo. Eu realmente lamento que você tenha se machucado".
Infantilmente, eu virei o meu rosto pra desviar dele.
Eu não olhei pra cima de novo enquanto Edward arrodeava o carro e entrava no lado do motorista, então eu não sabia se Jacob tinha voltado pra casa ou se continuava lá, me olhando.
"Como você se sente?", Edward perguntou enquanto ia embora.
"Irritada"
Ele gargalhou. "Eu estava falando da sua mão".
Eu levantei os ombros. "Eu já passei por pior".
"Verdade", ele concordou, e fez uma careta.
Edward arrodeou a casa, indo até a garagem. Emmett e Rosalie estavam lá, as pernas perfeitas de Rosalie eram reconhecíveis, mesmo com um jeans rasgado, estavam saindo por debaixo do jipe enorme de Emmett. Emmett estava sentado ao lado dela, uma mão inclinada por debaixo do jipe em direção a ela. Me levou um momento pra perceber que ele estava agindo como ajudante.
Emmett observou curiosamente enquanto Edward me ajudava a sair do carro cuidadosamente. Os olhos dele pararam na mão que eu estava segurando contra o peito.
Emmett sorriu. "Caiu de novo, Bella?"
Eu encarei ele penetrantemente. "Não, Emmett. Eu dei um soco na cara de um lobisomem".
Emmett piscou, e aí caiu num riso estrondoso.
Enquanto Edward passava por eles, Rosalie falou de baixo do carro.
"Jasper vai ganhar a aposta", ela disse presumidamente.
Emmett parou de rir imediatamente, e ele me estudou com olhos apreensivos.
"Que aposta?", eu quis saber, parando.
"Vamos te levar até Carlisle", Edward apressou. Ele estava encarando Emmett. A cabeça dele balançou minimamente.
"Que aposta"?, eu insistí enquanto me virava pra ele.
"Obrigado, Rosalie", ele murmurou enquanto apertava seu braço ao redor da minha cintura e me puxava em direção à casa.
"Edward...", eu rosnei.
"É uma infantilidade", ele levantou os ombros. "Emmett e Jasper gostam de apostar".
"Emmett vai me contar", eu tentei me virar, mas o braço dele parecia aço ao meu redor.
Ele suspirou. "Eles estão apostando quantas vezes você vai... escorregar no seu primeiro ano".
"Oh", eu fiz uma careta e tentei esconder o meu horror enquanto me dava conta do que ele queria dizer.
"Eles estão apostando quantas pessoas eu vou matar?"
"Sim", ele admitiu sem vontade. "Rosalie acha que o seu temperamento vai virar as chances a favor de Jasper".
Eu me sentí um pouco alta. "Jasper está apostando alto".
"Se você tiver dificuldades em se ajustar, isso vai fazer com que ele se sinta melhor. Ele está cansado de ser o elo mais fraco".
"Claro. É claro que sim. Eu acho que eu posso cometer alguns homicídios extras, se isso deixa Jasper feliz. Porque não?" eu estava tagarelando, a minha voz era um tom vazio e monótono. Na minha cabeça eu estava vendo as manchetes de jornais, as listas com os nomes...
Ele me apertou. "Você não precisa se preocupar com isso agora. Na verdade, você nunca vai ter que se preocupar com isso, se não quiser".
Eu gemí, e Edward, pensando que era a minha dor que estava me incomodando, me puxou mais rápido em direção à casa.
A minha mão estava quebrada, mas não havia nenhum dano sério, só uma fissura pequena numa das juntas. Eu não quis gesso, e Carlisle disse que eu ficaria bem com uma tipóia se eu prometesse não tirá-la. Eu prometí.
Edward reparou que eu estava fora enquanto Carlisle colocava cuidadosamente uma tipóia na minha mão. Ele perguntou preocupado algumas vezes se eu estava com dor, mas eu o assegurei de que estava bem.
Como se eu precisasse - ou tivesse espaço pra isso - me preocupar com outra coisa.
Todas as histórias de Jasper sobre vampiros recém-criados haviam estado coladas na minha cabeça desde que ele explicou o seu passado. Agora essas histórias pulavam afiadamente na minha mente por causa da notícia da aposta dele e de Emmett. Eu me perguntei à toa o que eles estavam apostando. Que tipo de prêmio te motiva quando você já tem tudo?
Eu sempre soube que eu seria diferente. Eu esperava ser tão forte quanto Edward disse que eu seria. Forte e rápida, e acima de tudo, linda. Alguém que podia ficar ao lado de Edward e sentir que era lá que ela pertencia.
Eu estive tentando não pensar muito nas outras coisas que eu seria. Selvagem. Sedenta por sangue. Talvez eu não fosse capaz de me impedir a matar as pessoas. Estranhos, pessoas que nunca me fizeram mal. Pessoas como o número de vítimas que crescia em Seattle, que tinham família e amigos e futuros. Pessoas que tinham vidas. E eu podia ser o monstro que as tiraria delas.
Mas, na verdade, eu podia lidar com essa parte - porque eu confiava em Edward, confiava nele absolutamente, pra me impedir de fazer qualquer coisa da qual eu me arrependesse. Eu sabia que ele me levaria para a Antártida pra caçar pinguins se eu pedisse isso a ele. E eu faria o que quer que fosse pra ser uma pessoa boa. Uma boa vampira. Isso pensamento me faria rir, se não fosse a preocupação.
Porque, se eu fosse desse jeito de alguma forma - como as imagens dos recém-nascidos dos pesadelos que eu tinha na minha cabeça - como é que eu podia possivelmente ser eu? E se eu quisesse matar pessoas, o que aconteceria com as coisas que eu queria agora?
Edward estava obcecado pra que eu não perdesse nada enquanto era humana. Geralmente, isso parecia meio bobo. Não eram as experiências humanas que eu tinha medo de perder. Contanto que eu estivesse com Edward, o que mais eu poderia pedir?
Eu observei o rosto dele enquanto ele obervava Carlisle consetar a minha mão. Não havia nada no mundo que eu quisesse mais do que ele. Iria isso, poderia isso, mudar?
Será que havia uma experiência humana da qual eu não quisesse abrir mão

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