sábado, 5 de março de 2011

Os Delírios de Consumo de Becky Bloom - Capítulos 16 ao 18

DEZESSEIS

Quando apareço na casa de meus pais naquela tarde, sem nenhum aviso, dizendo que
quero ficar por alguns dias, não posso dizer que parecem chocados ou até surpresos.
Na verdade, parecem tão pouco surpresos que começo a pensar se estiveram esperando
por esta eventualidade o tempo todo, desde que me mudei para Londres. Será que, a cada
semana, ficaram esperando que eu chegasse na porta de casa sem bagagem e com os
olhos vermelhos? Certamente estão se comportando tão calmos como uma equipe de
médicos atuando num procedimento de emergência que só foi ensaiado na semana
passada.
Exceto que certamente a equipe de médicos não ficaria o tempo todo perguntando
sobre a melhor maneira de ressuscitar o paciente. Depois de alguns minutos, sinto
vontade de ir lá fora e tocar a campanhia de novo enquanto eles decidem sobre seu plano
de ação.
— Vá lá para cima e tome um bom Banho quente —diz mamãe, assim que coloco no
chão minha bagagem de mão. — Imagino que esteja exausta!
— Ela não precisa tomar um banho se não quiser! — retruca papai. — Quem sabe
prefere um drinque! Quer um drinque, minha querida?
— Isto tem cabimento? — pergunta mamãe, enviando-lhe um olhar significativo de "E
Se Ela For Uma alcoólatra?" que, supostamente, eu não deveria perceber.
—Não quero um drinque, obrigada — digo. — Mas adoraria uma xícara de chá.
—Claro! — diz mamãe. — Graham, vá lá e acenda a chaleira. — E envia-lhe um outro
olhar significativo. Logo que ele desaparece na cozinha, ela se aproxima mim e diz, numa
voz mais baixa,
—Você está bem, querida? Tem alguma coisa... errada?
Ah, Deus, não há nada como a voz preocupada de nossa mãe quando nos sentimos
deprimidos para nos cair no choro.
— Bem — digo, numa voz levemente insegura. - As coisas já estiveram melhor. Só
estou... numa situação um pouco difícil no momento. Mas vai ficar bem no final. —
Encolho um pouco os ombros e o olhar.
— Porque... — ela abaixa a voz mais ainda. — Seu pai não é tão antiquado quanto
parece. E eu sei que se fosse o caso de nós cuidarmos de um... um bebê, enquanto você
prossegue na sua carreira...
O quê?
—Mamãe, não se preocupe! — exclamo prontamente. — Não estou grávida!
—Eu nunca disse que estava — diz ela e cora um pouco. — Só queria oferecer a você
nosso apoio.
Droga, viu como são meus pais? Eles assistem a novelas demais, este é o problema. De
fato , e provável que estivessem ansiosos para eu estar grávida. Do meu amante malvado
e casado a quem eles poderiam então matar e enterrar no jardim.
E que negócio é esse de "oferecer a você nosso apoio", afinal? Minha mãe nunca diria
isto antes de começar a assistir Ricki Lake toda tarde.
—Bem, vamos — diz ela. — Vamos sentar e tomar uma boa xícara de chá.
E assim eu a sigo em direção à cozinha e nós todos sentamos para uma boa xícara de
chá. E, devo dizer, é muito bom. Chá quente forte e um biscoito de bourbon com
chocolate. Perfeito. Fecho meus olhos e tomo alguns goles, depois abro-os novamente,
para ver ambos me observando com uma curiosidade que se percebe no rosto deles.
Imediatamente minha mãe muda a expressão para um sorriso e meu pai dá uma tossida
— mas consigo ver, eles estão se contendo para não perguntar o que há de errado.
— Então — digo cautelosa, e ambos levantam a cabeça. — Vocês dois estão bem, não
é?
— Ah, sim — diz minha mãe. — Sim, nós estamos bem.
Segue-se um outro silêncio.
— Becky? — diz meu pai com voz grave, e mamãe e eu nos viramos para fitá-lo. —
Você está com algum tipo de problema que deveríamos saber? Só nos diga se quiser —
ele logo acrescenta. — E quero que saiba: estamos do seu lado.
Esta é outra droga que viram na TV também. Meus pais deviam realmente sair um
pouco mais.
— Você está bem, querida? — diz mamãe suavemente, e soa tão doce e compreensiva
que, involuntariamente me vejo apoiando a xícara na mesa com a mão trêmula dizendo:
— Para falar a verdade, estou numa situação difícil. Não queria preocupar vocês, por
isto não disse nada até agora... — Posso sentir as lágrimas correndo no meu rosto.
— Que é isto? — diz mamãe numa voz de pânico. — Ah, Deus, você não está usando
drogas, está?
— Não, não estou usando drogas! — exclamo. - Só estou... E só que eu... Eu — Tomo
um bom gole de chá. Anda, Rebecca, simplesmente diga.
Fecho os olhos e comprimo minhas mãos bem forte em torno da caneca.
— A verdade é... — digo lentamente.
— Sim? — diz mamãe.
— A verdade é... —Abro os olhos. — Estou sendo perseguida. Por um homem
chamado... chamado Derek Smeath.
Faz-se silêncio até ouvir-se um longo assobio quando meu pai respira fundo.
—Eu sabia! — diz minha mãe numa voz aguda e frágil. — Eu sabia! Eu sabia que
havia algo errado!
— Nós todos sabíamos que havia algo errado! – diz meu pai e apóia os cotovelos
fortemente sobre a mesa. — Há quanto tempo isto está acontecendo, Becky?
— Ah, ahn... há meses — digo, olhando dentro do meu chá. — Está só...
incomodando, na verdade. Não é tão sério ou algo assim. Mas eu simplesmente não
conseguia mais lidar com aquilo.
— E quem é esse Derek Smeath? — pergunta papai. — Nós o conhecemos?
— Creio que não. Eu o conheci... eu o conheci através do trabalho.
— Claro que sim! — diz mamãe. — Uma garota jovem e bonita como você, com uma
carreira de sucesso... Eu sabia que isto iria acontecer!
— Ele é jornalista também? — pergunta papai e eu balanço a cabeça.
— Trabalha para o Endwich Bank. Faz coisas como... como ligar e fingir que é
responsável pela minha conta no banco. Ele é realmente convincente.
Há um silêncio enquanto meus pais digerem isto e eu como outro chocolate com
bourbon.
—Bem — diz mamãe, finalmente. — Acho que devemos ligar para a polícia.
—Não! — exclamo, cuspindo restos pela mesa toda. — Não quero a polícia! Ele nunca
me ameaçou ou algo assim. Na realidade, não é um invasor de forma alguma. Ele só é um
saco. Achei que se eu desaparecesse por um tempo...
— Entendo — diz papai e olha para mamãe. — Bem, isto faz sentido.
— Então o que sugiro — digo, entrelaçando minhas mãos apertadas no meu colo — é
que se ele telefonar, vocês digam que viajei para o exterior e vocês não têm um número
de onde estou. E... se alguém mais ligar, digam a mesma coisa. Até Suze.
— Tem certeza? — diz mamãe, franzindo a sobrancelha. — Não seria melhor ir à
polícia?
— Não! — digo rápido. — Isto só o faria sentir-se importante. Só quero desaparecer
por um tempo.
— Está bem — diz papai. — Da minha parte, você não está aqui.
Ele estende sua mão por cima da mesa e aperta minha mão. E quando vejo a
preocupação em seu rosto, me odeio pelo que estou fazendo. Sinto-me tão culpada que,
por um instante, acho que poderia simplesmente cair no choro e dizer-lhes tudo, de
verdade.
Mas... não posso fazer isto. Simplesmente não posso contar aos meus pais, gentis e
amorosos, que sua filha tida como tão bem-sucedida com seu dito emprego de alto nível
é, na realidade, uma desorganizada, uma... fraude, com dívidas até o pescoço.
E assim, jantamos (empadão da Cumberland Waitrose) e assistimos juntos a uma
adaptação de Agatha Christie. Depois, subo as escadas em direção ao meu antigo quarto,
visto uma camisola velha e vou para a cama. E quando acordo na manhã seguinte, me
sinto feliz e descansada como não me sentia há semanas.
Acima de tudo, olhando para o teto de meu velho quarto, sinto-me segura. Isolada do
mundo, embrulhada em lã de algodão, como num casulo. Ninguém pode me pegar aqui.
Ninguém nem sabe que estou aqui. Eu não vou receber nenhuma carta malcriada e não
vou receber visitas desagradáveis. E como um santuário.
Toda a responsabilidade foi tirada dos meus ombros. Sinto-me como se tivesse quinze
anos novamente, sem ter nada com que me preocupar exceto meu dever de casa (e eu
nem tenho nenhum).
São pelo menos nove horas quando acordo e levanto da cama e, quando faço isso, me
lembro que a muitos quilômetros dali, em Londres, Derek Smeath está espe¬rando que eu
chegue para uma reunião daqui à meia hora. Sinto uma leve dorzinha no estômago e por
um instante penso em telefonar para o banco e dar alguma desculpa. Mas, mesmo quando
estou pensando nisso, sei que não vou fazê-lo. Nem quero lembrar da existência do
banco. Quero esquecer tudo isso.
Nada disso existe mais. Nem o banco, nem o VISA. nem a Octagon. Tudo eliminado
da minha vida, num piscar de olhos.
O único telefonema que dou é para o escritório, pois não quero que eles me demitam
na minha ausência. Telefono às 9:20 — antes de Philip chegar — e falo com Mavis, na
recepção.
— Alô, Mavis? — digo grasnando. —Aqui é Rebecca Bloom. Pode dizer ao Philip que
estou doente?
— Ah, coitada! — diz Mavis. — É bronquite?
— Não estou bem certa—resmungo. —Tenho uma hora no médico mais tarde. Preciso
ir. Tchau.
E pronto. Um telefonema e estou livre. Ninguém suspeita de nada, por que deveriam?
Sinto-me leve de alívio. E tão fácil escapar. Tão simples. Eu devia ter feito isto há muito
tempo.
No fundo da minha mente, como um pequeno gremlin mau, está a consciência de que
não poderei ficar aqui para sempre. De que, mais cedo ou mais tarde, as coisas começarão
a me pegar.
Mas, pelo menos, não vai ser agora. Não por um bom tempo ainda. E por enquanto não
vou pensar nisso. Só vou tomar uma boa xícara de chá, assistir ao programa Morning
Coffee e esvaziar minha cabeça completamente.
Quando entro na cozinha, papai está sentado à mesa, lendo o jornal. Há um aroma de
torrada no ar e o rádio está ligado ao fundo. Exatamente como quando eu era mais jovem
e morava em casa. A vida era simples, naquela época. Era tão fácil. Nenhuma conta,
nenhuma exigência, nenhuma carta ameaçadora. Uma enorme onda de nostalgia me
domina e me afasto para encher a chaleira, piscando levemente.
— Notícia interessante — comenta papai, apontando para o Daily Telegraph.
— Ah, é? — digo, introduzindo um saquinho de chá numa caneca. — Do que se trata?
— A Scottish Prime assumiu o controle da Flagstaff Life.
— Ah, sim — digo vagamente. — Isso mesmo. Acho que já tinha ouvido falar que isto
ia acontecer.
— Todos os investidores da Flagstaff Life vão receber bonificação. A maior já
recebida, aparentemente.
— Minha nossa — digo, procurando parecer interessada. Pego um exemplar da Good
Housekeeping, abro e começo a ler meu horóscopo.
Mas alguma coisa está perturbando minha mente. Flagstaff Life. Por que soa tão
familiar? Com quem eu estava falando sobre...
— Martin e Janice da casa ao lado! — exclamo de repente. — Eles têm Flagstaff Life!
Já há quinze anos.
— Então vão se dar tem — diz papai. — Quanto mais tempo, mais dinheiro a receber,
aparentemente.
Ele vira a página com um estalo e eu me sento à mesa com minha caneca de chá e a
Good Housekeeping aberta num artigo sobre como fazer bolos de Páscoa. Não é justo, me
percebo pensando ressentida. Por que eu não posso receber um pagamento de
bonificação? Por que o Endwich Bank não muda de dono? Aí eles poderiam me pagar
uma bonificação suficientemente grande para saldar minha dívida com o cheque especial.
E, de preferência, demitir Dereh Smeath ao mesmo tempo.
— Algum plano para hoje? — diz papai olhando para mim.
— Não exatamente — digo e tomo um gole de chá. Algum plano para o resto da minha
vida? Não exatamente.
Finalmente, passo uma manhã agradável e sem desafios ajudando mamãe a separar uma
pilha de roupas para um bazar, e às 12:30 entramos na cozinha para fazer um sanduíche.
Quando olho para o relógio, o fato de que eu deveria estar no Endwich Bank três horas
atrás passa num flash pela minha cabeça — mas muito longe, como um som distante.
Toda minha vida em Londres parece re¬mota e irreal agora. É aqui que pertenço. Longe
da multidão enlouquecida, em casa com meus pais, vivendo um período calmo e sem
complicações.
Após o almoço, passeio pelo jardim com um dos catálogos de compra por correio de
minha mãe e vou me sentar no banco sob a macieira. Um instante depois, ouço uma voz
do outro lado da cerca e olho. É Martin da casa ao lado. Humm. Não estou me sentindo
muito inclinada a conversar com o Martin no momento.
— Olá, Becky — diz ele suavemente. — Você está bem?
— Estou bem, obrigada — respondo logo. E não gosto de seu filho, sinto vontade de
acrescentar. Mas depois, é provável que achem que eu estava negando, não é?
— Becky — diz Janice, aparecendo ao lado de Martin, com uma espátula nas mãos. E
me dirige um olhar de apavorada. — Soubemos de seu... perseguidor — murmura ela.
— É criminoso — comenta Martin irritado. — Essas pessoas deveriam estar atrás das
grades.
— Se houver alguma coisa que possamos fazer — diz Janice. — Qualquer coisa. E só
nos informar.
— Estou bem, realmente — digo eu, levemente mais suave com eles. — Só quero ficar
aqui por um tempo. Sair disso tudo.
— Claro que sim — diz Martin. — Garota esperta.
— Eu estava dizendo ao Martin esta manhã — diz Janice — que você deveria contratar
um segurança.
— Cuidado nunca é demais — diz Martin. — Não nos dias de hoje.
— O preço da fama — diz Janice, balançando a cabeça penalizada — Preço da fama.
— Bem — digo eu, procurando me afastar do assunto do meu perseguidor. — Como
estão passando?
— Ah, estamos os dois bem — diz Martin. — Eu suponho. — Para minta surpresa, há
uma alegria levemente forçada na sua voz. Faz-se uma pausa e ele olha para Janice, que
franze a sobrancelha e balança ligeiramente a cabeça.
— De qualquer modo vocês devem estar contentes com as notícias — digo alegre. —
Sobra a Flagstaff Life.
Faz silêncio.
— Bem — diz Martin. — Estaríamos.
— Ninguém poderia saber — diz Janice, encolhendo os ombros. — E uma dessas
coisas. Foi jogar com a sorte.
— O que é? — digo confusa. — Pensei que vocês estavam recebendo alguma
bonificação enorme.
— Parece... — Martin coca o rosto. — Parece que não no nosso caso.
— Mas... mas por quê?
— Martin telefonou para eles esta manhã — diz Janice. — Para ver quanto nós
estaríamos recebendo. Eles estavam dizendo nos jornais que os investidores antigos
estariam recebendo milhares de libras. Mas... — Ela olha para Martin.
— Mas o quê? — digo, sentindo uma pontada de alarme.
— Aparentemente não temos mais direito — diz Martin estranho. — Desde que
mudamos nosso investi¬mento. Nosso fundo antigo teria se qualificado, mas... — Ele
tosse. — Quero dizer, vamos receber alguma coisa, mas serão apenas umas 100 libras.
Olho para ele estupefata.
— Mas vocês só trocaram...
— Duas semanas atrás —diz ele. — Esta é a ironia. Se tivéssemos segurado só um
pouquinho mais... Ainda assim, o que está feito está feito. Não tem cabimento lamentar
sobre isto. — Ele encolhe os ombros indicando resignação, e sorri para Janice, que sorri
de volta.
E eu desvio o olhar e mordo meu lábio.
Porque uma sensação fria e desagradável está me subindo. Eles tomaram a decisão de
trocar seu investimento baseados na minha orientação, não foi? Eles me perguntaram se
deveriam trocar de fundos, e eu disse vá em frente. Mas agora que estou pensando nisso...
eu já não tinha ouvido um boato sobre essa fusão? Ah, Deus. Eu já sabia? Eu poderia ter
evitado isso?
— Nós não poderíamos jamais ter sabido que essas bonificações iriam acontecer — diz
Janice e deita sua mão confortadora sobre o braço dele. — Eles mantêm essas coisas em
segredo até o último minuto, não é assim, Becky?
Minha garganta está muito apertada para eu responder. Agora consigo me lembrar de
tudo. Foi Alicia quem primeiro mencionou a fusão. No dia anterior à minha vinda para
cá. E depois Philip disse alguma coisa sobre isso no escritório. Algo sobre acionistas com
vantagens indo bem. Exceto... que na verdade eu não estava ouvindo. Acho que estava
fazendo minhas unhas naquele momento.
— Eles calculam que nós teríamos recebido vinte mil libras se tivéssemos permanecido
com eles — diz Martin, inconsolável. — Fico doente só de pensar. Mas , mesmo assim,
Janice está certa. Não poderíamos ter sabido. Ninguém sabia.
Ah, Deus. É tudo minha culpa. Se pelo menos eu tivesse usado meu cérebro e pensado
pelo menos uma vez na vida...
— Ah, Becky, não fique com essa cara desconcertada! — diz Janice. — Isto não é
culpa sua! Você não sabia! Ninguém sabia! Nenhum de nós poderia...
— Eu sabia — ouço-me dizer miserável.
Há um silêncio de surpresa.
— O quê? — diz Janice quase sem voz.
— Eu não sabia exatamente — digo, olhando para o chão. — Mas ouvi uma espécie de
boato sobre isso um tempo atrás. Eu deveria ter dito algo quando me perguntaram.
Deveria tê-los avisado para aguardarem. Mas eu simplesmente... não pensei. Eu não me
lembrei. — Forço-me a olhar para eles e encontrar o olhar espantado de Martin. — Eu...
realmente sinto muito. Foi tudo minha culpa.
Faz-se um silêncio, durante o qual Janice e Martin se olham e eu curvo os ombros, me
odiando. Dentro, posso ouvir o telefone tocando e passos de alguém que se encaminha
para atender.
— Compreendo — diz Martin finalmente. — Bem... não é para se preocupar. Essas
coisas acontecem.
— Não se culpe, Becky —diz Janice gentilmente. — Foi nossa decisão trocar de
fundos, não sua.
— E lembre-se, você tem estado sob muita pressão recentemente — acrescenta Martin,
mostrando compreensão com sua mão sobre meu braço — E esse negócio desagradável
de perseguição.
Agora eu realmente acho que vou chorar. Não mereço a bondade dessas pessoas.
Acabei de levá-las a um prejuízo de vinte mil libras, só por ser preguiçosa demais para
me manter em dia com os acontecimentos que deveria saber. Sou uma jornalista
econômica, pelo amor de Deus.
E de repente, ali de pé no jardim dos meus pais, caio na maré mais baixa de minha
vida. O que tenho a meu favor? Nada. Nem uma única coisa. Não consigo controlar meu
dinheiro, não consigo fazer meu trabalho e não tenho um namorado. Feri minha melhor
amiga, menti para meus pais e agora arruinei meus vizinhos. Eu devia desistir e ir para
um mosteiro budista ou algo assim.
— Becky?
A voz de meu pai nos interrompe e eu olho para ele surpresa. Ele vem caminhando
pela grama na nossa direção, com uma expressão perturbada no rosto.
— Becky, não fique alarmada — diz ele —, mas acabei de falar com aquele camarada,
Derek Smeath, ao telefone.
— O quê? — digo, sentindo meu rosto esvaziar-se de horror.
— O perseguidor? — exclama Janice, e papai acena sobriamente que sim.
— Um camarada bem desagradável, eu diria. Estava realmente bem agressivo comigo.
— Mas como ele sabe que Becky está aqui? — diz Janice.
— Obviamente só estava jogando com a sorte — diz papai. — Eu fui bastante
civilizado, simplesmente disse a ele que você não estava aqui e que eu não tinha idéia de
onde estava.
— E... e o que ele disse? — pergunto numa voz estrangulada.
— Veio com uma história de uma reunião que você teria marcado com ele. — Papai
balança a cabeça. — O camarada está obviamente enganado.
— Você deveria trocar o número do seu telefone — aconselha Martin. — Ficar fora da
lista.
— Mas de onde ele estava telefonando? — pergunta Janice, elevando a voz alarmada.
— Ele pode estar em qualquer lugar! — Ela começa a olhar agitada pelo jardim como se
esperando que ele surgisse por trás de um arbusto.
— Exatamente — diz papai. — Portanto, Becky, acho que talvez você devesse entrar
agora. Nunca se sabe com esses tipos.
— Está bem — digo quase sem voz. Quase não consigo acreditar que isto está
acontecendo. Olho para o rosto gentil e preocupado de papai e de repente sinto vontade
de desmoronar em lagrimas. Ah, por que não contei a ele e a mamãe a verdade? Por que
me deixei entrar nesta situação?
— Você parece bastante aturdida, querida — diz Janice e me acaricia batendo de leve
no ombro. —Vá e tome uma boa xícara de chá.
— Sim — digo eu. — Sim, acho que irei.
E papai me leva gentilmente em direção à casa, como se eu fosse alguma espécie de
inválida.
Isto está ficando fora de controle. Agora, não só me sinto um fracasso absoluto, como não
me sinto mais segura. Não me sinto isolada e segura, sinto-me exposta e nervosa. Sentome
no sofá ao lado de minha mãe, tomando chá e assistindo a Countdown, e toda vez que
há um barulho lá fora, dou um pulo de nervoso.
E se Derek Smeath está a caminho daqui? Quanto tempo ele levaria para vir de
Londres até aqui dirigindo? Uma hora e meia? Duas, se o trânsito estiver ruim?
Não faria isso. E um homem ocupado.
Mas poderia.
Ou mandar os agentes da polícia atrás de mim. Ah, Deus. Homens ameaçadores em
jaquetas de couro. Meu estômago está apertado de medo. Estou começando a me sentir
como se tivesse mesmo um perseguidor.
Quando o intervalo de anúncios começa, minha mãe pega um catálogo cheio de
material de jardinagem. — Olhe esta linda banheira de passarinho — diz ela. — Vou
comprar uma para o jardim.
— Ótimo — murmuro, incapaz de concentrar-me.
— Eles também têm umas jardineiras fantásticas — diz ela. — Você poderia colocar
umas nas janelas do seu apartamento.
— Sim — digo. — Talvez.
— Devo escrever que estou encomendando duas? Não são caras.
— Não, não precisa.
— Pode pagar com cheque, ou VISA... — acrescenta ela, virando a página.
— Não, realmente, mãe — digo, com a voz já levemente irritada.
— Você poderia simplesmente telefonar para seu cartão VISA e pedir que entreguem...
— Mãe, pára! — grito. — Não quero, está bem?
Minha mãe me olha com uma expressão surpresa e meio reprovadora e vira para as
páginas seguintes de seu catálogo. E eu olho para ela de volta, cheia de um pânico
sufocante. Meu cartão VISA não funciona. Meu cartão Switch não funciona. Nada
funciona. E ela não tem a menor idéia.
Não pense nisso. Não pense nisso. Pego um exemplar antigo do Radio Times na mesa
de café e começo a folheá-lo sem ver nada.
— Foi uma pena o que aconteceu com os pobres Martin e Janice, não é? — diz minha
mãe olhando para mim. — Imagina, trocar de fundo duas semanas antes da fusão! Que
azar!
— Eu sei — murmuro, olhando para uma página de listas. Não quero ser lembrada
sobre o que aconteceu com Martin e Janice.
— Parece uma terrível coincidência — diz mamãe balançando a cabeça. — Que a
empresa tenha lançado esse novo fundo logo antes da fusão. Você sabe, deve haver
muitas pessoas que fizeram exatamente o mesmo que Martin e Janice, que perderam tudo
isso. Lastimável, realmente. — Ela olha para a televisão. — Vejam, está começando de
novo.
A música alegre do Countdown começa a tocar e aplausos chocalham ruidosamente da
televisão. Mas não es¬tou ouvindo, nem prestando qualquer atenção às vogais e
consoantes. Estou pensando sobre o que minha mãe acabou de dizer. Uma terrível
coincidência — mas não foi exatamente uma coincidência, foi? O banco escreveu mesmo
para Janice e Martin, sugerindo que eles trocassem de fundo. Chegaram a oferecer um
incentivo, não foi? Um relógio de parede.
Por que fizeram isso?
De repente sinto-me alerta. Quero ver a carta da Flagstaff Life e descobrir exatamente
quanto tempo antes da fusão eles a mandaram.
— "TÉRMINO" — diz mamãe, olhando para a tela. — São sete. Oh, há um S. Pode
ser "TÉRMINOS"?
— Só vou... dar um pulo no vizinho — digo e me levanto. — Não vou demorar nada.
Quando Martin abre a porta de entrada, percebo que ele e Janice também estavam na
frente da televisão assistindo a Countdown.
— Olha — digo, meio envergonhada. — Eu estava pensando... nós poderíamos
conversar um pouquinho?
— Claro! — diz Martin. — Entre! Quer um sherry?
— Hã? — digo, um pouco surpresa. Quero dizer, não que eu seja contra bebida, claro,
mas ainda não são cinco horas. — Bem, está bem então.
— Nunca é cedo demais para um sherry! — diz Martin.
— Eu aceito um também, obrigada, Martin — surge a voz de Janice vinda da sala de
estar.
Quem diria. Eles são um casal de alcoólatras!
Ah Deus, talvez isto também seja culpa minha. Talvez seu infortúnio financeiro os
tenha levado a buscar abrigo no álcool e na televisão.
— Eu só estava pensando — digo nervosa enquanto Martin entorna um sherry
marrom-escuro num copo. — Só por curiosidade, será que eu poderia dar uma olhada
naquela carta que vocês receberam da Flagstaff Life sugerindo que trocassem de fundo?
Eu estava procurando descobrir quando eles a enviaram.
— Chegou no dia exato em que nos encontramos — diz Martin. — Por que quer vê-la?
— Ele levanta os óculos. — A sua saúde.
— Tintim. — Saúdo e tomo um gole. — Só estava pensando...
— Venha até a sala — ele interrompe e me leva pelo hall. — Aqui está ela, minha
querida — acrescenta ele e entrega a Janice seu sherry. — Vamos virar os copos!
— Sssh — retruca ela. — Está na hora do jogo de números! Preciso me concentrar.
— Pensei que eu poderia investigar isto um pouco — sussurro para Martin enquanto o
relógio Countdown bate. — Sinto-me tão mal quanto a isto.
— Cinqüenta vezes 4 é duzentos — diz Janice de repente. — Seis menos 3 é 3, vezes 7
é 21 e continue contando.
— Muito bem, amor! — diz Martin enquanto revira tudo no aparador entalhado em
carvalho. —Aqui esta a carta — diz ele. — E então, você quer escrever algum artigo ou
algo assim?
— Possivelmente — digo. — Você não se importa¬ria, não é?
— Me importar? — E encolhe os ombros. — Não, acho que não.
— Sssh! — diz Janice. — Está no desafio do Countdown.
— Está bem — sussurro. — Bem eu só... eu só vou levar isto, posso?
— Explicar! — diz Janice. — Não, explorar.
— E... obrigada pelo sherry. — Tomo um gole grande e estremeço com seu gosto
exageradamente doce, depois tiro meus óculos e saio da sala na ponta dos pés.
Meia hora depois, sentada no meu quarto, já li a carta da Flagstaff Life várias vezes e
tenho certeza de que há algu¬ma coisa suspeita com relação a ela. Quantos investidores
devem ter trocado de fundo depois de receberem esta oferta vagabunda do relógio de
parede e perderam a bonificação a que teriam direito? Mais precisamente, quanto a
Flagstaff Life deve ter economizado? De repente eu realmente que¬ro saber. E mais que
isso, eu realmente quero escrever a respeito. Pela primeira vez na minha vida, estou
realmente interessada numa história da área financeira.
E eu não quero simplesmente escrevê-la para a por¬caria da Successful Saving
tampouco.
O cartão de Eric Foreman ainda está na minha bolsa com o número de seu telefone
direto impresso na parte de cima. Olho para ele por um instante, depois me dirijo ao
telefone e bem rápido teclo o número antes que eu mude de idéia.
— Eric Foreman, Daily World — vem sua voz ressoando do outro lado da linha.
Ah, Deus. Eu estou realmente fazendo isto?
— Olha — digo nervosa. — Não sei se você se lembra de mim. Rebecca Bloom, da
Successful Saving. Nos encontramos na entrevista coletiva da Administradora de Bens
Sacrum.
— Isso mesmo, nos encontramos sim — diz ele alegremente. — Como vai você, meu
anjo?
— Estou bem — respondo, e aperto minha mão forte em torno do fone. — Muito bem.
Ahn... eu só estava pensando, vocês ainda estão publicando aquela série intitulada
"Devemos Confiar nos Homens do Dinheiro?"?
— Estamos sim, sempre que possível — responde Eric Foreman. — Por quê?
— É que... — engulo. — E só que eu acho que tenho uma história que poderia lhes
interessar.

DEZESSETE

Eu nunca tinha trabalhado com tanto empenho num artigo antes. Nunca.
Note bem, nunca tinham me pedido para escrever em tão pouco tempo. Na Successfuí
Saving, temos um mês inteiro para escrever nossos artigos e reclamamos disso. Quando
Eric Foreman perguntou "Você pode fazê-lo até amanhã?", de início achei que estava
trincando. Alegremente respondi "Claro!", e quase acrescentei "Na verdade, eu vou
mandá-lo para você em cinco minutos!" Depois, bem a tempo, percebi que estava falando
sério. Caramba!
Sendo assim, bem cedo na manhã seguinte, a primeira coisa que faço é ir à casa de
Martin e Janice com um gravador e anotar exatamente tudo sobre seu investimento e
procurar conseguir muitos detalhes de partir o coração, conforme a orientação do Eric.
— Precisamos de interesse humano — ele me disse pelo telefone. — Nada de suas
reportagens financeiras chatas aqui. Faça-nos lamentar por eles. Faça-nos chorar. Um
casal trabalhador, comum, que pensou que poderia confiar em algumas poupanças para
assegurar sua velhice. Enganados por empresários gananciosos. Como é a casa deles?
— Hã... uma casa de quatro quartos, em Surrey.
— Bem, por Cristo não inclua isto! — berrou. — Quero pessoas honestas, pobres e
orgulhosas. Nunca pediram um centavo ao governo, economizaram para si. Confiaram
numa instituição financeira respeitável. E tudo o que ela fez foi dar-lhes um chute no
traseiro. — Parou e soou como se estivesse palitando os dentes. — Esse tipo de coisa.
Acha que consegue fazer?
— Eu... hã... sim! Claro! — gaguejo.
Ah, Deus, pensei quando coloquei o fone no gancho. Ah, Deus, no que eu fui me
meter?
Mas é tarde demais para mudar de idéia agora. Portanto, a próxima coisa a fazer é
convencer Janice e Martin da importância de aparecer no Daily World. O problema é que
não é exatamente o Financial Times, é? Ou mesmo o Times normal. (Ainda assim, como
lembro a eles, poderia ser muito pior. Poderia ser o Sun — e eles terminariam espremidos
entre uma modelo de topless e uma foto de paparazzi borrada de uma das Spice Girls.)
Por sorte, contudo, eles estão tão perplexos por eu estar fazendo todo este esforço em
seu benefício que não parecem se importar para que jornal estou escrevendo. E quando
ouvem dizer que um fotógrafo virá tirar uma foto sua ao meio-dia, você pensaria que a
rainha está vindo fazer-lhes uma visita.
— Meu cabelo! — diz Janice apavorada, olhando para o espelho. — Será que dá
tempo para a Maureen me fazer uma escova?
— Não exatamente. E ele está lindo — digo tranqüilizando-a. — De qualquer modo,
eles querem que você esteja o mais natural possível. Só... uma pessoa honesta, comum.
— Examino a sala de estar procurando distinguir detalhes pungentes para incluir no meu
artigo.
Um cartão de aniversário de seu filho está orgulhosamente colocado em cima da
lareira. Mas este ano não haverá celebração para Martin e Janice Webster.
— Preciso telefonar para Phyllis! — diz Janice. — Ela não vai acreditar!
— Você nunca foi um soldado ou algo assim? — pergunto a Martin pensativa. — Ou
um... bombeiro? Qualquer coisa no gênero. Antes de tornar-se um agente de viagens.
— Não, querida — diz Martin, enrugando a sobrancelha. — Só um cadete na escola.
— Ah, está bem. Isto pode servir.
Martin Webster alisa com os dedos o distintivo de cadete que tanto se orgulhava de
usar na juventude. Sua vida foi de trabalho árduo e servir aos outros. Agora, nos anos da
sua aposentadoria, ele deveria estar aproveitando as recompensas que merece.
Mas os empresários gananciosos o enganaram e o arrancaram de seu ninho de
segurança. O Daily World pergunta...
— Eu tirei cópias de todos os documentos para você — diz Martin. — Toda a
papelada. Não sei se terá alguma utilidade...
— Ah, obrigada — digo, pegando a pilha de papéis com ele. — Farei uma boa leitura
disso.
Quando o honesto Martin Webster recebeu uma carta da Flagstaff Life convidando-o
para trocar de fundo de investimento, ele confiou que os homens do dinheiro saberiam o
que era melhor para ele.
Duas semanas mais tarde descobriu que eles o tinham traído e perdeu uma
bonificação de vinte mil libras.
— Minha esposa está doente em conseqüência disto — disse ele. — Estou muito
preocupado.
Humm.
— Janice? — digo olhando para ela casualmente. — Você está se sentindo bem? Não
está... mal, ou algo assim?
— Um pouco nervosa, para ser sincera, querida — diz ela olhando em volta, ao desviar
o olhar do espelho. — Nunca sou muito boa em tirar fotografias.
— Meus nervos estão em frangalhos — disse a Sra. webster numa voz cansada. —
Nunca me senti tão traída em toda minha vida.
— Bem, acho que tenho o suficiente agora — afirmo levantando e desligando meu
gravador. — Talvez eu precise sair um pouquinho do que está na fita, só para fazer a
história funcionar. Vocês não se importam, não é?
— Claro que não! — diz Janice. — Escreva o que quiser, Becky! Confiamos em você.
— E então o que vai acontecer agora? — pergunta Martin.
— Vou precisar falar com a Flagstaff Life — digo.— Ouvir o que eles têm a dizer em
sua defesa.
— Que defesa? — diz Martin. — Não há defesa para o que eles nos fizeram!
— Eu sei — digo e sorrio para ele. — Exatamente.
Quando volto para casa e subo para o meu quarto, estou cheia de adrenalina, feliz.
Tudo o que preciso fazer é conseguir uma declaração da Flagstaff Life e posso começar a
escrever a matéria. Não tenho muito tempo: o artigo precisa estar pronto até as 14:00 se
vai estar na edição de amanhã. Deus, isto é excitante. Por que o trabalho nunca tinha
parecido tão estimulante antes disso?
Rapidamente pego o fone e disco o número da Flagstaff — só para ouvir da telefonista
que todas as perguntas da imprensa são tratadas fora da empresa. Ela me dá um número
que me parece bastante familiar e eu faço uma careta para ele por um instante, depois
disco.
— Alô - diz uma voz suave. — Brandon Communications.
Ah, Deus, claro. De repente sinto-me um pouco trêmula. A palavra "Brandon" me
bateu fundo no estômago como um soco. Eu havia esquecido completamente de tudo a
respeito de Luke Brandon. Para ser sincera, tinha me esquecido de tudo a respeito do
resto da minha vida. E, francamente, não quero me lembrar disso.
Mas está bem não preciso falar com ele pessoalmente, não é?
— Olá — digo. —Aqui é Rebecca Bloom. Ermm... Eu só queria falar com alguém
sobre a Flagstaff Life.
— Deixe-me verificar... — diz a voz. — Sim, é cliente de Luke Brandon. Vou colocála
em contato com sua assistente... — E some antes que eu possa dizer alguma coisa.
Ah, Deus.
Ah, Deus, não posso fazer isto. Não posso falar com Luke Brandon. Minhas perguntas
estão escritas num pedaço de papel, na minha frente, mas olho para elas e não as consigo
ler. Estou relembrando a humilhação que senti naquele dia na Harrods. Aquele soco
horrível no meu estômago quando ouvi o tom de superioridade na voz dele e de repente
percebi o que pensava de mim. Uma brincadeira. Uma nada.
Tudo bem, eu consigo fazer isto, digo a mim mesma com firmeza. Consigo fazer isto.
Só serei muito séria e profissional, farei minhas perguntas e...
— Rebecca! — surge uma voz no meu ouvido. — Como vai! Aqui é Alicia.
— Ah! — digo surpresa. — Pensei que iria falar com Luke. E sobre a Flagstaff Life.
— Sim, bem — diz Alicia. — Luke Brandon é um homem muito ocupado. Tenho
certeza de que posso responder qualquer pergunta que você tenha para fazer.
— Ah, claro — digo e faço uma pausa. — Mas eles não são seus clientes, são?
— Tenho certeza de que isto não importa neste caso — diz ela e dá uma risadinha. —
O que você queria saber?
— Certo — digo e olho para minha lista. — Foi uma política deliberada da Flagstaff
Life convidar seus investidores a saírem dos fundos com lucros logo antes de anunciarem
as bonificações? Algumas pessoas perderam muito dinheiro, você sabe.
— Certo... — diz ela. — Obrigada, Camilla, vou querer salmão defumado com alface.
— O quê? — digo.
— Desculpe, sim, estou ouvindo — diz ela. — Só estou tomando nota... Creio que vou
precisar de um tempo para te dar esta resposta.
— Bem, eu preciso de uma resposta logo! — digo. — Meu prazo é de algumas horas
apenas.
— Entendi — diz Alicia. De repente sua voz fica abafada. — Não, salmão defumado.
Está bem, então frango chinês. Sim. — O abafado desaparece. — Então, Rebecca, tem
outras perguntas? Olha, não seria melhor eu lhe mandar nosso último kit da imprensa?
Ele deve responder qualquer outra dúvida. Ou você poderia enviar suas perguntas por
fax.
— Está bem — digo bruscamente. — Está bem, eu farei isso. — E coloco o fone no
gancho.
Por um momento olho para a frente num silêncio melancólico. Sua estúpida, metida a
superior. Nem se dá ao trabalho de levar a sério as minhas perguntas.
Depois, aos poucos, percebo que esta é a forma que sempre sou tratada quando
telefono para as assessorias de imprensa. Ninguém jamais tem pressa em responder
minhas perguntas, tem? As pessoas sempre me deixam esperando, dizem que vão me
telefonar mais tarde e não se preocupam. Eu nunca me importei com isso — na verdade,
até gostei de ficar esperando no telefone ouvindo a música "Greensleeves" (pelo menos é
melhor que trabalhar). Nunca me importei antes se as pessoas me levavam a sério ou não.
Mas hoje eu me importo. Hoje o que estou fazendo realmente parece importante, e eu
quero ser levada a sério.
Bem, vou mostrar a ela, penso com raiva. Vou mostrar a todos eles, incluindo Luke
Brandon. Vou mostrar-lhes que eu, Rebecca Bloom, não sou uma piada.
Com uma repentina determinação, pego a máquina de escrever de meu pai. Coloco
papel, ligo meu gravador, respiro profundamente e começo a datilografar.

REBECCA BLOOM
THE PINES
43 ELTON ROAD
OXSHOTT
SURREY

MENSAGEM DE FAX PARA ERIC FOREMAN
DAILY WORLD
DE REBECCA BLOOM
28 de março de 2000
Prezado Eric
Envio, em anexo, meu artigo de 950 palavras sobre a
Flagstaff Life e as bonificações perdidas. Espero
sinceramente que você goste.
Atenciosamente
Rebecca Bloom
Jornalista Econômica

DEZOITO

No dia seguinte, acordo às seis da manhã. É patético, eu sei, mas estou tão animada
quanto uma criança no dia de Natal (ou como eu no dia de Natal, para ser totalmente
honesta).
Fico na cama, dizendo a mim mesma para ser adulta, permanecer deitada e não pensar
nisso, mas simplesmente não consigo resistir. Minha mente está tomada pelas imagens
das pilhas de jornais em todas as bancas do país. De todos os exemplares do Daily World
sendo deixados nos tapetes de entrada das pessoas nesta manhã, todas as pessoas que vão
estar abrindo seus jornais, bocejando, imaginando quais serão as notícias do dia.
E o que elas verão?
Elas vão ver o meu nome! Rebecca Bloom impresso no Daily World!. Minha primeira
matéria assinada num jornal de circulação nacional. "Por Rebecca Bloom." Não soa
legal? "Por Rebecca Bloom."
Sei que o artigo entrou porque Eric Foreman me telefonou ontem à tarde e me contou
que o editor estava realmente satisfeito com ele. E o puseram numa página colorida,
portanto o retrato de Janice e Martin estará em cores. Realmente importante. Não consigo
acreditar. O Daily World!
Mesmo enquanto estou deitada aqui, me ocorre que já há uma pilha inteira de Daily
Worlds na banca de jornal e nas lojas virando a esquina. Uma pilha inteira de exemplares
intocados, fechados. E o jornaleiro abre às... a que horas? Seis, se não me falha a
memória. E são seis e cinco. Portanto, teoricamente, eu poderia ir lá e comprar um agora
mesmo, se quisesse. Eu poderia simplesmente levantar, vestir alguma roupa, ir até a
banca e comprar um exemplar.
Não que eu fosse, claro. Não estou tão triste e desesperada para correr lá logo que a
loja abre, só para ver meu nome. Quero dizer, por quem você me toma? Não, eu vou
apenas passear até lá, casualmente, mais tarde — talvez às onze ou meio-dia — pegar o
jornal e dar uma olhada com um interesse moderado e depois andar de volta para casa.
Provavelmente nem vou me preocupar em comprar uma cópia. Quero dizer, já vi meu
nome impresso antes, não vi? Não é grande coisa. Não é razão para se compor uma
musica e sair dançando.
Vou virar para o outro lado e voltar a dormir. Não posso entender por que acordei tão
cedo. Devem ser os passarinhos ou algo assim. Humm... fecho os olhos, afofo o
travesseiro, penso em alguma outra coisa... fico pensando o que comerei de café da
manhã quando levantar?
Mas nunca vi meu nome no Daily World, vi? Diz uma vozinha na minha cabeça.
Nunca o vi num jornal de circulação
nacional.
Oh, Deus, isto está me matando. Não consigo esperar mais, preciso ver.
Subitamente levanto da cama, jogo uma roupa no corpo e desço a escada na ponta dos
pés. Quando fecho a porta, sinto-me como a garota daquela musica dos Beatles sobre sair
de casa. Lá fora o ar está fresco e revigorante, e a rua está absolutamente quieta. Nossa, é
bom estar de pé cedo. Por que eu não levanto às seis com mais freqüência? Eu deveria
fazer isto todos os dias. Uma caminhada energizante antes do café, como as pessoas
fazem em Nova York. Queimar muitas calorias e depois voltar para casa e tomar um café
da manhã saudável de aveia e suco de laranja fresco espremido na hora. Perfeito. Este
será meu novo regime.
Mas quando chego no pequeno correr de lojas, meu coração começa a bater e, sem
querer, diminuo as passadas para um passo de funeral. Agora que estou aqui, começo a
me sentir um pouco nervosa. Não estou realmente certa de que quero ver meu nome
impresso. Talvez eu só compre uma barra de chocolate Mars Bar para mim e volte para
casa. Ou uma Mint Aero, se tiver.
Com cautela, empurro a porta e recuo ao som do "ping!" quando abre. Eu realmente
não quero chamar atenção para mim esta manhã. E se o rapaz atrás do balcão leu meu
artigo e achou um lixo? Ah, Deus, isto está acabando com os meus nervos. Eu nunca
deveria ter me tornado uma jornalista. Eu deveria ter sido uma esteticista, como sempre
quis. Talvez não seja tarde demais. Vou fazer um outro curso, abrir minha própria loja...
— Olá, Becky!
Olho e sinto meu rosto repuxar de surpresa. Martin Webster está de pé ao lado do
balcão, segurando um exemplar do Daily World.
— Eu estava acordado, por acaso — explica ele meio embaraçado. — Pensei em vir
até aqui, dar uma olhadinha...
— Ah — digo. — Erm... eu também. — Encolho os ombros mostrando indiferença. —
Já que estava mesmo acordada...
Meus olhos caem no jornal e sinto meu estômago virar. Ah, Deus. Vou morrer de
nervoso. Por favor, pelo menos que eu morra depressa.
— E então, que tal... que tal está? — digo numa voz estrangulada.
— Bem — diz Martin, olhando para a página como que perplexo. — É mesmo grande.
— Ele vira o jornal ao contrário para ficar de frente para mim, e eu quase ajoelho por
cima. Lá, bem colorida, está uma fotografia de Martin e Janice, olhando para a câmera
com um olhar infeliz, logo abaixo do título CASAL ROUBADO POR EMPRESÁRIOS
GANANCIOSOS DA FLAGSTAFF LIFE.
Um pouco trêmula, pego o jornal de Martin. Meus olhos correm pela página até a
primeira coluna de texto... e lá está! "Por Rebecca Bloom." É meu nome! Sou eu!
Há um "ping" na porta da loja e nós dois olhamos. E, para meu completo espanto, lá
está papai.
— Ah — diz ele e tosse embaraçado. — Sua mãe quis que eu comprasse um exemplar.
E já que eu estava mesmo acordado...
— Eu também estava — diz logo Martin.
— Sim, e eu também — digo.
— Bem — diz papai. — E então, saiu a matéria?
— Ah, sim — digo. — Está aqui. — Viro o jornal de forma que ele possa ver.
— Nossa! — diz ele. — E grande, não é?
— A fotografia está boa, não acha? — diz Martin entusiasmado. — Realça bem as
flores das cortinas.
— Sim, a foto está ótima — concordo.
Não vou me rebaixar perguntando o que achou do artigo. Se ele quiser elogiar o que
escrevi, vai fazê-lo. Se não, então realmente não importa. O que importa é que eu estou
orgulhosa do que escrevi.
— E Janice está muito bem, eu achei — diz Martin, ainda admirando a fotografia.
— Muito bem — concorda papai. — Talvez um pouco melancólica.
— Sabe, esses profissionais, eles sabem como iluminar uma foto — diz Martin. — A
maneira como a luz do sol cai exatamente aqui, no seu...
— E o meu artigo? — resmungo. — Você gostou dele?
— Ah, está muito bom! — diz Martin. — Desculpe, Becky, eu devia ter dito! Ainda
não li todo, mas parece ter captado a situação muito bem. Faz de mim um herói! — Ele
franze a testa. — Apesar de nunca ter lutado nas Falklands, você sabe.
— Ah, tá — digo apressada. — Bem, na verdade, isso não vem ao caso.
— Então você escreveu tudo isto ontem? — diz papai. — Naquela máquina de
escrever? — Ele parecia boquiaberto.
— Sim — digo eu satisfeita. — Parece bom, não é? Já viu meu crédito? "Por Rebecca
Bloom."
— Janice vai vibrar de emoção — diz Martin. — Vou comprar dois exemplares.
— Eu vou comprar três — diz papai. — Sua avó vai adorar ver isto.
— E eu vou comprar um — digo. — Ou dois, talvez. — Displicentemente pego um
monte e jogo-os no balcão.
— Seis exemplares? — diz o vendedor. — Tem certeza?
— Preciso deles para meus arquivos — digo e coro levemente.
Quando chegamos em casa, minha mãe e Janice estão esperando na nossa porta de
entrada, desesperadas para ver um exemplar.
— Meu cabelo — lamenta Janice logo que vê a fotografia. — Parece horrível! O que
fizeram com ele?
— Não parece não, amor! — protesta Martin. — Você está muito bem.
— Suas cortinas estão lindas, Janice — diz minha mãe, olhando por cima de seu
ombro.
— Estão mesmo, não é? — diz Martin ansioso. — E justamente o que eu disse.
Desisto. Que espécie de família termo eu, que está mais interessada em cortinas do que
em jornalismo econômico de alto nível? Mesmo assim, não me importo. Estou
hipnotizada pelo meu crédito. "Por Rebecca Bloom." "Por Rebecca Bloom."
Depois de todos terem olhado bem o jornal, minha mãe convida Janice e Martin para
tomarem o café da manhã conosco, e papai serve o café. Há uma atmosfera um pouco
festiva pelos acontecimentos, e todos ficam rindo muito. Acho que nenhum de nós
consegue realmente acreditar que Janice e Martin estão no Daily World. (E eu, claro. "Por
Rebecca Bloom.")
Às dez horas, dou uma fugida e telefono para Eric Foreman. Só casualmente, você
sabe. Para ele saber que eu vi.
— Parece bom, não é? — diz ele alegre. — O editor está realmente interessado nesta
série, portanto, se você tiver alguma outra história como esta é só me dizer. Gosto de seu
estilo. Perfeito para o Daily World.
— Excelente — digo, apesar de não estar bem certa se aquilo é um elogio ou não.
— Ah, e antes que desligue — acrescenta — é melhor você me dar seus dados
bancários.
Meu estômago dá um nó desagradável. Por que Eric Foreman quer meus dados
bancários? Merda, ele vai examinar se minhas próprias finanças estão em ordem ou algo
assim? Ele vai avaliar meu crédito?
— Hoje em dia tudo é feito por transferência — diz ele. — Quatrocentas libras. Está
bem?
O quê? O que ele...
Ah, meu Deus, ele vai me pagar. Mas claro que vai. Claro que vai!
— Está bem — ouço-me dizer. — Nenhum problema. Já vou, hã... lhe dar o número da
minha conta, certo?
Quatrocentas libras! Penso confusa enquanto procuro meu talão de cheques. Num
piscar de olhos! Quase não acredito.
— Excelente — diz Eric Foreman, anotando os detalhes. — Vou preparar isso para
você com a contabilidade. — Depois faz uma pausa. — Diga-me, você estaria disponível
para escrever reportagens mais gerais? Histórias de interesse humano, esse tipo de coisa?
Se eu estaria disponível? Ele está brincando?
— Claro — digo, procurando não parecer entusiasmada demais. — Na realidade... é
provável que eu prefira isto a finanças.
— Ah, certo — diz ele. — Bem, vou ficar de olho em temas que possam adequar-se a
você. Como eu disse, acho que você tem o estilo certo para nós.
— Ótimo — digo. — Obrigada.
Quando coloco o fone no gancho, tenho um enorme sorriso no rosto. Tenho o estilo
certo para o Daily World! Ah! Finalmente descobri meu lugar!
O telefone toca outra vez, e eu atendo, achando que já é Eric Foreman me oferecendo
mais um trabalho.
— Alô, Rebecca Bloom — digo numa voz profissional.
— Rebecca — diz a voz rude de Luke Brandon, e meu coração gela. —Você poderia
por favor me dizer que diabos está acontecendo?
Merda.
Merda, ele parece realmente zangado. Por um momento estou paralisada. Minha
garganta está seca, minha mão está suando em volta do fone. Ah, Deus. O que vou dizer?
O que vou dizer a ele?
Mas espera aí. Eu não fiz nada de errado.
— Não sei do que você está falando — digo, ganhando tempo. Fique calma, digo a
mim mesma. Calma e fria.
— Sua tentativa espalhafatosa no Daily World — diz ele sarcástico. — Sua historinha
tendenciosa, desequilibrada, provavelmente difamatória.
Por um segundo fico tão chocada que não consigo falar. Tendenciosa? Difamatória?
— Não é tendenciosa! — digo finalmente. — É um bom artigo. E certamente não é
difamatório. Posso provar tudo o que disse.
— E suponho que ouvir o outro lado da história teria sido inconveniente — ele
vocifera. — Imagino que você estava ocupada demais escrevendo sua prosa brilhante
para procurar a Flagstaff Life e pedir sua versão dos fatos. Preferiu ter uma boa história
do que estragá-la com uma visão equilibrada.
— Eu tentei ouvir o outro lado da história! — exclamo furiosa. — Telefonei para sua
estúpida empresa de RP ontem e disse a eles que estava escrevendo o artigo!
Faz-se silêncio.
— Com quem falou? — diz Luke.
— Alicia — respondo. — Fiz a ela uma pergunta clara sobre a política da Flagstaff de
trocar de fundos, e ela me afirmou que retornaria. Eu disse a ela que tinha um prazo
urgente.
Luke faz um suspiro impaciente.
— Que merda você estava fazendo falando com Alicia? A Flagstaff é minha cliente,
não dela.
— Eu sei! Eu expus isso a ela! Mas ela argumentou que você era um homem muito
ocupado e ela podia lidar comigo.
— Você comentou que estava escrevendo para o Daily World?
— Não — respondo eu, e sinto-me ruborizar levemente. — Não especifiquei para
quem eu estava escrevendo. Mas teria informado a ela se tivesse me perguntado. Ela
simplesmente não ligou. Simplesmente deduziu que eu não poderia jamais estar fazendo
alguma coisa importante. — Sem querer, minha voz se eleva de emoção. — Bem, ela
estava errada, não estava? Vocês todos estavam errados. E talvez agora comecem a tratar
todo mundo com respeito. E não apenas as pessoas que vocês acham que são importantes.
Termino, um pouco ofegante, e faz-se um silêncio desconcertante.
— Rebecca — diz Luke finalmente — se isto tudo tem a ver com o que aconteceu
entre nós naquele dia, se isto é alguma espécie de vingança mesquinha...
Deus, agora eu realmente vou explodir.
— Não se atreva a me insultar! — grito. — Não tente inventar que isto é alguma
espécie de coisa pessoal, droga! Não tem nada a ver com aquilo! A incompetência da sua
empresa é que deve ser responsabilizada! Eu fui absolutamente profissional. Dei a vocês
todas as chances de dar seu lado da história. Todas as chances. E se vocês estragaram
tudo, a culpa não é minha.
E sem dar a ele a chance de responder, bati o telefone.
Sinto-me bastante trêmula quando volto para a cozinha. Pensar que já gostei de Luke
Brandon. Pensar que fui à mesa dele no Terrazza. Pensar que deixei ele me emprestar
vinte libras. Ele é um arrogante, egocêntrico, chauvinista...
— Telefone! — diz mamãe. — Devo atender?
Ah, Deus. Vai ser ele de novo, não é? Telefonando de volta para se desculpar. Bem,
ele não precisa pensar que me vence tão facilmente. Afirmo cada palavra que eu disse. E
vou dizer-lhe isto. De fato, vou acrescentar que...
— É para você, Becky — diz minha mãe.
— Está bem — digo calma e me dirijo ao telefone. Não me apresso, não entro em
pânico, sinto-me completamente controlada.
— Alô? — digo.
— Rebecca? Eric Foreman.
— Ah! — respondo surpresa. — Oi!
— Algumas novidades sobre seu artigo.
— Ah, sim? — digo, procurando soar calma. Mas meu estômago está agitado. E se
Luke Brandon falou com ele? E se eu fiz realmente alguma coisa errada ? Ah, merda, eu
averiguei todos os fatos, não foi?
— Acabei de falar com o Morning Coffee ao telefone — diz ele. —Você sabe, o
programa de televisão? Rory e Emma. Estão interessados na sua reportagem.
— O quê? — digo meio boba.
— Eles estão fazendo uma nova série sobre finanças. "Administrando seu Dinheiro."
Toda semana recebem um especialista financeiro, dizem aos telespectadores como
controlar suas finanças. — Eric Foreman abaixa a voz. — Francamente, eles estão
ficando sem assunto. Já fizeram hipotecas, cartões de lojas, aposentadorias, todos os
assuntos normais...
— Certo — digo, procurando soar inteligente. Mas enquanto suas palavras vão
entrando lentamente, sinto-me um pouco perplexa. Rory e Emma leram meu artigo?
Rory e Emma de verdade? Tenho uma visão repentina deles segurando o jornal juntos,
empurrando-se um ao outro para terem uma boa visão.
Mas claro, isto é tolice, não é? Eles teriam um exemplar cada um.
— Portanto, de qualquer modo, eles querem ter você no programa amanhã de manhã
— Eric Foreman está dizendo. — Falar sobre essa história de bonificação, avisar aos
telespectadores para tomarem cuidado. Está interessada neste tipo de coisa? Se não
estiver, posso facilmente dizer a eles que está muito ocupada.
— Não! — digo rapidamente. — Não. Diga-lhes que estou... — engulo em seco. —
interessada.
Quando desligo, sinto-me quase desmaiando. Não posso acreditar. Vou aparecer na
televisão.

BANK OF HELSINKI
HELSINKI HOUSE
124 LOMBARD ST
LONDRES EC2D 9YF
Rebecca Bloom
a/c William Green Recrutamento
39 Farringdon Square
Londres EC4 7TD
27 de março de 2000
Hyvä Rebecca Bloom
Oli erittäin hauska tavata teidät viime viikolla, vaikka tapaaminen jäikin lyhyeksi. Olitte
selvästi hermostunut, mikä on aivan ymmärrettääv". Siitä huolimatta minä ja kollegani
ihailimme tavallisuudesta poikkeavaa luonteenlaatuanne. Olemme varmoja, että teistä
olisi yhtiöllemme paljon kyötyä, ja mielellämme tapaisimme teidät uudestaan, ehkä
lounaan merkeissä.
Haluaisin onnitella teitä suurenmoisesta artikkelistanne "Daily World"— lehdessä.
Olette selvästi taitava ilmaisemaan ajatuksianne, ja on suuri ilo päästä pian
keskustelemaan kanssanne äidinkielelläni. Toivoisin että ottaisitte minuun yhteyttä yllä
mainitulla osoitteella.
Parhain terveisin
Ystävällisesti
Jan Virtanen

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