terça-feira, 19 de abril de 2011

Orgulho e Preconceito - Capítulos 1 ao 10

Capítulo I


É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de esposa.
Por pouco que os sentimentos ou as opiniões de tal ho­mem sejam conhecidos ao se fixar numa nova localidade, essa verdade se encontra de tal modo impressa nos espíritos das fa­mílias vizinhas que o rapaz é desde logo considerado a proprie­dade legítima de uma das suas filhas.
Caro Mr. Bennet — disse-lhe um dia a sua esposa —, já ouviu dizer que Netherfield Park foi alugado afinal?
Mr. Bennet respondeu que não sabia.
Pois foi — assegurou ela. — Mrs. Long acabou de sair daqui e me contou tudo.
Mr. Bennet não respondeu.
Afinal não deseja saber quem é o locatário? — gritou a mulher, impacientemente.
Você é quem está querendo me dizer e eu não faço nenhuma objeção a isto.
Este convite foi suficiente.
Pois, meu caro, você deve saber que Mrs. Long disse que Netherfield foi alugado por um rapaz de grande fortuna, oriundo da Inglaterra. E que além disso ele chegou segunda-feira numa elegante caleça a fim de visitar a propriedade. Ficou tão encantado que entrou imediatamente em negócio com Mr. Morris; Mrs. Long falou também que ele entrará na posse do prédio antes do dia de São Miguel. Alguns dos seus criados de­vem chegar já na próxima semana.
Como se chama ele?
Bingley.
É casado ou solteiro?
Oh, solteiro, naturalmente, meu caro. Solteiro e mui­to rico! Quatro ou cinco mil libras por ano. Que boa coisa para as nossas meninas, hem?
Como assim? De que modo pode isso afetá-las?
Meu caro Mr. Bennet — replicou a esposa —, como você, às vezes, é enfadonho! Deve saber que ando pensando em casar uma delas...
— Será este o projeto do homem ao se instalar aqui?
Projeto? Tolice... Como é que você pode dizer uma coisa destas? É até muito provável que ele se apaixone por uma delas. Portanto, assim que chegue, você deve ir visitá-lo.
Não vejo motivo para isto. Você pode ir com as me­ninas, ou pode até mandá-las sozinhas, o que talvez ainda seja melhor, pois como você é tão bela quanto qualquer uma delas Mr. Bingley pode preferi-la.
Você está me lisonjeando. Decerto já tive o meu qui­nhão de beleza, mas não ambiciono ser nada de extraordinário agora. Quando uma mulher tem cinco filhas crescidas, deve deixar de pensar em vaidades.
Em casos como esses, em geral, uma mulher não tem muito que pensar em beleza.
Mas meu caro, você deve realmente ir ver Mr. Bingley, quando ele chegar.
Não quero assumir esse compromisso.
Mas lembre-se das suas filhas. Pense que partido se­ria para uma delas! Sir William e Lady Lucas estão decididos a ir. É exclusivamente por motivo idêntico, pois você sabe que em geral eles não visitam recém-chegados. Deve ir, pois a nós, mulheres, será impossível fazê-lo, se antes você não o fizer.
Creio que isto é excesso de escrúpulos da sua parte. Tenho certeza de que Mr. Bingley terá muito prazer em vê-la. Além disso eu lhe enviarei algumas linhas por seu intermédio, assegurando-lhe que darei o meu consentimento para que ele se case com qualquer das meninas que escolher, embora de­vesse acrescentar um elogio para a minha pequena Lizzy.
Desejo que não faça tal coisa. Lizzy não é melhor do que as outras. Estou convencida de que não tem metade da be­leza de Jane. E nem sequer metade do bom humor de Lydia. Mas você não cessa de manifestar a sua preferência por ela.
Nenhuma delas tem muito o que se lhes recomende — respondeu Mr. Bennet. — São tolas e ignorantes como as ou­tras moças. Mas Lizzy é realmente um pouco mais viva do que as irmãs.
Como é que pode falar mal assim dos próprios filhos,
Mr. Bennet? Você se compraz em aborrecer-me; não tem ne­nhuma pena dos meus pobres nervos.
Está enganada, minha cara. Tenho muito respeito pe­los seus nervos. São meus velhos amigos. Venho escutando você falar a respeito deles com grande consideração, pelo menos du­rante esses últimos vinte anos.
Ah, você não sabe o que eu sofro!
Espero que você se restabeleça e viva bastante tempo para ver muitos rapazes com quatro mil libras anuais de rendi­mentos se instalarem na vizinhança.
Pouco nos adiantará que venham vinte deles se você se recusar a visitá-los.
Pode ficar certa, minha querida, de que quando che­garem os vinte eu os visitarei a todos.
Mr. Bennet era um misto tão curioso de vivacidade, hu­mor sarcástico, reserva e capricho, que a experiência de vinte e três anos juntos tinha sido insuficiente para que a sua esposa lhe conhecesse o caráter. O espírito de sua mulher era menos difícil de compreender; tratava-se de uma senhora dotada de inteligência medíocre, pouca cultura e gênio instável. Quando se aborrecia imaginava que estava nervosa. A única preocupação da sua vida era casar as filhas. Seu consolo, fazer visitas e sa­ber novidades.

Capítulo II


Mr. Bennet foi uma das primeiras pessoas que visitaram Mr. Bingley. Sempre fora esta a sua intenção, embora continuas­se a assegurar até o fim à sua esposa que não iria de forma alguma; nada lhe disse até a noite do dia em que fez a visita. Só aí ele o revelou, da seguinte maneira: vendo a sua segunda filha ocupada em reformar um chapéu, dirigiu-lhe de súbito estas palavras:
Espero que Mr. Bingley goste do chapéu, Lizzy.
Não temos nenhum modo de saber as preferências de Mr. Bingley, já que não podemos visitá-lo — interveio a mãe, ressentida.
Mas você se esquece, mamãe — disse Elizabeth —, de que nós o encontraremos em reuniões e que Mrs. Long prome­teu nos apresentar a ele.
Não creio que Mrs. Long faça tal coisa. Ela tem duas sobrinhas e é uma mulher egoísta e hipócrita. A minha opinião sobre ela não é boa.
Nem a minha tampouco — disse Mr. Bennet. — Ale­gra-me saber que você não depende dos serviços dela.
Mrs. Bennet não se dignou responder. Incapaz de domi­nar-se por mais tempo, entretanto, pôs-se a ralhar com uma das filhas:
Não tussa desse modo, pelo amor de Deus, Kitty. Te­nha um pouco de piedade dos meus nervos... Você os está dilacerando!
Kitty não sabe tossir discretamente — disse o pai. — Não tem noção do momento oportuno.
Não tusso para distrair-me — respondeu Kitty, irrita­da. — Quando será o nosso próximo baile, Lizzy?
De amanhã a quinze dias.
É verdade — gritou a mãe. — E Mrs. Long só voltará na véspera desse dia. Logo, ser-lhe-á impossível fazer a apre­sentação do estranho, pois ela tampouco o terá conhecido.
Portanto, minha cara, você poderá adiantar-se à sua amiga e apresentar Mr. Bingley a ela.
Impossível, Mr. Bennet, impossível! Se eu não tenho relações com ele! Como pode ser tão provocador?
Respeito a sua discrição. Quinze dias de conhecimen­to decerto não é suficiente. Não se pode conhecer realmente um homem em tão curto espaço de tempo. Mas, se não arris­carmos, outra pessoa o fará. E afinal de contas Mrs. Long e as sobrinhas devem ter também a sua oportunidade. E, como lhe será fácil pensar que é um ato de caridade da sua parte recusar tal incumbência, eu assumirei a responsabilidade.
As meninas olharam fixamente para o pai. Mrs. Bennet disse apenas:
Tolice, tolice.
Qual é o significado dessa exclamação enfática? — perguntou o pai. — Considera tolice as formas de apresentação e a importância que lhes emprestamos? Neste ponto não posso concordar com você. Que é que acha, Mary? Sei que é uma mo­ça de juízo; lê grandes livros e faz resumos de tudo o que lê.
Mary quis fazer uma observação sensata mas não pôde.
Enquanto Mary ajusta as suas idéias — continuou Mr. Bennet —, voltemos a Mr. Bingley.
Estou enjoada de Mr. Bingley — exclamou Mrs. Bennet.
Causa-me pena saber isto. Por que não me disse an­tes? Teria evitado que eu me desse ao trabalho de visitá-lo. Foi pouca sorte. Mas como tudo está feito, não podemos agora evitar relações.
O ar estupefato das senhoras era exatamente o que ele desejava causar. O de Mrs. Bennet talvez sobrepujasse os ou­tros. Entretanto, ao desvanecer-se o primeiro tumulto de ale­gria, ela começou declarando que era aquilo mesmo o que es­perava.
Que bondade da sua parte, caro Mr. Bennet! Tinha certeza de que acabaria por convencê-lo, pois estava certa do seu amor pelas suas filhas. Sabia portanto que não iria despre­zar assim uma tão grande oportunidade. Nem sabe a alegria que sinto... E com que espírito você nos enganou até o úl­timo momento!
Agora, Kitty, pode tossir à vontade — disse Mr. Ben­net, ao deixar o quarto, enfastiado pelas demonstrações exa­geradas da esposa.
Que excelente pai vocês têm, meninas — continuou ela, logo que a porta se fechou. — Não sei como poderão ja­mais compensar tamanha bondade. Nem eu tampouco, aliás. Posso assegurar-lhes que na nossa idade não é tão agradável as­sim travar novas relações todos os dias... Entretanto, por vocês, faríamos todos os sacrifícios. Lydia, meu bem, embora seja você a mais moça, ouso profetizar que Mr. Bingley dança­rá com você no próximo baile.
Oh — exclamou Lydia, orgulhosa —, não tenho medo. Embora seja a mais moça, sou também a mais alta.
Passaram o resto da noite conjeturando sobre qual seria o dia provável em que o estranho viria retribuir a visita de Mr. Bennet e procurando determinar aquele em que o convidariam para jantar.

Capítulo III



Entretanto, todas as perguntas que Mrs. Bennet, com auxí­lio das suas cinco filhas, fez sobre o assunto foram insuficien­tes para extrair do marido uma descrição satisfatória de Mr. Bingley. Atacaram-no de vários modos, com perguntas diretas, engenhosas suposições e hipóteses distantes. Ele desafiou a ha­bilidade de todas elas. Afinal foram obrigadas a aceitar as in­formações de segunda mão da sua vizinha Lady Lucas. O re­latório desta última foi altamente favorável. Sir William tinha ficado encantado com ele. Era jovem, elegantíssimo, extrema­mente agradável. E, para coroar tudo, tencionava ir ao próxi­mo baile em companhia de grande número de conhecidos. Nada poderia ser mais delicioso. Gostar de dança era o primeiro pas­so para se apaixonar. E vivas esperanças de conquistar o cora­ção de Mr. Bingley foram bafejadas.
— Se eu pudesse ver uma das minhas filhas instalada em Netherfield, alegre e feliz — disse Mrs. Bennet ao marido —, e todas as demais igualmente bem-casadas, nada mais teria a desejar.
Daí a poucos dias Mr. Bingley veio retribuir a visita de Mr. Bennet. Conversaram na biblioteca durante dez minutos. Mr. Bingley tinha alimentado a esperança de ver uma das mo­ças, sobre cuja beleza tanto ouvira falar. Mas viu apenas o pai. As senhoras tiveram mais sorte: olhando por detrás de uma ja­nela do sobrado, conseguiram saber que ele usava casaco azul e montava um cavalo preto.
Pouco depois, um convite para jantar foi-lhe enviado. Mrs. Bennet já tinha planejado os pratos à altura da fama da sua co­zinha, quando chegou uma resposta adiando tudo. Mr. Bingley se via obrigado a partir para a cidade no dia seguinte e portan­to não podia aceitar a honra daquele convite, etc. Mrs. Bennet ficou desolada. Não sabia que negócio poderia tê-lo atraído à cidade, tão pouco tempo depois da sua chegada ao Hertfordshire. Começou a temer que Mr. Bingley estivesse sempre em trânsito de um lugar para outro, e que nunca se demorasse em Netherfield, como devia. Lady Lucas acalmou um pouco os seus receios, sugerindo a idéia de que Mr. Bingley tivesse partido para Londres apenas para buscar conhecidos que o acompanhas­sem ao baile. As meninas lamentaram a vinda de tão grande nú­mero de senhoras. Mas, na véspera do baile, consolaram-se ao saber que, em vez de doze, Mr. Bingley tinha trazido apenas seis senhoras de Londres, cinco irmãs e uma prima. E, quando o grupo entrou no salão, consistia apenas em cinco pessoas: Mr. Bingley, suas duas irmãs, o marido da mais velha e outro rapaz.
Mr. Bingley era simpático e fino de maneiras. A sua apa­rência era agradável, os gestos sem afetação. Quanto às irmãs, era visível que se tratava de pessoas distintas. Vestiam-se se­gundo a última moda. O cunhado, Mr. Hurst, era o que se pode chamar de um gentleman, sem outras características. Mas o amigo, Mr. Darcy, atraiu desde logo a atenção da sala, pela sua estatura, elegância, traços regulares e atitude nobre, e tam­bém pela notícia que circulou, cinco minutos depois da sua en­trada, de que possuía um rendimento de dez mil libras por ano. Os cavalheiros declararam que ele era uma bela figura de ho­mem, as senhoras foram de opinião que era muito mais elegante do que Mr. Bingley. Todos o olharam com grande admiração durante metade do baile, até que finalmente a sua atitude pro­vocou um certo desapontamento que alterou a sua maré de po­pularidade pois descobriram que era orgulhoso, permanecia afastado do seu grupo e parecia impossível de contentar. E nem mesmo toda a sua grande propriedade, no Derbyshire, pôde sal­vá-lo da opinião que começava a se formar a seu respeito, de que ele tinha modos antipáticos e desagradáveis e de que era indig­no de ser comparado ao amigo. E Mr. Bingley em pouco tempo travou relações com as principais pessoas da sala. Era animado e franco, dançava todas as vezes e mostrou-se aborrecido por ter o baile terminado tão cedo. Chegou mesmo a falar em dar outro em Netherfield. Qualidades tão amáveis falam por si mesmas. Que contraste entre ele e o amigo! Mr. Darcy dançou apenas uma vez com Mrs. Hurst e outra com Miss Bingley. Re­cusou-se a ser apresentado a qualquer outra moça e passou o resto da noite andando pelo salão, conversando ocasionalmente com uma ou outra pessoa do seu próprio grupo. Seu caráter estava fixado. Era o homem mais orgulhoso, mais desagradável do mundo. E todos pediram a Deus que ele nunca mais voltasse.
Entre as pessoas que estavam contra ele, a mais violenta era Mrs. Bennet, a cuja antipatia pela sua conduta se somava o des­peito de ver uma das suas filhas desprezada por ele.
Devido à falta de pares, Elizabeth Bennet fora obrigada a ficar sentada durante duas danças; e parte desse tempo ela o passou suficientemente próxima a Mr. Darcy para ouvir uma conversa entre ele e Mr. Bingley. Este último, que acabara de dançar, vinha animar o amigo a imitá-lo.
Venha, Darcy — disse ele —, você precisa dançar. Incomoda-me vê-lo aí sozinho, de um modo tão estúpido. Seria muito melhor que você dançasse.
Por coisa alguma deste mundo; bem sabe como eu de­testo dançar, a não ser conhecendo intimamente o meu par. Numa festa como esta seria insuportável. Suas irmãs estão ocupadas e não existe outra mulher na sala com quem eu dan­çaria sem sacrifício.
Jamais eu seria tão exigente — exclamou Bingley; — palavra de honra, eu nunca encontrei tantas moças interessan­tes na minha vida... E você está vendo que algumas são excep­cionalmente belas!
Você está dançando com a única moça realmente bo­nita que existe nesta sala — disse Mr. Darcy, olhando para a mais velha das irmãs Bennet.
Oh, ela é a mais bela moça que já vi na minha vida, mas bem atrás de você está uma das suas irmãs, que é muito bonita e agradável. Deixe-me pedir ao meu par que o apresen­te a ela?
Qual? -— perguntou ele, voltando-se e detendo um momento a vista em Elizabeth até que, encontrando-lhe os olhos, desviou os seus e disse, friamente:
É tolerável, mas não tem beleza suficiente para tentar-me. Não estou disposto agora a dar atenção a moças que são desprezadas pelos outros homens. É melhor você voltar ao seu par e se deliciar com os sorrisos dela, pois está perdendo tempo comigo.
Mr. Bingley seguiu o conselho. Mr. Darcy se afastou e os sentimentos de Elizabeth para com ele não permaneceram mui­to cordiais. No entanto, ela contou a história com muita graça às suas amigas, pois era de espírito alegre e brincalhão e se de­leitava com tudo o que era ridículo.
De um modo geral a noite decorreu agradavelmente para toda a família. Mrs. Bennet vira a filha mais velha ser muito admirada pelo grupo de Netherfield. Mr. Bingley tinha dançado duas vezes com ela. E as irmãs dele a tinham tratado com muita amabilidade. Jane ficou tão contente quanto a mãe, embora manifestasse os seus sentimentos de maneira mais discreta. Elizabeth se alegrou com o prazer de Jane. Mary ouvira o seu nome mencionado por Miss Bingley como sendo o da moça mais dotada da reunião. Katherine e Lydia tinham tido a sorte de nunca ficar sem par, a única coisa que elas consideravam impor­tante num baile. Todas voltaram pois de bom humor para Longbourn, aldeia onde residiam e da qual eram os principais habi­tantes. Encontraram Mr. Bennet ainda acordado. Com um livro na mão ele perdia a noção do tempo. Naquele momento mani­festou grande curiosidade em saber a causa de tanta alegria. Antes de sua mulher sair para o baile, julgara que as suas espe­ranças seriam destruídas, mas verificou logo que a história era muito diferente.
Meu caro Mr. Bennet — disse ela, entrando na sala —, tivemos uma noite deliciosa, um baile excelente! Pena que você não estivesse lá. Jane foi tão admirada! Nada podia ter acon­tecido melhor... Todos disseram que ela estava muito bonita. Mr. Bingley achou-a linda e dançou duas vezes com ela. Ima­gine, meu caro! Dançou com ela duas vezes! Foi a única moça na sala com quem ele repetiu uma dança. Primeiro dançou com Miss Lucas. Fiquei desapontada, mas ele não pareceu muito en­tusiasmado com ela. Aliás ninguém pode mesmo... Mr. Bin­gley parecia muito impressionado com Jane, ao vê-la dançar com outro rapaz. Foi aí que perguntou quem era ela, pediu para ser apresentado e solicitou as duas próximas danças. Depois dançou com Miss King as duas terceiras, com Maria Lucas as duas quartas, as duas quintas com Jane novamente, as duas sextas afinal com Lizzy e a Boulanger.
Se ele tivesse tido qualquer espécie de compaixão por mim — exclamou o marido, impaciente —, não teria dançado nem sequer a metade! Pelo amor de Deus, não continue a lista dos pares de Mr. Bingley. Antes ele tivesse torcido o pé na pri­meira dança.
Oh, meu caro — continuou Mrs. Bennet —, fiquei encantada com ele. É um lindo rapaz e as suas irmãs são encan­tadoras. Nunca na minha vida vi nada tão elegante quanto os vestidos que elas usavam. A renda do vestido de Mrs. Hurst...
Aí ela foi novamente interrompida. Mr. Bennet protestou contra qualquer descrição de toaletes. Mrs. Bennet foi então obrigada a procurar outro aspecto do assunto e relatou com muita acrimônia e algum exagero as chocantes má-criações de Mr. Darcy.
— Mas eu lhe asseguro — acrescentou ela — que Lizzy não perde muito por não corresponder às preferências deste homem, pois ele é desagradável, horrível; pouco adianta cati­vá-lo. Tão orgulhoso e tão convencido que é impossível aturá-lo. Andava de um lado para outro, pensando na sua própria importância. Não é suficientemente simpático para que se tenha prazer em dançar com ele. Queria que você estivesse lá e lhe desse uma das suas respostas. Detesto aquele homem.

Capítulo IV


Quando Jane e Elizabeth ficaram sozinhas, a primeira, que anteriormente fora mais discreta nos elogios a Mr. Bingley, con­fessou à irmã quanto o admirava.
Ele é exatamente o que um rapaz deve ser — acres­centou. — Ajuizado, alegre, animado. Nunca vi maneiras tão distintas, tanta espontaneidade e tão boa educação.
Também é bonito — replicou Elizabeth —, qualidade que um rapaz deve possuir, se possível. Assim a sua persona­lidade se torna completa.
Fiquei muito lisonjeada por ele me ter tirado para dan­çar uma segunda vez. Não esperava tal galanteio.
Não? Pois eu o esperava por você. Mas esta é uma das grandes diferenças entre nós. Os galanteios sempre a sur­preendem. A mim, nunca. Nada mais natural do que ele solici­tá-la para outra dança. Não podia deixar de reconhecer que você era cinco vezes mais bonita do que qualquer outra moça na sala. Não lhe fique grata por isso. Na verdade, ele é muito agradável, e eu lhe dou licença de gostar dele. Você já gostou de muitas pessoas mais estúpidas.
Minha cara Lizzy!
Você bem sabe que tem uma inclinação para gostar das pessoas em geral. Nunca encontra defeito em ninguém. A seus olhos todos são bons e agradáveis. Nunca a ouvi falar mal de quem quer que seja em toda a minha vida.
Não desejaria censurar ninguém irrefletidamente. Mas sempre digo o que penso.
Eu sei, e é isso o que me espanta. Sensata como você é, deixar-se enganar tão simploriamente pela loucura e pelo ab­surdo dos outros! A candura afetada é bastante comum; en­contra-se por toda a parte, mas, ser cândida sem ostentação ou artifício, ver o lado bom do caráter de todo o mundo, torná-lo ainda melhor, ignorar o lado mau, são coisas que lhe pertencem exclusivamente. E você gostou também das irmãs daquele ho­mem, não é? As maneiras delas não são tão agradáveis quanto as de Mr. Bingley...
— Decerto que não. A princípio... Mas são moças mui­to agradáveis quando se conversa com elas. Miss Bingley vai morar com o irmão e dirigir a casa; se não me engano, encontra­remos nela uma excelente vizinha.
Elizabeth nada respondeu, mas não ficou convencida. O comportamento daquelas moças durante o baile não fora cal­culado para agradar a todo o mundo. Dotada de maior rapidez de observação do que a irmã e de menos docilidade de gênio e possuindo, além disso, uma faculdade de julgamento que ne­nhuma complacência consigo mesma obscurecia, Elizabeth se sentia pouco disposta a aceitar aquelas pessoas. Eram de fato moças distintas; não lhes faltava bom humor quando estavam contentes, nem o poder de agradar quando o desejavam; po­rém eram orgulhosas e convencidas. Além disso eram bastante bonitas e tinham sido educadas num dos principais colégios particulares de Londres. Possuíam uma fortuna de vinte mil libras, costumavam gastar mais do que deviam e associar-se com pessoas de classe; tinham portanto as aptidões necessárias para pensar bem de si mesmas e mediocremente dos outros. Provi­nham de uma família respeitável do norte da Inglaterra, coisa que guardavam mais profundamente impressa em sua memória do que o fato de sua fortuna, bem como a do irmão, ter sido adquirida no comércio.
Mr. Bingley herdara do pai uma fortuna calculada em cem mil libras. Este tencionara comprar uma propriedade, mas mor­rera antes de realizar o projeto. Mr. Bingley alimentava a mes­ma idéia e às vezes escolhia o seu condado; mas, como dispu­nha agora de uma boa propriedade e da liberdade de uma casa senhorial, muitos daqueles que lhe conheciam o gênio acomodatício desconfiavam de que acabasse o resto dos seus dias em Netherfield, incumbindo da compra a próxima geração.
Suas irmãs estavam ansiosas para que ele possuísse um domínio particular; no entanto, embora Mr. Bingley estivesse agora estabelecido apenas como locatário, Miss Bingley de modo algum se recusava a presidir a sua mesa; e Mrs. Hurst, que se tinha casado mais pela importância social do que pela fortuna do marido, não se encontrava menos disposta a considerar a casa do irmão como a sua própria, desde que a mesma lhe conviesse. Fazia apenas dois anos que Mr. Bingley havia atingido a maioridade, quando, devido a uma recomendação ocasional. se sentira tentado a visitar Netherfield House. E de fato a vi­sitou durante meia hora, ficando satisfeito com a situação e os quartos principais; ouviu os elogios da proprietária e alugou-a imediatamente. Entre ele e Darcy havia uma amizade muito fir­me, apesar de os seus caracteres serem opostos. Bingley era caro a Darcy pela doçura, franqueza e maleabilidade do seu gê­nio, embora essas qualidades contrastassem de modo absoluto com as suas e Darcy não parecesse nada descontente com as que lhe tinham cabido por sorte. Bingley confiava cegamente na força dos sentimentos de Darcy, e tinha a mais alta opinião acerca de suas idéias. Em inteligência Darcy era superior. Bin­gley não era de modo nenhum deficiente em força mental, mas Darcy era mais vivo. Era ao mesmo tempo altivo, reservado, desdenhoso, e suas maneiras, apesar de bem-educado, eram pou­co convidativas. A esse respeito, o amigo levava grande vanta­gem: Bingley tinha a certeza de agradar, onde quer que apa­recesse. Darcy estava sempre ofendendo os outros.
A maneira pela qual se referiram ao baile de Meryton era bastante característica. Bingley dizia que nunca encontrara gente mais agradável, nem moças mais bonitas em toda a sua vida. Todos tinham sido amáveis e atenciosos com ele; não tinha ha­vido formalidade nem friezas e ele se sentira logo à vontade com todos na sala; quanto a Miss Bennet, não podia conceber que um anjo fosse mais belo. Darcy, ao contrário, afirmava que havia assistido a uma reunião em que não havia beleza nem ele­gância; não sentira o menor interesse por nenhuma pessoa e tampouco recebera a atenção de alguém. Reconhecia que Miss Bennet era bonita, embora sorrisse demais. Mrs. Hurst e a irmã concordaram com isto. Mas ainda assim admiravam Miss Bennet e declararam que ela era uma moça encantadora e que não se oporiam a entrar em relações mais estreitas com ela. Ficou estabelecido portanto que Miss Bennet era uma moça encanta­dora e Bingley se sentiu autorizado, com esses elogios, a pensar nela da forma que desejasse.

Capítulo V


A pouca distância de Longbourn, vivia uma família com que os Bennet mantinham relações particularmente íntimas. Sir William Lucas fora outrora comerciante em Meryton, onde acumulara uma fortuna regular e onde, também, fora agraciado pelo rei com um título de cavaleiro, enquanto exercia as fun­ções de prefeito. A honra fora talvez demasiadamente apreciada. Inspirara-lhe uma repulsa pelo seu negócio e pela pequena cida­de comercial em que habitava. Abandonando as duas coisas, mudou-se com a família para uma casa situada a mais ou menos uma milha de Meryton, lugar que depois ficou sendo chamado de Lucas Lodge, onde podia pensar com prazer na sua própria importância e, livre dos negócios, dedicar-se inteiramente à so­ciedade. Embora orgulhoso da sua posição, esta não o tornou desdenhoso; ao contrário, Sir William era todo atenção para com os outros. Por natureza inofensivo, amável e prestativo, a sua apresentação em St. James o tornara polido e cortês.
Lady Lucas era uma mulher de bons sentimentos, cuja inteligência não era demasiadamente brilhante para impedir que fosse uma vizinha preciosa para Mrs. Bennet. Tinha vários fi­lhos. A mais velha, uma moça ajuizada e inteligente, de vinte e sete anos aproximadamente, era a amiga mais íntima de Eli­zabeth.
Era absolutamente necessário que Mrs. Lucas e Mrs. Ben­net se encontrassem para discutir um baile a que tivessem assis­tido. E, na manhã seguinte, Mrs. Lucas e a filha se dirigiram para Longbourn, a fim de trocar impressões.
Você começou bem a noite, Charlotte — disse Mrs. Bennet para Miss Lucas. — Foi a primeira que Mr. Bingley escolheu para dançar.
Sim, mas ele pareceu gostar mais do segundo par.
Oh, você se refere a Jane, suponho eu, porque Mr. Bingley dançou com ela duas vezes? Isto decerto leva a crer que ele a achou interessante. Aliás estou certa de que este foi o caso. Ouvi falar a respeito disso, mas não me lembro exata­mente do que foi — qualquer coisa sobre Mr. Robinson.
Talvez a senhora se refira ao que eu ouvi numa conver­sa entre ele e Mr. Robinson: já não lhe contei isto? Mr. Robin­son perguntou o que ele achava do baile de Meryton, se não achava que havia grande número de mulheres bonitas na sala. E perguntou também qual era a que ele achava mais bonita. Mr. Bingley respondeu imediatamente: "Oh, a mais velha das senhoritas Bennet, sem dúvida. Não deve haver duas opiniões a este respeito".
Palavra de honra — bem, a resposta foi de fato muito pronta —-, parece até que... No entanto tudo pode dar em na­da, você sabe.
Você é que não ouviu conversas tão agradáveis, Eliza — disse Charlotte. — As palavras de Mr. Darcy não foram tão amáveis quanto as de seu amigo, não é? Pobre Eliza! Ser jul­gada apenas "tolerável"...
—- Peço-lhe que não incite Liza a ficar ressentida com a grosseria de Mr. Darcy, pois é um homem tão desagradável que seria uma infelicidade ser cortejada por ele. Mrs. Long me disse ontem que ele ficou sentado ao seu lado durante meia hora sem abrir a boca uma só vez.
A senhora tem certeza? Não haverá aí um pequeno engano? — indagou Jane. — Estou certa de que vi Mr. Darcy falando com ela.
Sim, porque ela perguntou afinal se ele gostava de Netherfield e ele não teve outro remédio senão responder.
Mas, segundo Mrs. Long, ele pareceu ficar muito aborrecido por obrigarem-no a falar.
Miss Bingley me disse — falou Jane — que ele é mui­to calado, a não ser com as pessoas mais íntimas. Com estas se mostra notavelmente agradável.
Não acredito numa só palavra. Se fosse assim tão agra­dável, teria conversado com Mrs. Long. Mas eu compreendo tudo; todo mundo diz que ele é terrivelmente orgulhoso, e com certeza ouviu dizer que Mrs. Long não tem carruagem e que teve de ir ao baile num carro alugado.
Pouco me importa que ele não tenha conversado com Mrs. Long — disse Miss Lucas —, mas eu queria que ele tives­se dançado com Eliza.
Se eu fosse você, Lizzy — disse a mãe —, na próxima vez me recusaria a dançar com ele.
Creio que posso lhe prometer com segurança que nun­ca mais dançarei com ele.
O orgulho dele não me ofende tanto — disse Miss Lucas — como o orgulho em geral, porque existe um motivo. Não é de admirar que um rapaz tão distinto, com família, for­tuna, tudo a seu favor, tenha de si mesmo uma alta opinião. Se posso exprimir-me assim, ele tem o direito de ser orgulhoso.
Isto é bem verdade — replicou Elizabeth —, e eu perdoaria facilmente o seu orgulho se ele não tivesse mortificado o meu.
O orgulho — observou Mary, que se gabava da solidez das suas reflexões — é um defeito muito comum, creio eu. Por tudo o que tenho lido, estou mesmo convencida de que é muito comum, que a natureza humana manifesta uma tendência mui­to acentuada para o orgulho, que são pouquíssimos os que não alimentam esse sentimento, fundados em alguma qualidade real ou imaginária! A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, em­bora as palavras sejam freqüentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vai­dade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós.
Se eu fosse tão rico quanto Mr. Darcy — gritou um jovem Lucas, que tinha vindo com as irmãs —, não me impor­taria de ser orgulhoso, teria uma matilha de perdigueiros e beberia uma garrafa de vinho todos os dias.
Nesse caso você beberia muito mais do que deveria — disse Mrs. Bennet. — E se eu o visse ocupado desse modo, arrebatar-lhe-ia a garrafa imediatamente.
O menino contestou que ela fizesse tal coisa. Ela conti­nuou a declarar que o faria e a discussão só terminou com a visita.

Capítulo VI


As senhoras de Longbourn em breve foram visitar as de Netherfield. A visita foi paga segundo a etiqueta. As maneiras agradáveis de Miss Bennet incrementaram a boa vontade de Mrs. Hurst e de Miss Bingley; e embora a mãe fosse julgada intolerável e as irmãs mais moças indignas de atenção, as irmãs de Mr. Bingley manifestaram desejo de estreitar relações com as duas filhas mais velhas dos Bennet. Jane recebeu esta aten­ção com o maior prazer, porém Elizabeth continuou a achar desdenhosa a maneira pela qual elas tratavam todo mundo, sem excetuar mesmo a sua irmã, e não conseguiu simpatizar com essas pessoas. A amabilidade com que tratavam Jane se origi­nava provavelmente da influência que a admiração de Mr. Bin­gley exercia sobre as duas irmãs. Era evidente, sempre que se encontravam, que ele de fato admirava Miss Bennet, e para Eli­zabeth era igualmente evidente que Jane cedia à preferência que Mr. Bingley começara a manifestar por ela desde o início, e que devia estar de certo modo muito apaixonada. Elizabeth refletia, com prazer, que não era provável que alguém o des­cobrisse, pois Jane unia uma grande força de sentimentos a uma discrição de gênio e a uma disposição uniformemente alegre que a preservariam da suspeita de pessoas impertinentes. Fez essas reflexões à sua amiga Miss Lucas.
— Talvez seja agradável — replicou Charlotte — poder enganar o público em tais casos, mas às vezes é desvantajoso ser tão reservada. Se uma mulher esconde a sua afeição com igual habilidade daquele que constitui o objeto dessa afeição, pode perder a oportunidade de conquistá-lo. E neste caso é um parco consolo refletir que os outros permanecem na mesma ignorân­cia. Existe tanta gratidão e vaidade em quase todas as afeições que é perigoso abandoná-las à sua sorte — todos podemos co­meçar livremente, uma ligeira preferência é bastante natural, mas são poucos os que têm o coração bastante firme para amar sem receber alguma coisa em troca. Em noventa por cento dos casos, uma mulher deve mostrar mais afeição do que a que real­mente sente. É evidente que Bingley gosta da sua irmã, mas ele poderá nunca passar disto se ela não o auxiliar.
Mas Jane o auxilia tanto quanto a sua natureza o permite. Se eu posso perceber a preferência que ela tem por ele, ele seria um homem bem simplório se não o descobrisse também.
Lembre-se, Liza, de que ele não conhece o tempera­mento de Jane como você.
Mas se uma mulher manifesta preferência por um homem e não se esforça por encobrir os seus sentimentos ele acabará sabendo.
Talvez acabe se a vir freqüentemente. Mas, embora Bingley e Jane se encontrem bastante freqüentemente, nunca estão muitas horas juntos. E, como sempre se vêem no meio de muitas outras pessoas, é impossível que estejam a cada momen­to conversando um com o outro. Jane, portanto, devia tirar o maior partido de cada meia hora em que pode dispor da atenção de Bingley. Quando tiver certeza do amor dele, haverá tempo bastante para se apaixonar tanto quanto ela o deseja.
Seu plano é bom — replicou Elizabeth — quando está em jogo apenas o desejo de se casar bem; e, se eu estivesse decidida a arranjar um marido rico, ou um marido qualquer, seria este o plano que adotaria. Mas estes não são os sentimen­tos de Jane; ela não está agindo por plano. Por enquanto não tem certeza nem mesmo do grau da sua afeição e nem está segura de que seja uma coisa razoável. Há quinze dias apenas que ela o conhece. Dançou quatro vezes com ele em Meryton e o viu uma vez na sua própria casa. Além disso, jantou com ele em companhia de outras pessoas quatro vezes. Não é bas­tante para formar juízo acerca do seu caráter.
Não da maneira como você conta as coisas. Se ela ti­vesse apenas jantado com ele, poderia somente ter descoberto se ele tem bom apetite; mas você deve se lembrar de que durante quatro noites seguidas eles estiveram juntos — e quatro noites podem levar muito longe.
Sim, essas quatro noites lhes permitiram verificar que ambos preferem o vingt et un ao jogo do comércio, mas não creio que tenham conseguido descobrir muita coisa a respeito de suas outras características importantes.
Bem — disse Charlotte —, desejo a Jane, de todo o coração, o mais completo êxito; e creio que se ela se casasse com ele amanhã, teria tanta probabilidade de ser feliz como se pas­sasse um ano a estudar-lhe o caráter. A felicidade no casamento é apenas uma questão de sorte. Mesmo que os noivos conheçam mutuamente as suas tendências, mesmo que essas tendências sejam semelhantes, isto em nada contribui para a sua felicidade posterior. As diferenças, que se acentuam com o tempo, são sempre suficientes para que se venha a sofrer o seu quinhão de amargura; é melhor conhecer o menos possível os defeitos da pessoa com a qual temos de passar a vida.
Você me faz rir, Charlotte; mas a sua teoria não é sensata. Você sabe que não é e que pessoalmente você nunca adotaria esses princípios!
Ocupada em observar as atenções de Mr. Bingley para com a sua irmã, Elizabeth estava longe de suspeitar que estava se tornando o objeto de algum interesse aos olhos do amigo de Mr. Bingley. A princípio, Mr. Darcy nem sequer tinha concor­dado com os que achavam que ela era bonita. Olhara-a no baile sem admiração. E da outra vez em que se encontraram, fitara a moça apenas para criticá-la. Mas logo que declarara a si mesmo e aos amigos que Elizabeth não possuía um só traço agradável no rosto, começou a achar que a bela expressão dos seus olhos negros dava àquele rosto um ar excepcionalmente inteligente. A esta descoberta sucederam outras igualmente humilhantes. Embora o seu olhar crítico houvesse descoberto mais de um defeito na simetria das suas formas, foi forçado a reconhecer que as linhas do seu corpo eram de grande pureza; e, apesar da sua afirmação de que as maneiras dela não eram as do mundo elegante, sentiu-se fascinado pela sua encantadora naturalidade. Elizabeth ignorava tudo isto; a seus olhos Mr. Darcy era apenas o homem que não sabia ser agradável em parte alguma e que não a achara suficientemente elegante para dançar com ele. Ele começou a querer conhecê-la mais intimamente e, para conseguir conversar pessoalmente com Elizabeth, começou a interessar-se pela conversa dela com os outros. Essa sua atitude atraiu a atenção de Elizabeth. O fato se passou em casa de Sir William Lucas, onde grande número de pessoas estavam reunidas.
Que motivo levou Mr. Darcy — perguntou Elizabeth a Charlotte — a vir escutar a minha conversa com o Coronel Forster?
Esta é uma pergunta que somente Mr. Darcy poderá responder.
Mas se ele continua com este jogo eu lhe farei certa­mente saber que estou percebendo o que ele quer com isto. Ele é muito sarcástico, e se eu não começar a ser impertinente tam­bém, dentro em pouco terei medo dele.
Quando Mr. Darcy se aproximou delas pouco depois, em­bora sem a intenção aparente de falar, Miss Lucas desafiou a amiga a mencionar diante dele o assunto que estavam discutin­do. Aceitando a provocação, Elizabeth se virou para ele e disse:
O senhor não acha, Mr. Darcy, que ainda agora eu me exprimi com grande felicidade? Quando eu brinquei com o Coronel Forster sobre a possibilidade de ele nos oferecer um baile em Meryton?
Com grande energia. Mas este é um assunto que sem­pre infunde energia a uma senhora.
O senhor nos trata com severidade.
Breve vai chegar a sua vez de ser provocada — disse Miss Lucas. — Eu vou abrir o piano, Eliza, e você sabe o que a espera.
Você é uma amiga estranha; sempre querendo que eu toque e cante diante de todo mundo. Se a minha vaidade tivesse tendência musical, você seria preciosa, mas como este não é o caso eu preferia não me exibir diante de pessoas que estão ha­bituadas a ouvir os melhores concertistas.
E como Miss Lucas insistisse, ela acrescentou:
Muito bem. Se não há outro jeito...
E, olhando gravemente para Mr. Darcy, continuou:
Há um velho provérbio que todos aqui naturalmente conhecem: "Guarde o seu sopro para esfriar o seu caldo". Eu conservarei o meu para cantar.
A sua atuação como cantora foi agradável, embora de ne­nhum modo excepcional. Depois de uma ou duas canções, e antes que pudesse responder aos pedidos de várias pessoas que queriam ouvi-la novamente, Elizabeth teve de ceder o lugar à sua irmã Mary, que esperava com impaciência, pois, faltando-lhe todos os atrativos, estudara com grande aplicação e estava por­tanto sempre pronta a exibir-se.
Mary não tinha talento, nem gosto. Embora a vaidade lhe tivesse dado perseverança, dera-lhe igualmente um ar pedante de maneiras convencidas, coisa suficiente para obscurecer triunfos maiores do que aqueles que era capaz de alcançar.
Embora não tocasse tão bem, Elizabeth agradou muito mais, graças à sua naturalidade; e Mary, depois de um longo concerto, pôde considerar-se feliz por alcançar alguns elogios graças a algumas canções escocesas e irlandesas que executou a pedido das irmãs mais moças, que na outra extremidade do salão tinham entrado evidentemente na dança, com alguns dos Lucas e dois ou três oficiais.
Mr. Darcy ficou próximo a eles, cheio de silenciosa indig­nação, diante de uma maneira tão grosseira de passar a noite, impossibilitando qualquer conversa. Estava tão absorto nos seus pensamentos que só reparou que Sir William se tinha apro­ximado dele no momento em que este começou a falar:
Que divertimento encantador para os jovens, Mr. Dar­cy! Não há nada como a dança. Eu a considero uma das formas mais requintadas de divertimento das sociedades cultas.
Decerto, Sir William; e a dança tem também a vanta­gem de estar em moda entre as sociedades menos requintadas do mundo. Todos os selvagens sabem dançar.
Sir William apenas sorriu.
Seu amigo dança muito bem — continuou, depois de uma ligeira pausa, ao ver Bingley reunir-se ao grupo dos que dançavam; — e eu não duvido de que o senhor seja um adepto dessa arte, Mr. Darcy.
O senhor deve ter-me visto dançar em Meryton.
É verdade. E tive grande prazer. O senhor dança fre­qüentemente em St. James?
Nunca, Sir William.
Não acha que seria uma homenagem digna daquele lugar?
É uma homenagem que eu não concedo a nenhum lu­gar, se puder evitar.
O senhor tem uma casa em Londres, não é assim? Mr. Darcy se inclinou.
Já tive projetos de me fixar também na cidade — prosseguiu Sir William —, pois aprecio muito a sociedade. Mas tive receio de que o ar de Londres não conviesse a Lady Lucas.
Deteve-se com a esperança de que o outro lhe respondesse. Mas o seu companheiro não estava disposto a isto. E, como Elizabeth se aproximasse naquele instante, Sir William pensou praticar um ato muito galante chamando-a.
Minha cara Eliza, por que não está dançando? Mr. Darcy, permita-me apresentar-lhe esta jovem como um par bas­tante desejável. O senhor, estou certo, não poderá se recusar a dançar, quando se encontra ante tão grande beleza...
E, tomando a mão de Elizabeth, Sir William a teria dado a Mr. Darcy, que embora extremamente surpreso não se teria recusado a aceitá-la, quando a moça recuou subitamente e disse, um pouco bruscamente, para Sir William:
Sir William, não tenho a menor intenção de dançar. Suplico-lhe que não suponha que me dirigi para este lado a fim de arranjar um par.
Mr. Darcy, com grande amabilidade, pediu-lhe que lhe concedesse a honra da sua mão; pediu em vão. Elizabeth estava decidida; Sir William tampouco conseguiu abalar a sua decisão com a tentativa de persuadi-la:
A senhorita dança tão bem, Miss Eliza, que seria cruel negar-me a felicidade de apreciá-la; e embora esse gentleman de modo geral não aprecie esse divertimento, não fará nenhuma objeção, estou certo.
Mr. Darcy é muito amável — disse Elizabeth, sorrindo.
De fato; mas considerando a tentação, minha cara Miss Eliza, não podemos surpreender-nos de que ele se mostre dis­posto, pois quem faria objeção a um par como a senhorita?
Elizabeth lhe lançou um olhar malicioso e virou-se. A sua resistência não ofendera Mr. Darcy; pelo contrário, ele estava pensando na moça com certa complacência, quando foi abordado por Miss Bingley.
Creio que conheço o objeto do seu devaneio.
Penso que não.
O senhor está pensando como seria insuportável passar muitas noites deste modo, numa sociedade como esta. Aliás, estou de acordo com o senhor. Nunca me aborreci tanto! A insipidez, apesar deste barulho, a futilidade, apesar do ar de importância de toda esta gente. O que eu não daria para ouvi-lo falar com severidade...
Asseguro-lhe que a sua conjetura é inteiramente falsa. Estava pensando em coisas muito mais agradáveis. Estive medi­tando no prazer que nos pode dar um par de belos olhos no rosto bonito de uma mulher.
Miss Bingley imediatamente fixou o seu olhar no rosto de Mr. Darcy, e exprimiu o desejo de que ele dissesse o nome da senhora que lhe inspirara tais reflexões. Mr. Darcy respondeu intrepidamente:
Miss Elizabeth Bennet.
Miss Elizabeth Bennet! — repetiu Miss Bingley. — Estou assombrada. Desde quando Miss Elizabeth se tornou a sua favorita? Quando lhe poderei desejar felicidades?
Esta é exatamente a pergunta que esperava da sua parte. A imaginação das mulheres é muito veloz. Salta da admi­ração para o amor. Do amor para o casamento, num instante. Sabia que ia me desejar felicidades.
Se fala tão seriamente, considerarei o assunto absolu­tamente decidido. Terá uma encantadora sogra e naturalmente ela há de estar sempre em Pemberley com o senhor.
E enquanto ela se divertia desse modo, ele a ouvia com perfeita indiferença; e como a sua tranqüilidade a convencesse de que nada estava perdido, Miss Bingley deu livre curso à sua ironia.

Capítulo VII


A fortuna de Mr. Bennet consistia quase que exclusiva­mente de uma propriedade que lhe rendia duas mil libras por ano. Infelizmente para as suas filhas, esta propriedade estava legada a um parente distante, pois não havia herdeiros mascu­linos diretos; e a fortuna da mãe, embora suficiente para a sua situação na vida, mal bastava para suprir as deficiências da fortuna do pai. O pai de Mrs. Bennet tinha sido um advogado em Meryton e lhe deixara quatro mil libras. Ela tinha uma irmã casada com um certo Mr. Philips, que fora empregado do sogro e o sucedera no negócio. Tinha igualmente um irmão estabelecido em Londres com um respeitável ramo de comércio.
A aldeia de Longbourn distava apenas uma milha de Me­ryton. Essa distância convinha perfeitamente às moças, que gostavam muito de passear nesta última localidade, três ou qua­tro vezes por semana, para visitar a tia e a loja de uma modista, que ficava situada no caminho. As mais jovens da família, Katherine e Lydia, eram as que mais freqüentemente faziam aque­le trajeto; tinham menos coisas que as preocupassem e, quando nada mais interessante se oferecia, necessitavam de uma cami­nhada até Meryton, a fim de preencher as horas da manhã e fornecer assunto para as conversações da noite. Por mais sufi­cientes que fossem as novidades que encontrassem pelo cami­nho, sempre conseguiam extrair algumas da tia. Presentemente, aliás, elas se encontravam bem supridas, quer de notícias, quer de felicidade, graças à chegada recente de um regimento da milícia. O regimento deveria permanecer em Meryton durante todo o inverno, e lá ficava a sede do comando. As visitas das meninas a Mrs. Philips eram agora bem divertidas. Cada dia acrescentava novas informações ao que já sabiam acerca dos nomes dos oficiais e das suas relações. O lugar onde esses ofi­ciais residiam não permaneceu muito tempo em segredo. E, finalmente, elas começaram a travar conhecimento com os pró­prios oficiais. Mrs. Philips os visitou a todos e isto abriu para as suas sobrinhas as portas de uma felicidade até então desco­nhecida. Não falavam de outro assunto; e a grande fortuna de Mr. Bingley, tema que invariavelmente despertava uma grande animação no meio das moças, era indiferente aos olhos de Katherine e de Lydia, perto dos assuntos que se referissem ao regimento.
Depois de ouvir, certa manhã, as suas efusivas discussões sobre isso, Mr. Bennet observou friamente:
Pelo que deduzo das suas conversas, vocês devem ser duas das moças mais tolas do país. Já o suspeitava, mas agora estou convencido.
Katherine ficou embaraçada e não deu resposta; mas Lydia, com perfeita indiferença, continuou a exprimir a admiração que sentia pelo Capitão Carter e a esperança que tinha de vê-lo ainda naquele dia, pois ele devia partir para Londres na manhã se­guinte...
Espanta-me, meu caro — disse Mrs. Bennet —, a facilidade com que você diz que as suas próprias filhas são tolas. Se eu quisesse menoscabar os filhos de alguma pessoa, decerto não escolheria os meus.
Se minhas filhas são tolas, espero nunca me iludir a este respeito.
Sim, mas acontece que todas são muito inteligentes.
Este é o único ponto — e disto eu me gabo — sobre o qual não estamos de acordo. Eu tinha tido esperança de que os nossos sentimentos coincidissem em tudo; porém, sou obri­gado a diferir de você neste ponto. Acho que as nossas duas filhas mais moças são excepcionalmente tolas.
Meu caro Mr. Bennet, você não deve esperar que as meninas tenham o mesmo juízo que o pai e a mãe. Quando atingirem a nossa idade, asseguro-lhe que não pensarão mais em oficiais. Lembro-me do tempo em que eu gostava também de uma túnica vermelha, e, aliás, no fundo do coração, ainda gosto. E se algum jovem coronel com cinco ou seis mil libras por ano pedir uma das minhas filhas, eu não lha recusarei; achei o Coronel Forster muito distinto no seu uniforme, no dia em que estive na casa de Sir William.
Não é? — gritou Lydia. — Minha tia contou que o Coronel Forster e o Capitão Carter não estão mais indo tão freqüentemente à casa de Miss Watson, como o faziam logo depois que chegaram. Minha tia os vê agora freqüentemente na livraria do Clarke.
A entrada de um criado que trazia um bilhete para Miss Bennet impediu que Mrs. Bennet respondesse. O bilhete vinha de Netherfield, e o criado esperava uma resposta. Os olhos de Mrs. Bennet brilhavam de prazer e ela perguntou repetidamen­te, enquanto sua filha lia:
Bem, Jane, de quem é o bilhete? De que se trata? Que é que diz o bilhete? Vamos, Jane, leia depressa e nos conte. Depressa, meu bem.
É de Miss Bingley — respondeu Jane. Em seguida leu a missiva, em voz alta:

"Minha cara amiga: se você não tiver pena de nós e não vier jantar comigo e com Louise hoje à noite, correremos o risco de nos odiarmos pelo resto da vida, pois duas mulheres não podem passar um dia inteiro em tête-à-tête sem brigar. Venha assim que tiver recebido o presente bilhete. Meu irmão e os outros senhores vão jantar com os oficiais. Sua amiga de sempre.
Caroline Bingley."

Com os oficiais! — gritou Lydia. — Por que será que a minha tia não nos disse isto?
Vão jantar fora — disse Mrs. Bennet; — isto é real­mente uma pena.
Posso usar a carruagem? — perguntou Jane.
Não, meu bem, é melhor você ir a cavalo, pois parece que vai chover; e neste caso você terá que pernoitar lá.
Seria um bom plano — disse Elizabeth — se a senhora tivesse a certeza de que eles não se ofereceriam para acompanhá-la de volta.
Oh, mas os cavalheiros terão que usar a carruagem de Mr. Bingley para ir até Meryton; e os Hurst não possuem cavalo para a sua.
Eu preferia ir de carro.
Mas, meu bem, seu pai não pode dispensar os cavalos. Eles são necessários para o serviço da fazenda, não são, Mr. Bennet?
Eles são precisos para a fazenda muito mais vezes do que consigo obtê-los.
— Mas se precisar deles hoje — disse Elizabeth —, o projeto da minha mãe estará realizado.
E conseguiu afinal extorquir do pai um atestado de que os cavalos estavam ocupados. Assim Jane foi obrigada a ir a cavalo e sua mãe a acompanhou até a porta, com muitos prognósticos alegres de mau tempo. Suas esperanças foram correspondidas. Não havia muito que Jane tinha partido, quando começou a chover fortemente. Suas irmãs ficaram inquietas por Jane, mas a mãe ficou radiante. A chuva continuou durante toda a noite sem parar. Jane decerto não podia voltar.
Foi uma feliz idéia que tive — disse Mrs. Bennet mais de uma vez, como se lhe coubesse também a glória de ter feito chover. Entretanto, foi só na manhã seguinte que ela compreen­deu até que ponto o seu plano tinha sido feliz. Mal terminara a primeira refeição, quando o criado de Netherfield trouxe o seguinte bilhete para Elizabeth:

"Minha querida Liza: sinto-me muito indisposta esta ma­nhã, e creio que isto é devido ao fato de ter me molhado muito ontem à noite. Meus amigos se recusam a deixar-me partir enquanto não esteja melhor. Insistem também para que eu chame Mr. Jones. Portanto, não se alarmem se ouvirem contar que ele veio ver-me. E a não ser dor de garganta e dor de cabeça, não tenho nada de mais. Sua, etc."

Bem, minha cara mulher — disse Mr. Bennet, depois que Elizabeth acabou de ler o bilhete em voz alta —, se a sua filha caísse gravemente doente, se ela morresse, seria um con­forto saber que foi tudo para conquistar Mr. Bingley e por ordem sua.
Oh, não tenho medo de que ela morra. Ninguém morre de um pequeno resfriado. Ela será bem tratada. Enquanto esti­ver lá, tudo vai muito bem. Eu iria vê-la se pudesse usar a carruagem.
Elizabeth, sentindo-se realmente ansiosa, tinha decidido ir ver a irmã, embora a carruagem não pudesse ser usada. Mas, como não sabia montar, a única alternativa era ir a pé.
Que tolice — gritou a mãe — ir a pé com toda esta lama! Você chegará lá num estado lamentável.
Chegarei lá em estado de ver Jane e isto é tudo o que desejo.
Isto é uma indireta para mim — falou o pai —, para que eu mande buscar os cavalos?
Não, de modo algum. Não me importo de ir a pé. A distância é curta quando se tem um bom motivo: apenas três milhas. Estarei de volta para o jantar.
Admiro a atividade da sua benevolência — observou Mary. — Mas cada impulso ou sentimento devia ser guiado pela razão. E, no seu modo de ver as coisas, o esforço devia ser sempre relativo ao fim que a gente se propõe alcançar.
Iremos juntas com você até Meryton — disseram Ka­therine e Lydia.
Elizabeth aceitou a companhia e as três moças partiram juntas.
Se andarmos mais depressa — disse Lydia enquanto caminhava — talvez ainda cheguemos a tempo de ver o Capitão Carter antes da partida.
Em Meryton as moças se separaram. As duas mais jovens se dirigiram para a residência da esposa de um dos oficiais e Elizabeth continuou sozinha, atravessando campo após campo, pulando cercas e saltando por sobre poças d'água, com impa­ciência, e afinal encontrou-se a pouca distância da casa, com os tornozelos doídos, as meias sujas e o rosto corado pelo exercício.
Foi introduzida numa sala de almoço onde todos estavam reunidos, com exceção de Jane. O seu aparecimento causou bastante surpresa. Mrs. Hurst e Miss Bingley acharam incrível que ela tivesse caminhado três milhas tão cedo, com tanta umi­dade e sozinha; e Elizabeth ficou convencida de que elas a desprezaram por isto. Receberam-na, entretanto, muito amavelmente; quanto ao irmão dessas senhoras, havia nas suas manei­ras mais do que simples polidez; havia bom humor e bondade. Mr. Darcy falou pouco e Mr. Hurst não disse nada. O primeiro estava em dúvida sobre se devia admirar as belas cores que o exercício emprestara ao rosto da moça ou refletir que o mo­tivo talvez não justificasse a sua vinda sozinha, de tão longe. O segundo pensava apenas no seu almoço.
As perguntas que Elizabeth fez a respeito da irmã não foram favoravelmente respondidas. Miss Bennet tinha dormido mal, e, embora estivesse de pé, sentia-se muito febril e não podia sair do quarto. Elizabeth disse que gostaria de vê-la ime­diatamente; e Jane, a quem apenas o medo de causar incômodo e de produzir inquietude impedira de exprimir no seu bilhete o quanto ela ansiava por uma visita, ficou encantada ao ver a irmã entrar. Não estava entretanto em estado de conversar muito, e quando Miss Bingley as deixou juntas Jane pouco mais pôde exprimir além da gratidão que sentia pela extraordinária bondade com que era tratada. Elizabeth a ouviu em silêncio.
Depois que a primeira refeição terminou, as irmãs de Mr. Bingley entraram no quarto; e Elizabeth começou a simpatizar com elas quando viu com quanta afeição e solicitude tratavam Jane. O farmacêutico veio e, tendo examinado a paciente, disse, como era de supor, que ela apanhara um violento resfriado e que necessitava de tratamento. Aconselhou-a a voltar para a cama e prometeu que lhe enviaria remédios. O conselho foi seguido, pois os sintomas da febre se agravaram, bem como a dor de cabeça. Elizabeth não saiu nem uma só vez do quarto; nem as outras senhoras tampouco ficaram muito tempo ausen­tes: como os cavalheiros estivessem fora, não tinham de fato outra coisa a fazer. Quando o relógio bateu três horas, Elizabeth sentiu que devia partir. E muito contra a vontade, falou o que sentia. Miss Bingley lhe ofereceu a carruagem, e ela estava quase aceitando quando Jane se mostrou tão pouco disposta a separar-se da irmã que Miss Bingley foi obrigada a converter o ofere­cimento da carruagem num convite para pernoitar em Nether­field. Elizabeth consentiu com gratidão e um criado foi mandado a Longbourn a fim de prevenir a família e trazer de volta um sortimento de roupas.

Capítulo VIII


Às cinco horas, as duas senhoras se retiraram para vestir-se, e às seis e meia Elizabeth foi chamada para jantar. Às amáveis perguntas com que a cumularam, entre as quais ela teve o pra­zer de distinguir a solicitude muito superior de Mr. Bingley, ela não pôde dar uma resposta muito favorável. Jane não estava nada melhor. As irmãs, ouvindo isto, repetiram três ou quatro vezes que sentiam muito, que era bastante desagradável resfriar-se, e que detestavam ficar doentes. E depois não pensaram mais no assunto. A indiferença que manifestaram para com Jane, longe da sua presença imediata, restituiu a Elizabeth o prazer de detestá-las como antigamente.
Mr. Bingley era aliás o único do grupo que ela podia olhar com alguma complacência. O seu cuidado com Jane era evi­dente. As atenções com que cumulava Elizabeth eram bastante agradáveis. E essas atenções a impediam de sentir-se como a intrusa que a seu ver as outras pessoas a consideravam. E a não ser de Mr. Bingley não recebeu atenções de mais ninguém. Miss Bingley estava fascinada por Mr. Darcy, sua irmã pouco menos do que ela, e, quanto a Mr. Hurst, que Elizabeth tinha a seu lado, era um homem indolente, que vivia apenas para comer, beber e jogar cartas; quando ele verificou que Elizabeth pre­feria um prato mais simples a um ragout, perdeu toda a vontade de conversar com ela.
Depois do jantar Elizabeth voltou imediatamente para perto de Jane, e assim que saiu da sala Miss Bingley começou a falar mal dela. Não achava boas as suas maneiras. Revelavam, a seu ver, um misto de orgulho e impertinência. Ela não sabia conversar, não tinha estilo, gosto, nem beleza. Mrs. Hurst pen­sava a mesma coisa e acrescentou:
Nada tem, em suma, que a recomende, senão ser uma excelente andarilha. Nunca esquecerei de como nos apareceu hoje de manhã. Parecia quase uma selvagem.
É verdade, Louise, quase não pude impedir-me de rir.
Que absurdo ela ter vindo. Que sentido tem vir correndo pelo campo só porque a irmã apanhou um resfriado? O cabelo dela estava tão desarrumado, tão despenteado!
Sim, e a saia dela? Espero que você tenha visto. A barra estava toda suja de lama.
Sua descrição pode ser muito exata, Louise — disse Bingley —, mas não reparei em nada disso. Achei que Miss Elizabeth Bennet estava muito bonita quando entrou na sala hoje de manhã. As saias sujas de lama escaparam à minha atenção.
O senhor viu, com certeza, Mr. Darcy — disse Miss Bingley. — E eu estou inclinada a pensar que o senhor não gostaria que uma das suas irmãs se exibisse deste modo.
Decerto que não.
Andar três ou quatro milhas, ou cinco milhas, ou lá o que seja, com os tornozelos metidos na lama, e sozinha, intei­ramente sozinha! Que significa isto? Parece-me mostrar um conceito abominável de independência, uma indiferença toda campestre à mais elementar decência.
Mostra a afeição que ela tem pela irmã — disse Bingley.
Creio, Mr. Darcy — observou Miss Bingley, quase num sussurro —, que esta aventura deve ter afetado a admiração que o senhor tinha pelos seus belos olhos.
De modo algum — replicou ele. — Achei que o exer­cício os tornou ainda mais brilhantes.
Depois de uma curta pausa, Mrs. Hurst recomeçou a falar:
Eu gosto imensamente de Jane Bennet, é realmente uma ótima menina. Desejaria de todo o coração que ela se casasse. Mas, com um pai daqueles, com uma mãe daquelas e com relações tão baixas, creio que ela não tem nenhuma proba­bilidade de se casar.
Creio que ouvi dizer que o tio dela é advogado em Meryton.
Sim, e outro tio dela mora perto de Cheapside.
Isto é definitivo — acrescentou a irmã. E ambas riram cordialmente.
Mesmo que elas tivessem tantos tios que bastassem para encher todo o Cheapside — exclamou Bingley —, isto não as tornaria nem um pingo menos agradáveis.
Mas é lógico que deve diminuir muito as probabili­dades de elas se casarem com homens de importância social — replicou Darcy.
A esta declaração, Bingley nada respondeu. Mas suas irmãs concordaram com entusiasmo e durante algum tempo caçoaram das relações vulgares da sua cara amiga.
Com uma ternura renovada, entretanto, elas voltaram para o quarto assim que saíram da sala de jantar, e fizeram compa­nhia a Jane até serem chamadas para o café. Jane ainda estava muito fraca e Elizabeth não podia sair nem um momento do seu lado. Finalmente, tarde, ao anoitecer, quando viu que a irmã dormia, Elizabeth achou que devia descer para se distrair um pouco. Ao entrar no salão, encontrou o grupo todo jogando 100 e foi imediatamente convidada a tomar parte no jogo; mas, desconfiando de que eles estavam jogando muito alto, recusou e, dando como desculpa o estado da irmã, disse que se distrairia com um livro durante os poucos instantes que passasse ali em­baixo. Mr. Hurst olhou para ela com grande espanto.
Prefere ler a jogar cartas? — disse ele. — É estranho.
Miss Elizabeth Bennet — disse Mr. Bingley — des­preza os jogos de cartas. Lê muito e não encontra prazer noutra coisa.
Não mereço nem o elogio nem a censura — exclamou Elizabeth. — Não sou uma grande leitora e encontro prazer em muitas outras coisas.
Estou certo de que tem prazer em tratar da sua irmã — disse Bingley. — Espero que breve seja recompensada com o seu completo restabelecimento.
Elizabeth agradeceu de coração e em seguida dirigiu-se para a mesa sobre a qual havia alguns livros. Bingley imediata­mente se ofereceu para ir buscar mais alguns, todos os de que dispunha na biblioteca.
Desejaria para seu benefício e meu próprio crédito que a coleção fosse maior; mas sou um sujeito preguiçoso e, embora não possua muitos livros, ainda não os li todos.
Elizabeth lhe assegurou que aqueles que estavam na sala eram mais do que suficientes.
Causa-me espanto — disse Miss Bingley — meu pai ter nos deixado uma coleção de livros tão pequena. Que mag­nífica biblioteca o senhor tem em Pemberley, Mr. Darcy.
Não é de estranhar — replicou ele —, é o trabalho de muitas gerações.
E depois o senhor aumentou muito a biblioteca; está sempre comprando livros!
Não compreendo o pouco caso com que se tratam as bibliotecas de família, hoje em dia. Estou certa de que o senhor não se esquece de nada do que possa aumentar as belezas da­quele nobre lugar. Charles, quando você construir a sua casa, desejaria que fosse tão aprazível quanto Pemberley.
Eu também desejo.
Eu o aconselho a comprar uma propriedade naquelas redondezas e tomar Pemberley como uma espécie de modelo. Não há condado mais aprazível na Inglaterra do que o Derbyshire.
De todo o coração. Comprarei o próprio Pemberley se Darcy quiser vendê-lo.
Estou falando de possibilidades, Charles.
Palavra de honra, Caroline, acho que é mais possível comprar Pemberley do que imitá-lo.
Elizabeth estava tão interessada no que estavam dizendo que não podia prestar muita atenção ao livro; e daí a pouco, largando-o, aproximou-se da mesa de jogo, colocando-se entre Mr. Bingley e sua irmã mais velha, a fim de observar o jogo.
Miss Darcy cresceu muito desde a primavera? — per­guntou Miss Bingley. — Ela vai ficar da minha altura?
Penso que sim. Está agora da altura de Miss Elizabeth Bennet ou talvez um pouco mais alta.
Queria muito tornar a vê-la. Nunca encontrei uma pessoa tão encantadora. Que modos, que delicadeza... E como é prendada para a idade! Toca piano divinamente.
Espanta-me a capacidade que têm as moças de se tor­narem tão prendadas — disse Bingley.
Todas as moças são prendadas! Meu caro Charles, que quer dizer com isto?
Sim, todas desenham mesas, forram biombos e fazem bolsas de tricô. Não conheço uma só moça que não saiba fazer todas estas coisas. E nunca ouvi mencionar o nome de uma moça pela primeira vez sem que me informassem que era muito prendada.
A sua lista dos talentos comuns — disse Darcy — é verdadeira demais. A palavra "prendada" é aplicada a muitas moças somente porque sabem tricotar uma bolsa ou forrar um biombo. Mas estou longe de concordar com você no seu julga­mento sobre as moças em geral. Apesar do grande número das minhas relações, não posso gabar-me de conhecer mais de meia dúzia de moças realmente prendadas.
Nem eu — disse Miss Bingley.
Nesse caso — observou Elizabeth — deve exigir mui­tas qualidades para o seu ideal de mulher perfeita.
— De fato, exijo muitas qualidades.
Oh, certamente — exclamou a sua fiel aliada. — Ne­nhuma mulher pode ser realmente considerada completa se não se elevar muito acima da média. Uma mulher deve conhecer bem a música, deve saber cantar, desenhar, dançar e falar as línguas modernas, a fim de merecer esse qualificativo, e além disso, para não o merecer senão pela metade, é preciso que possua um certo quê na maneira de andar, no tom da voz e no modo de exprimir-se.
Sim, deve possuir tudo isso — acrescentou Darcy. — E acrescentar ainda alguma coisa mais substancial: o desenvol­vimento do espírito pela leitura intensa.
Já não me espanto de que conheça apenas seis mu­lheres completas, espanto-me é de que conheça alguma.
Julga com tanta severidade o seu sexo, que duvida da possibilidade de tudo isto?
Eu nunca vi uma mulher assim. Nunca vi tanta capa­cidade de aplicação, gosto e elegância reunidas numa só pessoa.
Mrs. Hurst e Miss Bingley protestaram juntas contra a in­justiça contida naquela dúvida. E ambas declararam que conhe­ciam muitas mulheres que correspondiam àquelas exigências. Nesse momento Mr. Hurst chamou-as à ordem, queixando-se amargamente da pouca atenção com que jogavam. A conversa cessou de súbito e Elizabeth logo depois voltou para o quarto.
Eliza Bennet — disse Miss Bingley, assim que a porta se fechou — é uma dessas moças que procuram se fazer valer aos olhos das pessoas do outro sexo falando mal do seu próprio; e muitos homens se deixam enganar por isto. Mas, na minha opinião, é um estratagema muito baixo.
Sem dúvida — replicou Darcy, a quem se dirigia a ob­servação principalmente —, existe baixeza em todos os estra­tagemas que as senhoras às vezes condescendem em empregar para cativar. Tudo o que tem afinidade com a astúcia é des­prezível.
Miss Bingley não se sentiu inteiramente satisfeita com esta resposta, que não a encorajava a prosseguir no assunto.
Elizabeth tornou a entrar para avisar que a irmã estava pior e que não podia deixá-la. Bingley insistiu para que Mr. Jones fosse chamado imediatamente; suas irmãs, convencidas de que os recursos médicos da aldeia não eram suficientes para o caso, recomendaram que se enviasse um expresso para a ci­dade, chamando um dos médicos mais eminentes de Londres. Elizabeth recusou, mostrando-se no entanto disposta a aceitar a sugestão de Bingley. Ficou decidido que Mr. Jones seria cha­mado no dia seguinte de manhã cedo, caso Miss Bennet não amanhecesse francamente melhor. Bingley mostrou-se muito in­quieto; suas irmãs declararam que estavam inconsoláveis. Con­solaram entretanto a sua tristeza cantando duetos depois da ceia, enquanto Bingley tranqüilizava as suas inquietudes dando ordens à caseira para que todas as atenções possíveis fossem dispensadas à moça doente e à sua irmã.

Capítulo IX


Elizabeth passou a maior parte da noite no quarto da irmã e de manhã teve o prazer de poder enfim mandar respostas mais tranqüilizadoras aos recados que recebera muito cedo de Mr. Bingley por intermédio de uma criada e, algum tempo de­pois, pelas elegantes damas de companhia das irmãs do dono da casa. Apesar dessas melhoras, Elizabeth pediu que enviassem um bilhete a Longbourn pedindo que sua mãe viesse visitar Jane e tomasse pessoalmente as providências que a situação exi­gia. O bilhete foi despachado imediatamente e a resposta não tardou. Mrs. Bennet, acompanhada pelas duas filhas mais mo­ças, chegou a Netherfield pouco depois do almoço.
Se tivesse encontrado Jane aparentemente em perigo, Mrs. Bennet teria ficado extremamente desolada; mas, vendo que a doença não era grave, não desejou que ela se restabelecesse imediatamente, pois isto significaria provavelmente o seu re­gresso de Netherfield. Repeliu portanto a proposta que lhe fez Jane, que desejava ser transportada para casa. O farmacêutico tampouco achou a idéia razoável. E, depois de se ter demorado algum tempo com Jane, Mrs. Bennet e suas três filhas aceita­ram o convite que lhes foi fazer Miss Bingley para que fossem almoçar.
Bingley veio ao encontro de Mrs. Bennet, exprimindo-lhe a sua esperança de que não tivesse encontrado Miss Bennet pior do que esperava.
Realmente, encontrei-a pior do que esperava — res­pondeu Mrs. Bennet. — O seu estado não permite que ela seja transportada. Mr. Jones disse que nem devemos pensar nisto. Seremos obrigadas a abusar mais algum tempo da sua hospitalidade.
Transportá-la? — exclamou Bingley. — Nem deve­mos pensar nisto. Minha irmã, estou certo, não o permitirá.
Pode ficar certa, madame — disse Miss Bingley com fria amabilidade —, de que Miss Bennet receberá todas as aten­ções enquanto estiver em nossa casa.
Mrs. Bennet agradeceu efusivamente.
Estou certa — acrescentou ela — de que, se não fos­sem os bons amigos que ela tem, a sua situação seria muito grave, pois está realmente muito doente; ela sofre muito, em­bora com uma paciência admirável; aliás, é sempre assim, pois ela tem, sem nenhuma dúvida, o gênio mais dócil do mundo. Eu sempre digo às minhas outras filhas que elas nada são perto de Jane. O quarto em que ela está, Mr. Bingley, é muito agra­dável e tem uma encantadora vista sobre a aléía principal. Não conheço outro lugar no país que seja tão agradável quanto Ne­therfield. Espero que o senhor não se apresse a abandoná-lo, embora o tenha alugado por pouco tempo.
Tudo o que faço — replicou ele — é às pressas, e por­tanto, se resolvesse deixar Netherfield, eu o faria provavelmen­te em cinco minutos.
Isto é exatamente o que eu supunha da sua parte — disse Elizabeth.
Está começando a compreender-me? — exclamou ele, virando-se para Elizabeth.
Compreendo-o perfeitamente.
Desejaria poder aceitar a sua declaração como um elo­gio, mas acho que ser tão transparente é lamentável.
Em geral é assim, mas não se segue necessariamente que um caráter profundo e complicado seja mais estimável do que o seu.
Lizzy — gritou a mãe —, lembre-se de onde está e não se precipite como se estivesse em casa.
Não sabia — continuou Bingley imediatamente — que a senhorita era tão grande estudiosa dos caracteres. Deve ser um estudo absorvente.
Sim, mas os caracteres complexos são os mais interes­santes. Pelo menos têm a vantagem de ser complicados.
O campo — disse Darcy — oferece em geral poucos exemplares para um tal estudo. A sociedade em que nos move­mos no campo é em geral muito limitada e monótona.
Mas as pessoas em si mudam tanto que sempre existe nelas alguma coisa de novo a observar.
Realmente — exclamou Mrs. Bennet, ofendida pela maneira como ele se referia aos moradores do campo. — Asseguro-lhes que existe tanta monotonia na cidade como no campo.
Todos ficaram surpresos e Darcy, depois de fitá-la um instante, virou-se para o outro lado em silêncio.
Mrs. Bennet, que imaginou ter ganhado uma vitória com­pleta sobre o outro, continuou, triunfante:
Não vejo em que Londres tenha tão grande vantagem sobre o campo, exceto quanto às lojas e lugares públicos. O campo é muito mais agradável, não é, Mr. Bingley?
Quando estou no campo — respondeu este — nunca desejo ir embora. E quando estou na cidade acontece a mesma coisa. Cada lugar tem as suas vantagens. Sinto-me igualmente bem em ambos.
Sim, isto é porque o senhor tem boa vontade. Mas aquele gentleman — disse ela, olhando para Darcy — parece que detesta o campo.
Está enganada, mamãe — disse Elizabeth, envergonha­da com a simplicidade da mãe. — Você não compreendeu Mr. Darcy. Ele quis apenas dizer que não há tão grande variedade de tipos no campo quanto na cidade. E você tem de reconhecer que isto é verdade.
Certamente, meu bem, ninguém disse o contrário. Mas quanto ao pequeno número de pessoas que moram nesta re­dondeza, creio que existem poucas regiões mais habitadas. Sei que nos damos com vinte e quatro famílias.
Se não fosse a sua vontade de agradar Elizabeth, Bingley teria estourado de rir. Sua irmã foi menos delicada e lançou para Mr. Darcy um olhar acompanhado de um sorriso muito expressivo. Elizabeth, a fim de desviar as idéias da mãe, per­guntou-lhe se Charlotte Lucas estivera em Longbourn desde que ela, Elizabeth, saíra de lá.
Sim, Charlotte veio ontem com o pai. Que homem agradável este Sir Williams, não acha, Mr. Bingley? É um ho­mem tão moderno, tão educado, tão gentil ... Para todo mundo ele sempre tem alguma coisa que dizer. É assim que eu entendo a boa educação. E essas pessoas que se imaginam muito impor­tantes e nunca abrem a boca estão inteiramente enganadas.
Charlotte jantou lá em casa?
— Não, preferiu ir embora. Creio que estavam precisan­do dela por causa dos croquetes. Quanto a mim, Mr. Bingley, sempre tomo criados que sabem fazer os seus serviços. Minhas filhas são educadas de modo diferente. Mas cada um sabe o que faz ... E as meninas Lucas são realmente muito boas me­ninas, posso lhe assegurar. É pena que não sejam bonitas. Não que eu ache Charlotte assim tão feia; mas também ela é nossa amiga particular.
Ela parece uma moça muito agradável — disse Bingley.
Oh, decerto, mas o senhor precisa reconhecer que ela é muito pouco graciosa. A própria Lady Lucas já o tem dito muitas vezes. Disse também que muito me inveja a beleza de Jane. Não gosto de me gabar das minhas filhas, mas, para dizer a verdade, Jane ... Não é muito freqüente a gente ver uma moça mais bonita. É o que todos dizem. Não confio inteira­mente nessa parcialidade. Quando ela tinha apenas quinze anos, havia um cavalheiro que freqüentava a casa de meu irmão Gardiner, em Londres. Ficou tão apaixonado por ela que minha cunhada teve certeza de que ia fazer uma proposta antes de nos mudarmos para cá. No entanto, não fez. Talvez a julgasse mui­to jovem. Apesar de tudo, escreveu-lhe uns versos, que aliás eram muito bonitos.
E assim acabou a afeição daquele senhor — disse Eli­zabeth, impaciente. — Suponho que tenha havido muitos no mesmo caso. Eu queria saber quem descobriu a eficácia que tem a poesia de afugentar o amor.
A mim sempre me disseram que a poesia é o alimento do amor.
De um amor sincero, sólido, sadio, pode ser. Tudo serve de alimento ao que já tem força. Mas, quando se trata de uma ligeira e fraca inclinação, estou convencida de que um bom soneto é suficiente para fazê-la morrer de inanição.
Darcy contentou-se em sorrir. E a pausa geral que se se­guiu fez Elizabeth tremer de medo à idéia de que sua mãe se tornasse novamente ridícula. Queria dizer alguma coisa mas não conseguiu encontrar nenhum assunto. E, depois de um curto silêncio. Mrs. Bennet começou a repetir os agradecimen­tos que fizera a Mr. Bingley, pela sua bondade com Jane, desculpando-se igualmente do incômodo que lhe dava com Lizzy. Mr. Bingley respondeu com toda a amabilidade e obrigou a sua irmã mais moça a ser igualmente cortês e a responder de acordo com a situação. Esta desempenhou o seu papel, aliás de má vontade, mas Mrs. Bennet ficou satisfeita. Pouco depois man­dou chamar a sua carruagem. Neste momento, a mais moça das suas filhas se adiantou. Kitty e Lydia, as duas filhas me­nores, tinham conversado em voz baixa uma com a outra du­rante toda a visita. E tinha ficado resolvido entre elas que a mais moça devia lembrar a Mr. Bingley que, logo depois da sua chegada, ele prometera que daria um baile em Netherfield.
Lydia tinha quinze anos e era uma moça forte e desen­volvida. Tinha o rosto agradável e uma expressão jovial; era a favorita da mãe, que, devido a essa afeição, a tinha introduzido na sociedade muito cedo ainda para a sua idade. Era dotada de muita vitalidade e de uma espontaneidade que se transformara em segurança graças à atenção que os oficiais lhe dispensavam. Estes eram atraídos, aliás, não só pela sua naturalidade como pelos bons jantares de seu tio. Ela se sentiu, pois, autorizada a dirigir-se a Mr. Bingley sobre o assunto do baile e a lembrar-lhe abruptamente a sua promessa, acrescentando que ele come­teria o ato mais vergonhoso do mundo, se não a cumprisse. A resposta de Bingley a este súbito ataque foi deliciosa para os ouvidos de Mrs. Bennet.
Asseguro-lhe que estou pronto a cumprir a minha promessa. E assim que a sua irmã esteja restabelecida, a senho­rita me fará o favor de marcar pessoalmente o dia do baile. Penso que não gostaria de dançar enquanto sua irmã estiver doente.
Lydia se declarou satisfeita.
Oh, sim, seria muito melhor esperar até que Jane esti­vesse restabelecida, e nesse dia, provavelmente, o Capitão Car­ter já estará em Meryton novamente. E depois que o senhor tiver dado o seu baile — acrescentou ela —, eu insistirei para que os oficiais lhe ofereçam um também. Direi ao Coronel Forster que será uma vergonha se eles não o fizerem.
Mrs. Bennet e suas filhas partiram e Elizabeth voltou ime­diatamente para perto de Jane, deixando a sua própria conduta e a da sua família à mercê das críticas das duas senhoras da casa e de Mr. Darcy; este último, porém, não pôde ser persua­dido a juntar as suas censuras às que faziam a Elizabeth na sala, apesar de todas as ironias com que Miss Bingley se referia aos seus belos olhos.

Capítulo X


O dia decorreu quase exatamente como o anterior. Mrs. Hurst e Miss Bingley passaram algumas horas da manhã com a enferma, que, embora lentamente, continuava a melhorar. E à noite Elizabeth veio reunir-se ao grupo na sala de estar. Nesse dia, porém, não houve mesa de 100. Mr. Darcy estava escre­vendo, e Miss Bingley, sentada a seu lado, observava os pro­gressos da carta que ele escrevia, desviando continuamente a sua atenção com as observações que transmitia para a irmã. Mr. Hurst e Mr. Bingley estavam jogando piquet, e Mrs. Hurst observava o jogo.
Elizabeth fazia um trabalho de agulha; divertia-se com o que se estava passando entre Darcy e a sua companheira. Os contínuos elogios da moça a respeito da letra, da igualdade das linhas, ou do comprimento da carta, em contraste com a per­feita indiferença com que o outro os recebia, formavam um curioso diálogo, confirmando exatamente a opinião que Eliza­beth tinha a respeito de ambos.
Miss Darcy vai ficar encantada com a carta! Ele não respondeu.
O senhor escreve muito depressa!
Está enganada, escrevo até devagar.
Quantas cartas o senhor não escreverá por ano! Cartas de negócios também. Penso que deve ser odioso escrevê-las!
Felizmente para você, é a mim que incumbe escrevê-las.
Não se esqueça de dizer à sua irmã que eu tenho mui­tas saudades dela.
Já o disse uma vez, a seu pedido.
Acho que o senhor não está gostando da sua pena. Deixe-me apará-la. Eu sei aparar penas muito bem.
Obrigado. Mas eu sempre aparo as minhas próprias penas.
Como consegue escrever tão regularmente? Darcy ficou em silêncio.
Diga à sua irmã que estou radiante de saber que ela tem feito progressos na harpa. Escreva-lhe também que fiquei encantada com o lindíssimo desenho que fez para uma mesa e que o acho infinitamente superior ao de Miss Grantley.
A senhora me dará licença de deixar os seus entusias­mos para a próxima carta? No momento não tenho espaço para exprimi-los condignamente.
Oh, não tem importância, eu a verei em janeiro. Mas o senhor sempre escreve cartas assim tão longas e encantadoras para a sua irmã, Mr. Darcy?
Em geral as minhas cartas são longas, mas não me cabe julgar se são encantadoras.
Considero como regra que uma pessoa que escreve uma carta longa com facilidade não pode escrever mal.
— Isto não serve como elogio para Darcy, Caroline — exclamou Mr. Bingley, o irmão desta —, pois ele não escreve com facilidade. Esforça-se demais para encontrar quatro sílabas, não é verdade, Darcy?
O meu estilo é diferente do seu.
Oh — gritou Miss Bingley —, Charles escreve da ma­neira mais descuidada, escreve as coisas pela metade e depois risca o resto.
As idéias me ocorrem tão rapidamente que não tenho tempo de exprimi-las. É por isso que às vezes as minhas cartas não transmitem nenhuma idéia aos meus correspondentes...
Sua humildade, Mr. Bingley — disse Elizabeth —, de­ve desarmar toda censura.
Nada é mais enganoso do que a aparência da humil­dade — disse Darcy. — Às vezes é apenas pouco-caso e, outras vezes, uma maneira indireta de se gabar.
E qual dessas duas explicações você acha que cabe à minha modéstia, neste caso?
A maneira indireta de se gabar. Na realidade você se orgulha realmente das suas deficiências no escrever, porque con­sidera que esses defeitos procedem de uma rapidez de pensa­mento e descuido na execução, coisas que você acha, se não estimáveis, pelo menos altamente interessantes. A capacidade de fazer as coisas rapidamente é sempre muito apreciada pelo pos­suidor, que freqüentemente não repara nas imperfeições da execução. Quando você disse a Mrs. Bennet esta manhã que se algum dia resolvesse deixar Netherfield partiria em cinco mi­nutos, estava fazendo uma espécie de panegírico ou de elogio a si mesmo. E no entanto não há nada muito louvável numa precipitação que acarretaria, forçosamente, a necessidade de dei­xar coisas importantes inacabadas, e não pode trazer nenhuma vantagem real, nem para você próprio nem para ninguém mais.
Isto é demais — respondeu Bingley; — lembrar-se, de noite, de todas as tolices que eu disse de manhã! No entanto dou-lhe a minha palavra de que falei sinceramente e de que ainda neste momento acredito no que disse. Pelo menos, por­tanto, eu não me atribuí esse traço de precipitação inútil apenas para me gabar diante das senhoras.
Acredito na sua sinceridade; mas não estou absoluta­mente convencido de que se resolveria a partir com tanta rapi­dez. Sua conduta estaria tão à mercê do acaso como a de qual­quer outro homem; e se no momento, no instante de montar a cavalo, um amigo lhe dissesse: "Bingley, é melhor você ficar até a próxima semana", você aceitaria imediatamente o conse­lho. E se lhe fizessem outra sugestão, ficaria provavelmente um mês.
Com isto apenas prova que Mr. Bingley não fez justiça ao seu próprio caráter. O senhor o pintou com muito mais exatidão do que ele próprio.
Sinto-me extremamente grato — disse Bingley — pela sua maneira de converter o que o meu amigo disse num elogio à doçura do meu gênio, mas creio que está atribuindo àquele senhor uma intenção que ele não tinha, pois ele decerto pensa­ria que, em tais circunstâncias, eu deveria recusar certamente a sugestão e partir imediatamente, como tinha resolvido.
Consideraria Mr. Darcy a precipitação da sua decisão original compensada pela sua obstinação em aderir a ela?
Dou-lhe a minha palavra de que não posso explicar exatamente o que ele quis dizer. Darcy deve falar por si mesmo.
— A senhora está querendo que eu justifique uma opinião que resolveu me atribuir, e a qual não subscrevo. Aceitando, porém, o caso tal como a senhora o coloca, é preciso não se esquecer, Miss Bennet, de que o suposto amigo que desejou que Bingley ficasse em casa e adiasse os seus planos contentou-se em exprimir o seu desejo sem oferecer nenhum argumento que justificasse o pedido.
Ceder facilmente, prontamente, à persuasão de um amigo não é, então, um mérito aos seus olhos?
Ceder sem convicção não depõe a favor do bom senso de nenhuma dessas pessoas.
Mr. Darcy, o senhor não me parece conceder nenhuma importância à influência da amizade e da afeição. A considera­ção por um amigo faz com que a gente ceda prontamente a um pedido, mesmo que esse amigo não ofereça argumentos em apoio do que pede. Não estou considerando particularmente o caso em discussão. Devemos esperar, talvez, até que ele ocorra, para discutir o acerto do seu procedimento. Mas em geral, nos casos comuns entre amigos, quando um deles é solicitado pelo outro a alterar uma decisão de pouca monta, pensa o senhor que a pessoa que cedeu, sem exigir outros argumentos, procedeu realmente mal?
Não será preferível, antes de continuar no assunto, que determinemos com mais precisão o grau de importância real do pedido? Bem como o grau de intimidade existente entre as partes?
Sem dúvida — exclamou Bingley; — vamos particularizar, e não esqueçamos a estatura comparativa dos amigos, pois isto tem mais importância do que Miss Bennet supõe. Assegu­ro-lhe que, se Darcy não fosse tão alto em relação à minha pessoa, eu não o trataria com tanta deferência. Declaro que não conheço nada mais temível do que Darcy em certas ocasiões e em determinados lugares; especialmente na sua própria casa e numa noite de domingo, quando ele não tem nada a fazer.
Mr. Darcy sorriu, mas Elizabeth acreditou perceber que ele tinha ficado ofendido e por isto conteve a risada. Miss Bin­gley, ressentida com o ridículo que o outro sofrerá, censurou violentamente o irmão pelas tolices que dissera.
Eu compreendo a sua intenção, Bingley — disse o ami­go —, você detesta discussões e quer acabar com esta.
Talvez. As discussões se assemelham às disputas. Se você e Miss Bennet quiserem adiar a sua até que eu saia da sala, ficarei muito agradecido. Depois poderão falar o que quiserem a meu respeito.
O que o senhor pede — disse Elizabeth — não é um sacrifício da minha parte, e, quanto a Mr. Darcy, acho que ele precisa acabar a sua carta.
Mr. Darcy aceitou o conselho e terminou a carta.
Finda esta ocupação pediu a Miss Bingley e a Elizabeth que executassem um pouco de música. Miss Bingley se dirigiu ale­gremente para o piano e, depois de um amável oferecimento a Elizabeth para que ela começasse, oferecimento que a outra rejeitou, com a mesma amabilidade e maior ênfase, sentou-se e começou. Mrs. Hurst cantou com a irmã e, enquanto isto, Eli­zabeth, que folheava cadernos de música que estavam sobre o piano, não pôde deixar de observar que os olhos de Mr. Darcy se voltavam freqüentemente na sua direção. Não podia supor que fosse um objeto de admiração para um homem tão impor­tante. No entanto, achava ainda mais estranho que ele a esti­vesse olhando por antipatia. Acabou imaginando, entretanto, que o que lhe atraía a atenção era algo errado e repreensível que existia na sua pessoa, e que contrastasse, aos olhos de Mr. Dar­cy, com as qualidades dos outros presentes. A suposição não a penalizou. Darcy lhe era indiferente demais para que desejasse a sua aprovação.
Depois de tocar algumas canções italianas, Miss Bingley atacou uma alegre canção escocesa e pouco depois Mr. Darcy, aproximando-se de Elizabeth, disse-lhe:
A senhora não se sente inclinada a aproveitar esta oportunidade para dançar? — perguntou ele.
Ela sorriu, porém não disse nada. Ele repetiu a pergunta, um pouco espantado com o silêncio dela.
Oh — disse Elizabeth —, ouvi o que perguntou antes, mas não pude determinar imediatamente o que deveria respon­der. O senhor queria que eu o fizesse afirmativamente para ter o prazer de desprezar as minhas preferências; mas eu sempre gosto de perturbar esses estratagemas e roubar às pessoas o lance que premeditam. Resolvi portanto responder-lhe que não desejo absolutamente dançar; e agora despreze-me, se ousar.
Asseguro-lhe que não ouso.
Elizabeth, que tencionava ofendê-lo, ficou espantada com a amabilidade. Mas havia no tom dela um misto de doçura e de malícia que dificilmente ofenderia alguém. E Darcy nunca se sentira tão fascinado por uma mulher como estava por aque­la. Acreditava realmente que, não fosse a inferioridade das relações de Elizabeth, ele se encontraria realmente em perigo.
Miss Bingley viu, ou suspeitou o bastante para se enciu­mar, e a sua grande ansiedade pelo restabelecimento da querida amiga Jane crescia com o desejo de se ver livre de Elizabeth. Tentava freqüentemente provocar a antipatia de Darcy pela hóspede, falando no seu suposto casamento e planejando a feli­cidade que Darcy encontraria numa tal aliança.
Espero — disse ela, enquanto passeavam juntos no dia seguinte pelo pequeno bosque —, espero que dê a entender à sua sogra, quando tiver lugar este desejável acontecimento, a vantagem de ser menos tagarela; e se o puder, também, cure as meninas mais moças da mania de perseguir os oficiais. E, se me permite abordar um assunto tão delicado, procure reprimir aquele pequeno toque de pretensão e impertinência que a sua dama possui.
Tem alguma outra proposta a fazer em prol da minha felicidade doméstica?
Oh, sim, faça pendurar os retratos do seu tio e da sua tia Philips na sua galeria de Pemberley. Ponha-os ao lado do seu tio-avô, o juiz. São da mesma profissão, se bem que traba­lhem em ramos diferentes. Quanto ao retrato da sua Elizabeth, nem deve tentar mandar pintá-lo: pois que pintor poderia fazer justiça àqueles belos olhos?
Não seria realmente fácil reproduzir a expressão, mas a cor, o desenho, os cílios, tão delicados, podem ser copiados.
Nesse momento encontraram-se com Mrs. Hurst e Eliza­beth, que vinham por outro caminho.
Não sabia que estava passeando — disse Miss Bingley, confusa, temerosa de que as suas palavras pudessem ter sido ouvidas.
Você nos tratou abominavelmente — disse Mrs. Hurst — saindo assim sem nos avisar.
E, tomando o braço de Mr. Darcy, deixou Elizabeth sozi­nha. O caminho dava apenas para três pessoas. Mr. Darcy per­cebeu a grosseria e disse imediatamente:
Este caminho não é suficientemente largo para nós todos. Seria melhor passearmos na avenida.
Mas Elizabeth, que não tinha a menor vontade de ficar com eles, respondeu com um sorriso:
Não, não, fiquem onde estão. Formam um grupo en­cantador assim. Uma quarta pessoa estragaria o pitoresco. Adeus...
Em seguida afastou-se correndo, satisfeita com a idéia de que daí a um ou dois dias estaria novamente em casa. Jane estava tão melhor que tencionava sair do quarto, naquela noite, durante algumas horas.

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