quinta-feira, 24 de março de 2011

Crepúsculo - Capítulos 22 ao 24 (Últimos Capítulos)

22. ESCONDE-ESCONDE 

Levou muito menos tempo do que eu pensava – todo o pavor, o desespero, meu coração estilhaçando-se. Os minutos passavam mais lentamente do que de costume. Jasper ainda não tinha retornado quando voltei para Alice. Eu tinha medo de ficar no mesmo ambiente que ela, medo de que ela adivinhasse… E medo de esconder dela pelo mesmo motivo. Eu havia pensado que estava muito além de minha capacidade ficar surpresa, meus pensamentos torturados e instáveis, mas eu fiquei surpresa quando vi Alice curvada sobre a mesa, segurando-se na beira com as duas mãos. – Alice? Ela não reagiu quando chamei seu nome, mas sua cabeça lentamente virou para o meu lado e eu vi seu rosto. Seus olhos eram inexpressivos e apagados… Meus pensamentos voaram para minha mãe. Já era tarde demais para mim? Corri para o lado dela, estendendo o braço automaticamente para pegar sua mão. – Alice! – A voz de Jasper foi uma chicotada e logo ele estava bem atrás de Alice, as mãos envolvendo as dela, soltando-as do aperto na mesa. Do outro lado da sala, a porta se fechou com um estalo baixo. – O que é – perguntou ele. Ela desviou os olhos de mim, olhando o peito dele. – Bella – disse ela. – Eu estou aqui – respondi. Sua cabeça girou, os olhos fitando os meus, sua expressão ainda estranhamente vazia. Percebi logo que ela não estava falando comigo, estava respondendo à pergunta de Jasper. – O que você viu? – eu disse, e não havia indagação em minha voz uniforme e despreocupada. Jasper me olhou atentamente. Mantive a expressão vazia e esperei. Os olhos dele estavam confusos enquanto passavam rapidamente do rosto de Alice para o meu, sentindo o caos Pelo que eu adivinhava que Alice vira agora.
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Senti uma atmosfera tranqüila em volta de mim. Eu a abriguei, usando-a para manter minhas emoções disciplinadas, sob controle. Alice também se recuperou. – Na verdade, nada – respondeu ela por fim, a voz extraordinariamente calma e convincente – Só a mesma sala de sempre. Ela por fim olhou para mim, a expressão tranqüila e reservada. – Quer seu café-da-manhã? – Não, vou comer no aeroporto. – Eu também estava muito calma. Fui tomar um banho. Quase como se eu tivesse pegado emprestado o estranho sexto sentido de Jasper, pude sentir o desespero desenfreado de Alice, embora bem escondido, por eu sair da sala, por ficar sozinha com Jasper. Assim ela podia contar a ele que iam fazer algo errado, que iam falhar. Eu me arrumei metodicamente, concentrando-me em cada pequena tarefa. Deixei o cabelo solto, balançando em volta de mim, cobrindo meu rosto. O estado de espírito tranqüilo criado por Jasper funcionou comigo e me ajudou a pensar com clareza. Ajudou-me a planejar. Vasculhei minha bolsa até achar a meia cheia de dinheiro. Eu a esvaziei no meu bolso. Estava ansiosa para chegar ao aeroporto e fiquei feliz quando saímos às sete. Desta vez sentei-me sozinha no banco traseiro do carro escuro. Alice encostou-se à porta, o rosto voltado para Jasper, mas, por trás dos óculos de sol, lançava olhares na minha direção a cada poucos segundos. – Alice – perguntei, indiferente. Ela era cautelosa. Sim. – Como isso funciona? As coisas que você vê? – Olhei pela janela lateral e minha voz parecia entediada. – Edward disse que não era definitivo. Que as coisas mudam, é verdade? – Dizer o nome dele era mais difícil do que eu pensava. Deve ter sido isso que alertou Jasper, porque uma nova onda de serenidade encheu o carro. – Sim, as coisas mudam – murmurou ela Com esperança, pensei. – Algumas coisas são mais certas do que outras. Como o clima. As pessoas são mais difíceis. Só vejo o rumo que tomam quando estão nele. Depois que mudam de idéia e tomam uma nova decisão, por menor que seja, todo o futuro se altera. Eu assenti pensativamente.
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– Então você não poderá ver James em Phoenix enquanto ele não decidir vir para cá? – Sim – concordou ela, cautelosa novamente. E ela só me viu na sala de espelhos com James quando eu tomei a decisão de encontrá-lo lá. Tentei não pensar no que mais Alice havia visto. Não queria que meu pânico deixasse Jasper mais desconfiado. Agora eles estariam me vigiando com o dobro de cuidado, depois da visão de Alice. Isto ia ser impossível. Chegamos ao aeroporto. A sorte estava comigo, ou talvez fosse só o acaso. O avião de Edward ia pousar no terminal quatro, o maior terminal, onde a maioria dos vôos pousava – então não surpreendeu que o dele fosse para lá. Mas era o terminal de que eu precisava: grande, mais confuso E havia uma porta para o terceiro pavimento que podia ser minha única chance. Estacionamos no quarto andar da garagem imensa. Eu os conduzi, outra vez por conhecer mais o ambiente do que eles. Pegamos o elevador para o terceiro pavimento, onde os passageiros desembarcavam. Alice e Jasper passaram um longo tempo olhando o quadro de embarque. Eu podia ouvi-los discutindo os prós e contras de Nova York, Atlanta, Chicago. Lugares que eu não conhecia E jamais conheceria. Esperei por minha oportunidade, impaciente, incapaz de impedir que os dedos de meus pés batessem. Sentamos nas longas filas de cadeiras perto dos detetores de metal, Jasper e Alice fingindo olhar as pessoas, mas na verdade me vigiando. Cada centímetro que eu mexia em minha cadeira era acompanhado por um olhar rápido pelo canto de seus olhos. Era inútil. Será que eu devia correr? Eles ousariam me deter fisicamente neste lugar público? Ou simplesmente me seguiriam? Peguei o envelope em branco em meu bolso e o coloquei em cima da bolsa de couro preto de Alice. Ela olhou para mim. – Minha carta – eu disse. Ela assentiu, enfiando-a sob a aba de cima. Ele a encontraria logo. Os minutos passaram e a chegada de Edward ficava mais próxima. Era incrível como cada célula de meu corpo parecia saber que ele estava vindo, ansiava por sua chegada. Isso dificultou muito as coisas. Eu me vi tentando pensar em desculpas para ficar, para vê-lo primeiro e depois fugir. Mas eu sabia que era impossível, se quisesse ter alguma chance de escapar.
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Por várias vezes, Alice ofereceu-se para me acompanhar ao café-da-manhã. Mais tarde, eu disse, agora não. Olhei o quadro de chegadas, observando enquanto um vôo depois de outro pousava no horário. O vôo de Seattle se aproximava cada vez mais do alto do quadro. E então, quando eu só tinha trinta minutos para escapar, os números mudaram. O avião dele estava dez minutos adiantado. Eu não tinha mais tempo. – Acho que vou comer agora – disse eu rapidamente. Alice se levantou. – Vou com você. – Importa-se se Jasper for comigo? perguntei. – Estou me sentindo meio… – Não terminei a frase. Meus olhos eram turbulentos o bastante para transmitir o que não falei. Jasper se levantou. Os olhos de Alice estavam confusos, mas – como vi, para meu alívio – não havia suspeita neles. Ela deve estar atribuindo a mudança em sua visão a alguma manobra do rastreador e não a uma traição minha. Jasper andou em silêncio ao meu lado, a mão na base de minhas costas, como se me guiasse. Fingi perder o interesse nas primeiras lanchonetes do aeroporto, minha cabeça procurando o que eu realmente queria. E lá estava, na esquina, fora da vista afiada de Alice o banheiro das mulheres do terceiro pavimento. – Importa-se – perguntei a Jasper enquanto passávamos – Só vou levar um minuto Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu estava correndo. Eu me lembrava da época em que me perdi saindo deste banheiro, porque havia duas saídas. Do lado de fora da porta, era só uma curta corrida até os elevadores, e se Jasper ficasse onde disse que estaria, eu nunca entraria em sua linha de visão. Não olhei para trás enquanto corria. Era minha única chance. e, mesmo que ele me visse, eu precisava continuar. As pessoas olhavam, mas eu as ignorei. Na esquina, os elevadores esperavam e disparei para a frente, lançando a mão entre as portas que se fechavam de um elevador cheio que estava descendo.
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Eu me espremi ao lado de passageiros irritados e olhei para ter certeza de que o botão para o primeiro andar fora pressionado. Já estava aceso, e as portas se fecharam. Assim que as portas se abriram novamente eu saí, causando murmúrios irritados atrás de mim. Diminuí o passo enquanto passava pela segurança perto da esteira de bagagem e disparei novamente quando as portas de saída entraram em meu campo de visão. Eu não tinha como saber se Jasper ainda estava procurando por mim. Eu só teria segundos se ele estivesse seguindo meu cheiro. Pulei para as portas automáticas, quase me chocando contra o vidro quando elas se abriram devagar demais. Junto ao meio-fio abarrotado de gente, não havia nenhum táxi à vista. Eu não tinha tempo. Alice e Jasper ou estavam prestes a perceber que eu sumira, ou já haviam se dado conta disso. Eles me encontrariam numa batida de coração. Um microônibus para o hotel Hyatt estava fechando as portas a pouca distância de mim. – Espere – gritei, correndo, acenando para o motorista. – Este é o microônibus para o Hyatt. – disse o motorista numa confusão enquanto abria as portas. – Sim. – gritei –. – É para lá que eu vou. – Subi correndo a escada. Ele olhou desconfiado para mim, sem bagagem, mas deu de ombros, sem se incomodar em perguntar. A maioria dos lugares estava vaga. Sentei o mais distante possível dos outros passageiros e olhei pela janela primeiro para a calçada, depois para o aeroporto, que se afastavam. Não conseguia imaginar Edward, onde ele estaria na beira da estrada quando descobrisse o final de minha trilha. Eu ainda não podia chorar, disse a mim mesma. Ainda tinha um longo caminho pela frente. Minha sorte continuo a Na frente do Hyatt, um casal que parecia cansado pegava a última mala no porta-malas de um táxi. Pulei para fora do microônibus e corri para o táxi, deslizando para o banco de trás. O casal cansado e o motorista do microônibus me olharam. Dei o endereço de minha mãe ao taxista surpreso. – Preciso chegar lá o mais rápido possível. – Isto fica em Scottsdale – reclamou ele. Atirei quatro notas de vinte pelo banco.
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– Isso basta? – Claro, garota, sem problema. Encostei no banco, cruzando os braços no colo. A cidade familiar começava a disparar em volta de mim, mas não olhei pela janela. Esforcei-me para manter o controle. Estava decidida a não me perder a esta altura, agora que meu plano era concluído com sucesso. Não tinha sentido aceitar mais pavor, mais ansiedade. Meu caminho estava traçado. Agora só precisava segui-lo. Assim, em vez de entrar em pânico, fechei os olhos e passei a viagem de vinte minutos com Edward. Imaginei que eu estava no aeroporto para recebê-lo. Visualizei como eu ficaria na ponta dos pés, para ver seu rosto mais cedo. Com que rapidez, com que elegância ele se movimentaria pela multidão de pessoas que nos separava. E depois eu correria para estreitar estes últimos metros entre nós – desajeitada, como sempre – e estaria em seus braços de mármore, enfim segura. Perguntei-me aonde nós iríamos. Para algum lugar ao norte, assim ele podia passar o dia fora. Ou talvez algum lugar muito afastado, para que pudéssemos nos deitar ao sol juntos de novo. Imaginei-o na praia, sua pele cintilando como o mar. Eu não me importaria mais que tivéssemos de nos esconder. Ficar presa em um quarto de hotel com ele seria uma espécie de paraíso. Eram tantas perguntas que eu ainda tinha para ele. Eu podia conversar com ele para sempre, jamais dormir, jamais deixar de estar a seu lado. Podia ver seu rosto com tanta clareza agora… Quase ouvi a voz dele. E, apesar de todo horror e desesperança, eu me sentia fugazmente feliz. Estava tão envolvida em meus devaneios escapistas, que não percebi que os segundos dispararam. – Ei, qual é o número? A pergunta do taxista rebateu minha fantasia, roubando todas as cores das minhas lindas ilusões. O medo, oco e duro, esperava para preencher o espaço que elas deixaram. – Cinco-oito-dois-um. – Minha voz parecia estrangulada. O taxista olhou para mim, com medo de que eu estivesse tendo um ataque ou coisa assim.
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– Então, chegamos. – Ele estava ansioso para me ver fora de seu carro, provavelmente esperando que eu não pedisse o troco. – Obrigada – sussurrei. Não havia necessidade de ter medo, lembrei a mim mesma. A casa estava vazia. Eu tinha que correr; minha mãe esperava por mim, apavorada, dependendo de mim. Corri para a porta, pegando automaticamente a chave no beiral. Destranquei-a. Estava escuro lá dentro, vazio, normal. Corri até o telefone, acendendo a luz da cozinha ao passar. Ali, no quadro branco, havia um número de dez dígitos escrito com uma caligrafia pequena e elegante. Meus dedos se atrapalharam com o teclado, cometendo erros. Tive que desligar e discar novamente. Desta vez concentrei-me somente nos botões, apertando com cuidado cada um deles. Consegui. Segurei o fone no ouvido com a mão trêmula. Só tocou uma vez. – Alô, Bella – atendeu a voz tranqüila. – Que rapidez. Estou impressionado. – Minha mãe está bem? – Ela está perfeitamente bem. Não se preocupe, Bella, não preciso me indispor com ela. A não ser que você não venha sozinha, é claro. – Leve, divertida. – Eu estou sozinha. – Nunca estivera mais só em toda a minha vida. – Muito bom. Agora, sabe o estúdio de balé bem na esquina de sua casa? – Sim. Sei como chegar lá. – Bem, então a verei em breve. Eu desliguei. Corri da sala, passei pela porta e saí para o calor de torrar. Não havia tempo para olhar minha casa às costas e eu não queria vê-la como estava agora – vazia, um símbolo de medo, e não um santuário. A última pessoa a passar por aqueles cômodos familiares fora meu inimigo. Pelo canto do olho, quase pude ver minha mãe de pé na sombra do eucalipto grande onde eu brincava quando criança. Ou ajoelhada junto ao pequeno trecho de terra em volta da caixa de correio, o cemitério de todas as flores que ela tentou cultivar. As lembranças eram melhores do que qualquer realidade que eu veria hoje. Mas corri delas, para a esquina, deixando tudo para trás.
Eu me sentia lenta, como se estivesse correndo em areia molhada – não parecia conseguir impulso suficiente com o concreto. Tropecei várias
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vezes, caí uma vez, equilibrando-me com as mãos, arranhando-as na calçada, e depois me jogando para cima para me lançar de novo. Mas enfim consegui chegar à esquina. Só mais uma rua agora; eu corri, o suor descendo por meu rosto, arfando. O sol estava quente em minha pele, brilhante demais enquanto se refletia no concreto branco e me cegava. Eu me senti perigosamente exposta. Com mais intensidade do que sonhava ser capaz, eu desejei o verde, as florestas protetoras de Forks… De casa. Quando virei a última esquina e entrei na Cactus, pude ver o estúdio, como eu me lembrava dele. O estacionamento em frente estava vazio, as persianas verticais das janelas, arriadas. Não consegui correr mais – eu não conseguia respirar; o esforço e o medo levaram a melhor sobre mim. Pensei em minha mãe para manter meus pés em movimento, um à frente do outro. A medida que me aproximava, pude ver a placa do lado de fora da porta. Era manuscrita num papel rosa-choque; dizia que o estúdio estava fechado para as férias de primavera. Toquei a maçaneta, girando-a com cuidado. Estava destrancada. Lutei para tomar fôlego e abri a porta. O saguão estava escuro e vazio, frio, o ar-condicionado zunindo. As cadeiras de plástico moldado estavam empilhadas junto às paredes e o carpete tinha cheiro de xampu. O salão de dança a oeste estava escuro, pude ver pela janela de observação aberta. O salão de dança a leste, o maior, estava iluminado. Mas as persianas estavam fechadas nas janelas. O terror se apoderou de mim com tanta força que eu literalmente tropeçava nele. Não consegui fazer com que meus pés avançassem. E então a voz da minha mãe gritou. – Bella? Bella? O mesmo tom de pânico histérico. Corri para a porta, para o som de sua voz. – Bella, você me assustou! Nunca mais faça isso comigo! – A voz continuava enquanto eu entrava na sala comprida de teto alto. Olhei a minha volta, tentando descobrir de onde vinha sua voz. Eu a ouvi rir e girei para o som. Ali estava ela, na tela de TV, afagando meu cabelo, aliviada. Era o Dia de Ação de Graças e eu tinha 12 anos. Tínhamos ido visitar minha avó na Califórnia, o último ano antes de ela morrer. Um dia fomos à praia e eu me curvei demais na beira do píer. Ela viu meus pés agitados, tentando recuperar o equilíbrio. ”Bella? Bella?”, gritou para mim com medo.
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E depois a tela da TV ficou azul. Virei-me lentamente. Ele estava imóvel perto da saída dos fundos, então eu ainda não o havia notado. Em sua mão tinha um controle remoto. Nós nos encaramos por um longo momento e depois ele sorriu. Ele veio na minha direção, bem perto, e passou por mim para colocar o controle ao lado do vídeo. Virei-me com cuidado para observá-lo. – Desculpe por isso, Bella, mas não é melhor que sua mãe realmente não tenha que se envolver? – A voz dele era cortês e gentil. E de repente eu entendi. Minha mãe estava segura. Ainda estava na Flórida. Ela não recebera meu recado. Nunca ficara apavorada com os olhos escuros no rosto anormalmente pálido que eu tinha diante de mim. Ela estava segura. – Sim – respondi, minha voz saturada de alívio. – Não parece com raiva por eu tê-la enganado. – Não estou. – Meu súbito surto de adrenalina me deu coragem. O que importava agora? Logo estaria terminado. Charlie e minha mãe nunca seriam prejudicados, nunca teriam de temer. Eu me sentia quase tonta. Uma parte analítica de minha mente me alertou de que eu estava perigosamente perto de me despedaçar de estresse. – Que estranho. Você está mesmo falando sério. – Seus olhos escuros me avaliaram com interesse. As íris eram quase pretas, só com um toque de rubi nas bordas. A sede. – Vou admitir que bando estranho vocês são; vocês, humanos, podem ser bem interessantes. Acho que entendo o que atrai em observar vocês. É incrível… Alguns parecem não ter nenhum senso de egoísmo. Ele estava parado a pouca distância de mim, os braços cruzados, olhando-me com curiosidade. Não havia ameaça em seu rosto nem em sua atitude. Ele era de aparência mediana, nada extraordinário no rosto ou no corpo. Só a pele branca, as olheiras a que eu estava acostumada. Vestia uma camisa azul clara de mangas compridas e jeans desbotados. – Imagino que vá me dizer que seu namorado a vingará, não é – perguntou ele, com esperança, ao que me pareceu. – Não, acho que não. Pelo menos eu lhe pedi para não fazer isso. – E qual foi a resposta dele? – Não sei – Era estranhamente fácil conversar com este caçador gentil. – Eu lhe deixei uma carta.
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– Mas que romântico, uma última carta E acha que ele vai honrá-la? – Sua voz agora era um pouco mais dura, uma sugestão de sarcasmo desfigurando o tom educado. – Espero que sim. – Hmmm. Bem, nossas esperanças então diferem. Veja bem, tudo isso foi meio fácil demais, rápido demais. Para ser franco, estou decepcionado. Esperava um desafio muito maior E, afinal, só precisei de um pouco de sorte. Esperei em silêncio. – Quando Victoria não conseguiu pegar seu pai, fiz com que ela descobrisse mais sobre você. Não tinha sentido correr pelo planeta perseguindo-a quando eu podia confortavelmente esperar em um lugar de minha preferência. Assim, depois de falar com Victoria, decidi vir para Phoenix para fazer uma visita à sua mãe. Ouvi você dizer que ia para casa. De início, nunca imaginei que estivesse falando sério. Mas então pensei bem. Os humanos podem ser muito previsíveis. Eles gostam de ir para um lugar conhecido, um lugar seguro. E não seria a trama perfeita, ir para o último lugar que deveria quando estivesse se escondendo… para o lugar onde você disse que estaria? Ele continuou: – Mas é claro que eu não tinha certeza, era só um pressentimento. Em geral tenho uma sensação sobre a presa que estou caçando, um sexto sentido, se preferir assim. Ouvi seu recado quando fui à casa de sua mãe, mas é claro que eu não podia saber de onde você tinha ligado. Foi muito útil ter seu número, mas você podia estar na Antártida, pelo que eu sabia, e o jogo não daria certo a não ser que você estivesse por perto. Depois seu namorado pegou um avião para Phoenix. Victoria os estava monitorando para mim, naturalmente; em um jogo com muitos participantes, eu não podia trabalhar sozinho. E então eles me disseram o que eu esperava, que você estava aqui, afinal de contas. Eu me preparei; já havia visto seus encantadores filmes caseiros. E depois foi simplesmente uma questão de blefe. Muito fácil, entende, não está à altura de meus padrões. Então, veja bem, estou esperando que você esteja errada sobre seu namorado. Edward, não é?
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Não respondi. A bravata diminuía. Senti que ele terminara de se vangloriar. Eu não tinha importância nenhuma. Não havia glória em me derrotar, uma humana fraca. – Você se importaria muito se eu deixasse uma carta minha para o seu Edward? Ele deu um passo para trás e tocou numa pequena câmera de vídeo digital equilibrada cuidadosamente no alto do aparelho de som. Uma luzinha vermelha indicava que já estava rodando. Ele a ajustou algumas vezes, ampliando o quadro. Eu o encarava, apavorada. – Desculpe, mas não acho que ele vá resistir a me perseguir depois que vir isto. E eu não gostaria que ele perdesse nada. É tudo para ele, é claro. Você é apenas uma humana, que infelizmente estava no lugar errado, na hora errada e indiscutivelmente andando com a turma errada, devo acrescentar. Ele deu um passo na minha direção, sorrindo. – Antes de começarmos… Senti uma onda de náusea na boca do estômago enquanto ele falava. Esta era uma coisa que eu não havia previsto. – Gostaria de ressaltar isso só um pouquinho. A resposta estava lá o tempo todo e eu temia que Edward visse e estragasse minha diversão. Já aconteceu uma vez, ah, séculos atrás. A única vez em que uma presa escapou de mim. Veja você, o vampiro que tão estupidamente ansiou por sua pequena vítima tomou a decisão que seu Edward foi fraco para tomar. Quando o velho soube que eu estava atrás de sua amiguinha, roubou-a do sanatório em que ela estava – nunca vou entender a obsessão que alguns vampiros parecem ter por vocês, humanos – e, assim que a libertou, ele a deixou segura. Ela não pareceu perceber a dor, pobre criaturinha. Ficou presa naquele buraco escuro da cela por um bom tempo. Cem anos antes ela teria sido queimada por suas visões. Na década de 1920 eram o sanatório e os tratamentos de choque. Quando ela abriu os olhos, forte com a nova juventude, foi como se nunca tivesse visto o sol. O velho vampiro a tornou uma nova vampira forte, e então não havia motivos para que eu tocasse nela – Ele suspirou. – Eu destruí o velho por vingança. – Alice – sussurrei, atordoada.
– Sim, sua amiguinha. Eu fiquei mesmo surpreso ao vê-la na clareira. Então acho que o bando dela devia ser capaz de extrair algum conforto desta experiência. Peguei você, mas eles a pegaram. A única
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vítima que me escapou, na verdade, uma honra. E ela tinha um cheiro muito delicioso. Ainda me arrependo de nunca ter sentido o sabor… Ela cheirava ainda melhor do que você. Desculpe, não quero ofendê-la. Você tem um cheiro muito bom. Floral, meio… Ele deu outro passo na minha direção, até ficar a centímetros de distância. Ergueu uma mecha de meu cabelo e o cheirou delicadamente Depois colocou com suavidade a mecha no lugar e eu senti a ponta de seus dedos frios em meu pescoço. Ele levantou a mão para afagar meu rosto rapidamente com o polegar, o rosto curioso. Eu queria desesperadamente correr, mas fiquei paralisada. Não conseguia me mexer nem um centímetro. – Não – murmurou ele consigo mesmo enquanto deixava cair a mão –, eu não entendo. – Ele suspirou – Bem, imagino que devamos continuar com isso. E depois posso ligar para seus amigos e lhes dizer onde podem encontrá-la, e a meu recadinho. Agora eu estava definitivamente enjoada. A dor estava vindo, eu podia ver em seus olhos. Não seria o suficiente para ele vencer, alimentar-se e ir embora. Não haveria o fim rápido com que eu estava contando. Meus joelhos começaram a tremer e tive medo de desabar. Ele recuou um passo e começou a circular, despreocupadamente, como se estivesse tentando ter uma visão melhor de uma estátua em um museu. Seu rosto ainda era franco e amistoso enquanto ele decidia por onde começar Depois ele mergulhou para a frente, para uma postura agachada que reconheci, e seu sorriso agradável lentamente se ampliou, cresceu, até que não era mais um sorriso, mas uma contorção de dentes, expostos e reluzentes. Não consegui me agüentar – tentei correr. Mesmo sabendo que seria inútil, mesmo com os joelhos já fracos, o pânico me dominou e me atirei para a saída de emergência. Ele estava diante de mim num átimo. Não vi se usou a mão ou os pés, foi rápido demais. Um golpe atingiu meu peito e me senti voando para trás, depois ouvi o som de algo sendo triturado quando minha cabeça bateu nos espelhos. O vidro rachou, parte dele se estilhaçou e os cacos se espalharam no chão em volta de mim. Fiquei atordoada demais para sentir a dor. Ainda não conseguia respirar.
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Ele andou na minha direção lentamente. – Este é um belo efeito – disse ele, examinando a bagunça de cacos de vidro, sua voz amistosa novamente. – Pensei que esta sala seria visualmente dramática para meu filminho. Foi por isso que escolhi este lugar para o encontro. É perfeito, não é? Eu o ignorei, andando de quatro, engatinhando para a outra porta. Logo ele estava em cima de mim, o pé pisando com força em minha perna. Ouvi a dentada repugnante antes de senti-la. Mas depois eu a senti e não consegui reprimir o grito de agonia. Girei para segurar minha perna e ele estava de pé diante de mim, sorrindo. – Gostaria de pensar melhor em seu último pedido? – perguntou ele agradavelmente. A ponta de seu pé cutucava minha perna quebrada e eu ouvi um grito penetrante. Chocada, percebi que era meu. – Não gostaria que Edward tentasse me encontrar? – propôs ele. – Não! – gritei. – Não, Edward, não… – E depois alguma coisa esmagou meu rosto, atirando-me de volta aos espelhos quebrados. Por cima da dor em minha perna, senti o rasgo agudo em meu couro cabeludo, onde o vidro o cortou. E depois a umidade quente começou a se espalhar por meu cabelo com uma velocidade alarmante. Pude sentir que ensopava minha blusa no ombro, ouvi gotejar no chão, o cheiro revirou meu estômago. Através da náusea e da vertigem vi algo que me deu um fragmento súbito e final de esperança. Os olhos dele, antes apenas intensos, agora ardiam de uma necessidade incontrolável. O sangue – espalhando-se carmim por minha blusa branca, empoçando rapidamente no chão – o deixava louco de sede. Quaisquer que fossem suas intenções originais, ele não conseguiria prolongar isto por muito mais tempo. Que seja rápido agora, era só o que eu esperava enquanto o fluxo de sangue de minha cabeça sugava minha consciência. Meus olhos se fechavam. Eu ouvi, como que submersa, o último rugido do caçador. Pude ver, através dos túneis compridos em que se transformaram meus olhos, sua forma escura vindo para mim. Com um último esforço, minha mão instintivamente se ergueu para proteger meu rosto. Meus olhos se fecharam e eu fiquei à deriva.
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23. O ANJO

Enquanto estava a deriva, eu sonhei. Onde eu flutuava, sob a água escura, ouvi o som mais feliz que minha mente podia conjurar – tão lindo, tão enaltecedor quanto medonho. Era outro grunhido; um rugido mais profundo, mais selvagem, soava com fúria. Fui trazida de volta, quase à tona, por uma dor aguda que me golpeava a mão erguida, mas não consegui encontrar o caminho de volta o bastante para abrir os olhos. Porque, através da água pesada, ouvi o som de um anjo chamando meu nome, chamando-me para o único paraíso que eu queria. – Ah, não, Bella, não! – gritou a voz apavorada do anjo. Por trás do som que se estendia houve outro barulho – um tumulto medonho de que minha mente se abrigou. Um rosnado grave e maligno, um som estrepitoso, chocante, e um lamento agudo, interrompendo-se de repente… Tentei me concentrar na voz do anjo. – Bella, por favor! Bella, escute-me, por favor, por favor, Bella, por favor! – implorava ele. Sim, eu queria dizer. Qualquer coisa. Mas não consegui encontrar meus lábios. – Carlisle! – gritou o anjo, a agonia em sua voz perfeita. – Bella, Bella, não, ah, por favor, não, não! – E o anjo chorava sem lágrimas, em soluços interrompidos. O anjo não devia chorar, isso não está certo. Tentei encontrá-lo, dizer-lhe que estava tudo bem, mas a água era tão funda, me pressionava e eu não conseguia respirar. Houve um ponto de pressão em minha cabeça. Doeu. Depois, enquanto essa dor irrompia pela escuridão até chegar a mim, outras dores vieram, dores mais fortes. Eu gritei, ofegando, respirando pela represa escura. – Bella! – gritou o anjo. – Ela perdeu algum sangue, mas o ferimento na cabeça não é profundo – informou-me uma voz calma. – Veja a perna dela, está quebrada.
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Um uivo de raiva saiu estrangulado dos lábios do anjo. Senti uma pontada aguda do lado do corpo. Isto não podia ser o paraíso, podia? Havia dor demais. – Acho que algumas costelas também – continuou a voz metódica. Mas as dores agudas diminuíam. Houve uma nova dor, uma dor fervente em minha mão que sobrepujava todas as outras. Alguém estava me queimando. – Edward – tentei dizer a ele, mas minha voz era muito pesada e lenta. Eu não conseguia me entender. – Bella, você vai ficar bem. Pode me ouvir, Bella? Eu te amo. – Edward – tentei novamente. Minha voz era um pouco mais clara. – Sim, estou aqui. – Isso dói – choraminguei. – Eu sei, Bella, eu sei – e depois, longe de mim, angustiado –, não pode fazer nada? – Minha maleta, por favor… Prenda a respiração, Alice, isso vai ajudar – prometeu Carlisle. – Alice? – grunhi. – Ela está aqui, ela sabia onde encontrá-la. – Minha mão está doendo – tentei dizer a ele. – Eu sei, Bella. Carlisle lhe dará alguma coisa, vai parar. – Minha mão está queimando! – eu gritei, finalmente rompendo o que restava da escuridão, meus olhos se abrindo. Eu não podia ver seu rosto, algo escuro e quente toldava meus olhos. Por que eles não viam o fogo e o apagavam? A voz dele estava assustada. – Bella! – O fogo! Alguém apague o fogo! – gritei enquanto ele me queimava. – Carlisle! A mão dela! – Ele a mordeu. – A voz de Carlisle não estava mais calma, estava aterrorizada. Ouvi Edward prender a respiração de horror. – Edward, você precisa fazer. – Era a voz de Alice, perto de minha cabeça. Dedos frios roçaram a umidade em meus olhos. – Não! – berrou ele. – Alice – eu gemi.
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– Pode ser a única chance – disse Carlisle. – O quê? – implorou Edward. – Veja se pode sugar o veneno! A ferida está bem limpa. – Enquanto Carlisle falava, pude sentir mais pressão na cabeça, algo cutucando e empurrando em meu couro cabeludo. A dor era pior do que a do fogo. – Isso vai dar certo? – A voz de Alice era tensa. – Não sei – disse Carlisle – Mas precisamos nos apressar. – Carlisle, eu… – Edward hesitou. – Não sei se posso fazer isso. – Havia agonia em sua linda voz novamente. – A decisão é sua, Edward, de uma forma ou de outra. Não posso ajudá-lo. Tenho que deter este sangramento aqui, se vai tirar sangue da mão dela. Eu me contorci com o aperto da tortura feroz, o movimento fazendo com que a dor em minha perna queimasse de forma nauseante – Edward! – gritei. Percebi que meus olhos estavam fechados de novo. Eu os abri, desesperada para encontrar seu rosto. E o encontrei. Finalmente, pude ver seu rosto perfeito, olhando para mim, retorcido em uma máscara de indecisão e dor. – Alice, me dê alguma coisa para imobilizar a perna dela! – Carlisle estava curvado sobre mim, trabalhando em minha cabeça. – Edward, deve fazer agora, ou será tarde demais. O rosto de Edward estava cansado. Vi seus olhos enquanto a dúvida de repente era substituída por uma determinação ardente. Seu queixo endureceu. Senti seus dedos frios e fortes em minha mão que queimava, colocando-a em posição. Depois sua cabeça se curvou e seus lábios frios pressionaram minha pele. No início, a dor foi pior. Eu gritei e me debati contra as mãos frias que me seguravam. Ouvi a voz de Alice, tentando me acalmar. Algo pesado mantinha minhas pernas no chão e Carlisle tinha minha cabeça presa em seus braços fortes. Depois, lentamente, minha agitação se aquietou enquanto minha mão ficava cada vez mais entorpecida. O fogo cedia, concentrado em um ponto cada vez menor. Senti minha consciência me escapar enquanto a dor abrandava. Eu tinha medo de cair na água negra de novo, medo de perdê-lo na escuridão.
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– Edward – tentei dizer, mas não consegui ouvir minha voz. Eles podiam me ouvir. – Ele está bem aqui, Bella. – Fique, Edward, fique comigo… – Eu ficarei. – Sua voz era tensa, mas de certo modo triunfante. Suspirei de satisfação. O fogo passara, as outras dores entorpecidas por uma sonolência que tomava meu corpo. – Saiu tudo – perguntou Carlisle de algum lugar ao longe. – O sangue dela está limpo – disse Edward em voz baixa. – Posso sentir a morfina. – Bella? – Carlisle me chamou. Tentei responder. – Hmmm. – O fogo passou? – Sim – suspirei. – Obrigada, Edward. – Eu te amo – respondeu ele. – Eu sei – sussurrei, absolutamente cansada. Ouvi o som de que mais gostava no mundo: o riso baixo de Edward, fraco de alívio. – Bella – perguntou Carlisle novamente. Franzi o cenho; eu queria dormir. – Quê? – Onde está sua mãe? – Na Flórida – suspirei. – Ele me enganou, Edward. Ele viu meus vídeos. – O ultraje em minha voz era lamentavelmente fraco. Mas isso me fez lembrar. – Alice. – Tentei abrir os olhos. – Alice, o vídeo… Ele conhecia você, Alice, ele sabia de onde você veio. – Eu quis falar com urgência, mas minha voz era fraca. – Senti cheiro de gasolina – acrescentei, surpresa na névoa de meu cérebro. – Está na hora de levá-la – disse Carlisle. – Não, eu quero dormir – reclamei. – Pode dormir, meu amor, eu carrego você – Edward me tranqüilizou. E eu estava em seus braços, aninhada em seu peito – flutuando, toda a dor desaparecida. – Durma agora, Bella – foram as últimas palavras que ouvi.
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24. UM IMPASSE 

Meus olhos se abriram para uma luz branca e forte. Eu estava e um quarto desconhecido, um quarto branco. A parede atrás de mim era coberta de persianas verticais; no alto, as luzes brilhantes me cegavam. Eu estava recostada em uma cama dura e desigual – uma cama com grades. Os travesseiros eram achatados e cheios de protuberâncias. Havia um bipe irritante em algum lugar por perto. Esperei que significasse que eu ainda estava viva. A morte não devia ser tão desconfortável. Minhas mãos estavam presas a tubos claros e alguma coisa estava colada em meu rosto, sob meu nariz. Ergui a mão para arrancar. – Não, não pode. – Edward? – Virei a cabeça devagar e seu rosto extraordinário estava a centímetros do meu, o queixo pousado na beira de meu travesseiro. Percebi novamente que eu estava viva, desta vez com gratidão e alegria. – Ah, Edward, eu lamento tanto! – Shhhh – ele me aquietou. – Agora tudo vai ficar bem. – O que aconteceu? – Eu não conseguia lembrar com clareza e minha mente se rebelava quando eu tentava. – Quase cheguei tarde demais. Eu podia ter me atrasado – sussurrou ele, a voz atormentada. – Eu fui tão idiota, Edward. Pensei que ele estivesse com a minha mãe. – Ele enganou a nós todos. – Preciso ligar para Charlie e para mamãe – percebi através da névoa. – Alice ligou para eles. Renée está aqui… Bom, aqui no hospital. Ela está pegando alguma coisa para comer agora. – Ela está aqui? – Tentei me sentar, mas minha cabeça girou mais rápido e a mão dele me empurrou delicadamente para os travesseiros. – Ela vai voltar logo – prometeu ele. – E você precisa ficar quieta.
– Mas o que vocês disseram a ela? – Entrei em pânico. Eu não estava interessada em ficar quieta. Minha mãe estava aqui e eu me
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recuperava de um ataque de vampiro. – Por que disse a ela que eu estou aqui? – Você caiu dois lances de escada e atravessou uma vidraça. – Ele parou. – Tem que admitir que isso pode acontecer. Eu suspirei e isso doeu. Olhei meu corpo sob o lençol, o calombo enorme que era minha perna. – O que aconteceu comigo? – perguntei. – Você tem uma perna quebrada, quatro costelas quebradas, algumas rachaduras no crânio, hematomas cobrindo cada centímetro de sua pele e perdeu muito sangue. Eles fizeram algumas transfusões. Eu não gostei… Deixou seu cheiro totalmente errado por algum tempo. – Deve ser uma mudança boa para você. – Não, prefiro o seu cheiro. – Como você conseguiu? – perguntei em silêncio. Ele entendeu o que eu quis dizer de imediato. – Não tenho certeza. – Ele desviou o rosto de meus olhos curiosos, erguendo minha mão enrolada em ataduras da cama e segurando delicadamente na dele, com o cuidado de não soltar o fio que me conectava a um dos monitores. Esperei pacientemente pelo resto. Ele suspirou sem retribuir meu olhar. – Foi impossível… parar – sussurrou ele. – Impossível. Mas consegui. – Ele finalmente me olhou com um meio sorriso. – Eu devo mesmo amar você. – Meu gosto não é tão bom quanto meu cheiro? – Eu sorri em resposta. Isso provocou dor em meu rosto. – É ainda melhor… Melhor do que eu imaginava. – Desculpe – eu disse. Ele ergueu os olhos para o teto. – De todas as coisas para se desculpar… – Pelo que eu devia me desculpar? – Por quase tirar você de mim para sempre. – Desculpe – eu disse novamente. – Sei por que fez isso. – Sua voz era reconfortante. – Assim mesmo foi irracional. Devia ter esperado por mim, devia ter me contado. – Você não teria me deixado ir.
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– Não – concordou ele num tom melancólico. – Não teria. Algumas lembranças muito desagradáveis começavam a retornar. Eu estremeci e pestanejei. Ele de imediato ficou angustiado. – Bella, qual é o problema? – O que aconteceu com James? – Depois que o arranquei de você, Emmett e Jasper cuidaram dele. – Havia um tom feroz de arrependimento em sua voz. Isso me confundiu. – Não vi Emmett e Jasper lá. – Eles tiveram que sair da sala… Havia muito sangue. – Mas você ficou. – Sim, eu fiquei. – E Alice, e Carlisle… – eu disse, maravilhada. – Eles também a amam, sabe disso. Um lampejo de imagens dolorosas da última vez em que vira Alice me lembraram de uma coisa. – Alice viu a fita? – perguntei com ansiedade. – Sim. – Um novo som escurecia sua voz, um tom de puro ódio. – Ela sempre permaneceu no escuro, era por isso que não se lembrava. – Eu sei. Agora ela entende. – A voz dele era tranqüila, mas sua expressão era sombria e furiosa. Tentei estender a mão livre para seu rosto, mas alguma coisa me impedia. Olhei para baixo e vi o tubo intravenoso puxando minha mão. – Ai. – Estremeci. – O que é? – perguntou ele com ansiedade; distraído, mas não o bastante. O vazio não deixou inteiramente seus olhos. – Agulhas – expliquei, desviando o rosto de uma delas na minha mão. Concentrei-me no teto inclinado e tentei respirar fundo apesar da dor nas costelas. – Medo de uma agulha – murmurou ele para si mesmo, sacudindo a cabeça – Ah, um vampiro sádico que pretende torturá-la até a morte não é um problema, é claro, ela correu para se encontrar com ele. Mas uma agulha intravenosa por outro lado… Revirei os olhos. Fiquei satisfeita por descobrir que esta reação, pelo menos, não doía. Decidi mudar de assunto.
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– Por que você está aqui? – perguntei Ele olhou para mim, primeiro com um toque de confusão e depois mágoa nos olhos. Suas sobrancelhas se uniram ao franzir a testa. – Quer que eu vá embora? – Não! – protestei, apavorada com a idéia – Não, quer dizer, por que minha mãe acha que você está aqui? Eu preciso ter uma história pronta antes de ela voltar. – Ah – disse ele e sua testa se suavizou voltando ao aspecto de mármore. – Eu vim a Phoenix para tentar colocar algum juízo em sua cabeça, para convencê-la a voltar a Forks. – Seus olhos grandes eram tão sinceros e francos que eu mesma quase acreditei nele – Você concordou em me ver e foi para o hotel onde eu estava com Carlisle e Alice… É claro que eu estava aqui com supervisão paterna – inseriu ele virtuosamente –, mas você tropeçou na escada a caminho de meu quarto e… Bom, você sabe o resto Mas não precisa se lembrar de nenhum detalhe; tem uma boa desculpa para estar meio confusa com as minúcias. Pensei nisso por um momento. – Existem algumas falhas nesta história. Nenhuma vidraça quebrada, por exemplo. – Na verdade, não – disse ele. – Alice se divertiu um pouquinho fabricando as provas. Todos os cuidados foram tomados para que parecesse muito convincente… Você poderia processar o hotel, se quisesse. Não tem por que se preocupar – prometeu ele, afagando meu rosto com o mais leve dos toques. – Sua única tarefa agora é se curar. Eu não estava tão perdida nas dores ou na confusão mental provocada pelos medicamentos a ponto de não reagir ao toque dele. O bipe do monitor pulava erraticamente – agora ele não era o único que podia ouvir meu coração portar-se mal. – Isso vai ser constrangedor – murmurei para mim mesma. Ele riu. E um olhar especulativo apareceu em seus olhos. – Hmmm, imagino… Ele se inclinou lentamente; o bipe se acelerou desenfreadamente antes que seus lábios sequer me tocassem. Mas quando o fizeram, embora com a pressão mais delicada possível, o bipe parou completamente. Ele recuou de súbito, a expressão de ansiedade transformando-se em alívio enquanto o monitor descrevia o recomeço dos batimentos.
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– Parece que terei de ser ainda mais cuidadoso do que de costume. – Ele franziu o cenho. – Ainda não terminei de beijar você – reclamei. – Não me faça ir até aí. Ele deu um sorriso malicioso e se curvou para colocar os lábios de leve nos meus. O monitor ficou frenético. Mas seus lábios estavam tensos. Ele se afastou. – Acho que ouvi sua mãe – disse ele, sorrindo novamente. – Não me deixe – eu pedi, um surto irracional de pânico me inundando. Eu não podia deixá-lo ir; ele desapareceria novamente. Ele viu o terror em meus olhos por um breve segundo. – Não vou – prometeu solenemente, e depois sorriu. – Vou tirar um cochilo. Ele saiu da cadeira de plástico do meu lado e foi para a espreguiçadeira de couro sintético cor de turquesa aos pés da cama, deitando-se e fechando os olhos. Ficou completamente imóvel. – Não se esqueça de respirar – sussurrei sarcasticamente. Ele respirou fundo, os olhos ainda fechados. Agora eu podia ouvir a minha mãe. Ela falava com alguém, talvez uma enfermeira, e parecia cansada e perturbada. Eu queria pular da cama e correr para ela, para acalmá-la, assegurar que tudo estava bem. Mas não estava em forma para pular, então esperei pacientemente. A porta se abriu um pouco e ela espiou dentro do quarto. – Mãe! – sussurrei, minha voz cheia de amor e alívio. Ela percebeu a forma imóvel de Edward na espreguiçadeira e veio na ponta dos pés para o lado da cama. – Ele nunca vai embora, não é – murmurou ela para si mesma – Mãe, é tão bom ver você! Ela se inclinou para me abraçar com delicadeza e senti lágrimas quentes caindo por meu rosto – Bella, fiquei tão perturbada! – Me desculpe, mãe. Mas agora está tudo bem, está tudo bem – eu a reconfortei. – Fico tão feliz por finalmente ver seus olhos abertos. – Ela se sentou na beira de minha cama. De repente percebi que eu não fazia idéia de quando foi. – Há quanto tempo estão fechados? – Hoje é sexta-feira, querida, você ficou apagada por algum tempo.
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– Sexta – fiquei chocada. Tentei me lembrar de que dia foi quando… Mas não queria pensar nisso. – Eles a mantiveram sedada por um tempo, querida. Você sofreu muitas lesões. – Eu sei. – Eu podia senti-las. – Teve sorte de o Dr. Cullen estar aqui. Ele é um bom homem… Mas tão novo. E mais parece um modelo do que um médico… – Conheceu Carlisle? – E a irmã de Edward, Alice, uma menina adorável. – É verdade – concordei de coração. Ela olhou por sobre o ombro para Edward, deitado de olhos fechados na cadeira. – Você não me contou que tinha amigos tão bons em Forks. Eu encolhi e depois gemi. – Onde dói? – perguntou ela com ansiedade, virando-se para mim. Os olhos de Edward falsearam para meu rosto – Estou bem – eu lhes garanti. – Só preciso me lembrar de não me mexer. – Ele voltou a sua falsa soneca. Tirei vantagem da distração momentânea de minha mãe para continuar desviando o assunto de meu comportamento não muito cândido – Onde está o Phil? – perguntei rapidamente. – Na Flórida. Ah, Bella! Nem imagina! Justo quando estávamos prestes a ir embora, a boa notícia chegou! – O Phil conseguiu assinar – chutei. – Sim! Como adivinhou? Com os Suns, dá para acreditar? – Mãe, isso é ótimo – eu disse com o maior entusiasmo que pude, embora tivesse pouca idéia do que isso significava. – E você vai gostar muito de Jacksonville – disse ela esfuziante enquanto eu olhava com uma expressão vazia. – Fiquei meio preocupada quando Phil começou a falar em Akron, com aquela neve e tudo, porque você sabe que eu odeio o frio, mas agora Jacksonville! Sempre ensolarado e a umidade não é assim tão ruim. Encontramos uma casa lindinha, amarela, com acabamentos de madeira branca e uma varanda, como de um filme antigo, e um carvalho enorme, só fica a alguns minutos da praia e você terá seu próprio banheiro…
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– Espera, mãe! – interrompi. Edward ainda estava de olhos fechados, mas parecia tenso demais para passar por adormecido. – Do que está falando? Não vou para a Flórida. Eu moro em Forks. – Mas não precisa mais, bobinha – ela riu. – Phil vai conseguir ficar muito mais agora… Nós conversamos e o que eu vou fazer é alternar metade do tempo com você, metade com ele nos jogos em outras cidades. – Mãe. – Eu hesitei, perguntando-me qual era a maneira mais diplomática de dizer isso – Eu quero morar em Forks. Já me adaptei na escola e tenho algumas amigas – ela olhou novamente para Edward quando eu a lembrei dos amigos, então tentei outro rumo –, e Charlie precisa de mim. Ele está tão sozinho lá e não sabe cozinhar nada. – Quer ficar em Forks – perguntou ela, surpresa. A idéia lhe era inconcebível. E depois seus olhos dispararam para Edward. – Por quê? – Eu lhe disse… Escola, Charlie… Ai! – Eu dei de ombros. Não foi uma boa idéia. Suas mãos flutuaram impotentes para mim, tentando encontrar um lugar seguro para afagar. Ela fez isso em minha testa; não estava enfaixada. – Bella, querida, você odeia Forks – ela me lembrou. – Não é tão ruim. Ela franziu a testa e olhou de Edward para mim, desta vez deliberadamente – É este rapaz? – sussurrou ela Abri a boca para mentir, mas os olhos dela examinavam meu rosto e eu sabia que ela veria através dele – Ele é parte do motivo – admiti. Não havia necessidade de confessar que era uma grande parte. – Então, teve uma chance de conversar com Edward – perguntei. – Sim – Ela hesitou, olhando sua figura perfeitamente imóvel – E quero falar com você sobre isso. Epa. – Sobre o quê – perguntei. – Acho que esse rapaz está apaixonado por você – acusou ela, mantendo a voz baixa. – Eu também acho – confidenciei. – E como se sente com relação a ele – Ela mal conseguia esconder a forte curiosidade em sua voz.
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Eu suspirei, desviando os olhos. Embora eu amasse muito minha mãe, esta não era uma conversa que eu quisesse ter com ela. – Eu sou louca por ele. – Pronto, isso parecia o que uma adolescente podia dizer do primeiro namorado. – Bem, ele parece muito legal e, meu Deus, é incrivelmente bonito, mas você é tão nova, Bella – Sua voz era insegura. Pelo que podia me lembrar, esta era a primeira vez desde que eu tinha 8 anos que ela chegou tão perto de tentar parecer uma autoridade. Reconheci o tom razoável mas firme das conversas que tive com ela sobre os homens. – Sei disso, mãe. Não se preocupe. É só uma paixonite – eu a tranqüilizei. – Está bem – concordou ela, facilmente satisfeita. Depois ela suspirou e olhou o relógio grande na parede, cheia de culpa. – Precisa ir? Ela mordeu o lábio. – O Phil deve telefonar daqui a pouco. Eu não sabia que você ia acordar. – Tudo bem, mãe – Tentei esconder o alívio para que ela não ficasse magoada – Não vou ficar sozinha. – Eu volto logo. Estou dormindo aqui, sabia? – anunciou ela, orgulhosa de si mesma. – Ah, mãe, não precisa fazer isso! Pode dormir em casa… Eu nem vou perceber. – O turbilhão de analgésicos em meu cérebro estava dificultando minha concentração mesmo agora, mas aparentemente eu estava dormindo há dias. – Fiquei nervosa demais – admitiu ela timidamente. – Houve um crime no bairro e não gosto de ficar ali sozinha. – Crime? – perguntei, alarmada. – Alguém arrombou aquele estúdio de dança da esquina e o incendiou completamente… Não restou nada! E deixaram um carro roubado na frente. Lembra quando você dançava lá, querida? – Lembro. – Eu estremeci. – Eu posso ficar, meu bem, se precisar de mim. – Não, mãe. Eu estou bem. Edward vai ficar comigo. Ela deu a impressão de que podia ser por isso que ela queria ficar.
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– Vou voltar à noite. – Parecia mais um aviso do que uma promessa, e ela olhou para Edward novamente ao dizer isso. – Eu te amo, mãe. – Também te amo, Bella. Procure ter mais cuidado quando andar, querida. Não quero perder você. Os olhos de Edward continuavam fechados, mas um sorriso largo lampejou por seu rosto. Uma enfermeira entrou de repente para verificar todos os tubos e fios. Minha mãe me deu um beijo na testa, afagou minha mão enrolada em ataduras e saiu. A enfermeira estava verificando o registro de meu monitor cardíaco. – Está se sentindo ansiosa, querida? Seus batimentos cardíacos ficaram um pouco altos aqui. – Estou bem – garanti a ela. – Vou contar a sua enfermeira que você acordou. Ela virá vê-la daqui a um minuto. Assim que ela fechou a porta, Edward estava a meu lado. – Você roubou um carro? – Eu ergui as sobrancelhas. Ele sorriu, sem arrependimento. – Era um bom carro, bem rápido. – Como foi sua soneca? – perguntei. – Interessante. – Seus olhos se estreitaram. – Que foi? Ele olhou para baixo ao responder. – Estou surpreso. Pensei que a Flórida… E sua mãe… Bom, pensei que era o que você queria. Eu o fitei sem compreender. – Mas você ficaria trancado o dia todo na Flórida. Só poderia sair à noite, como um vampiro de verdade. Ele quase sorriu, mas não o bastante. E depois seu rosto ficou grave. – Eu ficaria em Forks, Bella. Ou outro lugar parecido – explicou ele. – Um lugar onde não pudesse mais machucar você.
A princípio, não compreendi. Continuei a fitá-lo inexpressivamente enquanto as palavras, uma por uma, encaixavam-se em minha cabeça como um quebra-cabeças medonho. Mas mal estava consciente do som de meu
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coração acelerando, enquanto minha respiração chegava à hiperventilação. Eu estava ciente da dor aguda de protesto em minhas costelas. Ele nada disse; olhou meu rosto cautelosamente, para a dor que nada tinha a ver com ossos quebrados, uma dor que era infinitamente pior e ameaçava me triturar. E depois outra enfermeira entrou decidida no quarto. Edward se sentou como uma pedra enquanto ela examinava minha expressão com os olhos experientes antes de se voltar para os monitores. – Hora dos analgésicos, querida? – perguntou ela gentilmente, dando um tapinha no soro intravenoso. – Não, não – murmurei, tentando esconder a agonia de minha voz. – Não preciso de nada. – Eu agora não podia fechar os olhos. – Não precisa ser corajosa, querida. É melhor se não se estressar demais; precisa descansar. – Ela esperou, mas eu sacudi a cabeça. – Muito bem – ela suspirou. – Toque a campainha quando precisar. Ela olhou com frieza para Edward e lançou mais um olhar ansioso para a aparelhagem antes de sair. As mãos frias dele estavam em meu rosto; eu o fitei de olhos arregalados. – Shhh, Bella, acalme-se. – Não me deixe – implorei numa voz entrecortada. – Não vou – prometeu ele. – Agora relaxe antes que eu chame a enfermeira para sedar você. Mas meu coração não conseguia desacelerar. – Bella. – Ele afagou meu rosto com angústia. – Eu não vou a parte alguma. Vou ficar bem aqui pelo tempo que precisar de mim. – Jura que não vai me deixar? – sussurrei. Tentei controlar a respiração ofegante, pelo menos. Minhas costelas latejavam. Ele pôs as mãos em minha face e trouxe o rosto para perto do meu. Seus olhos eram grandes e ansiosos. – Eu juro. O cheiro de seu hálito era tranqüilizador. Pareceu atenuar a dor de minha respiração. Ele continuou a sustentar meu olhar enquanto meu corpo aos poucos relaxava e o bipe voltava ao normal. Seus olhos estavam escuros, hoje mais para o preto do que para o dourado. – Melhor? – perguntou ele. – Sim – eu disse cautelosamente.
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Ele sacudiu a cabeça e murmurou alguma coisa ininteligível. Pensei ter entendido as palavras ”reação exagerada”. – Por que disse isso? – sussurrei, tentando evitar que a voz tremesse. – Está cansado de ter que me salvar o tempo todo? Quer que eu vá embora? – Não, não quero ficar sem você, Bella, é claro que não. Seja racional. E eu tampouco tenho problemas com salvar você… Se não fosse pelo fato de que fui eu que a coloquei em perigo… Este é o motivo para você estar aqui. – Sim, tem razão. – Franzi a testa. – O motivo para eu estar aqui… Viva. – Mais ou menos. – Sua voz era só um sussurro. – Coberta de ataduras e gesso e praticamente incapaz de se mexer. – Não estava me referindo à minha recente experiência de quase-morte – eu disse, ficando irritada. – Estava pensando nas outras… Pode escolher qual. Se não fosse por você, eu estaria criando raiz no cemitério de Forks. Ele estremeceu com minhas palavras, mas o olhar assombrado não deixou seus olhos. – Mas essa não é a pior parte – continuou ele aos sussurros. Ele agia como se eu não tivesse falado. – Nem ver você ali no chão… quebrada e maltratada. – Sua voz era abafada. – Nem pensar que eu chegara tarde demais. Nem mesmo ouvir seu grito de dor… Todas estas lembranças insuportáveis que vou levar comigo pelo resto da eternidade. Não, o pior foi sentir… saber que eu poderia não parar. Acreditar que eu mesmo iria matar você. – Mas não matou. – Podia ter matado. Com muita facilidade. Sabia que precisava ficar calma… Mas ele tentava falar em me deixar e o pânico palpitava em meus pulmões, tentando sair – Prometa – sussurrei. – O quê? – Você sabe o quê – agora eu começava a ficar com raiva. Ele estava obstinadamente decidido a continuar na negativa. Ele ouviu a mudança em minha voz. Seus olhos se estreitaram.
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– Não pareço ser forte o suficiente para ficar longe de você, então acho que vou continuar como quiser… Quer isto a mate ou não – acrescentou ele rispidamente – Que ótimo. – Mas ele não prometeu, e este fato não me passou despercebido. O pânico mal podia ser reprimido; eu não tinha forças para controlar a raiva. – Você me disse como parou… Agora quero saber por quê – exigi. – Por quê – repetiu ele cautelosamente. – Por que parou. Por que não deixou simplesmente que o veneno se espalhasse. Agora eu seria como você. Os olhos de Edward pareceram voltar ao preto e eu me lembrei de que esta era uma coisa que ele queria que eu não soubesse. Alice devia ter ficado preocupada com as coisas que soube de si mesma… Ou seria muito cuidadosa com seus pensamentos perto dele – claramente, ele não fazia idéia se ela havia me informado da mecânica das conversões de vampiros. Ele ficou surpreso e enfurecido. Suas narinas inflaram, a boca parecia ter sido cinzelada em pedra. Ele não ia responder, isso estava bem claro – Serei a primeira a admitir que não tenho experiência com relacionamentos – eu disse. – Mas isso parece lógico… Um homem e uma mulher precisam ser, de alguma forma, iguais… Não é possível que um deles sempre esteja aparecendo do nada e salvando o outro. Eles têm que se salvar igualmente. Ele cruzou os braços ao lado de minha cama e pousou o queixo neles. Sua expressão era tranqüila, a raiva refreada. Evidentemente ele decidira que não estava com raiva de mim. Tive esperanças de ter uma oportunidade de alertar Alice antes que ele estivesse com ela. – Você já me salvou – disse ele baixinho. – Não posso ser sempre Lois Lane – insisti. – Também quero ser o Super-homem. – Não sabe do que está falando. – Sua voz era suave; ele olhava intensamente a beira da fronha. – Acho que sei. – Bella, você não sabe. Tive quase noventa anos para pensar nisso, e ainda não tenho certeza. – Preferiria que Carlisle não tivesse salvado você?
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– Não, eu não preferiria isso. – Ele fez uma pausa antes de continuar. – Mas minha vida estava acabada. Eu não estava abrindo mão de nada. – Você é a minha vida. Você é a única coisa que me magoaria perder. – Eu estava ficando melhor nisso. Era fácil admitir o quanto eu precisava dele. Mas ele estava muito calmo. Decidido. – Não posso fazer isso, Bella. Não vou fazer isso com você. – E por que não? – Minha garganta arranhou e as palavras não saíram altas como eu pretendia. – Não me diga que é difícil demais! Depois de hoje, ou acho que alguns dias atrás… De qualquer forma, depois daquilo, não deve ser nada. Ele me fitou. – E a dor? – perguntou ele. Empalideci. Não consegui evitar. Mas tentei evitar que minha expressão revelasse com que clareza eu me lembrava da sensação… O fogo nas veias. – Isso é problema meu – eu disse. – Posso lidar com ela. – É possível levar a coragem ao ponto em que se torna insanidade. – Isso não é um problema. Três dias. Grande coisa. Edward sorriu com malícia de novo enquanto minhas palavras o lembravam de que eu estava mais informada do que ele pretendia que eu estivesse. Eu o vi reprimir a raiva, vi seus olhos ficarem especulativos. – E Charlie? – perguntou ele rispidamente. – E Renée? Os minutos se passaram em silêncio enquanto eu lutava para responder à pergunta. Abri a boca, mas não saiu nenhum som. Eu a fechei novamente. Ele esperou, e sua expressão tornou-se triunfante porque ele sabia que eu não tinha uma resposta. – Olhe, isso também não é um problema – murmurei por fim, minha voz pouco convincente, como sempre era quando eu mentia. – Renée sempre tomou as decisões que eram melhores para ela… Ela quer que eu faça o mesmo. E Charlie é resistente, está acostumado a ficar sozinho. Não posso cuidar dele para sempre. Tenho que viver a minha vida. – Exatamente – rebateu ele. – E não vou terminá-la para você. – Se está esperando que eu esteja em meu leito de morte, tenho uma novidade para você! Eu já estou nele! – Você vai se recuperar – lembrou-me Edward.
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Respirei fundo para me acalmar, ignorando o espasmo de dor que isso causou. Eu o fitei e ele retribuiu o olhar. Não havia transigência em seu rosto. – Não – eu disse lentamente. – Não vou. Sua testa se vincou. – É claro que vai. Pode ficar com uma ou duas cicatrizes… – Está enganado – insisti. – Eu vou morrer. – Francamente, Bella. – Agora ele estava ansioso. – Você terá alta daqui a alguns dias. Duas semanas, no máximo. Olhei para ele. – Posso não morrer agora… Mas vou morrer um dia. A cada minuto, chego mais perto. E vou ficar velha. Ele franziu o cenho ao entender o que eu disse, apertando os dedos longos nas têmporas e fechando os olhos. – É como costuma acontecer, como deve acontecer. Como teria acontecido se eu não existisse… E eu não devia existir. Eu bufei. Ele abriu os olhos, surpreso. – Que coisa mais idiota. É como ir até alguém que acaba de ganhar na loteria, tirar seu dinheiro e dizer: ”Olhe, vamos voltar a como as coisas devem ser. É melhor assim.” E eu não estou convencida disso. – Não sou um prêmio de loteria – grunhiu ele. – É verdade. Você é muito melhor. Ele revirou os olhos e repuxou os lábios. – Bella, não vamos mais ter essa discussão. Eu me recuso a condenar você à eternidade da noite e ponto final. – Se acha que é o final, então não me conhece muito bem – eu o alertei. – Não é o único vampiro que eu conheço. Seus olhos ficaram escuros de novo. – Alice não se atreveria. E por um momento ele pareceu tão assustador que não consegui deixar de acreditar – não podia imaginar alguém com coragem suficiente para enfrentá-lo. – Alice já viu isso, não viu? – adivinhei. – É por isso que as coisas que ela diz o aborrecem. Ela sabe que serei como você… Um dia. – Ela está errada. Ela também viu sua morte, mas isso não aconteceu. – Nunca me verá apostando contra Alice.
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Nós nos encaramos por um longo tempo. Estava silencioso, exceto pelo zumbido dos aparelhos, o bipe, o gotejar, o tique-taque do relógio grande de parede. Por fim, sua expressão se suavizou. – E aonde isso nos leva? – eu me perguntei. Ele riu sem humor nenhum. – Acredito chamar-se impasse. Eu suspirei. – Ai – murmurei. – Como está se sentindo? – perguntou ele, olhando o botão para chamar a enfermeira. – Estou bem – menti. – Não acredito em você – disse ele delicadamente. – Não vou dormir de novo. – Precisa descansar. Toda essa discussão não é boa para você. – Então ceda – insinuei. – Valeu a tentativa. – Ele estendeu a mão para a campainha. – Não! Ele me ignorou. – Sim? – guinchou o alto-falante na parede. – Acho que já estamos prontos para mais analgésicos – disse ele calmamente, ignorando minha expressão furiosa. – Mandarei a enfermeira. – A voz parecia muito entediada. – Não vou tomar – prometi. Ele olhou o saco de fluido pendurado ao lado de minha cama. – Não acho que vão lhe pedir para engolir alguma coisa. Meus batimentos cardíacos subiram. Ele leu o medo em meus olhos e suspirou de frustração. – Bella, você está com dor. Precisa relaxar para poder se curar. Por que está sendo tão difícil? Não vão colocar mais nenhuma agulha em você a essa altura. – Não estou com medo das agulhas – murmurei. – Estou com medo de fechar os olhos Depois ele deu seu sorriso torto e pegou meu rosto entre as mãos. – Eu lhe disse que não vou a parte alguma. Não tenha medo. Já que isso faz você feliz, vou ficar aqui Eu sorri também, ignorando a dor em minhas bochechas. – Está falando de para – sempre, sabe disso.
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– Ah, você vai superar… É só uma paixonite. Sacudi a cabeça incrédula – isso me deixou tonta. – Eu fiquei chocada quando Renée engoliu essa. Sei que você conhece bem a verdade. – Que coisa linda é o ser humano – disse ele. – As coisas mudam. Meus olhos se estreitaram. – Não prenda a respiração Ele estava rindo quando a enfermeira entrou, brandindo uma seringa. – Com licença – disse ela bruscamente a Edward Ele se levantou e atravessou o quarto pequeno, encostando-se na parede. Cruzou os braços e esperou. Mantive os olhos nele, ainda apreensiva. Ele retribuiu meu olhar calmamente. – Aqui está, querida. – A enfermeira sorriu enquanto injetava o remédio em meu tubo. – Vai se sentir melhor agora. – Obrigada – murmurei sem nenhum entusiasmo. E não durou muito tempo. Pude sentir a sonolência escorrendo por minha corrente sangüínea quase imediatamente. – Isso deve funcionar – murmurou ela enquanto minhas pálpebras se fechavam. Ela deve ter saído da sala, porque alguma coisa fria e macia tocou meu rosto. – Fique – A palavra saiu arrastada – Vou ficar – prometeu ele. Sua voz era linda, como uma cantiga de ninar. – Como eu disse, já que isso faz você feliz… Já que é o melhor para você. Tentei sacudir a cabeça, mas estava pesada demais. – Não é a mesma coisa – murmurei. Ele riu. – Não se preocupe com isso agora, Bella. Pode discutir comigo quando estiver acordada. Acho que eu sorri. – Tá. Pude sentir seus lábios em minha orelha. – Eu te amo – ele sussurrou. – Eu também. – Eu sei – ele riu baixinho.
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Virei a cabeça devagar… Procurando. Ele sabia o que eu buscava. Seus lábios tocaram os meus delicadamente. – Obrigada – suspirei. – De nada. E eu não estava mais ali. Mas lutei fracamente contra o estupor. Só havia mais uma coisa que eu queria dizer a ele. – Edward? – Eu lutei para pronunciar o nome dele com clareza. – Sim? – Eu aposto em Alice – murmurei. E então a noite se fechou sobre mim.
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EPÍLOGO: UM ACONTECIMENTO ESPECIAL
LUA NOVA 

Edward me ajudou a entrar no carro dele, tomando muito cuidado com as tiras de seda e chiffon, as flores que ele acabara de prender em meus cachos elaboradamente penteados e em meu gesso volumoso. Ele ignorou a raiva em minha boca. Quando me acomodou, foi para o banco do motorista e deu a ré pela entrada de carros longa e estreita. – A que altura exatamente vai me dizer o que está acontecendo? – perguntei, amuada. – Estou chocado que ainda não tenha deduzido isso sozinha. – Ele me lançou um sorriso de escárnio e minha respiração ficou presa na garganta. Será que um dia eu me acostumaria com sua perfeição? – Já lhe disse que você está muito bonito? – indaguei. – Sim. – Ele sorriu de novo. Nunca o vira de preto e, com o contraste com sua pele clara, sua beleza era absolutamente surreal. Isso eu não podia negar, mesmo que o fato de ele estar usando um smoking me deixasse muito nervosa. Não tão nervosa quanto com o vestido. Ou o sapato. Só um pé, o outro pé ainda estava enclausurado em gesso. Mas o salto agulha, preso apenas por tiras de cetim, certamente não ia me ajudar enquanto eu tentasse cambalear por aí. – Não vou voltar mais se Alice for me tratar como a Barbie Cobaia quando eu vier – eu fui firme. Passara a maior parte do dia no banheiro fabulosamente enorme de Alice, uma vítima impotente enquanto ela brincava de cabeleireira e maquiadora. Sempre que eu me mexia ou reclamava, ela me lembrava de que não tinha nenhuma lembrança de ser humana e me pedia para não estragar sua diversão substituta. Depois ela me colocou no vestido mais ridículo – azul-escuro, com babados e de ombros de fora, com uma etiqueta francesa que não pude ler – um vestido mais adequado a uma passarela do que a Forks. Nada de bom podia advir de nossos trajes formais, disso eu tinha certeza. A não ser… Mas eu tinha medo de colocar minha suspeitas em palavras, mesmo em minha própria cabeça.
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Fui distraída pelo som de um telefone tocando. Edward sacou o celular de um bolso interno do paletó, olhando rapidamente o identificador de chamadas antes de atender. – Oi, Charlie – disse ele com cautela. – Charlie? – Franzi a testa. Charlie tem sido… difícil desde minha volta a Forks. Ele compartimentara minha experiência ruim em duas reações definidas. Em relação a Carlisle, foi de uma gratidão quase venerada. Por outro lado, ele teimosamente se convenceu de que a culpa era de Edward – porque, se não fosse por ele, eu não teria saído de casa, antes de tudo. E Edward estava longe de discordar dele. Ultimamente eu tinha regras que não existiam antes: toque de recolher… horas de visita. Alguma coisa que Charlie dizia estava deixando os olhos de Edward arregalados de descrença e depois um sorriso se espalhou por seu rosto. – Está brincando! – ele riu. – Que foi? – perguntei. Ele me ignorou. – Por que não me deixa falar com ele? – sugeriu Edward com um prazer evidente. Ele esperou alguns segundos. – Oi, Tyler, aqui é Edward Cullen. Sua voz era muito simpática, superficialmente. Eu o conhecia muito bem para sentir o tom de ameaça. O que Tyler estava fazendo na minha casa? A verdade medonha começou a me ocorrer. Olhei novamente o vestido inadequado que Alice me obrigara a usar. – Lamento se houve algum mal-entendido, mas Bella não está disponível esta noite. – O tom de Edward mudou e a ameaça em sua voz de repente era muito mais evidente quando ele continuou. – Para ser franco, ela não estará disponível em noite nenhuma, pelo menos para ninguém além de mim. Não se ofenda. E lamento sobre sua noite. – Ele não parecia se lamentar nada. E então ele fechou o celular com um sorriso enorme no rosto. Meu rosto e meu pescoço ficaram vermelhos de irritação. Pude sentir as lágrimas de raiva começando a encher meus olhos. Ele olhou para mim, surpreso. – Esta última parte foi demais? Eu não quis ofendê-la. Ignorei essa.
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– Está me levando ao baile. – gritei. Agora estava constrangedoramente óbvio. Se eu estivesse prestando atenção, tenho certeza de que teria percebido a data nos cartazes que decoravam os prédios da escola. Mas nunca imaginei que ele pensasse em me submeter a isso. Será que ele não me conhecia? Ele não esperava pela intensidade de minha reação, isso estava claro. Ele cerrou os lábios e seus olhos se estreitaram. – Não seja difícil, Bella. Meus olhos faiscaram para a janela. Já estávamos a meio caminho da escola. – Por que está fazendo isso comigo? – perguntei, apavorada. Ele gesticulou para o smoking. – Sinceramente, Bella, o que acha que estamos fazendo? Fiquei mortificada. Primeiro, porque deixara passar o óbvio. E também porque a vaga desconfiança – na verdade, expectativa – que tinha se formado o dia todo, enquanto Alice tentava me transformar em uma diva da beleza, estava muito longe do alvo. Minhas esperanças meio temerosas agora pareciam muito tolas. Imaginei que houvesse uma espécie de acontecimento especial. Mas o baile! Era a última coisa que passaria por minha cabeça. As lágrimas de raiva rolavam por meu rosto. Lembrei com desânimo que estava maquiada, o que não era nada comum. Esfreguei rapidamente debaixo dos olhos para evitar alguma mancha. Minha mão não estava suja quando a afastei; talvez Alice soubesse que eu ia precisar de maquiagem à prova d’água. – Isso é totalmente ridículo. Por que está chorando? – perguntou ele, com frustração. – Porque estou furiosa! – Bella. – Ele voltou toda a força de seus olhos dourados e abrasadores para mim. – Que é? – murmurei, distraída. – Divirta-me – insistiu ele. Seus olhos derreteram toda a minha fúria. Era impossível brigar com ele quando ele me enganava desse jeito. Eu cedi, de má vontade.
– Tudo bem. – Fiz um biquinho, incapaz de encará-lo com a eficácia que gostaria. – Vou ficar quieta. Mas você vai ver. Já estou esperando por mais falta de sorte. Provavelmente vou quebrar a outra
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perna. Olha esse sapato! É uma armadilha mortal! – Estendi a perna boa como prova. – Hmmm. – Ele olhou minha perna mais tempo do que o necessário. – Lembrei-me de agradecer a Alice por esta noite. – Alice estará lá? – Isso me reconfortou um pouco. – Com Jasper, Emmett… e Rosalie – admitiu ele. A sensação de conforto desapareceu. Não houve nenhum progresso com Rosalie, embora eu estivesse me dando bem com seu eventual marido. Emmett gostava de me ter por perto – ele achava minhas estranhas reações humanas hilariantes… Ou talvez fosse só o fato de que eu caía tanto que ele achava engraçado. Rosalie agia como se eu não existisse. Enquanto eu sacudia a cabeça para dispersar o rumo de meus pensamentos, pensei em outra coisa. – Charlie também está nessa? – perguntei, desconfiada de repente. – Claro que sim. – Ele sorriu com malícia e deu uma risada. – Mas ao que parece, o Tyler não está. Trinquei os dentes. Eu não conseguia entender como Tyler podia se iludir tanto. Na escola, onde Charlie não podia interferir, Edward e eu éramos inseparáveis – a não ser pelos raros dias de sol. Agora estávamos na escola; o conversível vermelho de Rosalie era bem visível no estacionamento. As nuvens eram esparsas hoje, alguns feixes de luz do sol se prolongavam a oeste, ao longe. Ele saiu e contornou o carro para abrir a porta para mim. Estendeu a mão. Fiquei obstinadamente sentada ali, de braços cruzados, sentindo uma pontada secreta de presunção. O estacionamento estava lotado de gente em trajes formais: testemunhas. Ele não podia me retirar à força do carro como teria feito se estivéssemos sozinhos. Ele suspirou. – Quando alguém quer matá-la, você é corajosa como um leão… E depois, quando alguém fala em dançar… – Ele sacudiu a cabeça. Engoli em seco. Dançar. – Bella, não vou deixar que nada a machuque… Nem você mesma. Não vou sair do seu lado nem uma vez, eu prometo. Pensei nisso e de repente me senti muito melhor. Ele podia ver isso em meu rosto.
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– Agora, vamos – disse ele delicadamente –, não será tão ruim assim. – Ele se inclinou e passou o braço em minha cintura. Peguei a outra mão de Edward e deixei que me içasse do carro. Ele manteve o braço firme em volta de mim, apoiando-me enquanto eu mancava para a escola. Em Phoenix, os bailes aconteciam em salões de hotel. Este baile era no ginásio, é claro. Provavelmente era o único espaço na cidade grande o bastante para isso. Quando entramos, eu tive que rir. Havia verdadeiros arcos de balão e guirlandas retorcidas de papel crepom em tons pastéis adornando as paredes. – Parece um filme de terror esperando para acontecer – eu disse com escárnio. – Bom – murmurou ele enquanto nos aproximávamos devagar da mesa de entradas; ele carregava a maior parte de meu peso, mas eu ainda tinha de me arrastar e cambalear com o pé para a frente –, o que há de vampiros presentes já basta. Olhei a pista de dança; um enorme espaço se formara no meio, onde dois casais giravam elegantemente. Os outros dançarinos se espremiam nas laterais do salão para lhes dar espaço – ninguém queria ficar em contraste com tanto esplendor. Emmett e Jasper estavam intimidadores e impecáveis com seus smokings clássicos. Alice estava estonteante com um vestido de cetim preto com contornos geométricos que revelavam triângulos de sua pele branca como a neve. E Rosalie estava… Bom, Rosalie. Ela estava inacreditável. Seu vestido vermelho vivo tinha as costas nuas, apertado até as panturrilhas, onde se abria em uma série de babados, com um decote que afundava até a cintura. Tive pena de todas as meninas do salão, incluindo a mim mesma. – Quer que eu tranque as portas para você massacrar o insuspeito povo de Forks? – sussurrei num tom de conspiração. – E onde você se encaixa neste esquema? – Ele me fitou. – Ah, eu estou com os vampiros, é claro. Ele sorriu com relutância. – Qualquer coisa para escapar da dança. – Qualquer coisa. Ele comprou nossas entradas, depois me virou para a pista. Eu me encolhi em seu braço e arrastei o pé. – Eu tenho a noite toda – alertou ele.
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Por fim ele me conduziu para onde estava sua família girando elegantemente – apesar do estilo que não combinava nada com a época e a música atuais. Eu olhei com horror. – Edward. – Minha garganta estava tão seca que eu só conseguia sussurrar. – Eu sinceramente não sei dançar. – Pude sentir o pânico borbulhando em meu peito. – Não se preocupe, sua boba – sussurrou ele. – Eu sei. – Ele pôs meus braços em seus pescoço e me levantou para passar os pés embaixo dos meus. E então também estávamos girando. – Eu me sinto como se tivesse 5 anos – eu ri depois de alguns minutos de valsa sem esforço. – Não parece ter 5 – murmurou ele, puxando-me par mais perto por um segundo, para que meus pés ficassem brevemente a trinta centímetros do chão. Alice viu meu olhar em uma volta e sorriu, estimulando-me – retribuí o sorriso. Fiquei surpresa ao perceber que eu realmente estava gostando… Um pouco. – Tudo bem, não está tão ruim – admiti. Mas Edward estava olhando para as portas e seu rosto era de raiva. – Que foi? – perguntei em voz alta. Segui seu olhar, desorientada pelos rodopios, mas por fim pude ver o que o incomodava. Jacob Black, não de smoking, mas com uma camisa branca de mangas compridas e gravata, o cabelo alisado para trás com seu rabo-de-cavalo habitual, atravessava o salão na nossa direção. Depois do primeiro choque de reconhecimento, não consegui deixar de me sentir mal por Jacob. Ele claramente estava pouco à vontade – de uma forma excruciante. Seu rosto pedia desculpas e os olhos encontraram os meus. Edward rosnou muito baixo. – Comporte-se! – sibilei. A voz de Edward era azeda. – Ele quer conversar com você. – Oi, Bella, eu esperava encontrar você aqui. – Jacob parecia estar esperando exatamente o contrário. Mas seu sorriso era caloroso, como sempre. – Oi, Jacob. – Também sorri. – Como é que você está?
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– Posso interromper? – perguntou ele inseguro, olhando para Edward pela primeira vez. Fiquei chocada ao perceber que Jacob não precisou olhar para cima. Ele devia ter crescido uns quinze centímetros desde a primeira vez que o vi. O rosto de Edward estava composto, sua expressão vazia. A única resposta foi me colocar cuidadosamente sobre meus pés e dar um passo para trás. – Obrigado – disse Jacob amistosamente. Edward apenas assentiu, olhando intensamente para mim antes de se afastar. Jacob pôs as mãos em minha cintura e eu estendi a mão para seu ombro. – Caramba, Jake, como você está alto agora! Ele ficou presunçoso. – Um e noventa e dois. Não estávamos realmente dançando – minha perna tornava isso impossível. Em vez disso, balançávamos desajeitados de um lado para o outro sem deslocar os pés. Estava tudo muito bem; o recente surto de crescimento o deixara magro e descoordenado, e ele não devia ser melhor dançarino do que eu. – E aí, como veio parar aqui esta noite? – perguntei sem uma curiosidade verdadeira. Considerando a reação de Edward, eu podia imaginar. – Dá para acreditar que meu pai me pagou vinte pratas para vir a seu baile? – admitiu ele, meio envergonhado. – Dá sim – murmurei. – Bom, espero que pelo menos esteja se divertindo; viu alguma coisa de que gostasse? – brinquei, indicando um grupo de meninas enfileiradas junto à parede como confeitos de bolo. – É – ele suspirou. – Mas ela já tem par. Ele olhou para baixo e encontrou meu olhar curioso por apenas um segundo – depois nós dois desviamos os olhos, constrangidos. – Você está muito bonita, a propósito – acrescentou ele timidamente. – Hmmm, obrigada. Então por que o Billy lhe pagou para vir aqui? – perguntei em voz baixa, embora eu soubesse a resposta. Jacob não pareceu grato pela mudança de assunto; virou a cara, de novo pouco à vontade.
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– Ele disse que era um lugar “seguro” para conversar com você. Eu juro eu o velho está perdendo o juízo. Eu acompanhei seu riso fraco. – De qualquer forma, ele falou que se eu lhe dissesse uma coisa, ele me daria aquele cilindro mestre de que preciso – confessou ele com um sorriso tímido. – Então me diga. Quero que termine seu carro. – Eu sorri também. Pelo menos Jacob não acreditava em nada disso, o que tornava a situação um pouco mais fácil. Encostado na parede, Edward observava meu rosto, o dele próprio sem expressão. Vi uma aluna do segundo ano de vestido rosa olhando para ele com uma expressão tímida, mas ele não pareceu. Jacob desviou os olhos de novo, envergonhado. – Não fique chateada, está bem? – Não há como ficar chateada com você, Jacob – garanti a ele. – Eu nem mesmo ficaria chateada com o Billy. Só diga o que tem que dizer. – Bom… É tão idiota, me desculpe, Bella… Ele quer que você termine com seu namorado. Ele me pediu para lhe dizer “por favor”. – Ele sacudiu a cabeça de desprazer. – Ele ainda é supersticioso, hein? – É. Ele ficou… meio alarmado demais quando você se machucou em Phoenix. Ele não acreditou… – Jacob se interrompeu constrangido. Meus olhos se estreitaram. – Eu caí. – Sei disso – disse Jacob rapidamente. – Ele acha que Edward tem alguma coisa a ver com o fato de eu ter me machucado. – Não era uma pergunta e, apesar de minha promessa, eu estava com raiva. Jacob não me olhou nos olhos. Não nos incomodávamos mais em balançar com a música, embora as mãos dele ainda estivessem em minha cintura e as minhas em seu pescoço. – Olhe, Jacob, sei que Billy provavelmente não acreditaria nisso, mas para que você saiba – ele olhava para mim agora, reagindo à nova franqueza em minha voz –, na verdade, Edward salvou a minha vida. Se não fosse por Edward, e o pai dele, eu estaria morta. – Eu sei – afirmou ele, mas parecia que minhas palavras sinceras o afetaram de algum modo. Talvez ele fosse capaz de convencer Billy pelo menos desta parte.
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– Olhe, eu lamento que tenha vindo fazer isso, Jacob – eu me desculpei. – De qualquer forma, vai conseguir sua peça, não é? – É – murmurou ele. Ele ainda parecia estranho… e perturbado. – Há algo mais? – perguntei a ele, incrédula. – Esquece – murmurou ele. – Vou arrumar um emprego e economizar o dinheiro. Eu o fitei até que ele me olhasse. – Pode falar, Jacob. – É muito ruim. – Eu não ligo. Pode falar – insisti. – Tudo bem… Mas, cara, é bem ruim. – Ele sacudiu a cabeça. – Ele falou para dizer você, não, para alertar você, que… e o plural é dele, e não meu – ele ergueu uma das mãos de minha cintura e formou aspas no ar – “estaremos vigiando”. – Ele observou cuidadosamente minha reação. Parecia coisa de filme sobre a máfia. Eu ri alto. – Desculpe por você ter que fazer isso, Jacob – eu disse, rindo. – Não me importo tanto assim. – Ele sorriu de alívio. Seus olhos me avaliavam enquanto ele examinava rapidamente meu vestido. – E aí, devo dizer que você o mandou para o inferno? – perguntou, cheio de esperança. – Não – suspirei. – Diga-lhe que eu agradeço. Sei que a intenção dele é boa. A música terminou e eu deixei cair os braços. As mãos dele hesitaram na minha cintura e ele olhou a perna engessada. – Quer dançar de novo? Ou posso ajudá-la a pegar alguma coisa? Edward respondeu por mim. – Está tudo bem, Jacob. A partir daqui eu assumo. Jacob se encolheu e olhou surpreso para Edward, que estava bem ao nosso lado. – Ei, não tinha visto você – murmurou ele. – Acho que a gente se vê, Bella. – Ele recuou, acenando desanimado. Eu sorri. – É, vejo você depois. – Desculpe – disse ele novamente antes de se virar para a porta. Os braços de Edward estavam em volta de mim quando a música seguinte começou. Era meio agitada para uma dança lenta, mas isso não pareceu preocupá-lo. Pousei a cabeça em seu peito, satisfeita.
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– Sente-se melhor? – eu disse num tom de zombaria. – Na verdade, não – disse ele, tenso. – Não fique chateado com o Billy – suspirei. – Ele só preocupa pelo bem de Charlie. Não é nada pessoal. – Não estou chateado com o Billy – corrigiu ele numa voz cortante. – Mas o filho dele me irrita. Eu recuei para olhar para ele. Seu rosto era muito sério. – Por quê? – Primeiro, ele me fez quebrar minha promessa. Eu o encarei, confusa. Edward deu um meio sorriso. – Prometi que não largaria você esta noite – explicou ele. – Ah, bom, está perdoado. – Obrigado. Mas há outra coisa. – Edward franziu o cenho. Esperei pacientemente. – Ele disse que você está bonita – continuou ele por fim, com as rugas se aprofundando. – É praticamente um insulto, do jeito que você está agora. Você é muito mais do que bonita. Eu ri. – Você é suspeito para falar. – Não acho. Além disso, tenho uma visão excelente. Estávamos girando de novo, meus pés nos dele enquanto ele me abraçava. – Então vai explicar o motivo de tudo isso? – perguntei. Ele olhou para mim, confuso, e eu fitei sugestivamente o papel crepom. Ele pensou por um momento e mudou de direção, guiando-me pela multidão até a porta dos fundos do ginásio. Vislumbrei Jéssica e Mike dançando, olhando-me com curiosidade. Jéssica acenou e eu sorri para ela rapidamente. Angela também estava ali, parecendo feliz nos braços de Ben Cheney; ela não se desviava dos olhos dele, uma cabeça mais alto do que ela. Lee e Samantha, Lauren olhando para nós, com Conner; eu podia nomear cada rosto que passava girando por mim. E depois estávamos lá fora, na luz fria e fraca de um pôr-do-sol que desaparecia.
Assim que ficamos a sós, ele me girou nos braços e me carregou para o terreno escuro até chegar ao banco nas sombras da árvore. Ele sentou ali, mantendo-me aninhada em seu peito. A lua já estava alta,
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visível através das nuvens diáfanas, e seu rosto reluzia pálido na luz branca. Sua boca estava contraída, os olhos perturbados. – Por quê? – perguntei delicadamente. Ele me ignorou, olhando a lua. – O crepúsculo, de novo – murmurou ele. – Outro fim. Mesmo que o dia seja perfeito, sempre tem um fim. – Algumas coisas não precisam terminar – sussurrei, tensa de imediato. Ele suspirou. – Eu a trouxe ao baile – disse ele devagar, por fim respondendo à minha pergunta – porque não quero que perca nada. Não quero que minha presença subtraia nada de você, se eu puder evitar. Quero eu você seja humana. Quero que sua vida continue como aconteceria se eu não tivesse morrido em 1918 como morri. Eu estremeci com suas palavras e sacudi a cabeça com raiva. – Em que estranha dimensão paralela eu um dia iria a um baile por minha própria vontade? Se você não fosse mil vezes mais forte do que eu, eu nunca o deixaria se safar dessa. Ele sorriu brevemente, mas seus olhos não sorriram. – Não foi tão ruim, você mesma disse isso. Ficamos em silêncio por um minuto, ele olhando a lua e eu olhando para ele. Eu queria ter uma forma de explicar o quanto estava desinteressada em uma vida normal. – Vai me dizer uma coisa? – perguntou ele, olhando para mim com um leve sorriso. – Não digo sempre? – Só prometa que vai me dizer – insistiu ele, sorrindo. Eu sabia que ia me arrepender disso quase de imediato. – Tudo bem. – Você pareceu sinceramente surpresa quando deduziu que eu a estava trazendo para o baile – começou ele. – E fiquei mesmo – interrompi. – Exatamente – concordou ele. – Mas você deve ter tido outra teoria… Estou curioso… Qual o motivo que você imaginou para este vestido?Sim, arrependimento instantâneo. Franzi os lábios, hesitante. – Não quero dizer.
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– Você prometeu – objetou ele. – Eu sei. – Qual é o problema? Eu sabia que ele pensava que era o mero constrangimento que me reprimia. – Acho que vai deixar você chateado… Ou triste. Suas sobrancelhas se uniram acima dos olhos enquanto ele pensava nisso. – Ainda assim quero saber. Por favor. Eu suspirei. Ele esperou. – Bom… Imaginei que era uma espécie de… acontecimento. Mas não pensei que fosse uma coisa humana tão banal… Um baile! – ridicularizei. – Humana? – perguntou ele simplesmente. Ele entendeu a palavra-chave. Olhei meu vestido, mexendo em um pedaço solto de chiffon. Ele esperava em silêncio. – Tudo bem – confessei num jato. – Eu esperava que você tivesse mudado de idéia… Que iria me mudar, afinal de contas. Uma dúzia de emoções passou por seu rosto. Algumas eu reconheci… Raiva… Dor… E depois ele pareceu se recompor e sua expressão tornou-se divertida. – Você pensou que seria uma ocasião de gala, não é? – brincou ele, tocando a lapela do paletó do smoking. Eu fechei a cara para esconder meu constrangimento. – Não sei como essas coisas funcionam. Para mim, pelo menos, parece mais racional do que um baile. – Ele ainda estava sorrindo. – Não é engraçado – eu disse. – Não, tem razão, não é – concordou ele, o sorriso desaparecendo. – Mas prefiro tratar como uma piada a acreditar que você falou sério. – Mas estou falando sério. Ele deu um suspiro pesado. – Eu sei. E você está meio disposta? A dor voltara a seus olhos. Mordi o lábio e assenti. – Então prepare-se para que este seja o fim – murmurou ele, quase para si mesmo –, porque este será o crepúsculo de sua vida, embora sua vida mal tenha começado. Você está pronta para desistir de tudo.
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– Não é o fim, é o começo – discordei a meia-voz. – Eu não valho tudo isso – disse ele com tristeza. – Lembra quando você me disse que eu não me via com muita clareza? – perguntei, erguendo as sobrancelhas. – Você obviamente tem a mesma cegueira. – Sei o que eu sou. Era suspirei. Mas seu humor sombrio passou para mim. Ele franziu os lábios e seus olhos me sondavam. Examinou meu rosto por um longo momento. – Então está pronta agora? – perguntou ele. – Hmmm. – Engoli em seco. – Sim? Ele sorriu e inclinou a cabeça lentamente até que seus lábios frios roçaram a pele pouco a baixo do canto de meu queixo. – Agora mesmo? – sussurrou ele, seu hálito soprando gélido em meu pescoço. Eu tremi involuntariamente. – Sim – sussurrei, para que minha voz não pudesse ser entrecortada. Se ele pensasse que eu estava blefando, ficaria decepcionado. Eu já tomara esta decisão e tinha certeza dela. Não importava que meu corpo estivesse rígido feito uma tábua, meus punhos curvados, minha respiração instável… Ele riu sombriamente e se afastou. Seu rosto não parecia decepcionado. – Não dá para acreditar que eu cederia com tanta facilidade – disse ele com um toque ácido na voz sarcástica. – Uma garota pode sonhar. Suas sobrancelhas se ergueram. – É com isso que você sonha? Em ser um monstro? – Não exatamente – eu disse, encolhendo com as palavras que ele escolhera. Monstro, na verdade. – Sonho principalmente em ficar com você para sempre. Sua expressão mudou, atenuada e entristecida pela dor sutil em minha voz. – Bella. – Seus dedos acompanharam de leve o formato de meus lábios. – Eu vou ficar com você… Isso não basta? Eu sorri sob a ponta de seus dedos. – Basta por enquanto. Ele franziu o cenho diante da minha tenacidade. Ninguém ia se render esta noite. Ele expirou e o som era praticamente um grunhido.
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Toquei seu rosto. – Olhe – eu disse. – Eu o amo mais do que qualquer coisa no mundo. Isso não basta? – Sim, basta – respondeu ele, sorrindo. – Basta para sempre. E ele se inclinou para encostar os lábios frios mais uma vez no meu pescoço.

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