sábado, 12 de março de 2011

Harry Potter e a Pedra Filosofal - Capítulos 9 e 10

CAPÍTULO NOVE
O Duelo À Meia-Noite

Harry jamais acreditara que fosse encontrar um garoto que ele detestasse
mais do que Duda, mas isto foi antes de conhecer Draco. Os alunos do primeiro
ano da Grifinória, porém, só tinham uma aula com os da Sonserina, a de Poções,
por isso não precisavam aturar Draco muito tempo. Ou pelo menos,
não precisavam até ver um aviso pregado no salão comunal de Grifinória que fez
todos gemerem. As aulas de vôo começariam na quinta-feira e os alunos das duas
casas aprenderiam juntos.
— Típico — disse Harry desanimado. — É o que eu sempre quis, fazer
papel de palhaço montado numa vassoura na frente do Draco.
Ele estivera ansioso para aprender a voar, mais do que qualquer outra
coisa.
— Você não sabe se vai fazer papel de palhaço — disse Rony sensato —
Em todo o caso, sei que Draco vive falando que é bom em Quadribol, mas aposto
que é conversa fiada.
Draco sem dúvida falava muito de vôos. Queixava-se em voz alta que os
alunos do primeiro ano nunca entravam para o time de Quadribol e se gabava em
longas histórias, que sempre pareciam terminar com ele escapando por um triz
dos trouxas de helicóptero. Mas ele não era o único pelo que Simas
Finnigan contava, ele passara a maior parte da infância voando pelo
campo montado numa vassoura. Até Rony contava para quem quisesse ouvir
sobre a vez em que ele quase batera numa asa delta montado na velha vassoura
de Carlinhos. Todos os garotos de famílias de bruxos falavam o tempo todo de
Quadribol. Rony já tivera uma grande discussão sobre futebol com Dino Thomas,
que também usava o dormitório deles. Rony não via nada excitante em um
jogo em que ninguém podia voar e só tinha uma bola. Harry surpreendera Rony
cutucando o pôster em que Dino aparecia com o time de futebol de West Ham,
tentando fazer os jogadores se mexerem.
Neville nunca andara de vassoura na vida, porque a avó nunca o deixara
chegar perto de uma. No fundo, Harry achava que ela estava certíssima, porque
Neville conseguira sofrer um número impressionante de acidentes mesmo com os
dois pés no chão.
Hermione Granger estava quase tão nervosa quanto Neville com a idéia
de voar. Isto não era coisa que se aprendesse de cor em um livro, não que ela não
tivesse tentado. No café da manhã de quinta-feira, deu um cansaço neles falando
sobre macetes de vôo que lera em um livro da biblioteca chamado
Quadribol através dos séculos. Neville praticamente se pendurava em
cada palavra que ela dizia, desesperado para aprender qualquer coisa que o
ajudasse a se segurar na vassoura mais tarde, mas todos os outros ficaram muito
felizes quando a conferência de Hermione foi interrompida pela chegada do
correio.
Harry não recebera nenhuma carta desde o bilhete de Hagrid, uma coisa
que Draco não demorara nada a notar, é claro. A coruja de Draco estava sempre
lhe trazendo de casa pacotes de doces, que ele abria fazendo farol na mesa da
Sonserina.
Uma coruja de curral trouxe para Neville um pacotinho da avó.
Ele o abriu excitado e mostrou a todos uma bolinha de vidro do tamanho
de uma bola de gude grande, que parecia cheia de fumaça branca.
— É um Lembrol! — explicou ele. — Vovó sabe que sou esquecido. Isto
serve para avisar que a gente esqueceu de fazer alguma coisa. Olhe, aperte
assim e ele fica vermelho, ah... — E ficou sem graça, porque o Lembrol de repente
emitiu uma luz escarlate.
— ... Você esqueceu alguma coisa...
Neville estava tentando se lembrar do que esquecera quando Draco, que
ia passando pela mesa da Grifinória, arrancou o Lembrol de sua mão.
Harry e Rony puseram-se imediatamente de pé. Andavam querendo um
motivo para brigar com Draco, mas a Professora Minerva, que era capaz de
identificar uma confusão mais depressa do que qualquer outro professor da
escola, num segundo estava lá.
— Que é que está acontecendo?
— Draco tirou o meu Lembrol, professora.
Mal-humorado, Draco mais do que depressa largou o Lembrol na mesa.
— Só estava olhando — falou, e saiu de fininho com Crabbe e Goyle na
esteira.
Às três e meia, aquela tarde, Harry, Rony e os outros garotos da Grifinória
desceram correndo as escadas que levavam para fora do castelo para a primeira
aula de vôo. Era um dia claro, com uma brisa fresca e a grama ondeava pelas
encostas sob seus pés ao caminharem em direção a um gramado plano que havia
do lado oposto à floresta proibida, cujas árvores balançavam sinistramente a
distância.
Os garotos da Sonserina já estavam lá, bem como as vinte vassouras
arrumadas em fileiras no chão. Harry ouvira Fred e Jorge Weasley se queixarem
das vassouras da escola, dizendo que havia umas que começavam a vibrar
quando voavam muito alto, ou sempre repuxavam ligeiramente para a esquerda.
A professora, Madame Hooch, chegou. Tinhas cabelos curtos e grisalhos
e olhos amarelos como os de um falcão.
— Vamos, o que é que estão esperando? — perguntou com rispidez. —
Cada um ao lado de uma vassoura. Vamos, andem logo.
Harry olhou para a vassoura. Era velha e tinha algumas palhas espetadas
para fora em ângulos estranhos.
— Estiquem a mão direita sobre a vassoura — mandou Madame Hooch
diante deles — e digam "Em pé!”.
— EM PÉ! —— gritaram todos.
A vassoura de Harry pulou imediatamente para sua mão, mas foi uma das
poucas que fez isso. A de Hermione Granger simplesmente se virou no chão e a
de Neville nem se mexeu.
Talvez as vassouras como os cavalos, percebessem quando a pessoa
estava com medo, pensou Harry, havia um tremor na voz de Neville, que dizia
com demasiada clareza que ele queria manter os pés no chão.
Madame Hooch, em seguida, mostrou-lhes como montar as vassouras
sem escorregar pela outra extremidade, e passou pelas fileiras de alunos
corrigindo a maneira de segurá-la. Harry e Rony ficaram contentes quando ela
disse a Draco que ele segurava a vassoura errado havia anos.
— Agora, quando eu apitar, dêem um impulso forte com os pés — disse a
professora. — Mantenham as vassouras firmes, saiam alguns centímetros do chão
e voltem a descer curvando o corpo um pouco para frente. Quando eu apitar...
Três... Dois..
Mas Neville, nervoso, assustado, e com medo que a vassoura o largasse
no chão, deu um impulso forte antes mesmo de o apito tocar os lábios de Madame
Hooch.
— Volte, menino! — gritou ela, mas Neville subiu como uma rolha que sai
sob pressão da garrafa, quatro metros, seis metros.
Harry viu a cara de Neville branca de medo espiando para o
chão enquanto ganhava altura, viu-o exclamar, escorregar de lado para fora da
vassoura e...
— BUM! — um baque surdo, um ruído de fratura e Neville caindo de borco
na grama, estatelado. Sua vassoura continuou a subir cada vez mais alto e
começou a flutuar sem pressa em direção à floresta proibida e desapareceu de
vista.
Madame Hooch se debruçou sobre Neville, o rosto tão branco quanto o
dele.
— Pulso quebrado — Harry ouviu-a murmurar — Vamos, menino, levantese.
Virou-se para o restante da classe.
— Nenhum de vocês vai se mexer enquanto levo este menino ao hospital!
Deixem as vassouras onde estão ou vão ser expulsos de Hogwarts antes de
poderem dizer "Quadribol". Vamos, querido.
Neville, o rosto manchado de lagrimas, segurando o pulso, saiu mancando
em companhia de Madame Hooch, que o abraçava pelos ombros.
Assim que se distanciaram e ficaram fora do campo de audição da classe,
Draco caiu na gargalhada.
— Vocês viram a cara dele, o panaca?
Os outros alunos da Sonserina fizeram coro.
— Cala a boca, Draco — retrucou Parvati Patil.
— Uuuu, defendendo o Neville? — disse Pansy Parkinson, uma aluna da
Sonserina de feições dura — Nunca pensei que você gostasse de manteiguinhas
derretidas, Parvati.
— Olhe! — disse Draco, atirando-se para frente e recolhendo alguma
coisa na grama. — É aquela porcaria que a avó do Neville mandou.
O Lembrol cintilou ao sol quando o garoto o ergueu.
— Me dá isso aqui, Draco — falou Harry em voz baixa. Todos pararam de
conversar para espiar, Draco soltou uma risadinha malvada.
— Acho que vou deixá-la em algum lugar para Neville apanhar, que tal em
cima de uma árvore?
— Me dá isso aqui — berrou Harry, mas Draco montara na vassoura e
saíra voando. Ele não mentira, sabia voar bem, e planando ao nível dos ramos
mais altos de um carvalho desafiou:
— Venha buscar, Potter!
Harry agarrou a vassoura.
— Não! — gritou Hermione Granger — Madame Hooch disse para a gente
não se mexer Vocês vão nos meter numa enrascada.
Harry não lhe deu atenção. O sangue palpitava em suas orelhas. Ele
montou a vassoura, deu um impulso com força e subiu, subiu alto, o ar passou
veloz pelo seu cabelo e suas vestes se agitaram com força para trás e numa onda
de feroz alegria ele percebeu que encontrara alguma coisa que era capaz de fazer
sem ninguém lhe ensinar. Isto era fácil, era maravilhoso. Puxou a vassoura para o
alto para subir ainda mais e ouviu gritos e exclamações das garotas lá no chão e
um viva de admiração do Rony. Virou a vassoura com um gesto brusco ficando de
frente para Draco, que planava no ar. O garoto estava abobalhado.
— Me dá isso aqui — mandou Harry — ou vou derrubar você
dessa vassoura!
— Ah é? — retrucou Draco, tentando caçoar, mas parecendo preocupado.
Harry de alguma maneira sabia o que fazer. Curvou-se para frente,
segurou a vassoura com firmeza com as duas mãos e ela disparou na direção de
Draco como uma lança. Draco só conseguiu escapar por um triz. Harry fez uma
curva fechada e manteve a vassoura firme. Algumas pessoas no chão aplaudiam.
— Aqui não tem Crabbe nem Goyle para salvarem sua pele, Draco —
berrou Harry.
O mesmo pensamento parecia ter ocorrido a Draco.
— Apanhe se puder, então! — gritou, e atirou a bolinha de cristal no ar e
voltou para o chão.
Harry viu, como se fosse em câmara lenta, a bolinha subir no ar e
começar a cair. Ele se curvou para frente e apontou o cabo da vassoura para
baixo, no instante seguinte estava ganhando velocidade num mergulho quase
vertical, apostando corrida com a bolinha. O vento assobiava em suas orelhas,
misturado aos gritos das pessoas que olhavam, ele esticou a mão a uns
trinta centímetros do solo agarrou-a, bem em tempo de levar a vassoura à posição
vertical, e caiu suavemente na grama com o Lembrol salvo e seguro na mão.
— HARRY POTTER!
Ele perdeu a animação mais depressa do que quando mergulhara. A
Professora Minerva vinha correndo em direção à turma.
Ele se levantou tremendo.
— Nunca... Em todo o tempo que estou em Hogwarts... — A Professora
Minerva quase perdeu a fala de espanto e seus óculos cintilavam sem parar. —...
Como é que você se atreve... Podia ter partido o pescoço...
— Não foi culpa dele, professora...
— Calada, Srta. Patil..
— Mas Draco...
— Chega, Sr. Weasley, Potter me acompanhe, agora.
Harry viu as caras vitoriosas de Draco, Crabbe e Goyle ao
sair acompanhando, espantado, a Professora Minerva, que seguiu para o castelo.
Ia ser expulso, sabia. Queria dizer alguma coisa para se defender, mas parecia ter
acontecido alguma coisa com a sua voz.
A Professora Minerva caminhava decidida, sem nem olhar para trás
ele tinha que correr para acompanhar seu passo. Agora se enrascara.
Não tinha durado nem duas semanas. Estaria fazendo as malas dali a dez
minutos. Que iriam dizer os Dursley quando ele aparecesse à porta da casa?
Subiram os degraus da entrada, subiram a escadaria de mármore, e a
Professora Minerva continuava a não dizer nada.
Escancarava portas e marchava pelos corredores com Harry trotando
infeliz atrás dela. Talvez ela o levasse a Dumbledore.
Pensou em Hagrid, aluno expulso a quem tinham permitido continuar na
escola como guarda-caça. Talvez virasse assistente de Hagrid. Seu estômago
revirava só de pensar, observando Rony e os outros se tornarem bruxos enquanto
ele andava pela propriedade carregando a bolsa de Hagrid.
A Professora Minerva parou à porta de uma sala de aula. Abriu a porta e
meteu a cabeça para dentro.
— Com licença, Professor Flitwick, posso pedir o Wood emprestado por
um instante?
“Wood?” pensou Harry, intrigado, Wood seria alguma coisa que ela ia usar
para castigá-lo?
Mas Wood afinal era uma pessoa, um menino forte do quinto ano, que
saiu da sala de Flitwick parecendo confuso.
— Vocês dois me sigam — disse a Professora Minerva, e
continuaram todos pelo corredor, Wood examinando Harry com curiosidade.
— Entrem.
A Professora Minerva indicou uma sala de aula que estava vazia exceto
por Pirraça, que se ocupava em escrever palavrões no quadro-negro.
— Fora, Pirraça! — ordenou ela. Pirraça atirou o giz em uma cesta,
produzindo um eco metálico e alto e saiu xingando. A Professora Minerva bateu a
porta atrás dele e virou-se para encarar os dois garotos.
— Harry Potter, este é Olívio Wood. Olívio... Encontrei um apanhador para
você.
A expressão de Olívio mudou de confusão para prazer.
— Está falando sério, professora?
— Seríssimo — resumiu a Professora Minerva. — O menino tem
um talento natural. Nunca vi nada parecido. Foi a primeira vez que montou numa
vassoura, Harry?
Harry confirmou com a cabeça. Não tinha a menor idéia do que estava
acontecendo, mas parecia que não estava sendo expulso, e começou a recuperar
um pouco da sensibilidade nas pernas.
— Ele apanhou aquela coisa com a mão depois de um mergulho de mais
de 15 metros — a Professora Minerva contou a Wood.
— Não sofreu um único arranhão. Nem Carlinhos Weasley seria capaz de
fazer igual.
Olívio parecia agora alguém cujos sonhos tinham virado realidade, todos
ao mesmo tempo.
— Você já assistiu a um jogo de Quadribol, Potter? — perguntou excitado.
— Wood é o capitão do time da Grifinória — explicou a Professora
Minerva.
— E tem o físico perfeito para um apanhador — acrescentou Olívio agora
andando a volta de Harry, examinando-o. — Leve, veloz, vamos ter de arranjar
uma vassoura decente para ele, professora, uma Nimbus 2000 ou uma
Cleansweep-7, na minha opinião.
— Vou conversar com o professor Dumbledore e ver se podemos
contornar o regulamento para o primeiro ano. Deus sabe que precisamos de um
time melhor do que o do ano passado. Esmagado naquele último jogo contra os
sonserinos. Mal consegui encarar Severo Snape no rosto durante semanas...
A Professora Minerva espiou Harry com severidade por cima dos óculos.
— Quero ouvir falar que você está treinando com vontade, Potter, ou
posso mudar de idéia quanto ao castigo que merece.
Então, inesperadamente, ela sorriu.
— Seu pai teria ficado orgulhoso. Era um excelente jogador de Quadribol.
— Você está brincando.
Era hora do jantar. Harry acabara de contar a Rony o que acontecera
quando deixara os jardins da propriedade com a Professora Minerva. Rony tinha
um pedaço de bife e pastelão de rins a meio caminho da boca, mas esqueceu o
que estava fazendo.
— Apanhador? — exclamou. — Mas os alunos do primeiro ano nunca,
você vai ser o jogador da casa mais novo do último...
— Século — completou Harry, enfiando o pastelão na boca.
Sentia-se particularmente faminto depois da agitação da tarde.
— Olívio me disse.
Rony estava tão admirado, tão impressionado, que ficou ali sentado de
boca aberta para Harry.
— Vou começar a treinar na próxima semana — anunciou Harry.
— Só não conte a ninguém, Olívio quer fazer segredo.
Fred e Jorge Weasley entraram nesse momento no salão, viram Harry e
foram depressa falar com ele.
— Grande lance — falou Jorge em voz baixa. — Olívio nos contou. —
Estamos no time também... Batedores.
— Sabe de uma coisa, tenho certeza de que vamos ganhar a taça de
Quadribol deste ano — disse Fred. — Não ganhamos desde que Carlinhos
terminou a escola, mas o time deste ano vai ser brilhante. Você deve ser bom,
Harry, Olívio estava quase dando pulinhos quando nos contou.
— Em todo o caso, temos de ir, Lino Jordan acha que encontrou uma
nova passagem secreta para sair da escola.
Fred e Jorge mal tinham desaparecido quando alguém menos bem-vindo
apareceu: Draco, ladeado por Crabbe e Goyle.
— Comendo a última refeição, Harry? Quando vai pegar o trem de volta
para a terra dos trouxas?
— Você está bem mais corajoso agora que voltou ao chão e
está acompanhado por seus amiguinhos — disse Harry tranqüilo. Não havia nada
"inho" em Crabbe nem em Goyle, mas como a mesa principal estava repleta de
professores, os garotos só podiam estalar as juntas e fazer cara feia.
— Enfrento você a qualquer hora sozinho — disse Draco. — Hoje à noite,
se você quiser. Duelo de bruxos. Só varinhas, sem contato. Que foi? Nunca ouviu
falar de duelo de bruxos, suponho?
— Claro que já — respondeu Rony virando-se. Vou ser o padrinho dele,
quem vai ser o seu?
Draco mirou Crabbe e Goyle medindo-os.
— Crabbe, meia-noite está bem? Nos encontramos na sala de troféus,
está sempre destrancada.
Quando Draco foi embora, Rony e Harry se entreolharam.
— O que é um duelo de bruxos? — perguntou Harry. — E o que você quis
dizer quando se ofereceu para ser meu padrinho?
— Bom, o padrinho fica lá para tomar o seu lugar se você morrer — disse
Rony com displicência, começando finalmente a comer o pastelão frio.
Surpreendido com a expressão no rosto de Harry, acrescentou bem depressa:
— Mas as pessoas só morrem em duelos de verdade, sabe, com bruxos
de verdade. O máximo que você e Draco conseguirão fazer será atirar fagulhas
um no outro. Nenhum dos dois conhece magia suficiente para fazer estragos. Mas
aposto que ele esperava que você recusasse.
— E se eu agitar minha varinha e nada acontecer?
— Jogue a varinha fora e meta-lhe um soco na cara — sugeriu Rony.
— Com licença.
Os dois ergueram os olhos. Era Hermione Granger.
— Será que a pessoa não pode comer sossegada neste lugar? —
exclamou Rony.
Hermione não ligou para ele e se dirigiu a Harry.
— Não pude deixar de ouvir o que você e Draco estavam dizendo...
— Aposto que podia — resmungou Rony.
— E você não deve andar pela escola à noite, pense nos pontos que vai
perder para a Grifinória se for pego, vai ser muito egoísmo da sua parte.
— É, para falar a verdade, não é da sua conta — respondeu Harry.
— Tchau — disse Rony.
Em todo o caso, não era o que se poderia chamar de um final perfeito
para o dia, pensou Harry, muito mais tarde, deitado na cama sem dormir,
percebendo Dino e Simas adormecerem.
(Neville não voltara do hospital). Rony passou a noite toda lhe dando
conselhos do tipo "Se ele tentar lançar um feitiço, é melhor você tirar o corpo fora,
porque não consigo me lembrar como se fecha o corpo". Havia uma boa chance
de serem pegos por Filch ou por Madame Nor-r-ra, e Harry sentiu que estava
abusando da sorte, desrespeitando mais um regulamento da escola no
mesmo dia. Por outro lado, a cara de deboche de Draco não parava de
lhe aparecer no escuro. Essa era sua grande oportunidade de vencer Draco cara a
cara. Não podia perdê-la.
— Onze e trinta — Rony cochichou finalmente, é melhor irmos.
Eles vestiram os robes, apanharam as varinhas e
atravessaram sorrateiros o quarto da torre, desceram a escada em espiral
e entraram na sala comunal da Grifinória. Algumas brasas ainda rutilavam na
lareira, transformando todas as poltronas em sombras corcundas. Tinham quase
chegado à abertura no retrato quando uma voz falou da poltrona mais próxima.
— Não posso acreditar que você vai fazer isso, Harry.
Uma lâmpada se acendeu. Era Hermione Granger, de robe cor-de-rosa e
cara fechada.
— Você! — exclamou Rony furioso. — Volte para a cama!
— Quase contei ao seu irmão — retorquiu Hermione. — Percy, ele é
monitor, ia acabar com essa história.
Harry não conseguiu acreditar que alguém pudesse ser tão metido.
— Vamos — chamou Rony. Afastou o retrato da Mulher Gorda com um
empurrão e passou pela abertura.
Hermione não ia desistir com tanta facilidade. Seguiu Rony pela abertura
do retrato, sibilando para os dois como um ganso raivoso.
— Vocês não se importam com a Grifinória, vocês só se importam com
vocês mesmos, eu não quero que a Sonserina ganhe a Taça da Casa e vocês vão
perder todos os pontos que ganhei com a Professora Minerva por saber a Troca
de Feitiços.
— Vai embora.
— Tudo bem, mas eu preveni vocês, lembrem-se do que eu disse quando
estiverem amanhã no trem voltando para casa, vocês são tão...
Mas o que eram, eles não chegaram saber. Hermione se virara para o
retrato da Mulher Gorda para tornar a entrar e se viu diante de um quadro vazio. A
Mulher Gorda tinha saído para fazer uma visita noturna e Hermione ficou trancada
do lado de fora da torre da Grifinória.
— Agora o que é que eu vou fazer? — perguntou com a voz esganiçada.
— O problema é seu — disse Rony. — Nós temos de ir, se não vamos nos
atrasar.
Nem tinham chegado ao fim do corredor quando Hermione os alcançou.
— Vou com vocês.
— Não vai, não.
— Vocês acham que vou ficar parada aqui, esperando o Filch me pegar?
Se ele encontrar os três, conto a verdade, que eu estava tentando impedir vocês
de saírem e vocês podem confirmar.
— Mas que cara-de-pau — disse Rony bem alto.
— Calem a boca, vocês dois — disse Harry bruscamente. — Ouvi uma
coisa.
Era como se alguém estivesse farejando.
— Madame Nor-r-ra? — murmurou Rony, apertando os olhos para
enxergar no escuro.
Não era Madame Nor-r-ra. Era Nevil1e. Estava enroscado no chão,
dormindo a sono solto, mas acordou repentinamente assustado quando eles se
aproximaram.
— Graças a Deus que vocês me encontraram! Estou aqui há horas, não
consegui me lembrar da nova senha para entrar no quarto.
— Fale baixo, Neville. A senha é "focinho de porco", mas não vai lhe
adiantar nada agora, a Mulher Gorda saiu.
— Como está o braço? — perguntou Harry.
— Ótimo — disse Neville mostrando. — Madame Pomfrey consertou-o na
hora.
— Que bom, olhe, Neville, temos que estar em um lugar, vemos você
depois.
— Não me deixem aqui! — pediu Neville pondo-se de pé. — Não quero
ficar sozinho, o barão Sangrento já passou por aqui duas vezes.
Rony consultou o relógio e em seguida fez uma cara furiosa para
Hermione e Neville.
— Se formos pegos por causa de vocês, não vou sossegar até aprender
aquela Poção do Morto-Vivo que Quirrell falou e vou usá-la contra vocês.
Hermione abriu a boca, talvez para dizer a Rony exatamente como usar o
Feitiço do Morto-Vivo, mas Harry mandou-a ficar quieta e fez sinal para
prosseguirem.
Passaram quase voando pelos corredores listrados pelo luar que entrava
pelas grades das janelas altas. A cada curva Harry esperava topar com Filch ou
com Madame Nor-r-ra, mas tiveram sorte.
Subiram correndo uma escada até o terceiro andar e, nas pontas dos pés,
dirigiu-se à sala dos troféus.
Draco e Crabbe ainda não tinham chegado. As vitrines de cristal onde
estavam guardados os troféus refulgiam quando tocadas pelo luar. Taças,
escudos, pratos e estátuas piscavam no escuro com lampejos prateados e
dourados. Eles caminharam rente às paredes, mantendo os olhos nas portas de
cada lado da sala.
Harry tirou a varinha da caixa para o caso de Draco aparecer de repente e
começar a duelar. Os minutos passaram vagarosos.
— Ele está atrasado, quem sabe se acovardou — Rony sussurrou. Então
uma batida na sala ao lado os sobressaltou, acabara de erguer a varinha quando
ouviram alguém falar e não era Draco.
— Vá farejando, minha querida, eles podem estar escondidos em algum
canto.
Era Filch falando com Madame Nor-r-ra. Horrorizado, Harry fez sinais
frenéticos para os outros três o seguirem o mais depressa possível, e fugiram
silenciosos em direção à porta mais distante da voz de Filch. As vestes de Neville
mal tinham acabado de passar a curva quando ouviram Filch entrar na sala dos
troféus.
— Eles estão por aqui — ouviram-no resmungar —,
provavelmente escondidos.
— Por aqui! — disse Harry, apenas mexendo a boca, para os outros e,
petrificados, eles começaram a descer uma longa galeria cheia de armaduras.
Podiam ouvir Filch se aproximando. Neville de repente, soltou um guincho
assustado e saiu correndo.
Tropeçou, agarrou Rony pela cintura e os dois desabaram em cima de
uma armadura.
A queda e o estrépito foram suficientes para acordar o castelo inteiro.
— CORRAM! — gritou Harry e os quatro desembestaram pela galeria,
sem virar a cabeça para ver se Filch os seguia. Fizeram a curva firmando-se no
alisar da porta e saíram galopando por um corredor atrás do outro, Harry na
liderança, sem a menor idéia de onde estavam nem que direção tomava.
Atravessaram uma tapeçaria, rasgando-a e encontraram uma passagem
secreta, precipitaram-se por ela e foram sair perto da sala de aula de Feitiços, que
sabiam estar a quilômetros da sala dos troféus.
— Acho que o despistamos — ofegou Harry, apoiando-se na parede fria e
enxugando a testa. Neville estava dobrado em dois, chiava e falava
desconexamente.
— Eu... Disse... A vocês — Hermione falou sem fôlego, agarrando o
bordado no peito. — Eu... Disse... A vocês.
— Temos de voltar à torre de Grifinória — lembrou Rony —, o mais rápido
possível.
— Draco enganou você — disse Hermione a Harry. — Já percebeu isso,
não? Não ia enfrentar você. Filch sabia que alguém ia estar na sala dos troféus.
Draco deve ter contado a ele.
Harry achou que ela provavelmente tinha razão, mas não ia dar o braço a
torcer.
— Vamos.
Não ia ser tão simples Não tinham caminhado nem dez passos quando
ouviram o barulho de uma maçaneta e alguma coisa disparou da sala de aula à
frente deles.
Era Pirraça. Avistou os garotos e soltou um guincho de prazer.
— Cale a boca, Pirraça, por favor, você vai fazer a gente ser expulso.
Pirraça soltou uma gargalhada.
— Passeando por aí à meia-noite, aluninhos? Tsk, tsk. Que feinhos, vão
ser apanhadinhos.
— Não, se você não nos denunciar, Pirraça, por favor.
— Devia contar ao Filch, devia — disse Pirraça bem comportado, mas
seus olhos cintilaram de maldade. — É para o seu próprio bem, sabem?
— Saia da frente — disse Rony com rispidez, baixando o braço em
Pirraça. Foi um grande erro.
— ALUNOS FORA DÁ CAMA! — berrou Pirraça. — ALUNOS FORA DA
CAMA NO CORREDOR DO FEITIÇO!
Passando por baixo de Pirraça eles saíram desembalados até o final do
corredor onde depararam com uma porta... Fechada.
— Acabou-se! — gemeu Rony, empurrando inutilmente a porta —
Estamos ferrados! É o fim!
Ouviram passos, Filch correndo a toda em direção aos gritos de Pirraça.
— Ah, sai da frente — Hermione resmungou aborrecida.
Agarrando a varinha de Harry, bateu na fechadura e murmurou:
— Alorromora!
A fechadura deu um estalo e a porta se abriu, eles se atropelaram por ela,
fecharam-na e apuraram os ouvidos, à escuta.
— Para que lado eles foram, Pirraça? — era Filch perguntando. —
Depressa, me diga.
— Peça "por favor".
— Não me enrole, Pirraça, vamos, para que lado eles foram?
— Não digo nada se você não pedir "por favor" — disse Pirraça na
cantilena irritante com que falava.
— Está bem, “por favor”.
— NADA! Nada haaa! Eu disse a você que não dizia nada se você não
pedisse por favor! Ha ha! Haaaaaa! — E ouviram Pirraça voar rápido para longe e
Filch xingar com raiva.
— Ele acha que a porta está trancada! — Harry falou. — Acho
que escapamos. Sai para lá, Neville! — Neville puxava a manga do robe de Harry
fazia um minuto. — Que foi?
Harry se virou e viu, muito claramente, o que foi. Por um instante teve a
certeza de que entrara num pesadelo, era demais depois de tudo o que já
acontecera.
Não estavam numa sala, conforme ele supusera. Achavam-se num
corredor O corredor proibido do terceiro andar E agora sabiam por que era
proibido.
Estavam encarando os olhos de um cachorro monstruoso, um cachorro
que ocupava todo o espaço entre o teto e o piso. Tinha três cabeças. Três pares
de olhos que giravam enlouquecidos. Três narizes, que franziam e estremeciam
farejando-os. Três bocas babosas, a saliva escorrendo em cordões viscosos das
presas amarelas.
Estava muito firme, os olhos a observá-los, e Harry sabia que a única
razão por que ainda estavam vivos era que o seu repentino aparecimento
apanhara o cachorro de surpresa, mas ele já estava se recuperando e depressa,
não havia dúvida quanto ao significado daqueles rosnados de ensurdecer.
Harry tateou a procura da maçaneta. Entre Filch e a morte, ficava com o
Filch.
Retrocederam. Harry bateu a porta e eles correram, quase voaram pelo
corredor, Filch devia ter tido pressa para procurá-los em outro lugar porque não o
viram em parte alguma, mas nem se importaram. A única coisa que queriam era
abrir a maior distância possível entre eles e o monstro. Não pararam de correr
até chegarem ao retrato da Mulher Gorda no sétimo andar.
— Onde foi que vocês andaram? — perguntou ela, olhando para os robes
que caiam soltos dos ombros e os rostos vermelhos e suados.
— Não interessa. Focinho de porco, focinho de porco — ofegou Harry, e o
quadro girou para frente. Eles entraram de qualquer jeito na sala comunal e
desmontaram, trêmulos, nas poltronas.
Levou algum tempo até um deles falar alguma coisa. Neville, então,
parecia que nunca mais voltaria a falar.
— Que é que vocês acham que eles estão querendo, com uma coisa
daquelas trancada numa escola? — perguntou Rony finalmente. — Se existe um
cachorro que precisa de exercícios é aquele.
Hermione tinha recuperado tanto o fôlego quanto o mau humor.
— Vocês não usam os olhos, vocês todos, usam? — perguntou
com rispidez. — Vocês não viram em cima do que ele estava?
— No chão? — arriscou Harry. — Eu não fiquei olhando para as patas,
estava ocupado demais com as cabeças.
— Não, não estou falando do chão. Ele estava em cima de um alçapão. É
claro que está guardando alguma coisa.
Ela se levantou olhando feio para ele.
— Espero que estejam satisfeitos com o que fizeram. Podíamos ter sido
mortos, ou pior, expulsos. Agora, se vocês não se importam, eu vou me deitar.
Rony ficou olhando para ela, de boca aberta.
— Não, não nos importamos. Qualquer um pensaria que nós a arrastamos
conosco, não é mesmo.
Mas Hermione tinha dado a Harry algo em que pensar quando voltou para
a cama. O cachorro estava guardando alguma coisa...
Que era que Hagrid tinha dito? Gringotes era o lugar mais seguro do
mundo quando se queria esconder alguma coisa, com exceção talvez de
Hogwarts.
Parecia que Harry descobrira onde o pacotinho encalombado do cofre
setecentos e treze tinha ido parar.

CAPÍTULO DEZ
O Dia das Bruxas

Draco não consegui acreditar em seus olhos quando viu que Harry e Rony
continuavam em Hogwarts no dia seguinte, parecendo cansados, mas
absolutamente felizes. De fato, na manhã seguinte Harry e Rony começaram a
achar que o encontro com o cachorro de três cabeças fora uma excelente
aventura e estavam prontos para outra. Entrementes Harry contou a Rony sobre
o pacotinho que parecia ter sido levado de Gringotes para Hogwarts, e passaram
muito tempo pensando no que poderia precisar de tanta proteção.
— Ou é uma coisa realmente valiosa ou realmente perigosa — falou Rony.
— Ou as duas — acrescentou Harry.
Mas como só o que sabiam com certeza sobre o misterioso objeto era que
media uns cinco centímetros de comprimento, não tinham muita possibilidade de
adivinhar o seu conteúdo sem outras pistas.
Nem Neville nem Hermione mostraram o menor interesse pelo que estava
sob os pés do cachorro e do alçapão. Neville só estava interessado em quando
iria chegar perto do cachorro outra vez.
Hermione agora se recusava a falar com Harry e Rony, mas era uma
menina tão mandona e metida a saber de tudo que eles encararam sua atitude
como um prêmio. Agora só o que realmente queriam era descobrir um jeito de se
vingar do Draco, e para sua grande satisfação, a oportunidade chegou pelo correio
mais ou menos uma semana depois.
Quando as corujas invadiram o salão como de costume, a atenção de
todos foi atraída por um longo pacote carregado por seis corujonas. Harry sentiu
tanta curiosidade quanto os outros para ver o que havia no pacote e se
surpreendeu quando as corujas desceram planando e o largaram bem diante dele,
derrubando o seu bacon no chão. Mal tinham se afastado quando outra
coruja deixou cair uma carta em cima do pacote.
Harry abriu a carta primeiro, o que foi uma sorte, porque ela dizia:
“NÃO ABRA O PACOTE À MESA.
Ele contem a sua nova Nimbus 2000, mas não quero que
todo o mundo saiba que você ganhou uma vassoura ou todos vão
querer uma.
Olívio Wood vai esperá-lo hoje à noite às sete horas no
campo de Quadribol para a sua primeira sessão de treinamento.
Professora Minerva McGonagall”.
Harry teve dificuldade em esconder a alegria quando passou o bilhete
para Rony ler.
— Uma Nimbus 2000! — Rony gemeu de inveja. — Eu nunca nem pus a
mão em uma.
Os dois saíram depressa do salão, querendo desembrulhar a vassoura
sozinhos antes da primeira aula, mas no meio do saguão de entrada encontraram
o caminho barrado por Crabbe e Goyle.
Draco tirou o pacote de Harry e apalpou-o.
— É uma vassoura — falou, atirando-o de volta a Harry com
uma expressão de inveja e despeito no rosto. — Você vai se ferrar desta vez,
Potter, alunos do primeiro ano não podem ter vassouras.
Rony não conseguiu resistir.
— Não é uma vassoura velha qualquer, é uma Nimbus 2000. Que foi que
você disse que tem em casa, Draco, uma Comet 260? — Rony riu para Harry — A
Comet enche os olhos, mas não tem a mesma classe da Nimbus.
— Que é que você entende disso Weasley? Você não poderia comprar
nem a metade do cabo. Vai ver você e seus irmãos têm que economizar para
comprar palha por palha.
Antes que Rony pudesse responder, o professor Flitwick apareceu ao lado
de Draco.
— Não estão brigando, meninos, espero — falou com voz esganiçada.
— Potter recebeu uma vassoura, professor — disse Draco, depressa.
— Eu sei — respondeu o professor Flitwick, abrindo um grande sorriso
para Harry. – A Professora Minerva me falou das circunstâncias especiais, Potter.
E qual é o modelo?
— Uma Nimbus 2000, professor — informou Harry, lutando para não rir da
expressão horrorizada no rosto de Draco. — E, para falar a verdade, foi graças ao
Draco aqui que ganhei a vassoura — acrescentou.
Harry e Rony subiram as escadas sufocando o riso diante da raiva e
confusões visíveis de Draco.
— É verdade — disse Harry, caindo na gargalhada, quando chegaram ao
alto da escadaria de mármore. — Se ele não tivesse roubado o Lembrol do Neville
eu não estaria no time.
— Então suponho que você ache que ganhou um prêmio por desobedecer
ao regulamento? — Ouviu-se uma voz zangada logo atrás deles. Hermione subia
com passos decididos a escadaria, olhando com desaprovação para o pacote nas
mãos de Harry.
— Pensei que você não estava falando com a gente — comentou Harry.
— E, continue a não falar — falou Rony — está fazendo tanto bem a
gente.
Hermione se afastou com o nariz empinado.
Harry teve muita dificuldade em se concentrar nas aulas daquele dia. Seus
pensamentos não paravam de vagar até o dormitório onde guardara a vassoura
debaixo da cama, ou de se desviarem para o campo de Quadribol onde iria
aprender a jogar. Jantou depressa à noite, sem ao menos reparar no que
estava comendo e, em seguida, correu até o quarto com Rony para finalmente
desembrulhar a Nimbus 2000.
— Uau! — suspirou Rony, quando a vassoura apareceu na cama de
Harry.
Até Harry, que não entendia nada de vassouras e suas diferenças, achou
que a Nimhus tinha uma aparência fantástica.
Aerodinâmica e reluzente com um cabo de mogno, a vassoura tinha uma
longa cauda de palhas limpas e retas e a marca Nimbus 2000 escrita a ouro
próximo ao punho.
Quando eram quase sete horas, Harry saiu do castelo e se dirigiu ao
campo de Quadribol no lusco-fusco. Nunca estivera no estádio antes. Havia
centenas de lugares em uma arquibancada em volta do campo de modo que os
espectadores viam o que acontecia do alto. Em cada ponta do campo havia três
balizas douradas com aros no topo lembraram a Harry os canudinhos de plástico
que as crianças trouxas usavam para soprar bolinhas de sabão, só que tinham
mais de 15 metros de altura.
Ansioso demais para esperar Olívio sem voar, Harry montou a vassoura e
deu um impulso. Que sensação, ele mergulhou pelas balizas, subiu e desceu pelo
campo. A Nimbus 2000 ia aonde ele queria ao menor toque.
— Ei, Potter, desça!
Olívio Wood chegara. Carregava uma grande caixa de madeira debaixo do
braço. Harry pousou ao lado dele.
— Muito bom — comentou Olivio, os olhos brilhando. — Estou vendo o
que foi que Minerva quis dizer... Você realmente tem um talento natural. Hoje à
noite só vou lhe ensinar as regras do jogo, depois você vem aos treinos do time
três vezes por semana.
Ele abriu a caixa. Dentro havia quatro bolas de tamanhos diferentes.
— Certo — disse Olívio. — O Quadribol é muito fácil de entender, mesmo
que não seja fácil de jogar. Tem sete jogadores de cada lado. Três deles são
artilheiros.
— Três artilheiros — Harry repetiu, enquanto Olívio apanhava uma bola
muito vermelha do tamanho aproximado de uma bola de futebol.
— Esta bola se chama goles — explicou Olívio. — Os artilheiros atiram a
goles um para o outro e tentam metê-la em um dos aros para marcar um gol. Dez
pontos todas as vezes que a goles passa por um dos arcos. Está me
acompanhando?
— Os artilheiros atiram a goles pelos aros para marcar pontos — repetiu
Harry — Então é como um basquete com seis cestas e vassouras, não é?
— O que é basquete? — perguntou Olívio curioso.
— Deixa pra lá — disse Harry na mesma hora.
— Agora, tem outro jogador, um para cada lado, que é chamado goleiro.
Eu sou o goleiro de Grifinória. Tenho que voar em volta dos aros para impedir que
o outro time marque pontos.
— Três artilheiros, um goleiro — disse Harry, que estava decidido a
decorar tudo — E jogam uma goles, OK entendi. E essas para que servem? —
Apontou para as três bolas restantes na caixa.
— Vou lhe mostrar agora. Segure aqui.
Ele entregou um pequeno bastão a Harry, meio parecido com um bastão
de beisebol.
— Vou lhe mostrar o que os balaços fazem. Essas duas aqui são os
balaços.
E mostrou a Harry duas bolas iguais, pretas e ligeiramente menores do
que a goles vermelha. Harry reparou que elas pareciam estar fazendo força para
se livrar das correntes que as prendiam na caixa.
— Fique longe — Olívio preveniu Harry. Ele se curvou e soltou um dos
balaços.
Na mesma hora, a bola preta saiu voando e em seguida desceu direto
contra o rosto de Harry. Harry golpeou-a como bastão para impedi-la de quebrar o
seu nariz e mandou-a ziguezagueando para longe, ela passou veloz pelas
cabeças deles e, em seguida, atirou-se contra Olívio, que mergulhou sobre ela e
conseguiu imobilizá-la no chão.
— Está vendo? — Olívio ofegou, forçando o balaço indócil de volta à caixa
e passando a correia para prendê-lo. — Os balaços voam pelo ar tentando
derrubar os jogadores das vassouras. E por isso que tem dois batedores em cada
time. Os gêmeos Weasley são os nossos. A função deles é proteger o time dos
balaços e tentar rebatê-los para o outro time. Então, acha que guardou tudo?
— Três artilheiros tentam marcar pontos com a goles o goleiro guarda as
balizas os batedores afastam os balaços do seu time — Harry repetiu como um
gravador.
— Muito bem.
— Hum... Os balaços já mataram alguém? — perguntou Harry, esperando
parecer displicente.
— Nunca em Hogwarts. Já tivemos uns queixos quebrados, mas nada
mais serio. Agora, o último membro da equipe é o apanhador: você. E você não
tem que se preocupar com a goles nem com os balaços.
— A não ser que rachem a minha cabeça.
— Não se preocupe, os Weasley são uma parada para os balaços, quero
dizer, eles parecem uns balaços humanos.
Olívio meteu a mão no caixote e tirou a quarta e última bola.
Comparada com a goles e os balaços, era pequenininha, mais ou menos
do tamanho de uma noz. Era de ouro polido e tinha asinhas de prata que se
agitavam.
— Este é o pomo de ouro, e é a bola mais importante de todas. É muito
difícil de se apanhar porque é veloz e pouco visível. A função dos apanhadores é
agarrá-la. Eles têm que se meter entre os artilheiros, batedores, balaços e a goles
para agarrá-lo antes do apanhador do time contrário, porque o apanhador que
agarra o pomo ganha para o seu time mais cento e cinqüenta pontos, o
que praticamente lhe dá a vitória. É por isso que os apanhadores levam tantas
faltas. Um jogo de Quadribol só termina quando o pomo é apanhado, o que pode
demorar uma eternidade. Acho que o recorde é três meses e precisaram arranjar
substitutos para os jogadores poderem dormir um pouco — explicou Olívio — É
isso aí alguma pergunta?
Harry sacudiu a cabeça. Compreendeu muito bem o que tinha de fazer.
Fazer é que ia ser o problema.
— Não vamos praticar com o pomo — disse Olívio, guardandoo
cuidadosamente de volta na caixa. — Está escuro demais e poderíamos perdêlo.
Vamos experimentar com outras bolas.
E tirou do bolso um saco de bolas comuns de golfe e alguns minutos
depois ele e Harry estavam no ar, Olívio atirando as bolas com toda a força para
todos os lados e Harry apanhando-as.
Harry não perdeu nenhuma, e Olívio ficou encantado. Passou-se meia
hora, a noite chegou e eles não puderam continuar.
— Aquela taça de Quadribol terá o nosso nome este ano — disse Olívio
feliz quando voltavam cansados ao castelo. — Eu não me espantaria se você se
saísse melhor que Carlinhos, e ele poderia ter jogado na seleção da Inglaterra se
não tivesse ido embora caçar dragões.
Talvez fosse porque agora andava muito ocupado com o treino de
Quadribol três noites por semana além dos deveres de casa, mas Harry nem
acreditou quando se deu conta de que já estava em Hogwarts havia dois meses.
O castelo parecia mais sua casa do que a casa da tia na Rua dos Alfeneiros. As
aulas, também, estavam se tornando cada dia mais interessantes, agora que
dominara os conhecimentos básicos.
Na manhã do Dia das Bruxas eles acordaram com um delicioso cheiro de
abóbora assada que se espalhava pelos corredores. E, o que era ainda melhor, o
Professor Flitwick anunciou na aula de Feitiços que, em sua opinião, os alunos
estavam prontos para começar a fazer objetos voarem, uma coisa que
andavam morrendo de vontade de experimentar desde que viram o
professor fazer o sapo de Neville sair voando pela sala. O Professor
Flitwick dividiu a turma em pares para praticar O parceiro de Harry foi Simas
Finnigan (um alívio, porque Neville tinha tentado atrair sua atenção). Mas Rony
teria que trabalhar com Hermione Granger. Era difícil dizer se era Rony ou
Hermione que estava mais aborrecido com isso. Ela não falava com nenhum dos
dois desde o dia em que a vassoura de Harry chegara.
— Agora, não se esqueçam daquele movimento com o pulso
que praticamos! — falou esganiçado o Professor Flitwick, como
sempre empoleirado no alto da pilha de livros. — Gira e sacode, lembrem-se, gira
e sacode. E digam as palavras mágicas corretamente, é muito importante,
também, lembrem-se do bruxo Barrufo, que disse "s" em vez de "f" e quando viu
estava no chão com um búfalo em cima do peito.
Era muito difícil. Harry e Simas giraram e sacudiram o pulso, mas a pena
que deviam mandar para o alto continuava parada em cima da mesa. Simas ficou
tão impaciente que a empurrou com a varinha e tocou fogo nela. Harry teve que
apagar o fogo com o chapéu.
Rony na mesa ao lado, não estava tendo muita sorte.
-Vingardium lenviosa — ordenou, sacudindo os braços compridos como
pás de moinho.
— Você está dizendo o feitiço errado — Harry ouviu Hermione corrigir
aborrecida. — É ving-gar-dium levi-o-sa é bem pronunciado e longo.
— Diz você então, que é tão sabichona — retrucou Rony.
Hermione enrolou as mangas das vestes, bateu a varinha e disse:
— Vingardium leviosa.
A pena se ergueu da mesa e pairou a mais de um metro acima da cabeça
deles.
— Ah, muito bem! — exclamou o professor Flitwich, batendo palmas. —
Pessoal, olhe aqui, a Hermione Granger conseguiu!
Rony estava de muito mau humor na altura em que a aula terminou.
— Não admira que ninguém suporte ela — disse a Harry
quando procuravam chegar ao corredor. — Francamente, ela é um pesadelo.
Alguém deu um esbarrão em Harry ao passar. Era Hermione.
Harry viu seu rosto de relance e ficou assustado ao ver que ela estava
chorando.
— Acho que ela ouviu o que você disse.
— E dai! — mas pareceu meio sem graça. — Ela já deve ter reparado que
não tem amigos.
Hermione não apareceu na aula seguinte e ninguém a viu a tarde inteira.
Ao descerem ao salão principal para a festa das bruxas, Harry e Rony
ouviram Parvati contar à amiga Lilá que Hermione estava chorando no banheiro
das meninas e queria que a deixassem em paz. Rony ficou ainda mais sem graça
ao ouvir isso, mas no momento seguinte entraram no salão principal, onde as
decorações do Dia das Bruxas tiraram Hermione de suas cabeças.
Mil morcegos vivos esvoaçavam nas paredes e no teto e outros
mil mergulhavam sobre as mesas em nuvens negras e baixas, fazendo dançarem
as velas dentro das abóboras. A comida apareceu de repente nos pratos de ouro,
como acontecera no banquete de abertura das aulas.
Harry estava se servindo de uma batata assada em casca quando o
Professor Quirrell entrou correndo no salão, o turbante torto na cabeça e o terror
estampado no rosto. Todos olharam quando ele se aproximou da cadeira de
Dumbledore, escorou-se na mesa e ofegou.
— Trasgo.. Nas masmorras... Achei que devia lhe dizer. — Em seguida
desabou no chão desmaiado. Houve um alvoroço. Foi preciso explodirem várias
bombinhas da ponta da varinha do Professor Dumbledore para as pessoas
fazerem silêncio.
— Monitores — disse ele com voz grave e retumbante —, levem os alunos
de suas casas de volta aos dormitórios, imediatamente!
Era com Percy mesmo.
— Me acompanhem! Fiquem juntos, alunos do primeiro ano! Não
precisam ter medo do trasgo se seguirem as minhas ordens! Agora fiquem bem
atrás de mim. Abram caminho para os alunos do primeiro ano passarem! Com
licença, sou o monitor!
— Como é que um trasgo pode entrar? — perguntou Harry enquanto
subiam a escadaria.
— Não me pergunte, dizem que eles são bem burros — respondeu Rony
— Vai ver o Pirraça deixou ele entrar para pregar uma peça no Dia das Bruxas.
Eles passaram por diferentes grupos de pessoas que se apressavam em
diferentes direções. Enquanto lutavam para passar por um bolinho de alunos de
Lufa-Lufa, Harry de repente agarrou o braço de Rony.
— Acabei de me lembrar da Hermione.
— O que tem ela?
— Ela não sabe que tem um trasgo aqui.
Rony mordeu o lábio.
— Ah, está bem — falou ríspido. — Mas é melhor Percy não ver a gente.
Abaixando-se, eles se misturaram aos alunos da Lufa-Lufa que iam à
direção contrária, escapuliram por um lado deserto do corredor e correram para os
banheiros das meninas. Tinham acabado de virar um canto quando ouviram
passos apressados atrás deles.
— Percy! — sibilou Rony, puxando Harry para trás de um enorme grifo de
pedra.
Espiando para os lados, no entanto, viram não Percy, mas Snape. Ele
atravessou o corredor e desapareceu de vista.
— Que é que ele está fazendo? — cochichou Harry, — Por que não está
lá embaixo com os outros professores?
— Não me pergunte.
O mais silenciosamente possível, eles se esgueiraram pelo próximo
corredor nas pegadas de Snape.
— Ele está indo para o terceiro andar — disse Harry, mas Rony levantou a
mão.
— Você está sentindo um cheiro?
Harry fungou e um fedor horrível invadiu suas narinas, uma mistura de
meias velhas e banheiro público que parece que nunca é limpo.
E em seguida ouviram um grunhido baixo e passadas de pés gigantescos.
Rony apontou no fim do corredor, à esquerda, alguma coisa enorme estava vindo
em sentido contrário. Eles se encolheram no escuro e procuraram ver o que era
quando a coisa passou por um trecho iluminado pelo luar.
Era uma visão medonha. Quase quatro metros de altura, a pele cinzenta e
baça, o corpanzil cheio de calombos como um pedregulho e uma cabecinha no
alto, que mais parecia um coco.
Tinha pernas curtas, grossas como um tronco de árvore e pés chatos e
calosos. Segurava um enorme bastão de madeira, que arrastava pelo chão,
porque seus braços eram compridíssimos.
O trasgo parou próximo a uma porta e espiou para dentro.
Abanou as longas orelhas, tentando fazer a cabeça minúscula pensar,
depois entrou devagar na sala.
— A chave está na porta — murmurou Harry — Podíamos trancá-lo lá
dentro.
— Boa idéia — concordou Rony, nervoso.
Eles se esgueiraram até a porta aberta, as bocas secas, rezando para o
trasgo não resolver sair naquele instante. Com um grande salto, Harry conseguiu
agarrar a chave, bater a porta e trancá-la seguramente.
— Pronto!
Afogueados com a vitória, começaram a correr de volta pelo corredor, mas
ao chegarem num canto ouviram uma coisa que fez seus corações pararem, um
grito alto e enregelante, e vinha da sala que tinham acabado de trancar.
— Ah, não — exclamou Rony, pálido como o barão Sangrento.
— Vêm do banheiro das meninas.
— Hermione!— disseram os dois juntos.
Era a última coisa que queriam fazer, mas que escolha tinham?
Dando meia-volta, correram até a porta e giraram a chave, atrapalhados
de tanto pânico. Harry escancarou aporta e entraram correndo.
Hermione estava encolhida contra a parede oposta, parecendo prestes a
desmaiar. O trasgo avançava para ela, derrubando as pias que estavam na
parede em seu caminho.
— Distraia ele!— Harry pediu desesperado a Rony, e, agarrando uma
torneira, atirou-a com toda a força contra a parede.
O trasgo parou a um metro de Hermione. Virou-se com lentidão, piscando
sem entender, procurou ver que barulho era aquele. Seus olhinhos malvados
viram Harry. Ele hesitou, em seguida partiu para cima de Harry, erguendo o
bastão.
— Oi cabeça de ervilha! — berrou Rony do outro lado do banheiro, e
atirou contra ele um cano de metal. O trasgo nem pareceu sentir o cano bater no
seu ombro, mas ouviu o berro e parou outra vez, virando o focinho feio para Rony,
e dando a Harry tempo para correr em volta dele.
— Vamos, corra, corra! — Harry gritou para Hermione, tentando puxá-la
na direção da porta, mas ela não conseguia se mexer continuava achatada contra
a parede, a boca aberta de terror.
Os gritos e os ecos pareciam estar deixando o trasgo enlouquecido. Ele
rugiu de novo e avançou para Rony que estava mais perto e não tinha jeito de
escapar.
Harry então fez uma coisa que era ao mesmo tempo muito corajosa e
muito idiota tomou impulso e deu um salto conseguindo abraçar o pescoço do
trasgo pelas costas. O trasgo não sentiu Harry pendurar-se ali, mas até um trasgo
percebe quando se espeta um pedaço comprido de pau dentro da narina, e a
varinha de Harry ainda estava na mão quando ele saltou e entrou direto na narina
do trasgo.
Urrando de dor, o trasgo se virou e brandiu o bastão, enquanto Harry
continuava agarrado nele tentando escapar da morte, a qualquer instante, o trasgo
ia arrancá-lo do pescoço ou dar-lhe uma tremenda porretada.
Hermione afundara no chão de tanto medo, Rony puxou a própria varinha
sem saber o que ia fazer, ouviu-se gritando o primeiro feitiço que e veio a cabeça:
Vingardium leviosa!
Na mesma hora o bastão voou da mão do trasgo, ergueu-se no ar, foi
subindo, subindo, virou-se lentamente e caiu, com um barulho feio, na cabeça do
seu dono. O trasgo cambaleou e, em seguida, caiu de cara no chão, com um
baque que fez o banheiro todo sacudir.
Harry se levantou. Tremia sem fôlego. Rony continuava parado com a
varinha no ar, espantado como que fizera.
Foi Hermione quem falou primeiro.
— Ele está... Morto?
— Acho que não — respondeu Harry. — Acho que só perdeu os sentidos.
Ele se abaixou e puxou a varinha da narina do trasgo. Estava suja de uma
coisa que parecia uma cola grumosa.
— Eca... Meleca de trasgo.
E limpou a varinha nas calças do trasgo.
De repente o barulho de portas batendo e passos pesados fizeram os três
erguerem a cabeça. Não haviam percebido a confusão que tinham aprontado, mas
com certeza alguém lá embaixo ouvira a pancadaria e os urros do trasgo. Um
instante depois a Professora Minerva adentrou o banheiro, seguida de perto
por Filch e Quirrell, que fechava a fila. Quirrell deu uma espiada no trasgo, soltou
um gemidinho e sentou-se depressa em um vaso sanitário, apertando o peito.
Filch debruçou-se sobre o trasgo. A Professora Minerva ficou olhando
para Rony e Harry. Harry nunca a vira tão zangada. Seus lábios estavam brancos.
A esperança de ganhar cinqüenta pontos para Grifinória desapareceu logo da
cabeça de Harry.
— O que é que vocês estavam pensando? — perguntou a Professora
Minerva, com uma fúria reprimida na voz, Harry olhou para Rony, que continuava
parado com a varinha no ar. — Vocês tiveram sorte de não serem mortos. Por que
é que não estão no dormitório?
Filch lançou a Harry um olhar rápido e penetrante. Harry olhou para o
chão. Desejou que Rony baixasse a varinha. Então se ouviu uma vozinha que veio
das sombras.
— Por favor, Professora, Minerva, eles vieram me procurar.
— Senhorita Granger!
Hermione conseguira finalmente se levantar.
— Sai procurando o trasgo porque achei que podia enfrentá-lo sozinha.
Sabe, já li tudo sobre trasgos.
Rony deixou a varinha cair. Hermione Granger, contando uma mentira
deslavada a um professor?
— Se eles não tivessem me encontrado eu estaria morta agora.
— Harry enfiou a varinha na narina do trasgo e Rony derrubou ele com o
próprio bastão. Não tiveram tempo de chamar ninguém. O trasgo ia acabar comigo
quando eles chegaram.
Harry e Rony tentaram fingir que a história não era novidade para eles.
— Bem... Nesse caso... — disse a Professora Minerva encarando os
três —, senhorita Granger, que bobagem, como pôde pensar em enfrentar um
trasgo montanhês sozinha?
Hermione baixou a cabeça. Harry perdera a fala. Hermione era a última
pessoa do mundo que desobedeceria ao regulamento e ali estava fingindo que
desobedecera, para tirá-los de uma enrascada.
Era o mesmo que o Snape começar a distribuir balinhas.
— Hermione Granger, Grifinória vai perder cinco pontos por isso — disse
a Professora Minerva. — Estou muito desapontada. Se não estiver machucada é
melhor ir embora para a torre de Grifinória. Os alunos estão acabando de festejar
o Dia das Bruxas em suas casas.
Hermione se retirou.
A Professora Minerva virou-se para Harry e Rony.
— Bem, eu continuo achando que vocês tiveram sorte, mas não há muitos
alunos do primeiro ano que pudessem enfrentar um trasgo montanhês adulto.
Cada um de vocês ganha cinco pontos para Grifinória. O Professor Dumbledore
será informado. Podem ir.
Eles saíram depressa do banheiro e não falaram nada até subirem dois
andares. Foi um alivio se afastarem do fedor do trasgo, para não falar do resto.
— Devíamos ter ganho mais de dez pontos — resmungou Rony.
— Cinco, você quer dizer, depois de descontar os pontos que Hermione
perdeu.
— Foi legal ela ter-nos tirado do aperto — admitiu Rony — Mas não se
esqueça, salvamos a vida dela.
— Talvez ela não precisasse ser salva se não tivéssemos trancado a
coisa com ela — lembrou Harry.
Tinham chegado ao retrato da Mulher Gorda.
— Focinho de porco — disseram e entraram..
A sala comunal estava cheia e barulhenta. Todo o mundo estava comendo
o jantar que fora mandado para lá. Hermione, porém, estava parada sozinha do
lado da porta, esperando por eles.
Houve um silêncio constrangido. Depois, sem se olharem, todos disseram
"Obrigado" e correram para apanhar os pratos.
Mas daquele momento em diante, Hermione Granger tornou-se amiga dos
dois. Há coisas que não se pode fazer junto sem acabar gostando um do outro, e
derrubar um trasgo montanhês de quase quatro metros de altura é uma dessas
coisas.

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