domingo, 13 de março de 2011

Harry Potter e a Pedra Filosofal - Capítulos 11 e 12

CAPÍTULO ONZE
Quadribol

Quando entrou novembro o tempo esfriou muito. As serras em torno da
escola viraram cinza-gelo e o lago parecia metal congelado. Toda a manhã o chão
se cobria de geada. Hagrid era visto das janelas dos andares superiores do
castelo degelando vassouras no campo de Quadribol enrolado num casacão de
pele de toupeira, com luvas de coelho e enormes botas de castor.
Começara a temporada de Quadribol. No sábado, Harry estaria jogando
sua primeira partida depois de semanas de tratamento:
Grifinória contra Sonserina. Se Grifinória ganhasse, subiria para
o segundo lugar no campeonato das casas.
Quase ninguém vira Harry jogar porque Olívio decidira que, sendo uma
arma secreta, a participação de Harry deveria ser mantida em segredo. Mas de
alguma forma a noticia de que jogaria como apanhador vazara e Harry não sabia o
que era pior se as pessoas dizerem que ele seria brilhante ou dizerem que
iriam ficar correndo embaixo dele com um colchão.
Era realmente uma sorte que Harry agora tivesse Herminione como
amiga. Não sabia como poderia ter dado conta dos deveres de casa sem ela,
diante dos treinos de Quadribol convocados por Olívio à última hora. Ela também
lhe emprestara o livro Quadribol através dos séculos, que acabara rendendo
uma leitura muito interessante.
Harry aprendera que havia setecentas maneiras de cometer faltas no
Quadribol e que todas haviam ocorrido durante a copa mundial de 1473, que os
apanhadores eram em geral os jogadores menores e mais velozes e que a maioria
dos acidentes graves no Quadribol parecia acontecer com eles, que embora a
pessoas raramente morressem jogando Quadribol, havia juízes que tinham
desaparecido e reaparecido meses depois no deserto do Saara.
Hermione tornara-se menos tensa com relação às inflações
ao regulamento desde que Harry e Rony a tinham salvado do trasgo montanhês e
se tornara uma pessoa mais simpática. Na véspera da primeira partida de
Quadribol de Harry, os três foram até a quadra congelada durante o intervalo das
aulas, e ela fizera aparecer para eles um fogo azulado muito vivo que podia ser
levado para toda parte em um frasco de geléia. Achavam-se parados de costas
para o fogo, se esquentando, quando Snape atravessou o pátio. Harry reparou
logo que Snape estava mancando. Harry, Rony e Hermione se aproximaram mais
para esconder o fogo com o corpo, tinham certeza de que era proibido.
Infelizmente alguma coisa em suas caras culpadas atraiu a atenção de Snape. Ele
veio mancando até onde eles estavam. Não vira o fogo, mas parecia estar
procurando uma razão para ralhar com eles.
— Que é que você tem aí, Potter?
Era O Quadribol através dos séculos. Harry mostrou-o.
— Os livros da biblioteca não podem ser levados para fora da escola —
falou Snape. — Me dê aqui. Menos cinco pontos para Grifinória.
— Ele acabou de inventar essa regra — murmurou Harry com raiva,
enquanto Snape se afastava — Que será que houve com a perna dele?
— Não sei, mas espero que esteja realmente doendo — falou Rony com
azedume.
A sala comunal da Grifinória estava muito barulhenta aquela noite. Harry,
Rony e Hermione sentaram-se junto a uma janela.
Hermione verificava os deveres de Harry e Rony para a aula de Feitiços.
Ela nunca os deixava copiar ("Como é que vocês vão aprender?'), mas ao lhe
pedirem para ler os trabalhos, eles recebiam as respostas certas do mesmo jeito.
Harry sentia-se inquieto. Queria de volta Quadribol através dos séculos,
para se distrair do nervosismo que a partida do dia seguinte estava lhe
provocando. Por que deveria ter medo de Snape?
Levantou-se e disse a Rony e Hermione que ia pedir a Snape para lhe
devolver o livro.
— Antes você do que eu — responderam eles juntos, mas Harry tinha a
impressão que Snape não iria recusar se houvesse outros professores ouvindo.
Ele foi à sala dos professores e bateu à porta. Não obteve resposta. Bateu
outra vez. Nada.
Talvez Snape tivesse deixado o livro na sala? Valia a pena tentar.
Entreabriu a porta e espiou para dentro e deparou com uma cena horrível.
Snape e Filch estavam lá dentro sozinhos. Snape segurava as vestes
acima do joelho. Uma das pernas sangrava, lacerada. Filch entregava ataduras a
Snape.
— Droga — dizia Snape. — Como é que se pode ficar de olho em
três cabeças ao mesmo tempo?
Harry tentou fechar a porta sem fazer barulho, mas...
— Potter!
O rosto de Snape contorceu-se de fúria ao mesmo tempo em que ele
largava as vestes para esconder a perna. Harry engoliu em seco.
— Eu vim saber se o senhor poderia devolver o meu livro..
— SAIA! SAIA!
Harry saiu, antes que Snape pudesse descontar algum ponto de Grifinória.
E voltou correndo para baixo.
— Conseguiu? — perguntou Rony quando Harry se reuniu a eles.
— Que aconteceu?
Num murmúrio, Harry lhes contou o que vira.
— Sabe o que isso significa? — terminou sem fôlego. — Ele tentou passar
pelo cachorro de três cabeças no Dia das Bruxas! Era para lá que estava indo
quando o vimos. Ele quer a coisa que o cachorro está guardando! E aposto a
minha vassoura como ele deixou aquele trasgo entrar, para distrair a atenção de
todos!
Os olhos de Hermione estavam arregalados.
— Não. Ele não faria isso. Sei que ele não é muito simpático, mas não
tentaria roubar uma coisa que Dumbledore estivesse guardando a sete chaves.
— Sinceramente, Hermione, você pensa que todos os professores são
santos ou coisa parecida — disse-lhe Rony com rispidez. — Concordo com Harry,
acho que Snape faria qualquer coisa. Mas o que é que ele está procurando? O
que é que o cachorro está guardando?
Harry foi se deitar com a cabeça zunindo com aquela pergunta.
Neville roncava alto e Harry não conseguia dormir. Tentou esvaziar a
cabeça, precisava dormir, tinha de dormir, ia jogar sua primeira partida de
Quadribol dentro de algumas horas, mas a expressão no rosto de Snape quando
Harry vira sua perna era difícil de esquecer.
O dia seguinte amanheceu muito claro e frio. O salão principal estava
impregnado com o cheiro delicioso de salsichas e com a conversa animada de
todos que aguardavam ansiosos uma boa partida de Quadribol.
— Você tem que comer alguma coisa.
— Não quero nada.
— Só um pedacinho de torrada — tentou persuadi-lo Hermione.
— Não estou com fome.
Harry se sentia péssimo. Dentro de uma hora estava entrando na quadra.
— Harry, você precisa de energia — disse Simas Finnigan —
Os apanhadores são sempre os que acabam aleijados pelo outro time.
— Obrigado Simas — respondeu Harry, observando Simas amontoar
ketchup sobre as salsichas.
Aí pelas onze horas a escola inteira parecia estar nas arquibancadas que
cercavam o campo de Quadribol. Muitos estudantes tinham levado binóculos. Os
lugares ficavam no alto, mas às vezes, ainda assim era difícil ver o que acontecia.
Rony e Hermione se reuniram a Neville, Simas e Dino, o fã do time de
segunda divisão na fileira do alto. Como uma surpresa para Harry eles tinham
pintado uma grande bandeira em um dos lençóis que Perebas roera. Dizia: “Potter
para Presidente” e Dino, que era bom em desenho, tinha pintado o grande leão de
Grifinória embaixo. Depois Hermione apelara para um feiticinho para fazer a tinta
brilhar multicolorida.
Entrementes, nos vestiários, Harry e o restante do time estavam vestindo
as roupas vermelhas de Quadribol (Sonserina iria jogar de verde).
Olívio pigarreou pedindo silêncio.
— Muito bem, rapazes.
— E moças — acrescentou a artilheira Angelina Johnson.
— E moças — concordou Olívio. — Está na hora.
— O jogaço — disse Fred.
— O jogaço que estávamos esperando — explicou Jorge.
— Já conhecemos o discurso de Olívio de cor — comentou Fred para
Harry. — Fizemos parte do time no ano passado.
— Calem a boca, vocês dois — mandou Olívio. — Este é o melhor time
que Grifinória já teve nos últimos anos. Vamos vencer. Sei que vamos — e
encarou os jogadores como se dissesse "Ou vão ver".
— Certo. Está na hora. Boa sorte para todos.
Harry acompanhou Fred e Jorge na saída do vestiário e, esperando que
seus joelhos não cedessem, entrou na quadra debaixo de vivas.
Madame Hooch era a juíza. Estava parada no meio da quadra esperando
os dois times, de vassoura na mão.
— Quero ver um jogo limpo meninos — disse quando estavam todos
reunidos à sua volta. Harry reparou que ela parecia estar falando particularmente
para o capitão de Sonserina, Marcos Flint um aluno do quinto ano. Harry achou
que Flint tinha sangue de trasgo. Pelo canto do olho viu a bandeira, que piscava
"Potter para Presidente" tremulando sobre as cabeças dos espectadores.
Seu coração perdeu um compasso. Ele se sentiu mais corajoso.
— Montem nas vassouras, por favor — Harry subiu na sua Nimbus 2000.
Madame Hooch puxou um silvo forte no seu apito de prata.
Quinze vassouras se ergueram no ar. Fora dada a partida.
— E a goles foi de pronto rebatida por Angelina Johnson de Grifinória que
ótima artilheira é essa menina, e bonita, também.
— JORDAN!
— Desculpe professora.
O amigo dos gêmeos Weasley, Lino Jordan, estava irradiando a partida,
vigiado de perto pela Professora Minerva.
— Ela está realmente jogando com força total, um passe lindo para Alicia
Spinnet, um bom achado de Olívio Wood, no ano passado ficou no time de
reserva, de volta a Johnson e.. Não, Sonserina tomou a goles, o capitão de
Sonserina rouba a goles e sai correndo. Marcos está voando como uma águia lá
no alto, ele vai mar.. Não, foi impedido por uma excelente intervenção do goleiro
de Grifinória, Olívio, e Grifinória fica com a goles, no lance a artilheira Cátia Bell de
Grifinória, dá um belo mergulho em volta de Marcos e sobe pelo campo e... AI,
essa deve ter doído, ela levou um balaço na nuca, perdeu a goles para Sonserina.
Agora Adriano Pucey corre na direção do gol, mas é bloqueado por um segundo
balaço arremessado por Fred ou Jorge Weasley, é difícil dizer qual dos dois em
todo o caso uma boa jogada do batedor de Grifinória, e Johnson tem outra
vez aposse da goles, o caminho está livre à sua frente e lá vai ela, realmente
voando, desvia-se de um balaço veloz, as balizas estão à sua frente... Vamos
agora, Angelina... O goleiro Bletchley mergulha, não chega a tempo... PONTO
PARA GRIFINÓRIA!
A torcida de Grifinória enche de berros o ar frio, e a torcida de Sonserina,
de lamentos.
— Cheguem para lá, vamos.
— Rúbeo!
Rony e Hermione se apertaram para abrir espaço para Hagrid se sentar
com eles.
— Estive assistindo da minha casa — disse Hagrid, indicando um grande
binóculo pendurado ao pescoço. Mas não é a mesma coisa que assistir no meio
da multidão. Nem sinal do pomo ainda, não é?
— Não — respondeu Rony. — Harry ainda não teve muito que fazer.
— Pelo menos não se machucou, já é alguma coisa — disse Hagrid,
levantando o binóculo e espiando o pontinho que era Harry lá no céu.
Muito acima deles, Harry sobrevoava o jogo, procurando um sinal do
pomo. Isto fazia parte da estratégia montada por ele e Olívio.
“Fique fora do caminho até avistar o pomo dissera Olívio. Não queremos
que você seja atacado sem necessidade”.
Quando Angelina marcou, Harry tinha feito um loops para extravasar a
emoção. Agora voltara a procurar o pomo. Uma vez avistou um lampejo dourado,
mas era apenas outro reflexo do relógio de um dos gêmeos e outra vez um balaço
resolveu disparar em sua direção e mais parecia uma bala de canhão, mas Harry
se esquivou e Fred veio atrás dela.
— Tudo bem ai, Harry? — Ele tivera tempo de gritar ao rebater o balaço
com fúria na direção de Marcos Flint.
— Sonserina de posse da goles — Lino Jordan continua narrando. — O
artilheiro Pucey se desvia de dois balaços, dos dois Weasley, da artilheira Bell e
voa para, esperem aí, será o pomo?
Correu um murmúrio pelas torcidas quando viram Adriano Pucey deixar
cair a goles, ocupado demais em espiar por cima do ombro o lampejo dourado que
passara por sua orelha esquerda.
Harry a viu. Tomado de grande agitação, mergulhou em direção ao rastro
dourado. O apanhador de Sonserina, Terêncio Higgs, vira o pomo também.
Cabeça a cabeça, eles se precipitaram em direção ao pomo, todos os artilheiros
pareciam ter esquecido o que deveriam fazer, pararam no ar, para observar.
Harry foi mais rápido que Terêncio, estava vendo a bolinha redonda, as
asas batendo, disparando para o alto, imprimiu mais velocidade...
— Ohhh! — Um rugido de raiva saiu da torcida de Grifinória em baixo.
Marcos Flint tinha bloqueado Harry de propósito e a vassoura de Harry perdeu o
rumo, Harry segurou-se para não cair.
— Falta! — gritou a torcida de Grifinória.
Madame Hooch dirigiu-se aborrecida a Marcos e em seguida deu a
Grifinória um lance livre diante das balizas. Mas na confusão, é claro, o pomo de
ouro desaparecera de vista outra vez.
Nas arquibancadas, Dino Thomas berrava.
— Fora com ele, juíza! Cartão vermelho!
— Isto não é futebol, Dino — lembrou Rony — Você não pode expulsar
jogador de campo no Quadribol, e o que é um cartão vermelho?
Mas Hagrid ficou do lado de Dino.
— Deviam mudar as regras, Marcos podia ter derrubado Harry no ar.
Lino Jordan estava achando difícil se manter neutro.
— Então, depois dessa desonestidade óbvia e repugnante.
— Jordan! — ralhou a Professora Minerva.
— Quero dizer, depois dessa falta clara e revoltante.
— Jordan, estou lhe avisando...
— Muito bem, muito bem. Marcos quase matou o apanhador da Grifinória,
o que pode acontecer com qualquer um, tenho certeza, portanto uma penalidade a
favor de Grifinória, Spinnet bate, para fora, sem problema, e continuamos o jogo,
Grifinória ainda com a posse da bola.
Foi quando Harry se desviou de mais um balaço, que passou com
perigoso efeito ao lado de sua cabeça, que a coisa aconteceu.
Sua vassoura deu uma perigosa e repentina guinada. Por uma fração de
segundo ele achou que ia cair. Segurou a vassoura com firmeza com as duas
mãos e os joelhos. Nunca sentira nada parecido antes.
Aconteceu outra vez. Era como se a vassoura estivesse tentando derrubálo.
Mas uma Nimbus 2000 não decidia de repente derrubar seu cavaleiro. Harry
tentou voltar em direção às balizas de Grifinória, tencionava avisar Olívio para
pedir tempo, e então percebeu que a vassoura se descontrolara. Não
conseguia virá-la. Mas conseguia dirigi-la. Ela ziguezagueava pelo ar e de vez em
quando fazia movimentos bruscos que quase o desequilibravam.
Lino ainda comentava.
— Sonserina ainda com a posse, Marcos com a goles, passa por Spinnet,
por Bell... Atingido no rosto com força por um balaço, espero que tenha quebrado
o nariz, é brincadeira, professora, Sonserina marca. Ah, não!
A torcida da Sonserina vibrava. Ninguém parecia ter notado que a
vassoura de Harry estava se comportando de maneira estranha. Carregava-o
lentamente cada vez mais alto, afastando-se do jogo, dando guinadas e
corcoveando pelo caminho.
— Não sei o que Harry acha que está fazendo — resmungou Hagrid. E
espiou pelo binóculo. — Se eu não entendesse da coisa, eu diria que perdeu o
controle da vassoura... Mas não pode ser...
De repente, as pessoas em todas as arquibancadas estavam apontando
para Harry no alto. Sua vassoura começara a jogar para um lado e para o outro, e
ele mal conseguia se segurar. Então a multidão gritou. A vassoura dera uma
guinada violenta e Harry desmontara. Estava agora pendurado, agüentando-se
apenas com uma mão.
— Será que aconteceu alguma coisa à vassoura quando Marcos
o bloqueou? — cochichou Simas.
— Não pode ser — respondeu Hagrid, a voz trêmula. — Nada
pode interferir com uma vassoura a não ser uma magia negra muito poderosa,
nenhum garoto poderia fazer isso com uma Nimbus 2000.
Ao ouvir isso, Hermione agarrou o binóculo de Hagrid, mas ao invés de
olhar para Harry no alto, começou a espiar agitadíssima para a multidão.
— Que é que você está fazendo? — gemeu Rony, o rosto branco.
— Eu sabia! — exclamou Hermione. — Snape. Olhe.
Rony agarrou o binóculo, Snape estava no centro das arquibancadas do
lado oposto. Tinha os olhos fixos em Harry e movia os lábios sem parar.
— Ele está fazendo alguma coisa, ele está azarando a vassoura. — disse
Hermione.
— Que vamos fazer?
— Deixem comigo.
Antes que Rony pudesse dizer mais nada, Hermione desapareceu. Rony
tornou a apontar o binóculo para Harry. A vassoura vibrava com tanta força, que
era quase impossível Harry se agüentar por muito mais tempo. A multidão se
levantara, acompanhara com os olhos, aterrorizada, os gêmeos Weasley voaram
para tentar transferir Harry a salvo para uma de suas vassouras, mas não
adiantou, toda vez que se aproximavam dele, a vassoura subia mais alto.
Mantiveram-se em um nível mais baixo fazendo círculos sob Harry, obviamente na
esperança de apará-lo se caísse... Marcos Flint apoderou-se da goles e
marcou cinco vezes sem ninguém reparar.
— Anda logo, Hermione — murmurou Rony desesperado.
Hermione abrira caminho até a arquibancada onde estava Snape e agora
corria pela fileira atrás dele, nem parou para pedir desculpas quando derrubou o
Professor Quirrell de cabeça na fileira da frente Ao chegar perto de Snape, ela se
agachou puxou a varinha e disse algumas palavras bem escolhidas. Chamas
vivas e azuladas saíram de sua varinha para a barra das vestes de Snape.
Levou talvez uns trinta segundos para Snape perceber que estava em
chamas. Um grito súbito confirmou que Hermione conseguira o seu intento.
Recolhendo o fogo num frasquinho que trazia no bolso ela retrocedeu depressa
pela mesma fileira. Snape nunca saberia o que acontecera.
Foi o suficiente. No alto, Harry conseguiu de repente voltar a montar a
vassoura.
— Neville, pode olhar! — disse Rony. Neville passara os últimos cinco
minutos soluçando no casaco de Hagrid.
Harry estava voando rápido de volta ao chão quando a multidão o viu levar
a mão à boca como se fosse vomitar, ele pousou no campo de gatas, tossiu e uma
coisa dourada caiu em sua mão.
— Apanhei o pomo! — gritou, mostrando-o no alto, e o jogo terminou na
mais completa confusão.
— Ele não agarrou o pomo, ele quase o engoliu — continuava
a esbravejar Flint vinte minutos depois, mas não fez diferença, Harry não infringira
nenhuma regra e Lino Jordan continuava a gritar alegremente o resultado,
Grifinória ganhara por cento e setenta pontos a sessenta. Harry, porém não ouvia
nada disso.
Hagrid lhe preparava no casebre uma xícara de chá forte, em companhia
de Rony e Hermione.
— Foi Snape — explicou Rony — Hermione e eu vimos. Ele
estava azarando a sua vassoura, murmurando, não despregava os olhos de você.
— Bobagens — disse Hagrid, que não ouvira uma única palavra do que se
passara ao seu lado nas arquibancadas. — Por que Snape faria uma coisa
dessas?
Harry, Rony e Hermione se entreolharam, imaginando o que lhe contar
Harry decidiu contar a verdade.
— Descobri uma coisa — falou a Hagrid. — Ele tentou passar
pelo cachorro de três cabeças no Dia das Bruxas. Levou uma mordida. Achamos
que estava tentando roubar o que o cachorro está guardando.
Hagrid deixou cair o bule de chá.
— Como é que vocês sabem da existência do Fofo?
— Fofo?
— É... É meu... Comprei-o de um grego que conheci num bar no ano
passado. Emprestei-o a Dumbledore para guardar o...
— O quê? — perguntou Harry ansioso.
— Não me pergunte mais nada — retrucou Hagrid com impaciência. — É
segredo.
— Mas Snape está tentando roubá-lo.
— Bobagens — repetiu Hagrid. — Snape é professor de Hogwarts, não
faria uma coisa dessas.
— Então por que ele tentou matar Harry? — perguntou Hermione.
Os acontecimentos daquela tarde sem dúvida tinham mudado a opinião
dela sobre Snape.
— Eu conheço uma azaração quando vejo uma, Rúbeo, já li tudo sobre o
assunto! A pessoa precisa manter contato visual e Snape nem ao menos piscava,
eu vi!
— Estou dizendo que vocês estão enganados! — falou Hagrid com
veemência. — Não sei por que a vassoura de Harry estava agindo daquela forma,
mas Snape não iria tentar matar um aluno! Agora, escutem bem os três: vocês
estão se metendo em coisas que não são de sua conta. Isto é perigoso.
Esqueçam aquele cachorro e esqueçam o que ele está guardando, isto é coisa
do Professor Dumbledore com o Nicolau Flamel...
— Ah-ah! — exclamou Harry, — Então tem alguém chamado Nicolau
Flamel metido na jogada, é?
Hagrid parecia furioso consigo mesmo.

CAPÍTULO DOZE
O Espelho de Ojesed

O Natal se aproximava. Certa manhã em meados de dezembro, Hogwarts
acordou coberta com mais de um metro de neve. O lago congelou e os gêmeos
Weasley receberam castigo por terem enfeitiçado várias bolas de neve fazendo-as
seguir Quirrell aonde ele ia e quicarem na parte de trás do seu turbante. As
poucas corujas que conseguiam se orientar no céu tempestuoso para entregar
correspondência tinham de ser tratadas por Hagrid para recuperar a saúde antes
de voltarem a voar.
Todos mal agüentavam esperar as férias de Natal. E embora a sala
comunal da Grifinória e o salão principal tivessem grandes fogos nas lareiras, os
corredores varridos por correntes de ar tinham se tornado gélidos e um vento
cortante sacudia as janelas das salas de aulas. As piores eram as aulas do
Professor Snape nas masmorras, onde a respiração dos alunos virava uma névoa
diante deles e eles procuravam ficar o mais próximo possível dos seus caldeirões.
— Tenho tanta pena — disse Draco Malfoy, na aula de Poções. — dessas
pessoas que têm que passar o Natal em Hogwarts porque a família não as
querem casa.
Olhou para Harry ao dizer isso. Crabbe e Goyle miraram Harry, que estava
medindo pó de espinha de peixe-leão, e não lhes deu atenção. Malfoy andava
muito mais desagradável do que de costume desde a partida de Quadribol.
Aborrecido porque Sonserina perdera, tentara fazer as pessoas rirem dizendo que
um sapo iria substituir Harry como apanhador no próximo jogo. Então percebeu
que ninguém achara graça, porque estavam todos muito impressionados com a
maneira com que Harry conseguira se segurar na vassoura corcoveante. Por isso
Draco, invejoso e zangado, voltara a aperrear Harry dizendo que não tinha
família como os outros...
Era verdade que Harry não ia voltar à Rua dos Alfeneiros para o Natal. A
Professora Minerva passara a semana anterior fazendo uma lista dos alunos que
iam ficar em Hogwarts no Natal e Harry assinara seu nome na mesma hora. Não
sentia nenhuma pena de si mesmo, provavelmente aquele seria o melhor Natal
que já tivera.
Rony e os irmãos também iam ficar, porque o Sr. e a Sra. Weasley iam à
Romênia visitar Carlinhos.
Quando deixaram as masmorras ao final da aula de Poções, encontraram
um grande tronco de pinheiro bloqueando o corredor à frente. Dois pés enormes
que apareciam por baixo do tronco e alguém bufando alto denunciou a todos que
Hagrid estava por trás dele.
— Oi, Rúbeo quer ajuda? — perguntou Rony, metendo a cabeça por entre
os ramos.
— Não, estou bem, obrigado, Rony.
— Você se importaria de sair do caminho? — ouviu-se a voz arrastada e
seca de Draco atrás deles. — Está tentando ganhar uns trocadinhos, Weasley?
Vai ver quer virar guarda-caça quando terminar Hogwarts. A cabana de Rúbeo
deve parecer um palácio comparada ao que sua família está acostumada.
Rony avançou para Draco justamente na hora em que Snape subia as
escadas.
Rony agarrou a frente das vestes de Draco.
— Ele foi provocado, Professor Snape — explicou Hagrid,
deixando aparecer por trás da árvore a cara peluda. — Draco ofendeu a família
dele.
— Seja por que for, brigar é contra o regulamento de Hogwarts, Hagrid —
disse Snape insinuante. — Cinco pontos a menos para Grifinória, Weasley, e dê
graças a Deus por não ser mais. Agora, vamos andando, todos vocês.
Draco, Crabbe e Goyle passaram pela árvore com
brutalidade, espalhando folhas para todo lado com sorrisos nos rostos.
— Eu pego ele — prometeu Rony, rilhando os dentes as costas de Draco
—, um dia desses, eu pego ele.
— Odeio os dois — disse Harry — Draco e Snape.
— Vamos, ânimo, o Natal está aí — disse Hagrid — Vou lhes dizer o que
vamos fazer, venham comigo ver o salão principal, está lindo.
Então os três acompanharam Hagrid e sua árvore até o salão principal,
onde a Professora Minerva e o Professor Flitwick estavam trabalhando na
decoração para o Natal.
— Ah, Hagrid, a última árvore, ponha naquele canto ali, por favor.
O salão estava espetacular. Festões de azevinho e visco pendurados a
toda à volta das paredes e nada menos que doze enormes árvores de Natal
estavam dispostas pelo salão, umas cintilando com cristais de neve, outras
iluminadas por centenas de velas.
— Quantos dias ainda faltam até as férias? — perguntou Hagrid.
— Um — respondeu Hermione — Ah, isso me lembra: Harry, Rony, falta
meia hora para o almoço, devíamos estar na biblioteca.
— Ih, é mesmo — disse Rony, despregando os olhos do Professor
Flitwick, que fazia sair bolhas azuis da ponta da varinha e as levava para cima dos
galhos da árvore que acabara de chegar.
— Biblioteca? — espantou-se Hagrid, acompanhando-os para fora da sala
— Na véspera das férias? Não estão estudando demais?
— Ah, não estamos estudando — respondeu Harry, animado. – Desde
que você mencionou o Nicolau Flamel estamos tentando descobrir quem ele é.
— Vocês o quê? — Hagrid parecia chocado. — Ouçam aqui: já disse a
vocês, parem com isso. Não é da sua conta o que o cachorro está guardando.
— Só queremos saber quem é Nicolau Flamel, só isso — falou Hermione.
— A não ser que você queira nos dizer e nos poupar o trabalho? —
acrescentou Harry. — Já devemos ter consultado uns cem livros e não o
encontramos em lugar nenhum. Que tal nos dar uma pista? Sei que já li o nome
dele em algum lugar.
— Não digo uma palavra — respondeu Hagrid decidido.
— Então vamos ter que descobrir sozinhos — disse Rony, e saíram
depressa para a biblioteca, deixando Hagrid desapontado.
Andavam realmente procurando o nome de Flamel nos livros desde que
Hagrid deixara escapá-lo, porque de que outra maneira iam descobrir o que Snape
estava tentando roubar? O problema é que era muito difícil saber por onde
começar, sem saber o que Flamel poderia ter feito para aparecer em um livro. Não
se encontrava em Grandes sábios do século, nem em Nomes notáveis da mágica
do nosso tempo, não era encontrável tampouco em Importantes descobertas
modernas da mata nem em Um estudo aos avanços recentes na magia. E, é claro,
havia também o tamanho da biblioteca em si, dezenas de milhares de
livros, milhares de prateleiras, centenas de corredores estreitos.
Hermione puxou uma lista de assuntos e títulos que decidira pesquisar
enquanto Rony se dirigiu a uma carreira de livros e começou a tirá-los da
prateleira aleatoriamente. Harry vagou até a Seção Reservada. Vinha pensando
há algum tempo se Flamel não estaria ali. Infelizmente, o estudante precisava de
um bilhete assinado por um professor para consultar qualquer livro reservado e ele
sabia que nenhum jamais lhe daria o bilhete.
Eram livros que continham poderosa magia negra jamais ensinada em
Hogwarts e somente lida por alunos mais velhos que estudavam no curso
avançado de Defesa Contra a Magia Negra.
— O que é que você está procurando, menino?
— Nada — disse Harry.
Madame Pince, a bibliotecária, apontou-lhe um espanador de penas.
— Então é melhor sair daqui. Vamos, fora!
Desejando ter sido um pouco mais rápido em inventar alguma história,
Harry saiu da biblioteca. Ele, Rony e Hermione já tinham concordado que era
melhor não perguntar a Madame Pince onde poderiam encontrar Flamel. Tinham
certeza de que ela saberia informar, mas não podiam arriscar que Snape ouvisse
o que andavam tramando.
Harry esperou do lado de fora no corredor para saber se os outros dois
tinham encontrado alguma coisa, mas não alimentava muitas esperanças. Afinal
estavam procurando havia quinze dias, mas como só tinham breves momentos
entre as aulas não era surpresa que não tivessem achado nada. O que
realmente precisavam era de uma longa busca sem Madame Pince bafejar
o pescoço deles.
Cinco minutos depois, Rony e Hermione se reuniram a ele balançando
negativamente a cabeça. E foram almoçar.
— Vocês vão continuar procurando enquanto eu estiver fora, não vão? —
recomendou Hermione. — E me mandem uma coruja se encontrarem alguma
coisa.
— E você poderia perguntar aos seus pais se sabem quem é Flamel —
disse Rony. — Não haveria perigo em perguntar a eles.
— Nenhum perigo, os dois são dentistas.
Uma vez começadas as férias, Rony e Harry estavam se divertindo à beça
para se lembrar de Flamel. Tinham o dormitório só para eles e a sala comunal
estava muito mais vazia do que o normal, por isso podiam usar as poltronas
confortáveis ao pé da lareira. Sentavam-se a toda hora para comer tudo que
pudessem espetar em um garfo de assar: pão, bolinhos, marshmallows
e tramavam maneiras de fazer Draco ser expulso, o que se divertiam em discutir
mesmo que não fosse produzir resultados.
Rony também começou a ensinar Harry a jogar xadrez de bruxo. Era
exatamente igual a xadrez de trouxa exceto que as peças eram vivas, o que fazia
parecer que a pessoa estava dirigindo tropas em uma batalha. O jogo de Rony era
muito velho e gasto como tudo o mais que possuía, pertencera em tempos
a alguém da família, no caso, ao seu avô. No entanto, a velhice das peças não era
um empecilho. Rony as conhecia tão bem que nunca tinha dificuldade de mandálas
fazer o que ele queria.
Harry jogava com peças que Simas Finnigan lhe emprestara e estas não
confiavam nada nele. Ainda não era um bom jogador e elas não paravam de gritar
conselhos variados, o que o confundia:
"Não me mande para lá, não está vendo o cavalo dele? Mande ele,
podemos nos dar ao luxo de perder ele”.
Na noite de Natal, Harry foi para a cama pensando com ansiedade na
comida e na diversão do dia seguinte, mas sem esperar nenhum presente.
Quando acordou cedo na manhã seguinte, porém, a primeira coisa que viu
foi uma pequena pilha de embrulhos ao pé de sua cama.
— Feliz Natal — disse Rony sonolento quando Harry pulou da cama e
vestiu o roupão.
— Para você também — falou Harry. — Olhe só isso! Ganhei presentes?
— E o que é que você esperava, nabos? — respondeu Rony, virando-se
para a sua pilha que era bem maior do que a de Harry.
Harry apanhou o pacote de cima. Estava embrulhado em papel pardo
grosso e trazia escrito em garranchos: Para o Harry, de Hagrid. Dentro havia uma
flauta tosca de madeira. Era óbvio que Hagrid a entalhara pessoalmente. Harry
soprou-a, parecia um pouco com um pio de coruja.
Um segundo embrulho, muito pequeno, continha um bilhete.
“Recebemos sua mensagem e estamos enviando o seu presente. Tio
Válter e Tia Petúnia”.
Presa com fita adesiva na nota havia uma moeda de cinqüenta pence.
— Que simpático! — exclamou Harry.
Rony ficou fascinado pela moeda de cinqüenta pence.
— Que esquisito! — disse. — Que formato! Isso é dinheiro?
— Pode ficar com ela — disse Harry rindo-se ao ver a satisfação de Rony
— Rúbeo, minha tia e meu tio. E quem mandou esses?
— Acho que sei quem mandou esse — disse Rony, ficando um pouco
vermelho e apontando para um embrulho disforme. — Mamãe. Eu disse a ela que
você não estava esperando receber presentes... Ah, não... — gemeu —, ela fez
para você um suéter Weasley.
Harry rasgou o papel e encontrou um suéter tricotado com linha grossa
verde-clara e uma grande caixa de barras de chocolate feito em casa.
— Todos os anos ela faz para nós um suéter — disse
Rony, desembrulhando a dele —, e o meu é sempre cor de tijolo.
— Foi realmente muita gentileza dela — disse Harry, experimentando as
barrinhas de chocolate, que estavam muito gostosas.
O presente seguinte também continha doces, uma grande caixa de sapos
de chocolate dados por Hermione.
Restava apenas um embrulho. Harry apanhou-o e apalpou-o.
Era muito leve. Desembrulhou e uma coisa sedosa e prateada escorregou
para o chão onde se acomodou em dobras refulgentes. Rony soltou uma
exclamação:
— Já ouvi falar nisso — disse em voz baixa, deixando cair a caixa de
feijõezinhos de todos os sabores que ganhara de Hermione. — Se isso é o que eu
penso que é, é realmente raro e realmente valioso.
— E o que é?
Harry apanhou o pano brilhoso e prateado do chão. Tinha uma textura
estranha, parecia tecida com fios de água.
— É uma capa da invisibilidade — disse Rony, com uma expressão de
assombro no tosto. — Tenho certeza de que é. Experimente.
Harry jogou a capa em volta dos ombros e Rony deu um berro.
— É, Sim! Olhe para baixo!
Harry olhou para os pés, mas eles tinham desaparecido. Correu então
para o espelho. Não deu outra, o espelho refletiu sua imagem, só a cabeça
suspensa no ar, o corpo completamente invisível. Ele cobriu a cabeça e a imagem
desapareceu completamente.
— Tem um cartão! — disse Rony de repente. — Caiu um cartão!
Harry tirou a capa e apanhou o cartão. Escritas numa caligrafia fina e
rebuscada que ele nunca vira antes estavam as seguintes palavras:
“Seu pai deixou isto comigo antes de morrer. Está na hora de
devolvê-la a você.
Use-a bem.
Um Natal muito Feliz para você”.
Não havia assinatura. Harry ficou olhando o cartão. Rony admirava a
capa.
— Eu daria qualquer coisa para ter uma dessas. Qualquer coisa... Que
foi?
— Nada. — Harry estava se sentindo muito estranho. Quem mandara a
capa? Será que pertencera mesmo ao seu pai?
Antes que pudesse dizer ou pensar qualquer outra coisa, a porta do
dormitório se escancarou e Fred e Jorge Weasley entraram aos pulos. Harry
rapidamente deu um sumiço na capa.
Por ora não tinha vontade de compartilhá-la com mais ninguém.
— Feliz Natal!
— Ei, olhe só, o Harry ganhou um suéter Weasley também!
Fred e Jorge estavam usando suéteres azuis, um com um grande F, o
outro com um J.
— Mas o do Harry é melhor do que o nosso — comentou Fred, erguendo
o suéter de Harry — Ela com certeza capricha mais se a pessoa não é da família.
— Por que você não está usando o seu? — perguntou Jorge — Vamos,
vista logo, eles são ótimos e quentes.
— Detesto cor de tijolo — lamentou-se Rony, desanimado enquanto vestia
o suéter.
— Pelo menos você não tem uma letra no seu — comentou Jorge. — Ela
deve pensar que você não esquece o seu nome. Mas nós não somos burros,
sabemos que nos chamamos Jorge e Fred.
— Que barulheira é essa?
Percy Weasley meteu a cabeça para dentro da porta, com um olhar de
censura. Era visível que já desembrulhara metade dos seus presentes porque
trazia também um suéter grosso pendurado no braço, que Fred logo agarrou.
— M de monitor! Vista logo, Percy, todos estamos usando os nossos, até
Harry ganhou um.
— Eu... Não... Quero — disse Percy com a voz embargada, enquanto os
gêmeos forçavam o suéter por sua cabeça, entortando seus óculos.
— E você hoje não vai se sentar com os monitores — disse Jorge.
— Natal é uma festa da família.
E os dois carregaram Percy para fora do quarto, com os braços presos
dos lados pelo suéter.
Harry nunca tivera em toda a vida um almoço de Natal igual àquele. Cem
perus gordos assados, montanhas de batatas assadas e cozidas, travessas de
salsichas, terrinas de ervilhas passadas na manteiga, molheiras com uva-domonte
em molho espesso e bem temperado e, a pequenos intervalos sobre a
mesa, pilhas de bombinhas de bruxo. Essas bombinhas fantásticas não se
pareciam nada com as bombinhas fracas dos trouxas que os Dursley em geral
compravam, cheias de brinquedinhos de plástico e chapéus de papel fino. Harry
puxou a ponta de uma bombinha de bruxo com Fred e ela não deu apenas um
estalinho, ela explodiu com o ruído de um canhão e envolveu-os em uma nuvem
de fumaça azul, enquanto caiam de dentro um chapéu de almirante e
vários camundongos brancos, vivos. Na mesa principal, Dumbledore tinha trocado
o chapéu de bruxo por um toucado florido e ria alegremente da piada que o
Professor Flitwick acabara de ler para ele.
Pudins de Natal flamejantes seguiram-se ao peru. Percy quase quebrou
os dentes em uma foice de prata que estava escondida em sua fatia. Harry
observava o rosto de Hagrid ficar cada vez mais vermelho à medida que pedia
mais vinho e acabou beijando a bochecha da Professora Minerva, e quase para
espanto de Harry, rira e corara, o chapéu de bruxa enviesado na cabeça.
Quando Harry finalmente saiu da mesa estava levando uma montanha de
brinquedos das bombinhas, inclusive uma embalagem de balões luminosos e nãoexplosivos,
um kit para cultivar capixingui, a planta símbolo de Hogwarts, e um
jogo de xadrez de bruxo. Os camundongos brancos tinham desaparecido e Harry
teve a desagradável sensação de que eles iam acabar virando jantar de Natal
para Madame Nor-r-ra.
Harry e os Weasley passaram uma tarde muito alegre ocupados em uma
furiosa guerra de bolas de neve. Depois, frios, molhados e ofegantes, voltaram
para junto da lareira na sala comunal de Grifinória, onde Harry estreou o seu novo
jogo de xadrez perdendo espetacularmente para Rony. Suspeitou que não
teria levado uma surra tão grande se Percy não tivesse tentado ajudá-lo tanto.
Depois de lancharem sanduíches de peru, bolinhos, gelatina e bolo de
frutas, todos se sentiram demasiado fartos e sonolentos para fazer outra coisa
senão sentar e assistir a Percy correr atrás de Fred e Jorge por toda a torre de
Grifinória porque eles tinham furtado seu crachá de monitor.
Fora o melhor Natal da vida de Harry. No entanto, no fundinho da cabeça
alguma coisa o incomodara o dia inteiro. Somente quando finalmente se deitou é
que teve tempo para pensar nela: a capa invisível e a pessoa que a mandara.
Rony, cheio de peru e bolo e sem nenhum mistério para perturbá-lo, caiu
no sono assim que puxou as cortinas de sua cama de dossel. Harry debruçou-se
pela borda da cama e puxou a capa que escondera ali.
Do seu pai... Aquilo fora do seu pai. Ele deixou o tecido escorregar pelas
mãos, mais macio do que seda, leve como o ar.
“Use-a bem”, dissera o cartão.
Tinha de experimentá-la agora. E saiu da cama e se enrolou na capa.
Olhando para as pernas, viu apenas o luar e as sombras Era uma sensação muito
engraçada.
“Use-a bem”.
De repente, Harry se sentiu completamente acordado. Toda a Hogwarts
se abria para ele com esta capa. Sentiu-se tomado de excitação em pé ali na
escuridão silenciosa. Podia ir a qualquer lugar com a capa, qualquer lugar, e Filch
jamais saberia.
Rony resmungou adormecido. Será que Harry devia acordá-lo?
Alguma coisa o deteve, a capa era do seu pai, sentiu que desta vez,
a primeira, queria usá-la sozinho.
E saiu sorrateiro do dormitório, desceu as escadas, atravessou a sala
comunal e passou pelo buraco do retrato.
— Quem está aí? — perguntou esganiçada a Mulher Gorda. Harry não
respondeu. Saiu depressa pelo corredor onde deveria ir? Parou, o coração
acelerado, e pensou. E então lhe ocorreu. A seção reservada na biblioteca.
Poderia ler o tempo que quisesse, o tempo que precisasse para descobrir quem
era Flamel. Foi, então, puxando a capa para bem junto do corpo ao andar.
A biblioteca estava escura como breu e muito estranha. Harry acendeu
uma luz para enxergar o caminho entre as fileiras de livros.
A lâmpada parecia que estava flutuando no ar, e embora Harry sentisse
que seu braço a sustentava, aquela visão lhe deu arrepios.
A seção reservada era bem no fundo da biblioteca. Saltando com cautela
a corda que separava esses livros do resto da biblioteca, ele ergueu a lâmpada
para ler os títulos.
Eles não lhe informavam muita coisa. Suas letras descascadas e
esmaecidas formavam dizeres em línguas que Harry não entendia. Alguns sequer
tinham titulo. Um livro tinha uma mancha escura que fazia lembrar horrivelmente
de sangre. Os pêlos na nuca de Harry ficaram em pé. Talvez fosse imaginação
dele, talvez não, mas achou que ouvia um sussurro inaudível vindo dos livros,
como se eles soubessem que havia alguém ali que não deveria estar.
Precisava começar por alguma parte. Pousando com cuidado a lâmpada
no chão, ele procurou na prateleira mais baixa um livro que parecesse
interessante. Um grande volume preto e prata chamou sua atenção. Puxou-o com
esforço, porque era muito pesado, e equilibrando-o nos joelhos, deixou-o abrir ao
acaso.
Um grito agudo de coalhar o sangue cortou o silêncio, o livro estava
gritando! Harry fechou-o depressa, mas o grito não parou, uma nota alta, continua,
de furar os tímpanos. Ele tropeçou para trás e derrubou a lâmpada, que se apagou
na mesma hora. Em pânico, ouviu passos que vinham pelo corredor do lado de
fora enfiando o livro gritador de qualquer jeito no lugar, ele correu para valer.
Passou por Filch quase a porta. Os olhos claros e arregalados de Filch
atravessaram-no, Harry escorregou por debaixo dos seus braços estendidos e
saiu desabalado pelo corredor, os gritos do livro ainda ecoando em seus ouvidos.
Parou subitamente diante de uma alta armadura. Estivera tão ocupado em
fugir da biblioteca que não prestara atenção onde estava indo. Talvez porque
estivesse escuro, ele sequer reconheceu onde se encontrava. Havia uma
armadura perto das cozinhas, ele sabia, mas ele devia estar uns cinco andares
acima.
— O senhor me pediu para eu vir direto ao senhor, professor, se alguém
estivesse perambulando durante a noite e alguém esteve na biblioteca, na seção
reservada.
Harry sentiu o sangue se esvair do seu rosto. Onde quer que estivesse,
Filch devia conhecer um atalho, porque sua voz baixa e untuosa estava se
aproximando, e para seu horror, foi Snape quem respondeu:
— A seção reservada? Bom, eles não podem estar longe, vamos apanhálos.
Harry ficou imóvel no lugar em que estava quando Filch e Snape viraram o
canto do corredor à frente. Eles não podiam vê-lo, é claro, mas era um corredor
estreito e se chegassem mais perto esbarrariam nele, a capa não o impedia de ser
sólido.
Recuou o mais silenciosamente que pôde. Havia uma porta entreaberta à
sua esquerda. Era sua única esperança. Esgueirou-se por ela, prendendo a
respiração, tentando não empurrá-la e, para seu alívio, conseguiu entrar no
aposento sem que percebessem nada. Eles passaram direto e Harry apoiou-se na
parede, respirando profundamente, ouvindo os passos dos dois morrerem
a distância. Fora por pouco, por um triz. Passaram-se alguns segundos até ele
reparar em alguma coisa no aposento em que se escondera.
Parecia uma sala de aula fechada. Os vultos escuros das mesas e
cadeiras se amontoavam contra as paredes e havia uma cesta de papéis virada,
mas escorada na parede à sua frente havia uma coisa que não parecia pertencer
ao lugar, alguma coisa que parecia que alguém acabara de pôr ali para tirá-la do
caminho.
Era um magnífico espelho, da altura do teto, com uma moldura de talha
dourada, aprumado sobre dois pés em garra. Havia uma inscrição entalhada no
alto: Ojesed stra ebru oy ube cafru oyr on wohsi.
Já livre do pânico, agora que não ouvia sinal de Filch e Snape, Harry
aproximou-se do espelho querendo mostrar-se sem ver nenhuma imagem como
antes. Adiantou-se para o espelho.
Teve de levar as mãos à boca para não gritai, Virou-se. Seu coração batia
com muito mais fúria do que quando o livro gritara, porque não vira somente a
própria imagem no espelho, mas a de uma verdadeira multidão por trás dele.
Mas o quarto estava vazio. Respirando muito depressa, ele se virou
lentamente para o espelho.
Lá estava ele, refletido, parecendo branco e assustado, e lá estavam,
refletidos às suas costas, pelo menos outras dez pessoas, Harry espiou por cima
do ombro, mas continuava a não haver ninguém mais. Ou será que eram todos
invisíveis também? Será que estava de fato em um aposento cheio de gente
invisível e o truque desse espelho é que ele refletia tudo, invisível ou não?
Olhou para o espelho outra vez. Uma mulher parada logo atrás de sua
imagem sorria e lhe acenava. Ele esticou a mão e sentiu o ar atrás dele. Se ela
estivesse realmente ali, ele a tocaria, pois suas imagens estavam muito próximas,
mas ele pegou apenas ar, ela e os outros só existiam no espelho.
Era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos acaju e os olhos... “Os olhos
são igualzinhos aos meus”, Harry pensou, acercando-se um pouco mais do
espelho. “Verde-vivo... Exatamente do mesmo formato”... Mas então reparou que
ela estava chorando, sorrindo, mas chorando ao mesmo tempo. O homem alto,
magro, de cabelos negros, parado ao lado dela abraçou-a. Usava óculos e seu
cabelo era muito rebelde. Espetava na parte de trás, como o de Harry.
Harry estava tão perto do espelho agora que seu nariz quase encostava
em sua imagem.
— Mamãe? — murmurou — Papai?
Eles apenas olharam para ele, sorrindo, e lentamente Harry olhou para os
rostos das outras pessoas no espelho e viu outros pares de olhos verdes iguais
aos seus, outros narizes como o seu, até mesmo um velhote que parecia ter os
mesmos joelhos ossudos que ele. Harry estava olhando para sua família, pela
primeira vez na vida.
Os Potter sorriram e acenaram para Harry e ele retribuiu o olhar carente,
as mãos comprimindo o espelho como se esperasse entrar por dentro dele e
alcançá-los. Sentiu uma dor muito forte no peito, em que se misturavam a alegria
e uma terrível tristeza.
Quanto tempo esteve parado ali, ele não sabia. As imagens
não esmaeceram e ele continuou mirando-as até que um ruído distante o trouxe
de volta ao presente. Não podia ficar ali, tinha de encontrar o caminho de volta
para a cama. Com esforço, desviou os olhos do rosto de sua mãe, sussurrando
"Eu volto" e saiu depressa do aposento.
— Você podia ter me acordado — falou Rony, aborrecido.
— Você pode vir hoje à noite. Vou voltar, quero lhe mostrar o espelho.
— Eu gostaria de ver sua mãe e seu pai — disse Rony, animado.
— E eu quero ver toda a sua família, todos os Weasley, você vai poder me
mostrar os seus outros irmãos e todo o mundo.
— Você pode vê-los a qualquer hora. E só vir à minha casa neste verão.
Em todo o caso, talvez o espelho só mostre gente morta. Mas é uma pena você
não ter achado o Flamel. Coma um pouco de bacon ou outra coisa qualquer, por
que é que você não está comendo nada?
Harry não conseguia comer. Vira os pais e iria vê-los de novo à noite.
Quase se esquecera de Flamel, já não lhe parecia tão importante. Quem ligava
para o que o cachorro de três cabeças estava guardando? Quem ligava realmente
que Snape fosse roubar a coisa?
— Você está bem? — perguntou Rony — Está com uma cara
tão estranha.
O que Harry mais temia era não conseguir encontrar o aposento do
espelho outra vez. Com Rony coberto pela capa também, eles tiveram de andar
muito mais devagar na noite seguinte. Tentaram refazer o caminho de Harry ao
sair da biblioteca, andando a esmo pelos corredores escuros durante quase uma
hora.
— Estou falando — disse Rony, — Vamos esquecer tudo e voltar.
— Não! — sibilou Harry — Sei que é em algum lugar por aqui.
Passaram pelo fantasma de uma bruxa alta que deslizava na direção
oposta, mas não viram mais ninguém. Na hora em que Rony começou a reclamar
que seus pés estavam dormentes de frio, Harry identificou a armadura.
— É aqui... Logo aqui... É.
Eles empurraram a porta. Harry deixou cair a capa dos ombros e correu
para o espelho.
Lá estavam eles. Sua mãe e seu pai sorriam ao vê-lo.
— Está vendo? — Harry cochichou.
— Não consigo ver nada.
— Olhe! Olhe eles todos... Ali, montes deles...
— Só consigo ver você.
— Olhe direito, vamos, fique aqui onde eu estou.
Harry deu um passo para o lado, mas com Rony diante do espelho, não
conseguiu mais ver sua família, apenas Rony como seu pijama de lã escocesa.
Rony, porém, estava mirando a própria imagem, petrificado.
— Olhe só para mim! — exclamou.
— Você está vendo toda a sua família à sua volta?
— Não, estou sozinho, mas estou diferente... Pareço mais velho, e sou
chefe dos monitores.
— O quê?
— Estou... Estou usando um crachá igual ao do Gui... E estou segurando
a taça das casas e a taça de Quadribol, sou capitão do time de Quadribol também!
Rony despregou os olhos dessa visão magnífica para olhar excitado para
Harry.
— Você acha que esse espelho mostra o futuro?
— Como pode mostrar? A minha família está toda morta. Deixe-me dar
outra espiada.
— Você teve o espelho só para você a noite passada, me deixa olhar mais
um pouco.
— Você só está segurando a taça de Quadribol, que interesse tem isso?
Eu quero ver os meus pais.
— Não me empurre...
Um ruído repentino do lado de fora no corredor pós-fim à discussão dos
dois. Não tinham se dado conta do como estavam falando alto.
— Depressa!
Rony atirou a capa de volta para cobri-los na hora que os olhos luminosos
de Madame Nor-r-ra apareceram à porta. Rony e Harry ficaram imóveis, ambos
pensando a mesma coisa, será que a capa fazia efeito para os gatos? Passado
um tempo que pareceu uma eternidade, ela se virou e foi embora.
— Isto é perigoso. Ela pode ter ido buscar o Filch, aposto que nos ouviu.
Vamos.
E Rony puxou Harry pata fora do quarto.
A neve ainda não derretera na manhã seguinte.
— Quer jogar xadrez, Harry? — convidou Rony.
— Não.
— Por que não descemos para visitar Rúbeo?
— Não... Vai você...
— Sei o que é que você está pensando, Harry, naquele espelho. Não volte
lá hoje à noite.
— Por que não?
— Não sei, estou com uma intuição ruim, e de qualquer forma você já
escapou por um triz muitas vezes, demais. Filch, Snape e Madame Nor-r-ra estão
andando por lá. E daí se eles não conseguem ver você? E se esbarrarem em
você? E se você derrubar alguma coisa?
— Você está falando igual a Hermione.
— Estou falando sério. Harry, não vai não.
Mas Harry só tinha um pensamento na cabeça, voltar para frente do
espelho, e Rony não ia detê-lo.
Naquela terceira noite ele encontrou o caminho ainda mais rapidamente
do que nas vezes anteriores. Andava tão depressa que sabia que estava fazendo
mais barulho do que seria sensato, mas não encontrou ninguém.
E lá estavam sua mãe e seu pai sorrindo de novo para ele, e um dos seus
avós acenava feliz com a cabeça. Harry se abaixou para sentar no chão diante do
espelho. Não havia nada que pudesse impedi-lo de ficar ali a noite inteira com a
família. Nada.
A não ser..
— Então, outra vez aqui, Harry?
Harry sentiu como se suas tripas tivessem congelado. Olhou para trás.
Sentado em uma das mesas junto à parede estava ninguém menos que Alvo
Dumbledore. Harry devia ter passado direto por ele, tão desesperado estava para
chegar ao espelho, que nem reparara.
— Eu... Eu não vi o senhor.
— É estranho como você pode ficar míope quando está invisível — disse
Dumbledore, e Harry sentiu alívio ao ver que ele sorria.
— Então — continuou Dumbledore, escorregando da cadeira até o chão
para se sentar ao lado de Harry — você, como centenas antes de você, descobriu
os prazeres do Espelho de Ojesed.
— Eu não sabia que se chamava assim, professor.
— Mas espero que a essa altura você já tenha percebido o que ele faz?
— Bom... Me mostra a minha família...
— E mostrou o seu amigo Rony como chefe dos monitores.
— Como é que o senhor soube?
— Eu não preciso de uma capa para me tornar invisível —
disse Dumbledore com brandura. — Agora, você é capaz de concluir o que é que
o Espelho de Ojesed mostra a nós todos?
Harry sacudiu negativamente a cabeça.
— Deixe-me explicar. O homem mais feliz do mundo poderia usar o
Espelho de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria
exatamente como é. Isso o ajuda a pensar?
Harry pensou. Então respondeu lentamente:
— Ele nos mostra o que desejamos... Seja o que for que desejemos...
— Sim e não — disse Dumbledore — Mostra-nos nada mais nem menos
do que o desejo mais íntimo, mais desesperado de nossos corações. Você, que
nunca conheceu sua família, a vê de pé a sua volta. Ronald Weasley, que sempre
teve os irmãos a lhe fazerem sombra, vê-se sozinho, melhor que todos os irmãos.
Porém, o espelho não nos dá nem o conhecimento nem a verdade. Já
houve homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viam,
ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer
possível. O espelho vai ser levado para uma nova casa amanhã, Harry, e peço
que você não volte a procurá-lo. Se algum dia o encontrar, estará preparado. Não
faz bem viver sonhando e se esquecer de viver, lembre-se. E agora, por que você
não põe essa capa admirável outra vez e vai dormir?
Harry se levantou.
— Senhor... Professor Dumbledore? Posso lhe perguntar uma coisa?
— Obviamente você acabou de me perguntar — sorriu Dumbledore. —
Mas pode me perguntar mais uma coisa.
— O que é que o senhor vê quando se olha no espelho?
— Eu? Eu me vejo segurando um par de grossas meias de lã.
Harry arregalou os olhos.
— As meias nunca são suficientes. Mais um Natal chegou e passou e não
ganhei nem um par. As pessoas insistem em me dar livros.
Foi somente quando estava de volta à cama que ocorreu a Harry que
talvez Dumbledore não tivesse dito a verdade. Mas, pensou, enquanto empurrava
Perebas para longe do seu travesseiro, fizera uma pergunta muito pessoal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário