quinta-feira, 24 de março de 2011

Crepúsculo - Capítulos 19 ao 21

19. DESPEDIDAS 

Charlie esperava por mim. Todas as luzes da casa estavam acesas. Minha mente estava vazia enquanto eu tentava pensar numa maneira de convencê-lo a me deixar ir. Não ia ser agradável. Edward encostou devagar, colocando-se bem atrás de minha picape. Os três estavam extremamente atentos, duros feito toras em seus lugares, ouvindo cada som da floresta, vasculhando cada sombra, sentindo cada cheiro, procurando por alguma coisa fora de lugar. O motor foi desligado e eu fiquei sentada, imóvel, enquanto eles escutavam. – Ele não está aqui – disse Edward, tenso. – Vamos. Emmet estendeu a mão para me ajudar a sair do arnês. – Não se preocupe, Bella – disse ele numa voz baixa mas animada –, vamos resolver as coisas por aqui rapidamente. Senti meus olhos se encherem de lágrimas ao olhar para Emmett. Eu mal o conhecia e no entanto, de certa forma, era angustiante não saber quando o veria depois desta noite. Eu sabia que esta era só uma provinha das despedidas a que teria de sobreviver na próxima hora, e a idéia fez com que as lágrimas começassem a transbordar. – Alice, Emmet. – A voz de Edward era um comando. Eles deslizaram sem ruído para a escuridão, desaparecendo de imediato. Edward abriu minha porta e pegou minha mão, depois me puxou para o cerco protetor de seu braço. Ele me conduziu rapidamente para a casa, os olhos sempre vagando pela noite. – Quinze minutos – alertou ele aos sussurros. – Eu consigo. – Funguei. Minhas lágrimas me davam inspiração. Cheguei à varanda e segurei seu rosto entre minhas mãos. Olhei intensamente em seus olhos. – Eu te amo – eu disse numa voz baixa e intensa. – Sempre o amarei, não importa o que acontecer. – Nada acontecerá a você, Bella – disse ele com a mesma intensidade. – Siga o plano, está bem? Mantenha Charlie seguro para mim. Ele não vai simpatizar muito comigo depois disso, e quero ter a chance de me desculpar depois. – Entre, Bella. Precisamos nos apressar. – Sua voz era urgente.
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– Mais uma coisa – sussurrei apaixonadamente. – Não ouça uma palavra do que eu disse esta noite! Ele estava curvado e só o que tive de fazer foi me esticar na ponta dos pés para beijar seus lábios franzidos e surpresos com a maior força que pude. Depois me virei e abri a porta. – Vá embora, Edward! – gritei para ele, correndo para dentro e batendo a porta em sua cara ainda chocada. – Bella? – Charlie estava na sala e já se colocara de pé. – Me deixe em paz! – gritei para ele através de minhas lágrimas, que agora fluíam sem parar. Corri para meu quarto, fechando a porta e trancando-a. Corri até minha cama, atirando-me no chão para pegar minha bolsa de viagem. Estendi a mão rapidamente entre o colchão e o estrado para pegar a meia velha de tricô que continha minhas economias secretas. Charlie batia na minha porta. – Bella, você está bem? O que aconteceu? – Sua voz estava assustada. – Eu vou para casa – gritei, minha voz falhando no momento perfeito. – Ele magoou você? – Seu tom de voz beirava a raiva. – Não! – guinchei algumas oitavas acima. Virei-me para minha cômoda e Edward já estava ali, arrancando em silêncio braçadas de roupas ao acaso, que ele depois atirou para mim. – Ele terminou com você? – Charlie estava perplexo. – Não! – gritei, agora com menos fôlego enquanto atirava tudo na bolsa. Edward lançou o conteúdo de outra gaveta para mim. A bolsa agora estava muito cheia. – O que aconteceu, Bella? – gritou Charlie pela porta, batendo novamente. – Eu é que terminei com ele! – eu gritei, lutando com o zíper da bolsa. As mãos hábeis de Edward afastaram a minha e puxaram o zíper com suavidade. Ele colocou a alça com cuidado em meu ombro. – Estarei na picape… vá! – sussurrou ele, e me empurrou para a porta. Edward desapareceu pela janela. Abri a porta e passei por Charlie rudemente, lutando com a bolsa pesada enquanto descia a escada às pressas. – O que houve? – gritou. Ele estava bem atrás de mim. – Pensei que você gostasse dele.
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Ele agarrou meu cotovelo na cozinha. Apesar de ainda estar confuso, seu aperto era firme. Ele me girou para que o olhasse e pude ver em seu rosto que ele não pretendia me deixar partir. Só pude pensar em uma maneira de escapar, e implicava magoá-lo tanto que odiei a mim mesma por sequer pensar no assunto. Mas eu não tinha tempo e precisava mantê-lo em segurança. Encarei meu pai, as lágrimas frescas nos olhos pelo que eu estava prestes a fazer. – Eu gosto dele… É esse o problema. Não posso mais fazer isso! Não posso criar mais raízes aqui! Não quero terminar presa nessa cidade idiota e chata como a mamãe! Não vou cometer o mesmo erro estúpido que ela cometeu. Eu odeio esse lugar… Não posso ficar aqui nem mais um minuto! Sua mão largou meu braço como se eu o tivesse eletrocutado. Desviei-me de seu rosto chocado e ferido e parti para a porta. – Bella, não pode ir embora agora. É tarde – sussurrou ele atrás de mim. Eu não me virei. – Vou dormir na picape se ficar cansada. – Espere só mais uma semana – pediu ele, ainda chocado. – A Renée estará de volta então. Isso me tirou completamente dos trilhos. – O quê? Charlie continuou ansiosamente, quase balbuciando de alívio quando eu hesitei. – Ela ligou quando você estava fora. As coisas não vão bem na Flórida, e se Phil não assinar um contrato no final da semana, eles vão voltar para o Arizona. O assistente técnico dos Sidewinders disse que eles podem ter um lugar para outro jogador de segunda base. Sacudi a cabeça, tentando reorganizar os pensamentos agora confusos. Cada segundo que passava colocava Charlie num perigo maior.
– Tenho uma chave – murmurei, girando a maçaneta. Ele estava perto demais, a mão estendida para mim, o rosto confuso. Não podia perder mais tempo discutindo com ele. Eu teria que magoá-lo ainda mais. – Me deixe ir, Charlie. – Repeti as últimas palavras de minha mãe quando ela saiu pela mesma porta tantos anos atrás. Eu as disse com a maior raiva que
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pude reunir e escancarei a porta. – Não deu certo, está bem? Eu realmente odeio Forks! Minhas palavras cruéis fizeram seu trabalho – Charlie ficou paralisado na soleira da porta, atordoado, enquanto eu corria para a noite. Fiquei apavorada com o jardim vazio. Corri como louca para a picape, visualizando uma sombra escura atrás de mim. Atirei minha sacola na carroceria e abri a porta. A chave esperava na ignição. – Ligo para você amanhã! – gritei, querendo mais do que qualquer coisa poder explicar tudo a ele então, e sabendo que jamais seria capaz disso. Liguei o motor e arranquei. Edward pegou minha mão. – Encoste – disse ele enquanto a casa e Charlie desapareciam atrás de nós. – Posso dirigir – eu disse através das lágrimas que caíam por meu rosto. Suas mãos longas inesperadamente pegaram minha cintura e seus pés empurraram os meus no acelerador. Ele me puxou para o colo, soltando minhas mãos do volante, e de repente estava no banco do motorista. A picape não oscilou nem um centímetro. – Não conseguiria encontrar a casa – explicou ele. De repente luzes brilharam atrás de nós. Olhei pelo vidro traseiro, os olhos arregalados de pavor. – É só a Alice – garantiu-me ele. Ele pegou minha mão de novo. Mina mente estava cheia da imagem de Charlie na soleira da porta. – O rastreador? – Ele ouviu o final de seu teatro – disse Edward sombriamente. – Charlie? – perguntei, mortificada. – O rastreador nos seguiu. Está correndo atrás de nós agora. Meu corpo ficou gelado. – Podemos escapar dele? – Não. – Mas ele acelerou enquanto falava. O motor da picape gemeu, protestando. Meu plano de repente não parecia mais tão brilhante. Eu olhava os faróis do carro de Alice quando a picape tremeu e uma sombra escura disparou do lado de fora da janela. Meu grito horripilante durou uma fração de segundo antes que a mão de Edward cobrisse minha boca.
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– É Emmett! Ele liberou minha boca e passou o braço por minha cintura. – Está tudo bem, Bella – prometeu ele. – Você vai ficar segura. Corremos pela cidade silenciosa, na direção da rodovia norte. – Não percebi que você ainda estava tão entediada com a vida na cidade pequena – disse ele querendo conversar, e eu sabia que ele tentava me distrair. – Parecia que você estava se adaptando muito bem… Em especial recentemente. Talvez eu só estivesse me iludindo que estava tornando a vida mais interessante para você. – Eu não fui gentil – confessei, ignorando sua tentativa de me distrair, olhando meus joelhos. – Foi a mesma coisa que minha mãe disse quando o deixou. Deu para ver que foi golpe baixo. – Não se preocupe. Ele vai perdoá-la. – Ele sorriu um pouco, embora seus olhos não sorrissem. Eu o olhei desesperada e ele viu o pânico em meus olhos. – Bella, vai ficar tudo bem. – Mas não vai ficar tudo bem quando eu não estiver com você – sussurrei. – Vamos nos reunir daqui a alguns dias – disse ele, apertando o braço em volta de mim. – Não se esqueça de que isso foi idéia sua. – Foi a melhor idéia… É claro que foi minha. Seu sorriso de resposta era vazio e desapareceu de imediato. – Por que isso aconteceu? – perguntei. – Por que eu? Ele olhava a estrada à frente, inexpressivo. – A culpa é minha… Fui um tolo por expô-la desse jeito. – A raiva em sua voz era voltada para dentro. – Não foi o que eu quis dizer – insisti. – Eu estava lá, grande coisa. Isso não incomodou os outros dois. Por que esse James decidiu matar a mim? Tem tanta gente em toda parte, por que eu? Ele hesitou, pensando antes de responder.
– Tenho que dar uma olhada na mente dele agora – começou Edward numa voz baixa. – Não tenho certeza se havia alguma coisa que eu pudesse ter feito para evitar isso, depois que ele a viu. A culpa praticamente é sua. – Sua voz era irônica. – Se não tivesse um cheiro tão delicioso e atraente, ele podia não ter se dado ao trabalho. Mas quando eu defendi você… Bem, isso só piorou as coisas. Ele não está acostumado a ser contrariado, por mais insignificante que seja o objeto. Ele se considera
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um caçador e mais nada. Sua existência é consumida com a caça e tudo o que ele quer da vida é um desafio. De repente estávamos lhe mostrando um lindo desafio… Um grande clã de lutadores fortes protegendo o elemento vulnerável. Você não acreditaria em como ele está eufórico agora. É seu jogo preferido, e estamos tornando o jogo ainda mais empolgante. – Sua voz estava cheia de repulsa. Ele parou por um momento. – Mas se eu não estivesse perto, ele a teria matado imediatamente – disse ele com uma frustração desesperançada. – Eu pensei… que não tinha para os outros… o cheiro que tenho para você – eu disse, hesitante. – Não tem. Mas isso não quer dizer que ainda não seja uma tentação para todos eles. Se você fosse atraente para o rastreador… ou para qualquer um deles… como é atraente para mim, isso teria significado uma luta lá mesmo. Eu estremeci. – Não acho que tenha alternativa, a não ser matá-lo agora – murmurou Edward. – Carlisle não vai gostar. Pude ouvir os pneus atravessando a ponte, embora não pudesse ver o rio no escuro. Eu sabia que estávamos chegando perto. Tinha que perguntar agora. – Como se pode matar um vampiro? Ele olhou para mim com os olhos inescrutáveis e sua voz de repente ficou rude. – A única maneira de ter certeza é dilacerá-lo, e depois queimar os pedaços. – E os outros dois vão lutar com ele? – A mulher vai. Não tenho certeza sobre Laurent. Eles não têm um vínculo muito forte… Ele só está com os dois por conveniência. Ele ficou constrangido por James na campina… – Mas James e a mulher… vão tentar matar você? – perguntei com a voz rouca. – Bella, não se atreva a perder tempo preocupando-se comigo. Sua única preocupação é manter-se segura e… por favor, por favor… procure não ser imprudente. – Ele ainda está seguindo? – Sim. Mas não vai atacar a casa. Não esta noite.
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Ele pegou um caminho imperceptível, com Alice atrás de nós. Seguimos direto para a casa. As luzes lá dentro eram fortes, mas pouco faziam para aliviar a escuridão da floresta usurpadora. Emmett abriu minha porta antes que a picape tivesse parado; ele me puxou do banco, enfiando-me como uma bola de futebol americano no peito largo, e correu comigo para a porta. Irrompemos pela grande sala branca, Edward e Alice nos ladeando. Todos estavam ali; eles já estavam de pé ao som de nossa aproximação. Laurent ficou no meio. Pude ouvir rosnados baixos e graves na garganta de Emmett enquanto ele me baixava ao lado de Edward. – Ele está nos perseguindo – anunciou Edward, olhando malignamente para Laurent. A expressão de Laurent era infeliz. – Era o que eu temia. Alice dançou para o lado de Jasper e cochichou no ouvido dele; seus lábios tremeram com a velocidade de sua fala silenciosa. Eles dispararam escada acima juntos. Rosalie os observou e passou rapidamente para o lado de Emmett. Seus lindos olhos eram intensos e – quando se voltaram de má vontade para meu rosto – furiosos. – O que ele vai fazer? – perguntou Carlisle a Laurent num tom gelado. – Eu lamento – respondeu ele. – Quando seu rapaz ali a defendeu, receio que isso o tenha estimulado. – Pode impedi-lo? Laurent sacudiu a cabeça. – Nada detém James depois que ele começa. – Nós vamos detê-lo – prometeu Emmett. Não havia dúvida de suas intenções. – Não podem derrotá-lo. Jamais vi nada parecido com ele em meus 100 anos. Ele é absolutamente letal. Foi por isso que me juntei ao bando dele. O bando dele, pensei, é claro. A exibição de liderança na clareira era apenas isso, uma exibição. Laurent sacudia a cabeça. Olhou para mim, perplexo, e de novo para Carlisle. – Tem certeza de que vale a pena? O rugido enfurecido de Edward encheu a sala; Laurent se encolheu.
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Carlisle olhou gravemente para Laurent. – Temo que tenha de tomar uma decisão. Laurent entendeu. Ele deliberou por um momento. Seus olhos atingiram cada rosto, e por fim varreram a sala iluminada. – Fiquei intrigado com o modo de viver que vocês criaram por aqui. Mas não vou me intrometer. Não vejo um inimigo em nenhum de vocês, mas não me colocarei contra James. Acho que seguirei para o norte… Para aquele clã em Denali. – Ele hesitou. – Não subestimem James. Ele tem uma mente brilhante e sentidos incomparáveis. Fica tão à vontade no mundo humano quanto vocês parecem estar, e ele não os enfrentará diretamente… Lamento pelo que foi desencadeado aqui. Eu realmente lamento. – Ele baixou a cabeça, mas eu o vi disparar outro olhar confuso para mim. – Vá em paz – foi a resposta formal de Carlisle. Laurent deu outro longo olhar ao redor e correu para a porta. O silêncio durou menos de um segundo. – A que distância? – Carlisle olhou para Edward. Esme já estava se mexendo; sua mão tocou um teclado oculto na parede e, com um rangido, persianas de metal começaram a selar a parede de vidro. Eu ofeguei. – A uns cinco quilômetros depois do rio; está rondando para se reunir à mulher. – Qual é o plano? – Vamos despistá-lo, depois Jasper e Alice a levarão para o sul. – E depois? A voz de Edward era mortal. – Assim que Bella estiver segura, vamos caçá-lo. – Acho que não há alternativa – concordou Carlisle, a face sombria. Edward se virou para Rosalie. – Leve-a para cima e troque as roupas – ordenou Edward. Ela olhou para ele lívida de incredulidade. – Por que deveria? – sibilou. – O que ela é para mim? A não ser uma ameaça… Um perigo que você decidiu infligir a todos nós. Eu recuei com o veneno em sua voz. – Rose… – murmurou Emmett, colocando a mão em seu ombro. Ela a sacudiu.
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Mas eu observava Edward cuidadosamente, sabendo de seu gênio, preocupada com sua reação. Ele me surpreendeu. Desviou os olhos de Rosalie como se ela não tivesse falado, como se ela não existisse. – Esme? – perguntou ele calmamente. – É claro – murmurou ela. Esme estava a meu lado em meia batida do coração, balançando-me facilmente nos braços e disparando escada acima antes que eu pudesse arfar de choque. – O que estamos fazendo? – perguntei sem fôlego enquanto ela me baixava em um quarto escuro em algum lugar no segundo andar. – Tentando confundir o cheiro. Não vai funcionar por muito tempo, mas pode ajudá-la a escapar. – Pude ouvir suas roupas caindo no chão. – Não acho que vá caber… – Eu hesitei, mas suas mãos de repente estavam arrancando minha blusa por minha cabeça. Rapidamente tirei eu mesma os jeans. Ela me passou alguma coisa, parecia uma blusa. Lutei para enfiar os braços pelos buracos certos. Assim que terminei, ela me passou suas calças. Eu as puxei, mas não consegui passar os pés; eram compridas demais. Ela enrolou a bainha algumas vezes para que eu conseguisse vestir. De algum jeito ela já estava com minhas roupas. Ela me puxou de volta para a escada onde Alice esperava, uma bolsa de couro pequena na mão. Cada uma delas pegou um cotovelo meu e me carregaram enquanto voavam escada abaixo. Parecia que, em nossa ausência, tudo fora preparado no primeiro andar. Edward e Emmett estavam prontos para partir, Emmett com uma mochila que parecia pesada no ombro. Carlisle entregava alguma coisa pequena a Esme. Ele se virou e passou a mesma coisa a Alice – era um minúsculo celular prateado. – Esme e Rosalie levarão sua picape, Bella – disse-me ele enquanto passava. Eu assenti, olhando timidamente para Rosalie. Ela fitava Carlisle com uma expressão ressentida. – Alice, Jasper… Peguem a Mercedes. Vão precisar da cor escura no sul. Eles também assentiram. – Vamos levar o Jeep.
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Fiquei surpresa ao ver que Carlisle pretendia ir com Edward. Percebi de repente, com uma pontada de medo, que eles preparavam uma caçada coletiva. – Alice – perguntou Carlisle –, eles vão morder a isca? Todos olharam para Alice enquanto ela fechava os olhos e ficava incrivelmente imóvel. Por fim, seus olhos se abriram. – Ele vai perseguir você. A mulher seguirá a picape. É provável que consigamos partir depois disso. – Sua voz era segura. – Vamos. – Carlisle começou a andar para a cozinha. Mas Edward logo estava ao meu lado. Ele me pegou em seu aperto de ferro, esmagando-me de encontro a ele. Parecia não ter consciência dos olhares de sua família enquanto puxava meu rosto para si, erguendo meus pés do chão. Pelo menor dos segundos, seus lábios estavam gelados e rígidos nos meus. Depois acabou. Ele me desceu, ainda segurando meu rosto, os olhos gloriosos ardendo nos meus. Seus olhos ficaram inexpressivos, curiosamente mortos, ao se afastarem de mim. E eles partiram. Ficamos ali, os outros se distanciando enquanto as lágrimas desciam silenciosamente por meu rosto. O momento de silêncio se arrastou, e depois o telefone de Esme vibrou em sua mão. Ele disparou até sua orelha. – Agora – disse ela. Rosalie saiu pela porta da frente sem olhar na minha direção, mas Esme tocou meu rosto ao passar. Jasper e Alice esperavam. O celular de Alice parecia estar em sua orelha antes mesmo de tocar. – Edward disse que a mulher está na trilha de Esme. Vou pegar o carro. – Ela desapareceu nas sombras, como Edward partira. Jasper e eu nos olhamos. Ele se postou entre mim e a entrada… Sendo cauteloso. – Sabe que está enganada – disse ele baixinho. – Como é? – arfei. – Posso sentir o que está sentindo agora… E você vale tudo isso. – Não valho – murmurei. – Se alguma coisa acontecer a eles, terá sido em vão. – Está enganada – repetiu ele, sorrindo gentilmente para mim.
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Não ouvi nada, mas então Alice passou pela porta da frente e veio na minha direção de braços estendidos. – Posso? – perguntou ela. – É a primeira a pedir permissão – dei um sorriso torto. Ela me ergueu nos braços magros com a mesma facilidade de Emmett, abrigando-me protetoramente, e voamos porta afora, deixando as luzes acesas para trás.
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20. IMPACIÊNCIA 

Fiquei confusa quando acordei. Meus pensamentos eram nebulosos, ainda distorcidos por sonhos e pesadelos, precisei de mais tempo do que devia para entender onde me encontrava. Este quarto era suave demais para pertencer a um lugar que não fosse um hotel. Os abajures, presos nas mesas-de-cabeceira, traíam o local, assim como as cortinas longas feitas do mesmo tecido da colcha e as aquarelas genéricas nas paredes. Tentei me lembrar de como cheguei aqui, mas de início nada me ocorreu. Lembrei-me do carro preto brilhante, o vidro das janelas mais escuro do que os de um limusine. O motor era quase silencioso, embora disparássemos pelas estradas negras com o dobro da velocidade normal. E me lembrei de Alice sentada comigo no banco traseiro de couro preto. De certo modo, durante a longa noite, minha cabeça terminara em seu pescoço de granito. Minha proximidade não pareceu incomodá-la nada e sua pele fria e dura me foi estranhamente reconfortante. A frente de sua blusa de algodão fino estava fria, molhada das lágrimas que jorravam de meus olhos até que, vermelhos, eles secaram. O sono me escapou; meus olhos doloridos insistiam em ficar abertos embora a noite finalmente terminasse e o amanhecer surgisse sobre um pico baixo em algum lugar na Califórnia. A luz cinzenta, raiando no céu sem nuvens, feriu meus olhos. Mas eu não conseguia fechá-los; quando o fiz, as imagens que faiscavam com demasiada nitidez, como slides por trás de minhas pálpebras, eram insuportáveis. A expressão magoada de Charlie; o rosnado brutal de Edward, os dentes à mostra; o olhar ressentido de Rosalie; o exame incisivo do rastreador; o olhar mortal de Edward depois de ele me beijar pela última vez… Eu não suportava vê-los. Então eu lutei contra minha fraqueza e o sol ficou mais alto.
Eu ainda estava acordada quando chegamos a uma passagem rasa pelas montanhas, e o sol, agora atrás de nós, era refletido nos telhados do Vale do Sol. Não me restava emoção suficiente para me surpreender que tivéssemos feito uma viagem de três dias em apenas um. Olhei inexpressivamente a amplidão plana que se estendia diante de mim. Phoenix – as palmeiras, o raquítico chaparral, as linhas fortuitas das vias
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expressas que se cruzavam, as fileiras de campos de golfe e manchas turquesa de piscinas, todos submersos em uma névoa tênue e envolvidos pelas cristas baixas e rochosas que não eram grandes o suficiente para que fossem chamadas de montanhas. As sombras das palmeiras se inclinavam para a estrada – definidas, mais agudas do que eu me lembrava, mais claras do que deviam ser. Nada podia se esconder nestas sombras. A estrada aberta e iluminada parecia bastante favorável. Mas não senti alívio, nenhuma sensação de volta ao lar. – Qual é o caminho para o aeroporto, Bella? – perguntara Jasper, e eu me encolhi, embora sua voz fosse bem suave e não trouxesse alarme. Foi o primeiro som, além do zumbido do carro, a romper o silêncio da noite. – Fique na I-10 – respondi automaticamente. – Vamos passar já por lá. Meu cérebro funcionava lentamente através da névoa da privação de sono. – Vamos pegar algum avião? – perguntei a Alice. – Não, mas é melhor ficar perto, só por garantia. Lembrei-me de começar o retorno para o Aeroporto Internacional Sky Harbor… Mas não de terminá-lo. Acho que deve ter sido quando eu dormi. Mas, agora que eu recuperara as lembranças, eu tinha uma vaga impressão de ter saído do carro – o sol estava caindo no horizonte –, meu braço em torno do ombro de Alice e seu braço firme em minha cintura, arrastando-me enquanto eu cambaleava pelas sombras quentes e secas. Eu não tinha lembranças deste quarto. Olhei o relógio digital na mesa-de-cabeceira. Os números vermelhos afirmavam que eram três horas, mas não diziam se era noite ou dia. Nenhum fiapo de luz escapava das grossas cortinas, mas o quarto era iluminado pela luz dos abajures. Levantei-me, tensa, e cambaleei até a janela, puxando as cortinas. Estava escuro lá fora. Três da manhã, então. Meu quarto dava para uma parte deserta da rodovia e para o novo estacionamento de mensalistas do aeroporto. Era um tanto reconfortante poder situar tempo e lugar. Olhei para mim mesma. Eu ainda estava com as roupas de Esme e elas não caíam muito bem. Olhei o quarto, feliz por encontrar minha bolsa de viagem em cima da cômoda baixa.
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Eu estava prestes a pegar roupas novas quando uma leve batida na porta me fez pular. – Posso entrar? – perguntou Alice. Respirei fundo. – Claro. Ela entrou e me olhou com cautela. – Você parece ter dormido demais – disse ela. Sacudi a cabeça. Ela vagou em silêncio até as cortinas e as fechou com segurança antes de se virar para mim. – Vamos precisar ficar aqui dentro – disse-me ela. – Tudo bem. – Minha voz rouca falhou. – Com sede? – perguntou ela. Dei de ombros. – Eu estou bem. E você? – Nada que não possa administrar. – Ela sorriu. – Pedi comida para você, está na sala da frente. Edward me lembrou de que você precisa comer com muito mais freqüência do que nós. Imediatamente fiquei mais alerta. – Ele ligou? – Não – disse ela, e observou minha expressão desmoronar. – Foi antes de partimos. Ela pegou minha mão com cuidado e me levou pela porta até a sala da suíte do hotel. Pude ouvir um zumbido baixo de vozes vindo da TV. Jasper estava sentado imóvel à mesa no canto, os olhos vendo o noticiário sem o menor sinal de interesse. Sentei no chão ao lado da mesa de centro, onde uma bandeja de comida me esperava, e comecei a pegá-la sem perceber o que estava comendo. Alice se empoleirou no braço do sofá e começou a olhar a TV inexpressivamente, como Jasper. Comi devagar, observando-a, de vez em quando me virando para olhar rapidamente para Jasper. Comecei a me dar conta de que eles estavam parados demais. Empurrei a bandeja, meu estômago inquieto de repente. Alice olhou para mim. – Qual é o problema, Alice? – perguntei.
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– Nenhum. – Seus olhos eram grandes, sinceros… E eu não confiava neles. – O que vamos fazer agora? – Vamos esperar que Carlisle telefone. – E ele devia ter ligado agora? – Eu podia ver que estava perto do alvo. Os olhos de Alice flutuaram dos meus para o telefone em cima de sua bolsa de couro e voltaram a mim. – O que isso quer dizer? – Minha voz tremeu e lutei para controlá-la. – Ele ainda não ligou? – Quer dizer apenas que eles não têm nada para nos contar. – Mas sua voz era tranqüila demais e o ar ficou mais pesado. Jasper de repente estava ao lado de Alice, mais perto de mim do que de costume. – Bella – disse ele numa voz suspeitamente tranqüilizadora. – Você não tem motivos para se preocupar. Está completamente segura aqui. – Sei disso. – Então por que está assustada? – perguntou ele, confuso. Ele podia sentir o teor de minhas emoções, mas não conseguia ler os motivos por trás delas. – Você ouviu o que Laurent disse. – Minha voz era só um sussurro, mas eu tinha certeza de que eles podiam me ouvir. – Ele disse que James era letal. E se alguma coisa deu errado e eles foram separados? Se alguma coisa acontecer com qualquer um deles, Carlisle, Emmett… Edward… – engoli em seco. – Se aquela descontrolada caçar Esme… – Minha voz ficou mais aguda, um tom de histeria começando a surgir. – Como eu poderia conviver comigo mesma quando a culpa é minha? Nenhum de vocês devia estar se arriscando por mim… – Bella, Bella, pare – ele me interrompeu, as palavras jorrando tão rapidamente que era difícil entendê-las. – Você está se preocupando com as coisas erradas, Bella, confie em mim nisso… Nenhum de nós está em risco. Você está sob uma tensão muito grande; não a aumente com preocupações totalmente desnecessárias. Ouça o que eu digo! – ordenou ele, porque eu desviei os olhos. – Nossa família é forte. Nosso único medo é perder você. – Mas por que vocês deviam… Alice me interrompeu, tocando meu rosto com os dedos frios.
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– Faz quase um século eu Edward está sozinho. Agora ele encontrou você. Não pode ver as mudanças que nós, que estamos com ele há tanto tempo, vemos. Acha que algum de nós vai querer olhar nos olhos dele pelos próximos cem anos se ele perder você? Minha culpa lentamente cedeu enquanto eu olhava seus olhos escuros. Mas, mesmo à medida que a calma se espalhava por mim, eu sabia que não podia confiar em meus sentimentos com Jasper presente. Foi um dia muito longo. Ficamos no quarto. Alice ligou para a recepção e pediu que não mandassem mais a camareira. As janelas continuaram fechadas, a TV ligada, embora ninguém estivesse assistindo a ela. A intervalos regulares, a comida me era entregue. O telefone prata em cima da bolsa de Alice parecia brilhar mais com o passar das horas. Minhas babás lidavam com o suspense melhor do que eu. Enquanto eu remexia nas coisas e andava de um lado para outro, eles simplesmente ficaram imóveis, duas estátuas cujos olhos seguiam imperceptivelmente meus movimentos. Ocupei-me de memorizar a sala; a padronagem listrada das almofadas, caramelo, pêssego, creme, dourado desbotado e caramelo de novo. Às vezes eu olhava as pinturas abstratas, encontrando aleatoriamente imagens nas formas, como encontrava nas nuvens quando criança. Vi uma mão azul, uma mulher penteando o cabelo, um gato se espreguiçando. Mas quando o círculo vermelho claro tornou-se um olho que me encarava, eu virei a cara. À medida que a tarde se esgotava, voltei para a cama, apenas para ter alguma coisa para fazer. Eu esperava que, sozinha no escuro, pudesse ceder aos temores terríveis que pairavam à beira de minha consciência, incapazes de vir à superfície sob a supervisão cuidadosa de Jasper. Mas Alice me seguiu casualmente, como se, por coincidência, tivesse ficado cansada da sala naquela mesma hora. Eu estava começando a me perguntar exatamente que tipo de instruções Edward lhe dera. Deitei atravessada na cama e ela se sentou, de pernas cruzadas, a meu lado. No início eu a ignorei, de repente cansada o bastante para dormir. Mas, depois de alguns minutos, o pânico que recuara na presença de Jasper começou a se mostrar. Desisti da idéia de dormir rapidamente, enroscando-me numa bola, abraçando minhas pernas. – Alice? – perguntei. – Sim.
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Mantive a voz muito calma. – O que acha que eles estão fazendo? – Carlisle queria levar o rastreador o máximo possível para o norte, esperar que ele chegasse perto e depois emboscá-lo. Esme e Rosalie deviam seguir para o oeste pelo maior tempo que pudessem manter a mulher atrás delas. Se ela voltasse, teriam de seguir para Forks e ficar de olhos em seu pai. Então imagino que as coisas estejam indo bem, se eles não telefonaram. Isto significa que o rastreador está perto o bastante para que eles não queiram que ele ouça. – E Esme? – Acho que ela deve ter voltado a Forks. Ela não ia ligar se houvesse alguma possibilidade de a mulher ouvir. Espero que todos estejam sendo muito cuidadosos. – Acha que eles estão mesmo seguros? – Bella, quantas vezes temos que lhe dizer que não há perigo nenhum para nós? – Mas você me contaria a verdade? – Sim. Sempre vou lhe contar a verdade. – Sua voz era sincera. Refleti por um momento e concluí que ela falava a sério. – Então me diga… Como se tornou uma vampira? Minha pergunta a pegou de guarda baixa. Ela ficou em silêncio. Eu me virei para olhar para ela e sua expressão parecia ambivalente. – Edward não quer que eu lhe conte isso – disse ela firmemente, mas parecia não concordar. – Isso não é justo. Acho que tenho o direito de saber. – Eu sei. Olhei para ela, esperando. Ela suspirou. – Ele vai ficar com muita raiva. – Não é da conta dele. Isto é entre mim e você. Alice, como amiga, eu imploro. – E agora éramos amigas, de certo modo, como Alice devia saber que seríamos, o tempo todo. Ela olhou para mim com seus olhos sábios e esplêndidos… Decidindo. – Vou lhe contar a mecânica disto – disse ela por fim –, mas eu mesma não me lembro, e nunca fiz nem vi ninguém fazer, então tenha em mente que só posso lhe contar a teoria.
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Eu esperei. – Como predadores, temos uma profusão de armas em nosso arsenal psíquico… Muito, muito mais do que o realmente necessário. A força, a velocidade, os sentidos aguçados, para não falar daqueles de nós como Edward, Jasper e eu, que também têm sentidos a mais. E então, como uma planta carnívora, somos fisicamente atraentes para nossa presa. Eu estava muito quieta, lembrando-me da clareza com que Edward demonstrou o mesmo conceito para mim na campina. Ela deu um sorriso largo e agourento. – Temos outra arma bastante supérflua. Todos somos venenosos – disse ela, os dentes cintilando. – O veneno não mata… É apenas incapacitante. Age lentamente, espalhando-se pela corrente sangüínea de modo que, depois d mordida, nossa presa sente uma dor física forte demais para escapar de nós. É principalmente supérfluo, como eu disse. Se chegássemos tão perto, a presa não escaparia. É claro que sempre existem exceções. Carlisle, por exemplo. – Então… Se o veneno se espalha… – murmurei. – Leva alguns dias para que a transformação seja completa, dependendo da quantidade de veneno na corrente sangüínea e da proximidade entre o veneno e o coração. Desde que o coração continue batendo, o veneno se espalha, curando, transformando o corpo ao se movimentar por ele. Por fim o coração pára e a conversão é concluída. Mas em todo esse tempo, em cada minuto dele, a vítima desejaria estar morta. Estremeci. – Como vê, não é agradável. – Edward disse que é muito difícil de fazer… Eu não entendi – eu disse. – De certa forma, também somos como tubarões. Depois que sentimos o gosto de sangue, ou o cheiro dele, fica muito difícil evitar o alimento. Às vezes é impossível. Então entenda, morder realmente alguém, sentir o gosto de sangue, seria o frenesi. É difícil para ambas as partes… A sede de sangue de um lado, a dor medonha do outro. – Por que você acha que não se lembra? – Não sei. Para todos os outros, a dor da transformação é a lembrança mais forte eu têm de sua vida humana. Eu não me lembro de nada de ser humana. – Sua voz era pensativa. Ficamos ali em silêncio, envolvidas em nossas meditações pessoais.
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Os segundos se passavam e eu quase me esquecera de sua presença, tão imersa estava em meus pensamentos. E então, sem nenhum aviso, Alice saltou da cama, colocando-se de pé com leveza. Minha cabeça saltou enquanto eu a olhava, sobressaltada. – Alguma coisa mudou. – Sua voz era urgente e ela não estava mais falando comigo. Ela chegou à porta ao mesmo tempo que Jasper. Ele obviamente ouvira a conversa e a súbita exclamação de Alice. Ele pôs as mãos nos ombros dela e a guiou de volta à cama, sentando-a na beira. – O que você vê? – perguntou ele intensamente, fitando-a nos olhos, focalizados em alguma coisa muito distante. Eu me aproximei dela, inclinando-me para acompanhar sua voz baixa e rápida. – Vejo um quarto. É comprido, há espelhos por toda parte. O chão é de madeira. Ele está na sala e espera. Há ouro… Uma tira dourada ao longo dos espelhos. – Onde fica a sala? – Não sei. Falta alguma coisa… Outra decisão que ainda não foi tomada. – Quanto tempo? – Logo. Ele ficará na sala de espelhos hoje, ou talvez amanhã. Depende. Ele espera por alguma coisa. E agora está no escuro. A voz de Jasper era calma e metódica enquanto a interrogava de forma prática. – O que ele está fazendo? – Ele vê televisão… Não, está passando um vídeo, no escuro, em outro lugar. – Pode ver onde ele está? – Não, está escuro demais. – E a sala de espelhos, o que mais há nela? – Só os espelhos e o ouro. É uma faixa, em volta da sala. E há uma mesa preta com um aparelho de som grande e uma TV. Ele está passando o vídeo ali, mas não assiste, como fez na sala escura. Esta é a sala onde ele espera. – Seus olhos vagaram, depois focalizaram o rosto de Jasper. – Não há mais nada. Ela sacudiu a cabeça. Eles se olharam, imóveis. – O que isso significa? – perguntei.
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Nenhum dos dois respondeu por um momento, depois Jasper olhou para mim. – Significa que os planos do rastreador mudaram. Ele tomou uma decisão que o levará à sala de espelhos e à sala escura. – Mas não sabemos onde ficam estas salas? – Não. – Mas sabemos que ele não estava nas montanhas ao norte de Washington, sendo caçado. Ele os enganou. – A voz de Alice era inexpressiva. – Não devemos telefonar? – perguntei. Eles trocaram um olhar sério e indeciso. E o telefone tocou. Alice chegou à sala antes que eu conseguisse levantar a cabeça para olhar para lá. Ela apertou um botão e colocou o fone na orelha, mas não foi a primeira a falar. – Carlisle – sussurrou ela. Ela não parecia surpresa nem aliviada, como eu me sentia. – Sim – disse ela, olhando para mim. Ela ouviu por um longo momento. – Acabo de vê-lo. – Ela descreveu novamente a visão que teve. – O que quer que o tenha feito pegar esse avião… está levando a estas salas. – Ela parou. – Sim – disse Alice ao telefone e depois falou comigo. – Bella? Passou o telefone para mim. Eu corri para ele. – Alô? – sussurrei. – Bella – disse Edward. – Ah, Edward! Fiquei tão preocupada. – Bella – ele suspirou de frustração. – Eu lhe disse para não se preocupar com nada, a não ser consigo mesma. – Era tão inacreditavelmente bom ouvir a voz dele. Senti a nuvem de desespero que pairava acima de mim ficar mais leve e se afastar enquanto ele falava. – Onde você está? – Estamos nos arredores de Vancouver. Bella, eu sinto muito… Nós o perdemos. Ele parece desconfiar de nós… Tem tido o cuidado de ficar bem longe para que não possamos ouvir seus pensamentos. Mas ele agora se foi… Parece que pegou um avião. Acreditamos que está voltando a Forks para recomeçar. – Pude ouvir Alice informando Jasper atrás de mim, as palavras rápidas misturando-se em um zumbido.
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– Eu sei. Alice viu que ele partiu. – Mas não precisa se preocupar. Ele não vai encontrar nada que o leve a você. Só precisa ficar aí e esperar até que o encontremos novamente. – Eu vou ficar bem. Esme está com Charlie? – Sim… A fêmea estava na cidade. Ela andou por toda a cidade durante a noite. Rosalie a seguiu até o aeroporto, por todas as estradas da cidade, a escola… Ela está cavando, Bella, mas não há nada para ser encontrado. – E tem certeza de que Charlie está seguro? – Sim, Esme não o perdeu de vista. E chegaremos lá em breve. Se o rastreador conseguir chegar perto de Forks, nós o pegaremos. – Estou com saudades – sussurrei. – Eu sei, Bella. Acredite, eu sei. É como se você tivesse levado metade de mim com você. – Venha pegar, então – eu o desafiei. – Logo, assim que for possível. Primeiro vou garantir que esteja segura. – Sua voz era áspera. – Eu te amo – lembrei a ele. – Você acreditaria que, apesar de tudo o que fiz você passar, eu também te amo? – Sim, eu acredito. – Encontrarei você em breve. – Vou ficar esperando. Assim que o telefone ficou mudo, a nuvem de depressão começou a se arrastar acima de mim de novo. Eu me virei pra devolver o telefone a Alice e a encontrei com Jasper, curvados sobre a mesa, onde Alice desenhava em um papel de carta do hotel. Encostei-me no sofá, olhando por sobre o ombro dela. Ela desenhava uma sala: comprida, retangular, com uma parte mais fina e quadrada ao fundo. As tábuas de madeira que compunham o piso se estendiam pelo ambiente. Pelas paredes havia linhas denotando as interrupções nos espelhos. E depois, envolvendo as paredes, na altura da cintura, uma faixa comprida. A faixa que Alice disse ser dourada. – É um estúdio de balé – eu disse, reconhecendo de repente as formas familiares. Eles olharam para mim, surpresos.
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– Conhece esta sala? – A voz de Jasper parecia calma, mas havia alguma coisa disfarçada que não consegui identificar. Alice tombou a cabeça sobre o trabalho, a mão agora voando pelo papel, uma saída de emergência tomando forma na parede escura, o aparelho de som e a TV em uma mesa baixa diante do canto direito. – Parece um lugar onde eu fazia aulas de dança… Quando tinha 8 ou 9 anos. Tem o mesmo formato. – Eu toquei o papel onde se destacava a parte quadrada, estreitando os fundos da sala. – Ali ficavam os banheiros… As portas dava para outra sala de dança. Mas o aparelho de som ficava aqui – apontei para o canto esquerdo –, era mais antigo e não tinha uma TV. Havia uma janela na sala de espera… Você veria a sala desta perspectiva se olhasse por ela. Alice e Jasper me encaravam. – Tem certeza de que é a mesma sala? – perguntou Jasper, ainda calmo. – Não, não tenho certeza… Acho que a maioria dos estúdios de dança seria parecida… Os espelhos, a barra. – Acompanhei com o dedo a barra de balé junto aos espelhos. – É só o formato que me parece familiar. – Toquei a porta, colocada exatamente no mesmo lugar que eu me lembrava. – Você teria algum motivo para ir lá agora? – perguntou Alice, interrompendo meus devaneios. – Não, já não vou lá há dez anos. Eu era uma dançarina péssima… Nos recitais, sempre me colocavam atrás – admiti. – Então não há como relacionar este lugar a você? – perguntou Alice intensamente. – Não, eu nem acho que pertence ao mesmo dono. Tenho certeza de que é outro estúdio de dança, em algum lugar. – Onde ficava o estúdio que você freqüentava? – perguntou Jasper numa voz despreocupada. – Bem na esquina da casa de minha mãe. Eu ia a pé depois da escola… – eu disse, minha voz falhando. Não me passou despercebido o olhar que eles trocaram. – Aqui em Phoenix, então? – A voz dele ainda era despreocupada. – Sim – sussurrei. – Rua Cinqüenta e Oito com Cactus. Todos nos sentamos em silêncio, olhando o desenho. – Alice, este telefone é seguro?
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– Sim – ela me garantiu. – O número é identificado como de Washington. – Então posso usar para ligar para minha mãe. – Pensei que ela estivesse na Flórida. – Ela está… Mas volta para casa logo, e não pode voltar para essa casa enquanto… – Minha voz tremeu. Eu estava pensando numa coisa que Edward havia dito, sobre a ruiva na casa de Charlie, na escola, onde poderiam estar meus registros. – Como você falará com ela? – Eles não têm número fixo, a não ser o da casa… Ela deve verificar os recados regularmente. – Jasper? – perguntou Alice. Ele pensou no assunto. – Não acho que isso possa fazer mal… Certifique-se de não dizer onde está, claro. Peguei ansiosamente o telefone e disquei o número familiar. Tocou quatro vezes e depois ouvi a voz leve de minha mãe dizendo para deixar um recado. – Mãe – disse eu depois do sinal –, sou eu. Olhe, preciso que você faça uma coisa. É importante. Assim que receber este recado, me ligue neste número – Alice já estava do meu lado, escrevendo o número para mim embaixo de seu desenho. Eu li com cuidado, duas vezes. – Por favor, não vá a lugar nenhum antes de falar comigo. Não se preocupe, eu estou bem, mas tenho que conversar com você imediatamente, não importa a hora que você ligar, está bem? Eu te amo, mão. Tchau. – Fechei os olhos e rezei com todas as forças para que nenhuma mudança de planos imprevista levasse minha mãe para casa antes de ela receber meu recado. Acomodei-me no sofá, mexendo em um prato com restos de fruta, prevendo uma longa noite. Pensei em ligar para Charlie, mas eu não tinha certeza se devia estar em casa agora ou não. Concentrei-me no noticiário, procurando por matérias sobre a Flórida, ou sobre a temporada de treinos – greves ou furacões ou ataques terroristas –, qualquer coisa que pudesse mandar os dois para casa antes da hora.
A imortalidade deve garantir uma paciência interminável. Nem Jasper nem Alice pareciam sentir necessidade de fazer qualquer coisa. Por algum tempo, Alice desenhou o contorno vago da sala escura de sua visão, o máximo que pôde enxergar à luz da TV. Mas quando terminou, ela
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simplesmente se sentou, olhando as paredes vazias com seus olhos atemporais. Jasper também parecia não ter o impulso de andar, ou olhar pelas cortinas, ou sair correndo e gritando porta afora, como eu tinha. Eu devo ter dormido no sofá, esperando que o telefone tocasse de novo. O toque das mãos frias de Alice me acordou brevemente enquanto ela me levava para a cama, mas voltei a ficar inconsciente antes que minha cabeça tocasse o travesseiro.
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21. TELEFONEMA 

Pude sentir que era cedo demais quando acordei de novo, e eu sabia que estava invertendo meus horários, trocando o dia pela noite. Fiquei deitada na cama e ouvi a voz baixa de Alice e Jasper no outro cômodo. O fato de que estavam altas o bastante para que eu ouvisse era muito estranho. Rolei até que meus pés tocaram o chão e cambaleei para a sala. O relógio da TV dizia que passava um pouco das duas da manhã. Alice e Jasper estavam sentados juntos no sofá, Alice desenhando de novo e Jasper olhando por sobre seu ombro. Eles não se viraram quando entrei, envolvidos demais no trabalho de Alice. Andei de mansinho até o lado de Jasper para espiar. – Ela viu mais alguma coisa? – perguntei a ele em voz baixa. – Sim. Alguma coisa a levou de volta à sala com o vídeo, mas agora há luz. Observei Alice desenhar uma sala quadrada com vigas escuras no teto baixo. As paredes eram revestidas de madeira, um pouco escura demais, fora de moda. O piso tinha um carpete escuro com uns desenhos. Havia uma janela grande na parede sul e uma abertura na parede oeste levava à sala de estar. Um lado dessa entrada era de pedra – uma grande lareira de pedra caramelo que se abria para os dois cômodos. Dessa perspectiva, o foco da sala, a TV e o videocassete, equilibrados em um rack de madeira pequeno demais, estavam no canto sul da sala. Um sofá envelhecido se curvava em torno da frente da TV, uma mesa de centro diante dele. – O telefone fica aqui – sussurrei, apontando. Dois pares de olhos eternos me fitaram. – Esta é a casa da minha mãe. Alice já estava fora do sofá, o telefone na mão, teclando. Olhei o retrato exato da sala de estar de minha mãe. Jasper, o que não era característico dele, deslizou para mais perto de mim. Tocou de leve em meu ombro e o contato físico parecia intensificar sua influência tranqüilizadora. O pânico permaneceu sufocado, sem foco. Os lábios de Alice tremiam com a velocidade de suas palavras, o zumbido baixo impossível de decifrar. Eu não conseguia me concentrar. – Bella – disse Alice. Olhei para ela, entorpecida.
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– Bella, Edward vem pegar você. Ele, Emmett e Carlisle a levarão para algum lugar, para escondê-la por algum tempo. – Edward está vindo? – As palavras foram como um colete salva-vidas, mantendo minha cabeça acima da inundação. – Sim, ele vai pegar o primeiro vôo para Seattle. Vamos nos encontrar com ele no aeroporto e você partirá com ele. – Mas, minha mãe? Ele vai atrás da minha mãe, Alice. – Apesar de Jasper, a histeria borbulhava em minha voz. – Jasper e eu ficaremos até que ela esteja segura. – Não posso vencer, Alice. Você não pode proteger todo mundo que eu conheço para sempre. Não vê o que ele está fazendo? Ele não está mais me rastreando. Ele vai encontrar alguém, vai machucar alguém que eu amo. Alice, eu não posso… – Nós vamos pegá-lo, Bella. – ela me garantiu. – E se você se ferir, Alice? Acha que está tudo bem para mim? Acha que é só a minha família humana que ele pode usar para me atingir? Alice olhou sugestivamente para Jasper. Fui dominada por uma névoa de letargia intensa e pesada, e meus olhos se fecharam sem minha permissão. Minha mente lutou contra a névoa, percebendo o que acontecia ali. Forcei meus olhos a se abrirem e me levantei, soltando a mão de Jasper. – Não quero voltar a dormir – rebati. Fui até o quarto e fechei a porta, na verdade a bati, assim eu podia ficar livre para reunir as peças em particular. Desta vez Alice não me seguiu. Por três horas e meia fiquei olhando a parede, enroscada numa bola, balançando-me. Minha mente andava em círculos, tentando tirar algum sentido deste pesadelo. Não havia escapatória, nenhuma alternativa. Eu só podia ver um final possível assomando sombriamente em meu futuro. A única pergunta era quantas outras pessoas seriam feridas antes que eu chegasse lá. O único consolo, a única esperança que me restava, era saber que veria Edward em breve. Talvez, se pudesse apenas ver seu rosto novamente, eu fosse capaz de enxergar a solução que agora me escapava. Quando o telefone tocou, voltei à sala, um pouco envergonhada por meu comportamento. Esperei não ter ofendido nenhum dos dois e que eles soubessem como eu estava grata pelos sacrifícios que faziam por mim.
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Alice falava com mais rapidez do que nunca, mas o que chamou minha atenção foi que, pela primeira vez, Jasper não estava na sala. Olhei o relógio – eram cinco e meia da manhã. – Eles estão embarcando no avião – disse-me Alice – Vão pousar às nove e quarenta e cinco. Eu só precisava continuar respirando por algumas horas até que ele estivesse aqui. – Onde está Jasper? – Foi pagar a conta. – Você não vai ficar aqui? – Não, vamos ficar mais perto da casa de sua mãe. Meu estômago revirou inquieto com as palavras dela. Mas o celular tocou novamente, distraindo-me. Ela pareceu surpresa, mas eu já estava avançando, estendendo a mão com esperança para o telefone. – Alô? – perguntou Alice – Não, ela está bem aqui – Ela estendeu o celular para mim – Sua mãe – murmurou. – Alô. – Bella? – Era a voz de minha mãe, em um tom familiar que eu ouvia em minha infância, sempre que eu chegava perto demais da beira da calçada, ou ela me perdia de vista em um lugar abarrotado. Era o som do pânico. Suspirei. Estava esperando por isso, embora tentasse fazer com que meu recado parecesse o menos alarmante possível, sem diminuir sua urgência. – Calma, mãe – eu disse na voz mais tranqüilizadora que pude, afastando-me lentamente de Alice. Não tinha certeza se podia mentir de forma convincente com os olhos dela em mim. – Está tudo bem, tá? Só me dê um minuto e vou explicar tudo, eu prometo. Eu parei, surpresa que ela ainda não tivesse me interrompido. – Mãe? – Não diga nada até que eu autorize. A voz que ouvi era desconhecida e inesperada. Era uma voz masculina de tenor, uma voz genérica e agradável – o tipo de voz que ouvimos ao fundo dos comerciais de carros de luxo. Ele falava com muita rapidez.
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– Agora, não preciso machucar sua mãe, então, por favor, faça exatamente o que eu disser e ela ficará bem. – Ele parou por um minuto enquanto eu ouvia num pavor emudecido. – Muito bom – elogiou. – Agora repita comigo e procure parecer natural. Diga, por favor: ”Não, mãe, fique aí onde está.” – Não, mãe, fique aí onde está. – Minha voz mal passava de um sussurro. – Estou vendo que será difícil. – A voz revelava diversão, ainda leve e amistosa. – Por que não vai para outro cômodo agora, para que sua cara não estrague tudo? Não há motivos para que sua mãe sofra. Enquanto estiver andando, por favor, diga: ”Mãe, por favor, me ouça.” Diga isso agora. – Mãe, por favor, me ouça – pediu minha voz. Andei muito devagar para o quarto, sentindo o olhar preocupado de Alice nas minhas costas. Fechei a porta depois de entrar, tentando pensar com clareza através do terror que se apoderara de meu cérebro. – E agora, está sozinha? Responda apenas sim ou não. – Sim. – Mas eles ainda podem ouvi-la, tenho certeza. – Sim. – Muito bem, então – continuou a voz agradável –, diga: ”Mãe, confie em mim.” – Mãe, confie em mim. – Isso. Está se saindo melhor do que eu esperava. Estava preparado para esperar, mas sua mãe chegou antes do programado. É mais fácil assim, não acha? Menos suspense, menos ansiedade para você. Esperei. – Agora quero que ouça com muito cuidado. Vou precisar que se afaste de seus amigos; acha que pode fazer isso? Responda sim ou não. – Não. – Lamento ouvir isso. Esperava que você fosse um pouco mais criativa. Acha que pode se afastar deles se a vida de sua mãe depender disso? Responda sim ou não. Tinha de haver um jeito. Lembrei-me de que íamos para o aeroporto. O Aeroporto Internacional Sky Harbor: apinhado de gente, de arquitetura confusa… – Sim.
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– Assim está melhor. Tenho certeza de que não será fácil, mas se eu captar o menor sinal de que você tem companhia, bem, seria muito ruim para a sua mãe – prometeu a voz simpática. – Deve saber o suficiente agora para perceber com que rapidez eu saberia se você tentasse levar alguém. E o pouco tempo de que eu precisaria para lidar com a sua mãe, se fosse necessário. Você entendeu? Responda sim ou não. – Sim. – Minha voz falhava. – Muito bom, Bella. Agora eis o que terá de fazer. Quero que vá para a casa de sua mãe. Ao lado do telefone, haverá um número. Ligue para ele e eu lhe direi aonde ir em seguida – Eu já sabia aonde iria e onde isso terminaria. Mas eu seguiria suas instruções com exatidão – Pode fazer isso? Responda sim ou não. – Sim – Antes do meio-dia, por favor, Bella. Não tenho o dia todo – disse ele educadamente. – Onde está Phil? – perguntei, tensa. – Ah, cuidado agora, Bella. Espere até que eu lhe peça para falar, por favor. Eu esperei. – É importante, agora, que você não deixe seus amigos desconfiados quando voltar a eles. Diga-lhes que sua mãe telefonou e que você a convenceu a não voltar para casa por enquanto. Agora repita comigo: ”Obrigada, mãe.” Diga isso agora. – Obrigada, mãe. – As lágrimas estavam surgindo. Tentei reprimi-las. – Diga: ”Eu te amo, mãe. A gente se vê logo.” Diga isso agora. – Eu te amo, mãe. – Minha voz era grave. – A gente se vê logo – prometi. – Adeus, Bella. Estou ansioso para vê-la novamente. – Ele desligou. Segurei o telefone em minha orelha. Minhas articulações estavam congeladas de pavor – eu não conseguia dobrar os dedos para largá-lo. Eu sabia que precisava pensar, mas minha cabeça estava cheia do som do pânico de minha mãe. Os segundos passaram enquanto eu lutava para me controlar. Devagar, lentamente, meus pensamentos começaram a furar o muro de dor. Planejar. Porque agora eu não tinha alternativa, exceto uma: ir para a sala de espelhos e morrer. Eu não tinha garantias, nada para dar a fim de manter minha mãe viva.
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Só podia esperar que James se satisfizesse com a vitória no jogo, que derrotar Edward fosse o bastante para ele. O desespero me dominou; não havia como barganhar, nada que eu pudesse oferecer ou retirar que o pudesse influenciar. Mas eu ainda não tinha alternativas. Eu precisava tentar. Empurrei o terror para o fundo o máximo que pude. Minha decisão estava tomada. Não fazia nenhum bem perder tempo torturando-me com o resultado. Eu precisava pensar com clareza, porque Alice e Jasper esperavam por mim, e fugir deles era absolutamente essencial, e absolutamente impossível. De repente fiquei grata por Jasper ter saído. Se ele estivesse aqui para sentir minha angústia nos últimos cinco minutos, como eu poderia evitar que eles suspeitassem? Sufoquei o medo, a ansiedade, tentei abafá-los. Agora eu não podia me permitir isso. Não sabia quando ele voltaria. Concentrei-me em minha fuga. Eu tinha que esperar que minha familiaridade com o aeroporto me trouxesse vantagem. De algum modo, eu precisava manter Alice longe… Eu sabia que Alice estava no outro cômodo esperando por mim, curiosa. Mas eu precisava lidar com mais uma coisa em particular, antes que Jasper retornasse. Tinha que admitir que não veria Edward novamente, nem mesmo um último vislumbre de seu rosto para levar comigo para a sala de espelhos. Eu ia magoá-lo e não podia dizer adeus. Deixei que as ondas de tortura percorressem meu corpo, fizessem sua parte por algum tempo. Depois, também as empurrei para o fundo e fui enfrentar Alice. A única expressão que pude fazer foi um olhar apagado e vazio. Vi seu sobressalto e não esperei que ela perguntasse. Eu tinha apenas um roteiro e jamais conseguiria improvisar. – Minha mãe ficou preocupada, queria vir para casa. Mas está tudo bem, eu a convenci a ficar – Minha voz não tinha vida. – Vamos cuidar para que ela fique bem, Bella, não se preocupe. Eu me virei, não podia permitir que ela visse meu rosto. Meus olhos caíram em uma página em branco do papel de carta do hotel na mesa. Fui até lá lentamente, um plano se formava. Também havia um envelope ali Isso era bom. – Alice – perguntei devagar, sem me virar, mantendo a voz estável – Se eu escrever uma carta para minha mãe, você entregaria a ela? Deixaria
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na casa, quero dizer? – Claro, Bella – Sua voz era cautelosa. Ela podia ver que eu estava dilacerada. Eu precisava manter minhas emoções sob o maior controle. Fui novamente para o quarto e me ajoelhei ao lado da mesinha-de-cabeceira para escrever. ”Edward”, escrevi. Minha mão tremia, as letras mal eram legíveis. Eu te amo. Eu lamento muito. Ele está com a minha mãe. Eu sei que isso pode não funcionar. Eu lamento muito, muito. Não fique com raiva de Alice e Jasper. Se eu conseguir me afastar deles vai ser um milagre. Agradeça eles por mim. Especialmente Alice, por favor. E por favor, por favor, não vá atrás dele. É isso que ele quer. Eu acho. Eu não vou conseguir agüentar se alguém se machucar por minha causa, especialmente você. Por favor, isso é a única coisa que eu posso te pedir agora. Por mim. Eu te amo. Me perdoe. Bella. Eu dobrei a carta com cuidado e a lacrei no envelope. Um dia ele iria encontrá-la. Esperava que ele entendesse e me desse ouvidos pelo menos desta vez.

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