quarta-feira, 23 de março de 2011

Crepúsculo - Capítulos 16 ao 18

16. CARLISLE 

Ele me levou ao cômodo que me apontara como o gabinete de Carlisle. Parou do lado de fora da porta por um instante. – Entre – convidou a voz de Carlisle. Edward abriu a porta para um cômodo de teto elevado com janelas altas dando para o este. As paredes também eram revestidas, de uma madeira escura – onde eram visíveis. A maior parte do espaço nas paredes era tomado de estantes altas que sustentavam mais livros do que eu já vira em uma biblioteca. Carlisle estava sentado atrás de uma enorme mesa de mogno, em uma poltrona de couro. Havia acabado de colocar um marcador nas páginas de um livro grosso que segurava. A sala era como sempre imaginei que seria um gabinete de reitor de universidade – só que Carlisle parecia jovem demais para o papel. – O que posso fazer por vocês? – perguntou-nos ele com satisfação, levantando-se. – Queria mostrar a Bella um pouco de nossa história – disse Edward. – Bom, de sua história, na verdade. – Não queríamos incomodá-lo – eu me desculpei. – De forma alguma. Por onde querem começar? – Pelo cocheiro – respondeu Edward, colocando a mão de leve em meu ombro e girando-me para me voltar para a porta de onde tínhamos vindo. A cada vez que ele me tocava, mesmo da forma mais despreocupada, meu coração tinha uma reação audível. Era mais constrangedor com Carlisle presente. A parede diante de nós agora era diferente das outras. Em vez de ter uma estante, esta parede era abarrotada de quadros emoldurados de todos os tamanhos, alguns de cores vibrantes, outros monocromáticos e opacos. Procurei por alguma lógica, algum motivo que a coleção tivesse em comum, mas nada descobri em meu exame apressado. A parede diante de nós agora era diferente das outras. Em vez de ter uma estante, esta parede era abarrotada de quadros emoldurados de todos os tamanhos, alguns de cores vibrantes, outros monocromáticos e opacos. Procurei por alguma lógica, algum motivo que a coleção tivesse em comum, mas nada descobri em meu exame apressado.
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Edward me puxou para o canto esquerdo, parando-me diante de uma pequena tela a óleo em uma moldura de madeira simples. Esta não se destacava entre as peças maiores e mais brilhantes; pintada em tons de sépia, retratava uma pequena cidade cheia de telhados escarpados, com suas agulhas encimando algumas torres esparsas. Um rio largo enchia o fundo, atravessado por uma ponte coberta de estruturas que pareciam pequenas catedrais. – Londres de 1650 – disse Edward. – A Londres de minha juventude – acrescentou Carlisle, a pouca distância de nós. Eu vacilei; não havia ouvido sua aproximação. Edward apertou minha mão. – Vai contar a história? – perguntou Edward. Eu girei um pouco para ver a reação de Carlisle. Ele encontrou meu olhar e sorriu. – Eu iria – respondeu. – Mas na verdade está ficando tarde. O hospital ligou esta manhã… O Dr. Snow tirou o dia de licença. Além disso, você conhece as histórias tão bem quanto eu – acrescentou ele, sorrindo agora para Edward. Era uma estranha associação a ser assimilada – as preocupações diárias do médico da cidade no meio de uma discussão de seus primeiros tempos na Londres do século XVII. Também era inquietante saber que ele falava em voz alta só porque eu estava ali. Depois de outro sorriso caloroso para mim, Carlisle saiu da sala. Olhei a pequena tela da cidade natal de Carlisle por um longo momento. – O que aconteceu, então? – perguntei por fim, olhando para Edward que me observava. – Quando ele percebeu o que havia lhe ocorrido? Ele olhou as telas e vi que imagem atraía seu interesse agora. Era uma paisagem maior em cores melancólicas de outono – uma campina vazia e sombreada numa floresta, com um pico escarpado à distância. – Quando ele entendeu no que tinha se transformado – disse Edward em voz baixa –, rebelou-se contra isso. Quis se destruir. Mas não é tão fácil. – Como? – Eu não queria dizer isso em voz alta, mas a palavra saiu devido a meu choque.
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– Ele pulou de grandes altura – contou-me Edward, a voz impassível. – Tentou se afogar no mar… Mas era jovem na nova vida, e muito forte. Era incrível a que era capaz de resistir… alimentando-se… enquanto ainda era tão novo. O instinto é mais forte nesse período, controla tudo. Mas ele sentia tanta repulsa por si mesmo que teve forças para tentar se matar de inanição. – Isso é possível? – minha voz era fraca. – Não, não há muitas maneiras com que possamos ser mortos. Abri a boca para perguntar, mas antes disso ele falou. – Então ele ficou com muita fome e por fim enfraqueceu. Afastou-se o máximo que pôde dos humanos, reconhecendo que sua força de vontade também se enfraquecia. Durante meses, vagou à noite, procurando pelos lugares mais solitários, abominando a si mesmo. Numa noite, uma horda de cervos passou por seu esconderijo. Ele estava tão louco de sede que atacou sem pensar. Sua força voltou e ele percebeu que havia uma alternativa a ser o monstro vil que temia. E se não tivesse comido carne de veado em sua vida anterior? nos meses seguintes, nasceu sua nova filosofia. Ele podia existir sem ser um demônio. Ele se reencontrou. Começou a fazer melhor uso de seu tempo. Sempre foi inteligente, ansioso por aprender. Agora tinha um tempo ilimitado diante de si. Estudava à noite, planejava durante o dia. Nadou até a França e… – Ele nadou até a França? – As pessoas atravessam o canal a nado o tempo todo, Bella – lembrou-me ele pacientemente. – Acho que é verdade. Só pareceu engraçado no contexto. Continue. – Nadar é fácil para nós… – Tudo é fácil para você – provoquei. Ele esperou com um ar divertido. – Não vou interromper de novo, eu prometo. Ele riu sombriamente e terminou a frase. – Porque, tecnicamente, não precisamos respirar. – Vocês… – Não, não, você prometeu. – Ele riu, colocando o dedo de leve em minha boca. – Quer ouvir a história ou não? – Não pode atirar uma coisa dessas para cima de mim e depois esperar que eu não diga nada – murmurei contra o dedo dele.
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Ele levantou a mão, pousando-a em meu pescoço. A velocidade de meu coração reagiu, mas eu insisti. – Você não precisa respirar? – perguntei. – Não, não é necessário. É só um hábito. – Ele deu de ombros. – Quanto tempo pode ficar… sem respirar? – Indefinidamente, imagino; não sei. É um tanto desagradável… Ficar sem o olfato. – Um tanto desagradável – repeti. Eu não estava prestando atenção à minha própria expressão, mas alguma coisa nela o deixou mais sombrio. Sua mão caiu de lado e ele ficou imóvel, os olhos intensos em meu rosto. O silêncio se prolongou. Suas feições eram imóveis como uma pedra. – Que foi? – sussurrei, tocando seu rosto congelado. Seu rosto se atenuou sob minha mão e ele suspirou. – Continuo esperando que aconteça. – Que aconteça o quê? – Sei que a certa altura, algo que direi a você ou algo que você verá será demais. E então você vai fugir de mim, aos gritos. – Ele me deu um meio sorriso, mas os olhos eram sérios. – Não vou impedi-la. Quero que isso aconteça, porque quero que esteja segura. E, no entanto, quero ficar com você. É impossível conciliar os dois desejos… – Ele se interrompeu, olhando meu rosto. Esperando. – Não vou fugir para lugar nenhum – prometi. – Veremos – disse ele, sorrindo novamente. Franzi a testa. – Então, continue… Carlisle nadou para a França. Ele parou, voltando para sua história. Por reflexo, seus olhos passaram a outro quadro – o mais colorido de todos, o de moldura mais ornamentada e o maior; tinha duas vezes a largura da porta ao lado da qual pendia. A tela transbordava de figuras de cores vivas em mantos rodopiantes, em volta de pilares longos e para fora de balcões de mármore. Eu não sabia se representavam a mitologia grega, ou se os personagens que flutuavam nas nuvens do alto deviam ser bíblicos.
– Carlisle nadou para a França e continuou pela Europa, para as universidades de lá. À noite estudava música, ciências, medicina… E descobria sua vocação, quase reverente. – Não é possível descrever adequadamente a luta; Carlisle levou dois séculos de esforço torturante
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para aperfeiçoar o autocontrole. Agora ele é imune inclusive ao cheiro de sangue humano e é capaz de fazer o trabalho que ama sem nenhuma agonia. Ele encontrou muita paz lá, no hospital… Edward olhou o vazio por um longo momento. De repente pareceu se lembrar de seu propósito. Bateu o dedo na tela enorme diante de nós. – Ele estava estudando na Itália quando descobriu outros lá. Eram muito mais civilizados e mais instruídos do que os espectros dos esgotos de Londres. Ele tocou um quarteto comparativamente sereno de figuras pintadas no balcão superior, olhando calmamente para o tumulto abaixo deles. Examinei o grupo com cuidado e percebi, com um riso de sobressalto, que reconheci o homem de cabelos dourados. – Solimena foi muito inspirado pelos amigos de Carlisle. Em geral os pintava como deuses. – Edward riu. – Aro, Marcus, Caius – disse ele, indicando os outros três, dois de cabelos escuros, um de cabelos brancos como a neve. – Os patronos noturnos das artes. – O que aconteceu com eles? – perguntei alto, a ponta de meu dedo pairando a um centímetro das figuras na tela. – Ainda estão lá. – Ele deu de ombros. – Como sempre, por quem sabe quantos milênios. Carlisle ficou com eles apenas por um breve tempo, só algumas décadas. Ele admirava muito sua civilidade, seu refinamento, mas eles insistiam em tentar curar sua aversão à sua “fonte natural de alimento”, como diziam. Tentaram convencê-lo e ele tentou persuadi-los, sem proveito algum. A esta altura, Carlisle decidiu tentar o Novo Mundo. Sonhava com encontrar outros iguais a ele. Estava muito solitário, como pode entender. Continuou:
– Não encontrou ninguém por um longo tempo. Mas, à medida que os monstros tornavam-se tema de contos de fada, ele descobriu que podia interagir com humanos que de nada suspeitavam como se fosse um deles. Começou a praticar a medicina. Mas a companhia pela qual ansiava lhe escapava; ele não podia se arriscar à familiaridade. Quando a epidemia de gripe atacou, ele trabalhava à noite em um hospital de Chicago. Revirava em sua mente uma idéia há muitos anos, e quase decidira agir – uma vez que não conseguia encontrar uma companhia, criaria uma. Não tinha certeza de como ocorrera sua própria transformação, então hesitou. E relutava em roubar a vida de alguém como a sua fora roubada. Foi nesse
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contexto mental que ele me encontrou. Não havia esperanças para mim; fui largado em uma enfermaria com os moribundos. Ele tinha cuidado de meus pais e sabia que eu estava só. Decidiu tentar… Sua voz, agora quase um sussurro, falhou. Ele olhou sem ver as janelas a oeste. Perguntei-me que imagens lhe enchiam a mente agora, as lembranças de Carlisle ou as suas próprias. Esperei em silêncio. Quando ele se virou para mim, um sorriso delicado de anjo iluminava sua expressão. – E assim fechamos o círculo – concluiu. – Então sempre esteve com Carlisle? – perguntei. – Quase sempre. – Ele pôs a mão de leve em minha cintura e me puxou para si enquanto passava pela porta. Olhei a parede de quadros, perguntando-me se um dia ouviria outras histórias. Edward não disse mais nada enquanto andávamos pelo corredor, então eu perguntei: – Quase? Ele suspirou, parecendo relutante em responder. – Bom, eu tive um ataque típico de rebeldia adolescente… Uns dez anos depois que eu… nasci… fui criado, como quiser chamar. Não concordava com sua vida de abstinência, e me ressentia dele por restringir meu apetite. Então parti para ficar sozinho por algum tempo. – É mesmo? – Eu estava intrigada, e não assustada, como talvez devesse estar. Ele sabia disso. Percebi vagamente que estávamos indo para o lance de escada seguinte, mas não estava prestando muita atenção ao meu redor. – Isso não lhe dá repulsa. – Não. – E por que não? – Acho que… parece razoável. Ele soltou uma risada, mais alto do que antes. Agora estávamos no topo da escada, em outro corredor revestido de madeira. – Desde a época do meu novo nascimento – murmurou ele – tive a vantagem de saber o que todos em volta de mim pensavam, tanto humanos como não-humanos. Foi por isso que precisei de dez anos para desafiar Carlisle… Eu podia ler sua sinceridade impecável, entender exatamente por que ele vivia daquela maneira. E continuou:
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– Precisei de mais alguns anos para voltar para Carlisle e me comprometer novamente com seu modo de viver. Pensei que estaria isento da… depressão… que acompanha a consciência. Como eu sabia dos pensamentos de minhas presas, podia desprezar os inocentes e perseguir somente os maus. Se eu seguisse um assassino por uma viela escura, onde ele atacaria uma jovem, se eu a salvasse, então certamente eu não seria tão horrível. Estremeci, imaginando com clareza demais o que ele descreveu – a viela à noite, a garota apavorada, o homem sombrio atrás dela. E Edward, Edward enquanto caçava, terrível e glorioso como um deus jovem, inevitável. Teria ela ficado agradecida, a garota, ou mais apavorada do que antes? – Mas à medida que o tempo passava, comecei a ver o monstro em meus olhos. Não podia escapar da dívida de tanta vida humana roubada, mesmo sendo justificado. E voltei a Carlisle e Esme. Eles me receberam de volta como o filho pródigo. Era mais do que eu merecia. Paramos diante da última porta do corredor. – Meu quarto – ele me informou, abrindo-o e me puxando para dentro. O quarto dava para o sul, com uma janela de parede inteira, como o salão embaixo. Todo o lado dos fundos da casa devia ser de vidro. A vista do quarto dava para o sinuoso rio Sol Duc, do outro lado da floresta intocada até a cadeia de montanhas Olympic. As montanhas ficavam muito mais perto do que eu teria acreditado. A parede oeste era completamente coberta de prateleiras de CDs. Seu quarto era mais bem abastecido do que uma loja de música. No canto havia um sistema de som sofisticado, do tipo que eu tinha medo de tocar porque tinha certeza de que quebraria alguma coisa. Não havia cama, só um convidativo sofá de couro, largo e preto. O chão era coberto de um tapete dourado grosso e das paredes pendiam tecidos pesados num tom um pouco mais escuro. – Acústica boa? – deduzi. Ele riu e concordou. Ele pegou um controle remoto e ligou o aparelho de som. Estava baixo, mas o jazz suave dava a impressão de que a banda estava no quarto conosco. Fui olhar a estonteante coleção de música.
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– Como organiza tudo? – perguntei, incapaz de encontrar uma ordem nos títulos. Ele não estava prestando atenção. – Hmmm, por ano, e depois por preferência pessoal de acordo com as circunstâncias – disse ele, distraído. Eu me virei e ele olhava para mim com uma expressão peculiar. – Que foi? – Eu estava preparado para sentir… alívio. Você, sabendo de tudo, sem que eu precise guardar segredos. Mas não esperava sentir mais do que isso. Gosto disso. Me faz… feliz. – Ele deu de ombros, sorrindo de leve. – Que bom – eu disse, sorrindo também. Estava preocupada que ele se arrependesse de me contar essas coisas. Era bom saber que não era verdade. Mas então, enquanto seus olhos dissecavam minha expressão, o sorriso desapareceu e sua testa se enrugou. – Você ainda está esperando que eu fuja aos gritos, não é? – conjecturei. Um sorriso fraco tocou seus lábios e ele assentiu. – Odeio romper sua bolha, mas você não é tão assustador quanto pensa. Na verdade, não acho você nada assustador – menti casualmente. Ele parou, erguendo as sobrancelhas numa descrença evidente. Depois faiscou um sorriso largo e malicioso. – Você realmente não devia ter dito isso – ele riu. Edward grunhiu, um som grave do fundo da garganta; seus lábios se curvaram para baixo sobre os dentes perfeitos. Seu corpo mudou de repente, meio agachado, tenso como um leão prestes a atacar. Eu recuei, olhando fixamente. – Não devia. Não o vi saltar para mim – foi rápido demais. Só me vi de repente no ar e depois nos chocamos no sofá, batendo-o na parede. Em todo esse tempo, seus braços formaram uma gaiola de proteção em volta de mim – eu mau senti o impacto. Mas ainda estava arfando quanto tentei me endireitar. Ele não permitiu. Me enrolou em uma bola em seu peito, segurando-me com mais firmeza do que correntes de ferro. Olhei para ele alarmada, mas ele parecia controlado, o queixo relaxado enquanto sorria, os olhos brilhando só de humor.
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– O que estava dizendo mesmo? – grunhiu ele de brincadeira. – Que você é um monstro muito, muito terrível – eu disse, meu sarcasmo meio desfigurado por minha voz sem fôlego. – Muito melhor assim – aprovou ele. – Hmmm. – Eu lutei. – Posso me levantar agora? Ele se limitou a rir. – Podemos entrar? – Uma voz suave soou do corredor. Lutei para me libertar, mas Edward apenas me ajeitou para que eu ficasse sentada de forma mais convencional no colo dele. Pude ver então que eram Alice e Jasper atrás dela, na soleira da porta. Meu rosto ardeu, mas Edward parecia tranqüilo. – Entrem. – Edward ainda ria baixinho. Alice pareceu não achar nada de incomum em nosso abraço; ela entrou – quase dançou, seus movimentos eram tão graciosos – até o meio do quarto, onde se sentou sinuosamente no chão. Jasper, porém, parou na porta, a expressão um pouquinho chocada. Encarou Edward e eu me perguntei se ele estava testando o clima com sua sensibilidade incomum. – Parecia que você estava almoçando a Bella, e viemos ver se podíamos dividir – anunciou Alice. Eu me enrijeci por um instante, até que percebi Edward sorrindo – ou do comentário dela, ou de minha reação. Eu não sabia. – Desculpe, não acredito ter o suficiente de sobra – respondeu ele, os braços segurando-me despreocupadamente. – Na verdade – disse Jasper, sorrindo contra a vontade enquanto entrava no quarto –, Alice disse que vai haver uma boa tempestade esta noite e Emmett quer jogar bola. Está dentro? As palavras eram bem comuns, mas o contexto me confundiu. Deduzi, porém, que Alice era um pouco mais confiável do que o meteorologista. Os olhos de Edward se iluminaram, mas ele hesitou. – É claro que deve trazer Bella – disse Alice. Pensei ter visto Jasper lançar um olhar rápido para ela. – Quer ir? – perguntou-me Edward, empolgado, a expressão cheia de vida. – Claro. – Eu não podia decepcionar aquele rosto. – Hmmm, aonde vamos?
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– Precisamos esperar pelo trovão para jogar bola… Você verá por quê – prometeu ele. – Vou precisar de guarda-chuva? Todos riram alto. – Vai? – perguntou Jasper a Alice. – Não. – Ela estava segura. – A tempestade vai cair na cidade. Deve estar seco o bastante na clareira. – Que bom, então. – O entusiasmo na voz de Jasper era contagiante, naturalmente. Eu me vi ansiosa, em vez de dura de susto. – Vamos ver se Carlisle irá. – Alice se levantou e foi para a porta de um jeito que magoaria qualquer bailarina. – Como se você não soubesse – brincou Jasper, e eles saíram rapidamente. Jasper conseguiu fechar a porta sem que percebêssemos. – O que vamos jogar? – perguntei. – Você vai assistir – esclareceu Edward. – Nós vamos jogar beisebol. Revirei os olhos. – Os vampiros gostam de beisebol? – É o típico passatempo americano – disse ele com uma solenidade debochada.
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17. O JOGO 

Estava começando a chuviscar quando Edward entrou na minha rua. Até este momento, eu não tinha dúvidas de que ele ia ficar comigo enquanto eu passava alguns poucos momentos no mundo real. E depois vi o carro preto, um Ford batido, estacionado na estrada de carros de Charlie – e ouvi Edward murmurar alguma coisa ininteligível numa voz baixa e rouca. Fugindo da chuva na pequena varanda da frente, Jacob Black estava atrás da cadeira de rodas do pai. O rosto de Billy era impassível como pedra enquanto Edward estacionava minha picape junto ao meio-fio. Jacob olhou, a expressão mortificada. A voz baixa de Edward era furiosa. – Isso está passando dos limites. – Ele veio alertar Charlie? – conjecturei, mais apavorada do que irritada. Edward limitou-se a assentir, respondendo ao olhar de Billy através da chuva com os olhos semicerrados. Senti um fraco alívio por Charlie ainda não estar em casa. – Eu cuido disso – sugeri. O olhar sombrio de Edward me deixava ansiosa. Para minha surpresa, ele concordou. – Provavelmente é melhor assim. Mas cuidado. A criança não faz idéia. Eu me empertiguei um pouco com a palavra criança. – Jacob não é muito mais novo do que eu – lembrei a ele. Ele então olhou para mim, a raiva desaparecendo de repente. – Ah, eu sei – garantiu-me com um sorriso malicioso. Eu suspirei e pus a mão na maçaneta da porta. – Leve-os para dentro – instruiu ele –, assim posso ir embora. Voltarei ao anoitecer. – Quer minha picape? – ofereci, enquanto me perguntava como explicaria a Charlie a ausência do carro. Ele revirou os olhos. – Posso ir a pé para casa mais rápido do que esta picape. – Não precisa ir embora – eu disse, pensativa.
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Ele sorriu para minha expressão mal-humorada. – Na verdade, vou ficar. Depois que você se livrar deles – ele lançou um olhar sombrio na direção dos Black –, ainda terá que preparar Charlie para conhecer seu novo namorado. – Ele deu um sorriso largo, mostrando todos os dentes. Eu gemi. – Muito obrigada. Ele deu o sorriso torto que eu adorava. – Será em breve – prometeu ele. Seus olhos voltaram à varanda e ele se inclinou para me dar um beijo rápido embaixo do meu queixo. Meu coração oscilou freneticamente e também olhei a varanda. A cara de Billy não estava mais impassível e suas mãos se fecharam nos braços da cadeira. – Em breve – destaquei enquanto abria a porta e saía para a chuva. Pude sentir o olhar dele nas minhas costas enquanto quase corria no chuvisco leve até a varanda. – Oi Billy. Oi, Jacob. – Cumprimentei-os do modo mais animado que pude. – Charlie passou o dia fora… Espero que não estejam aguardando há muito tempo. – Não muito – disse Billy num tom de derrota. Seus olhos escuros eram penetrantes. – Eu só queria trazer isto. – Ele indicou um saco de papel pardo em seu colo. – Obrigada – eu disse, mas não fazia idéia do que podia ser. – Por que não entram por um minuto e se secam? Fingi não perceber sua análise cuidadosa enquanto eu destrancava a porta, e acenei para que passassem na minha frente. – Deixe que eu leve isso – ofereci, virando-me para fechar a porta. Eu me permiti um último olhar para Edward. Ele esperava, perfeitamente imóvel, os olhos solenes. – Vai precisar colocar na geladeira – Billy ressaltou enquanto me passava o pacote. – É um peixe frito caseiro do Harry Clearwater… O preferido de Charlie. A geladeira o mantém seco. – Ele deu de ombros. – Obrigada – repeti, mas desta vez com sinceridade. – Eu estava pensando em novas maneiras de preparar peixe e ele acabou trazendo mais para casa ontem à noite. – Foi pescar de novo? – perguntou Billy com um brilho súbito nos olhos. – No lugar de sempre? Talvez eu passe lá para vê-lo.
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– Não – menti rapidamente, minha cara ficando dura. – Ele foi a um lugar novo… Mas não faço idéia de onde fica. Ele considerou minha expressão alterada e isso o deixou pensativo. – Jake – disse ele, ainda me avaliando. – Por que não pega aquela foto nova de Rebecca no carro? Vou deixar para o Charlie também. – Onde está? – perguntou Jacob, a voz sombria. Olhei para ele, mas encarava a porta, as sobrancelhas unidas. – Acho que vi na mala – disse Billy. – Talvez tenha que procurar. Jacob voltou curvado para a chuva. Billy e eu nos encaramos em silêncio. Depois de alguns segundos, a quietude começou a me parecer estranha, então eu me virei e fui à cozinha. Pude ouvir suas rodas molhadas guinchando no linóleo enquanto ele me seguia. Coloquei o saco na prateleira abarrotada de cima da geladeira e me virei para enfrentá-lo. Seu rosto de rugas profundas era indecifrável. – Charlie vai demorar a voltar. – Minha voz era quase rude. Ele assentiu, concordando, mas não disse nada. – Obrigada novamente pelo peixe frito – intimidei-o. Ele continuou balançando a cabeça. Eu suspirei e cruzei os braços. Ele pareceu sentir que eu tinha desistido de bater papo. – Bella – disse ele, e depois hesitou. Esperei. – Bella – falou novamente –, Charlie é um de meus melhores amigos. – Sim. Ele pronunciava cada palavra com cuidado com sua voz de trovão. – Percebi que você anda saindo com um dos Cullens. – Sim – repeti asperamente. Seus olhos se estreitaram. – Talvez não seja da minha conta, mas não acho que seja uma boa idéia. – Tem razão – concordei. – Não é da sua conta. Ele ergueu as sobrancelhas grisalhas ao ouvir meu tom de voz. – Você não deve saber disso, mas a família Cullen tem uma fama ruim na reserva.
– Na verdade, eu sei disso – informei a ele numa voz dura. Isto o surpreendeu. – Mas essa fama não pode ser merecida, não é? Porque os
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Cullen nunca colocaram os pés na reserva, colocaram? – Pude ver que meu recado nada sutil do acordo que ambos fizeram para proteção de sua tribo o fez estacar. – É verdade – cedeu ele, os olhos em guarda. – Você parece… bem informada sobre os Cullen. Mais informada do que eu esperava. Olhei-o de cima. – Talvez ainda mais bem informada do que você. Ele franziu os lábios grossos, pensando no assunto. – Talvez – admitiu ele, mas os olhos eram astutos. – Charlie está bem informado? Ele encontrou uma brecha em minha armadura. – Charlie gosta muito dos Cullen – tentei escapar. Ele claramente entendeu minha evasiva. Sua expressão era infeliz, mas não trazia surpresa. – Não é problema meu – disse ele. – Mas pode ser problema de Charlie. – Mas de novo seria problema meu pensar se é ou não problema de Charlie, não é? Perguntei-me se ele entendeu minha pergunta confusa enquanto eu lutava para não dizer nada de comprometedor. Mas ele pareceu entender. Pensou no assunto enquanto a chuva batia no telhado, o único som que quebrava o silêncio. – Sim – rendeu-se por fim. – Acho que também é problema seu. Eu suspirei de alívio. – Obrigada, Billy. – Mas pense no que está fazendo, Bella – insistiu ele. – Tudo bem – concordei rapidamente. Ele franziu o cenho. – O que eu queria dizer era, não faça o que está fazendo. Olhei nos olhos dele, cheios apenas de preocupação por mim, e não havia nada que eu pudesse dizer. Neste momento a porta da frente bateu alto e eu pulei com o som. – Não tem foto nenhuma no carro – a voz queixosa de Jacob chegou a nós antes dele. Os ombros de sua camisa estavam manchados de chuva, o cabelo pingava, quando ele apareceu. – Hmmm – grunhiu Billy, distante de repente, girando a cadeira para olhar o filho. – Acho que deixei em casa. Jacob revirou os olhos teatralmente.
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– Que ótimo. – Bem, Bella, diga ao Charlie – Billy parou antes de continuar – que passamos por aqui. – Vou dizer – murmurei. Jacob ficou surpreso. – Já estamos indo embora? – O Charlie vai chegar tarde – explicou Billy ao passar por Jacob. – Ah – Jacob parecia decepcionado. – Bom, acho que a gente se vê depois, Bella. – Claro – concordei. – Cuide-se – alertou-me Billy. Não respondi. Jacob ajudou o pai a sair pela porta. Dei um aceno breve, olhando rapidamente para minha picape agora vazia, e depois fechei a porta antes que eles tivessem ido. Fiquei no hall por um minuto, ouvindo o som do carro dos dois enquanto dava a ré e partia. Fiquei onde estava, esperando que a irritação e a angústia passassem. Quando a tensão enfim diminuiu um pouco, subi para trocar de roupa. Tentei algumas camisetas diferentes, sem ter certeza do que esperar desta noite. Enquanto me concentrava no que ia acontecer, o que acabara de se passar tornou-se insignificante. Agora que eu estava livre da influência de Edward e Jasper, comecei a entender que devia ter ficado apavorada antes. Desisti rapidamente de escolher uma roupa – vestindo uma camisa de flanela velha e jeans – sabendo que, de qualquer forma, ficaria de capa de chuva de a noite toda. O telefone tocou e disparei escada abaixo para atender. Só havia uma voz que eu queria ouvir, a de qualquer outra pessoa seria uma decepção. Mas eu sabia que se ele quisesse falar comigo, provavelmente se materializaria no meu quarto. – Alô? – eu disse, sem fôlego. – Bella? Sou eu – disse Jessica. – Ah, oi, Jess. – Tive alguma dificuldade para voltar à realidade. Parecia que meses tinham se passado, e não dias, desde que eu falara com Jess. – Como foi o baile?
– Foi tão divertido! – explodiu Jessica. Sem precisar de mais convite do que isso, ela se lançou em um relato minucioso da noite anterior. Eu dizia meus hmmm e ah nos momentos certos, mas não foi fácil
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me concentrar. Jessica, Mike, o baile, a escola, todos pareciam estranhamente irrelevantes no momento. Meus olhos disparavam para a janela, tentando avaliar o grau de luminosidade por trás das nuvens pesadas. – Você ouviu o que eu disse, Bella? – perguntou Jess, irritada. – Desculpe, o que foi? – Eu disse que Mike me beijou! Dá para acreditar? – É maravilhoso, Jess – eu disse. – E aí, o que você fez ontem? – desafiou Jessica, ainda parecendo aborrecida com a minha desatenção. Ou talvez ela estivesse irritada porque eu não pedi detalhe nenhum. – Na verdade, nada. Só fiquei por aí, curtindo o sol. Ouvi o carro de Charlie na garagem. A porta da frente bateu e pude ouvir os passos pesados de Charlie sob a escada, guardando o equipamento. – Hmmm – hesitei, a essa altura sem ter certeza de qual era minha história. – Olá, garota! – gritou Charlie ao entrar na cozinha. Acenei para ele. Jess ouviu a voz dele. – Ah, seu pai está aí. Deixa pra lá… A gente conversa amanhã. Vejo você na trigonometria. – Até mais, Jess. – Desliguei o telefone. – Oi, pai – eu disse. Ele estava esfregando as mãos na pia. – Onde está o peixe? – Coloquei no freezer. – Vou separar uns pedaços antes que congelem… Billy deixou um pouco do peixe frito de Harry Clearwater esta tarde. – Tentei parecer entusiasmada. – Deixou, é? – Os olhos de Charlie se iluminaram. – É o meu favorito. Charlie se limpava enquanto eu preparava o jantar. Em pouco tempo estávamos sentados à mesa, comendo em silêncio. Charlie desfrutava de sua refeição. Eu me perguntava desesperadamente como cumprir minha atribuição, lutando para pensar em uma maneira de levantar o assunto. – O que fez hoje? – perguntou ele, arrancando-me de meus devaneios.
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– Bom, hoje à tarde só fiquei em casa… – Só a parte mais recente desta tarde, na verdade. Tentei manter minha voz tranqüila, mas meu estômago estava oco. – E hoje de manhã fui à casa dos Cullen. Charlie largou o garfo. – À casa do Dr. Cullen? – perguntou ele, atordoado. Fingi não perceber a reação dele. – É. – O que foi fazer lá? – Ele não pegou o garfo de novo. – Bom, eu tenho uma espécie de encontro com Edward Cullen esta noite e ele queria me apresentar aos pais dele… Pai? Parecia que Charlie estava tendo um aneurisma. – Pai, você está bem? – Você está saindo com Edward Cullen? – trovejou ele. Opa. – Pensei que você gostasse dos Cullen. – Ele é velho demais para você – ralhou ele. – Nós dois somos do primeiro ano – eu o corrigi, embora ele estivesse mais certo do que sonhava. – Espere… – ele parou. – Quem é o Edwin? – Edward é o mais novo, aquele de cabelo castanho-avermelhado. – O lindo, o divino… – Ah, bom, isso é melhor, eu acho. Não gosto do jeito daquele grandalhão. Tenho certeza de que é um bom rapaz e tudo, mas ele parece tão… maduro para você. Este Edwin é seu namorado? – É Edward, pai. – Ele é? – Mais ou menos, eu acho. – Ontem à noite você disse que não estava interessada em nenhum dos rapazes da cidade. – Mas ele pegou o garfo de novo, então pude ver que o pior havia passado. – Bom, Edward não mora na cidade, pai. Ele me lançou um olhar de desdém enquanto mastigava. – E de qualquer forma – continuei –, ainda é uma fase meio inicial, sabe? Não me constranja com toda aquela conversa de namorado, está bem? – Quando é que ele chega? – Vai aparecer daqui a alguns minutos.
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– Aonde ele vai levar você? Gemi alto. – Espero que você tenha eliminado a Inquisição Espanhola de seu sistema agora. Vamos jogar beisebol com a família dele. Seu rosto se enrugou e ele finalmente riu. – Você vai jogar beisebol? – Bom, provavelmente vou ficar assistindo a maior parte do tempo. – Deve gostar mesmo desse rapaz – observou ele, cheio de desconfiança. Eu suspirei e revirei os olhos para convencê-lo. Ouvi o ronco de um motor na frente da casa. Coloquei-me de pé num salto e comecei a lavar os pratos. – Deixe os pratos, posso cuidar deles hoje. Você me mima demais. A campainha tocou e Charlie foi atender. Eu meio que fiquei um passo atrás dele. Não percebi como estava chovendo lá fora. Edward estava parado no halo na luz da varanda, parecendo um modelo de anúncio de capas de chuva. – Entre, Edward. Soltei um suspiro de alívio quando Charlie disse o nome dele certo. – Obrigado, chefe Swan – disse Edward num tom respeitoso. – Pode me chamar de Charlie. Me dê seu casaco. – Obrigado, senhor. – Sente-se aqui, Edward. Eu sorri. Edward se sentou languidamente na única poltrona, obrigando-me a me sentar no sofá ao lado do chefe Swan. Rapidamente eu o fuzilei com os olhos. Ele piscou às costas de Charlie. – Então eu soube que vai levar minha menina para ver um jogo de beisebol. – Só mesmo em Washington o fato de estar chovendo baldes não perturbaria em nada os esportes ao ar livre. – Sim, senhor, o plano é esse. – Ele não pareceu surpreso que eu tivesse contado a verdade a meu pai. Mas ele também podia estar ouvindo. – Bem, mais poder para você, imagino. Charlie riu e Edward o acompanhou. – Muito bem. – Eu me levantei. – Chega de se divertirem à minha custa. Vamos. – Voltei ao hall e vesti meu casaco. Eles me seguiram.
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– Não chegue muito tarde, Bell. – Não se preocupe, Charlie. Vou trazê-la para casa cedo – prometeu Edward. – Cuide de minha menina, está bem? Suspirei, mas os dois me ignoraram. – Ela estará segura, eu prometo, senhor. Charlie não podia duvidar da sinceridade de Edward, ela soava em cada palavra. Olhei para fora. Os dois riram e Edward me seguiu. Fiquei imóvel na varanda. Ali, atrás de minha picape, estava um Jeep monstruoso. Seus pneus eram mais altos do que minha cintura. Havia grades de metal sobre os faróis e as lanternas traseiras, e quatro refletores grandes no pára-choque. O chassi era vermelho vivo. Charlie soltou um assovio baixo. – Coloquem o cinto – disse ele numa voz abafada. Edward seguiu até meu lado e abriu a porta do carro. Avaliei a distância até o banco e me preparei para pular. Ele suspirou e me ergueu com uma das mãos. Eu esperei que Charlie não tivesse visto isso. Enquanto ele ia para o lado do motorista num passo humano e normal, eu tentava colocar o cinto de segurança. Mas havia fivelas demais. – O que é tudo isso? – perguntei quando ele abriu a porta. – É um arnês de off-road. – Ah, bom. Tentei encontrar os lugares certos para todas as fivelas, mas não estava sendo muito rápida. Ele suspirou e estendeu a mão para me ajudar. Fiquei feliz que a chuva fosse pesada demais para que Charlie enxergasse com clareza da varanda. Isso significava que ele não podia ver como as mãos de Edward se demoraram em meu pescoço, roçando em minha clavícula. Desisti de tentar ajudá-lo e me concentrei em não perder o fôlego. Edward girou a chave e o motor rugiu. Nós nos afastamos da casa. – Mas é um… hã… Jeep bem grande o que você tem. – É de Emmett. Não acho que você queira correr o caminho todo. – Onde vocês guardam essas coisas? – Reformamos um dos anexos da casa e fizemos uma garagem. – Não vai colocar o cinto de segurança? Ele me lançou um olhar de descrença.
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E então a ficha caiu. – Correr o caminho todo? Ainda vamos ter que correr parte do caminho? – Minha voz subiu algumas oitavas. Ele deu um sorriso duro. – Você não vai correr. – Eu vou é ficar enjoada. – Mantenha os olhos fechados, vai ficar bem. Mordi o lábio, lutando contra o pânico. Ele se inclinou para dar um beijo no alto de minha cabeça, e depois suspirou. Olhei para ele, confusa. – Você cheira tão bem na chuva – explicou ele. – De um jeito bom ou de um jeito ruim? – perguntei com cautela. Ele suspirou. – Os dois, sempre os dois. Não sei como ele encontrou o caminho no escuro e no temporal, mas de algum modo achou uma estrada vicinal que era menos uma estrada e mais uma trilha montanhosa. Foi impossível conversar por algum tempo, porque ficamos quicando no banco como uma britadeira. Mas ele parecia gostar da viagem, com um sorriso largo o caminho todo. E depois chegamos ao final da estrada, as árvores formavam muralhas verdes dos dois lados do Jeep. A chuva era apenas um chuvisco, diminuindo a cada segundo, o céu mais claro através das nuvens. – Desculpe, Bella, temos que ir a pé a partir daqui. – Sabe de uma coisa? Vou esperar por aqui mesmo. – O que aconteceu com toda a sua coragem? Você foi extraordinária hoje de manhã. – Ainda não me esqueci da última vez. – Será que foi só ontem? De repente, ele estava do meu lado do carro. Começou a me desafivelar. – Vou ficar com isso, você vai na frente – protestei. – Hmmm… – murmurou ele enquanto terminava rapidamente. – Parece que terei que mexer na sua memória. Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou do Jeep e me colocou de pé no chão. Agora mal havia uma névoa; Alice tinha razão. – Mexer com minha memória? – perguntei, nervosa. – Algo parecido.
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Ele me observava intensamente, com cuidado, mas havia humor no fundo de seus olhos. Apoiou as mãos no Jeep dos dois lados de minha cabeça e se inclinou para frente, obrigando-me a encostar na porta. Chegou mais perto ainda, o rosto a centímetros do meu. Eu não tinha espaço para escapar. – Agora – murmurou ele, e seu cheiro perturbou meu processo de pensamento –, com o que exatamente está se preocupando? – Bom, hmmm, bater numa árvore – engoli em seco – e morrer. E depois ficar enjoada. Ele reprimiu um sorriso. Depois baixou a cabeça e tocou com os lábios frios a base do meu pescoço. – Ainda está preocupada? – sussurrou ele contra minha pele. – Sim. – Lutei para me concentrar. – Com bater em árvores e ficar enjoada. Seu nariz traçou uma linha pela pele de meu pescoço até a ponta do queixo. Seu hálito frio pinicou minha pele. – E agora? – Seus lábios sussurraram em meu rosto. – Árvores – arfei. – Enjôo de viagem. Ele ergueu o rosto para beijar minhas pálpebras. – Bella, você não acha realmente que eu bateria numa árvore, acha? – Não, mas eu posso bater. – Não havia confiança nenhuma em minha voz. Ele farejou uma vitória fácil. Edward beijou lentamente meu pescoço, parando perto do canto de minha boca. – Eu deixaria uma árvore machucar você? – Seus lábios mal roçaram meu lábio inferior trêmulo. – Não – sussurrei. Eu sabia que havia uma segunda parte em minha defesa brilhante, mas não conseguia resgatá-la. – Está vendo – disse ele, os lábios movendo-se nos meus. – Não há motivo para temer, há? – Não – eu suspirei, desistindo. Depois ele pegou meu rosto nas mãos quase com indelicadeza e me beijou, os lábios inflexíveis movimentando-se nos meus.
Não havia desculpa nenhuma para meu comportamento. Obviamente, agora eu sabia disso. E no entanto não consegui deixar de reagir exatamente como naquela primeira vez. Em vez de ficar imóveis, meus braços se estenderam para agarrar com força seu pescoço e eu de
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repente estava colada em sua figura pétrea. Eu suspirei e meus lábios se separaram. Ele recuou, cambaleando, interrompendo sem esforço meu abraço. – Droga, Bella! – explodiu ele, ofegando. – Você vai me matar, juro que vai. Eu me curvei, segurando os joelhos para me apoiar. – Você é indestrutível – murmurei, tentando recuperar o fôlego. – Eu podia ter acreditado nisso antes de conhecer você. Agora vamos sair daqui antes que eu faça alguma idiotice – rosnou ele. Ele me atirou em suas costas como fizera antes e pude ver o esforço a mais que fez para ser tão gentil como tinha sido. Fechei as pernas em sua cintura e mantive os braços seguros em um aperto sufocante em seu pescoço. – Não se esqueça de fechar os olhos – alertou ele, sério. Rapidamente meti o rosto em sua omoplata, sob meu próprio braço e fechei os olhos com força. Mal pude notar que estávamos em movimento. Senti que ele deslizava embaixo de mim, mas ele podia estar andando na calçada, o movimento tão suave. Fiquei tentada a olhar, só para ver se estava voando pela floresta como antes, mas resisti. Não valia a pena ter aquela vertigem medonha. Concen¬trei-me em ouvir sua respiração indo e vindo tranqüilamente. Só tive certeza de que paramos quando ele estendeu a mão para trás e tocou meu cabelo. – Acabou, Bella. Ousei abrir os olhos e, evidentemente, estávamos parados. Rígida soltei todo o abraço que me travava em seu corpo e escorreguei para o chão, caindo de costas. – Ai! – gemi ao atingir o chão molhado. Ele me olhava incrédulo, evidentemente sem ter certeza se ainda estava irritado demais para me achar engraçada. Mas minha expressão desnorteada foi demais para ele, e ele soltou uma gargalhada ruidosa. Eu me endireitei, ignorando-o enquanto tirava a lama e as samam¬baias de meu casaco. Isso só o fez rir ainda mais. Irritada, comecei a entrar na floresta. Senti seu braço em minha cintura. – Aonde vai, Bella?
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– Ver o jogo de beisebol. Você não parece mais estar interessado em jogar, mas tenho certeza de que os outros se divertirão sem você. – Está indo pelo caminho errado. Eu me virei sem olhar para ele e fui na direção contrária. Ele me pegou novamente. – Não fique chateada, não consegui evitar. Devia ter visto a sua cara. – Ele riu antes que pudesse se conter. – Ah, então só você pode ficar chateado? – perguntei, erguendo as sobrancelhas. – Eu não queria aborrecer você. – "Bella, você vai me matar"? – citei acidamente. – Esta foi simplesmente a declaração de uma realidade. Tentei me afastar de novo, mas ele me segurou rapidamente. – Você ficou irritado – insisti. – Sim. – Mas acaba de dizer… – Que não estava irritado com você. Não entende isso, Bella? – De repente ele estava intenso, sem nenhum vestígio de escárnio. – Não compreende? – Compreendo o quê? – perguntei, confusa com sua súbita oscilação de humor e com suas palavras. – Eu nunca tenho raiva de você… Como poderia? Corajosa, confiante… quente, como você é. – Então por quê? – sussurrei, lembrando-me do estado de espírito som¬brio que o afastava de mim e que eu sempre interpretava como frustração justificada; frustração com minha fraqueza, minha lentidão, minhas reações humanas desgovernadas… Ele pôs as mãos com cuidado em meu rosto. – Eu me enfureço comigo mesmo – disse ele delicadamente. – Por não conseguir manter você longe do perigo. Minha própria existência a colo¬ca em risco. Às vezes eu me odeio verdadeiramente. Eu devia ser mais forte, devia ser capaz de… Coloquei a mão em sua boca. – Não. Ele pegou minha mão, movendo-a pelos lábios, mas a segurou em seu rosto.
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– Eu te amo – disse ele. – É uma desculpa ruim para o que estou fa¬zendo, mas ainda é verdadeira. Foi a primeira vez que ele disse que me amava – com todas as letras. Ele podia não perceber isso, mas eu sem dúvida percebi. – Agora, por favor, procure se comportar – continuou ele, e roçou sua¬vemente os lábios nos meus. Fiquei adequadamente imóvel. Depois suspirei. – Você prometeu ao chefe Swan que me levaria para casa cedo, lembra? É melhor irmos. – Sim, senhora. Ele sorriu com malícia e me soltou, ainda segurando minha mão. Le¬vou-me alguns metros pelas samambaias altas, molhadas e lamacentas, contornamos uma cicuta e lá estávamos, na beira de um enorme campo aberto ao pé dos picos Olympic. Tinha duas vezes o tamanho de qualquer estádio de beisebol. Pude ver todos os outros ali; Esme, Emmett e Rosalie, sentados em um afloramento de rocha nua, eram os mais próximos de nós, talvez a uns cem metros. A uma distância muito maior pude ver Alice e Jasper, pelo menos a quatrocentos metros, parecendo atirar alguma coisa entre eles, mas não vi bola nenhuma. Parecia que Carlisle estava preparando as bases, mas será que podiam ficar tão longe assim? Quando entramos em seu campo de visão, os três na pedra se levantaram. Esme veio na nossa direção. Emmett a seguiu depois de olhar longamente para Rosalie. Rosalie se levantou graciosamente e se afastou do campo sem olhar para nós. Meu estômago tremeu inquieto em reação a isso. – Foi você que ouvimos, Edward? – perguntou Esme enquanto se aproximava. – Parecia um urso sufocando – esclareceu Emmett. Eu sorri hesitante para Esme. – Foi ele. – Bella foi engraçada sem querer – explicou Edward, rapidamente se desforrando. Alice tinha deixado sua posição e corria, ou dançava, para nós. Atirou-se até parar a nossos pés. – Está na hora – anunciou ela.
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Assim que ela falou, um estrondo grave de trovão sacudiu a floresta para além de nós e explodiu a oeste, na cidade. – Sinistro, não é? – disse Emmett com uma familiaridade tranqüila, piscando para mim. – Vamos. – Alice estendeu a mão para Emmett e eles dispararam para o campo gigantesco; ela corria como uma gazela. Ele era igualmente gracioso e rápido; mas jamais poderia ser comparado a uma gazela. – Está pronta para uma bola? – perguntou Edward, os olhos ansiosos, brilhantes. Tentei parecer adequadamente entusiasmada. – Vai nessa! Ele riu baixinho e, depois de afagar meu cabelo, saiu quicando atrás dos outros dois. Sua corrida era mais agressiva, um guepardo, e não uma gazela, e ele rapidamente os ultrapassou. A graça e a força me tiraram o fôlego. – Vamos? – perguntou Esme com sua voz melodiosa e baixa, e percebi que eu encarava Edward boquiaberta. Rapidamente recompus minha expres¬são e assenti. Esme mantinha alguma distância entre nós e eu me perguntei se ela ainda estava tendo o cuidado de não me assustar. Ela acompanhou meus passos sem aparentar impaciência com meu ritmo. – Não vai jogar com eles? – perguntei timidamente. – Não, prefiro fazer a arbitragem… Gosto de mantê-los honestos – explicou ela. – Eles trapaceiam, então? – Ah, sim… Devia ouvir as discussões em que se metem! Na verdade, espero que não ouça, você pensaria que foram criados por uma matilha de lobos. – Você parece a minha mãe – eu ri, surpresa. Ela também riu. – Bem, eu os vejo como meus filhos do mesmo jeito. Jamais consegui superar meus instintos maternos… Edward lhe contou que perdi um filho? – Não – murmurei, atordoada, lutando para entender de que vida ela estava se lembrando. – Sim, meu primeiro e único bebê. Ele morreu alguns dias depois de nascer, o coitadinho – ela suspirou. – Isso me destruiu… Foi por isso que pulei do penhasco, sabia? – acrescentou ela simplesmente.
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– Edward disse que você ca-caiu – gaguejei. – Sempre um cavalheiro. – Ela sorriu. – Edward foi o primeiro de meus novos filhos. Sempre penso nele desta forma, embora ele seja mais velho do que eu, pelo menos de certa maneira. – Ela sorriu para mim ca¬lorosamente. – É por isso que fico tão feliz que ele tenha encontrado você, querida. – A estima parecia bem natural em seus lábios. – Ele tem sido um homem solitário há muito tempo; magoa-me vê-lo tão só. – Não se importa, então? – perguntei, hesitante de novo. – Que eu seja… completamente errada para ele? – Não. – Ela ficou pensativa. – É você o que ele quer. Vai dar certo, de algum jeito – disse ela, embora sua testa tenha se vincado de preocupação. Começou outro estrondo de trovão. Esme parou então; aparentemente, tínhamos chegado à beira do campo. Parecia que tinham formado equipes. Edward estava à esquerda, Carlisle entre a primeira e a segunda bases, e Alice segurava a bola, posicionada no local que devia ser o montinho do lançador. Emmett girava um bastão de alumínio; sibilava quase invisível no ar. Esperei que ele se aproximasse da base do batedor, mas depois percebi, enquanto ele assumia a posição, que já estava lá – mais distante do lançador do que eu achava possível. Jasper estava vários metros atrás dele, pegando para a outra equipe. É claro que nenhum deles tinha luvas. – Tudo bem – gritou Esme numa voz clara, que eu sabia que até Edward podia ouvir, embora estivesse muito longe. – Podem bater. Alice se endireitou, enganosamente imóvel. Seu estilo parecia ser caute¬loso, e não um movimento circular intimidador. Ela segurava a bola com as duas mãos à altura da cintura e depois, como o bote de uma cobra, a mão direita voou e a bola bateu na mão de Jasper. – Foi um strike? – sussurrei para Esme. – Se não rebaterem, não é strike – disse-me ela. Jasper devolveu a bola à mão de Alice, que aguardava. Ela se permitiu um sorriso breve. E depois sua mão girou novamente. Desta vez o bastão de algum jeito conseguiu girar a tempo de se chocar na bola invisível. O som do impacto foi de despedaçar, um trovão; ecoou nas montanhas – imediatamente entendi a necessidade da tempestade.
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A bola passou como um meteoro pelo campo, voando para a floresta ao redor. – Home run – murmurei. – Espere – alertou Esme, ouvindo com atenção, a mão erguida. Emmett era um borrão pelas bases, Carlisle lhe fazia sombra. Percebi que Edward não estava lá. – Fora – gritou Esme numa voz clara. Olhei sem acreditar enquanto Edward disparava da margem das árvores, a bola na mão erguida, o sorriso largo visível até para mim. – Emmett bateu com muita força – explicou Esme –, mas Edward é o que corre mais rápido. O inning continuou diante de meus olhos incrédulos. Era impossível acompanhar a velocidade com que a bola voava, o ritmo de seus corpos dis¬parando pelo campo. Entendi outro motivo para que eles esperassem por uma tempestade e pelos trovões para jogar quando Jasper, tentando evitar a infalível devolução de Edward, bateu uma bola para Carlisle. Carlisle correu para a bola e esbar¬rou em Jasper na primeira base. Quando eles se chocaram, o som foi como o esmagar da queda de duas pedras enormes. Pulei de preocupação, mas eles de algum modo estavam ilesos. – Salva – gritou Esme numa voz calma. O time de Emmett vencia de um a zero – Rosalie conseguiu flutuar pelas bases depois de seguir um dos longos vôos de Emmett – quando Edward pegou a terceira bola fora. Ele correu para o meu lado, cintilando de empolgação. – O que está achando? – perguntou. – De uma coisa eu tenho certeza, nunca mais vou conseguir ficar sentada vendo um jogo da liga principal de beisebol. – Até parece que você já fez muito isso – ele riu. – Estou meio decepcionada – disse com escárnio. – Por quê? – perguntou ele, confuso. – Bom, seria ótimo se eu pudesse encontrar só uma coisa em que você não seja melhor do que todo mundo do planeta. Ele abriu o sorriso torto especial, deixando-me sem fôlego. – Estou pronto – disse ele, indo para a base.
Ele jogava com inteligência, mantendo a bola baixa, fora do alcance da mão sempre preparada de Rosalie, conquistando duas bases como um
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raio antes que Emmett pudesse recolocar a bola em jogo. Carlisle bateu uma tão longe do campo – com uma explosão que feriu meus ouvidos – que ele e Edward chegaram na bola. Alice os cumprimentou com um bater de palmas delicado. O placar mudava constantemente com o decorrer do jogo e eles impli¬cavam uns com os outros como jogadores de rua enquanto se alternavam na liderança. De vez em quando Esme os chamava à ordem. O trovão soou, mas ficamos secos, como Alice havia previsto. Carlisle estava com o bastão, Edward pegando, quando Alice de repente ofegou. Meus olhos estavam em Edward, como sempre, e vi sua cabeça virar para olhá-la. Os olhos dos dois se encontraram e alguma coisa fluiu entre eles em um segundo. Ele estava ao meu lado antes que os outros pudessem perguntar a Alice o que havia de errado. – Alice? – A voz de Esme era tensa. – Eu não vi… Não sabia – sussurrou ela. Todos os outros estavam reunidos a essa altura. – O que é, Alice? – perguntou Carlisle com a voz calma de autoridade: – Eles estavam viajando muito mais rápido do que eu pensava. Posso ver que tive a perspectiva errada antes – murmurou ela. Jasper se inclinou para ela, a postura protetora. – O que mudou? – perguntou ele. – Eles nos ouviram jogando e isso alterou seu rumo – disse ela, pesarosa, como se sentisse responsável pelo que a assustara. Vários pares de olhos dispararam para mim e se desviaram. – Quanto tempo? – disse Carlisle, virando-se para Edward. Um olhar de preocupação intensa atravessou seu rosto. – Menos de cinco minutos. Estão correndo… Querem jogar. – Ele fec¬hou a cara. – Acha que consegue? – perguntou-lhe Carlisle, os olhos disparando para mim de novo. – Não, não carregando… – Ele se interrompeu. – Além disso, a última coisa de que precisamos é que eles sintam o cheiro e comecem a caçar. – Quantos? – perguntou Emmett a Alice. – Três – respondeu ela, tensa.
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– Três! – zombou ele. – Que venham, então. – Os feixes de aço dos músculos se flexionaram por seus braços imensos. Por uma fração de segundo que pareceu muito maior do que era, Carlisle refletiu. Só Emmett parecia não se perturbar; os demais fitavam Carlisle com os olhos ansiosos. – Vamos continuar o jogo – decidiu por fim Carlisle. Sua voz era fria e alterada. – Alice disse que estavam simplesmente curiosos. Tudo isso foi dito num jato de palavras que só durou alguns segundos. Ouvi com cuidado e peguei a maior parte delas, embora não pudesse ouvir que Esme agora perguntava a Edward com uma vibração silenciosa dos lábios. Só vi o leve tremor na cabeça de Edward e o olhar de alívio no rosto de Esme. – Você pega, Esme – disse ele. – Agora eu sou o juiz. – E ele se plantou diante de mim. Os outros voltaram ao campo, varrendo cautelosos a floresta escura com os olhos afiados. Alice e Esme pareciam orientadas para onde eu estava. – Solte os cabelos – disse Edward num tom baixo e tranqüilo. Obediente, tirei o elástico de meu cabelo e o sacudi em volta de mim. Declarei o óbvio: – Os outros estão chegando agora. – Sim, fique muito quieta e não saia do meu lado, por favor. – Ele es¬condeu bem a ênfase em sua voz, mas pude ouvi-la. Ele puxou meu cabelo comprido para a frente, em torno de meu rosto. – Isso não vai ajudar – disse Alice delicadamente. – Posso sentir o cheiro dela do outro lado do campo. – Eu sei. – Um toque de frustração tingiu sua voz. Carlisle se colocou na base e os outros se juntaram ao jogo sem mui¬ta disposição. – O que Esme perguntou a você? – sussurrei. Ele hesitou por um segundo antes de responder. – Se eles estavam com sede – murmurou ele de má vontade.
Os segundos passavam; o jogo continuava agora de forma apática. Ninguém ousava rebater mais de uma vez e Emmett, Rosalie e Jasper pairavam pelo campo. De vez em quando, apesar do medo que entorpecia meu cérebro, eu percebia os olhos de Rosalie em mim. Não tinham
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expressão, mas alguma coisa no modo como mantinha a boca me fazia pensar que estava com raiva. Edward não prestou atenção ao jogo, os olhos e a mente vagando pela floresta. – Desculpe, Bella – murmurou com ferocidade. – Foi idiotice, uma irresponsabilidade, expor você desta forma. Desculpe-me. Ouvi sua respiração parar e os olhos estacaram no campo. Ele deu meio passo, postando-se entre mim e o que estava chegando. Carlisle, Emmett e os outros se viraram na mesma direção, ouvindo sons de passos fracos demais para minha audição.
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18. A CAÇADA 

Um por um, eles saíram da floresta, separados uns dez metros um do outro. O primeiro homem na clareira recuou de imediato, permitindo que o segundo tomasse a frente, orientando-se pelo homem alto de cabelos escuros que claramente parecia ser o líder do bando. O terceiro membro era uma mulher; desta distância, só o que pude ver foi que seu cabelo era de um tom surpreendente de vermelho. Cerraram fileira antes de continuar cautelosamente em direção à família de Edward, exibindo o respeito natural de um bando de predadores ao encontrar um grupo maior e desconhecido de sua própria espécie. À medida que se aproximavam, pude ver como eram diferentes dos Cullen. Seu andar era como o de um felino, um caminhar que parecia constantemente prestes a mudar para o rastejar. Vestiam roupas comuns de mochileiros: jeans e camisas informais de tecido pesado e impermeável. Mas as roupas estavam puídas pelo uso e eles estavam descalços. Os dois homens tinham o cabelo curto, mas o cabelo laranja brilhante da mulher era cheio de folhas e outros restos da mata. Seus olhos penetrantes pararam cuidadosamente na atitude mais educada e cortês de Carlisle que, ladeado por Emmett e Jasper, avançou atentamente para encontrá-los. Sem nenhuma comunicação aparente, cada um deles se endireitou numa postura mais despreocupada e ereta. O homem na frente era sem dúvida o mais bonito, a pele azeitonada com a palidez típica, o cabelo de um preto acetinado. Era de estatura mediana, musculoso, é claro, mas nada parecido com a força de Emmett. Abriu um sorriso tranqüilo, expondo um lampejo de dentes brancos cintilantes. A mulher era mais impetuosa, os olhos vagando incansavelmente entre os homens que a encaravam e o grupo destacado em torno de mim, o cabelo caótico vibrando na leve brisa. Sua postura era distintamente felina. O segundo homem pairava atrás deles sem atrapalhar, mais magro do que o líder, o cabelo castanho-claro e as feições comuns sem revelar nada. Seus olhos, embora completamente imóveis, de algum modo pareciam os mais vigilantes. Os olhos também eram diferentes. Nem dourados nem pretos, o que eu esperava, mas de um vinho profundo que era perturbador e sinistro.
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O homem de cabelos pretos, ainda sorrindo, aproximou-se de Carlisle. – Pensamos ter ouvido um jogo – disse ele num tom relaxado, com um leve sotaque francês. – Meu nome é Laurent, estes são Victoria e James. – Ele gesticulou para os vampiros atrás dele. – Sou Carlisle. Esta é minha família, Emmett e Jasper, Rosalie, Esme e Alice, Edward e Bella. – Ele nos apontou como grupo, deliberadamente sem chamar a atenção para cada um de nós. Senti um choque quando disse meu nome. – Tem vaga para mais alguns jogadores? – perguntou Laurent socialmente. Carlisle acompanhou o tom amistoso de Laurent. – Na verdade, estávamos terminando. Mas certamente nos interessaríamos, em outra ocasião. Pretendem ficar na área por muito tempo? – Nós vamos para o norte, mas ficamos curiosos para ver quem estava nos arredores. Não encontramos companhia há muito tempo. – Não, esta região em geral é vazia, a não ser por nós e visitantes ocasionais, como vocês. O clima tenso lentamente se amenizava em uma conversa despreocupada; imaginei que Jasper estivesse usando seu dom peculiar para controlar a situação. – Qual é sua área de caça? – perguntou Laurent casualmente. Carlisle ignorou o pressuposto por trás da indagação. – A área do Olympic, aqui, a área costeira de vez em quando. Mantemos residência permanente aqui perto. Há outra base permanente como a nossa perto de Denali. Laurent girou nos calcanhares um pouco. – Permanente? Como conseguem isso? – Havia uma curiosidade sincera em sua voz. – Por que não nos acompanham à nossa casa e poderemos conversar com mais conforto? – convidou Carlisle. – É uma história bem longa. James e Victoria trocaram um olhar de surpresa à menção da palavra “casa”, mas Laurent controlou melhor sua expressão. – Parece muito interessante, e nós aceitamos. – Seu sorriso era afável.
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– Viemos caçando desde Ontário e por algum tempo não tivemos a oportunidade de nos limpar. – Seus olhos moveram-se apreciando a aparência refinada de Carlisle. – Não se ofendam, por favor, mas gostaríamos que refreassem a caça nesta região. Temos que ficar invisíveis, você compreende – explicou Carlisle. – É claro. – Laurent assentiu. – Certamente não invadiríamos seu território. De qualquer forma, acabamos de nos alimentar nos arredores de Seattle – ele riu. Um tremor percorreu minha coluna. – Mostraremos o caminho, se quiserem correr conosco… Emmett e Alice, vocês podem ir com Edward e Bella para pegar o Jeep – acrescentou ele casualmente. Parece que três coisas aconteceram simultaneamente enquanto Carlisle falava. Meu cabelo se levantou com a leve brisa, Edward enrijeceu e o segundo homem, James, virou a cabeça de repente, examinando-me, as narinas infladas. Uma rigidez súbita caiu sobre eles enquanto James avançava um passo, agachando-se. Edward arreganhou os dentes, agachando-se defensivamente, um rosnado de fera rasgando sua garganta. Não era nada parecido com os sons de brincadeira que eu ouvira dele esta manhã; foi a coisa mais ameaçadora que já ouvi, e arrepios desceram do alto de minha cabeça até os calcanhares. – O que é isso? – exclamou Laurent, abertamente surpreso. Nem James nem Edward relaxaram sua postura agressiva. James fintou de leve para o lado e Edward se mexeu em resposta. – Ela está conosco. – A firme repulsa de Carlisle foi dirigida a James. Laurent pareceu captar meu cheiro de forma menos intensa do que James, mas agora o conhecimento disso tomava seu rosto. – Vocês trouxeram um lanche? – perguntou ele, a expressão incrédula enquanto dava um passo involuntário para a frente. Edward rosnou com ferocidade ainda maior, asperamente, o lábio se curvando por cima dos dentes nus e reluzentes. Laurent recuou de novo. – Eu disse que ela está conosco – corrigiu Carlisle numa voz áspera. – Mas ela é humana – protestou Laurent. As palavras não eram agressivas, apenas surpresas.
– Sim. – Emmett estava muito mais em evidência ao lado de Carlisle, os olhos em James. James lentamente se endireitou, mas seus
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olhos não me deixavam, as narinas ainda infladas. Edward permaneceu tenso como um leão diante de mim. Quando Laurent falou, seu tom era tranqüilizador – tentando aquietar a súbita hostilidade. – Parece que temos de aprender muito um sobre o outro. – De fato. – A voz de Carlisle ainda era fria. – Mas gostaríamos de aceitar seu convite. – Seus olhos dispararam para mim e de volta a Carlisle. E é claro que não prejudicaremos a garota humana. Não caçaremos em seu território, como eu disse. James olhou para Laurent, aborrecido e incrédulo, e trocou outro breve olhar com Victoria, cujos olhos ainda disparavam de um rosto para outro. Carlisle avaliou a expressão franca de Laurent por um momento antes de falar. – Vamos lhes mostrar o caminho. Jasper, Rosalie, Esme? – chamou ele. Eles se reuniram, bloqueando-me de vista ao convergirem. Alice imediatamente estava ao meu lado e Emmett recuou devagar, os olhos em James enquanto se colocava atrás de nós. – Vamos, Bella. – A voz de Edward era baixa e inexpressiva. Nesse tempo todo, fiquei enraizada em meu lugar, apavorada, numa imobilidade absoluta. Edward teve que pegar meu cotovelo e me empurrar com força para me retirar do transe. Cambaleei ao lado de Edward, ainda atordoada de medo. Não pude ouvir se o grupo principal ainda estava ali. A impaciência de Edward era quase tangível enquanto seguíamos a um ritmo humano para a margem da floresta. Depois que estávamos nos bosques, Edward me pendurou em suas costas sem parar de andar. Agarrei-me com a maior força que pude enquanto ele partia, os outros nos seus calcanhares. Mantive a cabeça baixa, mas meus olhos, arregalados de susto, não se fecharam. Eles mergulharam na floresta agora escura como espectros. A alegria que em geral parecia possuir Edward quando ele corria estava completamente ausente, substituída por uma fúria que o consumia e o impelia a seguir ainda mais rápido. Mesmo comigo nas costas, os outros ficaram para trás. Chegamos ao Jeep em um tempo impossivelmente curto e Edward mal reduziu ao me atirar no banco traseiro.
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– Prenda-a – ordenou ele a Emmett, que deslizou para o meu lado. Alice já estava no banco da frente e Edward ligava o motor. Ele rugiu e viramos para trás, girando para ficar de frente para a estrada sinuosa. Edward grunhia alguma coisa rápido demais para que eu entendesse, mas parecia uma série de obscenidades. A viagem sacolejante desta vez foi muito pior, e a escuridão só a tornou mais assustadora. Emmett e Alice olhavam pela janela. Chegamos à estrada principal e, embora nossa velocidade aumentasse, eu podia ver muito melhor aonde estávamos indo. E íamos para o sul, para longe de Forks. – Aonde vamos? – perguntei. Ninguém respondeu. Ninguém sequer olhou para mim. – Droga, Edward! Aonde está me levando? – Temos que afastar você daqui… para longe… agora. – Ele não olhou para trás, os olhos na estrada. O velocímetro marcava 160 quilômetros por hora. – Dê a volta! Tem que me levar para casa! – gritei. Lutei com o arnês idiota, rasgando as tiras. – Emmett – disse Edward sombriamente. E Emmett segurou minhas mãos num aperto de aço. – Não! Edward! Não, não pode fazer isso. – Preciso fazer, Bella. Agora por favor, fique quieta. – Não fico! Tem que me levar de volta… Charlie vai chamar o FBI! Eles vão cair em cima de sua família… Carlisle e Esme! Eles vão ter que ir embora, se esconder para sempre! – Acalme-se, Bella. – Sua voz era fria. – Já passamos por isso antes. – Não por minha causa, não pode! Você não vai estragar tudo por minha causa! – Eu lutava violentamente, em vão. Alice falou pela primeira vez. – Edward, encoste. Ele disparou um olhar duro para ela e acelerou. – Edward, vamos conversar sobre isso. – Você não entende – rugiu ele de frustração. Nunca ouvi sua voz tão alta; era ensurdecedora dentro do espaço do Jeep. O velocímetro quase chegava a 240 quilômetros. – Ele é um rastreador, Alice, não viu isso? Ele é um rastreador!
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Senti Emmett se enrijecer a meu lado e me surpreendi com sua reação à palavra. Significava para os três mais do que para mim; eu queria entender, mas não tive oportunidade de perguntar. – Encoste, Edward. – O tom de Alice era razoável, mas havia um toque de autoridade que eu nunca ouvira antes. O velocímetro passava um pouco dos 190 por hora. – Encoste, Edward. – Ouça, Alice. Eu vi a mente dele. Rastrear é a paixão dele, sua obsessão… E ele a quer, Alice… Quer a ela especificamente. Ele começará a caçada hoje à noite. – Ele não sabe onde… Ele a interrompeu. – Quanto tempo acha que ele precisará para sentir o cheiro dela na cidade? Seus planos já estavam preparados antes que as palavras saíssem da boca de Laurent. Eu arfei, sabendo onde meu cheiro podia levar. – Charlie! Não pode deixá-lo lá! Não pode abandoná-lo! – Eu lutava contra o arnês. – Ela tem razão – disse Alice. O carro reduziu um pouco. – Vamos considerar nossas opções por um minuto – disse Alice, tentando persuadi-lo. O carro reduziu outra vez, mais perceptivelmente e depois, de repente, paramos cantando pneus no acostamento da estrada. Eu voei de encontro ao arnês e bati de costas no banco. – Não temos opções – sibilou Edward. – Não vou deixar o Charlie! – gritei. Ele me ignorou completamente. – Precisamos levá-la de volta – Emmett finalmente falou. – Não. – Edward era categórico. – Ele não é páreo para nós, Edward. Não seria capaz de tocar nela. – Ele vai esperar. Emmett sorriu. – Eu também posso esperar. – Não vêem… Vocês não entendem. Depois que ele se compromete com uma caçada, é inabalável. Vamos ter que matá-lo.
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Emmett não parecia se incomodar com a idéia. – Esta é uma opção. – E a mulher. Ela está com ele. Se houver uma luta, o líder irá com eles também. – Nós estamos em número suficiente. – Há outra opção – disse Alice em voz baixa. Edward virou-se para ela furioso, a voz rosnando ferozmente. – Não… há… outra… opção! Emmett e eu o olhamos chocados, mas Alice não pareceu se surpreender. O silêncio perdurou um longo minuto enquanto Edward e Alice se encaravam. Eu interrompi. – Alguém quer ouvir meu plano? – Não – grunhiu Edward. Alice o encarou, finalmente encolerizada. – Ouçam – pedi. – Me levem de volta. Olhei para ele e continuei. – Você me leva de volta. Eu digo a meu pai que quero ir para Phoenix. Faço minhas malas. Vamos esperar até que esse rastreador esteja observando e depois corremos. Ele vai nos seguir e deixar Charlie em paz. Charlie não vai mandar o FBI atrás da sua família. Depois você pode me levar para a droga do lugar que quiser. Eles me encararam, atordoados. – Na verdade, não é má idéia. – A surpresa de Emmett definitivamente era um insulto. – Pode dar certo… E não podemos deixar o pai dela desprotegido. Você sabe disso – disse Alice. Todos olharam para Edward. – É perigoso demais… Não quero que ele chegue nem a cem quilômetros dela. Emmett tinha extrema confiança. – Edward, ele não vai nos pegar. Alice pensou por um minuto. – Não o vejo atacando. Ele vai tentar esperar que a deixemos sozinha. – Ele logo vai perceber que isso não vai acontecer. – Eu exijo que me leve para casa. – Tentei parecer firme.
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Edward colocou os dedos nas têmporas e fechou os olhos com força. – Por favor – eu disse numa voz bem mais baixa. Ele não olhou. Quando falou, sua voz parecia exausta. – Você vai embora esta noite, quer o rastreador veja ou não. Vai dizer a Charlie que não suporta nem mais um minuto em Forks. Conte a ele uma história que convença. Faça suas malas com o que estiver à mão e entre em sua picape. Não me importo com o que ele lhe disser. Você terá quinze minutos. Ouviu? Quinze minutos a partir do momento em que passar pela porta. O Jeep rugiu e ele fez a volta, os pneus cantando. O ponteiro do velocímetro começou a disparar pelo mostrador. – Emmett? – perguntei, olhando sugestivamente para minhas mãos. – Ah, desculpe. – Ele me soltou. Alguns minutos se passaram em silêncio, a não ser pelo rugido do motor. Depois Edward falou novamente. – É assim que vai acontecer. Quando chegarmos à casa, se o rastreador não estiver lá, vou levá-la à porta. Depois ela terá quinze minutos. – Ele olhou para mim pelo retrovisor. – Emmett, você fica na lateral da casa. Alice, você fica na picape. Eu vou ficar lá dentro pelo tempo que ela estiver. Depois que ela sair, vocês dois podem levar o Jeep para casa e contar a Carlisle. – De jeito nenhum – interrompeu Emmett. – Eu vou com você. – Pense bem, Emmett. Não sei quanto tempo vou ficar fora. – Enquanto não soubermos até que ponto isso vai, eu vou com você. Edward suspirou. – Se o rastreador estiver lá – continuou ele de mau humor –, vamos continuar dirigindo. – Vamos chegar lá antes dele – disse Alice confiante. Edward pareceu aceitar isso. Qualquer que fosse seu problema com Alice, ele agora não duvidava dela. – O que vamos fazer com o Jeep? – perguntou ela. A voz dele era tensa. – Você o levará para casa. – Não vou levar – disse ela calmamente. O fluxo ininteligível de blasfêmias recomeçou. – Não cabemos todos na minha picape – sussurrei.
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Edward não pareceu me ouvir. – Acho que devem me deixar ir sozinha – eu disse num tom ainda mais baixo. Ele ouviu isso. – Bella, por favor, faça o que eu digo pelo menos desta vez – disse ele entre os dentes trincados. – Olhe, o Charlie não é um imbecil – protestei. – Se você não estiver na cidade amanhã, ele vai ficar desconfiado. – Isso é irrelevante. Vamos nos certificar de que ele esteja seguro, e é só isso que importa. – E esse rastreador? Ele viu como você agiu esta noite. Vai pensar que você está comigo, aonde quer que você vá. Emmett olhou para mim, ofensivamente surpreso de novo. – Edward, ouça o que ela diz – insistiu ele. – Acho que ela tem razão. – Sim, tem mesmo – concordou Alice. – Não posso fazer isso. – A voz de Edward era gelada. – Emmett deve ficar também – continuei. – Emmett o encarou com determinação. – Como é? – Emmett se virou para mim. – Você terá uma oportunidade melhor com ele se ficar – concordou Alice. Edward olhou para ela, incrédulo. – Acha que devo deixá-la sozinha? – É claro que não – disse Alice. – Jasper e eu cuidaremos dela. – Não posso fazer isso – repetiu Edward, mas desta vez havia um vestígio de derrota em sua voz. Ele começava a perceber a lógica. Tentei persuadi-lo. – Fique aqui por uma semana – eu vi a expressão no espelho e me corrigi –, alguns dias. Deixe que Charlie veja que você não me raptou e leve este James em perseguição inútil. Certifique-se de que ele esteja completamente longe de meu rastro. Depois venha me encontrar. Pegue um atalho, é claro, e depois Jasper e Alice poderão ir para casa. Pude ver que ele começava a pensar no assunto. – Onde encontro você? – Em Phoenix. – É claro.
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– Não. Ele vai ouvir onde você estiver indo – disse ele com impaciência. – E você vai fazer com que pareça um ardil, obviamente. Ele vai saber que sabemos que ele está ouvindo. E não vai acreditar que eu realmente fui aonde disse que vou. – Ela é diabólica. – Emmett riu. – E se não der certo? – Há milhões de pessoas em Phoenix – informei. – Não é tão difícil encontrar uma lista telefônica. – Eu não vou para casa da minha mãe. – Hã? – perguntou ele, um tom perigoso em sua voz. – Tenho idade suficiente para ter minha própria casa. – Edward, vamos ficar com ela – lembrou-lhe Alice. – O que você vai fazer em Phoenix? – perguntou-lhe ele com aspereza. – Ficar entre quatro paredes. – Eu até gosto disso. – Emmett estava pensando em encurralar James, sem dúvida. – Cale a boca, Emmett. – Olhe, se tentarmos pegá-lo enquanto ela ainda estiver por perto, há uma probabilidade muito maior de que alguém se machuque… Ela vai se machucar, ou você, tentando protegê-la. Agora, se o deixarmos só… – Ele se interrompeu com um sorriso baixo. Eu tinha razão. O Jeep se arrastava lentamente ao entrarmos na cidade. Apesar de meu discurso corajoso, pude sentir os pêlos em meus braços se eriçando. Pensei em Charlie, sozinho em casa, e tentei ser corajosa. – Bella. – A voz de Edward era muito suave. Alice e Emmett olharam pela janela. – Se alguma coisa acontecer com você… qualquer coisa… vou me sentir pessoalmente responsável. Entende isso? – Sim – engoli em seco. Ele se virou para Alice. – Jasper pode lidar com isso? – Dê algum crédito a ele, Edward. Ele tem se saído muito, muito bem, considerando todas as coisas. – Você pode lidar com isso? – perguntou ele.
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E a baixinha e graciosa Alice abriu os lábios em um sorriso apavorante e soltou um rosnado gutural que me fez agachar de pavor no banco. Edward sorriu para ela. – Mas guarde suas opiniões para si mesma – sussurrou ele de repente.

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